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06/06/2019 Expresso | Vinte e quatro horas que mudaram a História

INTERNACIONAL

Vinte e quatro horas que mudaram a História


05.06.2019 às 20h00

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GETTY IMAGES GALERIE BILDERWELT

Há 75 anos, a 6 de junho de 1944, as tropas aliadas desembarcavam na


Normandia. Era a maior operação aeronaval de todos os tempos e o prelúdio
da derrota nazi. Começava a construção da Europa tal e qual a conhecemos.

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A mesma que os xenófobos e ultranacionalistas abominam e tentaram pôr


em causa nas recentes eleições para o Parlamento Europeu

RUI CARDOSO

E
m 1944, pela segunda vez no século XX, os norte-americanos atravessaram o
Atlântico e vieram salvar a Europa. Voltariam a fazê-lo entre 1948 e 1951,
carregados, já não de armas e munições, mas de dólares, no quadro do Plano
Marshall, que permitiu reconstruir as infraestruturas, indústrias e cidades
europeias, em função dos valores económicos e políticos dos EUA. Nasciam os
primórdios da União Europeia vista, também, como uma peça da estratégia de
contenção da esfera soviética durante a Guerra Fria.

Passados 75 anos quem se senta na Casa Branca não é Truman mas Trump, para quem
uma Europa unida e com peso mundial é não uma necessidade, mas uma grande
maçada. O ex-conselheiro presidencial Steve Bannon conspira abertamente para
apoiar e nanciar grupos ultraconservadores, xenófobos ou de extrema-direita, uns
no Governo como os de Salvini (Itália), Orbán (Hungria) ou Kaczynski (Polónia),
outros na oposição como em França, Reino Unido ou Espanha.

Como a História, entre muitas outras coisas, gosta de ser irónica, estes mesmos
grupos e formações são apoiados de forma um pouco mais discreta mas porventura
mais e caz pela Rússia de Putin, como saltou à vista com o episódio caricato do líder
do FPO e vice-primeiro-ministro austríaco. Heinz Christian Strache foi lmado a
prometer mundos e fundos, nomeadamente in uência política e controlo de jornais, a
uma sedutora gura feminina, que não desmerece das coronéis do KGB dos velhos
tempos da Guerra Fria e do kompromat.

A verdade é que sem o desembarque da Normandia e, já agora, sem o sacrifício dos


soldados e civis soviéticos e não fora, também, a coragem dos resistentes da Europa
ocupada, não seríamos o que somos hoje.

Façamos, pois, como o Corvo de Três Olhos de “A Guerra dos Tronos” e, ao menos
uma vez na vida, ponhamos a memória histórica no posto de comando e evoquemos o
Dia D de há 75 anos.

ATAQUE À MURALHA DO ATLÂNTICO


Se o estrategista chinês da antiguidade Sun Tzu pudesse ter visto o desembarque da
Normandia, ter-se-ia sentido reconfortado, pois o seu princípio de atacar com toda a
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força onde o inimigo seja mais fraco e não nos espere foi plenamente aplicado.

Mas a operação só pôde ser levada a cabo em 1944 porque só então se conseguira
garantir a supremacia naval no Atlântico, anulando a ameaça dos submarinos
alemães, proteger os campos petrolíferos do Médio Oriente e tomar conta do
Mediterrâneo, o que implicou a invasão da Sicília e da Itália continental. Além de se
garantirem condições para o bombardeamento aéreo estratégico da Alemanha,
enfraquecendo o esforço de guerra e procurando minar o moral da população.

Alguns destes objetivos eram contraditórios entre si, pois ganhar a batalha do
Atlântico implicava desviar para a luta antissubmarina alguns dos quadrimotores
pesados capazes de bombardear a Alemanha, de forma a garantir que, de Nova Iorque
a Londres, não houvesse um quilómetro quadrado de oceano sem cobertura da
aviação aliada

A partir de Inglaterra, o caminho mais direto para invadir a França por mar era
atravessar o Canal da Mancha, uns meros 40 quilómetros que poriam as forças
aliadas, uma vez em terra, apontadas à estratégica zona industrial do Ruhr, coração
da indústria alemã. Em contrapartida, era a zona mais forti cada da costa e à
retaguarda da qual mais unidades blindadas alemãs haveria para contra-atacar as
forças desembarcadas.

