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Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia

Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros


Cláudio Luiz Zanotelli

como essa “condição de possibilidade”


Espaço, saber e poder: funcionaria, é interessante notar, enfo-
ca mais no conceito de espaço do que
Foucault e a geografia na geografia. Enquanto muitos geó-
grafos aceitariam que a espacialidade
é um de seus conceitos fundamentais,
Tradução: Ana Maria Leite de Bar-
eu duvido que atualmente muitos
ros
deles defendam uma concepção tão
Revisão técnica: Cláudio Luiz Za-
restrita do assunto (Harvey 2004).
notelli
Quanto mais a geografia se afasta da
seara positivista que assumiu na déca-
Texto traduzido livremente do ori-
da de 1960 como uma ciência exclusi-
ginal em inglês: Space, knowledge and
vamente espacial, mais difícil se torna
power: Foucault and geography (pági-
responder as questões a partir de seu
nas 41 a 64). Editado por Jeremy W.
status epistemológico atual. O pedido
Crampton e Stuart Elden. Ashgate
de Foucault para esclarecimentos me-
Publishing Limited, 2007.
rece alguma resposta. Curiosamente,
Os textos aqui agrupados cor-
respostas do tipo podem ser elabora-
respondem às respostas de geógrafos
das a partir de própria história intelec-
anglo-saxões efetuadas trinta anos de-
tual de Foucault.
pois às questões formuladas por Fou-
Consideremos, por exemplo, a
cault à revista Hérodote (Abril-junho,
frase “condição de possibilidade” que
segundo trimestre de 1977, n.6, p.3-
Foucault usa para descrever a posição
39). Essas questões e respostas de
da geografia em relação ao seu próprio
Foucault datando de 1977 e traduzi-
trabalho. Essa é uma frase bem Kan-
das estão sendo publicadas nesse mes-
tiana. Ao apelar a essa frase, Foucault
mo número da Geografares.
está, penso eu, remontando ao seu an-
Dentre essas respostas à Foucault
tigo encontro com a antropologia de
com trinta anos de intervalo, há no-
Kant. Foucault traduziu para o francês
tadamente um texto de David Har-
o texto Anthropologyfrom a Pragmatic
vey. Desse modo, podemos avaliar as
Point of View (publicado em 1964) de
diferentes recepções e comentários às
Kant. Ele terminou sua introdução da
questões e à obra de Michel Foucault,
tradução com uma promessa de pre-
feitas com trinta anos de intervalo por
parar um trabalho mais aprofundado
geógrafos de matrizes teóricas distin-
para trabalhar as questões postas no
tas.
texto. Esse trabalho mais aprofundado
nunca se materializou, mas Foucault
As Raízes Kantianas dos deixou um extenso material não pu-
blicado, “Commentaire”, que agora
Dilemas de Foucault* está disponível (Kant 1964), Foucault
(2005).
David HARVEY Em seu comentário Foucault ar-
gumenta que a Antropologia de Kant
No final de sua entrevista com os tem um papel muito mais vital do que
editores de Hérodote, Foucault disse: * Todas as expressões entre colchetes,
marginal em relação ao pensamento bem como as notas de fim i, ii, iii,
global de Kant e que, na realidade, etc, são dos tradutores.
Eu gostei muito desta entrevista com as três críticas de Kant não poderiam
vocês, porque mudei de opinião entre o ter sido escritas sem ela. Amy Allen
começo e o fim... Agora me dou conta de
sintetiza o argumento de Foucault da
que os problemas que vocêscolocam a res-
peito da geografia são essenciais para mim. seguinte forma:
Entre um certo número de coisas que rela-
cionei estava a geografia, que era o suporte, A Antropologia (talvez inconsciente-
a condição de possibilidade da passagem mente) abre o quadro da filosofia crítica,
de uma para outra. Deixei as coisas em revelando a especificidade histórica de
suspenso ou fiz relações arbitrárias... A nossas categorias a priori, seu enraiza-
Geografia deveestar bem no centro das mento em práticas e instituições sociais
coisas de que me ocupo. (1980, 77; este e linguísticas historicamente variáveis. A
Revista do Programa de Pós-
volume, 182)"i leitura que Foucault faz da Antropologia Graduação em Geografia e do
de Kant sugere então que o sistema de Departamento de Geografia da
Kant contém as sementes de sua própria UFES
O subsequente apelo de Foucault
transformação radical, uma transformação Janeiro-Junho, 2016 25
aos geógrafos por orientação sobre que Foucault vai realizar em seu próprio ISSN 2175 -3709
trabalho: a transformação da concepção de é útil primeiro reconstruir os pontos
a priori como universal e necessário para o de vista de Kant. Kant lecionou geo-
a priori histórico; e a transformação rela- grafia quarenta e nove vezes, em com-
Revista do Programa de Pós- cionada a partir do sujeito transcendental, paração às quarenta e quatro ocasiões
Graduação em Geografia e do que serve como a condição de possibilida-
Departamento de Geografia da
que ele lecionou lógica e metafísica e
de de toda a experiência para o sujeito, é
UFES condicionada por seu enraizamento em às quarenta seis e vinte e oito vezes
Janeiro-Junho, 2016
circunstâncias históricas, sociais e culturais que ele lecionou ética e antropologia
ISSN 2175 -3709 respectivamente. Ele saiu de seu per-
específicas. (Allen, 2003)
cursoe obteve dispensa das normas da
É esta transição no pensamento de universidade para ensinar geografia
um sujeito desencarnado e transcen- no lugar de cosmologia. Ele explicita-
dental para um sujeito enraizado que mente argumentou que a geografia e
é crítica. Que tipo de teoria da espécie a antropologia definem as “condições
humana poderia ser construída através de possibilidade” de todo conheci-
de investigação científica? O principal mento. Ele considera esses conheci-
veículo que Kant usa para explorar essa mentos uma preparação necessária –
questão, de acordo com Foucault, é propedêutica como ele chamou – para
fornecido pela Antropologia. Para Fou- todo o resto (May, 1970, 132-6). En-
cault, entretanto, deveria ser forneci- quanto tanto a antropologia quanto a
do pela arqueologia, mas em termos geografia estavam em um estado “pré-
de conhecimento e não de artefatos -crítico" ou "pré-científico", seu papel
(1982). O que essa questão nos coloca fundamental exige muita atenção. A
é: porque não deveria ser fornecido, pergunta é: por que ele pensa assim?
tanto para Kant como Foucault, pela Para Kant a metafísica e a ética não
Geografia? A Geografia afinal trafega deveriam ser baseadas em um pon-
muito fortemente na ideia do enraiza- to de vista do sujeito transcendental
mento do sujeito humano em circuns- dada pela teologia ou pela cosmologia
tâncias históricas, sociais, culturais e, especulativa. Teriam que ser baseadas
devemos adicionar, ambientais espe- na compreensão científica da experi-
cíficas. A Geografia, ainda mais que ência humana. A sua antiga batalha
a antropologia, aspira o status de ci- contra ensinar cosmologia e a sua
ência. O que Foucault parece admitir substituição pela geografia foi o pri-
em sua entrevista e em suas perguntas meiro tiro nessa guerra. Se a teologia
é que a geografia poderia muito bem e a cosmologia já não podiam prover
ter realizado uma função paralela ao respostas adequadas à questão “o que
que é visto na Antropologia de Kant ou é o homem?” então era necessário algo
em sua própria arqueologia. No caso mais científico. De onde viria essa “ci-
de Kant, entretanto, a resposta é ainda ência do homem” se não da antropo-
mais interessante. Ele de fato viu a ge- logia e da geografia? A diferença entre
ografia como “uma condição de possi- antropologia e geografia, na visão de
bilidade” de todas as formas de conhe- Kant, está na diferença de perspectiva
cimento e ele começou a ensinar isso entre o “conhecimento exterior” dado
muitos anos antes de ele ter começado pela observação do lugar do homem
a pesquisar na área de antropologia na natureza e o “conhecimento inte-
(ver May 1970; Zammito 2002). Se rior” das subjetividades (que às vezes
Foucault era consciente desse fato, ele se aproxima da psicologia na prática)
nunca mencionou isso, talvez porque a (May 1970, 107–18). O fato de que ele
geografia de Kant nunca foi publicada começou primeiro a ensinar geografia
durante a vida de Kant e quando foi (em 1756) e de que muito do que ele
publicada mais tarde a partir de uma então pesquisou concerne os proces-
compilação de notas de Kant e de seus sos físicos que afetam a superfície da
estudantes, teve muito pouco impacto. Terra e a vida humana sobre ela, suge-
A pergunta para nós é: porque a geo- re uma certa atração inicial por uma
grafia como condição de possibilidade teoria subjacente do determinismo
de todas as outras formas de conheci- ambiental como uma base científica
mento é deixada de lado até ser final- potencialmente segura para a reflexão
mente reconhecida, sob pressão, por metafísica. Muitos dos exemplos que
Foucault aos editores de Hérodote? ele cita em geografia invocam temas
Dada a forte influência Kantiana relativos ao determinismo ambiental.
26 no trabalho de Foucault, eu penso que Ainda mais problemático, como Ber-
nasconi mostrou, foi a tentativa inicial

