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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ENGENHARIA – CAMPUS DE VÁRZEA GRANDE


CURSO DE ENGENHARIA QUÍMICA

ALEXANDRE BRITO RODRIGUES DE JESUS


JULLYANA SOUZA MATOS
MEURY JOICY BIAZATTI
RHUAN MARCEL SANTINI

ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO E SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO EM SALA


DE AULA: ANÁLISE QUALITATIVA E QUANTITATIVA

CUIABA-MT
2019
ALEXANDRE BRITO RODRIGUES
JULLYANA SOUZA MATOS
MEURY JOICY BIAZATTI
RHUAN MARCEL SANTINI

ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO E SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO EM SALA


DE AULA: ANÁLISE QUALITATIVA E QUANTITATIVA

Trabalho apresentado à disciplina de Fenômenos


de Transporte II para conclusão da disciplina no
curso de Engenharia Química da Faculdade de
Engenharia-CUVG da Universidade Federal de
Mato Grosso.

Orientadora: Professora Maribel Valverde.

CUIABA-MT
2019
SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ......................................................................................................... 5


LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. 6
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ..................................................................................... 7
RESUMO .................................................................................................................................... 9
ABSTRACT ................................................................................................................................. 8
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 11
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................... 11
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................................ 11
3 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................. 12
3.1 CONCEITOS SOBRE TRANSFERÊNCIA DE CALOR.................................................................... 12
3.2 FISIOLOGIA DA TERMORREGULAÇÃO ................................................................................... 13
3.3 CONFORTO TÉRMICO ............................................................................................................ 14
3.4 BALANÇO TÉRMICO ............................................................................................................... 16
3.4.1 Variáveis de conforto térmico ....................................................................................... 16
3.4.2 Modelo de Fanger ......................................................................................................... 16
3.4.3 Temperatura Radiante Média – MTR ............................................................................ 18
3.5 SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO DE AMBIENTES ...................................................................... 20
3.5.1 Análise da carga térmica ............................................................................................... 21
3.5.2 Ar condicionado ............................................................................................................ 23
3.6 MODELAGEM DE SISTEMAS COM FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL............................. 26
4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 27
4.1 COLETA DE DADOS ................................................................................................................ 27
4.1.1 Variáveis do ambiente térmico ..................................................................................... 27
4.1.2 Parâmetros subjetivos ................................................................................................... 28
4.2 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................. 28
4.2.1 Análise do Conforto Térmico......................................................................................... 29
4.2.2 Análise de Carga Térmica .............................................................................................. 30
4.3 SIMULAÇÃO EM CFD ............................................................................................................. 30
4.3.1 Modelagem matemática ............................................................................................... 31
4.3.2 Geometria e Condições de Contorno ............................................................................ 32
4.3.3 Processamento da simulação ........................................................................................ 33
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 33
5.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO .......................................................................... 33
5.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS ............................................................................ 33
5.3 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CONFORTO TÉRMICO ............................................................ 38
5.3.1 Análise qualitativa ......................................................................................................... 38
5.3.2 Análise quantitativa - PMV e PPD ................................................................................. 39
5.4 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CARGA TÉRMICA .................................................................... 43
5.5 RESULTADOS DA SIMULAÇÃO DO MODELO ......................................................................... 47
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 51
6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................................. 51
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 53
ANEXOS ................................................................................................................................... 56
ANEXO I – RESUMO DAS NORMAS SOBRE AMBIENTE TÉRMICO ...................................................... 56
ANEXO II – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO (ADAPTADO DA NORMA
ASHRAE 55)........................................................................................................................................ 56
ANEXO III – PROGRAMA IMPLEMENTADO NO SCILAB PARA CÁLCULO DO FATOR DE FORMA E
TEMPERATURA MÉDIA RADIANTE .................................................................................................... 57
ANEXO IV – REPRESENTAÇÃO DA GEOMETRIA DA SALA DE AULA ANALISADA ............................... 58
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Balanço térmico aplicado a um sistema .................................................................... 12


Figura 2: Principais mecanismos físicos termorreguladores do corpo humano ....................... 15
Figura 3: Escala de sensação térmica ....................................................................................... 16
Figura 4: Valores médios do fator de fórmula entre uma pessoa sentada e uma superfície
retangular vertical. ............................................................................................................. 19
Figura 5: Valores médios do fator de fórmula entre uma pessoa sentada e uma superfície
retangular horizontal. ........................................................................................................ 20
Figura 6: Funcionamento de um compressor alternativo ......................................................... 24
Figura 7:Operação de um evaporador. ..................................................................................... 25
Figura 8: Condensador de placas .............................................................................................. 25
Figura 9: Válvula de bóia para alta pressão .............................................................................. 26
Figura 10: Disposição das medidas para o cálculo do fator de forma ...................................... 29
Figura 11: Medições do primeiro dia ....................................................................................... 34
Figura 12: Medição do segundo dia. ........................................................................................ 35
Figura 13: Medições do terceiro dia ......................................................................................... 35
Figura 14: Medições do primeiro dia ....................................................................................... 36
Figura 15: Medições do segundo dia ........................................................................................ 36
Figura 16: Medições do terceiro dia ......................................................................................... 36
Figura 17: Sensação térmica segundo a percepção dos alunos ................................................ 38
Figura 18: Conforto térmico e dados sobre vestimenta ............................................................ 39
Figura 19: Carta Psicrométrica de 08h ..................................................................................... 41
Figura 20: Carta psicrométrica de 11h ..................................................................................... 41
Figura 21: Carta Psicrométrica de 14h ..................................................................................... 42
Figura 22: Carta Psicrométrica de 17h ..................................................................................... 42
Figura 23: Geometria da sala de aula ....................................................................................... 48
Figura 24: Malha da geometria construída para a simulação ................................................... 48
Figura 25: Perfil de velocidade local em 0,3m. ........................................................................ 49
Figura 26: Perfil de velocidade local para 2m. ......................................................................... 49
Figura 27: Perfil de temperatura local para 2m. ....................................................................... 50
Figura 28: Distribuição de temperatura global da sala de aula para 2m................................... 50
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Constantes para o cálculo da equação analítica do fator de forma retangular. ......... 29
Tabela 2: Condições climáticas do ambiente interno e externo do objeto de estudo ............... 34
Tabela 3: Análise estatística das variáveis do ambiente térmico.............................................. 37
Tabela 4: variáveis de entrada para cálculo do PMV e PPD ................................................... 39
Tabela 5: Cálculos dos fatores de forma da sala de aula avaliada. ........................................... 40
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASHARE – American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers


𝐴𝑗 : Área da janela

𝐴𝑡 : Área do telhado
𝐴𝑒𝑥𝑡 : Área externa total
𝑐𝑙: Calor latente de vaporização de água líquida
𝑐𝑝: Calor especifico do ar
C + R - Perda de calor sensível da pele (W/m2) – convecção e radiação.
CFD – Fluidodinâmica Computacional
CLF - Coouling Load Factor
CLTD - Coouling Load Temperature Difference
CRES - Perda de calor sensível pela respiração, por convecção (W/m2).
ERES- Perda de calor latente pela respiração, por evaporação (W/m2).
ESK- Perda de calor latente pela pele, por evaporação (W/m2).
F_(N-i):Ffator de forma entre a pessoa e a superfície N
fcl - Razão da área do corpo vestido e corpo nu (admensional)
hcl - Coeficiente de convecção entre ar e roupas (W/m2.°C).
Icl - Isolamento térmico das roupas (Clo)
ISSO – International Standart Organization
n: Quantidade de lâmpadas
Pa - Pressão de vapor no ar (kPa)
PMV - Predicted Mean Vote - Voto Médio Previsível
PPD - Predicted Percentage Dissatisfied - Porcentagem Previsível de Insatisfeitos
Qe – Quantidade de calor de entrada do sistema
QRES - Taxa total de perda de calor pela respiração (W/m2).
Qs – Quantidade de calor de saída do sistema
QSK- Taxa total de perda de calor pela pele (W/m2).
𝑄𝑟_𝑒 - Carga térmica específica da renovação do ar
𝑄𝑟_𝑙 - Carga térmica latente da renovação do ar
𝑄𝑡_𝑙 - Carga térmica latente total dos ocupantes
𝑄𝑡_𝑠 - Carga térmica sensível total dos ocupantes
𝑄𝑖 - Calor por insolação nas janelas
𝑄𝑙 - Calor derivado da iluminação
𝑄𝑜_𝑠 - Calor sensível liberada por ocupante
𝑄𝑜−𝑙 -Calor latente liberada por ocupante
𝑄𝑝 - Calor por transmissão nas paredes
𝑄𝑡 - Calor por transmissão no telhado
𝑄𝑡𝑗 - Calor por transmissão nas janelas
RTS – Séries Temporais Radiantes
S – Sistema
T_N:Temperatura superficial da superfície N
T_r:Temperatura radiante
Ta -Temperatura do ar (°C)
TBS: Temperatura do Bulbo Seco
TBU: Temperatura do Bulbo úmido
tcl - Temperatura superficial das roupas (°C)
tr - Temperatura média radiante (°C)
𝑈𝑝 : Coeficiente global de transmissão de calor para tijolos furado
𝑁 - Número de ocupantes
𝑃 - Potencia nominal da lâmpada
𝑈𝑖 − Coeficiente de transmissão de calor solar através de vidros
𝑈𝑡 - Coeficiente global de transferência de calor para telhado
𝑈𝑡𝑗 - Coeficiente global de transmissão de calor para janelas de vidros
𝑉: Vazão de renovação de ar
𝑊𝑒 : Umidade específica do ar externo
𝑊𝑖 : Umidade especifica do ar interno
𝑟: porcentagem de calor dissipado pelos reatores
𝜌𝑎𝑟 : Densidade do ar
RESUMO

