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A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL:


Uma Avaliação de Ambientes Virtuais de Aprendizagem1

Sérgio Luiz Nideck2


Profa. Blanca Martin Salvago3

RESUMO
A evolução das Tecnologias de Informação e da Comunicação - TIC’s possibilitou um grande avanço
na EAD, pois a popularização da internet e o desenvolvimento de softwares destinados a servir de
plataforma para os Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVA’s ampliaram as possibilidades de uso e
o alcance dessa modalidade de ensino. Um Ambiente Virtual de Aprendizagem é um “site” ou
“comunidade” na internet onde professores e estudantes dispõem de ferramentas e recursos que lhes
permitem interagir no processo de ensino/aprendizagem. O MOODLE a plataforma mais difundida em
todo o mundo, motivo pela qual foi escolhida como base para nossa avaliação. Para o processo de
avaliação seja confiável, deve utilizar uma estrutura e metodologia que forneçam parâmetros coerentes
e fundamentados. Assim, decidiu-se por utilizar a estrutura do Modelo Conversacional para a
avaliação do ambiente MOODLE, o que possibilitou identificar com clareza as principais
características da plataforma e sua conformidade com as necessidades dos professores e estudantes em
um ambiente virtual.

PALAVRAS-CHAVE: 1 EDUCAÇÃO. 2 TECNOLOGIA. 3 APRENDIZAGEM. 4 DISTÂNCIA


_______________________

INTRODUÇÃO

A grande oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade EAD


democratizou o acesso à Educação Superior, beneficiando tanto os habitantes dos mais
distantes rincões do nosso país, quanto aos que, mesmo vivendo nas áreas urbanas, não
dispõem de tempo para frequentar um curso presencial. Apesar de sua importância como
instrumento de inclusão social, a Educação a Distância ainda é vista com algum preconceito
por algumas empresas que subestimam os profissionais oriundos desta modalidade de ensino.
1
Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Docência no Ensino Superior na
modalidade a distância da Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2015.
2
Graduado em Gestão de T. I. pela Universidade do Sul de Santa Catarina (EAD). Cursando pós-graduação
Lato sensu em Docência no Ensino Superior pela UCDB. E-mail: nidecksl@hotmail.com.
3
Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. Bacharel em Teologia pela Faculdade de
Teologia de Granada (Espanha). Licenciada em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (Campo
Grande - MS). Mestre em Ciências Bíblicas pelo Instituto Bíblico de Roma (Itália). Coordenadora Pedagógica
da UCDB Virtual. Membro do GETED - Grupo de Estudos e Pesquisas em Tecnologia Educacional e
Educação a Distância. E-mail: blanca@ucdb.br
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Felizmente esse quadro está mudando e em alguns casos a EAD tem levado vantagem,
despontando como um diferencial positivo nos processos seletivos. O presidente da
Associação Brasileira de Ensino a Distância, Fredric Litto, em entrevista (ESTADÃO, 2014)
afirma que em processos seletivos os egressos de cursos a distância podem até levar vantagem
sobre outros candidatos, pois algumas empresas preferem profissionais com esse perfil mais
independente e questionador.
Além do “preconceito” de algumas empresas, existe a insegurança dos próprios
alunos que muitas vezes deixam de ingressar na EAD por julgarem que não conseguiriam se
adaptar a um sistema no qual são os únicos responsáveis pela sua rotina de estudos, possuindo
total autonomia para gerenciar suas atividades escolares. Essa “autonomia” nem sempre é
benéfica, pois a grande maioria dos candidatos a ingressar no ensino superior é egressa da
educação presencial e estão acostumados a um sistema em que a instituição é responsável por
organizar e controlar toda a sua vida acadêmica, cabendo-lhe apenas cumprir o cronograma
estabelecido. Essa realidade contrasta enormemente com a rotina da EAD, onde os resultados
dependem quase que exclusivamente da capacidade organizacional, do grau de
responsabilidade e do comprometimento do aluno, que tem total liberdade para definir seu
ritmo de estudo, cabendo à instituição de ensino, na figura do professor, atuar como
orientador e supervisor das atividades, e na medida do possível, tentar despertar nos discentes
a motivação para atingir as metas propostas.
Como o objetivo deste trabalho é analisar as principais características de um
ambiente virtual de aprendizagem a fim de identificar seus pontos fortes e fracos e a
conseqüente influência no processo de formação, conclui-se que a metodologia mais
adequada seria a de uma pesquisa bibliográfica descritiva, para que a partir das informações
oriundas de estudos e pesquisas anteriores, possamos realizar uma análise crítica da realidade
estudada.

