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O Tempo do Homem
José Francisco Oliveira
1ª edição
Gestão 2014-2016 / 2016-2018
O Sopro do Espírito e
O Tempo do Homem
José Francisco Oliveira
1a edição | 2018
EXPEDIENTE:
Revisão:
Ligia Py
Colaboração:
Daniel Lima Azevedo
Ilustração:
Lucas Busatto
Vinicius Lima
Projeto gráfico:
Anelise Stumpf
www.finotraco.com.br
SUMÁRIO
Apresentação 5
Prefácio 7
I. O tempo 9
• Marcas do tempo 10
• Reflexões sobre o envelhecimento humano 27
• Clarita 37
II. O silêncio 45
• A eloquência do silêncio 46
• Solidão 63
• A propósito da dignidade humana 71
III. A finitude 78
• Finitude na experiência religiosa 79
• O Sacrifício 91
• A partida de Dona M. 101
• O amplo significado de pálio 107
O autor 148
Daniel Azevedo
A pirâmide de valores vem mesmo como uma herança maior que se cria
e recria, passada de pais para filhos e para os filhos dos filhos, de geração
em geração, de forma quase encantada, viajando através da carne.
E aí, nesta herança-baú, se, por um lado, tudo é fragmento, tudo vem
aos pedacinhos, por outro lado, tudo é integrado, tudo faz sentido,
tudo é pleno.
O Cony viu e sentiu esta herança como única, porque a viu e sentiu plena.
Já não falo mais sobre os velhos, falo com eles, através da visão
plena dos poetas, tão fiéis à palavra quão fiéis à sabedoria que
elas carregam em si, não só pro-nunciando, mas a-nunciando e de-
nunciando a realidade que nos cerca. De Pablo Neruda (1974), colho
uns pedaços de “Os vinte poemas”:
Referências bibliográficas
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Weil P. Relações humanas na familia e no trabalho. 51ª ed., Petrópolis: Vozes, 2002.
Pressupostos conceituais
O envelhecimento humano
entre a espiritualidade e a finitude
O tempo
Creio que podemos concluir essa parte com Gabriel Marcel (1944): o
homem espera e espera profundamente que o seu ser não venha a se
extinguir. Da validade de tal esperança ele não tem provas, tem certeza.
Uma certeza dada pela experiência do amor.
Referências bibliográficas
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de geriatria e gerontologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, p. 78-82.
Oliveira JF. Finitude na experiência religiosa. In: Py, L. (org.) Finitude: uma proposta
de reflexão e prática em gerontologia. Rio de Janeiro: Nau, 1999. p. 45-54.
É que, para ele, o tempo não é algo externo, que possa estar aí, em
algum lugar, como estão as coisas materiais. O habitat do tempo é a
alma. A alma, e não os corpos, é a verdadeira medida do tempo, é a
verdadeira dimensão do tempo. E com sua certeza meio paradoxal
e eivada de perplexidade, o bispo de Hipona observava, em suas
Este texto foi escrito baseado no documentário CLARITA, dirigido por Thereza
Jessouroun: “Narrado na primeira pessoa, e baseado na história da mãe da
diretora, portadora da Doença de Alzheimer, o documentário apresenta reflexões e
questionamentos sobre o sentido da vida e a convivência com a morte”. O texto é a
transcrição da fala do autor, apresentada na cerimônia de lançamento do documentário,
no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 27 de junho de 2007.
Referências bibliográficas
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Contemporâneas, Lisboa: Editorial Estúdios Cor, 1958.
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Valery, P. Nós civilizações, sabemos agora que somos mortais. In: Picon, Gaëtan
(orgs). Panorama das Ideias Contemporâneas, Lisboa: Editorial Estúdios Cor, 1958.
O rosto do silêncio
Silêncio e invisibilidade
Referências bibliográficas
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Oliveira JFP. Finitude na experiência religiosa. In: Py, L. (org.). Finitude: uma proposta
de reflexão e prática em Gerontologia. Rio de Janeiro: Nau, 1999, p. 45-54.
Oliveira JFP. Solidão. In: Pacheco, J.P. et al. (org.). Tempo: rio que arrebata. Holambra:
Setembro, 2005, p. 219-226.
É que cada um de nós tem seu próprio fundo do poço, túnel escuro
e vazio, que esconde lá neste fundo, muita história e tantos segredos,
muitas alegrias e tantas mágoas. Esconde nossa própria identidade,
aquilo que somos e fomos; aquilo que fomos capazes de fazer de
nós mesmos a cada passo, a cada escolha, a cada encontro, a cada
descoberta, a cada perda. Como todo o fundo de poço, entretanto, o
nosso também oculta uma água cristalina e pura, que quando alcançada
– e sempre há os momentos de alcançá-la – sacia nossa sede mais
original: a de encontrarmos um pouco de nossa verdade mais íntima.
