Barroco tropical — José Eduardo Agualusa (Companhia das
Letras, 2009, 352 páginas)
A ação se passa em Luanda no ano de 2020 e é narrada alternadamente pelo escritor Bartolomeu Falcato e pela cantora Kianda. Os dois testemunham juntos um fato insólito, a queda de uma mulher - literalmente - do céu. Numa narrativa que avança e recua livremente no tempo e que se desloca entre a África, a Europa e o Brasil, Agualusa traça um retrato vivo e pulsante da sociedade angolana atual, onde as tradições ancestrais convivem de modo nem sempre pacífico com uma modernidade mal assimilada. Essas contradições estão sintetizadas no prédio onde mora o escritor Falcato, a Termiteira, futurística torre de sessenta andares, o maior edifício do continente, que não terminou de ser construído e já está em ruínas, abrigando os ricos nos andares superiores e a ralé social e criminal no subsolo. Mães de santo e curandeiros convivem nestas páginas com figurinistas de fama internacional, empresários da aviação, militares golpistas e traficantes de drogas e de armas. O insólito está sempre presente, mas intimamente entrelaçado ao prosaico e ao cotidiano, pois, como declarou o autor, referindo-se a Angola, Portugal e Brasil, "nos nossos países a realidade tende a ser muito mais inverossímil do que a ficção".
Noite dentro da noite — Joca Reiners Terron (Companhia das
Letras, 2017, 464 páginas)
Durante uma brincadeira no colégio, um garoto bate a cabeça e entra
em coma. Ele desperta sem saber ao certo quem é, e, conforme suas memórias vão se dissolvendo, tem início o que vem a ser conhecido na família como O Ano do Grande Branco. Nos meses seguintes, o garoto vive a sensação intensa de que aquelas pessoas que cuidam dele e que o alimentam não são seus pais. Todavia, os barbitúricos receitados pelo médico confundem seu raciocínio e o garoto vai aos poucos perdendo as certezas que alguém de onze anos pode ter. É a partir daí que Joca Reiners Terron vai contar essa labiríntica história. Com uma galeria que inclui espiões, guerrilheiros, caçadores e pelo menos um monstro da natureza, Noite dentro da noite percorre a história recente do Brasil, inserindo nossa realidade no mesmo caleidoscópio que faz mover este romance incomum e extraordinário.
O último suspiro do mouro —
Salman Rushdie (Companhia das Letras, 1996, 456 páginas)
Em 1988 o aiatolá Khomeini condenou Salman Rushdie à morte por ter
escrito um livro que desagradou aos fundamentalistas islâmicos. A resposta do autor foi este romance: uma defesa contundente das virtudes do pluralismo e da tolerância, em oposição às pretensas verdades únicas e excludentes. Uma história fantástica, que começa no sul da Índia, no tempo em que a independência ainda era um sonho distante, passa pela Bombaim feérica dos anos 80 e 90 e termina no sul da Espanha, à sombra do Alhambra. Uma história fascinante, narrada por um herói picaresco em cujas veias corre sangue português, judeu, árabe e indiano, afirmação viva do indivíduo que escapa às classificações estreitas de todos os sectarismos nacionalistas, étnicos e religiosos.