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Esse ebook foi escrito por:

Rafa Lund Carla Basílio


(Autor) (Editora e Revisora)
Rafa Lund é bacharel em Educação Carla Basílio é Professional Coaching
Física pela Universidade Federal do Rio Practitioner certificada pela Abracoa-
de Janeiro (UFRJ), Mestre em Ciências ching, formada em Publicidade e Propa-
do Desporto pela UTAD/Portugal, pro- ganda pela UFRJ e fundadora do Guia
prietário da Lund Trainers (RJ) e perso- da Boa Forma.
nal trainer há quase 15 anos.
Atua como Fitness Coach, Consultora
Ele já atuou como assistente de prepa- de Marketing para Personal Trainers e
ração física da Seleção de Vôlei Masculi- Gerente de Marketing de Rafael Lund.
na (2006-2008), participou de pesqui-
sas científicas no Laboratório de Pes- O objetivo dela é transformar uma
quisa Neuromuscular do INTO/RJ linguagem que é difícil para a maioria
(2007 a 2009), publicou estudos cientí- das pessoas em algo fácil de se enten-
ficos num dos melhores periódicos da der, conectando os profissionais da
área e tem dado cursos e palestras em Educação Física e outras áreas da saúde
todo Brasil sobre como reunir Teoria e ao público final. Como comunicadora,
Prática no treinamento. ela quer ser o elo que une as suas partes.

Como personal trainer desde 2006, tem


atendido atrizes - como Deborah Secco,
Flávia Alessandra e Juliana Paes -, exe-
cutivos, atletas de futebol, de vôlei, de
saltos ornamentais, entre outros.
Sobre o Método Lund
Minha missão de vida é atingir o maior número possível de pessoas com prescrição de
qualidade e difundir o conceito de treino baseado em ciência, o #MétodoLund.

Essa é a maior Capacitação Online para Personal Trainers que querem se diferenciar no
mercado, pois une o que há de melhor na Teoria e na Prática.

São 9 semanas de curso, divididos em 8 Módulos que abordam os principais temas rela-
cionados ao treinamento, desde questões anatômicas e fisiológicas até a prescrição de
treinos individualizados de força, funcional e aeróbico para quem pretende aumentar
massa magra ou emagrecer de forma saudável.
Sumário:
Pág 4............ Primeiramente: a raiz de todos os mitos

Pág 5............ Não, as pessoas NÃO precisam agachar da mesma forma!

Pág 8............ Mito #1: Os pés obrigatoriamente precisam estar apontados para
frente

Pág 9............ Mito #2: Agachamento profundo é lesivo

Pág 12............ Mito #3: Toda pessoa tem que conseguir agachar profundo

Pág 15............ Mito #4: Os joelhos não podem passar das pontas dos pés

Pág 17............ Mito #5: É errado inclinar o tronco para frente no agachamento

Pág 20............ Mito #6: Agachamento é o melhor exercício para glúteos e, caso você
faça agachamento, não precisa fazer isolados

Pág 22............ Mito #7: Pessoas com problemas na coluna e/ou no joelho estão proi-
bidas de agachar

Pág 26............ Concluindo (+ Convite Especial!)

Pág 27............ Referências


Primeiramente: a raiz de todos os mitos
Sem dúvida, agachar é um dos movimentos mais comuns da vida diária. E talvez por esse
motivo seja um dos movimentos mais polêmicos no âmbito da Educação Física.

Por um lado, existem os profissionais que superestimam o exercício: para estes, o aga-
chamento é tão completo, que não haveria necessidade de fazer mais nenhum outro
exercício para inferiores. Dessa forma, acabam deixando de usar outras ferramentas em
prol do objetivo do aluno.

Por outro, existem aqueles que evitam usar o agachamento na prescrição dos seus trei-
nos pois têm receio que os alunos se machuquem.

Não tenho dúvida de que ambos os comportamentos estejam pautados em mitos e o


principal deles é que todo mundo deve agachar de igual, sem levar em consideração:

• QUEM está agachando


• COMO essa pessoa agacha
• Qual é o OBJETIVO dela
• E assim por diante

A crença de que existe um único jeito de agachar é a raiz de todos os outros mitos rela-
cionados ao agachamento, tanto em termos de prescrição, como em termos de execu-
ção.

