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Introdução
4
MORÃO, Artur. O nó, a regra e a sombra: a constituição da experiência hermenêutica, segundo
H.-G. Gadamer. In: REIMÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e inter-
pretação. Lisboa: Universidade Católica, 2003. p. 59-62.
5
STEIN, Ernildo. Compreensão e finitude: estrutura e movimento da interrogação heideggeriana.
Ijuí: Editora Unijuí, 2001. p. 299-379.
6
GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica em retrospectiva I: Heidegger em retrospectiva. Petró-
polis: Vozes, 2007a. p. 109-116.
7
BLEICHER, Josef. Hermenêutica contemporânea. Lisboa: Edições 70, 2002. p. 144-145.
35
GADAMER, 1997, p. 512-533.
36
GADAMER, 1997, p. 459.
37
GADAMER, Hans-Georg. O problema da consciência histórica. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2003. p. 57.
38
GADAMER, 1997, p. 460-464.
39
DUARTE, Joaquim Cardozo. Auto-apresentação e autocrítica: os métodos da verdade. In: REI-
MÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e interpretação. Lisboa: Univer-
sidade Católica, 2003. p. 37.
40
GADAMER, 1997, p. 533-537.
41
GADAMER, 1997, p. 538-540.
42
GADAMER, 1997, p. 541-543.
43
GADAMER, 1997, p. 544-556.
44
GADAMER, 2004, p. 401-403.
45
GADAMER, 2004, p. 73.
46
GADAMER, 1997, p. 559-560.
que o nome verdadeiro era experimentado como parte de seu portador. O modo
de ser da linguagem, porém, vai além do propugnado pelas teorias da conven-
ção e da coincidência. O limite do convencionalismo é que não se podem alte-
rar arbitrariamente as palavras, pois o pressuposto da linguagem é sempre o
caráter comum do mundo. O limite da semelhança é que não se podem criti-
car as palavras por referência às coisas, no sentido de que não as reproduzi-
ram de maneira adequada.55
Na medida em que uma palavra é uma palavra, tem de ser corretamente
existente. A palavra se transforma em signo de um ser conhecido de antemão,
mas não é um mero signo; é também cópia, pois mostra uma certa vinculação
com o copiado, como revela a onomatopeia. Pertence à própria experiência o
fato de ela buscar e encontrar as palavras que a expressem; ou seja, a expe-
riência não se dá livre de palavras, que seriam após buscadas reflexivamente.56
A palavra, que diz como é a coisa, não é nem quer ser nada por si mesma,
já que tem seu ser na função de tornar aberto. Por isso, o caráter ontológico
da palavra é um acontecer: a palavra interior fica referida à possibilidade de se
exteriorizar, e “o dizer significa sempre mais do que ele realmente expressa”.57
O conteúdo da coisa está ordenado para a sua conversão em som. A perfeição
do pensar é alcançada nesse dizer-se-a-si-mesmo: a palavra interior, na medida
em que expressa o pensar, reproduz a finitude de nossa compreensão discursi-
va. Não podemos, de um só golpe, pensar tudo o que sabemos. O processo de
pensar se inicia porque algo nos vem à mente a partir da memória, o que é uma
emanação, pois não nos despojamos de nada. Porém, o que vem à mente não
está ainda completamente pensado, exigindo investigação e reflexão. A palavra
não é uma ferramenta, portanto; é um espelho pelo qual se vê a coisa.58
A palavra humana, porém, é essencialmente imperfeita. Na verdade, é nos-
so intelecto que é imperfeito, já que nunca sabe o que realmente sabe. Não se
filosofa porque se tem a verdade absoluta, mas exatamente porque ela falta.59
Cada ideia que pensamos e cada palavra em que pronunciamos esse pensar
é um mero acidente do espírito. O pensamento não consegue conter a coisa
em si; por isso, o pensamento sempre alcança novas concepções.60
Com a linguagem, pode-se fazer uso infinito com meios finitos, e a sua
força é separável de todo conteúdo do falado. É a linguagem que dá mundo
aos homens, pois a existência do mundo está constituída linguisticamente. O
mundo só é mundo porque vem à linguagem; a linguagem só tem sua verda-
deira existência porque representa o mundo.61
55
GADAMER, 1997, p. 590-592.
56
GADAMER, 1997, p. 597-608.
57
GRONDIN, 1999, p. 204.
58
GADAMER, 1997, p. 608-618.
59
GRONDIN, 1999, p. 202.
60
GADAMER, 1997, p. 618-621.
61
GADAMER, 1997, p. 639-643.
