Você está na página 1de 5

AOS OBREIROS DO SENHOR

Pedro faz uma exortação aos líderes, indicando como deve ser o seu procedimento perante a igreja
I - OS OFICIAIS DA IGREJA

- Jesus, ao subir aos céus, deixou a Igreja aos cuidados de Seus apóstolos (enviados), que se
dedicaram ao ministério da palavra e da oração - Jo.20:21-23; At.2:42,43; 4:33,34; 6:2,4.
- Com o crescimento da igreja, os apóstolos começaram a estabelecer oficiais na igreja, com o
propósito de atender às necessidades espirituais (presbíteros, anciãos, bispos) e materiais
(diáconos) em meio ao povo de Deus - At. 6:1-4; 14:23; 15:6,22; 16:4; 20:17,28; Tt.1:5.
- As palavras "bispo" ("episkopos"- supervisor, superintendente), "presbítero" ("presbyteros" -
mais idoso), "ancião" e "pastor", no Novo Testamento, são sinônimos, porquanto não havia,
ainda, qualquer noção de hierarquia, salvo a distinção diferenciada que os apóstolos gozavam
por terem sido testemunhas oculares do ministério de Jesus (cfe. At.1:22,23) . Daí porque ter
havido certa resistência ao apostolado de Paulo (cfe. Gl.1).
OBS: "No Novo Testamento não há qualquer traço de governo realizado por um único bispo.(...)
Entre os Pais Apostólicos, Inácio é o único que insiste sobre um episcopado monárquico, mas
mesmo ele nunca afirma que isso fosse de divina instituição - um argumento que teria sido
decisivo se houvesse em disponibilidade para ele usar. Jerônimo, comentando sobre Tt.1:5,
observa que a supremacia de um único bispo surgiu mais por costume do que pela ordenação
real do Senhor, como meio de impedir cismas na Igreja...." (Novo Dicionário da Bíblia, edição em
um único volume, verbete "Bispo", p.220).
- Pedro se dirige aos obreiros em geral, portanto, colocando-se como um deles, de forma que
também aqui não se verifica uma suposta primazia de Pedro sobre a igreja, que é a fonte da
doutrina do papado defendida pela Igreja Romana, que se considera, erroneamente, a legítima
sucessora da igreja apostólica (Cfe. Código de Direito Canônico da Igreja Católica: "can. 204, §
2º. Essa Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, subsiste na Igreja
católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele." ou "... Para
estabelecer a Sua santa Igreja em todo mundo até a consumação dos séculos, Cristo outorgou
ao Colégio dos Doze o ofício de ensinar, reger e santificar. Dentre eles, escolheu a Pedro, sobre
quem, após a profissão de fé, decidiu edificar a Sua Igreja... Jesus Cristo quer que seu povo
cresça sobre a ação do Espírito Santo(...) mediante um governo amoroso, realizado pelos
Apóstolos e seus sucessores - os Bispos - e o sucessor de Pedro como chefe...."- Decreto
Unitatis Redintegratio, nº 2)
- A admoestação de Pedro também nos mostra que a igreja sempre teve uma liderança, ou seja,
a igreja apostólica é uma igreja em que alguns são chamados pelo Senhor para presidir, para
supervisionar. É dom de Deus para a Sua igreja - Rm. 12:8; I Tm.4:14; Tt. 1:5 (o caráter
antibíblico dos ensinos do G-12 que procuram solapar a idéia de uma liderança na igreja)
OBS: Desde a época da lei, o Senhor tem demonstrado a necessidade de o Seu povo ser
conduzido por líderes, ainda que esta liderança não mais se interponha como mediadora entre
Deus e os homens, como acontecia com o sacerdócio levítico. Aliás, este texto judaico a seguir
demonstra que, mesmo entre os judeus, este conceito não mais estava prevalecendo ao tempo
de Jesus. Senão vejamos: "...Uma das mudanças religiosas mais profundas efetuadas pela
sinagoga quase imediatamente após o seu estabelecimento há vinte e cinco séculos atrás foi
levar direta e facilmente o indivíduo a comunhão com Deus. Enquanto antes ele tinha podido
cultuar a Deidade somente através da mediação dos sacerdotes e por meio de sacrifícios de
animais que pudesse trazer ao altar do Templo, agora, na Casa de Orações, o fiel podia
comungar com seu Deus simples e livremente, sem os impedimentos de ritos crassamente
materialísticos(...) É compreensível que, sob o impacto poderoso dessa 'libertação' do