1 CONCEITO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Podemos conceituar Educação à Distância como sendo uma modalidade de ensino


em que alunos e professores não ocupam o mesmo espaço físico, estando distantes não só no
espaço, mas também no tempo, tornando imprescindível o uso de recursos que permitam
superar as distâncias envolvidas e possibilitem a comunicação assíncrona (fóruns, emails,
secretarias, avaliações, etc.), uma vez que os alunos possuem total autonomia para gerenciar
3

seus estudos, não existindo diálogos em tempo real com os professores. Esta definição
encontra respaldo em Saviani (2008, p. 104):

Considera-se educação à distância a forma de ensino que se baseia no estudo


ativo independente e possibilita ao estudante a escolha dos horários, da
duração e do local de estudo, combinando a veiculação de cursos com
material didático de auto-instrução e dispensando ou reduzindo a exigência
da presença.

Quando falamos de EAD não podemos deixar de mencionar Borje Holmberg, um


dos teóricos mais conceituados nessa área, que a define assim:

O termo educação a distância abrange as várias formas de estudo, a todos os


níveis que não estão sob a contínua e imediata supervisão de docentes
presentes com os seus alunos nas salas de leitura ou no mesmo local, mas
que apesar de tudo, beneficiam do planejamento, direção e instrução de uma
organização orientadora. (HOLMBERG, 1977).

O Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005), que regulamenta o


artigo 80 da Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, em seu artigo 1o, define assim Educação à Distância, estabelecendo ainda a
obrigatoriedade dos encontros presenciais:

Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a Educação à Distância


como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.

§ 1o A educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e


avaliação peculiares, para as quais deverá estar prevista a obrigatoriedade de
momentos presenciais para:
I - avaliações de estudantes;
II - estágios obrigatórios, quando previstos na legislação pertinente;
III - defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando previstos na
legislação pertinente; e
IV - atividades relacionadas a laboratórios de ensino, quando for o caso. [...]

O processo de ensino/aprendizagem na educação a distância está apoiado em dois


pilares perfeitamente distintos, mas intimamente interligados: a plataforma 4 de ensino e a
metodologia. Cabe à plataforma fornecer, ao professor, meios para orientar, estimular, propor
atividades e acompanhar o processo de aprendizagem do aluno através de um monitoramento
constante e eficaz, permitindo-lhe atuar proativamente através de intervenções oportunas e
4
Software que fornece as ferramentas de interação e apoio para professores, tutores e alunos.
4

pontuais, evitando assim que o aluno perca o ritmo de estudo e acabe por desistir dos estudos.

As plataformas de ensino a distância são aplicações, isto é, softwares


desenvolvidos para apoiar o ensino/aprendizagem. Normalmente, incluem
ferramentas que visam ajudar o professor a organizar, construir e gerenciar
uma disciplina ou um curso on-line. Em geral incluem também ferramentas
de apoio ao aluno durante a sua aprendizagem (ROSINI, 2013, p. 61).