O planeamento estratégico aliado depressa concebeu uma alternativa: navegar o


quádruplo da distância para atacar na Normandia, designadamente na península de
Cotentin, entre Cherburgo e Caen, menos bem defendida e, uma vez estabelecida uma
cabeça de ponte, irradiar para Sul, ameaçando o leste da França e a Bélgica.

Chamar menos bem defendida à costa normanda não queria dizer que o não fosse. Há
mais de um ano que, sob a direção do marechal Rommel, famoso pela sua habilidade
na guerra do deserto no Norte de África, estava em curso a construção da Muralha do
Atlântico, desde a fronteira franco-espanhola até à Noruega. Isso incluía todo o tipo
de defesas costeiras que enquadravam os possíveis pontos de desembarque com fogo
cruzado de artilharia e armas automáticas. Para o interior da Normandia havia
campos propositadamente inundados e obstrução das possíveis zonas de aterragem
com obstáculos minados, os “espargos de Rommel”.

ENGANAR O ALTO-COMANDO ALEMÃO


Foram de nidas cinco zonas de ataque ao longo de 60 quilómetros de costa, desde
Varneville a oeste, a Villers-sur-Mer a leste. Duas praias para os americanos a oeste,
com os nomes de código Utah e Omaha, duas para os britânicos e franceses livres
(Gold e Sword) e, entre estas, uma para os canadianos (Juno).

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Mas para que a operação resultasse era preciso continuar a convencer o inimigo de
que o ataque se faria por onde este o esperava, ou seja, pela Mancha.

Para isso foi montada uma campanha de intoxicação dos serviços de informação e do
Estado-Maior alemães com diversas vertentes.

Uma, física, foi a instalação de falsas forças de desembarque no sudeste de Inglaterra


que incluíam réplicas em borracha de tanques. Para dar credibilidade ao cenário
nomeou-se para o comando deste exército-fantasma um dos mais temidos generais
aliados, Patton, especialista na manobra dos blindados com provas dadas no Norte de
África e Itália.

CONSOLIDAÇÃO Uma vez assegurada a posse das praias, os aliados começam a trazer para terra uma torrente de
veículos e soldados, saídos dos navios e lanchas de desembarque, protegidos por balões de barragem para evitar
eventuais ataques rasantes da aviação alemã
FOTO GETTY IMAGES

Do lado virtual, deram-se nomes diferentes às mesmas unidades militares e


emitiram-se centenas de mensagens de rádio não cifradas fazendo referência a
localizações e movimentações de forças, tanto imaginárias, como reais. A espionagem
aliada colaborou nesta encenação que passou à posteridade como Operação Fortitude
e na qual teve algum papel, Garbo, um agente duplo de origem catalã, que na verdade
se chamava Juan Pujol Garcia, vivia em Lisboa e fazia do Hotel Suíço Atlântico, ao
elevador da Glória, a base de uma imaginária rede de espiões pró-nazis, porta aberta
para intoxicar a espionagem alemã.

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A campanha de desinformação resultou tão bem que, quando os serviços de escuta


alemães ouviram na BBC o sinal de que a invasão estava iminente, ou seja, os
primeiros versos de um poema de Verlaine que dizia “les sanglots longs des violons
d’Autonme…” o Estado-Maior não acreditou, ainda que, através do interrogatório de
agentes aliados e membros da resistência se tivesse apurado ser aquela a sigla para o
ataque iminente.

DE COSTAS PARA O MAR


Fosse como fosse, os soldados aliados combateriam na pior posição possível, com o
mar nas costas, logo sem possibilidade de recuo e de manobra. Por isso era decisivo
ter superioridade de forças no momento do ataque e garantir que as reservas inimigas
não chegassem a tempo às praias.

Para o primeiro objetivo reunia-se uma armada de mais de cinco mil navios de todos
os tipos, de combate, transporte, luta antissubmarina, desembarque, etc. Para o
segundo, previa-se o lançamento de paraquedas ou planador de milhares de tropas
especiais na retaguarda inimiga.