E, a seguir, vou mostrar por que não existe apenas uma forma correta de agachar e quais
são os principais conceitos equivocados sobre o agachamento.

A ideia é que você tire o máximo proveito deste exercício, pois sem dúvida ele tem inú-
meros benefícios!

Pág...4
Não, as pessoas NÃO precisam agachar da
mesma forma!
O grande diferencial do #MétodoLund é a avaliação.

Ao contrário do que fazem muitos profissionais e estabelecimentos fitness, eu avalio os


alunos de forma dinâmica e não usando aquela forma estática antiga.

Faço isso porque a avaliação estática que era feita antigamente muitas vezes não condiz
com a realidade de movimento.

Isso porque, embora quase todas as pessoas apresentem algum desvio postural, se ele
for relevante, vai se acentuar durante os movimentos básicos, que são exatamente os
que eu avalio:

• Dobradiça de quadril
• Empurrar
• Puxar
• E agachar!

Focando nossa atenção no agachamento, é comum as pessoas não terem um bom


padrão de movimento por falta de mobilidade em alguma região específica, como torno-
zelo, quadril ou coluna (região torácica).

Isso eu chamo de necessidade.

No entanto, nem tudo tem relação com encurtamentos e tecidos moles.

Muitos alunos sentem dores e desconfortos na hora de agachar por causa de limitações
ou variações anatômicas.

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A morfologia dos ossos é completamente
diferente entre as pessoas.
Nas imagens seguintes, é possível notar as
diferenças anatômicas nos ossos do quadril,
por exemplo.

Fig 1. Anatomia dos ossos do quadril.

Fig 2. Diferenças anatômicas nos ossos do quadril.

Repare nas particularidades dos quadris desses dois indivíduos.


As diferenças na inclinação e na abertura da fossa do acetábulo farão com que o encaixe
do fêmur não seja igual.

Além disso, pode haver diferenças no colo do fêmur (imagem abaixo), o que de alguma
maneira também pode alterar o posicionamento dele na articulação.

Esses pequenos detalhes, que NÃO podem ser


percebidos apenas olhando o indivíduo, farão
com que cada pessoa tenha uma maneira
única de agachar sem desconforto, seja mu-
dando o afastamento das pernas, o posiciona-
mento dos pés ou ainda na amplitude de mo-
vimento.

Para exemplificar: uma pessoa com hiperlor-


dose poderia ter uma inclinação da pelve à
frente, fazendo com que o contato entre o
fêmur e o acetábulo acontecesse precoce-
mente no agachamento, prejudicando a am-
plitude do movimento.

Fig 3. Diferenças anatômicas no fêmur.


Pág...6
Fig 4. Relação entre desvios posturais e restrição do Arco de Movimento no Quadril.

Isso sem levar em consideração uma lesão ou doença, cada vez mais comum na popula-
ção em geral, que se chama impacto fêmuro-acetabular ou síndrome do impacto do qua-
dril.

Essa síndrome é basicamente o contato anormal entre o fêmur e o acetábulo, que ocorre
durante os movimentos do quadril. Em quadris normais, durante movimentos do dia a
dia ou exercícios comuns, não existe contato agressivo entre o fêmur e o acetábulo.

Mas diante de um quadro de síndrome do impacto, por motivos ainda não compreendi-
dos completamente, é observado uma projeção óssea formada no colo do fêmur ou ao
longo da borda do acetábulo, que implica diretamente em um impacto anormal e encai-
xe imperfeito da articulação do quadril.

Esse impacto passa a acontecer durante os movimentos do dia a dia e o dano se intensi-
fica quando há prática de atividades físicas que envolvam grandes amplitudes de movi-
mento do quadril, como agachamento profundo. Observe a imagem abaixo.

Fig 5. Diferentes tipos de projeção óssea que desencadeiam a síndrome do impacto.

Nesta introdução, utilizei apenas o exemplo da articulação dos ossos do quadril, mas
podemos levar esse mesmo princípio para todas as articulações envolvidas no movimen-
to de agachar.