Já a metodologia define como esses recursos serão utilizados a fim de despertar o


interesse do aluno e prender sua atenção, criando um ambiente que o mantenha motivado e
comprometido com os estudos, permitindo assim que ele obtenha o rendimento esperado.
Essa metodologia deve obrigatoriamente contemplar uma nova abordagem de aprendizagem,
desvinculada do aprendizado tradicional no qual o aluno é um mero expectador do processo,
cabendo-lhe apenas receber e assimilar os conhecimentos passivamente. Rosini (2013, p. 57)
defende que “uma nova abordagem requer uma nova visão de mundo, uma nova educação e,
conseqüentemente, novos critérios para a elaboração de currículos e o conseqüente
aprendizado.”
Essa interdependência entre a plataforma de ensino e a metodologia utilizada é um
fator que exerce grande influência na qualidade do produto final do processo, que neste caso é
representado pelo nível dos profissionais formados. Assim, fica evidente que de nada adianta
optar por uma excelente plataforma se a metodologia utilizada não for adequada a essa nova
visão de aprendizagem que se encontra em franca expansão nos dias de hoje. Essa visão
também é compartilhada por D'Ambrósio (2001), que propõe uma nova abordagem de
currículo, elaborado para ser dinâmico e englobando três tipos de atividades: sensibilização
(motivação), suporte (ferramentas) e socialização (ações que resultam em fatos objetos ou
aprendizado).

2 AS TIC's E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As Tecnologias de Informação e da Comunicação - TIC's são uma poderosa


ferramenta de inclusão social, pois através delas abrem-se diversas oportunidades para a
implementação de direitos fundamentais previstos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, tais como: a liberdade de expressão, o direito à educação e o acesso à informação.
Esses direitos são a base para que os cidadãos tenham uma participação efetiva em nossa
sociedade.
As TIC's são fundamentais e indispensáveis à Educação a Distância. A sua
5

evolução permitiu o aparecimento de plataformas cada vez mais complexas, pelas


funcionalidades oferecidas, mas que ao mesmo tempo são acessíveis a todos sem que haja
necessidade de qualquer tipo de treinamento específico para sua utilização. Entretanto, para
que as TIC's sejam realmente eficazes na disseminação do conhecimento, é necessário que
sejam adotadas políticas públicas que promovam a inclusão digital, ou seja, possibilitem o
acesso indiscriminado a essas tecnologias.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013 (IBGE,
2014) somente 43,1 % dos domicílios pesquisados possuíam microcomputador com acesso à
internet. Isto significa que mais da metade dos lares brasileiros podem ser considerados como
“excluídos digitais”. Analisando por regiões a situação é ainda mais preocupante, pois as que
possuem os menores índices de desenvolvimento também apresentam os piores indicadores.
Apenas 28% dos lares da Região Nordeste e 23,9% da Região Norte possuem computador
com acesso à internet. Este cenário mostra que ainda temos muito a avançar nesta área para
que a EAD torne-se uma realidade não somente para uma parcela da população, mas
principalmente para as regiões que apresentam baixos índices de desenvolvimento.

2.1 AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

Um Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA ou VLE (do inglês “Virtual


Learning Environment”) é uma comunidade virtual na internet onde se desenvolve o processo
de ensino/aprendizagem através de ferramentas disponibilizadas por um software de
gerenciamento que permitem ao professor apresentar os conteúdos, propor atividades
participativas, monitorar o desempenho dos alunos e responder a questionamentos e dúvidas.
Já para o aluno é possibilitado acessar conteúdos e material complementar, enviar as
atividades solicitadas pelo professor, interagir com os outros alunos nos fóruns de discussão e
submeter dúvidas e questionamentos ao professor.
Existem vários softwares destinados a servir de plataforma para um AVA, sendo
que o mais utilizada é o MOODLE, cujo nome é um acrônimo de Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environment. Este software é uma plataforma de aprendizagem a
distância baseada em software livre que por adotar a filosofia GPL (do inglês “General Public
Lilcense”: Licença Pública Geral) está em constante desenvolvimento por centenas de
programadores em todo o mundo.
Tecnicamente o MOODLE é uma aplicação baseada na web formada por dois
componentes básicos: um servidor central em uma rede IP e os clientes.
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O MOODLE baseia-se na filosofia educacional do construcionismo, a qual afirma