Havia que garantir que nas primeiras horas a cabeça de ponte se expandisse
rapidamente para o interior, pusesse o inimigo na defensiva e não viesse a ser cercada
como sucedera no princípio do ano em Itália com o malogrado desembarque anglo-
americano em Anzio.

Ou seja, tudo se decidiria nas primeiras 24 horas, pelo que o Dia D, seria na verdade,
no dizer do próprio marechal Rommel, “o dia mais longo”, frase aproveitada para o
título da monumental reconstituição ccionada das operações no lme de 1962
realizado por Ken Annakin, Darryl F. Zanuck e outros, com base no livro homónimo
do jornalista irlandês Cornelius Ryan.

DIABRURAS DA METEOROLOGIA
Para garantir o abastecimento da força expedicionária montou-se um oleoduto
submarino a partir de Inglaterra e construiu-se um porto arti cial à base de blocos
utuantes de cimento, os Mulberries, que, uma vez rebocado e montado ao largo da
praia de Omaha, permitiria a descarga de cargueiros de grande dimensões.

Escolhidos o tipo e a diretriz do ataque faltava de nir a respetiva data. Tinha de


combinar muitos fatores diferentes. Maré a baixar de madrugada para as minas e
obstáculos submarinos serem visíveis para os sapadores que abririam caminho ao
desembarque. Lua cheia a erguer-se o mais tarde possível para facilitar as operações
aéreas noturnas. Mar calmo junto às praias e vento de sul para empurrar o fumo para
a costa, obscurecendo o campo de visão dos defensores. Luz do sol durante a primeira

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maré baixa para facilitar as operações aéreas contra as defesas costeiras e também
durante a da tarde para consolidar o desembarque.

Tudo conjugado, só poderia ser entre 5 e 7 de junho ou a partir de 18, sendo que entre
a decisão de avançar e a chegada às praias havia que contar com 72 horas de intervalo,
dada a necessidade de concentrar e pôr em marcha as forças navais. O agravamento
do estado do tempo atormentou o supremo comandante aliado, general Eisenhower,
até ao último momento mas escolheu-se 6 de junho como a data nal.

A meteorologia voltaria a fazer das suas mais tarde, com o maior temporal de que
havia memória a ocorrer entre 19 e 24 de julho, destruindo parte do porto arti cial de
Omaha e obrigando a abastecer por via área as forças aliadas. Isto quando os aliados
ainda não tinham conseguido conquistar ou repor em funcionamento nenhum porto
francês.

COMANDO UNIFICADO FEZ A DIFERENÇA


Do lado aliado, estava em marcha uma operação complexa, executada de forma tão
perfeita quanto o engenho humano possibilitava, dirigida por um comando uni cado
que incluía entidades de coordenação como uma junta de chefes de Estado-Maior
interarmas e internacionalidades.

Do lado alemão, uma sucessão de azares, o pior dos quais foi a ausência do principal
estrategista da defesa, o marechal Rommel, de viagem para a Alemanha para visitar a
mulher, dado o mau estado do tempo não fazer recear um ataque aliado.

Tudo isto agravado por uma dispersão de comandos entre forças terrestres e navais,
defesas costeiras e unidades móveis, com a agravante de algumas das melhores
unidades blindadas, decisivas para um contra-ataque, estarem na dependência direta
de Hitler que se continuava a julgar um génio militar.

Um episódio, ocorrido mais tarde, já com as forças aliadas a avançarem Normandia


fora, ilustra este ambiente. Os alemães dispunham de uma arma excecional, a peça de
88 mm, pensada para o tiro antiaéreo mas que depressa se descobrira ser ainda
melhor contra veículos blindados.

A 18 de julho, com os britânicos a pressionarem na frente de Cagny, o coronel Von


Luck, um dos poucos comandantes de divisões blindadas que tinham conseguido
atacar na direção das praias no Dia D, descobriu uma bateria de peças de 88 postas sob
o comando de um o cial da força aérea. Quando lhe pediu que as virasse para os
tanques inimigos foi-lhe respondido que só recebia ordens do comando do ar. Luck

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apontou-lhe a pistola e disse: “Pode ganhar uma condecoração ou um tiro meu na


cabeça. Qual vai ser?”