O estudo do conforto térmico, a partir da relação entre o indivíduo e o ambiente é de


grande importância quando se considera os efeitos que um ambiente fora das zonas térmicas de
conforto sobre o desempenho das atividades do indivíduo. No ambiente escolar, esta análise
representa uma ferramenta de otimização do processo de desenvolvimento cognitivo do aluno.
Além disso, avaliar o sistema de climatização deste ambiente pelo do cálculo da taxa de carga
térmica permite dimensionar estes ambientes de modo a garantir o conforto térmico dos
mesmos. Desse modo, este presente trabalho tem como objetivo estudar o conforto térmico e o
sistema de climatização de uma sala de aula de Ensino Fundamental na cidade de Cuiabá – MT
a partir de análises qualitativa e quantitativa. Para isso, foi realizado uma coleta de dados,
durante três dias consecutivos, das variáveis do ambiente térmico, a fim de desenvolver a
Análise de Conforto Térmico do ambiente pelo método do PVM e PPD no software CBE
Thermal Comfort Tool . Além disso, determinou-se analiticamente a carga térmica do objeto
de estudo para verificação do sistema de climatização adotado. Por fim, fez-se uma simulação
em CFD – Fluidodinâmica Computacional - do modelo de transferência de calor gerado para
determinação de zonas de temperaturas confortáveis. Em cada dia foram aplicados
questionários subjetivos à uma amostra de 20 alunos, acerca da percepção da sensação térmica.
Diante disso, conclui-se que a quantidade de alunos na sala influencia na temperatura do
ambiente e nas taxas de transferência de calor. Os resultados obtidos pela análise subjetiva, em
que a maioria dos alunos consideraram o ambiente como confortável, coincidiram com a análise
no software que indicou, na maioria das análises ambiente neutro. Já a análise de carga térmica
demonstrou que diante as condições estabelecidas pela NBR 6401, a potência de resfriamento
do ar condicionado (72.000 BTU’s) não atende de forma eficiente a carga térmica necessária
para o ambiente (aproximadamente 100.000 BTU’s). Por último, pela simulação do modelo
descrito percebeu-se que a temperatura de fluxo médio do ar gerado, correspondeu com os
dados experimentais, atestando 28,5° C. Ressalta-se também, que pelo perfil de fluxo de ar,
obtido pelas simulações, o melhor posicionamento do ar condicionado seria o da parede dos
fundos (contrária ao quadro), apresentando uma distribuição mais uniforme da temperatura.

Palavras-chaves: Análise de Carga Térmica, Análise de Conforto Térmico, Simulação,


PMV, PPD.
ABSTRACT

The study of thermal comfort, based on the relationship between the individual and the
environment, shows great importance when considering the effects of an environment outside
the thermal zones of comfort on the performance of the individual's activities. In the school
environment, this analysis represents a tool to optimize the student's cognitive development
process. In addition, evaluating the air conditioning system of this environment by the
calculation of the thermal load rate allows the dimensioning of these environments in order to
guarantee the thermal comfort of them. Thus, this work aims to study the thermal comfort and
the air conditioning system of an Elementary School classroom in the city of Cuiabá - MT,
based on qualitative and quantitative analysis. For this, a data collection was performed for
three consecutive days of the variables of the thermal environment in order to develop the
Thermal Comfort Analysis of the environment by the PVM and PPD method in the software
CBE Thermal Comfort Tool. Besides that, the thermal load of the study object was analyzed
analytically to verify the adopted climatic system. Finally, a simulation was made in CFD -
Computational Fluid Dynamics - of the heat transfer model generated for the determination of
comfortable temperature zones. On each day, subjective questionnaires were applied to a
sample of 20 students about the perception of the thermal sensation. Therefore, it is concluded
that the number of students in the room influence the temperature of the environment and the
rates of heat transfer. The results obtained by the subjective analysis, in which the majority of
the students considered the environment as comfortable, coincided with the analysis in the
software that indicated, in most analyzes neutral environment. On the other hand, the thermal
load analysis showed that the cooling capacity of the air conditioner (72,000 BTU's) does not
efficiently meet the required ambient heat load (approximately 100,000 BTU's), due to the
conditions established by NBR 6401. Finally, by simulating the model described, it was
observed that the mean air flow temperature corresponded to the experimental data, at 28.5 °
C. It is also worth noting that the air flow profile obtained by the simulations , the best
positioning of the air conditioning would be that of the back wall (contrary to the frame),
presenting a more uniform temperature distribution.

Keywords: Analytics thermal load, Analytics thermal comfort, simulation, PMV, PPD.
1 INTRODUÇÃO

O processo de desenvolvimento cognitivo dentro de um ambiente escolar é intimamente


relacionado a condições externas e internas, como a influência do meio, o estado emocional, a
condição social e vários outros fatores, podendo acarretar efeitos significativos no seu
desempenho (PINTO, 2003).
Ao se referir aos efeitos térmicos do local, os mesmos podem afetar os aspectos
fisiológicos dos indivíduos, ocasionando o bem-estar, irritação, calafrios e outros estados
biológicos dependentes da temperatura ao qual são submetidos. Essas alterações podem
apresentar consequências positivas ou negativas no estado de atenção, memória e na saúde de
modo geral (BRAZ, 2005).
Para analisar a melhor condição dentro da sala de aula, é necessária a consideração de
vários fatores para o cálculo da carga térmica, desde a resistência térmica gerada pela
vestimenta dos alunos até a infraestrutura do lugar estudado. Com os valores gerados, seguem-
se diversas normas para verificar os índices de conforto térmico (TORRES, 2016).
Conforme descrito por Çengel (2012), as principais características da transferência de
calor são descritas por sua transição de uma região de temperatura maior para outra de
temperatura menor. As três principais maneiras em que o calor é transferido da uma substância
para outra são conhecidas como condução, convecção e radiação.
Condução: tipo de transferência de calor que ocorre em sólidos através do movimento
molecular. A taxa de transferência de calor em cada material em específico irá depender da
condutividade térmica do material.
Convecção: ocorre em líquidos e gases, sendo um tipo de transferência de energia que
apresenta dois mecanismos operando simultaneamente. O primeiro é a transferência de energia
através do movimento molecular do qual induz a transferência de energia pelo movimento
macroscópico das parcelas do fluido. Este movimento das parcelas do fluido ocorre devido uma
força externa, sendo explicada pelo gradiente de densidade, como na convecção natural ou
devido a uma diferença de pressão gerada por um ventilador ou uma bomba, ou até mesmo a
combinação dos dois.
Radiação: transferência de calor através das ondas eletromagnéticas, das quais podem
se propagar com ou sem um meio de propagação.
A refrigeração é definida como a transferência de calor de uma região em que não é
desejado para outra região que não sofra objeções.

9
A simulação dos fenômenos de transportes do ambiente em softwares de modelagem é
de sumo auxílio para visualizar o deslocamento do ar e sua relação na incidência das zonas de
temperatura.
O trabalho proposto considerou a análise da carga térmica, levando em consideração as
influências do ambiente e dos alunos presentes dentro da sala de aula. Também foi realizada a
simulação da transferência de calor com os valores obtidos no estudo. Neste contexto, dividiu-
se em três partes: O referencial teórico, metodologia e resultados e discussão.