que o conhecimento é construído na mente do estudante. Assim, os cursos desenvolvidos para
esta plataforma acontecem em um ambiente centrado no estudante, cabendo ao professor a
tarefa de auxiliar o estudante a construir esses conhecimentos.
Por ser um software de código-fonte aberto e disponibilizado gratuitamente, pode
ser facilmente adaptado pelas organizações que o adotam, e por isso tem uma significativa
participação no mercado internacional. De acordo com o Moodle Statistics (2013), a
plataforma é utilizada por 54.491 instituições, espalhadas por 230 países ao redor do mundo e
agregando um total de 69.868.029 usuários. Neste cenário o Brasil ocupa a terceira posição no
ranking com um total de 3858 sites registrados, ficando atrás apenas de Estados Unidos com
8952 sites e Espanha com 4838 registros. Esta estatística é realizada semanalmente por um
programa que automaticamente acessa, avalia e pontua os sites registrados com base em um
conjunto de regras pré-estabelecidas.

3 PREMISSAS PARA A AVALIAÇÃO DO AVA

As mudanças ocorridas nos processos de ensino/aprendizagem ao longo da


história refletem os diferentes enfoques adotados, em função das tendências predominantes
em cada momento histórico. Inicialmente tínhamos o aluno “aprendiz” que se limitava a
ouvir, aceitar e memorizar, sem questionamentos ou ponderações, as informações transmitidas
pelo professor, que era o “mestre” e detentor de todo o conhecimento. Segundo SERRA
(2013, p. 5): “As tendências consideradas mais conservadoras partem do princípio que o
conhecimento é inquestionável, duradouro e eterno. Portanto, devem ser aceitos e acatados, de
modo incontestável e sem críticas.”
Já nos dias atuais as tendências mais avançadas colocam o aluno como figura
central no processo de ensino/aprendizagem, sendo o professor um mediador ou facilitador
cuja função é ensinar o aluno a aprender, ou seja, despertar sua curiosidade e a capacidade de
questionamento do mundo a partir de experiências vivenciadas individualmente e em grupo,
desenvolvendo assim habilidades que o capacitem a construir novos conhecimentos.

[...] neste contexto, o conhecimento é sempre provisório, passível de crítica e


constantes modificações de modo a explicar o movimento dialético da vida,
da sociedade e do mundo. Neste sentido, à medida que a ciência avança, o
conhecimento e a tecnologia avançam também, tornando possíveis novas
descobertas, questionando e refinando o conhecimento já construído.
(SERRA, 2013, p. 5)
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A avaliação de um ambiente virtual de aprendizagem pode ser realizada a partir de


três abordagens possíveis, cada uma focando em um elemento: o software que fornece o
suporte para a realização das atividades (plataforma), os relacionamentos que permeiam todo
processo (interação) e o atingimento dos objetivos propostos (resultados).
Um Ambiente Virtual de Aprendizagem, para atender a essa nova abordagem
educacional, deve primar por um diálogo constante entre professor e aluno. Essa interação
deve permitir que o professor apresente as definições e teorias de maneira clara e objetiva,
analise as concepções do aluno sobre o tema e faça as observações e comentários pertinentes,
mantendo essa “discussão” até que o aluno atinja a meta estabelecida por ambos.
Partindo-se do princípio de que o software MOODLE é a plataforma padrão
utilizada por praticamente 100% das instituições, incluindo-se neste universo os cursos da
UCDB através do Portal da Educação, podemos dispensar sua avaliação, considerando-se que
o mesmo já foi consagrado pela sua usabilidade e filosofia.
Assim, tendo-se em vista que o objetivo desta pesquisa é avaliar a eficiência do
processo ensino/aprendizagem dentro do contexto atual, o foco deste trabalho será verificar os
relacionamentos que permeiam o processo (interação) e seus resultados, ou seja, avaliar se a
metodologia adotada vai ao encontro das necessidades dos alunos, proporcionando-lhes
condições de cumprirem as metas propostas e atingir os objetivos pré-estabelecidos.