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Cada articulação tem suas particularidades, especialmente quando olhamos cada pessoa
de uma maneira individualizada. Porém, com pequenos ajustes, podemos colocar o indi-
víduo numa posição mais favorável, por isso vou me ater às questões práticas e dúvidas
mais comuns.

Mas o fato é que identificar o que são LIMITAÇÕES (como alterações ortopédicas) e o
que são NECESSIDADES (como falta de mobilidade em alguma região) é tarefa para um
profissional! E isso sempre deve ser feito de maneira individualizada.

Afinal, somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, de diferentes gêneros, peso,


altura, morfologia óssea, flexibilidade, grau de treinamento e etc. O estranho seria se
todos nós agachássemos exatamente igual!

Veja, abaixo, os mitos que surgiram a partir desse pensamento.

Mito #1: Os pés obrigatoriamente precisam


estar apontados para frente

O primeiro mito tem a ver com o posicionamento dos pés.

A recomendação clássica é que os calcanhares estejam na direção dos ombros com os


pés ligeiramente voltados para fora (1), mas isso é apenas um referencial. Algumas pes-
soas se sentem melhor afastando um pouco mais os pés ou ainda com eles voltados mais
para fora ou para dentro.

Faça o teste e veja qual posicionamento é melhor para você.

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Ainda dentro deste mito, existem algumas especulações. Uma delas é que há maior ação
da musculatura adutora (parte interna da coxa) quando afastamos mais os pés e viramos
a ponta para fora, porém, os estudos não apontam para isso.

Pelo contrário, parece haver uma ligeira maior ativação do glúteo (2; 3), mas particular-
mente não acho que isso seja relevante.

Enquanto não existe um consenso na literatura a respeito do afastamento dos pés no


agachamento (4), eu procuro encontrar o posicionamento em que meu cliente se sente
mais confortável, partindo da base citada logo acima (calcanhar na direção dos ombros
e pés ligeiramente voltados para fora), fazendo pequenos ajustes para achar o melhor
movimento.

De maneira geral, eu uso como ponto de partida o número 2 e vou fazendo pequenos
ajustes para ver em qual posicionamento meu aluno executa melhor o movimento.

Mito #2: Agachamento profundo é lesivo

Como você pôde ver até agora, existem diversas variáveis na execução do agachamen-
to. Uma delas - e talvez a mais polêmica - é a amplitude de movimento.

Nos estudos que medem a amplitude do agachamento pelo ângulo do joelho, existem 3
categorias principais: agachamento parcial (em torno de 40º de flexão do joelho), meio
agachamento (70 a 100º) e agachamento profundo (mais de 100º).

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No entanto, existem outras diversas categorizações de agachamento e eu prefiro usar as
mais práticas e que podem ser visualizadas facilmente como: Parcial, Paralelo ao Solo e
Profundo.

Muitos profissionais costumam afirmar que o agachamento profundo (ou a fundo) é ruim
para os joelhos, e orientam os alunos a não ultrapassarem os 90º.

No entanto, essa informação é disseminada sem nenhuma validação científica ou com


entendimento limitado sobre o contexto. Por exemplo, agachar até 90º de flexão do
joelho não é sempre igual. (vide imagem abaixo)

Fig 6. Agachar até 90º de flexão do joelho varia de acordo com os ângulos das
articulações do tornozelo e do quadril. Logo, agachar até 90º nem sempre
(ou na verdade, quase nunca) é ficar paralelo ao solo.

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As forças de compressão do joelho são bem diferentes dependendo dos ângulos das
articulações adjacentes (tornozelo e quadril), especialmente por um mecanismo chama-
do de co-contração.

Isso significa que o quadríceps não é o único músculo ativado durante o agachamento e
que a ação dos posteriores de coxa, por exemplo, diminui muito as forças de compres-
são da patela contra o fêmur.

Exatamente por esse motivo, a maneira mais natural de agachar é projetando o tronco
um pouco à frente. Isso aumenta a ativação da cadeia posterior, reduzindo a resultante
de compressão fêmuro-patelar.