SALTOS NO ESCURO
Na madrugada de 6 de junho os primeiros a entrar em ação foram as forças
aerotransportadas. Os aviões com paraquedistas e os planadores rebocados por
bombardeiros tinham planos de voo insólitos, implicando sucessivas mudanças de
direção, tanto na aproximação ao objetivo, como no regresso a Inglaterra.

Imaginemos o que seria estar sentado no bojo de uma destas aeronaves, enquanto à
volta explodiam granadas antiaéreas. Os paraquedistas deveriam orientar-se por
sinais luminosos feitos a partir do solo por camaradas largados minutos antes, mas
isso nem sempre funcionou. Houve quem saltasse antes e depois do ponto pretendido.
Alguns aterraram em pântanos e rios e afogaram-se. De uma forma geral as unidades
dispersaram-se e os soldados perderam boa parte do material.

O general Eisenhower junto de paraquedistas americanos pouco antes do ataque noturno aerotransportado

Mas, mesmo dispersos, atingiram o primeiro dos objetivos: criar o caos na retaguarda
inimiga, confundindo os adversários quanto ao número, localização e missão dos
atacantes. Não faltavam bonecos do tamanho de crianças, também lançados de
paraquedas, os Ruperts, que ao embateram no solo detonavam cargas explosivas que
simulavam rajadas de armas automáticas.
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Como os alemães tinham mudado a sinalização rodoviária havia paraquedistas a errar


sem destino, situação reproduzida no lme “O Dia Mais Longo”, quando o tenente-
coronel Benjamin Vandervoort, interpretado por John Wayne, grita para os seus
soldados: “Rumo nor-noroeste, como diziam as ordens! Será que ninguém sabe olhar
para uma bússola”?

AGUENTAR ATÉ À RENDIÇÃO


A mais extraordinária e bem-sucedida das missões foi levada a cabo pelos
paraquedistas da VI Divisão britânica que, sob o comando do major John Howard,
tomaram a Ponte Pégaso em Bénouville. Os seis planadores realizaram uma
navegação perfeita no meio do escuro e aterraram quase silenciosamente junto ao
objetivo, tomado de surpresa numa questão de minutos e com poucas baixas.

A posse destas pontes eram fundamental para evitar contra-ataques alemães na


direção das praias e para permitir o avanço para o interior das forças desembarcadas.
A ordem era “aguentar até serem rendidos”, o que era mais fácil de dizer do que de
fazer, pois os paraquedistas pouco mais possuíam que armamento ligeiro.

Ao contrário dos americanos, que possuíam uma arma antitanque e caz, a famosa
bazuca, os britânicos tinham um sucedâneo menos potente e sobretudo menos
preciso, o PIAT que, na verdade, era um morteiro de mola. Ainda assim a noite foi
salva por um tiro miraculoso de uma destas armas contra o tanque que encabeçava
uma coluna blindada alemã e cujo sucesso convenceu os atacantes de que ali havia
artilharia extremamente precisa e concentrada…

OMAHA, A SANGRENTA
O assalto às praias desenrolou-se de forma muito diferenciada: sem problemas de
maior em Utah, com alguns combates em Gold, Juno e Sword e com um quase
desastre em Omaha. Nesta praia tudo se conjugou a desfavor das primeiras vagas de
desembarque: falta de e cácia da barragem de artilharia dos navios da frota e dos
ataques aéreos, afundamento dos tanques anfíbios e deslocação nos dias anteriores
para exercícios de uma unidade de elite alemã a 352ª divisão.

Como nos ataques de infantaria da I Guerra Mundial as sucessivas vagas de


desembarque caíam no campo de tiro das armas automáticas e da artilharia, daí
resultando uma carni cina. Aos poucos, os sapadores foram conseguindo abrir
caminhos pelo meio dos fossos e campos de minas, sob a cobertura de alguns
contratorpedeiros cujos comandantes, apercebendo-se da gravidade da situação, se
aproximaram da costa quase até encalharem e disparavam sobre as defesas costeiras.

