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Seu nome é João. Após o suicídio de seus pais ricos, é adotado pelo irmão mais
novo de seu pai. Consumidor ascíduo de maconha, carrancudo e adorado por todos, surta
aos dezoito anos e some por duas semanas até ser encontrado por uma amiga de infância
que, tenta se vingar culpando os pais dele da morte dos seus. Mas no fim ele é que se vinga
apesar de sofrer junto com ela em um verdadeiro ‘tira-telmas’.
Argumento
Sempre com um baseado na boca, transparente por essência, tão sincero que
chegava a ponto de machucar a todos que compartilhavam sua existência. Amargo e doce
ao mesmo tempo. O peso das suas palavras, ao contrário do que se prevê ao ser insultado
com verdades que ‘ninguém’ diz, João, mais conhecido como Jão, conseguia de alguma
forma prender as pessoas ao seu lado. Era quase impossível não gostar dele apesar da apatia
constante de suas expressões.
Nasceu, cresceu e morreu no mesmo lugar, mesmo depois da jornada insana e sem
rumo, a pé, pelo seu mundo. Bomba do Hemetério, esse era o nome do bairro de Recife
onde tudo aconteceu. Comia pouco, em contradição a ‘larica’ dos baseados diários. Estava
sempre com seu chinelo de dedo – só trocava-o quando não tinha mais concerto – de
bermudas e camisetas doadas pelos amigos. Sempre carrancudo, alguns diziam que seu
rosto nunca conhecera um sorriso verdadeiro, cabelos loiros e longos, olhos verdes, pele
transparente, altura mediana e as garotas diziam que, apesar de não conhecer o prazer, era
muito bom de cama.
No bairro, mora no quarto de fundo da casa nova dos tios que o desprezam. No
pequeno quarto, um colchão velho sem lençóis, algumas caixas de Ceasa onde guarda seus
poucos trapos de roupa e dezenas de livros e cadernos. Só trabalha como escritor para um
amigo jornalista e editor quando precisa de grana pra comprar erva. Come e bebe o que
dão.
Sem amigos reais, não se permite o prazer da entrega, sempre só, fechado em sua
casca impenetrável, apesar de todos sempre presentes.
Seus pais, donos da maior rede de livrarias do norte-nordeste, se suicidaram depois
de descobrir que haviam sido contaminados pelo HIV nas orgias semanais em sua casa.
Mortos quando acabara de completar nove anos. Foi adotado pelo irmão de seu pai, que
invejando o sucesso do primogênito, fez da vida do sobrinho um inferno. Aos doze, parou
de estudar. Aos dezoito surtou, sumiu por duas semanas, até ser encontrado por uma amiga
de infância, filha de um dos casais que participavam das festas com seus pais. Ela o leva à
sua casa, dá uma vida familiar, fica grávida e usa tudo isso como vingança do resultado das
antigas festas na casa de João; a morte de seus pais. Mas nem tudo é o que parece. E no fim
todos serão castigados em um verdadeiro ‘tira-telmas’.
“TIRA-TELMAS”
Maio/Agosto
2007
“Tira-telmas”
(Tema musical)
(Blues de fundo)
Fusão
Cena 4 – Fusão
Interna / noite
Close no rosto de Jão ainda apático. Desce o foco até sua mão
com um copo de cachaça e o acompanha até a boca de Jão.
Abre o foco até um ‘plano médio’ dele sentado no boteco da
Samira que cuida dos seus ferimentos. (silêncio) Enquanto Jão
olhava a toalha avermelhada de sangue um casal se beija
fervorosamente a duas mesas à frente. Jão lembra de sua
infância. (flash-back) Ele se vê olhando, escondido no
corredor dos quartos de casa, seus pais com outros três casais
comemorando alguma coisa que se repetia semanalmente. A
única coisa que ele se lembrava era do grupo tirando suas
roupas e fazendo o que hoje ele conceituava como ‘putaria’.
(flash-back) ele volta a si, levanta e sai bruscamente antes que
Samira terminasse os curativos.
Fade
Cena 5 - Long-Shot
Externa / Noite
Jão é acordado pela tia que o convida pra espancar seu tio
amarrado na placa da BR com o “seu” nome. Ele gosta da
idéia, espanca seu tio, depois pega sua tia, rasga sua roupa,
coloca-a de quatro e quando está prestes a transar com ela,
surge a imagem do seu pai dizendo:
Pai - Não filho. O prazer mata!
Jão - Preciso me livrar desse fardo...
Pai - A liberdade é um prazer filho! Você não tem direito a ele!
Jão - Não posso... Não posso...
Jão acorda com a imagem de uma linda garota chamando-o
pelo nome.
Ela - João!... João! O que está fazendo aqui?! O que... O que
aconteceu?
Jão - Quem é você?
Ela - Mayla. Não lembra? Brincávamos juntos enquanto nossos
pais... você sabe!
Jão – Lembro de você...
Mayla - Precisamos sair daqui João.
Jão - O que faz aqui?
Mayla - Sou bióloga, pesquisadora e estava trabalhando por aqui...
Isso não faz diferença agora... Custei a te reconhecer mas...
Vamos! Vamos embora.
Jão reluta um pouco mas acaba cedendo. Sonhava com um
ovo frito e um copo d’água, sua refeição diária dada pelos
tios, quando davam, enquanto avistava do vidro do carro sua
última fonte de alimento se distanciar. Olha para o lado e vê a
linda mulher que se tornara a garotinha franzina (flash-back
das brincadeiras no quintal de casa).
Voltando a si, olha para frente e observa a estrada. ‘Câmera
subjetiva’ em suas mãos e unhas sujas.
Fusão
Cena 13 – Long-Shot
Interna / Noite
João observa Mayla dormindo. Ela acorda, sorri pra ele, beija-
o e se levanta. Caminha até o banheiro sob o olhar de Jão
(ouve-se um som de descarga), ela volta e caminha sorridente
em sua direção. Ele observa a barriga de sete meses dela e
antes que ela o tocasse, ele se levanta e sai.
Corte
Cena 21 – Long-Shot
Externa / Dia
Fade
FIM