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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA

TOYSHIMA, Ana Maria da Silva 1


Ana.toyshima@gmail.com
MONTAGNOLI, Gilmar Alves 2
gil_montagnoli@hotmail.com
COSTA, Célio Juvenal
celio_costa@terra.com.br
Universidade Estadual de Maringá
Fundamentos da educação

1 INTRODUÇÃO

Importante considerar, inicialmente, que a discussão proposta sobre a educação no


período colonial se inicia no ano de 1549, quando aqui chegaram os primeiros jesuítas
juntamente com o primeiro governador geral, Tomé de Souza. Relevante também é o fato de
na América portuguesa a atividade educativa ter sido realizada hegemonicamente pelos padres
da Companhia de Jesus, isso até 1759, quando foram expulsos por ato do Marquês de Pombal,
então primeiro ministro do rei Dom José I.
A atividade educacional não estava entre os objetivos iniciais dos jesuítas, no entanto
foi uma de suas principais preocupações. Dessa forma, discutir educação no período colonial
torna necessário discutir, além de aspectos do contexto, a atuação dos jesuítas. É essa a
organização deste texto, a qual deve orientar as discussões nos fóruns: contexto histórico e
fundação e atuação da Companhia de Jesus.
Sobre o primeiro ponto serão destacados pontos como transformações no mundo
feudal, Renascimento, Humanismo, Reformas Protestante e Católica e transformações sociais

1
Pedagoga, aluna do Programa de Pós-graduação em Educação (Mestrado/UEM) e tutora da educação a
distância - NEAD/UEM.
2
Pedagogo/Historiador, aluno do Programa de Pós-graduação em Educação (Mestrado/UEM) e tutor da
educação a distância - NEAD/UEM.

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do período. São termos complexos e que devido a limitação de espaço deste texto, não serão
discutidos coma profundidade necessária.
Em seguida, discutir-se-á a fundação e consolidação da ordem religiosa, além da
importância que adquiriu no contexto. Mais especificamente, aspectos da atuação pedagógica
dos jesuítas serão apresentados, como o método utilizado, o Ratio atque Institutio Studiorum
Societatis Iesu.
Com a fundação de colégios surgiu a preocupação em estabelecer regras para o ensino,
passando a ser experimentados e aperfeiçoados vários planos gerais de estudo até a publicação
oficial do Ratio Studiorum, em 1599. Trata-se de um documento que contém as regras e as
normas para a organização administrativa e pedagógica dos colégios fundados pela
Companhia de Jesus.

2 CONTEXTO HISTÓRICO

Fundada no século XVI, a Companhia de Jesus está intimamente ligada aos


movimentos e acontecimentos ocorridos naquele contexto. Movimentos que eclodiram no
mundo europeu, tais como o renascimento, o humanismo, as reformas religiosas e o
desenvolvimento do comércio, deram novos rumos para a história e firmaram uma fase de
transição para o que hoje conhecemos por Idade Moderna.
Nesse período, o catolicismo vinha perdendo força, passando a Igreja a ser contestada
e ter seus dogmas questionados. Era o chamado protestantismo, que teve como um de seus
principais representantes Martinho Lutero, que propôs uma verdadeira reforma das ideias
religiosas, o que provocou uma grande cisão no mundo católico e uma notável evasão de seus
fiéis. Temendo que a Igreja perdesse ainda mais seus domínios, foi convocado um concílio na
cidade italiana de Trento.
O Concílio de Trento (1545-1563) foi um marco da tentativa papal em assegurar a
unidade da fé, assim como a disciplina eclesiástica. Esse movimento ficou conhecido na
história como Reforma Católica, o qual foi caracterizado como a tentativa do catolicismo de
reafirmar os dogmas e difundir a religião católica, recuperando e conquistando fiéis.
É esse o contexto de surgimento da Companhia de Jesus, uma iniciativa de Inácio de
Loyola (1491-1556) juntamente com seis estudantes da Universidade de Paris, em 1534.