3.1 O MODELO CONVERSATIONAL FRAMEWORK

Dentre as metodologias e modelos disponíveis para este tipo de avaliação, optou-


se por utilizar o modelo de estratégia de avaliação “Conversational Framework”5, proposto
por LAURILLARD (1993) e DEARING REPORT (1997), principalmente pelo fato desse
modelo considerar o diálogo como ponto crucial do processo de ensino-aprendizagem,
baseando-se no método Socrático da Investigação Filosófica. Essa centralização no diálogo
vem da necessidade do professor em descobrir a construção mental do estudante sobre
determinado assunto, para então adotar uma estratégia de ação.
A estratégia de avaliação adotada nesse modelo é baseada não somente nas ações
requeridas do estudante, mas principalmente no processo de interação entre professor e aluno.
O modelo defende que a ação do estudante é construída em torno do diálogo e deve ser

5
Estrutura Conversacional, dialogada ou interativa.
8

suplementada por um “feedback”6 significativo e construtivo por parte do professor, que


ocasionalmente deve proporcionar ao aluno condições para reflexão sobre o processo de
ensino-aprendizagem no qual está inserido.

3.2 CARACTERÍSTICAS DO CONVERSATIONAL FRAMEWORK

Segundo LAURILLARD (1993, p. 94-95), as características chaves do modelo


conversacional aplicáveis ao aprendizado acadêmico são as seguintes:

3.2.1 Discursivo

 As concepções do professor e do aluno devem estar mutuamente e constantemente


acessíveis para ambos;
 Professor e aluno devem acordar os objetivos de aprendizagem para cada tópico;
 O professor deve proporcionar um ambiente de discussão em que os alunos possam gerar
e receber feedbacks pertinentes ao objetivo do tópico.

3.2.2 Adaptativo

 O professor é responsável por determinar o foco das atividades no diálogo contínuo a partir
da relação entre sua própria concepção e a do aluno.
 O estudante é responsável por estabelecer uma relação entre o feedback de suas atividades
e suas próprias concepções.

3.2.3 Interativo

 O professor deve proporcionar um ambiente de atividades em que os alunos possam agir


proativamente, gerar e receber os feedbacks das ações pertinentes as metas.
 Os estudantes devem agir para atingir as metas estabelecidas.
 O professor deve fornecer um feedback intrínseco das ações relacionadas a natureza das
metas estabelecidas.
3.2.4 Reflexivo

6
Comentário sobre uma ação, resposta ou atitude.
9

 O professor deve guiar o processo em que os estudantes relacionam o feedback das suas
ações aos objetivos do tópico para cada nível de descrição dentro da estrutura do tópico;
 O estudante deve analisar as atividades, suas ações e os feedbacks recebidos e associá-los a
sua própria concepção das metas estabelecidas.

O modelo conversacional, representado no diagrama da figura 1, mostra o fluxo


de trabalho entre tutor e aluno durante a aprendizagem. Certas atividades (centro em caixas
azuis) são interativas e acontecem através de algum meio. Outras atividades (direita e
esquerda em caixas amarelas) são inerentes ao aluno ou ao professor. Se supusermos que o
meio envolvido é um AVA, então este modelo fornece um conjunto claro de requisitos para
avaliar a adequação aos processos que formam a base do aprendizado interativo.

PROFESSOR MEDIAÇÃO ESTUDANTE

1. Teoria / ideias

2. Concepções
Concepção do Concepção do
Professor 3. Redescrição do professor a luz da concepção do aluno Estudante

4. Redescrição do aluno a luz da redescrição do professor

12. Reflexão das


5. Adaptação das 10. Adaptação das 11. Reflexão
ações dos
metas a luz da ações a luz da sobre as
aprendizes para
descrição do teoria, objetivo e concepções a luz
modificar as
estudante feedbacks da experiência
descrições

6. Professor estabelece objetivos


Meio
ambiente 7. Ações dos alunos
Ações dos
construído
estudantes
pelo 8. Feedback do professor sobre as ações do aluno
professor
9. Ações dos alunos modificadas a luz do feedback do professor