primitivismo religioso, a casta sacerdotal tenha começado a sofrer um declínio na religião
judaica, sendo suplantada antes da destruição do Segundo Templo, por uma grande classe de
mestres rabínicos..." (Enciclopédia Judaica, v.6, p.803). E quem eram estes rabinos, estes
anciãos que lideravam as sinagogas (de onde viria a expressão "ancião" ou "presbítero" na
igreja primitiva) ? Responde o mesmo texto judaico que utilizamos: "...o rabino era simplesmente
um líder religioso tido como espiritualmente e intelectualmente privilegiado: um mestre dedicado
e um guia de Torah para seus irmãos judeus(...) o rabino, ao contrário do sacerdote católico, não
era, na maior parte do tempo, um agente mediador entre os desejos do homem e os favores de
Deus.." (ibidem, p.701-2). Portanto, nenhum mau exercício de liderança, nenhum método de
evangelização, muito menos desvios doutrinários podem anular a verdade bíblica de que, na
Sua Igreja, o Senhor constituiu líderes, de que há um governo do povo de Deus, como se vê em
Rm. 12:8, I Tm.5:17, I Co.12:28, entre outros textos.

II - AS QUALIFICAÇÕES DOS OFICIAIS DA IGREJA

- O Novo Testamento possui algumas passagens que estabelecem as qualidades que devem ter
os oficiais da Igreja - I Tm.3:1-13; Tt.1:5-16; I Pe.5:1-4.
- A liderança na Igreja, para ser legítima, deve ter qualificação espiritual e moral e o
consentimento dos santos, tudo sob a direção do Espírito Santo - At.14:23.
OBS: " A Igreja é propriedade exclusiva de Deus. Ela não pertence aos seus membros, porque
não é um clube feito de associados. A igreja não pertence ao seu pastor, que é um servo como
qualquer outro. Esta igreja pertence a Deus. Ela não pertence a nenhuma facção, seja a dos
que gostam de um culto com esta ou aquela característica. A igreja pertence a Deus" (Israel
Belo de Azevedo. Diário de crescimento cristão, 21/11/2001.
www.uol.com.br/bibliaworld/igreja/diario.htm 22/11/2001).
- São qualidades indispensáveis ao obreiro:
a) ser irrepreensível - o obreiro não pode ter uma conduta que seja alvo de repreensão( I
Tm.3:2,7), o que não significa não ser alvo de crítica, pois sempre haverá quem fale mal do
cristão por seu bom porte, mas a crítica deverá sempre enaltecer o testemunho do obreiro (cfe. I
Pe. 2:19,20).
OBS: "Não há como exagerar a pureza num ministro. Vocês conhecem algum colega infeliz que
apareceu salpicado, e afetuosamente o ajudaram a remover as manchas, mas perceberam que
teria sido melhor se as roupas estivessem alvas sempre. Oh, mantenham-se imaculados do
mundo ! Como podem ser assim estando nós num cenário de tentação e vivendo cercados de
pecados ? Somente se formos preservados por um poder superior. Se vocês hão de andar em
toda a santidade e pureza, como convém aos ministros do evangelho, devem ser diariamente
enchidos do Espírito Santo." (Charles Haddon SPURGEON, Lições aos meus alunos, p.17)
b) ser marido de uma mulher - o obreiro precisa demonstrar sua fidelidade a sua mulher,
demonstrando exercer, em seu lar, a incumbência de um chefe de família, pois, se não tem
cuidado de sua igreja doméstica, como poderá cuidar satisfatoriamente da igreja local ? (cfe. I
Tm.3:5)
OBS: " O Espírito Santo acentua grandemente a liderança do crente no lar, no casamento e na
família ( I Tm.3:2,4,5; Tt.1:6). Isto é: o obreiro deve ser um exemplo para a família de Deus,
especialmente na sua fidelidade à esposa e aos filhos(...) Ele deve ser 'marido de uma só
mulher' (I Tm.3:2). Esta expressão denota que o candidato ao ministério pastoral deve ser um
crente que foi sempre fiel à sua esposa. A tradução literal do grego em I Tm.3:2 ( mias gunaikos,
um genitivo atributivo) é 'homem de uma única mulher', i.e., um marido sempre fiel à sua
esposa. Conseqüentemente, quem na igreja comete graves pecados morais, desqualifica-se
para o exercício pastoral e para qualquer posição de liderança na igreja local (cf. 3:8-12). Tais
pessoas podem ser plenamente perdoadas pela graça de Deus, mas perderam a condição de
servir como exemplo de perseverança inabalável na fé, no amor e na pureza ( I Tm.4:11-16; Tt.