Andrade CD. José. In: Nova reunião. vol. 1. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p.101-103.
Carmo RE. Antropologia filosófica geral. 2 ed. Belo Horizonte: o Lutador, 1975.
Assim é a dignidade, cujo mais alto predicativo que a ela se liga é ser
humana. E assim somos nós diante da dignidade: antes de sermos
dignos de qualquer coisa, somos dignos de nós mesmos e, sendo
dignos de nós mesmos, somos dignos de toda a humanidade ou em
relação a toda a humanidade da qual fazemos parte.
Para o Dr. Daniel Azevedo: uma palavra sobre a sua apresentação da cena
da morte de um paciente
Façamos um parêntese:
Burdin crê que existe um laço estreito (e muito digno) entre a maneira
de olhar a morte e a maneira como cada um vive.
Fechando o parêntese.
A revolta do Dr. Daniel reflete sua justa angústia de não ter podido
participar do “pedaço de protagonismo” que lhe cabia na “história”.
Revolta por não ter podido outorgar uma tonalidade diferente
àquele desfecho.
Texto publicado com a referência: Oliveira, JF. Finitude na experiência religiosa. In:
Py, L. (org.). Finitude: uma proposta de reflexão e prática em Gerontologia. Rio de
Janeiro: Nau, 1999, p. 45-54.
A finitude do corpo e
a consciência enquanto liberdade
Leonardo Boff medita em Vida para além da morte, que nesta cada
um ganhará o corpo que merece; ele será “a perfeita expressão
da interioridade humana, sem as estreitezas que envolvem nosso
presente corpo carnal”, sinais de finitude. (Op. cit. p.43).
Bibliografia básica
Bettencourt E. A vida que começa com a morte. Rio de Janeiro: Agir, l955.
Carmo RE. Antropologia filosófica geral. 2ª ed. Belo Horizonte: O Lutador, 1975.
Não julgo, a essa altura, que seja possível falar de espaço espiritual e
possibilidades de transcendência, como propõe o tema de hoje, sem
mencionar a relação entre sagrado e profano. Até porque estamos
tratando de sacrifício, que, como vimos, tem sua raiz no sagrado,
sendo o próprio ofício do sagrado. Volto, então, a me referir a R.
Alves, quando ele propõe antropologicamente o sagrado como o
Para concluir
Referências bibliográficas
Costa PS. Notas sobre A. Tarkovski – sacrifício e tempo. Disponível em: www.
cinemaisonline.com.br
Mounier E. Sombras de medo sobre o século XX. Rio de Janeiro: Agir, 1958.
Ao final do filme:
“No princípio era o Verbo”...
Mas o Prólogo do Evangelho de João continua:
“A vida estava nele (Verbo) e a vida era a luz dos homens”.
O cântico que Dona M tantas vezes entoou diz que quando as águas
do mar da vida querem afogá-la; quando as tristezas da vida querem
sufocá-la; quando ela se dobra de cansaço sob o peso das jornadas,
há, sim, de segurar na mão de seu Deus, pois esta a sustentará. Há de
seguir adiante sem medo e sem olhar para trás, segurando na mão
de seu Deus.
Cabe, aqui, a narração de uma experiência significativa que vivi: era uma
hora qualquer na UTI de um hospital do Rio. Lá dentro, eu alternava uma
letargia vazia, sem memória ou sonho que me alimentasse a ausência,
Não. Para nenhum dos que circundavam seu leito, Dona M não era
um ‘caso’ tratado na 3ª pessoa do singular. Ela queria a presença
do seu pastor com a mesma segurança que queria se colocar como
protagonista de seu processo de terminalidade. Este é o diferencial
de sua história de fé e do sentido que deu a sua vida. Como o ‘cálice
de seu sofrimento’ não podia ser afastado dela, ela decidiu assumi-lo
e bebê-lo. Creio, seguindo o pensamento dos teólogos, que a agonia
e verdadeira ‘paixão’ de Dona M não estava nas dores do corpo, mas
na solidão do espírito à espera do seu pastor.
Referências bibliográficas
Chauí M. Janela da alma, espelho do mundo. In: Novaes A. (org.) O olhar. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998, p. 31-63.
Frankl V. Man’s search for meaning. New York: Simon & Schuster, 1985.
Pangrazzi A. Il lutto, una stagione difficile della vita. In: Petrini A et al. (orgs).
