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Introdução

No contexto colonial de Moçambique, o associativismo emergiu como uma ferramenta crucial


para a articulação política e social da população nativa. Este trabalho tem como objetivo analisar
o surgimento, os objetivos e a influência do associativismo, destacando o papel do Grémio
Africano e do Brado Africano na construção da consciência nacionalista.

Neste contexto, o associativismo emergiu como uma forma de resistência e mobilização contra a
opressão colonial. Duas organizações destacam-se nesse contexto: o Grémio Africano e o Brado
Africano. Fundado em 1918, o Grémio Africano foi uma das primeiras organizações formais de
africanos nativos em Moçambique, concentrando-se na defesa dos interesses sociais e
económicos da população africana. Por sua vez, o Brado Africano, estabelecido em 1932,
assumiu uma postura mais nacionalista, buscando a emancipação política e social dos
moçambicanos e enfrentando a repressão colonial.

Portanto, examinar o associativismo durante o período colonial em Moçambique é essencial para


compreender as raízes do nacionalismo moçambicano e os esforços para superar as injustiças e
desigualdades impostas pelo domínio colonial. (Rocha, 2002).

1.1. Objectivo geral


Falar do Associativismo em Moçambique no período colonial (o Grémio Africano e o Brado
Africano)

1.1.2. Objectivos específicos


Apresentar o contexto histórico do surgimento do associativismo;
Descrever os objectivos perseguidos pelo Associativismo em Moçambique no período em
causa;
Analisar a influência do associativismo na construção da consciência nacionalista.

1.1.3. Metodologia
Para a elaboração deste trabalho foi necessário o uso de manuais bibliográfico ligado ao tema e
Internet.
1. Contexto Histórico do Surgimento do Associativismo

O associativismo em Moçambique teve suas raízes no final do século XIX, coincidindo com a
expansão colonial portuguesa na região. Segundo Smith (2015), a política colonial portuguesa
promoveu uma divisão entre africanos e europeus, incentivando a formação de organizações
associativas entre os nativos como forma de controle e assimilação cultural.

De acordo com Silva (2018), o contexto internacional também influenciou o surgimento do


associativismo, com a disseminação de ideias nacionalistas e pan-africanistas vindas de outras
partes do continente africano e do mundo.

2. Objetivos Perseguidos pelo Associativismo em Moçambique:

O associativismo em Moçambique durante o período colonial tinha uma variedade de objetivos,


incluindo a defesa dos direitos dos africanos, o acesso à educação e saúde, e a luta contra a
opressão colonial. Segundo Matos (2020), o Grémio Africano, fundado em 1918, tinha como
objetivo principal promover a solidariedade entre os africanos e buscar melhorias nas condições
de vida.

2.1.Objectivos perseguidos pelo Associativismo em Moçambique no período em causa

No período em causa, que presumo referir-se ao momento actual em 2024, os objectivos


perseguidos pelo associativismo em Moçambique podem incluir uma série de metas e aspirações,
muitas das quais são consistentes com os princípios gerais do associativismo em qualquer
contexto. HANLON, 1997.
Aqui estão alguns dos principais objectivos que podem ser perseguidos pelo associativismo em
Moçambique:

 Fortalecimento da Sociedade Civil: As associações são fundamentais para fortalecer a