1:9)..." ( Bíblia de Estudo Pentecostal, estudo "Qualificações morais do pastor", p.1867)
"... Deixo esta mensagem aos obreiros do Senhor: de nada vale ganhar o mundo e perder nossa
família. Busquemos, portanto, de todo o coração conquistar ainda mais o apoio dos nossos
familiares. A família é a base da Igreja do Senhor na Terra. Só podemos intensificar a busca de
um reavivamento nas nossas congregações se a nossa base, que é a família, estiver bem
solidificada em Cristo." ( José Wellington Bezerra da COSTA, Como ter um ministério bem
sucedido, CPAD, p.73-4)
c) ser vigilante - o obreiro é chamado de "bispo", ou seja, aquele que supervisiona, que vela
pelos demais. Assim, deve ser uma pessoa que vigie sempre, que, primeiramente, toma cuidado
para que sua vida espiritual seja bem sucedida, sem o que não poderá guiar os demais (cfe. I
Co.10:12)
d) ser sóbrio - o obreiro precisa ter equilíbrio, domínio próprio, autocontrole. Isto é resultado da
unção do Espírito sobre sua vida (cfe. Ec.9:8). Recentemente, o presidente da CGADB, Pr. José
Wellington Bezerra da Costa, disse que é do equilíbrio da nova geração de obreiros de que
depende a manutenção do vigor das Assembléias de Deus em nosso país. Por isso, deve o
obreiro ser moderado.
OBS: "...Infelizmente, em nossos dias, muitos têm perdido o equilíbrio. Uns por falta de
conhecimento da Palavra de Deus, põem-se a ensinar costumes e modos humanos, que nada
tem a ver com a salvação ou santificação; são doutrinas dos homens, que perecem com o
tempo (Cl. 2:22). Outros preferem ignorar totalmente qualquer ensino de santificação e
consagração, preferindo transformar suas igrejas em verdadeiras sociedades entre irmãos, mas
voltados para o lazer e a satisfação da carne. Tais "pastores" e "mestres" são considerados
biblicamente falsos, pois, ao invés de levarem o povo a Cristo, procuram trazer as almas em
torno de si mesmos, procurando explorá-los e seduzi-los ao sectarismo religioso...." (Osmar
José da SILVA. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.6, p.137)
e) ser honesto - a honestidade é indispensável ao obreiro, que deve se credenciar, como
nenhum outro, para habitar no tabernáculo de Deus (cfe. Sl.15).
f) ser hospitaleiro - o obreiro deve ser o primeiro, em sua igreja, congregação ou comunidade, a
oferecer os sacrifícios pacíficos que ainda restam ao povo de Deus, entre os quais se encontra a
hospitalidade - Hb.13:2
OBS: Neste sentido, aliás, feliz é a afirmação a respeito de documento da Igreja Romana, que
vale a pena transcrever: " Levados pelo espírito fraterno, não esqueçam os Presbíteros a
hospitalidade (Hb.13:1,2), pratiquem a beneficência e a comunhão de bens(Hb.13:16), solícitos
sobretudo com os doentes, aflitos, sobrecarregados de trabalhos, solitários, exilados da pátria,
como igualmente com os que sofrem perseguição (Mt.5:10)" ( Decreto "Presbyterorum Ordinis",
nº 8)
g) ser apto para ensinar - o obreiro tem de ser alguém que possa ensinar a Palavra de Deus.
Este é o primeiro serviço do ministro, como se verifica quando voltamos nossos olhos para a
igreja primitiva (At. 6:2). Aliás, cabe a ele fazer a defesa da fé diante dos contradizentes (cfe.
Tt.1:9) e ser alguém que maneje bem a palavra da verdade (cfe. II Tm. 2:15). Infelizmente,
temos observado que muitos têm galgado o ministério sem que possam ensinar a quem quer
que seja.