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Oficializada pelo Papa Paulo III no ano de 1540 por meio da bula Regimini Militantis
Ecclesiae, a nova ordem religiosa tinha como principal objetivo converter os judeus e retomar
Jerusalém ao domínio dos cristãos.
Durante o século XVI, a Companhia se estruturou e se consolidou, ocupando um lugar
de grande importância na história da Pedagogia. Conforme mencionado inicialmente, mesmo
não estando entre os primeiros propósitos dos jesuítas, as atividades educacionais tornaram-se
uma das principais características da ordem fundada por Loiola. Logo nos primeiros anos de
ação educativa, os superiores da Companhia se preocuparam em elaborar um documento
norteador organização dos seus colégios, que resultaria no Ratio Studiorum, o próximo
assunto do texto.

3 A COMPANHIA DE JESUS E SEU MÉTODO DE ENSINO

Em 1551 foi dado o primeiro passo em direção ao documento que guiaria a ação
administrativa e educativa dentro dos colégios jesuíticos, quando Jerônimo Nadal
sistematizou o plano de estudos a partir de sua experiência no Colégio Romano. Para Saviani
(2008, p. 50), “está ai aquilo que se poderia considerar o primeiro esboço do Ratio Studiorum
que foi enviado de Roma para as instituições que iam sendo fundadas nos diversos países
visando a uniformizar a organização e o funcionamento dos colégios”.
Ao nos referirmos ao Ratio Studiorum, é importante mencionarmos a IV parte das
Constituições da Companhia de Jesus, em vigor desde 1552. Nessa parte já estão traçadas as
linhas mestras da organização didática, bem como o espírito das atividades pedagógicas da
Ordem. Porém, para Loyola, a IV parte da Constituição não seria suficiente para nortear a
ação jesuítica nos colégios pelo fato de conter regras mais gerais, o que tornava necessário
um plano de estudos com regras especificas. Seria o Ratio Studiorum que, na intenção do
fundador, complementaria as Constituições.
Em 1586 resultou a primeira versão do Plano da Companhia de Jesus que foi enviada
para todas as províncias. Em 1591, após críticas e sugestões de melhorias, a segunda versão é
posta em prática em caráter experimental por três anos, resultando na aprovação e publicação
de sua última versão em janeiro de 1599, quando uma circular comunicou a todas as
províncias a edição definitiva do Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu que,

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conforme Franca (1952, p. 23), “Já não era a comunicação de um projeto de estudos, mas a
promulgação de uma lei”.
Sobre a versão definitiva, o autor informa que “Reduziu-se assim de metade o volume
do Ratio; enquanto a segunda edição contava com 400 páginas, a última não ia além de 208;
o número total de regras descera de 837 a 467” (FRANCA, 1952, p. 22). Essa composição do
documento é assunto do item seguinte.

3.1 AS REGRAS DA RATIO STUDIORUM

Considerando que a análise do Ratio Studiorum é fundamental para compreensão das


características da educação jesuítica, passamos a abordá-lo, concebendo-o como um manual
prático que preconiza métodos de ensino e orienta o professor na organização de sua aula.
O documento contém 467 regras cobrindo todas as atividades dos agentes envolvidos
ao ensino. A tabela a seguir apresenta as regras e normas instituídas no documento.

REGRAS 467

A) Regras do provincial, em número de 40

B) Regras do reitor 24

C) Regras do prefeito de estudos superiores 30

D) Regras comuns a todos os professores das faculdades superiores 20

E) Regras particulares dos professores das faculdades superiores distribuídas em: a) 49


Regras o professor de Escritura (20); b) Regras do professor Hebreu (5); c) Regras do
professor de Teologia (14); d) Regras do professor de Teologia Moral (10);

F) Regras dos professores da faculdade de Filosofia: a) Regras do professor de 27


Filosofia (20); b) Regras do professor de Filosofia Moral (4); c) Regras do professor de
Matemática (3);
G) Regras do prefeito de estudos inferiores 50

H) Regras dos exames escritos 11

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I) Normas para a distribuição de prêmios 13

J) Regras comuns aos professores das classes inferiores 50

L) Regras particulares dos professores das classes inferiores: a) Regras do professor de 50


