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RESUMO
Com o intento de investigar manifestações de caráter político no Brasil na primeira metade do
século XX, especificamente a Ação Integralista Brasileira (AIB), o presente artigo busca traçar o
período de atuação legal da AIB, nos aspectos de sua campanha política e estrutura
organizacional enquanto movimento político fundado em 1932, e que no decorrer de sua
campanha ideológica transformou-se em partido político visando a disputa às eleições
presidenciais com a candidatura de Plínio Salgado, fundador e líder da organização. E, levantar
alguns apontamentos referentes ao projeto político e a formação dos quadros de militância da
organização, devido a necessidade de compreensão da proposta e funcionamento da organização,
que se transformou no primeiro partido de massas a atuar em todo o território nacional..
As origens da Ação Integralista Brasileira (AIB) remontam ao jornal "A Razão", onde
Plínio Salgado era jornalista, e a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), centro de reflexão
política e sociológica criado por Salgado em março de 1932, visando congregar intelectuais e
lideranças políticas contrárias aos modelos de cunho liberal ou socialista.
A primeira reunião para a organização da SEP foi realizada em fevereiro de 1932, na
sede do "A Razão" oportunidade em que foi discutida e aprovada a carta de princípios da
organização, sob a forma de nove postulados, redigidos por Salgado.
A SEP chegou a contar com 148 membros, entre eles antigos companheiros de
militância do PRP, intelectuais com quem estabelecera contato durante a sua carreira como
escritor e jornalista, estudantes da faculdade de direito de São Paulo3 e elementos da Ação
Imperial Patrionovista.
1
Artigo elaborado a partir das análises referentes à pesquisa “O projeto político integralista e as relações de
gênero., financiada pelo CNPq/PIBIC.
2
Aluno da Licenciatura em Ciências Sociais (e-mail: jrb@marilia.unesp.br), tendo como orientadora a Profª.
Drª. Lídia Vianna Possas, na Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP, CEP; 17.525-900, Marília, SP-Brasil,
e-mail: possas@marilia.unesp.br.
3
A esta assembléia compareceu mais de uma centena de pessoas, inclusive "aquele grupo magnífico da
Faculdade de Direito, no qual se destacavam Alfredo Buzaid, Antonio de Toledo Piza, Rui Arruda, Pimenta de
Castro, Alpinolo Lopes Casali, Angelo Simões de Arruda, Roland Corbisier, Francisco de Almeida Prado, Leães
Sobrinho, Silva Bruno, Lauro Escorel, Almeida Salles, [...]os ginasianos Ignacio e Goffredo da Silva Telles,
Azib Buzaid e outros. "(SALGADO, 1959, v. 1, p. 143).
4
"Em 6 de maio de 1932, propus que se criasse uma sessão subordinada e paralela à Sociedade de Estudos
Políticos, a qual teria por tarefa uma obra educativa de mais larga amplitude, destinada a formar a consciência
popular no trato dos problemas brasileiros e sob a inspiração dos princípios filosóficos e o programa político da
nossa agremiação. Esta sessão foi criada pelos votos da assembléia, com o nome de Ação Integralista Brasileira".
(SALGADO, 1959, v. 1, p. 145).
5
Anexo I: Miguel Reale e a AIB.
6
Anexo II: Gustavo Barroso e a AIB.
A bandeira do Sigma
O primeiro desfile integralista foi em abril de 33, com a participação de cerca de quarenta
membros que percorriam as ruas de São Paulo com uniforme de camisas verdes e a braçadeira
com a letra grega maiúscula "Sigma": Com a qual os primeiros cristãos da Grécia indicavam a
7
SALGADO, P. Manifesto da ação integralista Brasileira. 7 de outubro de 1932. p. 1.
8
Anexo III: Hélder Câmara e a AIB.
palavra Deus. Com ela pretendiam passar a idéia de “somatória” lembrando que o movimento,
integrava todas as forças sociais do país na suprema expressão de nacionalidade.9
Os intelectuais da AIB, objetivando a divulgação das idéias do movimento formaram
as "bandeiras integralistas" percorrendo várias regiões do país em sua campanha doutrinária.