OBS: " Temos urgente necessidade de estudar, pois o mestre de outros precisa instruir-se. Subir
ao púlpito normalmente despreparado é presunção imperdoável. Nada poderá rebaixar-nos mais
efetivamente, e ao nosso ofício(...) Se não somos instruídos, como podemos instruir outros ? Se
não nos dedicamos a pensar, como podemos levar outros a pensar ? É nosso labor de estudar,
nesse bendito trabalho em que estamos a sós com o Livro diante de nós, que precisamos da
ajuda do Espírito Santo. Com ele está a chave do tesouro celeste, e pode enriquecer-nos além
da nossa imaginação(...) Amados irmãos, não deixem de ir a Ele em busca desta luz, ou ficarão
nas trevas e serão guias cegos de cegos."(Charles Haddon SPURGEON, op.cit., p.5-6)
" Embora todos os mestres não sejam pastores é necessário que todos os pastores sejam,
também, mestres, sob a ótica do apóstolo Paulo, expressa em Efésios 4.11(...) Dentre as muitas
atividades pastorais, o ensino é parte predominante do ministério. É mais do que necessário; é
indispensável, é uma responsabilidade. Não foi em vão que na lista das exigências para os
candidatos ao ministério pastoral, o ensino aparece em destaque..." (José Wellington Bezerra da
COSTA, op.cit., p.95).
h) não dado ao vinho - o obreiro deve ser pessoa que não se deixe dominar por qualquer vício,
seja ele qual for, pois não pode, como qualquer crente, deixar-se dominar por coisa alguma (cfe.
I Co.6:12)
i) não espancador - o obreiro não pode ser pessoa violenta, mas, assim como o Senhor, "ser
manso e humilde de coração"(Mt.11:29). Não se espanca apenas com agressões físicas, mas,
também, com palavras, cuidado que o obreiro sempre deve ter (cfe. II Tm.2:14,16)
j) não cobiçoso de torpe ganância - como veremos infra, esta é uma das grandes tentações que
sobrevêm aos obreiros, que devem se afastar de todo amor ao dinheiro ou da busca do prêmio
da injustiça como fez o profeta Balaão (cfe. I Tm. 6:10-12; Jd.11).
k) não neófito - o obreiro não deve ser uma pessoa inexperiente na carreira cristã, mas alguém
que tenha intimidade com o Senhor e que já tenha desfrutado de profundas experiências com
Ele. Ser neófito, entretanto, não significa ser jovem em idade, pois alguém pode ser jovem e já
ter maturidade espiritual, como são exemplos José, Davi, Josias e Timóteo (cfe. I Tm.4:12).

III - AS INCUMBÊNCIAS DO OFÍCIO PASTORAL


- Pedro, numa síntese que só poderia ser inspirada pelo Espírito Santo, dentro de sua
experiência, apresenta quais as tarefas que devem ser realizadas pelos obreiros, a saber:
a) apascentar o rebanho de Deus - o líder deve ter o dom ministerial de pastor (cfe. Ef.4:11), ou
seja, deve cuidar da igreja como um pastor cuida do rebanho, ou seja, com amor, dedicação e
humildade. Pouco importa o título que se dê ao obreiro, o fato é que ele deve se comportar
como um verdadeiro "pastor". O que faz o pastor ?
a.1) alimenta o rebanho - o pastor de ovelhas alimenta o rebanho com mantimento que não é o
seu. De igual modo, na igreja, o pastor deve trazer o mantimento espiritual, que é a Palavra de
Deus (cfe. Mt.4:4).
OBS: É preocupante verificar que, enquanto estejamos descuidados quanto a este aspecto,
outros, como a Igreja Romana, pareçam estar retornando a esta realidade bíblica, como se vê
neste documento do Concílio Vaticano II, "in verbis": "...O povo de Deus congrega-se antes de
mais nada pela palavra do Deus vivo, palavra que se há de procurar com pleno direito nos lábios
dos sacerdotes.(...) Desta sorte os Presbíteros são devedores de todos, no sentido de terem que
partilhar com todos a verdade do Evangelho, da qual desfrutam no Senhor(...) há de ser sempre
dever deles não ensinar a sua sabedoria, mas o Verbo de Deus, e convidar a todos com
insistência para a conversão e a santidade. A pregação sacerdotal - por vezes extremamente
dificultada nas circunstâncias do mundo de hoje - para mover mais prontamente as mentes dos
ouvintes, não há de expor apenas de modo geral e abstrato a palavra de Deus, mas deverá
aplicar a verdade perene do Evangelho, às circunstâncias concretas da vida.!..."( Decreto
"Presbyterorum Ordinis", nº 4).