Retórica (20); b) Regras do professor de Humanidades (10); c) Regras do professor de
Gramática Superior (10); d) Regras do professor de Gramática Média (10); e) Regras
do professor de Gramática Inferior (9);
M) Regras dos estudantes da Companhia 11

N) Regras dos que repetem a Teologia 14

O) Regras do bedel 7

P) Regras dos estudantes externos 15

Q) Regras das academias distribuídas em: a) Regras gerais (12); b) Regras do prefeito 47
(5); c) Regras da academia de Teologia e Filosofia (11); d) Regras do prefeito da
Academia dos Teólogos e Filósofos (4); e) Regras da Academia de Retórica e
Humanidades (7); f) Regras da Academia dos Gramáticos (8);

Como é possível observar, o plano de estudo começava pelas regras do provincial,


passava pelas do reitor, do prefeito de estudos, dos professores em geral e de cada matéria de
ensino, contemplava também as regras da prova escrita, distribuição de prêmios, do bebel,
dos alunos e, por fim, as regras das diversas academias. Além das regras e das normas, o
Ratio traz os níveis de ensino (Humanidades, Filosofia e Teologia) e as disciplinas que os
alunos deveriam cumprir.
Em se tratando dos níveis de ensino, o Ratio Studiorum prevê três graus: iniciava com
o curso de humanidades denominado de “estudos inferiores”, cujo currículo incluía: retórica;
humanidades; gramática superior; gramática média; e gramática inferior. A formação
continuava com os cursos de filosofia e teologia designado como “estudos superiores”.

 Currículo filosófico – 3 anos.

1º ano – Lógica e introdução às ciências; um professor; 2 horas por dia.

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2º ano – Cosmologia, Psicologia, Física - 2 horas por dia, Matemática – 1 hora por
dia.
3º ano – Psicologia, Metafísica, Filosofia moral – dois professores. 2 horas por dia

 Currículo teológico - 4 anos

- Teologia Escolástica. 4 anos; dois professores, cada qual com 4 horas por semana.
- Teologia Moral. 2 anos; dois professores com aulas diárias ou um professor com duas
horas por dia.
- Sagrada Escritura. 2 anos com aulas diárias.
- Hebreu. 1 ano, com duas horas por semana.
A revisão de 1832 ao currículo teológico acrescentou como disciplinas autônomas, o
Direito Canônico e a História Eclesiástica.
Conforme comenta Franca:

Estas classes são caracterizadas por graus, ou estágios de progresso.


Representam menos uma unidade de tempo (1 ano) do que uma determinada
soma de conhecimento adquiridos. Só podia ser promovido à classe superior,
o aluno que os houvesse assimilado integralmente. Por isso, na prática, o
currículo dilatava-se muitas vezes por 6 e 7 anos; a ultima classe de
gramática e às vezes a penúltima desdobravam em duas outras, A e B, ou
ínfima gramática primi ordinis e ínfima gramática secundi ordinis. A-21; G-
8. (FRANCA, 1952, p. 28).

No que diz respeito à hora/aula, o Ratio supõe 5 horas por dia de estudos, sendo duas
e meia pela manhã e as demais no período da tarde. O tempo era minuciosamente distribuído
entre o grego e o latim, a prosa e a poesia e os diversos exercícios escolares. A ordem dos
estudos poderia ser alterada de acordo com os costumes locais.
Devemos também considerar em nosso estudo a metodologia adotada pelos jesuítas,
que é a parte mais desenvolvida no Ratio. A fim de obter sucesso no ensino, os padres
dispunham de uma série de estímulos pedagógicos, tais como a preleção, a lição de cor, o
estimulo à competição, enfim, uma série de iniciativas para motivar os alunos. Esse assunto
será abordado na sequência deste texto.

