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Vou me atrever a falar o que é Educação Matemática e, mais ainda, dizer o que é
Democracia: Educação Matemática é aquilo que nós fazemos em nossas salas de aula, em
nossas escolas; Democracia é o regime no qual vivemos, regime construído e ratificado
pelos cidadãos de nosso país. Ir para além do que fiz aqui, tentar, de fato, definir Educação
Matemática e Democracia é uma tarefa, se exequível, árdua demais para enquadrá- la nessa
mesa redonda. Isto posto, aceitemos como conhecidos os significados dos termos
Educação Matemática e Democracia. Resta- nos estabelecer uma correlação entre os dois
termos.
Buscando esta correlação nos PCN, não destacamos a palavra democracia, mas a
palavra cidadania. Ora, a democracia é constituída pelos cidadãos no exercício da
cidadania. Encontramos:
1) Em uma fila, a décima quinta pessoa ocupa o lugar central da fila. Quantas pessoas há
na fila?
( A ) 28 ( B ) 29 ( C ) 30 ( D ) 31 ( E ) 32
3) Num posto de combustíveis, a gasolina sofreu um aumento de 10%, passa ndo a custar
R$2,09 por litro. O preço do litro de gasolina antes do aumento era de:
4) Uma pesquisa de opinião foi realizada para avaliar os níveis de audiência de alguns
canais de televisão, entre 20h e 21h, durante uma determinada noite.
( A ) 100
( B ) 135
( C ) 150
( D ) 200
( E ) 220
5) Vinte anos depois da formatura, cinco colegas de turma decidem organizar uma
confraternização. Para marcar o dia e o local da confraternização, precisam comunicar-se
por telefone. Cada um conhece o telefone de alguns colegas e desconhece o de outros. No
quadro abaixo, o número 1 indica que o colega da linha correspondente conhece o telefone
do colega da coluna correspondente; o número 0 indica que o colega da linha não conhece
o telefone do colega da coluna. Exemplo: Beto sabe o telefone do Dino que não conhece o
telefone do Aldo.
O número MÍNIMO de telefonemas que Aldo deve fazer para se comunicar com Carlos é:
(A)1
(B)2
(C)3
(D)4
(E)5
Apenas a questão 3 foi acertada por mais de 50% dos respondentes, e mesmo assim
teve apenas 55% de respostas corretas. Do total de 100 questões, houve somente 35
acertos, e olhe que são questões de múltipla escolha com 5 alternativas. Se fosse uma
prova para passar de série, a reprovação seria em massa.
A bem da verdade, para ser um cidadão é preciso conhecer pouca Matemática. Não
é ela que pode servir de critério para separar aqueles que exercem conscientemente a
cidadania daqueles que não o fazem. Nem de longe estamos querendo dizer que é
indiferente, para o posicionamento e participação de um indivíduo no mundo, o
conhecimento de Matemática que cada um carrega e é capaz de usar. A Matemática
permite uma leitura mais ampla e acurada dos fatos, dos fenômenos. Num mundo
dominado pela tecnologia, ela pode trazer grandes vantagens à colocação profissional de
um indivíduo, e a profissão é um importante plano de participação social. Mas para o
Por outro lado, é certo que todos precisarão de Matemática diversas vezes na vida:
imposto de renda; conta a pagar; prestações; tomar a decisão se é melhor comprar à vista
ou a prazo; organização de uma planilha eletrônica; cálculo da média para passar de ano;
cálculo da área de uma sala ou de um terreno e mais uma infinidade de casos. Se não há
domínio da Matemática, como abordar essas questões? Lembramo- nos de um texto de
Yves Chevallard.
ANOTAÇÃO DO JORNALISTA
Começo a reportagem visitando o dispos itivo que mais me chamou a atenção ao ler o
folheto de apresentação do Instituto de Educação Secundária ―Juan de Mairena‖: A Tenda
de Matemática. Quem me atendeu é Eduardo, um professor.