A "bandeira" em direção ao norte do país foi liderada por Salgado e Gustavo
Barroso, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, realizando conferências e
debates e percorrendo por dois meses o litoral do nordeste:
[...] em outubro de 1933 a imprensa maranhense noticiou que Gustavo Barroso,
escritor cearense e liderança nacional da AIB chegaria ao Maranhão em campanha
de propaganda do integralismo.
Visando incrementar o processo de expansão do movimento pelo Brasil, a direção
central da AIB organiza, no segundo semestre de 1933, expedição incumbida de
percorrer as capitais da região Norte e Nordeste do país, pois em alguns Estados,
como o Maranhão, havia necessidade de orientar os militantes regionais e, por meio
das lideranças nacionais, legitimar os Núcleos Provinciais instalados naqueles
Estados. Devido a sua semelhança com uma peregrinação, a expedição foi
denominada, na época, de bandeira ou caravana integralista.[...] Integraram a
caravana: Miguel Reale, Loureiro Junior, Herbert Dutra e Gustavo Barroso, que,
principalmente a sua origem nordestina, aliada a sua condição de intelectual
nacionalmente respeitado, é escolhido para liderar a caravana [...]. 10
Em direção ao sul do país a "bandeira" foi chefiada por Miguel Reale, inaugurando
núcleos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No final de fevereiro de 34 a AIB realizou o primeiro Congresso em Vitória no
Espírito Santo, sendo aprovado seus estatutos11. Nessa oportunidade Plínio Salgado foi eleito
9
CADERNOS Nossa História.Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro, 1995. p.23.
10
CALDEIRA, João Ricardo de Castro. In: Integralismo e política regional: a ação integralista no Maranhão.
São Paulo: Annablume, 1999. p. 31-32.
11
Anexo IV: Estatutos do I Congresso da AIB.
12
BRANDI; SOARES. Plínio Salgado. In: BELOCH,Israel; ABREU,Alzira Alves de.( Orgs.) Dicionário
Histórico-Biográfico Basileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1984. p.30-54.
13
Anexo V: Estatutos do II Congresso da AIB.
14
BRANDI;SOARES. op. cit., p.30-55.
15
O Conselho Supremo da AIB era formado pelas lideranças que ocupavam os principais cargos na hierarquia
organizacional do movimento, como os chefes das arquiprovínciais e das secretárias nacionais. E ao analisarmos
uma documentação mais específica da organização administrativa da AIB, no Acervo Plínio Salgado, localizado
no Arquivo Público e Histórico do município de Rio Claro, constatamos que dos vinte e um nomes que
constavam na relação dos membros do Conselho Supremo, a Dra. Irene de Freitas Henriques, Chefe da
Secretária Nacional de Arregimentação Feminina e dos Plinianos (SNAFP), era a única blusa-verde que atuava
neste órgão. Fonte: Arquivo Público e Histórico Municipal de Rio Claro.
16
No documento referente aos membros que compunham a Câmara dos Quarenta constatamos que o órgão era
composto apenas por homens. Fonte: Arquivo Público e Histórico Municipal de Rio Claro, [s-d].
destacavam por seus méritos "morais e intelectuais" e a Câmara dos 40017 formada por
integrantes da cúpula da organização:
A estrutura organizacional da AIB era reflexo de sua ideologia e anunciava "o
futuro" Estado Integral. Podemos caracterizá-la como uma estrutural burocratizada e
rigidamente hierarquizada (multiplicidade de órgãos, funções e papéis)"
verticalizada ( demarcando os níveis nacional, regional e municipal) e centralizada
na figura do chefe. A Câmara dos Quarenta, que vemos no organograma, era uma
embrião de um sistema corporativo.18
17
No documento referente aos membros da Câmara dos Quatrocentos constatamos o nome de apenas seis blusas
verdes: D. Santa Guerra – professora, Nilza Peres – universitária, D. Caetano Spinelli – viuva, Marília da Rocha
Vaz Bernardelli, D. Adelina da Silva Prado, D. Dulce Thompson. Fonte: Arquivo Público e Histórico Municipal
de Rio Claro, [s-d].
18
Cadernos Nossa História. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.Rio de janeiro, 1995. p.32.
19
BRANDI;SOARES. op. cit., p. 30-57.
20
SALGADO, P. Manifesto da Ação Integralista Brasileira.7 de outubro de 1932. p. 3-4.