Ter mundo, contudo, significa comportar-se para com o mundo. Para o ho-
mem, o conceito de mundo se apresenta como oposição ao ambiente, que é o
local em que vivemos. Diz-se que o homem, diferentemente dos animais, tem
mundo, porque ele é livre em face do meio circundante. Essa elevação sobre
o ambiente abrange também a liberdade de dar nomes às coisas, podendo
fazer um exercício variado de sua capacidade linguística. Para o homem, assim,
a linguagem é variável, não apenas no sentido de que podem existir várias lín-
guas, mas também de que oferece diversas possibilidades de expressar a mes-
ma coisa.62
Mas é somente na conversação que a linguagem tem seu verdadeiro
ser, ou seja, no exercício do entendimento, revelando até mesmo “o potencial
caráter comunitário da razão”.63 O entendimento é um processo vital único,
porque torna manifesto o mundo. Todas as comunidades humanas são comu-
nidades linguísticas, nas quais não nos pomos antes de acordo, pois já o es-
tamos desde sempre: “a capacidade para o diálogo é um atributo natural do
homem”.64 O mundo linguístico próprio, assim, não é uma barreira ao conheci-
mento; ao invés, é o que possibilita toda percepção. É claro que cada tradição
cultural vê o mundo de uma forma: não existe mundo em si externo à linguis-
ticidade. O mundo somente é alguma acepção do mundo, mas a vinculação
linguística de nossa experiência não significa nenhum perspectivismo exclu-
dente. Mesmo que alcancemos uma percepção de nosso condicionamento his-
tórico jamais conseguiremos assumir uma posição incondicionada, pois, como
seres finitos, sempre vimos de muito antes e chegaremos até muito depois. Por
isso, no acontecer linguístico tem lugar tanto o que se mantém quanto o que
muda.65
Falar é um processo enigmático, pois a linguagem não é uma mera fer-
ramenta, de que se domina o uso e que se pode abandonar uma vez prestado
o serviço. Não, aprender a falar não significa ser introduzido à arte de designar
o mundo por meio de um instrumento já disponível, “mas conquistar a familia-
ridade e o conhecimento do próprio mundo, assim como se nos apresenta”.66
Por isso, falar “não pertence à esfera do eu, mas à esfera do nós”.67
O fundamento mais determinante para o fenômeno hermenêutico é a fi-
nitude de nossa experiência histórica, sendo a linguagem o seu indício, pois
está em constante formação e desenvolvimento. Por isso mesmo, a palavra
da linguagem é, ao mesmo tempo, uma e múltipla. Cada palavra faz ressoar o
conjunto da língua a que pertence e deixa aparecer a acepção de mundo que
lhe subjaz. Cada palavra, assim, faz com que esteja aí também o não dito.
62
GADAMER, 1997, p. 643-646.
63
GADAMER, 2004, p. 135.
64
GADAMER, 2004, p. 243.
65
GADAMER, 1997, p. 647-652.
66
GADAMER, 2004, p. 176.
67
GADAMER, 2004, p. 179.
O falar humano não pode dizer tudo inteiramente, mas põe em jogo todo um
conjunto de sentido. No falar humano jaz, portanto, uma infinitude de sentido a
ser desenvolvida e interpretada.68
74
GADAMER, 1997, p. 683-686.
75
GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica em retrospectiva II: a virada hermenêutica. Petrópolis:
Vozes, 2007b. p. 40.
76
MORUJÃO, Carlos. Hans-Georg Gadamer: filosofia transcendental ou hermenêutica? In: REI-
MÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e interpretação. Lisboa: Univer-
sidade Católica, 2003. p. 143.
77
RENAUD, Michel. Contributo para uma releitura de Wahrheit und Methode à luz da hermenêu-
tica da práxis. In: REIMÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e inter-
pretação. Lisboa: Universidade Católica, 2003. p. 95.
78
GADAMER, 1997, p. 686-688.
79
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. 4. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista:
Editora Universitária São Francisco, 2005.
ções da prática teórica, pela gramática do dizer ou pelo perfil variado dos dis-
cursos, seja implicitamente, pela atuação dos incontáveis jogos linguísticos ou
pela realização da dimensão lúdica da cultura. Sombra, porque na experiência
hermenêutica nada é completamente translúcido, com o não dito sobrepujan-
do o dito, bem como com as solidariedades e os conflitos, as identificações e
os dissídios, sendo perpassados por dependências, compensações, tentações,
preconceitos, propósitos de poder, ilusões e esperanças.80
Para Gadamer, enfim, a compreensão significa desvelamento e realiza-se
em um jogo de palavras que circunscrevem o que queremos dizer. Não existe
compreensão livre de preconceito, mas não é o método que garante a verdade.