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de Kant de fundar uma ciência das condição inicial “de vaidade/presun-


diferenças raciais (2001). O interesse ção insensata e infantil” para o “nos-
futuro de Kant pela antropologia (que so destino” de sociedade cosmopolita.
ele começou a lecionar em 1772) e o Isso desencadeia uma análise de nos-
fato de ele ter dado grande atenção sas faculdades cognitivas, sentimentos
para escrever sobre isso (até mesmo (de prazer e desprazer) e de desejo. A
preparando o texto para publicação) influência do projeto de Kant no tra-
em seus últimos anos sugere que ele balho de Foucault é óbvia. Kant tam-
tenha encontrado o conhecimento in- bém procurou refletir como e porque
terior das subjetividades mais relevan- os dotes naturais (“temperamento”)
tes para o seu projeto filosófico. Ele são transformados pelas práticas hu-
parece ter desistido da ideia de uma manas em “caráter”. Kant escreveu: “o
geografia científica em meados de sua que a natureza faz do homem perten-
carreira e as anotações dos alunos em ce ao temperamento (aqui o sujeito é
suas aulas são evidências abundantes passivo) e o que os homens fazem de
da incoerência e de frequentes atribu- si mesmos revela se ele tem caráter”
tos preconceituosos no pensamento (1974, 203). Kant derivou da propo-
de Kant sobre questões geográficas. É sição geral de Rousseau em que "o
significativo, além disso, que as passa- homem faz a si mesmo” e isso é trans-
gens finais da antropologia abordam a portado muito fortemente, é claro, na
questão da ética cosmopolita direta- tradição Marxista. Como Foucault
mente, indicando uma certa conexão observou em seu comentário: "o ho-
entre sua antropologia e sua ética. Não mem não é simplesmente ‘o que ele
há menção a este tema na geografia. é’, mas ‘o que ele faz de si mesmo’. E
Essa passagem da antropologia vale a isso não é precisamente o campo que
pena citar na íntegra. Os seres huma- Antropologia define para seu campo de
nos, ele diz: investigação?"(Foucault, 2005). Esta
formulação permite que Kant reflita
Não podem existir sem coexistência mais especificamente na última parte
pacífica e ainda assim eles não conseguem do texto sobre as diferenças no caráter
evitar contínuos desentendimentos entre nacional. Os seres humanos fizeram-
eles. Consequentemente, eles se sentem
-se de forma diferente em diferentes
destinado pela natureza para desenvolver,
lugares.
através de coerção mútua e de leis escritas
por eles, uma sociedade cosmopolita que O que Kant parece ter feito aqui, é
é constantemente ameaçada por dissensão, mover de um lado para outro o que na
mas que geralmente progride em direção a geografia nós conhecemos há muito
uma coalizão. A sociedade cosmopolita é, tempo como uma divisória entre, de
em si mesma, uma ideia inalcançável, mas um lado, “determinismo ambiental”
não é um princípio constitutivo... É ape- e, de outro, “possibilismo” (Tatham
nas um princípio regulador que exige que 1957). A negligência relativa de Kant
nos submetamos à sociedade cosmopolita
sobre a geografia mais tarde em sua
como o destino da raça humana; e isto não
ocorre sem motivos razoáveis para supor
carreira, agora faz sentido, pois é re-
que existe uma inclinação natural nessa almente abalado com o determinismo
direção... Temos a tendência de apresen- ambiental, o racismo e comentários
tar a espécie humana não como má, mas preconceituosos. Mas há razões mais
como uma espécie de seres racionais, que profundas para as dificuldades de
se esforçam constantemente entre os obs- Kant no que diz respeito à geografia.
táculos para avançar do mal para o bem. A Kant simplesmente não conseguia
este respeito, a nossa intenção em geral é fazer as suas ideias sobre as causas
boa, mas a realização é difícil porque não
finais funcionarem no terreno do co-
podemos esperar para alcançar nosso ob-
jetivo pelo livre consentimento dos indi-
nhecimento geográfico. “Estritamente
víduos, mas apenas através da organização falando”, ele escreveu (na passagem
progressiva dos cidadãos da terra, dentro que Glacken coloca como funda-
e para a espécie, como um sistema que mental), “a organização da natureza
é unido por laços cosmopolíticos(Kant não tem nada análogo com qualquer
1974,249). causalidade que conhecemos” e esse
problema bloqueou sua tentativa de Revista do Programa de Pós-
A missão da antropologia de Kant Graduação em Geografia e do
construir conhecimentos geográfi-
Departamento de Geografia da
é, portanto, definir “as condições de cos em estilo parecido com a ciência UFES
possibilidade” para aquele “princípio natural Newtoniana (Glacken 1967, Janeiro-Junho, 2016 27
regulador” que pode nos levar de uma 532). Sua metafísica e sua ética não ISSN 2175 -3709
poderiam encontrar na geografia uma
sólida fundamentação científica que
ele considerava essencial. Ele teria que
Revista do Programa de Pós- voltar para a esfera de mera especu-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
lação, para a cosmologia. Comparado
UFES com isso, voltar-se para a antropologia
Janeiro-Junho, 2016 deve ter parecido mais atrativo.
ISSN 2175 -3709 Mas ainda há outra dificuldade
com as formulações de Kant. A Geo-
grafia, ele argumentou, organizou sin-
teticamente o conhecimento de acor-
do com o ordenamento do espaço. A
História é considerada distinta porque
proporciona uma narrativa no tempo.
Espaço e tempo são, portanto, consi-
derados bem distintos um do outro no
esquema Kantiano das coisas. Histó-
ria e geografia são bem diferentes uma
da outra. Isso posiciona Kant firme-
mente no campo Newtoniano (em
vez de, digamos,Liebniziano) na con-
ceptualização do espaço e do tempo
(May 1970, 118–31; Harvey prestes a
ser publicado). A geografia de Kant é
então definida como uma forma em-
pírica de conhecimento sobre ordena-
mento espacial e estruturas espaciais.
Isso talvez explique porque Foucault
formulou suas questões aos geógrafos
com questões apenas sobre espaço e
espacialidade. Seu antigo ensaio não
publicado sobre diferenciações espa-
ciais como “heterotopias”, é carregado
de marcas da aceitação da visão abso-
luta do espaço de Kant e da separação
do espaço do tempo (Foucault 1987).
A particularidade do posicionamen-
to do espaço absoluto é marcada por
contingência, fragmentação e singu-
laridade. Isso contrasta radicalmente
com a universalidade unida ao con-
ceito de tempo unidirecional que nos
aponta teleologicamente em direção
a algum destino, como a governança
cosmopolita de Kant. Foucault adota
a teoria absoluta da espacialidade e
desenvolve uma panóplia de metáfo-
ras espaciais (o Panóptico é de longe o
mais proeminente). No esquema das
coisas de Kant, o ordenamento espa-
cial necessariamente produz verdades
e leis locais e regionais opostas às uni-
versais. Aqui, também, há uma forte
concordância entre as descobertas de
Kant e a missão de Foucault. Em seu
comentário sobre o ensaio “O que é
Iluminismo” de Kant, Foucault adota
a especificidade da localização e da
diferença, da contingência e da micro-
28 política do poder enquanto ele batalha

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com a teleologia e a macro-teoria. “A seus amigos da arquitetura), apontou