21
SALGADO, P. A quarta humanidade. In: Obras completas. São Paulo: Américas, 1955. p.102.
22
"É o ritmo do século. Não podemos fugir dele. Mas - e isto é o mais importante para nós - enquanto os demais
povos se movimentam no sentido do Estado Forte nós, vamos mais longe, porque desejamos o Estado Integral,
que contém tôdas as fôrças e representa o equilíbrio perfeito.
O Estado Forte significa ditadura, sinônimo de Estado totalitário. O Estado Integral é uma Democracia
Orgânica. A ordem garantindo a liberdade." SALGADO, P. A quarta humanidade. In: Obras completas. São
Paulo: Américas, 1955. p.119.
A Nação Brasileira deve ser organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica,
próspera e feliz. Para isso precisamos que todos os brasileiros estejam unidos. [...]
Por isso, a Nação precisa de organizar-se em classes profissionais. Cada brasileiro se
inscreverá na sua classe. Essas classes elegem, cada uma, de per si, seus
representantes nas Câmaras Municipais, nos Congressos Províncias e nos
Congressos Gerais. Os eleitos para as Câmaras Municipais elegem seu presidente e
prefeito. Os eleitos para os Congressos Provinciais elegem o governador da
Província. Os eleitos para os Congressos Nacionais elegem o Chefe da Nação,
perante o qual respondem os Ministros de sua livre escolha.23
23
SALGADO, P. Manifesto da ação integralista brasileira.7 de outubro de 1932. p.2.
24
SALGADO, P. Integralismo perante a nação. In: ______. Obras completas. São Paulo: Américas, 1955. p.201.
25
SALGADO, P. O que é o Integralismo. In: Obras Completas. São Paulo: Américas, 1955. p.21-22.
26
Ibidem.
27
SALGADO, P. O que é o Integralismo. In: Obras Completas. São Paulo: Américas, 1955.p.27.
28
"O movimento integralista é um movimento de cultura que abrange: 1.) - Uma revisão geral das filosofias
dominantes até o comêço dêste século e, consequentemente, das ciências sociais, econômicas e políticas."
A formação das elites dirigentes, para Salgado, era propósito da primeira fase da
campanha integralista. "Ela deve firmar certos princípios que servirão de base a nossa
consideração do mundo e dos fenômenos sociais". Para a formação da nova consciência das
massas populares a mobilização de pensadores que formariam a cúpula do movimento era de
fundamental importância para o êxito da campanha.
A AIB, no que tange a arregimentação de seus quadros de militantes, se processa num
duplo sentido, procurando agremiar e disciplinar suas legiões e formando também as elites
dirigentes. Para a arregimentação e disciplina promovia-se a doutrinação, voltada para o
esclarecimento dos problemas sociais e políticos do país sob a ótica integralista. A formação
das elites era feita através dos estudos integralistas, realizado pelo Departamento de Estudo e
supervisionado pelo Departamento Nacional de Doutrina, do qual Miguel Reale era chefe:
Os técnicos para os Departamentos de Estudos e os doutrinadores para a propaganda
nacional da AIB eram formados através dos Estudos Integralistas, enquanto as elites
eram formadas através dos Altos Estudos. Estes últimos visavam apenas a cultura
superior das elites integralistas ou habilitação para funções que o Chefe Nacional
lhes reservava.30
SALGADO, P. A quarta humanidade. In: Obras completas. São Paulo: Américas, 1955. p.83
29
SALGADO, P. Despertemos a nação. Iin: ______. Obras completas. São Paulo: Américas, 1955. p. 149.
30
CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro.Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil
(1932-1937), Bauru, São Paulo: EDUSC, 1999. p.48.
Os cursos de Estudos Integralistas, com duração regular de oito meses, eram compostos
por seis disciplinas: História Social Brasileira, Introdução à Sociologia Geral, Noções de
Direito Corporativo, História das Doutrinas Econômicas, Noções Gerais de Organizações
Políticas e História Militar Brasileira.