a.2) conduz o rebanho pelo caminho - o pastor de ovelhas é quem conduz o rebanho para o
pasto e para os locais de segurança. De igual modo, na igreja, o pastor deve ser o guia dos fiéis,
orientando-os segundo a Palavra de Deus e sendo um exemplo em sua vida - Hb.13:7
a.3) vela pelo rebanho - o pastor de ovelhas vela pelo rebanho, protegendo-o contra os inimigos
naturais e procurando curar os animais enfermos. De igual modo, na igreja, o pastor deve ser
aquele que vela pela saúde espiritual das almas, protegendo-as das heresias, dos falsos
ensinos e cuidando para que os cristãos prossigam na caminhada rumo ao céu - Hb.13:17; At.
20:28-32; Lc.15:4-6.
OBS: " ...Em períodos de perseguição, o ministério do consolo e exortação à constância tomava
o primeiro lugar. Nesses períodos, o pastor deve preocupar-se ternamente em seu rebanho.
Ora, isso não pode ser realizado à parte do amor de Cristo e do amor aos homens, com a
inspiração da parte de seu Santo Espírito..." (R.N. CHAMPLIN, op.cit., v.6, p.163).
Neste sentido, mais uma vez, documento da Igreja Romana: "... Os Presbíteros foram afinal
colocados no meio dos leigos para levarem todos à unidade da caridade, "amando uns aos
outros com amor fraterno, cada qual considerando os outros como mais beneméritos '( Rm.
12:10). É tarefa deles harmonizar de tal forma as diversas mentalidades, que ninguém se sinta
estranho na comunidade dos fiéis. Sejam defensores do Bem comum (...) mas, ao mesmo
tempo, testemunhas corajosas da verdade, para os fiéis não se deixarem arrastar por qualquer
vento de doutrina..." (Decreto "Prebyterorum Ordinis", nº 9).
b) tomar cuidado do rebanho de Deus - o pastor de ovelhas tem cuidado do rebanho, pensa
apenas em seu bem-estar. De igual modo, o pastor deve sempre querer o bem-estar da igreja,
jamais agir egoisticamente, mas movido pelo amor "ágape", pois é um instrumento da Cabeça
da Igreja, que Se entregou pela igreja (Ef.5:25). Deus desaprova, severamente, aqueles que,
como pastores, querem apenas o próprio bem-estar - Ez.34:2-5,10.
OBS: " ...Há neste mundo alguns indivíduos que talvez pudessem receber permissão para
pregar, mas que nunca deveríamos tolerar que se tornassem pastores. São desqualificados
mental ou espiritualmente(...) Não podem levar a sua mente a entrar de coração nos cuidados
pastorais. São capazes de dogmatizar sobre uma doutrina e de polemizar sobre uma
ordenança, mas, entrar, em compassiva empatia com uma experiência alheia está longe deles.
Uma pessoa assim só pode prestar frio consolo às consciências aflitas(...) Conhecemos
ministros dessa laia. Ficam confusos e quase perdem a paciência com os pecadores, lutando à
beira do desânimo..." ( Charles Haddon SPURGEON, op.cit., p.18)
"... Não podemos deixar de lembrar as palavras de Cristo a Pedro: ' alimenta minhas
ovelhas...alimenta os meus cordeiros (Jo.21:15,16). Isso exigia um serviço dedicado, baseado
na disposição espiritual que se origina do amor a Cristo, conforme indica o contexto daquela
passagem. Indica o seguinte: 1. Ensino; 2. Consolo; 3. Proteção; 4. Transmissão do amor de
Cristo ao povo de Deus" (R.N. CHAMPLIN, Novo Testamento interpretado, v.6., p.163)
c) ser voluntário - o obreiro não pode apascentar o rebanho de Deus por necessidade, por
obrigação, mas de coração, fruto de uma vocação divina, fazê-lo com sentimento de estar
servindo a Deus e não a outros interesses. O obreiro deve estar à disposição do Espírito de
Deus e nada fazer por si nem para agrado do rebanho sob sua responsabilidade. - Hb.13:17;
Tt.1:9-14.