Vale dizer que uma revisão de artigos científicos (com mais de 160 estudos), feita por
pesquisadores alemães, mostrou alguns dados importantes sobre essa questão da am-
plitude no agachamento (5).

Este estudo foi uma revisão de literatura e o objetivo era questionar o senso comum, que
acreditava que fazer o agachamento com amplitude máxima aumentaria o risco de
lesões nas articulações do joelho e da coluna.

De acordo com análises biomecânicas, em torno de 90º é onde parece haver maior com-
pressão da patela contra o fêmur durante o agachamento, justamente o ângulo em que
a maioria das pessoas para.

E além de não aumentar as forças de compressão, agachar em amplitude maior que 90º
contribui para uma maior distribuição de carga e transferência de força reduzindo as
forças compressivas sobre a patela.

O estudo também analisou as sobrecargas que eram causadas nas articulações do joelho
e da coluna quando eram alterados o peso e a amplitude de movimento no agachamen-
to.

A conclusão foi de que o agachamento completo não aumenta o risco de lesão nestas
articulações, mas o excesso de carga ou técnica inapropriada, sim.

O autor ainda encontrou evidências de que quando comparamos o agachamento pro-


fundo ao parcial, o risco de lesão, em longo prazo, aumenta no agachamento parcial.

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Mito #3: Toda pessoa tem que conseguir
agachar profundo
Se por um lado existem os profissionais que consideram o agachamento profundo lesivo,
por outro, existem os que afirmam que toda pessoa tem obrigação de agachar “até o
chão”, visto que conseguíamos fazer isso na infância.

Porém, algo que esquecem de levar em consideração é que as crianças têm muita mobili-
dade, o que é um ponto muito positivo para execução do agachamento, mas elas
também têm pouca estabilidade.

E para ter um bom desempenho esportivo, precisamos ter um bom grau de mobilidade
sobre estabilidade.

Cabeça em
posição neutra

Manter a
curvatura lombar

Tronco ereto

Joelhos
apontados
Quadris para fora
quebrando
a paralela
Pés na largura
dos ombros
Calcanhar
apoiado no chão

Fig 7. Clássica imagem da criança fazendo o agachamento "perfeito”.

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Além disso, se já sabemos que não existe uma forma padrão de agachar, isso inclui o fato
de não existir uma amplitude padrão.

Inclusive, em um estudo (6) publicado na JSCR, os pesquisadores buscaram avaliar as


diferenças entre realizar o agachamento parcial (90º de flexão dos joelhos, que não
chega a ficar paralelo ao solo) e agachamento completo (140º de flexão dos joelhos).

Vale dizer que a carga foi equalizada de forma relativa para cada um, portanto, a carga
utilizada no agachamento completo foi 20% menor do que no agachamento parcial.

Em seguida, a atividade eletromiográfica (EMG) foi avaliada com peso para 10RM em
cada uma das amplitudes do agachamento.

Veja a imagem a seguir com a atividade do sinal de EMG. A atividade muscular foi similar
com pequenas diferenças para o glúteo, bíceps femural, eretor da espinha e sóleo.

Fig 8. Atividade do sinal de EMG para diferentes musculaturas durante ambos os agachamentos

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Este estudo tem várias implicações, tais como:

• Isso é uma evidência adicional de que um intervalo de movimento par-


cial é melhor do que nenhum agachamento.

• Um agachamento completo exige flexibilidade e amplitude de movi-


mento ideal do tornozelo, joelho e quadril, bem como a coordenação e
força total do corpo.

• Embora amplitude completa de movimento deva ser o objetivo final


desejado, já que devemos treinar pessoas também para situações da
vida (levantar da cadeira de praia, por exemplo), os clientes que não
têm a flexibilidade ou a força para alcançá-lo se beneficiarão do aga-
chamento parcial.

• Um agachamento parcial também deve ser considerado se o cliente não


pode obter um agachamento completo devido a uma disfunção estrutu-
ral ou alteração cirúrgica prévia.

• O agachamento em apenas 90° de flexão do joelho é suficiente para


gerar contração significativa de todos os músculos dos membros infe-
riores.