Nos cursos de Altos Estudos, com duração de dez meses, compostos por cinco
disciplinas, estudava-se Teoria do Estado, Organização Nacional Corporativa, História do
Estado, Filosofia Social e Filosofia da Pedagogia.31
A arregimentação, a disciplina de novos militantes e a formação daqueles que iriam
exercer funções de liderança do movimento era o objetivo da doutrina integralista, que visava
a consolidação e a expansão da AIB através da educação integral para o homem integral.32
Os postulados da “doutrina” divulgados nos cursos de formação dos militantes eram
também vinculados através da imprensa integralista, e dos livros publicados pelos principais
intelectuais do movimento. Visando a propaganda ideológica da AIB foi criado, em 1935, um
consórcio jornalístico denominado; “Sigma – Jornais Reunidos”, subordinado à Secretaria
Nacional de Propaganda, que englobava um conjunto de 88 jornais que cobriam todo o
território nacional e também a Secretaria Nacional de Imprensa (SNI) e as Comissões de
Imprensa. O livro publicava as idéias produzidas pelos teóricos do partido e o jornal as
popularizava:
Também nesse período floresceu a imprensa integralista. Esta já era um importante
instrumento de divulgação da doutrina visto que inicialmente, até por uma questão
de estratégia, o movimento apresentava-se com um caráter predominantemente
cultural e cívico. Os jornais O Monitor Integralista, A Ofensiva, A Ação, O
Integralista e a revista Anauê são exemplos de suas publicações.33
As idéias divulgadas pelos intelectuais da AIB eram também veiculadas através de uma
rede de escolas, criadas e financiadas pelo movimento, localizadas nos núcleos integralistas
de âmbito municipal ou distrital, e eram supervisionados pela Divisão de Educação da
Secretária Nacional de Arregimentação Feminina e dos Plinianos (S.N.AF.P).
Os jornais da AIB publicavam informações referentes à implantação e o funcionamento
das escolas. Segundo a imprensa integralista em 1937: “Todas as Províncias mantém nos seus
31
CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil
(1932-1937). Bauru, SP: EDUSC, 1999. p.48-49.
32
"Assim, de acordo com o integralismo, a educação integral para o homem integral precisava:
evitar a unilateriedade dos sistemas educacionais predominantemente esportivos, científicos, etc. Ela não pode
se despreocupar de nenhuma de suas facetas; deve ser física, científica, artística econômica, social, política e
religiosa.” PAUPÉRRIO, M. ; MOREIRA,J.R. As bases da Educação Integral. Introdução ao Integralismo.p.
149. In: CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no
Brasil (1932-1937).Bauru, SP: EDUSC, 1999. p. 47.
33
Cadernos Nossa História, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro, 1995, p. 36.
Considerações finais
34
As realizações as AIB. Monitor integralista, n.22, v.1, p.8, 7 de outubro de 1937. In: CAVALARI, Rosa Maria
Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937).Bauru, SP:
EDUSC, 1999. p. 72.
35
Monitor Integralista. n.22, v.1, p.8, 7 de outubro de 1937. In: CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo:
ideologia e organização de um partido de massa no Brasil (1932-1937), Bauru, SP: EDUSC, 1999. p. 73.
nacionalista da AIB para o Brasil na década de 30. O “Estado Integral” era o agente
modificador da organização social através de um modelo corporativo e extremista, defendido
nas publicações de um partido político com pretensões a conquista da hegemonia política para
implantar seu projeto de Estado.
Referências
BRANDI, Paulo. Plínio Salgado. In: BELOCH, Israel; ABREU, Alzira Alves de (Org.)
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
CARONE, Edgard. Revoluções do Brasil contemporâneo. São Paulo: São Paulo, 1965.
CHAUÍ, Marilena. Apontamentos para uma crítica da razão integralista. In: ______.
Ideologia e mobilização popular. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
CHASIN, José. O integralismo de Plínio Salgado. São Paulo: Ciências Humanas, 1978.
COUTINHO, A. Gustavo Barroso. In: BELOCH, Israel; ABREU, Alzira Alves de (Org.).
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1995.
MICELLI, Ségio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil. São Paulo: DIFEL, 1979.
Obras Integralistas
ENCICLOPÉDIA DO INTEGRALISMO. Rio de Janeiro: Clássica Brasileira, 1959, V. IX.
SALGADO, Plínio. A doutrina do sigma. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1935.
________. A mulher no século XX. In: ______. Obras completas. São Paulo: Américas,
1955.
________. O integralismo perante a nação. In: ______. Obras Completas. São Paulo:
Américas, 1955.