nossa ontologia histórica deve se afas- para uma forma muito mais dialética
tar de todos os projetos que se dizem de discutir heterotopias como espaços
global ou radical”, ele escreveu, porque de possibilidades em A Revolução
“sabemos por experiência que a busca Urbana (publicado três anos depois
para escapar do sistema da realidade da palestra de Foucault) (Lefebvre,
contemporânea, de modo a produ- 2003). E o próprio Foucault parece ter
zir programas globais de uma outra parcialmente reconhecido a dificulda-
sociedade, de uma outra maneira de de. Ele certamente tinha a sua própria
pensar, de outra cultura e de outra vi- formulação de heterotopia em mente,
são do mundo, levou apenas ao retor- quando se preocupava com a forma
no de tradições mais perigosas” (Fou- como "espaço era tratado como sen-
cault 1984, 46). do morto, fixo, não dialético e imóvel",
O problema, entretanto, é que enquanto "o tempo, ao contrário, era
toda a abordagem de Kant da geo- riqueza fértil, vida e dialética" (1980,
grafia e do espaço repousa sobre uma 70; este volume, 177). Suas outras
pura base newtoniana de espaço e afirmações de que se “o espaço é fun-
tempo. O que acontece com esse argu- damental em qualquer forma de vida
mento quando é levantada a restrição comunitária”, então o espaço também
da concepção absoluta do espaço? Há deve ser “fundamental em qualquer
bons argumentos, que já mostrei ante- exercício de poder” e que “uma histó-
riomente, no sentido de que o espaço ria completa dos espaços ainda preci-
deve ser visto dialeticamente e simul- sa ser escrita – o que seria, ao mesmo
taneamente, como absoluto, relativo e tempo, uma história de poderes (am-
relacional (Harvey, 2006). Neste caso, bos os termos no plural)” abrem possi-
a distinção entre geografia e história bilidades que permanecem frustrante-
desaparece. Tudo o que temos é a ge- mente não desenvolvidas (1980, 252).
ografia histórica ou história geográfica Embora estes comentários possam
em que a dialética das transformações sinalizar um certo desconforto com
socioambientais tem papel central. E a teoria kantiana do espaço absoluto,
a mudança filosófica que Foucault ob- Foucault falha em desenvolver uma
serva a partir da perspectiva espacial teoria crítica viável sobre o que é o es-
de Kant nas perspectivas temporais de paço e o tempo.
Hegel, Bergson e Heidegger aparece- Então, por que Foucault se ateve
ria como uma grande distração (Fou- tão resolutamente a esta concepção
cault 1980, 149). kantiana do espaço e do tempo? Há
A aceitação por Foucault da con- aqui uma outra peça do quebra-cabe-
cepção kantiana de espaço e tempo ças de possibilidades. Kant classificou
representa toda uma série de difi- a arqueologia como uma ciência es-
culdades e vai contra qualquer de- pacial distinta e Foucault adotou uma
senvolvimento da geografia como a abordagem arqueológica do conhe-
"condição de possibilidade" de todas cimento como seu princípio orienta-
as outras formas de conhecimento. dor. Será que o abandono do sentido
Tomemos, por exemplo, o conceito kantiano do espaço teria afetado esta
de Foucault de heterotopia (como a abordagem arqueológica do conheci-
geografia de Kant, era uma incursão mento? A fixidez do espaço kantiano
precoce a um problema que perma- acaba enfraquecendo aabordagem de
neceu inédito por muitos anos). Eu Foucault do conhecimento e do po-
tenho profundas objeções à concep- der. Seus argumentos, cheios de ideias
ção de Foucault precisamente porque espaciais iniciais, colapsam em estase.
está baseada em uma interpretação Foucault aprisiona-se em um panóp-
da espacialidade puramente kantiana tico kantiano de sua própria criação.
(newtoniana). A concepção de hete- O resultado é uma rigidez insuportá-
rotopia de Foucault é uma represen- vel em seus escritos.
tação bastante não dialética do que é A ideia da geografia não como
e do que o espaço pode ser (Harvey, uma ciência morta de ordenamento
2001). Lefebvre, em sua maneira es- espacial, mas como uma ciência viva Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
pontânea e indireta (e, possivelmente, da geografia histórica, como uma dis-
Departamento de Geografia da
como uma refutação direta aos argu- ciplina que pode abraçar abertamente UFES
mentos de Foucault de quem ele quase a dialética e executar sua função ra- Janeiro-Junho, 2016 29
certamente já tinha ouvido falar pelos dical ao lado da antropologia como ISSN 2175 -3709
uma "condição de possibilidade" de and the Culture of Neo-Liberalism.
todas as outras formas de conheci- Durham: Duke University Press,
mento, deve ter parecido ameaçador 271–309.
Revista do Programa de Pós- para Foucault. Por mais que eu admire Harvey, David (2004) ‘Geographi-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
muitas das realizações de Foucault, eu cal Knowledges/Political Powers.’In
UFES tenho que dizer que a riqueza e ferti- J. Morrill,(Ed.) ‘The Promotion of
Janeiro-Junho, 2016 lidade de suas próprias contribuições Knowledge.’Proceedings of the British
ISSN 2175 -3709 teriam sido bem maior se ele tivesse Academy, 122,96–112.
seguido sua promessa de aprofundar a Harvey, David (2006) ‘Space as a
crítica da antropologia de Kant mais Key Word.’ In N. Castree and D. Gre-
diretamente e, então, talvez, consi- gory (Eds)David Harvey: A Critical
derar uma crítica da geografia (e não Reader. Oxford: Blackwell.
como ciência espacial, mas como uma Harvey, David (forthcoming) Cos-
análise dialética do espaço, do lugar e mopolitanism and the Geographies of
do meio ambiente no desenvolvimen- Freedom. New York: Columbia Uni-
to humano). Resta-nos, no entanto, versity Press.
perceber os poderes tanto da antropo- Kant, Immanuel (1964) Anthro-
logia quanto da geografia como "con- pologie. Translated by Michel Fou-
dições de possibilidade" não só para cault. Paris: Vrin.
todas as outras formas de conheci- Kant, Immanuel (1974) Anthro-
mento, mas também, como o próprio pology from a Pragmatic Point of View.
Kant previu, como uma preparação Translated byV. Dowell. The Hague:
para viver de forma mais esclarecida. Martinus Nijhoff.
Lefebvre, Henri (2003) The Urban
Revolution. Minneapolis: Minnesota
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May, J. A. (1970) Kant’s Concept
Allen, Amy (2003) ‘Foucault of Geography and Its Relation to Recent
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Reappraisal.’Constellations, 10 (2), ronto University Press.
180–98. Tatham, George (1957) ‘Environ-
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Race (Blackwell Readings in Continen- Taylor (Ed.)Geography in the Twentie-
tal Philosophy). Oxford: Blackwell. th Century.London: Methuen.
Foucault, Michel (1980) Power/ Zammito, John (2002) Kant, Her-
Knowledge, edited by Colin Gordon. der, and the Birth of Anthropology. Chi-
London:Harvester. cago: Universityof Chicago Press.
Foucault, Michel (1982) The Ar-
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Foucault, Michel (1984) The Fou-
cault Reader, edited by Paul Rabinow.
Harmondsworth: Penguin. Sara MILLS
Foucault, Michel (1987) ‘Of
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Foucault, Michel (2005) ‘Com- Questão 3
mentary of Kant’s Anthropology from
a PragmaticPoint of View.’ Translated A última parte da questão de Fou-
by Arianna Bove, http://www.genera- cault é particularmente importante
tion-online.org/p/fpfoucault1.htm. para a pesquisa científica feminista.
Glacken, Clarence (1967) Tra- Isso tem sido mais debatido entre
ces on the Rhodian Shore: Nature and linguistas feministas e geógrafos que
Culture inWestern Thought from An- têm analisado a maneira como con-
cient Times to the End of the Eighteenth versamos sobre gênero em relação
Century.Berkeley: University of Cali- ao poder sem assumir que há uma
fornia Press. simples correlação entre masculi-
Harvey, David (2001) ‘Cosmo- no/poderoso e feminino/sem poder
politanism and the Banality of Geo- (por exemplo, Thornborrow 2002, e
graphical Evils.’In J. Comaroff and J. o periódico Gender Place and Cultu-
30 Comaroff (Eds) Millennial Capitalism re: A Journal of Feminist Geography).
Muitos geógrafos têm focado nas re-