L’accompagnamento della persona anziana morente. Roma: U.C. Del Sacro Cuore,
1994, p. 239-253.
Texto elaborado pelo autor para subsidiar as discussões dos Seminários de Tanatologia
promovidos pela Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da SBGG, na sede
da SBGG-RJ, no período de 2007 a 2011. Foi também apresentado no Seminário de
Iniciação Científica do Instituto de Psicologia da UFRJ, em março de 2008.
O patriarca Noé reservou uma bênção especial para seus filhos Sem
e Jafé. É que estes, num ato de desmedida dignidade, sabendo que
ele, embriagado, havia se desnudado totalmente em sua tenda,
tomaram um manto e, andando de costas, com os rostos voltados
para o chão, cobriram respeitosamente a nudez do pai, sem que a
vissem. É importante observar que nada indica nas Escrituras que o
patriarca Noé, o construtor da arca, escolhido por Deus para preservar
as raízes da humanidade da destruição do dilúvio, se embriagasse
constantemente. Ele era um lavrador, apesar da idade bem avançada,
que plantava vinhas e das uvas fazia o vinho, que quando novo é muito
inebriante. O essencial é que fica aí o registro do profundo respeito
Há, por outro lado, nos primeiros capítulos das narrações evangélicas,
a figura austera de João Batista, tido como a voz que pregava
no deserto da Judéia. Homem de uma das mais radicais opções
de despojamento já descritas na história: morador do deserto,
alimentando-se tão só do que o deserto podia oferecer: gafanhotos
e mel silvestre. Sim, sem dúvida, o Batista nos revela uma visão bem
diferente de pálio, de manto. João cobria seu corpo com as vestes de
quem meditava na aridez do deserto: um tecido – se assim se pode
chamar – de pelos de camelo, amarrados à barriga por um cinto de
couro. (Mateus: 3,3). Este pregador singular, visto nas terras secas da
Judéia, não se vestia com roupas finas ou mantos e túnicas suntuosos,
pois os que assim se vestem habitam os palácios. Continuando com
as próprias palavras de Jesus, João é o protótipo do homem sólido,
referências bibliográficas
Bíblia Sagrada. Trad. Matos Soares, 38 ed. São Paulo: Paulinas, 1982.
O exemplo não quer dizer que eu ache que já seja bastante o propósito
humano de querer compreender o mundo. É inegável, porém, que
este mundo já anda todo explicado, pedacinho por pedacinho, nos
livros e nos computadores e nos discursos e nas academias e nos
laboratórios e na mídia e... nas esquinas de nosso tempo. E junto
com as explicações, vêm as contestações para novas e melhores
explicações... e assim deve ser pelo tempo afora.
Vamos, a essa altura, buscar o ponto de vista de quem está do outro lado
da cena: recostado-caído numa cama, perdendo-se e encontrando-se,
esperando e suspeitando, crendo e desconfiando, vendo ir sumindo
aquele pouco de céu para se encostar e... nesse sumiço, o sumiço das
gentes, das vozes amigas, da condição de amar. Indiferente às certezas,
abandonado a si mesmo, esse outro vê sobrar como alento aquela
pequena luz que chamei lá no início como metáfora do mistério. De
qualquer modo, será que sobra algum alento?
É muito claro que não será uma arte a de viver da fé, mesmo não
sabendo fé em que. Já não há esperanças que venham do mar, nem
das antenas de TV. Como na Favela da Maré. Em não sendo uma arte,
viver da fé vai sendo uma forma de encher o oco de vida, que ali, na
solidão da cama, passa a ser como que vivida lentamente ao avesso.
Sim. Aí mora o mistério. Para um lado e para o outro lado: para quem
está recaído na cama e para quem está ao lado dela. E quantos
“pontos cegos” num e noutro lado das consciências? Num e noutro
lado das visões.
Como quer que seja, é a fé, esse movimento frágil e ousado do espírito
humano, que dá sustentação ao mistério. E o processo que articula
a fé, não se dá, apenas ou, sobretudo, no comportamento religioso.
...
Referências bibliográficas
Japiassu H. A crise da razão e do saber objetivo. São Paulo: Letras & Letras, 1996.
Julgo oportuno observar que essas visitas são sempre feitas por dois
“agentes de pastoral”. E são realizadas apenas com a total e explícita
aquiescência do paciente e acompanhante(s), sem constranger ou
violentar, portanto, (mesmo que seja minimamente), a liberdade deles.
