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NATURA: A FÁBRICA TRAN SFORMADA EM COM UNIDADE

Na nova fábrica da Natura em Cajamar, SP, os corredores externos envolvem e ligam o


conjunto em um modelo de arquitetura que lembra um museu de arte moderna. No interior dos
prédios, cerca de 3000 pessoas trabalham em sincronia para colocar diariamente no mercado
800.000 itens de produtos com a marca da empresa. Máquinas, equipamentos e painéis
eletrônicos – descendentes diretos do velho kaban japonês – estão por toda parte. Mesmo
assim, a fábrica da Natura, uma das maiores produtoras de cosméticos do país, é silenciosa,
limpa e arejada. Uma potente rede de cabos e fibra óptica percorre toda a construção. Por ela
podem correr desde os comandos para a produção até fitas de cinema. O projeto modular faz
com que a capacidade de produção possa ser duplicada em um fim de semana na busca de
flexibilidade. Não há muros cercando a nova fábrica. Na busca de integração e transparência,
suas estruturas translúcidas e minimalistas permitem que os funcionários trabalhem em meio a
uma paisagem formada por um pedaço preservado de mata atlântica, com árvores nativas,
jabuticabeiras e uma ferrovia do início do século passado, desativada em 1938. A idéia é que
uma pequena locomotiva circule de tempo em tempo trazendo levas de visitantes à fábrica.

O novo Espaço Natura – como a fábrica fio batizada – é uma revolução diante do que, em boa
parte do século XX, foi chamado de linha de produção. As diferenças de aspecto, embora
impressionantes, formam o lado menos importante de um modelo para o outro. A arquitetura é
apenas um reflexo de conceitos e de crenças corporativas que devem marcar o terceiro século
da industrialização. Fábricas continuarão a existir e a dar empregos enquanto o mercado
precisar de bens prosaicos, como roupas, sapatos, CDs, pipoca de microondas, sabonetes e
computadores pessoais. Mas elas farão tudo isso de forma diferente, com pessoas diferentes
e, como conseqüência disso, exigirão um novo modelo de gestão e liderança.

As pessoas querem sentir que são parte de algo maior. Elas tem necessidade de compartilhar
idéias, problemas e objetivos, diz a prefeita do Espaço Natura. Ela é a gerente do Espaço
Natura. Seu dia a dia consiste em cuidar para que os funcionários trabalhem em locais
adequados, que as áreas de lazer funcionem e sejam conservadas, que as pessoas se
encontrem e dividam experiências – quaisquer que sejam elas. A existência de uma prefeita na
fábrica da Natura é um sinal da necessidade que as empresas tem de se transformar em
comunidades, com ritos próprios, autenticidade, valores em comum, intersecção entre trabalho
e vida pessoal. Paixão, criatividade, compromisso: essas são as qualidades necessárias para
as empresas que quiserem vencer o novo mundo dos negócios, diz o americano Jim Stuart,
fundador do The Lidership Circle, um programa de desenvolvimento para presidentes de
empresas. Essas são também as qualidades que estão mais em falta na maioria das
corporações. As pessoas ainda se sentem parte dos meios de produção. Por que? Porque os
lideres as tratam dessa forma, diz Stuart.

Os funcionários da Natura trabalho hoje numa espécie de mini cidade, onde podem deixar a
roupa para lavar e as crianças na creche, ir ao banco, consultar livros na biblioteca, ir com a
família ao clube nos fins de semana. O espaço está preparado para receber cerca de 10.000
visitantes por ano – um grupo formado por estudantes, fornecedores e revendedores da marca.
Consumidores são convidados a testar novos produtos em ambientes que reproduzem quartos
de bebês e clínicas de beleza. Os funcionários dizem que as coisas estão sempre mudando,
mas isso não significa pressão ou sacrifício. A coisa mais legal dessa empresa é que todo
mundo procura fazer sempre o melhor.

Para erguer o espaço, a Natura investiu cerca de 200 milhões de reais. Uma fábrica
convencional certamente custaria bem menos. Pomares, piscinas, auditórios, salas de
treinamento e berçário significam custo extra. A razão do investimento foi criar um ambiente
que revelasse – para o público interno e externo – seus valores básicos: qualidade,
transparência, equilíbrio. Na fábrica do futuro, funcionários não serão encarados como meios
de produção – recursos humanos – mas como membros de uma comunidade com valores,
objetivos e rituais em comum.
A EMPRESA MERCURYN

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