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lações entre gênero, poder e relações nal não é tão flexível. Assim, embora
espaciais (Blunt 1994; 2000; Bluntand o questionamento de Foucault sobre a
Rose 1994). A relação entre poder e noção de que se pode possuir ou ter o
espaço é complexa, particularmente se poder é uma oposição útil para pon-
o poder é definindo de forma produti- tos de vista muito fixos sobre o poder,
va como Foucault fez e se sustenta que ele, no entanto, sugere que tudo está
o poder é uma rede de relações entre em aberto e, por vezes, ignora o poder
as pessoas, o qual é negociado a cada institucional muito real em que certas
encontro, e também se define o espaço pessoas, de fato, trabalham e o usam,
como relacional e relativo como Fou- mesmo que não o possuam.
cault sugere. Esta complexa rede de Em relação à espacialidade e po-
relações cambiantes é tão produtiva der, eu tenho tentado, em meus tra-
quanto problemática para a pesquisa balhos recentes, descobrir como pode-
científica feminista. É produtivo na mos discutir espacialidade em relação
medida em que permite a teorização ao poder (Mills 2005). Sobretudo
de poder, o que salienta que cada rela- no contexto colonial, no século 19, é
ção de poder institucionalmente san- claro que há uma série de estruturas
cionada é negociada a um nível local espaciais que interagem umas com as
e pode, portanto, ser desafiada aberta- outras, algumas deles ratificadas pe-
mente ou veladamente; é problemática los poderes coloniais e outras não. O
na medida em que não leva adequada- que tem me interessado é a maneira
mente em conta o fato de que existem na qual o poder colonial aceita algu-
diferenças de poder que têm efeitos mas dessas estruturas espaciais como
materiais.A análise estritamente fou- normal, mas não necessariamente eli-
caultiana iria contra perguntar "quem mina a existência de outras estruturas
tem o poder?", uma vez que ninguém espaciais.
dentro deste contexto poderia se dizer Em “Anormais”, aulas de Foucault
que possui o poder. O poder, ao con- recentemente publicadas pelo Collège
trário, é visto como algo que é nego- de France, há uma interessanteabor-
ciado nas interações. O trabalho de dagem sobre as relações espaciais e
Thornborrow (2002) por meio desta poder. Ele descreve em pormenores o
posição foucaultiana leva a uma aná- desenvolvimento da prática confessio-
lise que destaca a resistência e os de- nal dentro da Igreja Católica Romana
safios daqueles que estão em posições e mostra como houve uma mudança
institucionalmente mais fracas; no en- nessa prática, cujo foco era na peni-
tanto, embora seja claro, é importante tência, com todas as práticas que isso
se reconhecer que oficiais de polícia, envolve, para um foco na confissão dos
professores e médicos são respeitados pecados, o que exigiu um novo con-
em suas declarações por causa de suas junto de relações entre os sacerdotes e
posições dentro de uma hierarquia de os fiéis.Estas eram relações espaciais e
uma forma que os suspeitos, os estu- de poder, não em um sentido simples,
dantes e os pacientes não o são. Thor- mas elas demandaram um conjunto de
nborrow centra-se na complexa nego- arranjos espaciais que eram muito pre-
ciação entre o statusinstitucional que é cisos e que eram as respostas à percep-
concedido a alguém e que lhe dá uma ção de problemas a serem resolvidos.
posição em uma hierarquia, e o status A confissão dos pecados demandava
local que esse alguém pode negociar que o pecado tivesse que ser confessa-
para si mesmo, através de suaagilidade do a alguém e esse alguém tinha quer
mental ou de habilidades verbais, por ser capaz de conceder a remissão dos
exemplo. Assim, por exemplo, você pecados; nesse sentido, o papel do sa-
pode estar relativamente baixo na hie- cerdote na Igreja mudou radicalmente
rarquia dentro de uma instituição, mas e Foucault argumenta que as relações
você pode ser capaz de negociar lo- de poder, consequentemente, também
calmente uma posição mais poderosa mudaram. Essa mudança se manifes-
para si mesmo por causa de suas ha- ta no desenvolvimento de um novo
bilidades e capacidades. Esta distinção conjunto de relações espaciais que se
entre dois tipos de poder é importante tornou evidente no confessionário, ao Revista do Programa de Pós-
por ser capaz de avaliar quais as po- Graduação em Geografia e do
qual Foucault se refere como "a cris-
Departamento de Geografia da
sições de poder que são negociáveis e talização material de todas as regras” UFES
quais não são. Pode-se negociar o sta- (Foucault 2003/1975, 181). O confes- Janeiro-Junho, 2016 31
tus local, mas o seu status institucio- ISSN 2175 -3709
sionário, assim como outros elementos University Press.
arquitetônicos, determinava relações Thornborrow, Joanna (2002) Po-
espaciais e era determinado por uma wer Talk. London: Routledge.
Revista do Programa de Pós- consciência da importância das rela-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
ções espaciais serem geridas “adequa-
UFES damente” – as pessoas tinham que ser Superado
Janeiro-Junho, 2016 organizadas no espaço para que a con-
ISSN 2175 -3709 pelo Espaço:
fissão fosse ouvida de forma eficaz: o
penitente e o sacerdote não deveriam reformulando Foucault
ser vistos um pelo outro, mas o peni-
tente precisava ser ouvido bem pelo Nigel Thrift
sacerdote; o sacerdote e o penitente
tinham que ser separados um do ou- Introdução
tro e do resto da congregação, mas era
importante que, por causa do celibato Eu tive um relacionamento de idas
do sacerdote e das tentações ineren- e vindascom os trabalhos de Michel
tes à confissão de pecados sexuais, eles Foucault desde que eu li, pela primei-
não ficassem isolados inteiramente do ra vez,em Cambridge nos anos 1970,
resto da congregação. Essas demandas suas obras naquelas edições Tavistock-
discursivas muito particulares deter- brilhantes, de cor preta, que pareciam
minaram esta estranha configuração munidas de autoridade. Eu sempre li-
arquitetônica com grelhas [no confes- guei Foucault àuma certa austeridade
sionário] e meias-cortinas, estimulan- desde então: o homem de preto. Essa
do certas revelações e desencorajando impressão – de uma perspectiva um
outros discursos. A análise cuidadosa pouco sombria – permaneceu comigo,
de Foucault sobre as pressões discur- mesmo que tenha lido e lecionado so-
sivas que deram origem ao desenvol- bre seu trabalho subsequente e mesmo
vimento do confessionário para orga- que tenha se tornado claro que essa
nizar o espaço de maneira particular, impressão é, em grande partepelo me-
me parece uma forma muito produtiva nos, um erro.
de pensarcomo as relações de poder se Duvido que alguém não concorde
desenvolvem em conjunto com as re- que Foucault era um gênio, um ho-
lações espaciais, cada uma delas exer- mem de extraordinária erudição, que
cendo umapressão diferente,uma so- mudou a forma como vemos o mundo.
bre a outra, mas não necessariamente Mas apesar da reverência que lhe faço,
determinista. ele tinha pontos cegos e estes eram, eu
acho, sistemáticos e, em certos sen-
Referências tidos, politicamente incapacitantes.
Eles não são, portanto, adendos tri-
Blunt, Alison (1994) ‘Mapping viais, mas vão direto ao cerne de seu
Authorship and Authority: Reading projeto. Eu quero trabalhar em qua-
Mary Kingsley’s tro desses pontos cegos e, em seguida,
Landscape Descriptions.’ In A. após tê-los identificados, sugerir o que
1 De fato, um dos muitos textos a Blunt and G. Rose (Eds) Writing Wo- eles podem indicar, não no sentido de
que Foucault estava explicitamente men and Space: Colonial and Postcolo- simplesmente completar o projeto de
respondendo em The OrderofThin-
nial Geographies. New York: Guilford Foucault, mas de mudar o sentido da
gs era o texto de Husserl Crisisof- política com quala ele trabalhou.
theEuropeanSciences. Press. 51–73.
2 Stuart Elden apontou-me que Blunt, Alison (2000) ‘Spatial Sto-
Merleau-Ponty se associou com ries Under Siege.' Gender Place and Quatro pontos cegos
Sartre, especialmente em torno do Culture, 7(3), 229–46.
projeto político do LesTempsMo- O primeiro desses pontos cegos
dernes, tornando esta uma rea-
Blunt, Alison and Gillian Rose,
ção, sem dúvida, compreensível, Eds (1994) Writing Women and Space: surgedo anti-humanismo pós-estru-
que só foi reforçada pelo impacto Colonial and Postcolonial Geographies. turalista de Foucault, uma posição
deLetterofHumanism[Carta sobre New York: Guilford Press. que dominou toda a vida intelectual
o Humanismo]de Heidegger que em larga escala das ciências sociais
ofereceu a autores como Foucault, Foucault, Michel (2003/1975) Ab-
Althusser e Derrida uma leitura normal.Edited by V. Marchetti and A. e humanidades nos últimos 30 anos
alternativa de Heidegger. Salomina.Translated by G. Burchell. mais ou menos. Em particular, esse
3 Embora em seus trabalhos pos- London: Verso. anti-humanismo suprimiu muitas das
teriores fique claro que a posição de Mills, Sara (2005) Gender and Co- ambiguidades da fenomenologia do
32 Foucault era mais complexa do que registro. Se for para confiar em Dosse
isso. lonial Space. Manchester: Manchester

Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia


Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli
Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia
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Cláudio Luiz Zanotelli