Figura 1 - A Estrutura Conversacional


Fonte: (LAURILLARD, 1993)
O fluxo das ações primárias que acontecem através do ambiente interativo são:
1. O professor apresenta / redescreve a concepção
2. O estudante apresenta / redescreve a concepção
10

3. O professor estabelece as atividades do micro-mundo


4. O estudante interage com as atividades do micro-mundo
5. O sistema fornece comentários sobre as ações do estudante
6. O estudante modifica as ações a luz desses comentários

3.3 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Para avaliar um AVA usando a estrutura conversacional, precisamos estabelecer


quais ferramentas possibilitam que a ação e o diálogo influenciem-se mutuamente para
permitir que as ações e concepções do estudante sejam modificadas.
O ponto principal, da perspectiva do modelo conversacional é que o professor
deve ser capaz de construir atividades de aprendizagem seguindo um diálogo com o estudante
ao nível de concepções e identificação de objetivos. Dessa maneira, devemos considerar até
que ponto as ferramentas possibilitam a estruturação do diálogo e as ações, bem como a
integração entre diálogo e ações.

3.3.1 Ferramentas Discursivas

Normalmente as ferramentas que possibilitam o diálogo em um AVA são os emails


e grupos de discussão assíncronos. Assim, é importante verificar até que ponto o AVA
aproveita essas ferramentas para permitir que o diálogo seja parte integrante da aprendizagem.
Portanto, devemos checar, como por exemplo, se:

a) o diálogo é acessível dentro da estrutura do curso ou se é externo ao


ambiente;
b) as ferramentas de comunicação assíncrona permitem a inclusão de anexos em
suas mensagens e se esses anexos podem ser extraídos e incorporados às áreas
de trabalho dos alunos;
c) as ferramentas permitem que os objetivos de aprendizagem sejam
especificados e gravados nas bases de diálogo; e
d) o objetivo de aprendizagem fica em local de destaque no tópico estudado.

3.3.2 Adaptabilidade
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Facilidade de adaptar as atividades de aprendizagem às necessidades de um


estudante ou grupo de estudantes em particular. Isso levanta a questão se os estudantes em um
mesmo grupo podem ser facilmente diferenciados com o curso ou atividades em andamento.

3.3.3 Interatividade

Um pré-requisito básico para um AVA é que ele deve ser interativo. Não basta
apenas fornecer o material ao estudante e depois avaliá-lo sobre o assunto. Um AVA deve
permitir que os estudantes reestruturem o material apresentado, adicionem recursos próprios,
faça anotações, etc. Em outras palavras, o estudante não deve ser um mero observador passivo
do “micro-mundo” construído pelo professor, mas sim pró-ativo na modelagem desse mundo.

3.3.4 Reflexão

O AVA deve permitir ao professor auxiliar o aluno a correlacionar os comentários


sobre suas ações com os objetivos estabelecidos. Uma ferramenta de mapeamento de
conceitos pode ser um recurso muito útil. O diálogo contextualizado deve ser possível em
cada nível da estrutura do tópico.

3.4 ESTRUTURA DE AVALIAÇÃO

A estrutura de avaliação adequada ao modelo conversacional pode ser construída


de várias maneiras. Neste caso em particular, optamos por construir um quadro onde são
descritas as ferramentas disponíveis para cada estágio de interação que compõem o modelo
conversacional e como essas ferramentas fornecem suporte para a conversação e as
atividades. A estrutura de avaliação do Quadro 1 utiliza o conjunto de seis interações
presentes no fluxo de ações primárias como critérios para identificação e avaliação das
ferramentas e seu nível de estruturação.