10
2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Realizar um estudo do conforto térmico e sistema de climatização de uma sala de aula


de Ensino Fundamental na cidade de Cuiabá – MT a partir de análises qualitativa e quantitativa.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1 Comparar os resultados da análise subjetiva acerca da sensação de conforto térmico dos


alunos com os resultados obtidos pelos cálculos de PMV e PPD através da Norma ISO
7730 (2005) no software CBE Thermal Comfort Tool.
2 Aplicar a Análise de Carga Térmica, de acordo com a Norma NBR 1601/1980, ao
ambiente estudado a fim de verificar se o sistema de climatização possui a potência
necessária para atender aos critérios de conforto térmico.
3 Determinar as zonas térmicas do ambiente da sala de aula a partir da simulação do
modelo em CFD - Fluidodinâmica computacional.

11
3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 CONCEITOS SOBRE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

A avaliação da interação térmica entre o homem e o ambiente, fundamental na avaliação


do conforto térmico em diversos ambientes, exige a compreensão dos conceitos envolvidos nos
processos de transmissão de calor. Desse modo, o primeiro conceito a ser analisado é da
temperatura, que segundo Torres (2016) corresponde a uma porção de matéria isolada da
vizinhança por uma fronteira imaginária capaz de mensurar o potencial térmico de um sistema
em relação a um referencial. O calor, por sua vez, é definido como a energia que ultrapassa a
fronteira do sistema, devido a uma diferença entre as temperaturas, no sentido de fluxo de uma
região de alta temperatura para uma de temperatura inferior (TORRES, 2016).
Coutinho (2005), ainda acrescenta que além dos dois conceitos principais citados, é
preciso compreender o significado de sistema (S) como porção limitada de matéria, isolada da
vizinhança a partir de fronteiras, utilizada para análise da transferência de calor que se dá em
regime permanente – cujo propriedades mantém-se constantes – ou regime transitório – em que
as propriedades variam com o tempo. Ademais, calor específico é tido como a quantidade de
calor requerida para elevar em 1°K ou 1°C a unidade de massa de uma determinada substância.
Por fim, balanço de energia é dado como sendo a quantidade de calor (𝑄𝑒 ) que entra no sistema
menos a quantidade de calor que sai (𝑄𝑠 ) deste, tendo como resultado um saldo de energia (S)
em um determinado intervalo de tempo (∆𝑡), conforme Figura 1.

Figura 1: Balanço térmico aplicado a um sistema

𝑄𝑒 𝑄𝑠
s

FONTE: Adaptado de Torres (2016).

Neste contexto, se considerado o corpo humano como um sistema térmico isolado do


meio ambiente, a fronteira imaginária do sistema é a roupa ou a própria pele do indivíduo
(MATTOS & MÁSCULO, 2011) e o estudo desta interação térmica entre o homem e a
vizinhança é o balanço térmico derivado da aplicação da primeira lei da termodinâmica.
Diversos autores realizaram estudos acerca dos impactos gerados sobre a fisiologia e
psicológico dos indivíduos de indivíduos inseridos em determinado ambiente a partir da
variação de mudanças de temperatura. Entre eles, conforme citado por Torres (2016), destaca-
se o estudo realizado por Zhang et.al (2014b) que avaliou o impacto da mudança de temperatura
12
e umidade no desenvolvimento de atividades de estudantes chineses a partir do estudo da
fisiologia da termorregulação do corpo humano.

3.2 FISIOLOGIA DA TERMORREGULAÇÃO

As condições térmicas às quais o sujeito está submetido interferem diretamente no


desempenho da atividade a ser desenvolvida, uma vez que pode gerar um esforço do organismo
humano para tentar regular a temperatura interna central, que necessariamente deve ser
constante e próxima de 37°C, para conservação das funções metabólicas (BRAZ, 2005). No
caso, por exemplo, em que o indivíduo exerça um trabalho, o sistema termorregulador age
dissipando o saldo de energia, mantendo a temperatura sem uma variância superior a 4°C a fim
de evitar os riscos de morte ou sequelas (COUTINHO, 2005). Assim, quanto mais desfavorável,
termicamente, for o ambiente, maior o esforço necessário para que o organismo humano
equilibre a temperatura e, consequentemente haverá uma grande sensação de desconforto
(SIQUEIRA, 2015).
A termorregulação é realizada por um sistema de controle fisiológico, que consiste em
termorreceptores (receptores de temperatura ou células nervosas) centrais e periféricos. O
primeiro, formado pelas vísceras, órgãos internos e o Sistema Nervoso Central – SCN, é
responsável pela produção de toda a energia convertida em calor e corresponde ao tecido cuja
temperatura é mais alta. Já os termorreceptores periféricos possuem uma temperatura variável
(cerca de 3 a 4°C abaixo da temperatura central) de acordo com o ambiente e é composto pelos
membros superiores e inferiores, pele e tecido celular subcutâneo (BRAZ, 2005. TORRES,
2016).
Um órgão importantíssimo deste sistema é o hipotálamo, situado no sistema de controle
central, capaz de regular a temperatura corporal integrando os impulsos térmicos provenientes
de todos os tecidos do organismo (BRAZ, 2016). Dessa forma, quando o ambiente apresenta
condições de temperatura desfavoráveis o corpo humano utiliza de mecanismos fisiológicos,
que podem ser tremor dos músculos para produzir calor diante condições de frio, sudorese e
controle do fluxo de sangue para elevar ou reduzir o transporte de calor pelos processos de
vasoconstrição, em situações de frio, ou de vasodilatação, perante calor (TORRES, 2016).
Diante o exposto, vale destacar algumas ações orientadas pelos mecanismos
termorreguladores para que os ocupantes de um determinado ambiente atinjam a temperatura
interna desejada, seja adicionar ou retirar roupas, beber água gelada, abrir/fechar de janelas,
ligar / desligar ventiladores e ares condicionados, etc.

13
3.3 CONFORTO TÉRMICO

Como abordado na sessão anterior o sistema termorregulador exerce um esforço para


manter a temperatura central na faixa adequada. Para que um local seja considerado confortável,
do ponto de vista térmico, é necessário que o mesmo disponibilize condições que exigem o
mínimo esforço do sistema termorregulador (COUTINHO, 2005). Contudo, conforme trazido
por Torres (2016), baseado em outras literaturas, há outras variáveis que influenciam na
sensação de conforto térmico do indivíduo como fatores emocionais e físicos, gênero e idade.
Por exemplo, pessoas do sexo feminino possuem maior sensibilidade para temperaturas mais
baixas em relação ao sexo masculino.
O conforto térmico, propriamente dito, é “um estado psicológico onde o indivíduo
apresenta contentamento com os parâmetros termoambientais do local onde está inserido”
(LUCAS & SILVA, 2017. p. 810) e envolve complexas respostas fisiológicas e psicológicas,
sendo necessários modelos de conforto térmico que considerem fatores psicológicos, físicos e
fisiológicos. Diante disso, Torres (2016) ressalta que para determinação de conforto de um
ambiente existem normas que validam a variação acerca da percepção térmica dos indivíduos
como NBR 15220 (2005), NBR 15575 (2003), ISO 7730 (2005) e ASHRAE 55 (1992) cujos
resumos estão descritos no Anexo I deste trabalho.
A ISO 7730 (2005), por exemplo, utiliza de indicadores para avaliar a sensação térmica
em ambientes moderadamente confortáveis, que não apresentam extremos de muito frio/quente,
considerando a percentagem de pessoas insatisfeitas (TORRES, 2016). A ASHRAE 55 (1992),
por sua vez, considera conforto térmico como uma condição da mente que expressa satisfação
com o ambiente térmico. Com a existência dessa condição, Lucas e Silva (2017) refletem sobre
o fato de que os ocupantes do ambiente confortável termicamente tendem a desempenhar suas
atividades de forma mais precisa e eficiente, influenciando beneficamente o seu desempenho.
Além disso, para reforçar a existência da correlação entre conforto térmico e sensação térmica,
Torres (2016) disserta que para Fanger (1970) o conforto térmico está diretamente relacionado
ao anseio humano de sentir-se bem no meio.
Assim, o tema é pauta de diversos debates na comunidade científica, uma vez que
expressa a relação entre o ambiente e o desempenho humano. Silva (2001) investigou a relação
de produtividade e conforto térmico em digitadores de bancos, Chen e Chang (2012)
investigaram, em Cingapura, a relação entre a saúde humana e o conforto térmico de
trabalhadores em escritório (TORRES, 2016).