• Este estudo normalizou a carga para cada uma das amplitudes. Então,
se usar um agachamento parcial, é necessário aumentar a carga para
obter resultados semelhantes.

Por fim, deve-se notar que isso não deve ser usado para substituir completamente um
agachamento completo a menos que o cliente tenha limitações permanentes.

Quando o aluno demonstra disfunções funcionais - músculos curtos, falta de força, falta
de controle neuromuscular, etc. -, eu uso o agachamento parcial como um método TEM-
PORÁRIO para melhorar o controle e a força.

Paralelamente, a flexibilidade e a coordenação devem ser trabalhadas para eventual-


mente alcançar amplitude total. São poucos os casos de alunos que não agacham em
amplitude completa após esse trabalho paralelo para melhorar as disfunções, mas ainda
assim eles existem, e exatamente por isso eu lido com cada pessoa de forma individual.

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Mito #4: Os joelhos não podem passar da
ponta dos pés
Essa definição de que o joelho não pode passar a linha do pé é um tanto quanto ultrapas-
sada, pois o mais importante é que haja distribuição do peso no pé inteiro.

Esse mito é baseado no fato de que maiores graus de flexão do joelho aumentarão a
compressão nos mesmos, o que é verdade, mas com alguns poréns.

Um estudo de pesquisadores da universidade de Memphis (7) nos ajuda a entender


melhor o contexto ao testar a seguinte hipótese:

Fig 9. Restringir ou não esse movimento do joelho passar a ponta dos pés.

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Nesse estudo, a condição de restrição (B) realmente gerou menor nível de compressão
no joelho, mas aumentou significativamente o trabalho para os músculos do quadril, o
que é potencialmente bem mais lesivo para coluna.

Isso acontece porque o joelho é absolutamente capaz de suportar as forças de compres-


são geradas por um agachamento sem restrição (A) (8).

Achados muito similares foram encontrados em outro estudo (9), no entanto, devemos
prestar atenção ao seguinte ponto: quando o agachamento é bem executado, não há
necessidade de se preocupar com os joelhos ultrapassarem a ponta dos pés, porém, o
indivíduo que apresenta um nível reduzido de mobilidade no tornozelo, não conseguirá
executar corretamente o movimento e consequente irá projetar o tronco - e não o joelho
- mais à frente (10), impondo maior sobrecarga à coluna.

Percebam que o estudo utilizou um agachamento tradicional, onde há uma projeção do


tronco à frente e consequentemente coativação da musculatura da cadeia posterior
(como visto no tópico anterior).

Caso não haja esse movimento natural, o estresse na articulação do joelho é bem maior,
como quando se utiliza um smith colocando os pés à frente, mantendo um ângulo de 90º
no joelho e no quadril.

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Mito #5: É errado inclinar o tronco para
frente no agachamento
No mito anterior, de alguma maneira já começamos a abordar esse assunto, mostrando
que quanto maior a inclinação do tronco à frente, maior a ação dos músculos da cadeia
posterior e exigência da coluna. No entanto, criar pequenas adaptações pode ser neces-
sário para individualizar o treinamento.

Além disso, existe um ponto bem importante que precisa ser tratado referente às dife-
renças antropométricas.

Vamos tomar como exemplo o tamanho do fêmur (osso da coxa). Uma pessoa com
pernas longas e tronco curto fatalmente terá uma maior projeção do tronco como
mostra a imagem abaixo.

Fig 11. Relação entre a proporção tronco X fêmur na forma de agachar.

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Um exemplo real vai deixar isso muito mais claro.

As duas mulheres da imagem a seguir, retirada do blog do Bret Contreas, têm pratica-
mente a mesma estatura, mas nitidamente diferem quanto a proporção do tronco e
fêmur.

Fig 12. Mulheres com praticamente a mesma altura, mas tamanhos de tronco e fêmur diferentes.

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Agora olhe abaixo as duas agachando e me diga: quem você acha que apresenta o
melhor padrão? A loira quase não perde a paralela e o tronco já está bem projetado à
frente.

Fig 13 e 14. Como a relação tronco X fêmur repercute no agachamento de pessoas reais.