Quadro 1 - Estrutura de Avaliação

INTERAÇÃO RECURSOS ESTRUTURAÇÃO


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 Carregar apresentações em Power Point O conteúdo propriamente dito é


 Inserir links para vídeos-aulas no disponibilizado através de
YouTube apresentações, links e arquivos. Os
1. Apresentação
 Disponibilizar material para download glossários, atividades e fóruns
da concepção
 Criar glossários sobre os tópicos complementam o processo de
pelo professor
 Elaborar atividades individuais e em aprendizagem, estimulando uma
grupo participação mais ativa do estudante
 Abrir fóruns de debate de uma maneira fácil e agradável.
Além de realizar as atividades, o
 Fóruns de discussão estudante externa seu entendimento
sobre o tema em estudo através da
2. Apresentação  Base de Dados criada pelo professor
participação nos fóruns e wikis. As
da concepção  Wikis7
contribuições para o glossário e base
pelo estudante  Glossário de dados também são um bom
 Realizar as atividades do professor indicador do seu grau de
envolvimento com o curso.
Os recursos disponíveis fornecem ao
As mesmas ferramentas e recursos que
3. Criação do professor uma enorme variedade de
possibilitam a apresentação da concepção
micro-mundo combinações de atividades para
são utilizadas para a criação do micro-
pelo professor criação de um ambiente interativo,
mundo.
dinâmico e atraente ao aluno.
As características de usabilidade 10 do
ambiente o tornam bastante intuitivo.
Essa particularidade é fundamental,
4. Interação do O estudante dispõe de blogs8, chats9 e fóruns,
do ponto de vista do estudante, pois
estudante com o além de ser capaz de anexar, carregar e
lhe permite, mais do que
micro-mundo postar comentários.
simplesmente visualizar o conteúdo,
ser um personagem participativo no
processo de aprendizagem.
Nessa estrutura os comentários estão
O professor dispõe de ferramentas sempre incorporados ou interligados
administrativas que lhe permitem monitorar ao contexto das ações. Isso possibilita
5. O tutor
todas as atividades do estudante, ao professor um acompanhamento
fornece feedback
acompanhar seu desempenho ao longo do mais efetivo do processo de
ao estudante
curso e manter uma comunicação bilateral aprendizagem, pois não se limita a
constante. avaliar o desempenho a partir da
correção das atividades.
A partir dos comentários do professor,
6. Modificação O estudante dispõe de blogs, chats e fóruns,
o estudante pode fazer correções e/ou
das ações pelo além de ser capaz de anexar, carregar e
atualizar suas ações no decorrer do
estudante postar comentários.
processo.

A escolha do tema de um trabalho de pesquisa, na maioria das vezes, é


direcionada por experiências pessoais que nos suscitaram dúvidas e questionamentos, que nos
levou a refletir e formar uma concepção própria, sem a devida fundamentação teórica. Essa
concepção influencia nossa abordagem inicial do problema, fazendo com que tenhamos uma
7
Bases de dados que permitem aos usuários editar qualquer item existente com apenas um clique.
8
Do inglês “Web log” (Diário da Rede), é uma estrutura que permite a atualização rápida de seus artigos.
9
Conversação em tempo real pela internet
10
Facilidade no emprego de uma ferramenta ou objeto para a realização de uma tarefa específica.
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idéia pré-concebida do resultado final. Contudo, no decorrer da pesquisa, esta ideia é


subjugada pelo raciocínio científico, que direcionado pelo embasamento teórico trás uma
nova luz ao assunto, levando a um resultado lógico e coerente.
Este trabalho, como não poderia deixar de acontecer, não fugiu a esta regra.
Também foi influenciado por uma concepção não fundamentada. Entretanto, ao realizar a
avaliação com base na estrutura do Modelo Conversacional, uma nova realidade se
apresentou, só que desta vez como resultado de um trabalho bem estruturado, o que permitiu
que a concepção inicial sobre o tema fosse reavaliada e reformulada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise das ferramentas e recursos da plataforma MOODLE, com base