(1997), grande parte dessa supressão permitida existirapenas na qualidade


é resultado da crescente antipatia de de sua prosa centrada nas análises dos
Foucault com a fenomenologia depois discursos sobre o crime, e no tipo de
da publicação de seu primeiro livro, rancor polido e reluzente que é a pi-
MadnessandCivilization¹ [edição em cada do crítico. Ainda assim, a lacuna
português, História da Loucuraii ]. Em é curiosa. A explicação óbvia é a con-
seus estudos arqueológicos do início centração de Foucault no poder, em
dos anos 1970, e mais notadamente contraposição ao desejo, sinalizando,
em TheOrderof Thingsiii e The Archaeo- assim, a diferença essencial entre os
logy of Knowledgeiv, processos são con- sistemas Foucaultiano e Deleuziano.
cebidos sem sujeitos, uma posição que Mas isso é muito simplista. Outra ex-
rapidamente se torna uma ortodoxia; plicação pode ser o apego de Foucault
“é provavelmente impossível darcon- ao discurso, mas anoção de discurso de
teúdo empírico a valores transcenden- Foucault dificilmente poderia ser mais
tais, ou deslocá-los em direção a um corpórea. Uma outraexplicação pode
componente de subjetividade, sem dar surgir a partir de um aparente desejo
origem, pelo menos em silêncio, a uma de ressuscitar a premeditação estoica
antropologia”(Foucault 1970, 248). de uma forma de males contemporâ-
Apesar dos trabalhos posteriores de nea e, relativamente, a necessidade de
Foucault, esse ponto cego continuou, se proteger contra a perda de controle
tipificado pelo texto no qual trata de das paixões. Seja qual for o caso exato,
Merleau-Ponty e Sartre na introdu- é certamente uma pena. Pense apenas
ção à The Normal and the Pathologicalv no que Foucault poderia ter feito com,
(1991) de Canguilhem,mesmo que digamos, a história da obsessão, e com
Merleau-Ponty estivesse tentando as suas formas contemporâneas, como
produzir uma “uma explicação intuiti- a perseguição4.
va mais robusta do conhecimento, que O outro ponto cego era o espaço.
não se baseasse na existência prévia É certamente verdade que Foucault
do sujeito, mas sim em sua aparência tinha uma sensibilidade espacial (con-
fenomenológica”(Carmanand Han- vencionalmente sinalizada pelas en-
sen 2005, 20). Em outras palavras, trevistas em que ele aborda o tema)
Foucault foi certamente um dos co- que surgiu naturalmente a partir de
laboradores involuntários à atual ten- sua crítica ao espaço arquitetônico
dência instintiva de rotular quase toda do projeto transcendental, mas não
discussão de questões como a percep- era, eu diria, uma sensibilidade com a
ção ou a correlação ontológica do ser qual ele fez muito. Foucault pode cla-
humano e do mundo como mero hu- ramente produzir análise espacial su-
manismo subjetivista, ou como parte til – mais notavelmente em The Order
de uma tentativa de constituir um su- of Things(onde ele se deu a tarefa de
4 Outra possível explicação pode
jeito transhistórico que por si só pode descobrir um "quadro" através do qual ser que Foucault, assim como mui-
ser submetido aos procedimentos que os termos do pensamento estavam tos teóricos sociais, nunca conside-
ele esboça³. distribuídos) e Vigiar e Punir (onde rou realmente a importância dos
primeiros anos/infânciano estabe-
O segundo ponto cego surge de muito dessa análise é distribucional).
lecimento de relés afetivos no campo
sua aversão aparente para discutir afe- Ainda assim, parece-me que, embora precognitivo. Foucault estudando
to de forma explícita. Quase todas as ele argumente que a possibilidade de bebês - umaideia interessante, com
práticas nas quais Foucault trabalha pensamento surge de um imaginário certeza.
vem carregadas de afeto, algumas ve- inerentemente espacial que (pelo me- 5 Embora, como Stuart Elden me
zes do tipo mais extremo. Assim, ele nos na interpretação deleuziana de apontou, num registro mais am-
plo, o espaço Francês pode ter um
claramente se volta para práticas que Foucault) emerge "tanto dos movi- significado que não represente um
envolvem a análise de violência física mentos dos corpos como das imagens problema maior (?).
real e a morte ou os traços de violên- que esses corpos produzem um do ou- 6 No mínimo por causa de um in-
cia reprimida ou canalizada e a morte. tro” (Colebrook 2005,191), Foucault teresse em cinema
Dor e tortura, muitas vezes são men- ainda tendia a pensar o espaço nos
cionadas. Periodicamente, também, termos das ordens, e eu acho que essa
Foucault discute afetos negativos – tendência fez com que ele pensasse o
como raiva e lisonja (cf. Butler 2005, espaço como um meio através do qual
Foucault 2005).Mais uma vez, o tra- se poderiarealizar mudanças e, ao mes- Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
balho de Foucault em si parece-me ser mo tempo, ficava cego para uma boa
Departamento de Geografia da
cheio de uma raiva reprimida a qual é parte da vivacidade do espaço.Assim, UFES
raramente permitido vir à tona e ser quando ele queria sinalizar esta quali- Janeiro-Junho, 2016 33
confrontada e, na maioria das vezes, é dade espacial ele frequentemente en- ISSN 2175 -3709
controu outras não-categorias, como a torno de um catálogo de coisas Chi-
heterotopia5. Em todos os lugares, na nesas, e alguns de seus mais agudos
obra de Foucault há, em outras pala- textos se centra em torno de obras de
Revista do Programa de Pós- vras, marcas de sua sensibilidade à or- arte, seu trabalho ainda é curiosamen-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
dem espacial – como uma chave para a te desprovido de coisalidade, exceto na
UFES constituição do poder, como um mar- medida em que envolve a mão divisó-
Janeiro-Junho, 2016 cador de si mesmo, como um co-in- ria da arquitetura. Eu continuo a achar
ISSN 2175 -3709 grediente requisito de inúmeras prá- essa a mais estranha das ausências,
ticas, como um ingrediente-chave da poisum retorno para animar objetos
“eventalização”, como uma aceitação inanimados imprecisos e persistentes
da importância das qualidades do ter- teria sido claramente um movimento
ritório – mas que foi deixada de lado fácil o suficiente para Foucault, o que
por Foucault e outros autores constru- não seria menos importante, isso por
íram uma espacialidade Foucaultiana causa de sua interpretaçãopráticaso-
(por exemplo, Philo 2004). No entan- bre a manifestação do mundo.Talvez
to, esta é uma espacialidade que ainda seja o resultado de Foucault em geral
parece estranhamente emudecida para evitar a economia, exceto como uma
mim, esterilizada especialmente pela episteme ou, mais tarde, como a cir-
sua incapacidade de sistematicamente culação de pessoas e bens. Ou talvez
pensar a co-incidência (exceto como o seja o resultado de sua ênfase, mais
aleatório).Talvez parte desta esterili- tarde, no estudo sobre o cuidado de
dade venha da falta de atenção mais si, mesmo que em culturas modernas
precisa no relato de Foucault sobre o pode-se argumentar que o eu vem não
poder, um relato que tem que ser re- tanto envolto, mas modelado por coi-
trabalhado por outros que estavam sas: as técnicas do cuidado de si são
mais preocupados com o movimen- exatamente isso. Ou talvez seja par-
to (Deleuze 1998)6.Talvez parte dela te de uma ênfase mais geral sobre a
[da incapacidade] venha de uma di- linguagem e sobre os textos que per-
ficuldade (compartilhada por muitos, meiam tantos de seus trabalhos. Ou
tem que ser dito) de imaginar quão talvez fosse apenas uma simples omis-
diferentes conteúdos podem habitar o são: afinal de contas, ninguém pode
mesmo espaço (Thrift 2006). E, talvez, escrever sobre tudo – os filósofos prin-
parte dela vem de uma cegueira para cipalmente. Mas ainda é uma omissão
o resultado do seu próprio raciocínio trágica. Pense no que Foucault pode-
quando se trata de espaço, e, especial- ria ter feito com objetos como arame
mente, da diferença entre o arquivo farpado (agora brilhantemente trazido
–entendido como “uma forma de ra- à vida por Netz, 2004) ou armas – ou
ciocínio espacial (um mapa, uma plan- medicamentos prescritos.
ta baixa de um edifício, uma vista de O leitor que conhece o meu tra-
cidade, um fluxograma) que classifica balho dificilmente vai se surpreender
e categoriza conhecimento herdado. com essas observações. Eu tenho um
Como um mapa histórico, o arquivo grande interesse nelas, pois são quatro
é um repositório de fatos e, pela na- as coisas sobre as quais eu concentrei
tureza da sua forma, ele permite que muito da minha carreira acadêmica.
o passado seja tratado nos termos de Elas explicam por que, frequente-
sua organização e modo de apresenta- mente, eu tenho achado Foucault tão
ção” – e o diagrama, entendido como relevante e, ao mesmo tempo, tão pe-
“um mapa destinado não apenas para culiarmente irrelevante. Seus textos
resumir o passado, mas para moldar parecem exsudar um tipo de daltonis-
as formas que o presente e o futuro mo teórico que combina uma verve
serão compreendidos e vividos. Um ontológica óbvia com a lixiviação de
diagrama procura impor o controle do muitos dos ingredientes mais impor-
futuro, ao flexionar as formasnas quais tantes do mundo. É por isso que, para
o passado pode ser pensado enquanto mim, seus textos muitas vezes parecem
também irá determinar o comporta- existir em uma espécie de melancolia
mento atual e futuro que seus autores existencial. É um pouco como estar na
querem impor”(Conley 2004, 567). floresta encantada que é o ator central
Outro ponto cego era sobre as coi- de muitos contos de fadas, mas esta
sas. Embora Foucault escrevesse sobre é uma floresta encantada em que a
34 tecnologia, uma de suas passagens magia só traz seus habitantes parcial-
mais frequentemente citadas gira em mente (e às vezes grotescamente) para
Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia
Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli
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a vida. Como tentei mostrar aqui e em outros