sociedade civil, permitindo que os cidadãos se organizem para abordar questões comuns,
defender interesses compartilhados e participar activamente na vida democrática do país.
 Empoderamento das Comunidades: O associativismo pode ser uma ferramenta
poderosa para capacitar comunidades locais, permitindo que se organizem e ajam
colectivamente para resolver problemas locais, promover o desenvolvimento sustentável
e melhorar a qualidade de vida.
 Advocacia e Representação: As associações podem desempenhar um papel crucial na
advocacia e representação dos interesses de grupos específicos, tais como agricultores,
trabalhadores, mulheres, jovens, pessoas com deficiência, etc. Isso pode incluir a defesa
por políticas públicas favoráveis, direitos humanos, justiça social e equidade.
 Desenvolvimento Económico e Empresarial: O associativismo também pode ser uma
estratégia para promover o desenvolvimento económico e empresarial, especialmente
para pequenas e médias empresas. As associações empresariais podem oferecer suporte
mútuo, facilitar o acesso a recursos, promover a colaboração entre empresas e representar
os interesses do sector empresarial perante o governo e outras partes interessadas.
 Fortalecimento da Cultura e Identidade: Em um país diversificado como
Moçambique, as associações também desempenham um papel importante na preservação
e promoção da cultura local, bem como na promoção da identidade nacional e no
fortalecimento do tecido social.
 Desenvolvimento Rural: Dada a importância do sector agrícola em Moçambique, as
associações agrícolas desempenham um papel vital no desenvolvimento rural,
proporcionando apoio aos agricultores, promovendo melhores práticas agrícolas,
facilitando o acesso a mercados e tecnologia, e defendendo políticas agrícolas favoráveis.
 Desenvolvimento Sustentável: O associativismo pode ser uma ferramenta chave para
promover o desenvolvimento sustentável em Moçambique, abordando questões como
conservação ambiental, gestão de recursos naturais, energia renovável e resiliência às
mudanças climáticas.
 Promoção da Paz e Estabilidade: Em um país que enfrentou períodos de conflito e
instabilidade, as associações também podem desempenhar um papel na promoção da paz,
reconciliação e coesão social, trabalhando para resolver conflitos de forma pacífica e
construir uma sociedade mais coesa e harmoniosa.

Os objectivos perseguidos pelo associativismo em Moçambique abrangem uma ampla gama de


áreas, incluindo desenvolvimento comunitário, representação de interesses, desenvolvimento
económico, preservação cultural e promoção da paz e estabilidade. Esses objectivos reflectem os
desafios e oportunidades específicos enfrentados pelo país e destacam o potencial do
associativismo como uma ferramenta poderosa para promover o progresso e o desenvolvimento
sustentável.

2.3. O papel da socialização na sociedade moçambicana.

A socialização, como processo de transmissão da cultura do grupo a que o indivíduo se encontra


ligado, inclui, naturalmente, a aprendizagem do modelo de organização social vigente.

O processo de socialização contribui para que os indivíduos se adeqúem e acomodem às normas


do grupo, o que passa pelo respeito das regras, dos papéis e estatutos socialmente reconhecidos
bem como pelo sistema de estratificação social vigente (MARTINS, 2006, p. 5).

É através da interiorização gradual das normas e valores do grupo (socialização) que o indivíduo
é aceite como membro, com iguais direitos e deveres. Um eficaz processo de socialização é um
factor indispensável à aceitação total das normas e valores do grupo, contribuindo para a sua
reprodução.

A socialização adquire também o estatuto de controlo social, na medida em que ela impede ou
dificulta que os indivíduos actuem de forma diferente da esperada, por tal actuação ser
«anormal» (Ibidem, 2006:9).

Mesmo que inconscientemente, os indivíduos autorregulam os seus comportamentos, agindo de


acordo com os quadros sociais em que foram socializados, a fim de não serem considerados
como marginais e de lhes não serem atribuídos todos os estigmas sociais que a marginalidade
confere.

Porque impede o indivíduo de se afastar da norma, isto é, de ter comportamentos desviantes, a


socialização contribui para a reprodução social, assumindo a natureza de uma verdadeira forma
de controlo social (MARTINS, 2006, p. 10).

3. Influência do Associativismo na Construção da Consciência Nacionalista

O associativismo desempenhou um papel crucial na construção da consciência nacionalista em


Moçambique. Segundo Mendonça (2019), as organizações associativas serviram como espaços
de articulação política e formação de identidade nacional, desafiando a narrativa colonial que
buscava fragmentar a unidade do povo moçambicano. Através de campanhas de conscientização
e mobilização, o Grémio Africano e o Brado Africano contribuíram para a formação de uma
consciência crítica entre os moçambicanos, preparando o terreno para o movimento de
independência que viria décadas mais tarde.