Eduardo: Bem, acho que desde a criação do Instituto. Embora não saiba muito
bem, trabalho aqui somente há três anos.
E.: Veja, vamos supor que você tenha de fazer algo e surja um problema. Se for um
problema essencialmente matemático, o melhor que tem a fazer é vir até a Tenda.
J.: Espere. Talvez eu possa propor um para você. Um exemplo de verdade. Outro
dia eu fui comprar um varal para roupas. Um desses pequenos para apartamento. Havia
dois modelos. Olhe, eu trouxe o catálogo... (Mostro-lhe o desenho dos varais.)
Modelo A Modelo B
E.: E daí?
J.: No final, me decidi por este...(mostro-lhe o modelo A). Achei mais simples,
mais clássico. Mas, em seguida, fiquei pensando que talvez o outro fosse melhor, que
talvez coubesse mais roupa. Isso é uma questão de matemática? Isso é, isso é uma questão
para a tenda de matemática? O que você acha?
Lembramo- nos, também, de algumas campanhas com slogans do tipo ―não assine
nada sem antes consultar um advogado‖ ou ―não se automedique, procure um médico‖. Se
tivermos dúvidas sobre a natureza de um documento, vamos a um advogado. Se o
computador começa a apresentar problemas, chamamos um técnico. Se nos sentirmos mal,
vamos a um médico. É certo que devemos ter um conhecimento mínimo de nossa anatomia
e fisiologia para que possamos procurar a ajuda médica adequada. Com dor no estômago,
não é adequado procurar um oftalmologista. Mesmo assim, em caso de dúvidas, vai-se a
um clínico geral e ele nos encaminha ao especialista recomendado. Se tivermos um
problema de cunho matemático, a quem devemos procurar? Não estou pensando na
solução do problema que deve cair na próxima prova. Esse problema o professor de
Matemática resolve para o aluno na escola. Refiro- me a problemas como o do varal
presente no texto de Chevallard , ou à análise de uma conta de luz, ou à organização de
uma planilha, ou ao quanto de linha deve-se gastar a mais se o tamanho da figura a ser
bordada for dobrado. A quem uma pessoa com uma dúvida ligada à Matemática deve
procurar? Se alguém responder que deve ser procurado o professor de Matemática,
complete a resposta informando onde e quando. As escolas não estão preparadas para
atender a comunidade com este tipo de serviço, não há tendas de Matemática nas escolas.
Não há escritórios de professores de Matemática. E como os professores serão pagos por
este serviço? Além disso, esse tipo de serviço não é uma aula nem orientação de estudo.
Portanto, de forma geral, os professores precisam de um treinamento específico para este
tipo de serviço.
O que estamos tentando destacar é que existe uma diferença entre ―a Matemática
estar ao alcance de todos‖ e ―o ensino da Matemática ser democratizado‖. A medicina estar
ao alcance de todos, ou seja, democratizar a medicina, não significa que todos serão
médicos ou que todos terão grande conhecimento de medicina. Significa que todos terão
acesso ao especialista em medicina e aos produtos que a medicina produz. Da mesma
forma, a Matemática estar ao alcance de todos, democratizar a Matemática, não significa
que todos terão de ser matemáticos ou conhecer muita matemática. Significa que todos
devem ter acesso ao especialista em Matemática e aos produtos gerados pela Matemática.
Por outro lado, democratizar o ensino da Matemática é dar oportunidades a todos de
decidir até que ponto a Matemática estará presente no seu projeto de vida. É claro que há
um conhecimento matemático desejável, e mais do que isso, necessário a qualquer cidadão.
No problema do varal presente no texto de Chevallard, q uantas pessoas o identificariam
como problema pertinente à Matemática? É verdade... Mas atrevo- me a dizer que o
conhecimento desejável quase sempre é maior do que o necessário.
Bibliografia