Este texto descreve percepções e reflexões do autor após suas visitas a pacientes
internados em hospitais. Integram o acervo dos textos destinados a subsidiar as
discussões dos Seminários de Tanatologia promovidos pela Comissão Permanente
de Cuidados Paliativos da SBGG, na sede da SBGG-RJ, no período de 2007 a 2011.
Pronto! - Doeu?...
Ela fez o olhar mais vago que presenciei nos últimos tempos. E não
queria largar minha mão. Meio que de repente começou a rezar o Pai
Nosso. Eu fui junto com ela. Falou que tinha dois filhos e continuou...
O Pão Nosso de cada Dia nos dai Hoje... Não queria que eu fosse
embora... Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...
Muito delicadamente fui tirando a minha mão. Disse meio sem jeito:
Você vai ficar com Nosso Senhor. Ele gosta muito de você. E Nossa
Senhora vai cobrir você com seu manto. Foi o que consegui dizer.
Àquela altura, eu já tinha feito, com toda a contrição, nos inúmeros quartos
visitados, orações espontâneas (não tão espontâneas assim, já que
sempre as preparo em meditação anterior às visitas) e o mais pessoais
possíveis. Eu estava cansado. E já começava a repetir os conteúdos.
Sem ter muito por que, a cada frase, todo o mundo dizia amém, até
a última frase e o último amém.
Olhou pra mim e com muita resolução disse: quer dizer que eu faço
a diferença!? E rezou: olha pra mim, meu Deus! Eu faço a diferença!
Isso mesmo: todos, até uma atendente que passava, dissemos amém.
Introduzindo
Texto publicado com a referência: Oliveira JFP. A espiritualidade e o corpo. In: Santos
FS. (org). A arte de cuidar: saúde, espiritualidade e educação. Bragança Paulista
(SP): Comenius, 2010, p.91-107.
O tempo
E o tempo não é algo externo, que possa estar aí, em algum lugar, como
estão as coisas materiais. No livro XI de suas Confissões, AGOSTINHO
(1955) reflete que o habitat do tempo é a alma. A alma, e não os
corpos, é a verdadeira medida do tempo, é a verdadeira dimensão do
tempo. Passado e futuro e presente se põem, então, como memória,
espera e profunda atenção. Tempo e memória se juntam, pois, com
as surpresas do presente, sempre prestes a desvanecer, com a
lembrança de um passado que insiste em ir para frente e um futuro
que é intensa expectação, um tempo que inquietamente se espera.
2º fundamento:
Não julgo, a essa altura, que seja possível falar de espaço espiritual e
suas possibilidades de transcendência sem mencionar a relação entre
sagrado e profano. Até porque tratar de espiritualidade toca a raiz
1
Tradução do autor.
Há, sim, uma dicotomia que inquieta até os teólogos: como refletir
sobre as ‘coisas’ do espírito, enquanto temos diante de nossos olhos
a realidade concreta de um corpo? Corpo solitário, extremamente
enfraquecido: a nudez dos ossos, a cor esmaecida, o olhar quase sem
nenhuma expressão... Uma súplica perdida no ar? De toda a forma,
corpo reduzido ao estado original de corpo.
4º fundamento:
Espiritualidade e morte
5º fundamento:
Por sua vez, DONDEYNE (1970, p. 292)2, resume assim este tema:
“que a filosofia existencial se apresenta como filosofia da finitude quer
dizer que pretende salvar a todo o custo a historicidade do homem
e sublinhar o caráter não definitivo, ou, como se diz, interrogativo do
pensamento e da ação humana”.
2
Tradução do autor.
6º fundamento:
3
Tradução do autor.
4
Tradução do autor.
Neste sentido, julgo muito oportuno afirmar que a ênfase que dei ao
corpo como espaço expressivo do espírito não deve, nem de longe,
nos levar a uma visão fragmentada do ser humano. Mesmo realçando
a primazia visível do corpo, sempre que me refiro ao doente, ao
paciente à beira da morte, quero, obviamente, expressar o homem
inteiro. Sem dúvida, é o homem todo, espírito e corpo, que nasce,
cresce, trabalha, produz, conquista, se frustra, erra, se recupera,
envelhece, decai e morre.
“O amor me habita com uma verdade tão intensa que a própria morte
não saberia, não poderia anular...”, registra ANDRÉ CHOURAQUI, (1994,
p. 13-14)5, em sua autobiografia. “Se eu tivesse que compor o meu
epitáfio, ele não teria mais do que três palavras: MORTO DE ALEGRIA!”
Concluindo
5
Tradução do autor.
Referências bibliográficas
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Encontrado em: www. helpthehospices.org.uk.
1ª edição
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