14
Já em relação ao estudo do conforto térmico de salas de aula, Lucas e Silva (2017)
fizeram uma análise da percepção térmica dos estudantes da região nordeste e sudeste brasileira
a fim de determinar zonas de conforto. Torres (2016) também relacionou o conforto térmico de
salas de aula na região nordeste do Brasil a partir de um estudo multicasos no desempenho de
alunos. Já Moura et. al. (2016) fez uma análise do conforto no trabalho do professor. Por fim,
Correia et. al (2016) fez um estudo do conforto térmico em ambiente escolar a partir de índices
PMV (Predicted Mean Vote - Voto Médio Previsível) e PPD (Predicted Percentage
Dissatisfied - Porcentagem Previsível de Insatisfeitos).
Correia et. al. (2016) destaca que a performance perceptiva, manual e intelectual do
homem é otimizada em ambientes termicamente confortáveis. Em consonância, todos os
autores citados anteriormente, que se dedicaram ao estudo do impacto das condições térmicas
do ambiente no desempenho estudantil aferiram que aprendizado é afetado negativamente o
em consequência do aumento da temperatura e qualidade do ar. Além disso, a importância da
avaliação cognitiva do conforto térmico nos alunos é necessária considerando que nos estudos
realizados, notou-se que os aspectos físicos, fisiológicos e psicológicos como dor de cabeça,
depressão intelectual, sono, fadiga, descoordenação motora, falta de concentração e perda de
memória são sintomas frequentemente manifestados.
De modo geral, os métodos usados para quantificar a sensação de conforto térmico em
ambientes termicamente moderados, onde existe o conforto térmico, por exemplo, sala de aula,
bibliotecas, laboratórios, entre outros, são pautados na Norma ISSO 7730 (2005) e na ASHRAE
(2013) que fornecem ferramentas de avaliação dessas condições de conforto com base no
balanço térmico entre corpo humano e ambiente através de mecanismos de transferência de
calor como radiação, convecção, evaporação e condução, indicados na Figura 2, entre o ser
humano e o espaço ao qual está inserido.
Figura 2: Principais mecanismos físicos termorreguladores do corpo humano

Mecanismo Característica
Ocorre quando o corpo humano entra em contato com algum objeto e existe um
Condução gradiente de temperaturas entres os corpos. Este mecanismo tem grande influência
na passagem do fluxo de calor através da vestimenta.
Ocorre quando há diferença de temperatura entre a superfície da pele e o ar. Este
Convecção
mecanismo depende da velocidade e da temperatura do ar, bem como da vestimenta
Considera-se que quaisquer corpos com temperatura superior a zero absoluto
Radiação emitem calor através deste mecanismo. Deve-se considerar a emissividade das
superfícies.
Ocorre transferência de calor e massa provocada pelo gradiente de pressão de vapor
Evaporação
saturado na superfície de um líquido e da pressão parcial acima dessa superfície.
FONTE: Adaptado de Torres (2016).

15
Estas normas são derivadas do método difundido por Fanger (1970) que trazem como
índices o PMV e PPD, que serão abordados posteriormente.

3.4 BALANÇO TÉRMICO

3.4.1 Variáveis de conforto térmico

Como citado anteriormente, o conforto térmico é avaliado a partir do balanço da


transferência de calor. Para isto, considera-se que o conforto térmico é uma condição
influenciada pelas seguintes variáveis: Atividade desempenhada; Isolamento térmico das
roupas utilizadas; Temperatura do ar; Temperatura radiante média; Velocidade do ar e Umidade
do ar. Além disso, o conforto térmico é atingido quando se respeita três condições: Neutralidade
térmica; taxa de suor liberada pela pele e a temperatura da pele compatíveis ao trabalho
desempenhado; e por último, o indivíduo não pode estar sendo submetido a nenhum desconforto
local, ou seja, nenhuma parte do corpo pode estar submetida a uma fonte constante ou
intermitente de fluxos térmicos (TORRES, 2016).
O cálculo leva em consideração variáveis pessoais e ambientais. As pessoais são a taxa
metabólica gerada pela atividade desempenhada e o isolamento térmico das roupas. Já as
variáveis ambientais são: temperatura do ar; Temperatura radiante média; Velocidade do ar e
Umidade relativa do ar (LUCAS & SILVA, 2017. TORRES, 2016. CORREIA et. al. 2016).

3.4.2 Modelo de Fanger

Conforme descrito por Torres (2016), o método de Fanger (1997) consiste na transcrição
de cada sensação térmica por um valor numa escala de sete pontos, conforme a Figura 3.
Figura 3: Escala de sensação térmica

Sensação Descrição
-3 Muito frio
-2 Frio
-1 Levemente frio
0 Neutro
1 Levemente quente
2 Quente
3 Muito quente
FONTE: Adaptado de Torres (2016).

16
Este modelo combina a teoria de equilíbrio térmico com a fisiologia da regulação
térmica para determinar o range de condições de conforto. É uma função das variáveis citadas
anteriormente e representados pelos índices PMV e PPD, cuja compreensão dependem do
balanço térmico descrito na Equação 1 a seguir:
𝑀 − 𝑊 = 𝑄𝑆𝐾 + 𝑄𝑅𝐸𝑆 = (𝐶 + 𝑅 + 𝐸𝑆𝐾 ) + (𝐶𝑅𝐸𝑆 + 𝐸𝑅𝐸𝑆 ) ( 1)
Onde,
M= Taxa metabólica de produção de calor (W/m2)
W= Trabalho mecânico desenvolvido pelo corpo (W/m2), geralmente, nas atividades
humanas considera-se nulo.
QSK= Taxa total de perda de calor pela pele (W/m2).
QRES= Taxa total de perda de calor pela respiração (W/m2).
C + R = Perda de calor sensível da pele (W/m2) – convecção e radiação. Este valor é
igual a perde de calor por condução até a superfície da fronteira (vestimentas).
CRES= Perda de calor sensível pela respiração, por convecção (W/m2).
ESK= Perda de calor latente pela pele, por evaporação (W/m2).
ERES= Perda de calor latente pela respiração, por evaporação (W/m2).
As perdas parciais de calor por condução são dadas pelas equações a seguir.
𝐸𝑆𝐾 = 3,05 ∗ [5,73 − 0,007 ∗ (𝑀 − 𝑊) − 𝑃𝑎 ] + 0,42 ∗ [(𝑀 − 𝑊) − 58,15] ( 2)
𝐸𝑅𝐸𝑆 = 0,0173 ∗ 𝑀 ∗ (5,87 − 𝑃𝑎 ) ( 3)
𝐶𝑅𝐸𝑆 = 0,0014 ∗ 𝑀 ∗ (34 − 𝑇𝑎 ) ( 4)
[35,7−0,28∗(𝑀−𝑊)]−𝑡𝑐𝑙
𝐾𝑐𝑙 = 0,155−𝐼𝑐𝑙
( 5)

𝑅 = 3,96 ∗ 10−8 ∗ 𝑓𝑐𝑙 ∗ [(𝑡𝑐𝑙 + 273)4 − (𝑡𝑟 + 273)4 ] ( 6)


𝐶 = 𝑓𝑐𝑙 ∗ ℎ𝑐𝑙 ∗ (𝑡𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 ) ( 7)
Onde,
Pa= Pressão de vapor no ar (kPa)
Ta = Temperatura do ar (°C)
tcl = Temperatura superficial das roupas (°C)
tr = Temperatura média radiante (°C)
hcl = Coeficiente de convecção entre ar e roupas (W/m2.°C).
Icl =Isolamento térmico das roupas (Clo)
fcl = Razão da área do corpo vestido e corpo nu (admensional)

17
Assim como explicado por Torres (2016), o experimento de Fanger concluiu que
somente o nível de atividade influencia a temperatura da pele e, portanto, tem significado no
equilíbrio térmico do corpo. Deste modo, a Equação 8 representa o índice PMV.
𝑃𝑀𝑉 = {0,303 ∗ 𝑒 −0,036∗𝑀 + 0,028} ∗ {(3,05 ∗ [5,73 − 0,007 ∗ (𝑀 − 𝑊) − 𝑃𝑎 ] + 0,42 ∗
[(𝑀 − 𝑊) − 58,15] − 0,0173 ∗ 𝑀 ∗ (5,87 − 𝑃𝑎 ) − 0,0014 ∗ 𝑀 ∗ (34 − 𝑇𝑎 ) − 3,96 ∗ 10−8 ∗
𝑓𝑐𝑙 ∗ [(𝑡𝑐𝑙 + 273)4 − (𝑡𝑟 + 273)4 ] + 𝑓𝑐𝑙 ∗ ℎ𝑐𝑙 ∗ (𝑡𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 )} ( 8)

A partir deste cálculo, é possível determinar o índice de pessoas inclinadas a reclamar


das condições térmicas propostas, conforme a Equação 9.
4 +0,2179∗𝑃𝑀𝑉 2 )
𝑃𝑃𝐷 = 100 − 95 ∗ 𝑒 −(0,03353∗𝑃𝑀𝑉 ( 9)
Lucas e Silva et. al. (2017) retratam que um PMV superior a -0,5 e inferior a 0,5 resultará
em um PPD inferior a 10%, sendo este o percentual ideal.
Existem softwares capazes de quantificar, facilmente, PMV e PPD baseados nas seis
variáveis de entrada citadas. Para isso, a coleta de dados das temperaturas deve ser feita com
equipamento adequado.