Isso significa que ela não pode agachar? Ou significa apenas que ela terá um padrão de
movimento diferente da morena?

Entenda: não existe verdade absoluta em termos de treinamento. Enquanto os profissio-


nais não olharem para o sujeito que está na sua frente - e enquanto esses sujeitos não
pararem de buscar respostas prontas - teremos uma educação física baseada em mitos,
não em Ciência usada com bom-senso.

Treino tem que ser individual e as características individuais sempre devem ser levadas
em consideração no planejamento do programa de treinamento.

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Mito #6: Agachamento é o melhor exercício
para glúteos e, caso você faça agachamento,
não precisa fazer isolados
A escolha dos exercícios é um ponto muito importante para desenvolver um programa
de treinamento, onde os objetivos e necessidades de cada pessoa precisam ser levados
em consideração.

O agachamento pode até ser considerado um exercício que mobiliza todo membro infe-
rior, mas sua ativação muscular não é igual em todas as pessoas nem em diferentes
grupos musculares.

Um grande exemplo já citado anteriormente é de um estudo conduzido em conjunto por


pesquisadores brasileiros e americanos onde foi avaliada a atividade muscular de dife-
rentes grupos musculares no agachamento parcial e profundo.

Fig 15. Atividade do sinal de EMG


para diferentes musculaturas durante
agachamento parcial e profundo,
com foco na atividade do Glúteo
Máximo (GM).

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Repare na imagem como a ação do glúteo é bem menor do que dos músculos do quadrí-
ceps como Vasto Lateral (VL), Vasto Medial (VM) e Reto Femoral (RF).

Isso não significa que o glúteo não terá hipertrofia para quem realiza agachamento, sig-
nifica apenas que apostar todas as suas fichas em um único exercício pode não trazer o
resultado esperado e você ainda ter desbalanços musculares.

Além disso, algumas pessoas apresentam padrão de recrutamento motor com baixa
ativação de glúteo, fora aquelas que realmente não ativam (situação nomeada de Amné-
sia Glútea por Stuart McGill).

Essas diferenças individuais, tanto no que diz respeito a capacidade de ativação quanto
à forma de agachar, podem ser o motivo de disparidade entre os estudos que avaliam a
ativação glútea no agachamento.

Logo não recomendo apenas agachar quando o objetivo é melhora na região glútea.

Partindo do princípio que o aluno não apresentou nenhum déficit importante e que tem
bom padrão de todos os movimentos básicos, eu NUNCA iria privilegiar apenas um
padrão durante o seu programa.

É fundamental variar o padrão para assegurar hipertrofia de todas as fibras.

E isso ficou bastante claro no estudo da universidade de São Paulo quando os pesquisa-
dores comparam fazer apenas agachamento ou variar os exercícios num programa de
treinamento e acharam resultados melhores para o grupo que realizou diversos exercí-
cios para membros inferiores (11).

Por isso, sempre incluo exercícios como Agachamento Unilateral, Passada, Levantamen-
to Terra, Hip Thrust e em menor escala Glúteo com caneleira ou Máquina e qualquer
outro isolado.
Não é necessário fazer todos esses exercícios no mesmo treino! Mas é importante enten-
der que exercícios são ferramentas e eu uso todas as ferramentas disponíveis em prol do
objetivo do meu aluno.

Isso inclui sim os exercícios isolados, como glúteo com caneleira ou no Cross.

Particularmente, não gosto dessa postura taxativa de "pode ou não pode".

Acredito que o grande problema esteja em depositar todas as esperanças em um único


exercício e/ou priorizar exercícios isolados quando não há nada que justifique isso.

De forma geral, os isolados vão entrar de forma complementar no programa dos meus
alunos.

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Mito #7: Pessoas com problemas na coluna
e/ou no joelho estão proibidas de agachar
O agachamento é um exercício que pode ser usado tanto para quem busca desempenho
atlético, como para quem quer apenas melhorar sua composição corporal, mas também
pode e deve ser usado para prevenir e tratar lesões.

