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A interdição de direitos sempre foi uma difícil decisão para as pessoas com deficiência

intelectual e deficiência mental e seus familiares.


A Convenção sobre Direitos de Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas
(ONU) trata o instituto como “apoio” ou “salvaguarda”, voltado para a proteção do direito à
vontade e autonomia da pessoa interditada.
O objetivo do presente manual é orientar principalmente às pessoas que não são da área
jurídica visando a dar-lhes a confiança necessária caso queiram ou precisem optar pela interdição.
Serve também para incentivar e sensibilizar os profissionais da área jurídica a utilizar a interdição
parcial como regra, evitando a interdição total de direitos.

1. O que é interdição?
A pessoas, quando completam 18 (dezoito) anos, podem praticar sozinhas todos os atos da vida
civil, tais como comprar e vender imóveis, casar, trabalhar, etc. Se, por algum motivo, alguém não
tiver o discernimento necessário para esses atos, precisará ser interditado. Interdição é o nome que
se dá a um tipo de processo judicial no qual um juiz analisa o nível de compreensão de uma pessoa
adulta e decide se ela pode ou não praticar sozinha atos da vida civil, ou se precisará de ajuda para
tanto.

2. Quem está sujeito à interdição?


O Código Civil brasileiro, no art. 1.767, traz uma lista das pessoas, dentre elas estão as pessoas com
deficiência intelectual e com deficiência mental que não têm completo discernimento e não
conseguem exprimir a sua vontade.

3. Como é o processo de interdição?


O pedido de interdição é feito normalmente pelos pais, o cônjuge, parentes próximos, o Ministério
Público, ou ainda qualquer pessoa interessada, por meio de advogado ou defensor público.

Após a entrada da ação, o juiz chamará o interditando para que venha à sua presença em uma
audiência e fale sobre sua vida, negócios, bens e outros aspectos, de modo que o juiz possa verificar
o seu desenvolvimento intelectual ou estado mental.

O interditando, terminada a audiência, terá alguns dias para impugnar o pedido de interdição. Caso
não tenha advogado ou defensor para fazer isso, poderá pedir ajuda ao Ministério Público,
representado por um promotor ou promotora que participará do processo de interdição em todas as
suas fases, inclusive das audiências.

Se necessário, o juiz nomeará um perito, ou uma equipe multiprofissional, para proceder ao exame
do interditando. Uma vez apresentado o laudo, o juiz marcará nova audiência para ouvir
testemunhas e proferir o seu julgamento.

É neste julgamento que será decretada a interdição de direitos e será nomeado um responsável pela
pessoa interditada, que é chamado de CURADOR.
4. Quais são as consequências desse decreto ou sentença de interdição?
Essa sentença era no sentido de impedir que a pessoas com deficiência intelectual e deficiência
mental praticassem qualquer tipo de ato da vida civil, como votar ou até mesmo abrir uma conta em
banco. Tudo o que pessoa com deficiência precisasse fazer, teria que ser por meio da autorização e
assinatura do seu curador.

Mas, a partir de 2002, a lei deixou expresso que a interdição pode ser apenas parcial. É o que diz o
art. 1.772, do Código Civil, ao afirmar que o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento
mental do interdito, os limites da curatela (da responsabilidade do curador sobre o interditado), que
poderão resumir-se às restrições constantes do art. 1.782 ( fazer empréstimos em bancos; assinar
recibos de altos valores; vender, hipotecar, casar com comunhão total de bens, por exemplo).

Esta lei está de acordo com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência que no artigo
12, reconhece às pessoas com deficiência o direito à capacidade legal e diz que os “apoios” ou
“salvaguardas” (que é o caso da interdição) devem ser proporcionais e apropriadas às circunstâncias
da pessoa.

5. Quais seriam então as consequências de uma interdição parcial?


A interdição parcial é prevista na legislação de maneira bastante ampla e vai depender daquilo que o
juiz vier a fixar na sentença. Por isso, é importante que antes da entrada da ação, a família reúna-se
e converse com um advogado ou defensor, para definir quais são as peculiaridades que levam à
necessidade de um apoio ou salvaguarda. Definidas essas questões, a petição inicial já deve indicar
os pontos sobre os quais será necessário que o juiz se pronuncie.

Um primeiro ponto é o que reconhecerá que a pessoa a ser interditada é relativamente incapaz para
os atos da vida civil. Deste modo, ela poderá praticar atos (compra, vender, assinar recibos), mas
precisará da assistência, ou seja, do acompanhamento de um responsável, que é o curador, o qual
assinará os documentos em conjunto com o interditado. A sentença pode definir que essa assistência
dar-se-á apenas em negócios acima de determinado valor, por exemplo.

Uma vez reconhecida essa incapacidade parcial, a sentença pode determinar, de maneira mais
genérica, que a pessoa, mesmo possuindo mais de 18 (dezoito) anos), fica equiparada em direitos e
obrigações à pessoa relativamente incapaz que possui entre 16 (dezesseis) e 18 (dezoito) anos, e,
deste modo, permanecerá como dependentes dos pais para fins de pensão por morte, plano de saúde,
entre outros direitos.

6. O curador pode ser substituído?


Sim. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, no artigo 12, exige que a
interdição ocorra sem conflito de interesses. Desse modo, havendo discordância entre a vontade do
interditado e seu curador, o interditado ou outra pessoa de sua confiança, deve procurar o Ministério
Público para rever os termos da interdição.

Há várias disposições no Código Civil sobre os deveres do curador que precisam sempre ser
consultadas em cada caso concreto.

7. A interdição pode ser cessada?


Sim, ela pode ser revista e cessada a qualquer tempo.

8. A pessoa interditada pode ter carteira de trabalho e trabalhar?


Sim, mesmo se a interdição for total, porque o trabalho é um direito fundamental e todos têm direito
a exercê-lo. No caso da interdição parcial, a própria pessoa interditada poderá assinar recibos e
contratos, cabendo ao curador tão somente dar quitação das verbas da rescisão do contrato. Se a
interdição for total caberá ao curador assinar todos os contratos, recibos e outros documentos.

9. É possível a pessoa interditada ter carteira de habilitação para dirigir veículo


automotor?
Sim, desde que a pessoa se submeta e seja aprovada nos exames específicos e demonstre que
preenche os requisitos previstos no Código de Trânsito que são, basicamente, saber ler e escrever,
ser penalmente imputável (ou seja, se cometer um crime, ter consciência de que é ilegal e que pode
ser punido), bem como possuir atestado médico de aptidão física e intelectual para dirigir.

10. A pessoa interditada tem direito ao voto?


A Constituição e o Código Eleitoral não fazem qualquer restrição, mas é importante que o juiz
declare na sentença que o direito/dever de voto fica mantido, ou que, no caso de uma sentença que
equiparou o interditado à pessoa que possui entre 16 e 18 anos, o direito ao voto também será
facultativo.

11. A pessoa interditada apenas parcialmente tem direito a receber pensão por morte?
Sim, se tiver sido inscrita como dependente pelo segurado ainda em vida.

12. A pessoa interditada que trabalha e recebe salário mantém o direito à pensão por
morte?
Sim. Esse direito está expresso com a edição da lei n° 12.470/2011.

Referência:
GUGEL, Maria Aparecida. Cartilha virtual http://phylos.net/direito/tutela-curatela/

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