d) não ter torpe ganância - o obreiro jamais deve ver na igreja uma fonte de lucro, algo que é
recriminado veementemente pelas Escrituras. Verdade é que, nestes últimos dias, são muitos os
que assim procedem (cfe. II Pe.2:1-3), mas ai daqueles que assim procedem ! Não é, porém,
torpe ganância o pagamento de justo e adequado salário aos obreiros que se dedicam
integralmente à obra de Deus (cfe. I Tm.5:18, Lc.10:7)
e) não ter domínio sobre a herança de Deus - o obreiro deve ser consciente de que é mero
despenseiro do Senhor (cfe. I Co.4:1,2; Tt.1:7) e que, portanto, não deve tratar a igreja como
algo de sua propriedade. Esta é, provavelmente, a maior tentação ao obreiro e que tem causado
enormes estragos na igreja durante sua história. A autoridade do obreiro vem pelo exemplo, não
pelo exercício de um poder que é verdadeira usurpação frente ao Sumo Pastor.
OBS: " Na supervisão e direção de uma igreja é necessário o auxílio do Espírito. No fundo, o
principal motivo da divisão de nossa denominação está na dificuldade proveniente de nosso
governo eclesiástico. Tem-se dito que 'tende à intranqüilidade do ministério'. Sem dúvida, é
muito penoso para quem suspira pelas dignidades oficiais e sente necessidade de ser o
Excelentíssimo Senhor Oráculo, diante de quem até um cachorro fica proibido de latir. Os
incapazes de dirigir algo além de bebês são justamente as pessoas que têm maior sede de
autoridade e, vendo-se mal aquinhoadas dela nestas partes, procuram outras regiões. Se você
não pode governar-se a si próprio, se não é varonil e independente, se não é superior quanto ao
peso moral, se não tem maior dom e graça do que os seus ouvintes comuns, poderá vestir uma
toga e ter a pretensão de ser o líder da igreja - mas numa igreja de governo (...)
neotestamentário(...) Que posição é mais nobre do que a do pai espiritual que não se arroga
autoridade e, todavia, é estimado por todos, e cuja palavra é dita apenas como terno conselho
mas é recebida como tendo força de lei ?(...) Quando Davi se estabeleceu no trono, disse: 'É Ele
quem submete a mim o meu povo'. E assim pode falar todo feliz pastor quando vê tantos irmãos
de temperamentos diversos querendo alegremente estar sob disciplina e aceitar a sua liderança
na obra do Senhor(...) Que sou eu, e que são vocês, para que devamos ser senhores
dominando a herança de Deus ? Algum de nós se atreverá a dizer com o rei francês, "L'état,
c'est moi" - o Estado sou eu - eu sou a pessoa mais importante da minha igreja ? Se for assim,
não é provável que o Espírito Santo faça uso desses instrumentos inadequados. Mas se
conhecemos os nossos lugares e desejamos conservá-los com toda a humildade, Ele nos
ajudará, e as igrejas florescerão sob os nossos cuidados...." (Charles Haddon SPURGEON,
op.cit., p.18-19)
f) visar à recompensa celestial - o obreiro não deve buscar outra satisfação senão o de receber
a cora de glória que lhe é prometida. O obreiro deve, unicamente, querer corresponder ao
chamado do Mestre e jamais se deixar seduzir pelas glórias e riquezas desta vida, ofertas que,
certamente, ser-lhe-ão feitas pelo adversário (cfe. Mt.4:8-10). Podemos resumir a história dos
desvios doutrinários e fracassos na igreja como sendo a história das aceitações de líderes a
estas ofertas.
OBS: "... O fim que visam os Presbíteros por seu ministério e vida, é ocupar-se da glória de
Deus Pai em Cristo. Consiste esta glória em aceitarem os homens a obra de Deus, levada à
perfeição por Cristo, de maneira consciente, livre e grata, levando-a a irradiar-se em toda a sua
vida. Assim os Presbíteros, ao se dedicarem à oração e à adoração, ao pregarem a palavra(...)
contribuem de um lado para aumentar a glória de Deus e por outro para levar os homens a se
adiantarem na vida divina. Todas essas realidades (...) hão de consumar-se no glorioso advento
do mesmo Senhor, quando Ele entregar o Reino a Seu Deus e Pai (cfe. I Co.15:24)...." (Decreto
"Presbyterorum Ordinis", nº2).

Você também pode gostar