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3.2 METODOLOGIA DA RATIO STUDIORUM

A metodologia do Ratio Studiorum compreende os processos didáticos utilizados para


a transmissão dos conteúdos e os estímulos pedagógicos. A respeito da metodologia, Franca
(1952) observa que não ocorreu uma padronização rígida do processo de trabalho, pois a
variedade de métodos propostos dava uma ampla liberdade de escolha que poderia ser
adaptada às circunstâncias. O autor também afirma que ao mestre se confere largos poderes
de iniciativa, podendo ele fazer uso dos métodos preestabelecidos ou apropriar-se de novos.
Vejamos algumas iniciativas.
A preleção é o ponto chave do sistema didático do Ratio, como o próprio nome indica
é uma lição antecipada, ou seja, uma explicação do que o aluno deverá estudar cujo método e
aplicações variam de acordo com o nível intelectual dos estudantes. Nas classes elementares
de gramática, por exemplo, após a leitura e o resumo do texto, o professor explica, resolve as
dificuldades relativas ao vocabulário, à propriedade dos termos, o sentido das metáforas, à
gramática e conexão das palavras. Na medida em que a classe se aproxima da retórica
começam as questões relativas à sintaxe, ao estilo, à arte de composição.
Além da lição de cor (em que os alunos tinham que recitar um trecho latino em prosa
ou verso) que antecedia a preleção, da retórica, e de comentários de autores, existiam outros
exercícios escolares: colheita de frases de bons autores, versão e retroversão, ditado do tema
da composição, redação de inscrições, epigramas etc. A variedade das ocupações suavizava o
esforço e mantinha a atenção sempre alerta.
Em se tratando do trabalho do professor, este era eficientemente ajudado pelos alunos.
Os decuriões eram alunos escolhidos pelo desempenho escolar e pelo mérito pessoal para
auxiliar os professores em aula, seja na organização de grupos, na correção de lições, no
controle da disciplina e na seriedade exigida ao bom andamento da aula.
Além dos processos didáticos, os jesuítas faziam uso de estímulos pedagógicos a fim
de incentivar a atividade dos alunos. Mesmo não sendo amigos dos castigos corporais, os
padres não os extinguiram. Sobre o assunto, as Constituições da Companhia estabeleciam que
“na medida do possível a todos se trate com o espírito de brandura, de paz e de caridade”,
princípio que foi conservado pelo Ratio. Um exemplo pode ser percebido na regra 40 do
professor das escolas inferiores:

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Modo de castigar. Não seja precipitado no cas-tigar nem demasiado no
inquirir; dissimule de preferência quando o puder sem prejuízo de ninguém;
não só não inflija nenhum castigo físico (este é oficio do corretor) mas
abstenha-se de qualquer injúria, por palavras ou atos não chame ninguém se
não por seu nome ou cognome; por vezes é útil em lugar do castigo
acrescentar algum trabalho literário alem do exercício de cada dia; ao
Prefeito deixe os castigos mais severos ou menos costumados, sobretudo por
faltas cometidas por fora da aula, como a ele remeta os que se recusam
aceitar os castigos físicos [...] principalmente se forem mais crescidos
(RATIO STUDIORUM, J- 40).

Os castigos físicos eram aplicados em casos mais graves, quando as boas palavras e
exortações não fossem suficientes. Como afirma Rodrigues (1917, p.31) não sendo
“sufficiente a reprehensão de palavras; torna-se necessario o castigo corporal”. Caso tal
medida fosse necessária, era chamado um corretor3 para aplicar a palmatória, cujos golpes não
poderiam passar de seis, nunca no rosto ou na cabeça, assim como, em lugar solitário, mas
sempre na presença de pelo menos duas testemunhas. Franca (1952) aponta que não se tinha
em vista ferir ou humilhar o aluno, mas lhe causar uma pequena dor física que na primeira
idade era um meio eficiente de disciplinar.
Ficando os castigos físicos sempre como último recurso, uma vez que a regra era
recorrer aos sentimentos mais nobres da honra e da dignidade, a emulação pode ser entendida
como uma das forças psicológicas mais eficientes. O espírito de competição era um excelente
estimulador para os jovens, contudo, é importante ressaltar que trata-se de uma competição
saudável, as quais aconteciam por meio de torneios escolares, sessões literárias, entre outras.
Nas palavras de Rodrigues:

Não falamos da emulação desregrada que alimenta as paixões viciosas,


accende a ira e instiga a vingança, mas daquella emulação que o Ratio
Studiorum chama honesta aemulatio, nobre emulação, que apresente aos
olhos, para seguir-se, não honra vã, mas o sentimento da honra verdadeira
que tem sido em todos os seculos móvel de heróicos accommettimentos
(RODRIGUES, p. 68).