3.4.3 Temperatura Radiante Média – MTR

A temperatura média radiante pode ser definida como a temperatura uniforme de um


ambiente utópico com transferência de calor por radiação do corpo humano igual a transferência
de calor por radiação em um ambiente real não uniforme. Tal temperatura pode ser mensurada
com instrumentos que permitam que a radiação seja calculada integralmente em um valor médio
ou por outras técnicas alternativas (LAMBERTS, 2011).
Uma forma de termina-la é a partir de medições de temperaturas superficiais ao redor
da pessoa. Para este cálculo, devem-se conhecer tais temperaturas e os fatores de forma entre a
pessoa e as paredes, em função do tipo, tamanho e posição das paredes com relação ao ponto
de referencia (LAMBERTS, 2011).
Como diversos material de construção apresentam emissividades elevadas, pode se
desconsiderar a reflexão, e considerar essas superfícies como negras. E, como no caso estudado,
as temperaturas superficiais ao redor da pessoa possuem uma pequena diferença, a equação de
temperatura radiante pode ser escrita linearmente como:
𝑇𝑟 = 𝑇1 ∗ 𝐹𝑝−1 + 𝑇2 ∗ 𝐹𝑝−2 + ⋯ + 𝑇𝑁 ∗ 𝐹𝑝−𝑁 ( 10)

Onde:
𝑇𝑟 : 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑎𝑛𝑡𝑒
𝑇𝑁 : 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑁
18
𝐹𝑁−𝑖 : 𝐹𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 𝑎 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎 𝑒 𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑁
Assim, a somatória dos fatores de forma é igual a 1, e a temperatura radiante pode ser
considerada como a média entre as temperaturas superficiais, ponderadas por seus fatores de
forma (LAMBERTS, 2011).
Para o desenvolvimento do cálculo da temperatura radiante média do sistema estudado
é necessário ter conhecimento sobre as temperaturas ao redor do volume de controle, bem como
o fator de forma entre as pessoas e as delimitações de superfície do sistema em função da
geometria, tamanho e da posição relativa do indivíduo à superfície. Dado que a maioria dos
materiais apresentam alta emissividade, é possível desconsiderar a deflexão, ou seja, considera-
los como superfície negra (CIBSE Guide C, 2001).

3.4.3.1 Fator de Forma

Em ambientes retangulares, o cálculo dos fatores de forma do indivíduo em relação as


paredes retangulares pode ser realizado através dos diagramas representados nas Figuras 4 e 5
ou analiticamente pela Equação 11 a 13 (CIBSE Guide C, 2001).

Figura 4: Valores médios do fator de fórmula entre uma pessoa sentada e uma superfície
retangular vertical.

Fonte: CIBSE Guide C (2001).


𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝐹𝑜𝑟𝑚𝑎 = 𝐹𝑚á𝑥 ∗ (1 − 𝑒 −(𝑎′/𝑐′ )/𝜏 ) ∗ (1 − −𝑒 −(𝑏′/𝑐′ )/𝛽 ) (11)
Sendo:

19
𝜏 = 𝐴′ + 𝐵′ (𝑎′/𝑐′ ) (12)
𝛽 = 𝐶 ′ + 𝐷 ′ (𝑏′/𝑐′ ) + 𝐸′(𝑎′/𝑐′ ) (13)
Figura 5: Valores médios do fator de fórmula entre uma pessoa sentada e uma superfície
retangular horizontal.

Fonte: CIBSE Guide C (2001).

3.5 SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO DE AMBIENTES

Segundo Oliveira e Rodrigues (2015) climatizar ambientes refere-se ao ato de modificar


variáveis como a temperatura, umidade, pureza e movimentação do ar, simultaneamente, em
recintos fechados, a fim de atingir o conforto térmico, tratado no capítulo anterior.
A implantação de sistemas de climatização pode ser de zona simples, atendendo apenas
um ambiente, ou de zona múltipla, quando se realiza a climatização de diversos ambientes ao
mesmo tempo. Os sistemas de climatização podem ser de zona simples atendendo apenas um
recinto ou de zona múltipla atendendo simultaneamente vários recintos, e envolve diversas
unidades de refrigeração, filtragem e/ou circulação do ar (MACHADO, 2009).
Segundo Machado (2009) a relevância do sistema de climatização está pautada no
rendimento do indivíduo na realização de determinadas atividades. E, manifestações físicas
como dor de cabeça, fadiga, alteração sensorial, depressão intelectual, indiferença, sono são
frequentemente detectadas em ambientes onde não há a utilização da climatização de forma
adequada. Assim, faz-se necessário uma análise da carga térmica necessária para climatização

20
eficaz de cada tipo de ambiente, que consiste na determinação da quantidade de resfriamento
ou aquecimento, bem como a umidade adequada para cada ambiente, a partir do controle de
carga térmica feito pela retirada ou acréscimo em um ambiente.

3.5.1 Análise da carga térmica

A carga térmica é um valor (em joule) que expressa a quantidade de calor total (sensível
e latente) que deve ser adicionada ou removida do ambiente para que se tenham condições de
temperatura e umidade relativa desejadas. (MACHADO, 2009)
A carga térmica de um ambiente depende fundamentalmente da taxa com que o calor
entra, sai ou é gerado dentro de uma dada área ocupada em um certo momento, o chamado de
ganho de calor no ambiente. Esse ganho provém de fontes externas, como radiação solar por
superfícies transparentes, condução de calor a partir de superfícies opacas e transparentes ou
ventilação e infiltração de ar; e por fontes internas, tais como iluminação, cargas especiais,
pessoas e equipamentos. O ganho de calor também pode ser classificado como sensível, quando
o calor é diretamente adicionado ou retirado da zona de interesse pela condução, convecção ou
radiação, ou como calor latente, no caso em que acontece um aumento ou diminuição do vapor
de água presente na zona de ocupação (TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Dentro desse contexto, os métodos de cálculos mais utilizados para avaliar a
contribuição dos ganhos de calor ao perfil de carga térmica são os seguintes: balanço de energia,
diferenças de temperatura total equivalente, funções de transferência, RTS – Séries Temporais
Radiantes, CLTD – Coouling Load Temperature Difference /CLF –Coouling Load Factor
(TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Utilizando-se do balanço de energia para o cálculo, é considerada a condução de calor
nas faces de transferências, o balanço de energia externo e interno nas paredes, e o balanço de
massa no ar na zona de ocupação. Todos esses aspectos são verificados de hora em hora, e
podem ser feitos a partir de softwares específicos como o BLAST e Energy-plus(TRIBESS &
HERNANDEZ NETO, 1997).
O método de cálculo a partir da diferença de temperatura total equivalente considera
todos os ganhos de calor somados, do qual se constitui um perfil de ganho de calor instantâneo.
O perfil de carga térmica obtida por esse meio é feito considerando-se fatores temporais e
necessita de um grande esforço computacional (TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Por sua vez, as funções de transferências consideram ganhos de calor na carga térmica