na fundamentação teórica do tema abordado, buscou-se realizar uma avaliação do processo de
ensino/aprendizagem na EAD, identificando as principais dificuldades dos alunos, a
adequação das ferramentas e a eficácia da metodologia utilizada.
Adotar as características inerentes ao modelo conversacional como critérios de
avaliação, possibilitou identificar que os recursos disponíveis, tanto para o professor quanto
para o aluno, atendem perfeitamente ao que preconiza o modelo conversacional, ou seja, vão
ao encontro das tendências mais atuais onde prevalece a ideia do aluno como figura central do
processo, atuando não como mero expectador, mas como protagonista.
Do ponto de vista do estudante, os recursos disponíveis permitem sua participação
ativa no processo de aprendizagem, seja através da realização das atividades propostas, na
realização de projetos individuais e em grupo ou na interação com o grupo. Contudo, essa
“proatividade” não pode depender unicamente da iniciativa do aluno, pois a grande maioria
está acostumada a seguir um planejamento pré-determinado, com dias e horários pré-
estabelecidos, como é comum ao ensino presencial. Logo, o professor tem que exercer um
acompanhamento constante, lançando mão das ferramentas que estão a sua disposição para
monitorar o desempenho do aluno e orientar seu aprendizado, agindo como um verdadeiro
mestre e orientador e não como um mero fornecedor de meios e avaliador. A postura do
professor - nesse caso entendemos postura como o seu relacionamento interpessoal no
processo de aprendizagem - é o elemento fundamental que irá determinar o comportamento
dos estudantes. Isto significa dizer que o desempenho dos estudantes é um reflexo não
somente da metodologia ou dos recursos disponíveis, mas principalmente da capacidade do
professor em captar o interesse dos alunos e despertar-lhes a motivação para o aprendizado.
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As novas tendências colocam o aluno como figura central do processo e o diálogo


como principal ferramenta de trabalho. Contudo, isso não significa que o professor tornou-se
um mero figurante, substituído pela tecnologia, mídias e bancos de dados. Apesar das novas
tendências da educação, dos recursos tecnológicos cada vez mais avançados, da complexidade
crescente dos softwares de aprendizagem e da eficiência dos meios de comunicação, o fator
principal para um resultado satisfatório no processo de aprendizagem é a metodologia de
trabalho do professor. As funcionalidades, recursos e ferramentas de um AVA, por melhores
que sejam, não garantem resultados satisfatórios.
Logo, concluímos que o fator determinante para que se obtenha resultados
satisfatórios na EAD é a capacitação dos professores para utilizarem os recursos tecnológicos
em toda a sua plenitude, proporcionando assim a formação de profissionais competentes e
capazes de desempenhar suas funções na sociedade.
Cabe ressaltar, ainda, que essa avaliação trata-se de uma análise subjetiva e
pessoal, baseada em referenciais teóricos pesquisados pelo autor. Sendo assim, seu resultado
não pretende representar uma verdade ou tese definitiva, mas unicamente o ponto de vista do
autor em função de sua visão da realidade e experiências de vida.

REFERÊNCIAS

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Indicadores 2013. Brasília: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2014.

BRITAIN, Sandy e LIBER, Oleg. A Framework for Pedagogical Evaluation of Virtual


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25 de março de 2014. Disponível em<http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,educacao-
a-distancia-conquista-confianca-de-alunos-e-empregadores,1144568>. Acesso em: 6 de
outubro de 2014.

LAURILLARD, Diana. Rethinking University Teaching: A Framework for the Effective


Use of Educational Technology. 2. ed. London: Routledge Falmer, 2002.

ROSINI, Alessandro M. As Novas Tecnologias da Informação e a Educação a Distância. 2.


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15

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetórias, limites e perspectivas. 11. ed.
Campinas: Autores Associados. 2008, p. 252.

SERRA, Maria Luiza Arruda de Almeida. Metodologia do Ensino Superior. Campo Grande:
UCDB, 2013. (Apostila do Curso de Pós-graduação em Libras)

The Moodle Project: Statistics. MOODLE.ORG, Dezembro de 2014. Disponível em:


<http://moodle.net/stats/>. Acesso em 10 dez. 2014.

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