O teatro era outro incentivo muito utilizado pelos jesuítas, meio pelo qual todas as
faculdades e aptidões dos discípulos eram desenvolvidas. Conforme Rodrigues (1917, p.82)

3
Corretor - homem sério e moderado, de fora da Companhia, que punia de acordo com as instruções recebidas
do Prefeito de Estudos.

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“os jesuítas consideravam o theatro uma verdadeira instituição e a scena uma continuação da
aula, da capella... o verdadeiro, o bello e o bom era o que elles se propunham fazer amar,
misturando, já se vê, o util com o agradavel”. O teatro escolar era variado, desde o simples
diálogo, até as tragédias, a comédia, o drama litúrgico e representações de mistérios.
Enfim, inúmeras são as características que marcaram a pedagogia jesuítica. Nossa
intenção não é apresentar todas, mas evidenciar que a educação foi um fator bem cultivado e
administrado nos seus colégios, onde suas normas e determinações eram cuidadosamente
seguidas e respeitadas.

4 CONCLUSÃO

Esperamos que a discussão do método pedagógico dos jesuítas, o Ratio Studiorum,


tenha possibilitado a compreensão de aspectos importantes da educação e organização dos
colégios da Companhia de Jesus. Além de apresentar orientações sobre a metodologia e o
conteúdo a ser trabalhado nos cursos, o documento trata da responsabilidade de cada membro
do colégio.
Mesmo utilizado nos diversos colégios que a Companhia fundou e, portanto, estando
presente em distintas regiões por quase dois séculos, o Ratio nos permite compreender que os
colégios fundados pelos jesuítas não permaneceram estáticos durante esse período. Ao
contrário, o documento possuía certa flexibilidade para adaptações de acordo com as
necessidades. A regra 39 do Provincial, por exemplo, admite “modificação para maior
progresso das letras”, procedimento que necessitava ser comunicado ao geral, uma vez que as
decisões deveriam se aproximar o máximo possível da organização geral dos estudos.
Em suma, podemos considerar que muitas das iniciativas praticadas (ou perseguidas)
nos dias atuais já estavam presentes no Ratio Studiorum. É o caso, por exemplo, do desejo em
formar um sujeito autônomo e até da própria ideia um sistema educacional. Devemos lembrar,
também, que o documento estudado permite perceber que os jesuítas tiveram êxito nas
atividades desempenhadas. Seja na formação do bom cristão, que era uma preocupação
própria da época, como na formação de profissionais capacitados, observamos que tais
objetivos eram plenamente atingidos.

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Enfim, mesmo se tratando de um documento gestado no século XVI, o Ratio
Studiorum merece a atenção de nós educadores ainda hoje. Além de conhecê-lo, devemos
pensá-lo criticamente e a partir dele enriquecer nossa postura educativa.

REFERÊNCIAS

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Edusp, 1999.

COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do


mundo: o Império Português (1540-1599). Tese de doutoramento. Piracicaba: Universidade
Metodista de Piracicaba, 2004.

FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos jesuítas. Rio de Janeiro: Agir, 1952.
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Portugália; Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1938-1950.

OLIVEIRA, P. Miguel de. História eclesiástica de Portugal. 3. ed. Lisboa: União Gráfica,
1958.

RATIO atque Institutio STUDIORUM – Organização e plano de estudos da Companhia de


Jesus. In: FRANCA, Leonel, O método pedagógico dos jesuítas. Rio de Janeiro: Agir, 1952.

RODRIGUES, Francisco. A Companhia de Jesus em Portugal e nas missões – esboço


histórico, superiores, colégios, 1540-1934. 2. Ed. Porto: Apostolado da Imprensa, 1935.

RODRIGUES, Francisco. A formação intellectual do jesuíta – leis e factos. Porto:


Magalhães & Moniz, 1917.

SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. 2. ed. Campinas, SP:
Autores Associados, 2008.

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