21
em cada instante, e são bases para elaboração do método CLTD/CLF. Também necessitam de
um grande esforço computacional (TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Finalmente, tem-se o método CLTD/CLF que se fundamenta no método das funções de
transferências a partir da análise das condições de temperaturas internas e externas fixas,
considerando o efeito do ganho de carga, e retornando valores tabelados para diversos ganhos
de calor. (TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Ressalta-se do cálculo de carga térmica, a importância das considerações despeito ao
projeto. Devem ser consideradas diversas características da zona de ocupação, como
dimensões, materiais, orientação e tipos de superfícies. Além disso, são essenciais relevar as
condições termo-hidrométricas internas e externas, os perfis de ocupação do espaço (pessoas,
iluminação e equipamentos), o período em que se está fazendo a análise, isso é, verão, outono,
inverno ou primavera. E por fim, são considerados alguns dados adicionais: tipos de sistema de
condicionamento de ar e de distribuição de ar/agua, e suas respectivas perdas de energia para
os sistemas (TRIBESS & HERNANDEZ NETO, 1997).
Para todas as estimas necessárias, existem normas técnicas que definem os parâmetros
a serem atendidos. As mais importantes são a NBR 16401 (para critérios de projeto), ASHRAE
62 (ventilação para qualidade do ar), ASHRAE 55 (conforto térmico) e a norma NBR 6401 que
estabelece valores para a ocupação dos ambientes em metros quadrados por pessoa, delimitando
pela análise de fluxo de calor pelos corpos.
De acordo com a Norma NBR 6401 (1980), que apresenta os dados necessários para
avaliar as condições externas e internas do ambiente a ser estudado e comparou-se o resultado
obtido com as capacidades de refrigerações dos ares condicionados, verificando se os mesmos
atendem as demandas.
Segundo a NBR 6401, para projetar um ar condicionado, o dimensionamento é dividido
em etapas que vão desde a concepção inicial e da definição das instalações, até o detalhamento
de obra e desenhos. A análise feita aqui é somente para os dois primeiros tópicos, que englobam
os cálculos necessários para determinar a carga térmica, que especifica a quantidade de calor
necessária a ser retirada do ambiente, e, consequentemente, a potência necessária do ar
condicionado a ser instalado.
Depois dessa análise, se anota o calor liberado por um adulto em função do local de
ocupação. Sequencialmente, se ignora a troca e calor pelo piso e pelas paredes, visto que o calor
transferido de uma área para a outra menos aquecida pode ser calculado utilizando a Equação
10 de condução entre paredes planas (OLIVEIRA & RODRIGUES, 2015).

22
(𝑇𝑒 −𝑇𝑖 )
𝑄 =𝑘∗𝐴∗ ( 14)
𝐿

Onde,
Q: Taxa de transferência de valor (W)
K: Coeficiente de condutibilidade do material (W/m*K)
A: Área de transferência de calor (m2)
L: Espessura da parede (m)
Te: Temperatura externa do ambiente a ser refrigerado
Ti: Temperatura interno do ambiente a ser refrigerado
Após isso, é calculado o calor derivado das aberturas de frestas de janelas e portas, que
variam em função do local ocupado. Essas estimativas são feitas de acordo também com as
normas técnicas.

𝑄 = 𝜌 ∗ 𝑐𝑝 ∗ 𝑉 ∗ ∆𝑇 ( 15)

Onde,
Q: Taxa de transferência de calor (W)
𝜌: Densidade do ar (Kg/m3)
Cp: Calor específico do ar a pressão constante (J/kh*K)
V: Volume do ar trocado no ambiente a cada segundo (m3)
∆V: Diferenças de temperaturas entre o interior e o exterior
Finalmente, é considerada a somatória da energia dissipada pela iluminação, as
características do ambiente, formas, e níveis de iluminação e outras fontes de calor. A
totalização das cargas resulta em um valor em Watts (W), de modo que para cada Watts se tem
o valor de 4,4121 btu/h. Com esse resultado, estima-se a capacidade de refrigeração do
condicionador de ar, que, por sua vez, deve estar acima da carga térmica acima do ambiente a
ser refrigerado (OLIVEIRA & RODRIGUES, 2015).

3.5.2 Ar condicionado

A busca pelo conforto térmico e parâmetros operacionais nas residências, prédios e no


setor industrial, serviram de motivação para a criação de vários equipamentos para o
cumprimento dessas demandas. Os conceitos de ventilação refrigeração, e climatização
passaram a ser usuais na rotina hodierna e conseguem suprir boa parte da problemática nas mais
diversas áreas de vivência humana ou até mesmo para processos industriais.

23
O processo de ventilação fundamenta-se na inserção de um ar em determinado ambiente,
a fim de controlar a temperatura, tendo como limitação temperatura do ar externo, atuando na
remoção de energia térmica originada do interior das pessoas. A refrigeração utiliza do ar
resfriado (normalmente com temperatura inferior a 0°C), enquanto o sistema de climatização
consiste no tratamento do ar, realizando ajustes e mantendo um perfil padrão térmico no
ambiente em temperaturas mais comumente acima de 20°C (PENA, 2002).
Os primeiros modelos de ar condicionado iniciaram a partir de um princípio de máxima
eficiência pelo menor preço de instalação, até que começaram a surgir os problemas envolvendo
a disponibilidade energética, tornando uma condição primordial a otimização do consumo de
energia (INFRAERO, 2009). Hoje, a demanda por esses equipamentos é excepcionalmente alta
na grande maioria dos ambientes fechados, e muitas vezes, se torna um item indispensável para
manter a produtividade do trabalho ou na academia.

3.5.2.1 Modo operacional

De acordo com o guia da INFRAERO (2009), existem diversos modelos de


equipamentos vigentes no mercado quando se diz respeito climatização do ar, tais como: Ar
condicionado de janela, split system, self-contained, fan-coil, chiller e torre de resfriamento.
Esses aparelhos apresentam um circuito composto por diversos componentes fundamentais e
auxiliares.
Nos componentes fundamentais, temos:
 Compressores: Considerado como um dos principais componentes no processo de
refrigeração, sendo encarregado pelo aumento da pressão do fluído refrigerante, viabilizando a
passagem do fluído pelas áreas de interesse. Os modelos mais utilizados são: Scroll, parafusos,
palhetas, centrífugo e alternativo, sendo a escolha destes, concernentes à temperatura de
vaporização, do fluído utilizado e da capacidade de instalação (INFRAERO 2009).

Figura 6: Funcionamento de um compressor alternativo

FONTE: INFRAERO (2009).

24
 Evaporadores: Responsáveis pela mudança de estado do fluído refrigerante,
ocasionando o processo de evaporação. Por conta de a pressão no interior do evaporador ser
baixa, o processo de transformação líquido para vapor, acontece em baixa temperatura. Os
evaporadores podem ser secos (expansão direta) ou inundados (INFRAERO 2009).

Figura 7:Operação de um evaporador.

FONTE: MARTINELLI (s/d).


 Condensadores: São encarregados por condensar por meio de uma alta pressão, o fluído
refrigerante em elevada temperatura para o estado líquido, e desta forma, recircular dentro do
equipamento. Esses condensadores podem ser resfriados a ar (unidades de pequena ou média
demanda) ou a água. Este último apresenta uma maior eficiência quando comparados ao ar e
possuem uma série de modelos, como: Condensador duplo tubo, shell and coil, shell and tube
e condensador de placa (INFRAERO 2009).

Figura 8: Condensador de placas

FONTE: INFRAERO (2009).

25
 Válvulas de expansão: Tem como finalidade, a redução de pressão do fluído
refrigerante, desde sua condensação até a evaporação do mesmo. Também funciona como um
controlador de vazão do fluído até o evaporador, de maneira a suprir a demanda de carga
térmica. As válvulas de expansão mais usuais nos equipamentos de climatização são:
Termostática, eletrônicas e de boia (INFRAERO 2009).

Figura 9: Válvula de bóia para alta pressão

FONTE: INFRAERO (2009).


 Componentes auxiliares: Os climatizadores podem necessitar de peças complementares
para seu funcionamento adequado, entre elas: Termostato, filtros e secadores, reservatório de
líquido, trocador de calor, válvula de retenção, separador de oléo, entre outros (INFRAERO
2009).

3.6 MODELAGEM DE SISTEMAS COM FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

A Fluidodinâmica Computacional (CFD) - sigla em inglês para Computational Fluid


Dynamic - é um ramo da engenharia que envolve a aplicação algorítmica e técnicas numéricas
para soluções de equações diferenciais que governam o transporte de massa, momento e energia
em movimento de fluidos. Nesse sentido, existem diversas equações de governo que são
estabelecidas de acordo com a especificação das propriedades termodinâmicas do fluido
(DATE, 2005).
De acordo com Versteeg e Malalasekera (2007), as principais vantagens relacionadas a
aplicação da CFD são:
 Análise mais detalhada do sistema;
 Aplicação, em geral, para diversas situações;
 Interação de diversos fluxos de elementos, dos quais podem envolver a camada
limite.

26
 Variação de parâmetros: menor tempo para alterar parâmetros comparado a uma
investigação experimental, consequentemente há reduções de custos nos testes.