lugares, o que se considera como pen-
O que tem que ser feito samento necessita ser entendido como
distribuído de forma mais ampla,
Meu mundo [intelectual] está se levando-se em consideração alguns
deslocando para outro lugar. Eu quero dos atores que eu tenho assinalado
seguir uma trajetória associacionista diretamente e incidentalmente. E, é
diferente, que compreenda certos ti- claro, esses atores são frequentemente
pos do novo pensamento fenomeno- recalcitrantesà reflexão, o que me leva
lógico: toda a gama de trabalhos que à questão da inteligibilidade.
afetam, vários tipos de pensar sobre o Finalmente, nessa trajetória dife-
espaço e a profusão de pesquisas re- rente, seria importante compreender
centes sobre as coisas. Isso pode nos que nem tudo o que é inteligível é co-
dar um espaço para respirar. No en- nhecimento. Foucault compreendeu
tanto, eu também quero argumentar muito bem essa percepção, mas ele
que talvez seja possível pensar nessa não a levou muito longe:
trajetória como pelo menos parcial-
mente Foucaultiana e eu quero usar Este cuidado de si, precisamente, não é
a parte final deste breve capítulo para apenas um conhecimento. Se o cuidado de
si - como hojepretendo lhes mostrar -, in-
descrever o que eu quero dizer, em
clusive em suas formas mais ascéticas,mais
parte usando os pensamentos recen- próximas do exercício, está sempre vin-
tes de Butler (2005) sobre a questão culadoao problema do conhecimento,
do“desconhecimento”,fortemente in- todavia não constitui fundamentalmente
fluenciados pelos escritos de Foucault exclusiva e inteiramente, um movimento
sobre o "fora" constitutivo de pensa- euma prática de conhecimento. Trata-se
mento como um ponto de partida. de uma prática complexaque dá lugar a
Para começar, uma trajetória di- formas de reflexividadecompletamente di-
ferentes (Foucault 2005, 462 ).
ferente necessitaria ir além de argu-
mentar que o sujeito é simplesmente
o efeito de um discurso (seja como Uma das grandes tragédias da
for entendido) e que as formas de morte precoce de Foucault é que nun-
racionalidade estabelecidas por esses ca vamos descobrir o que ele achava
discursos sempre têm um preço. Isto que poderiam ser muitas dessas dife-
é, até agora, uma observação tão banal rentes formas de reflexividade.
que tanto esconde quanto revela. Parece-me que as questões aqui le-
vantadas precisam ser levadas de uma
(...)devemos reconhecer que a ética forma diferente se quisermos con-
nos obriga a nos arriscar em momentos seguir sair do ciclo de um certo tipo
de desconhecimento, quando o que nos de filosofia cujo nível de generalidade
forma diverge do que está diante de nós, faz com que seja de uso limitado aose
quando a nossa vontade de nos tornar discutir questões como identidade
desfeitos em relação aos outros constitui e si [self ], deixando sozinho outros
a nossa chance de nos tornar humanos. marcadores de associação. Para isso,
Ser desfeito pelo outro é uma necessida-
se requer precisamente a noção Fou-
de primária, uma angústia, para ser exato,
mas também uma oportunidade – a ser caultiana do sujeito constituído como
abordada, reivindicada, ligada ao que não uma forma não apenas de sabedoria, 7 A sinalização da obra de Tar-
é comigo, mas também para ser movida, a mas também de desconhecimento. de também aponta para a revisão
ser solicitada para agir, direcionar-me para Mas entender mais sobre esse des- profunda do que constitui “o social”
outros lugares, e assim a desocupar o auto- conhecimento requer precisamente que agora está sendo trabalhado
-suficiente“eu” como uma espécie de pos- através de inúmeros autores. Os es-
uma consideração da fenomenologia critos de Foucault podem ser inter-
se.Se falamos e tentamos prestar contas a (despojada de sua reivindicação de pretados como um sintoma precoce
partir deste lugar, não seremos irrespon- um horizonte humano geral), do afe- dessa ambição.
sáveis, ou, se formos, certamente seremos
to, do espaço e das coisas que forjam
perdoados (Butler 2005, 136).
um sentido de responsabilidade que é,
Então, uma trajetória diferente ne- também, responsávelviii.
cessitaria ir além da noção das práticas Por sua vez, esse reconhecimento
de reflexividade sobre o pensamento pode tornar possível forjar uma políti- Revista do Programa de Pós-
ca que vai mais longe do que a de Fou- Graduação em Geografia e do
como tendo apenas as três principais Departamento de Geografia da
formas que tem no corpus Foucaultia- cault, uma política com mais nuances UFES
no (memória, meditação e métodos). de esperança que não permite que o Janeiro-Junho, 2016 35
futuro seja selado pela regra do pior, ISSN 2175 -3709
uma política que é ativa e que ainda é HistoricalGeography, 30, 264–8.
digna do epíteto “revolucionária”, até Deleuze, G. (1998) Foucault. Min-
porque não precisa mais se consolar neapolis: University of Minnesota
Revista do Programa de Pós- com, por exemplo, a crença banal que Press.
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
o pensamento ocidental está em uma Dosse, F. (1997) History of Struc-
UFES crise terminal (como Foucault disse a turalism.(Two volumes.) Minneapolis:
Janeiro-Junho, 2016 um sacerdote zen-budista em 1978) Universityof Minnesota Press.
ISSN 2175 -3709 ou a consolação banal que o Ocidente Foucault, M. (1970) The Order of
capitalista é necessariamente “a mais Things. An Archaeology of the Human
dura, mais selvagem e mais desones- Subject.London: Tavistock.
ta sociedade opressora que se poderia Foucault, M. (2001) Power.The
imaginar”(cf. Afarye Anderson 2005). Essential Works.Volume 3. London:
Em vez disso, poderia se pegar os insi- Allen Lane.
ghts de Foucault de que o si nunca foi Foucault, M. (2005) The Herme-
apenas sobre o auto-conhecimento, neutics of the Subject. Lectures at the
mas sempre foi sobre o cuidado e am- Collège deFrance, 1981–1982. New
pliaria isso para que se torne um meio York: Palgrave Macmillan.
de construir associações “social-cum- Netz, R. (2004) Barbed Wire. An
-spatial” que realmente são diferentes, Ecology of Modernity. Middletown,
difundindo assim mais possibilidades CT: WesleyanUniversity Press.
para refletir sobre nós mesmos (Tar- Philo, C. (2004) A Geographi-
de 2000, 2004)7. Essas possibilidades cal History of Provision for the Insane
incluiriam as possibilidades éticas from MedievalTimes to the 1860s in
que Foucault prezava, todo um con- England and Wales.Lampeter: Edwin
junto de diferentes responsabilidades Mellen Press.
para com o mundo que “reconhece Tarde, G. (1897/2000) Social
que a ética nos obriga a nos arriscar Laws.An Outline of Sociology. Kitche-
precisamente nos momentos de des- ner: BatocheBooks.
conhecimento, quando o que nos Tarde, G. (1896/2005) Under-
forma diverge do que está diante de ground (Fragments of Future Histories).
nós, quando a nossa vontade de nos Brussels: LesMaîtres de FormesCon-
tornar desfeitos em relação aos outros temporains.
constitui a nossa chance de nos tornar Thrift, N.J. (2006) ‘Space.’Theory
humanos”(Butler 2005, 136). Culture and Society, 23, 139–46.

Referências
Foucault entre os Geógrafos
Afary, J. and K.B. Anderson (2005)
Foucault and the Iranian Revolution. Thomas Flynn
Gender and the Seductions of Islam.
Chicago: University of Chicago Press. O historiador Paul Veyne des-
Butler, J. (2005) Giving an Account creveu Foucault como um pensador
of Oneself. New York: Fordham Uni- “caleidoscópico”. Ele pegou o círculo
versityPress. de nossas opiniões recebidas e virou o
Canguilhem, G. (1991) The Nor- cilindro ainda que levemente, causan-
mal and the Pathological. (With an in- do configurações inteiramente novas,
troduction byMichel Foucault.) New de modo que a pessoa nunca poderia
York: Zone Books. recapturar o conjunto anterior na sua
Carman, T. and M.B.N. Hansen, totalidade. A ingenuidade foi perdida.
Eds (2005) The Cambridge Companion Essa metáfora visual é duplamente
to Merleau-Ponty. Cambridge: Cam- adequada porque Foucault era um
bridge University Press. pensador espacial. De fato, eu diria
Colebrook, C. (2005) ‘The Space of que sua preferencia por metáforas e
Man: On the Specificity of Affect in De- argumentos espaciais, mais do que
leuze andGuattari.’ In I. Buchanan and uma peculiaridade pessoal, era a sua
G. Lambert (Eds) Deleuze and Spa- maneira de combater o pensamento
ce. Edinburgh:Edinburgh University dialético que impregnouo pensamen-
Press, 189–206. to francês desde os anos 1930 (ver
Conley, T. (2004) ‘The Historical Baugh, 2003; Flynn, 2005). Entre
36 Atlas: Archive or Diagram.’ Journal of outros efeitos, solapou o efeito “to-

Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia


Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli
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talizante” da Critique ofDialeticalRea- do raciocínio foucaultiano.