O associativismo, entendido como a prática de associação voluntária de indivíduos com


interesses comuns para alcançar objectivos compartilhados, tem desempenhado um papel
significativo na construção da consciência nacionalista em várias sociedades ao longo da
história. Aqui estão algumas maneiras pelas quais o associativismo influenciou a construção da
consciência nacionalista:

Formação de Identidade Colectiva: As associações fornecem um espaço onde as pessoas


podem se reunir e compartilhar experiências, valores e objectivos comuns. Isso contribui para a
formação de uma identidade colectiva, que é fundamental para o desenvolvimento do sentimento
nacionalista. Por meio da participação em associações, os indivíduos podem desenvolver um
senso de pertencimento a uma comunidade maior, fortalecendo assim sua identidade nacional.

Solidariedade e Coesão Social: O associativismo promove a solidariedade e a coesão social


entre os membros de uma sociedade. Ao trabalharem juntos para alcançar objectivos comuns, os
indivíduos desenvolvem laços mais fortes uns com os outros e com a comunidade em geral.
Esses laços de solidariedade e coesão podem ser estendidos para além das fronteiras regionais ou
étnicas, contribuindo para a união e coesão nacional.

Mobilização Política: As associações muitas vezes servem como plataformas para a


mobilização política. Grupos com interesses comuns podem se unir para promover causas
específicas ou buscar mudanças sociais e políticas. Esse tipo de activismo colectivo pode
alimentar o sentimento nacionalista ao enfatizar a importância da unidade e da acção colectivas
em prol do bem-estar da nação como um todo.

Preservação Cultural e Histórica: Muitas associações se dedicam à preservação e promoção da


cultura e história de uma determinada nação ou grupo étnico. Ao celebrar tradições, costumes e
conquistas compartilhadas, essas associações ajudam a fortalecer a identidade cultural e histórica
de uma comunidade, reforçando assim o sentimento de orgulho nacional.

Educação e Conscientização: Associações também desempenham um papel importante na


educação e conscientização dos cidadãos sobre questões relacionadas à identidade nacional,
história, valores e desafios enfrentados pela nação. Ao fornecer oportunidades de aprendizado e
discussão, as associações podem ajudar a moldar a consciência nacionalista dos membros e
promover um maior entendimento e apreço pela própria nação.

O associativismo desempenha um papel vital na construção da consciência nacionalista ao


promover a formação de identidade colectiva, solidariedade e coesão social, mobilização
política, preservação cultural e histórica, e educação e conscientização sobre questões nacionais.
Ao reunir indivíduos com interesses comuns e promover o engajamento cívico e social, as
associações ajudam a fortalecer os laços que unem uma nação e a nutrir o sentimento de
pertencimento e lealdade à comunidade nacional.

Em última análise, a influência do associativismo na construção da consciência nacionalista é


profunda e multifacetada. As associações fornecem não apenas um espaço para a expressão de
identidades colectivas, mas também atuam como motores de solidariedade, mobilização política,
preservação cultural e educação cívica. Através do associativismo, os indivíduos encontram uma
plataforma para se conectar com outros membros da sua comunidade, compartilhar valores e
objectivos comuns, e contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento da nação.
Conclusão

Em suma, o associativismo desempenhou um papel significativo na história de Moçambique


durante o período colonial, representando uma forma de resistência e mobilização política contra
a opressão colonial. Tanto o Grémio Africano quanto o Brado Africano deixaram um legado
importante na luta pela emancipação do povo moçambicano, contribuindo para a construção de
uma identidade nacionalista e a busca pela independência. Além disso, é importante notar que a
consciência nacionalista pode assumir diferentes formas em diferentes contextos históricos e
culturais. Enquanto em algumas sociedades o nacionalismo pode ser um catalisador para a união
e o progresso, em outras pode ser explorado para alimentar conflitos e divisões. Portanto, é
fundamental que qualquer análise da influência do associativismo na construção da consciência
nacionalista leve em consideração as complexidades e nuances específicas de cada contexto
social e político.

Em última análise, o associativismo desempenha um papel vital na construção e sustentação da


consciência nacionalista, ajudando a fortalecer os laços que unem os cidadãos de uma nação e a
promover um maior entendimento e apreço pela identidade nacional compartilhada. No entanto,
é essencial que esse processo ocorra de maneira inclusiva, respeitando a diversidade e os direitos
de todos os membros da sociedade, e promovendo valores de igualdade, justiça e solidariedade
Bibliografia

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Matos, R. (2020). "O Grémio Africano e o Associativismo em Moçambique Colonial." Revista


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