4 METODOLOGIA

A metodologia adotada para avaliar o conforto térmico da sala de aula e sistema de


climatização deste ambiente foi dividida em três fases. A primeira, compreendeu a coleta das
variáveis do ambiente térmico e das variáveis pessoais. Além disso, foi feito um levantamento
da sensação de conforto térmico dos alunos por meio da aplicação de questionários subjetivos.
A segunda fase, por sua vez, compreendeu a etapa de tratamento dos dados. Nesta etapa
foi feita uma comparação entre as sensações térmicas obtidas pela análise subjetiva – tratamento
estatístico das respostas obtidas no formulário – e análise quantitativa feita com auxílio de um
software para cálculo dos índices de PMV e PPD associados a determinação de conforto
térmico.
Outra etapa constituinte dessa fase corresponde a quantificação da carga térmica do
ambiente para avaliar a eficiência do sistema de climatização.
Na última fase, realizou-se uma simulação em CFD cujas as zonas térmicas puderam
ser avaliadas bem como o gradiente de velocidade.

4.1 COLETA DE DADOS

Os dados experimentais referentes as variáveis do ambiente térmico foram coletados por


3 dias consecutivos (18, 19 e 20 de Março de 2019), em 4 horários fixos (8h, 11h, 14h e 17h).
Nestes mesmos dias e horários foram aplicados os questionários de percepção térmica à uma
amostra de 20 alunos para levantamento dos parâmetros subjetivos.
Todos os dados coletados foram tabulados através do programa Microsoft Excel® para
posterior tratamento e análise.

4.1.1 Variáveis do ambiente térmico

Conforme a Norma ISO 7726 (1998) que estabelece critérios de precisão nas medidas e
tempo de resposta, todas as temperaturas foram feitas a uma altura de 0,60m (altura do tronco)
em relação ao chão considerando os efeitos de transferência de calor sobre o corpo de cada
indivíduo.
Foram utilizados os seguintes equipamentos de medição das variáveis: Termômetro
Digital Com Sensor Externo para medir as temperaturas das camadas limites, Termômetro
27
Digital a Laser para determinação da temperatura das superfícies e Anemômetro para medição
da temperatura do fluxo de saída do ar condicionado e velocidade deste ar.
A temperatura da superfície das quatro paredes da sala, teto, chão, lâmpadas, janelas e
porta foram determinadas com o medidor a laser respeitando uma distância de no máximo
0,45m da superfície apontada. A temperatura da superfície do corpo do aluno, posicionado no
centro da sala, também foi aferida por este aparelho.
A temperatura do fluido na camada limite das quatros paredes foram medidas pelo
aparelho. Foi considerada uma distância de até 0,10m em uma posição central de cada parede.
A temperatura ambiente também foi determinada a partir deste aparelho, que foi devidamente
posicionado no centro da sala.
Com o auxílio de um anemômetro disposto na saída da vazão do ar condicionado, foi
analisada a temperatura deste fluido, juntamente com a velocidade de escoamento na saída.
Pelo aplicativo gratuito Hygro termometer, disponível para sistema operacional Android
e IOS determinou-se temperatura externa e umidade de Cuiabá-MT.

4.1.2 Parâmetros subjetivos

Aplicou-se o questionário do Anexo II, baseado na escala de sete pontos de percepção


conforme método descrito na Norma ASHRAE (2013), ao grupo de alunos com intuito de
avaliar os parâmetros subjetivos, conexos ao posicionamento dos estudantes acerca da sensação
térmica e conforto.
Neste questionário foram coletadas as variáveis pessoais referentes as vestimentas dos
alunos para desenvolvimento da estimativa de isolamento térmico, necessárias para o posterior
cálculo do PMV e PPD. Não foram consideradas variações de gênero e faixa etária dos
participantes.
Vale ressaltar que houve uma orientação acerca dos objetivos da pesquisa, explicando
sobre o preenchimento dos questionários de percepção térmica antes que os mesmos fossem
aplicados.

4.2 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Com o tratamento dos dados buscou-se delinear, ponderar e predizer relações entre as
variáveis. Para isso, fez-se inicialmente, uma caracterização do objeto de estudo com base nas
condições climáticas da região. Em seguida, calculou-se a média de todos as variáveis térmicas
do ambiente, variáveis pessoais e subjetivas obtidas nos três dias de análise em função dos

28
horários. As etapas de análise foram dividas em Análise do conforto térmico e Análise da carga
térmica.

4.2.1 Análise do Conforto Térmico

Para análise da sensação de conforto térmico foram construídos histogramas com os


parâmetros subjetivos coletados a fim de identificar a sensação térmica predominante, bem
como índice de conforto. Posteriormente, a partir das médias de temperatura do ambiente, de
velocidade do ar, umidade e temperatura média radiante calculou-se, pelo software CBE
Thermal Comfort Tool, disponível online, os índices PMV e PPD de conforto.
O cálculo do fator de forma considerou um aluno situado no meio da sala de aula em
relação as paredes, teto e piso da sala. A Tabela1 apresenta os coeficientes para o cálculo do
fator de forma de acordo com a Figura 10, aplicado ao caso em que a pessoa está sentada.

Tabela 1: Constantes para o cálculo da equação analítica do fator de forma retangular.


𝐹𝑚á𝑥 𝐴′ 𝐵′ 𝐶′ 𝐷′ 𝐸′
PESSOA SENTADA, Figura X
Superfícies verticais, paredes, 0,118 1,2 0,169 0,717 0,087 0,052
janelas
PESSOA SENTADA, Figura P
0,116 1,396 0,130 0,951 0,080 0,055
Superfícies horizontais, teto, chão
Fonte: CIBSE Guide C (2001).

A fim de facilitar o cálculo, implementou-se um código no software Scilab para cálculos


desses fatores que está descrito Anexo III.

Figura 10: Disposição das medidas para o cálculo do fator de forma

29
4.2.2 Análise de Carga Térmica

Calculou-se, analiticamente, a carga térmica de acordo com a NBR 6401 de 1980, que
apresenta os dados necessários para avaliar as condições externas e internas do ambiente a ser
estudado, e comparou-se o resultado obtido com as capacidades de refrigerações dos ares
condicionados, verificando se os mesmos atendem as demandas.
Baseado na NBR 6401, para projetar um ar condicionado, o dimensionamento é dividido
em tapas que vão desde a concepção inicial e da definição das instalações, até o detalhamento
de obra e desenhos. A análise feita aqui é somente para os dois primeiros tópicos, que englobam
os cálculos necessários para determinar a carga térmica, que especifica a quantidade de calor
necessária a ser retirada do ambiente, e, por conseguinte, a potência necessária do ar
condicionado a ser instalado.
De antemão, definiu-se alguns dados de projeto, de acordo com um estudo preliminar e
pela norma, sendo estes: a localização geográfica do objeto de estudo, e suas características
ambientais. Foram determinados também características construtivas do recinto analisado, tal
como composição e espessura da parede, iluminação, dimensões do ambiente e de suas saídas
(portas e janelas) e equipamentos presentes. E finalmente, foram estabelecidos a ocupação da
estrutura: a quantidade de ocupantes e seus tempos médios de permanência.
A segunda parte do dimensionamento de carga térmica foi avaliar as participações de
cada fonte geradora de calor, baseando-se também nas normas da NBR 6401. Considerou-se
para a análise do presente trabalho, as seguintes cargas:
 Carga térmica pela insolação e transmissão de calor pelas janelas;
 Carga térmica pelas paredes externas e pelo telhado;
 Carga térmica da iluminação;
 Carga térmica do ar exterior (infiltrações);
 Carga térmica da renovação de ar;
 Carga térmica dos ocupantes.

4.3 SIMULAÇÃO EM CFD

O desempenho dos alunos está intimamente relacionado à distribuição térmica no


espaço em que o mesmo está situado. Portanto, dentro deste contexto, pode-se aplicar a
Fluidodinâmica Computacional (CFD) devido a sua capacidade em empregar soluções
numéricas das equações que governam o movimento dos fluidos na sala de aula.