sonix de Sartre e de outros Marxistas Os exemplos mais conhecidos dos
ortodoxos ao insistir na multiplici- raciocínios“espacializados” de Fou-
dade de racionalidades, que Foucault cault aparecem em sua obra-prima,
chamou de “poliedro da inteligibili- The OrderofThings, e na sua genea-
dade”, com a qual poderia se abordar logia do sistema penal Vigiar e Pu-
qualquer evento histórico. Mas o seu nir. No primeiro, ele analisa as várias
pensamento espacial também rebateu perspectivas, dentro e fora, da pintura
a ênfase na “visão” que atraiu fenome- “Las Meninas”, de Velasquez, a fim de
nologistasHusserlianos, a principal al- demonstrar a impossibilidade de re-
ternativa ao pensamento dialético em presentar a representação, que exem-
seus dias, sobre a qual Foucault insis- plificou uma mudança epistêmica do
tiu que sua geração de pensadores se “Clássico” (circa 1650-1800) para era
libertasse. “Moderna” (circa 1800+). Como um
Paul Veyne sugere que a história professor em uma galeria, Foucault
tem mais em comum com a “geografia nos leva a descobrir o espectador que
comparada” do que com a literatura falta nesta coleção de espectadores na
(1984, 284-6) com o que Foucault re- pintura, ou seja, o sujeito que está fora
volucionou a história em nossos dias. da imagem que assumiu a perspectiva
Apesar de espaço e visão parecerem do sujeito implícito da pintura, repre-
andar juntos e, assim, aliar Foucault sentada em um espelho na parte de
com os fenomenólogos, para quem a trás da cena. O “argumento” está naor-
compreensão intuitiva de uma essên- ganização da cena e em sua ordem de
cia ou contorno inteligível é o mode- perspectivas, rastreáveis por ângulos
lo de conhecimento, mas o método lineares de visão. O sujeito em falta
“arqueológico” de Foucault é compa- (o “homem” do humanismo moder-
rativo e sua visão é diacrítica (Flynn no) está presente e também ausente
2005, 93–5). "Arqueologia", explica da representação; ele é tão necessário
ele, "está no plural." Ela não reside em quanto ele é invisível. Ele vai surgir
uma essência a ser articulada em uma no centro do palco, com o advento
definição. De fato, é mais “nominalis- das “ciências humanas” na era moder-
ta” em seu afastamento inteiramente na. O segundo exemplo do raciocínio
de “essências”. Pegando uma sugestão espacializado de Foucault aparece
de linguística estrutural, Foucault, em em sua análise do “panóptico” de Je-
seus primeiros trabalhos pelo menos, remy Bentham como o modelo para
procura a inteligibilidade em contras- os lugares onde se exerce a vigilância,
tes: oposições binárias entre razão e tais como prisões, casernas militares,
desrazão, normal e anormal, conhe- fábricas, hospitais e escolas. Neste
cimento genuíno e pseudo-conheci- caso, o arranjo do edifício destina-se
mento. É claro que a questão é mais a maximizar a visibilidade dos sujei-
complexa do que isso, mas ele ressalta tos, minimizando a visibilidade dos
sua preocupação com a alteridade e vigias para que os “presos” se tornem
oposição. Poder, porexemplo, presume seus próprios guardiões, devido ao seu
e provocaresistência. receio constante de estar sendo vigia-
Além disso, citando Platão e do. Desta vez, o “argumento”está na
William James, não há “separação nas arquitetura. E uma vez mais Foucault
articulações”. Esses limites são con- estende isso a uma tese maior, a so-
vencionais; eles têm uma história; eles ciedade “disciplinar” da era moderna.
podem ser alterados. Este é o aspecto Daí em diante, não se pode ignorar a
“crítico” de “arqueologia” Foucaultiana. onipresença de dispositivos de vigi-
Para comentar a analogia de Veyne, lância, a vulnerabilidade dos nossos
Foucault em Tanner Lecturesxi admi- vários sistemas de comunicação para
tiu: “A experiência me ensinou que a a avaliação externa e interpretação, e a
história de várias formas de racionali- insinuação das autoridades nas partes
dade éàs vezes mais efetiva em abalar mais íntimas de nossa vida pessoal. O
nossas certezas e dogmatismos do que caleidoscópio virou novamente e não
uma criticismo abstrato” (1997, Vol. 3, podemos ignorar as novas configura- Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
323). Esta conjunção, se não síntese, ções que têm surgido.
Departamento de Geografia da
do espacial e temporal, do aqui e ali UFES
com o antes e depois, é característica Janeiro-Junho, 2016 37
ISSN 2175 -3709
Foucault entre os geógrafos uma questão maior sobre quem tem o
“direito” de proferir a declaração “de-
Até então este texto foi uma forma finitiva” em uma controvérsia; quem
Revista do Programa de Pós- tem o direito de falar a “verdade”. Isso
Graduação em Geografia e do
de contextualizar a minha resposta a
Departamento de Geografia da perguntas de Foucault abordadas em é conhecimento estratégico; o conhe-
UFES 1976 pelos geógrafos (filosóficos) te- cimento como poder.
Janeiro-Junho, 2016 óricos em uma edição da revista Hé- Talvez um melhor exemplo dessa
ISSN 2175 -3709
rodote. Deixe-me confessar desde o relação entre conhecimento e poder
início que eu sou um filósofo, não um é a ascensão da tecnologia da infor-
geógrafo. Eu tenho me intrigado por mação e do pensamento sóbrio, sem
Veyne comparar a história à geografia dúvida, aqueles que controlam as in-
comparativa, especialmente quando formações (a sua recuperação, arma-
conjugada com sua visão de que Fou- zenamento e comunicação) são os
cault revolucionou a historiografia em que exercem o poder mais decisivo
nossos dias. O que faz das quatro per- na sociedade contemporânea, em vez
guntas de Foucault particularmente daqueles que controlam a sua riqueza.
interessante para mim é sua admissão Estas redes ou “teias” são relações es-
de que estas são perguntas que ele faz paciais, diminuindo a distância e au-
a si mesmo, e não são perguntas para mentando as possibilidades de comu-
as quais ele já tem respostas. Da mes- nicação, enquanto criam uma relação
ma maneira, minhas respostas não são estratégica de dependência-controle
respostas definitivas, mas sim refle- do público e técnico, respectivamente.
xões sobre as possibilidades inerentes Como Foucault admitiu, na entrevista
a estas perguntas a partir da perspecti- original concedida à Hérodotexii:
va do que sabemos dos interesses e do
trabalho de Foucault naquele momen- Metaforizar as transformações do dis-
to. Estou tentando supor o que Fou- curso através de um vocabulário temporal
cault poderia ter respondido às suas conduz necessariamente à utilização do
modelo da consciência individual com sua
próprias perguntas.
temporalidade própria. Tentar ao contrá-
rio decifrá-lo através de metáforas espa-
1. A noção de estratégia é essencial ciais e estratégicas permite perceber exa-
quando queremos analisar o saber e suas tamente os pontos pelos quais os discursos
relações com o poder.Será que ela implica, e transformamem, através de e a partir das
necessariamente, que através do saber em relações de poder(1980, 69–70; este volu-
questão se faz a guerra?
me, 177)xiii.
A estratégia não permite analisar as
relações de poder como técnica de domi-
nação? Parece que o velho ditado “conhe-
Ou devemos dizer que a dominação cimento é poder” ganha plausibilidade
não é senão uma forma continuada da se o conhecimento é concebido estra-
guerra? tegicamente, pode-se dizer “pragmá-
Qual é a importância que vocês dão à tico”, e o poder é entendido como a
noção de estratégia? capacidade de controlar. Mas, em se-
guida, a extensão do termo “estratégia”
Foucault já nos advertiu sobre a seria tão ampla quanto a de “conheci-
redução do saber ao poder e ele ain- mento” em si.
da provocou essa redução, exibindo Será que isso dá suporte a conclu-
sua sobreposição quase universal. E são otimista de que, com o advento
ele sugeriu que a história é concebida da globalização, a probabilidade de
não nos termos de saber e significado, uma guerra total é implausível porque
mas em termos de “estratégia e táti- muitos ao redor do mundo têm muita
ca”. De sua parte, ele tem mostrado coisa em jogo em uma comunidade de
mais interesse nos mecanismos sociais bens e serviços interligados? Foucault
para o uso do conhecimento (o que ele não ignora a força da auto-interesse
chama de “jogos de verdade”) do que esclarecido dentro da comunidade
na epistemologia do conhecimento ou internacional e ele parece mais sim-
da própria verdade. Assim, enquanto pático para com o cosmopolitismo
uma enfermeira experiente pode ter neo-estóico do que com o naciona-
uma melhor leitura dos sintomas, é lismo. Mas não devemos esquecer o
o médico sozinho quem tem o poder seu (mais tarde castigado) entusiasmo
38 legal para fazer o diagnóstico e pres- pelo “espírito” e “espiritualidade” da
crever a medicação. Foucault levanta revolução iraniana nos dias do aiatolá
Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia
Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli
Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia
Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli

Khomeini, se duvidamosde seu respei- socialmente construídos, dificilmente


to pelo“regionalismo” ou da sua des- alguém pode ser acusado de “jogar o
confiança de homogeneidade. jogo” com o melhor de suas habilida-
E o seu aviso bem conhecido que, des.
embora nem tudo seja ruim, “tudo é Mas Foucault, sem dúvida, com
perigoso”, aconselha uma prudência uma certa ironia e em resposta dire-
estudada sobre quaisquer esquemas ta a uma observação feita por Sylviele
utópicos da paz mundial ou de demo- Bon de Beauvoir em LesTempsModer-
cracia universal. Foucault parece com- nes, se referiu a si mesmo como um
partilhar a noção Sisifianaxiv de Camus “positivista feliz”. Ele nunca foi crítico
de que a única esperança é saber que do caráter científico das chamadas ci-
não há nenhuma esperança final. Em ências “duras”, mas, como seu mentor
outras palavras, a esperança deve ser Georges Canguilhem, ele estava mais
limitada; o utopismo é contraprodu- interessado nas ciências marginaliza-
cente. das e naquelas, como a frenologiaxv ou
Foucault já distinguiu poder de a alquimia, que perderam seu status
força no sentido de que o poder supõe científico. Para Foucault, a considera-
a liberdade e acarreta resistência ao ção interessante é o que permitiu ou
passo que a força não requer nenhum excluiu entrada de algumas disciplinas
dos dois. É possível equiparar “poder” para o reino da ciência.
com “dominação”? Sim, se alguém in- Se alguém contrasta o moderno
terpreta “dominação” como “eficácia”, como raciocínio temporal (dialético)
caso contrário, não. A interpretação e o pós-moderno como raciocínio
mais plausível seria equiparar“poder” espacial (diacrítico), então a geogra-
com “controle”, incluindo o autocon- fia comparativa seria uma disciplina
troledo “super-homem” de Nietzsche. adequadamente“pós-moderna”, como
Dessa forma é o seu caráter positivo seria a“arqueologia” foucaultiana.
que Foucault defende, mas que ele Mas se mereceu ou mesmo procurou
omite frequentementee é mais facil- o título honorífico de “ciência” é uma
mente transmitido. questão de preferência. Por uma ques-
tão de estratégia, os bens de prestígio
2. Se os compreendo bem, vocês pro- social, de apoio financeiro e o resto
curam constituir um saber sobre o espa- oferecem incentivos para a geogra-
ço. É importante para vocês constituí-lo fia ganhar este título honorífico. E a
como ciência? natureza “geopolítica” da disciplina,
Ou vocês aceitariam dizer que o corte como Foucault comenta, coloca a
que marca o limiar da ciência não é senão
“ciência” geográfica diretamente no
uma maneira de desqualificar certos sabe-
res ou de torná-los imunes à avaliação? campo das estratégias e táticas como
A partilha entre ciência e saber não a própria palavra “manipulação” atesta.
científico é um efeito de poder ligado à
institucionalização do conhecimento nas 3. Vocês acham que dá para responder
Universidades, centros de pesquisa, etc.? à pergunta: quem tem o poder?