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As cenas iniciais do lme de Steven Spielberg “O Resgate do Soldado Ryan” (1998)


reproduzem com o possível realismo o ambiente nesta praia mas ainda mais
pungentes são as descrições feitas pelo futuro cineasta Samuel Fueller, que
desembarcou aqui como soldado da I Divisão de Infantaria, a famosa Big Red One.
Fala do horror de uma praia cheia de sangue e de bocados de corpos, onde novas vagas
de desembarque chegavam com a regularidade de um relógio de quarto em quarto de
hora para serem massacradas com a mesma regularidade. Graças ao fotógrafo da
“Life” Robert Capa temos imagens dramáticas de soldados tentando abrigar-se atrás
dos obstáculos metálicos alemães com água pelo peito.

Outro grande nome do Hollywood, John Ford, também andou pela Normandia
comandando uma unidade especial de lmagens do exército, tirando partido da
experiência ganha nos anos anteriores na cobertura das grandes batalhas da Guerra
do Pací co como Midway.

DE GAULLE EM BAIEUX
Ao m do dia a primeira fase do desembarque da Normandia está cumprida, mesmo
em Omaha, aqui à custa de quatro mil baixas entre mortos, feridos e desaparecidos.
Na semana que se segue a cabeça de ponte torna-se contínua e penetra 30
quilómetros para o interior, fazendo a junção com os paraquedistas.

Baieux torna-se a primeira cidade francesa a ser libertada no próprio Dia D e a visita
logo a seguir do general De Gaulle dá-lhe legitimidade política para dirigir o novo
poder francês. Cherburgo e Caen que, segundo o plano aliado, deveriam ser libertadas
nos dias imediatos ao desembarque, só cairão respetivamente a 27 de junho e a 13 de
julho.

A aviação aliada bombardeia o centro das localidades para tentar cortar os


cruzamentos de estradas mas os alemães conhecem o terreno e circulam de noite e
pelos caminhos secundários. As baixas civis são assustadoras.

Com um terreno muito recortado e cortado por sebes e ribeiras, a Normandia favorece
a defesa e as forças alemãs fazem-na de forma hábil, tirando partido do terreno. O
que começara com uma audaz operação aeronaval transforma-se em ataques de
infantaria que fazem lembrar os da I Guerra Mundial nos campos com sebes
fortemente defendidas e em guerra de cerco em Caen e Cherburgo. As unidades SS
começam a tornar-se notadas pela crueldade com que tratam os prisioneiros e os
americanos e canadianos respondem na mesma moeda.

ARMADILHA MORTAL

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Os tanques alemães como o Tigre são muito melhores em blindagem e poder de fogo
mas os blindados aliados como os Shermans são rápidos, áveis e sobretudo
numerosos. Quando começam a ser equipados com peças de maior poder de
penetração e com reservatórios de água a proteger os depósitos de munições tornam-
se adversários temíveis.

Quando, a 25 de julho, já com o general Patton a comandar uma divisão blindada, os


americanos saem da Normandia e irrompem pelo Loire e pela Bretanha, o alto-
comando alemão, já sem Rommel, ferido pelo ataque de um avião aliado a 17 de julho,
não sabe que terreno cobrir. Tendo a intuição de que pode explorar o alongamento da
linha de penetração americana e o espaço entre esta e os canadianos ataca em Falaise
mas cai numa armadilha mortal. Desta vez o terreno desfavorece os alemães e estes
acabam numa bolsa cortada por valas difíceis de transpor e com poucas pontes,
através das quais só algumas dezenas de veículos blindados conseguem escapar.

A Resistência sabota tudo o que pode, a começar pela rede ferroviária e pelas estradas.
Atrasa a marcha para norte de divisões blindadas SS, como a Das Reich, que retalia
levando a cabo um massacre atroz de civis em Oradour-sur-Glane. Com um segundo
desembarque aliado no sul de França, a 15 de agosto, a sorte das armas ca decidida.

O sucesso do desembarque da Normandia esconde as tremendas di culdades que os


aliados enfrentaram. Os Panzers podiam ter chegado a tempo às praias. A ordem para
reembarcar em Omaha esteve quase a ser dada. Mas se assim tivesse sido e o Dia D
tivesse corrido mal para os aliados o desfecho nal da guerra não teria sido muito
diferente. Quando muito, talvez o Check Point Charlie se tivesse passado a situar, não
na Friedrichstrasse, em Berlim, mas junto à Torre Ei el, e estivéssemos agora à beira
de celebrar os 30 anos da queda do Muro… de Paris.

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