Entendendo as questões individuais e associando à biomecânica, é possível tirar o


máximo de proveito do exercício. Treinadores e alunos devem estar atentos às questões
biomecânicas (aqui mencionadas), bem como às diferenças e variações de agachamento
e escolher aquelas que melhor se adaptam aos objetivos e necessidades do treinamento
(12).

Tentando trazer um pouco da minha prática, caso o aluno sinta dor no joelho por algum
motivo, posso tentar reduzir a flexão do joelho, mas sabendo que haverá maior ação dos
músculos do quadril e exigência da coluna, e o aluno precisa estar preparado pra isso.

O contrário também é uma verdade e o post do grande Tony Comella ajuda bastante a
entender essa dinâmica de adaptar o treino para a realidade do cliente:

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Stiff Leg Deadlift Romanian Deadlift

Pág...23
Convencional Deadlift Trap Bar Deadlift

Sumo Deadlift Low Bar Squat


(Tronco fica um pouco mais inclinado à frente.
Comum no Powerlifting)

High Bar Squat Front Squat


(Tronco menos inclinado à frente)

Pág...24
Overhead Squat
No entanto, em alguns casos, vejo necessário a intervenção de outros profissionais. Num
primeiro momento, quando o aluno sente dor persistente e não conseguimos resolver
com os pequenos ajustes citados, eu sugiro que vá a um ortopedista para avaliar a parte
ortopédica.

Assim é possível identificar se há alguma lesão prévia ou comprometimento que justifi-


que um tratamento não conservador.

Outra possibilidade é procurar um fisioterapeuta para tratar de algo que ultrapassa o


conhecimento do profissional de Educação Física.

O grande problema é que nas áreas da ciência parece haver uma rixa entre Profissionais
da Educação Física, Fisioterapeutas e Ortopedistas. Isso porque, nós que trabalhamos
com movimento, achamos que o Ortopedista não entende de biomecânica e ele acha
que nós não entendemos de doenças e não podemos dar diagnóstico.

Mas na verdade, quando trabalhamos em equipe, só quem sai ganhando é o cliente.

Minha escola é a Seleção Brasileira de vôlei masculina, onde eu tive contato com brilhan-
tes profissionais que faziam essa interação entre as disciplinas de maneira primorosa.

Começar minha vida profissional com alguns dos melhores profissionais que conheço na
Ortopedia, Fisioterapia, Preparação Física, Parte técnica e Nutrição, me faz enxergar a
importância de cada um deles no processo!

Então, se o seu problema for persistente e um bom profissional de Educação Física não
estiver conseguindo te ajudar, procure pelo auxílio de outros profissionais da saúde.
Apenas não deixe de se exercitar, pois esse é o melhor "remédio" para a maioria dos pro-
blemas. O que muda é a dose.

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Concluindo (+ Convite Especial!)
Como você pode ver, para um único padrão de movimento existem diversos mitos
envolvidos e, infelizmente, muitas vezes são os próprios profissionais da área que perpe-
tuam esses mitos, seja por falta de informação, seja por não saberem interpretar correta-
mente os estudos e adaptá-los à realidade dos clientes.

Tudo isso acaba dificultando a execução correta por parte das pessoas comuns, que
contam com a ajuda desses profissionais não só para extraírem o melhor dos exercícios,
mas também para corrigirem e/ou evitarem disfunções, dores e lesões.

Observando tudo isso e buscando ajudar esse público de maneira mais efetiva, criei essa
lista VIP em que você está fazendo parte.

Então, para não perder nenhum dos conteúdos exclusivos - sejam ebooks como esse,
textos ou vídeos - fique atent@ à sua caixa de entrada e adicione o email
suporte@rafalund.com.br a sua lista de contatos.

Assim você não corre o risco de que algum material caia no SPAM!

Nos vemos em breve.

Forte abraço,
Rafa Lund.

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REFERÊNCIAS:
(1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20182386

(2) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10188748

(3) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19130646

(4) https://bmcsportsscimedrehabil.biomedcentral.com/arti-
cles/10.1186/s13102-018-0103-7

(5) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23821469

(6) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28538321

(7) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14636100

(8) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20182386

(9) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22990570

(10) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28301442

(11) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24832974

(12) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22505136

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