Esta pergunta está no mesmo Esta pergunta parece que é desti-


diapasão da pergunta anterior. Certa- nada à tendência marxista da revista
mente “científico” é um título honorí- Hérodote, embora também se estenda
fico emnossa sociedade e é concedido aos chamados “estruturalistas”, bem
por instituições de vários tipos, o mais como aos seguidores do estruturalista
proeminentesendo universidades e marxista Louis Athusser. Como pro-
sociedades profissionais, bem como fessor da prestigiosa ÉcoleNormale-
as organizações financiadoras e de Supérieure, Althusser poderia muito
atribuição deprêmios como a Aca- bem ter sido professor de alguns dos
demia Real ou o Comitê de seleção editores da publicação como foido
do Prêmio Nobel. Embora Foucault próprio Foucault. Foucault era fa-
tenha um sentido apurado da nature- moso por seu pronunciamento quasi-
za historicamente construída de tais -estruturalista de que o “homem” do
instituições, isto não o impediu de fa- humanismo moderno tem uma histó- Revista do Programa de Pós-
Graduação em Geografia e do
zer campanha para sua eleição para o ria e pode desaparecer tão rapidamen-
Departamento de Geografia da
Collège de France. No entanto, em uma te como apareceu. Por causa disso, é UFES
sociedade onde todos os valores são claro, ele ganhou a inimizade de hu- Janeiro-Junho, 2016 39
manistas de todos os tipos. E nós aca- ISSN 2175 -3709
bamos de observar sua preocupação como o exército, a polícia, o governo
quasi estruturalista para determinar (1996, 260). Sua pergunta começa
os papéis sociais de certos indivíduos com as instituições, como hospitais,
Revista do Programa de Pós- com poderes para falar com autorida- órgãos de certificação, a própria “pro-
Graduação em Geografia e do
Departamento de Geografia da
de. fissão” médica e numerosas institui-
UFES Mas, em sua polêmica popular, ções de serviços relacionados, como
Janeiro-Junho, 2016 Foucault parece mais “existencialista” a indústria farmacêutica, farmácias e
ISSN 2175 -3709 em sua busca por aqueles indivíduos várias agências governamentais para a
cujos “pequenos atos de covardia” os distribuição e vigilância dos cuidados
deixaram mudos sobre uma injustiça de saúde e afins. Em outras palavras, a
particular (especificamente, a demis- indústria de cuidados de saúde cujas
são de um psiquiatra da prisão que se relações podem ser “mapeadas” em
queixou de maus-tratos de prisionei- termos de relações de poder entre o
ros pelos seus guardas) e surdos para a governo e seus cidadãos e não-cida-
“voz que diz ‘Eu’” em acusação (1994, dãos.
Vol. 2, 238). Exemplos de situações de poder
Em outras palavras, a maldade não seria a introdução de condições para
está inteiramente no sistema. Consi- a implementação de serviços médicos
dere o seguinte, o que poderia ter sido para os indigentes ou a troca concre-
escrito por Sartre: ta entre um beneficiário do Estado
de Bem Estar Social e seu assistente
Situações sempre podem dar origem a social.
estratégias. Eu não acredito que nós esta- De outro ângulo e ao longo de ou-
mos presos a uma história; pelo contrário, tro eixo de relações de poder, pensa-
todo o meu trabalho consiste em mostrar
-se sobre as várias tecnologias para a
que a história é atravessada por relações
estratégicas que são necessariamente ins-
comunicação de informações ao redor
táveis e sujeitas a alterações. Desde que, do globo, onde os centros médicos
claro, os agentes desses processos tenham seriam simultaneamente centros de
a coragem política de mudar as coisas. tecnologia médica e de tecnologia da
(Foucault 1997,Vol. 3, 397) informação. E isso cria a possibilidade
de uma multiplicação de tais “centros
de serviços” médicos, que, por sua vez,
Aqui e em outras ocasiões, quan- levanta a questão do papel face a face
do Foucault fala de “coragem política” e da compaixão na distribuição de tais
nos deparamos com as questões es- “serviços” para a população em geral.
pinhosas da “responsabilidade”, ética O problema da ciência com um rosto
e moralidade em geral, que Foucault humano.
estava começando a abordar em seus Além disso, a questão da descen-
livros e palestras no fim de sua vida. tralização dos serviços versus centrali-
zação das fontes sugere a possibilidade
4. Vocês acham que é possível fazer da dispersão dos indivíduos “autori-
uma geografia – ou geografias, de acordo zados”, em virtude de sua formação,
com as Escalas – da medicina (não doen- para prestação de serviços “limítrofes”
ças, mas de consultórios médicos com sua entre o tratamento humanístico e in-
área de atuação e modalidade de ação)? formação e técnicas “científicas”.
Todas essas considerações não
Pode-se ver isso como uma con- apontam para uma causa subjacente,
sequência natural do interesse de como o determinismo econômico ou
Foucault no governo dos corpos e das tecnológico, mas a um “poliedro de
populações (biopoder) por volta dessa inteligibilidade”. Foucault, que se re-
época em sua carreira. Mais uma vez, cusou o papel de profeta, estava dis-
nós testemunhamos o giro do calei- posto a abrir a história presente para
doscópio para considerar alternativas as possibilidades que ela abrigava
à nossa maneira atual de conceber a dentro si, apenas se alguém iria virar
prática da medicina e da saúde públi- o caleidoscópio mais uma vez e ter a
ca. coragem para olhar dentro.
Primeiro nós devemos empregar a
distinção de Foucault entre situações
de poder, uma certa distribuição ou
40 economia de poder em um determi-
nado momento, e instituições de poder,

Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia


Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli
Espaço, saber e poder: Foucault e a geografia
Páginas de 25-41 Ana Maria Leite Barros
Cláudio Luiz Zanotelli

Referências la de filosofia fundada por Zenão de


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Em português, Crítica da Razão
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Volumes.New York: New Press. de la Raison dialectique. Paris: Galli-
Flynn, Thomas (2005) Sartre, Fou- mard, 1960.
cault and Historical Reason Volume 2: A
Poststructuralist Mapping of History. x
No original, o autor utiliza duas
Chicago: University of Chicago Press. palavras que podem ser traduzidas
Veyne, Paul (1984) Writing His- como alteridade: otherness e alterity
tory. Translated by Mina Moore-Rin- xi
Se refere a uma série de con-
volucri.Middletown, CT: Wesleyan ferências realizadas em várias univer-
University Press. sidades como Cambridge, Harvard,
Princeton, UC Berkeley e outras.
Nota dos Tradutores: Foucault participou em Stanford, em
1979, com o tema Omnes et Singula-
i
Na edição em português: Fou- tim: Towards a Criticism of ‘Political-
cault, Michel: A Microfísica do Poder; Reason’ [omnes et singulatim:por uma
pág. 164-165. Organização e Tradu- crítica da ‘razão política’]
ção de Roberto Machado. Rio de Ja-
neiro: Edições Graal, 1979.
xii
Hérodote nº 1, 1976

ii
Edição em português: Foucault,
xiii
Publicado no Brasil em A Mi-
Michel: História da Loucura na Idade crofísica do Poder, capítulo “Sobre a
Clássica. São Paulo: Editora Perspec- Geografia”
tiva, 1978.
xiv
Referência ao “O mito de Sí-
iii
Edição em português: Foucault, sifo”, ensaio escrito por Albert CA-
Michel: As palavras e as coisas: uma MUS em 1941
arqueologia das Ciências Humanas.
xv
Estudo do caráter das pessoas
São Paulo: Martins Fontes, 1999. pela forma do crânio

Edição em português: Foucault,


iv

Michel: A arqueologia do sabei. Tra-


dução de Luiz Felipe Baeta Neves.
Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2008.

v
Edição em português: Cangui-
lhem, Georges: O Normal e o Patoló- Revista do Programa de Pós-
gico. Rio de Janeiro: Forense Univer- Graduação em Geografia e do
sitária, 2009 Departamento de Geografia da
UFES
Janeiro-Junho, 2016 41
vi
Referência ao estoicismo, esco- ISSN 2175 -3709

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