Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O Advento Da Pós-Verdade
O Advento Da Pós-Verdade
As notícias disseram que a palavra terá sido criada há pouco mais de duas décadas, não
referindo que é mais antigo o que pretende designar, nem que o seu uso se generalizou graças
a um longo artigo da jornalista Katharine Viner, publicado no diário britânico The Guardian, no
passado dia 12 de Julho.
“Como a tecnologia afectou a verdade” enumera diversas ocorrências que sinalizam o advento
da “pós-verdade”. A primeira diz respeito a uma notícia sobre uma obscenidade protagonizada
pelo ex-primeiro-ministro David Cameron. Foi publicada no Daily Mail, no ano passado, e teve
ampla repercussão nos media tradicionais. Como é costume, foi amplificada através de
milhões de publicações nas redes sociais. O que caracterizou a notícia foi não ter sido
acompanhada por qualquer elemento susceptível de sustentar a sua veracidade.
As pessoas desconfiam de grande parte daquilo que lhes é apresentado como um facto,
sobretudo se os factos forem incómodos ou não estiverem em sintonia com aquilo em que
elas acreditam, afirma Katharine Viner. Esta atitude pode revelar-se avisada, umas vezes, e
errónea, em outras. Avisada porque, na era digital, é cada vez mais fácil publicar informações
falsas, rapidamente partilhadas e consideradas verdadeiras, como frequentemente ocorre em
situações de emergência, quando as notícias são transmitidas em tempo real. Errónea porque
verdade e mentira acabam por se equivaler. Os boatos e as mentiras valem o mesmo que os
factos devidamente comprovados. De resto, até podem ter mais valor, por serem mais
extravagantes do que a realidade e mais excitantes para compartilhar.
Katharine Viner coloca questões que, não sendo novas, são essenciais para o futuro da nossa
vida em comum. Defende ela que o jornalismo sério, de interesse público, é exigente e
actualmente é mais necessário do que nunca. “Ajuda a manter honestos os poderosos; ajuda
as pessoas a compreenderem o mundo e o seu lugar nele”. Sem uma informação em que se
possa confiar, o espaço público é bem menos democrático, justo e livre.