O que a ferramenta do método não alcança tem de ser conseguido através da
disciplina do perguntar e do investigar.81
É preciso realçar, porém, que Gadamer não vê oposição alguma entre
verdade e método, apenas critica como problemática a pretensão moderna de
exclusividade do método próprio às ciências naturais – a obsessão metodoló-
gica –, e o isolamento de seus enunciados de qualquer contexto motivacio-
nal.82 Admite ele, expressamente, o ideal de verificabilidade de todos os conhe-
cimentos, mas apenas dentro do possível, pois os investigadores que seguem
essa busca impetuosamente não se apresentam capacitados para dizer as
coisas verdadeiramente importantes.83 Sua hermenêutica constitui mais “uma
reflexão filosófica dos limites a que está submetido todo domínio científico-
-técnico da natureza e da sociedade”,84 tendo as humanidades, para ele, mais
a ver com o emprego de tato.85
Tanto quanto Heidegger, Gadamer insurge-se contra a dominância do
critério técnico-científico da eficácia – o pensamento calculador86 –, o qual se
revela manifestamente insuficiente à vida do homem sobre a terra. A virada
hermenêutica impõe, para ele, a tarefa de “encontrar o equilíbrio entre o poder
do saber dominante e a sabedoria socrática do não-saber em torno do bem”.87
Para além das verdades da ciência, a vivência humana não prescinde do sa-
ber ser com os outros e do saber decidir, que partem de um conhecimento inte-
gral e meditativo ou crítico-reflexivo – a filosofia, enfim.88
80
MORÃO, 2003, p. 57-58.
81
GADAMER, 1997, p. 704-709.
82
GADAMER, 2004, p. 229.
83
GADAMER, 2004, p. 64.
84
GADAMER, 2004, p. 142.
85
GRONDIN, 1999, p. 182 e 218.
86
GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica em retrospectiva III: hermenêutica e a filosofia prática.
Petrópolis: Vozes, 2007c. p. 36.
87
GADAMER, Hans-Georg. Hermenêutica em retrospectiva II: a virada hermenêutica. Petrópolis:
Vozes, 2007b. p. 41.
88
SILVA, 2003, p. 16.
Considerações finais
A hermenêutica, com a contribuição gadameriana, passou a corresponder
a uma concepção de sentido de todo o real, tendo-se tornado propriamente
filosofia. Os postulados da unidade da compreensão, da positividade dos pre-
conceitos, da preeminência da linguagem, da onipresença da tradição e da ver-
dade como desocultamento decorrente da formulação de perguntas moldaram
uma forma diversa de ver o mundo que influenciou decisivamente as ciências
humanas, inclusive o direito.
Para Gadamer, aliás, a hermenêutica jurídica tem um significado para-
digmático. A exigência de documentação da lei decorre da necessidade de
evitar o perigo de arbitrariedades ou erros em sua aplicação, de onde advém
a imperiosidade de sua formulação rigorosa, com previsão do espaço de jogo
da interpretação, mas com o asseguramento de sua atuação prática correta. E
isso porque o sentido que se trata de compreender somente se concretiza e se
completa na interpretação, a qual deve manter-se inteiramente presa ao texto,
realizando uma mediação entre o ontem e o hoje e o tu e o eu.89
Sem embargo, toda compreensão, inclusive no direito, pressupõe uma
relação anterior com o tema mediado pelo texto – a compreensão prévia. A bus-
ca da verdade no direito, assim, depende de um tato especial no tratamento
dos problemas jurídicos – antes que de algum método irrefutável –, em que a
atividade mais importante do intérprete é a de depurar sua compreensão dos
prejuízos inautênticos. E tal tarefa afigura-se inexaurível, pois “a interpretação
não é a enunciação completa do subentendido, mas a revelação interminável
do implícito”.90
Referências
______. O problema da consciência histórica. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
89
GADAMER, 1997, p. 482-505.
90
PAREYSON, Luigi. Verdade e interpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 93-97.
______. Verdade e método I: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. 3. ed. Petrópo-
lis: Vozes, 1997
______. Verdade e método II: complementos e índice. 2. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista:
Editora Universitária São Francisco, 2004.
GRONDIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1999.
LAMMI, Walter. Hans-Georg Gadamer’s “Corrections” of Heidegger. Journal of the History of Ideas,
The Johns Hopkins University Press, v. 52, n. 3, p. 487-507, 1991.
MORÃO, Artur. O nó, a regra e a sombra: a constituição da experiência hermenêutica, segundo H.-G.
Gadamer. In: REIMÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e interpretação. Lis-
boa: Universidade Católica, 2003.
RENAUD, Michel. Contributo para uma releitura de Wahrheit und Methode à luz da hermenêutica
da práxis. In: REIMÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e interpretação.
Lisboa: Universidade Católica, 2003.
SILVA, Maria Luísa Portocarrero da. H.-G. Gadamer: a Europa e o destino das ciências humanas.
In: REIMÃO, Cassiano (Org.). H.-G. Gadamer: experiência, linguagem e interpretação. Lisboa: Uni-
versidade Católica, 2003.