30
Na Fluidodinâmica Computacional, as etapas envolvidas nas simulações de processos
podem ser divididas nos seguintes grupos (TU; YEOH; LIU, 2008):
 Pré-processamento: etapa que consiste na construção do domínio computacional (sala
de aula) e da construção da malha numérica (discretização do volume de controle),
definição das condições de contorno e dos fenômenos (modelos matemáticos)
envolvidos e da escolha dos procedimentos numéricos a serem utilizados ao longo das
simulações.
 Processamento: é a etapa responsável pela solução numérica do problema.
 Pós-processamento: visualização gráfica dos resultados obtidos da etapa de
processamento em diversos pontos do volume de controle computacional. A
visualização gráfica permitirá validar qualitativamente e quantitativamente os dados
simulados com os da literatura.
A malha consiste em uma representação discreta do domínio computacional através da
sua divisão em subdomínios (elementos, volumes de controle, células, entre outras) e tem
influência direta nos resultados da simulação numérica, devido cada equação que governa o
transporte de massa, momento e energia em movimento de fluidos ser associada a um elemento
da malha. Em geral, uma boa malha é capaz de evitar a instabilidade e divergência numérica ao
longo das simulações desempenhadas (WENDT, J. F. et al, 1992; TU; YEOH; LIU, 2008). As
malhas numéricas são compostas por diferentes elementos em 2D (geralmente em triângulos e
quadrados) e em 3D (tetraedros, hexaedros e prismas).

4.3.1 Modelagem matemática

O fluxo para simulação da sala de aula foi estabelicido como constante e é descrito pelas
Equações de Navier-Stokes com Médias de Reynolds (Reynolds-average Navier-Stokes -
RANS), desempenhadas com o modelo de turbulência k - ɛ, este que não requer condição de
contorno não homogênea, como em casos de modelos que usam taxas de dissipação específica
de energia cinética turbulenta, 𝜔 (MIRANDA et al., 2013). As Equações 16 a 18 a seguir
descrevem as equações de Navier-Stokes em coordenadas cartesianas, tal que a Equação 19 é
definida como a equação da continuidade.
̅̅̅𝑖
𝜕𝑢 𝜕 𝜕 𝑃̅ ̅̅̅
𝜕𝑢 ̅̅̅𝑗
𝜕𝑢
+ 𝜕𝑥 (𝑢̅𝑗 𝑢̅𝑖 ) = 𝐹̅𝑖 + 𝜕𝑥 [− 𝜌 𝛿𝑖𝑗 + 𝜈 (𝜕𝑥 𝑖 + 𝜕𝑥 ) − ̅̅̅̅̅̅
𝑢𝑖′ 𝑢𝑗′ ] ( 16)
𝜕𝑡 𝑗 𝑗 𝑗 𝑖

𝜕𝑣̅𝑖 𝜕 𝜕 𝑃̅ 𝜕𝑣̅ ̅̅̅𝑗


𝜕𝑣
𝜕𝑡
+ 𝜕𝑦 (𝑣̅𝑗 𝑣̅𝑖 ) = 𝐹̅𝑖 + 𝜕𝑦 [− 𝜌 𝛿𝑖𝑗 + 𝜈 (𝜕𝑦𝑖 + 𝜕𝑦 ) − ̅̅̅̅̅̅
𝑣𝑖′ 𝑣𝑗′ ] ( 17)
𝑗 𝑗 𝑗 𝑖

31
̅̅̅̅𝑖
𝜕𝑤 𝜕 𝜕 𝑃 ̅ 𝜕𝑤̅̅̅̅𝑖 ̅̅̅̅𝑗
𝜕𝑤
+ 𝜕𝑧 (𝑤
̅̅̅𝑤
𝑗 ̅̅̅)
̅ ̅̅̅̅̅̅̅
′ ′
𝑖 = 𝐹𝑖 + 𝜕𝑧 [− 𝜌 𝛿𝑖𝑗 + 𝜈 ( 𝜕𝑧 + 𝜕𝑧 ) − 𝑤𝑖 𝑤𝑗 ] ( 18)
𝜕𝑡 𝑗 𝑗 𝑗 𝑖

̅̅̅𝑖
𝜕𝑢 𝜕𝑣̅ ̅
𝜕𝑤
= 𝜕𝑦𝑖 = 𝜕𝑧 = 0 ( 19)
𝜕𝑥𝑖 𝑖 𝑖

Sendo, u, v e w a velocidade vetorial, (x,y,z) a coordenada espacial, t o tempo, F, a força


de campo, P a pressão, ρ a massa específica 𝑖𝑗 o operador delta de Kronecker e  a viscosidade
cinemática.
No modelo k - ɛ padrão, a energia cinética k, é provida de sua equação integral. Por sua
vez, a taxa de dissipação da energia turbulenta, ɛ, é estabelecida através da intuição física sobre
os fenômenos (LAUNDER; SPALDING, 1974). As equações de transporte para o modelo k -
ɛ (Eq. 20 e 21) são apresentadas a seguir.
𝜕 𝜕 𝜕 𝜇 𝜕𝑘
𝜕𝑡
(𝜌𝑘) +
𝜕𝑥𝑖
(𝜌𝑘𝑢̅𝑖 ) = 𝜕𝑥 [ (𝜇 + 𝜎 𝑡 ) 𝜕𝑥 ] + 𝑃𝑘 + 𝑃𝑏 − 𝜌𝜀 − 𝑌𝑀 + 𝑆𝑘 ( 20)
𝑗 𝑘 𝑖

𝜕 𝜕 𝜕 𝜇 𝜕𝜀 𝜀2
𝜕𝑡
(𝜌𝜀) +
𝜕𝑥𝑖
(𝜌𝜀𝑢̅𝑖 ) = 𝜕𝑥 [ (𝜇 + 𝜎𝑡 ) 𝜕𝑥 ] + 𝐶1𝜀 (𝑃𝑘 + 𝐶3𝜀 𝑃𝑏 ) − 𝐶2𝜀 𝜌 𝑘
+ 𝑆𝜀 ( 21)
𝑗 𝜀 𝑖

Sendo PK e PB, descritos como a produção de energia cinética turbulenta proveniente


dos gradientes de velocidade e da força de empuxo, respectivamente, YM a relação das
flutuações de compressibilidade devido à turbulência,C1ϵ, C2ϵ, C3ϵ dada como as constantes de
fechamento do modelo, 𝜎𝑘 e 𝜎𝜀 os números de Prandtl para 𝑘 e 𝜀, respectivamente, e 𝑆𝑘 e 𝑆𝜖
são termos de origem definidos pelo usuário.

4.3.2 Geometria e Condições de Contorno

A simulação será estabelecida em uma sala de aula com dimensões 8m de largura x 8m


de comprimento x 3,2m de altura. Considera-se a mesma temperatura para as janelas, portas e
a parede da sala de modo constante. A sala é ar condicionada, a qual dois condicionadores de
ar estão presentes com velocidade do fluxo de ar constante de 3 m/s e temperatura de 19,2ºC.
A região mais importante a ser avaliada localiza-se onde a pessoa está situada na sala
de aula, sendo a área de maior interesse devido o objetivo de analisar o conforto térmico
presente no sistema. Logo, foi elaborada uma geometria que simule a presença dos alunos
sentados, a qual se apresenta com uma temperatura de superfície do corpo de 32ºC, sendo
escolhida como a média das medições experimentais da temperatura da pele do aluno. Ademais,
foi considerada a temperatura de 28ºC para o ambiente.

32
4.3.3 Processamento da simulação

Para realização da simulação, dispôs a utilização de um computador com 4 GB RAM e


processador de 1.7 GHz. O computador utilizado apresenta sistema operacional Windows 10,
construído com um processador Intel® Core™ i3-4005U de 64 bits. O software CFX – Solve
Manager versão 19.2 Academic do pacote comercial da ANSYS, Inc foi empregado para
simular o caso de estudo descrito (ANSYS, Inc, 2012)

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

A instituição de ensino na qual o presente estudo foi realizado (Anexo IV) localiza-se
na cidade de Cuiabá, no estado do Mato Grosso. As análises foram realizadas em uma única
sala de aula, com dimensões de 8 metros de largura por 8 metros de comprimento, localizada
próximo a Universidade Federal de Mato Grosso.
O sistema de climatização deste ambiente é formado por dois ares condicionados
modelo Springer – Silver Maxi posicionados em uma parede que está em contato com o
ambiente externo e recebe radiação solar. Ainda nesta superfície há duas janelas, uma de
dimensões 0,965m por 1,5m e outra de 0,965m por 2m.
A parede oposta possui duas janelas de iguais dimensões (0,965m de altura de 2m de
largura), além de uma porta de 2,08m de altura e 0,97m de largura, que foram mantidas fechadas
durante toda a análise experimental. O teto, a uma altura de 3,2m, também está em contato com
o ambiente externo e sofre radiação solar.
Em relação a coleta de dados da análise subjetiva, os alunos que responderam os
questionários possuíam em média 10 anos.

5.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS

As variáveis do ambiente térmico externo e interno, bem como parâmetro do número de


alunos nos dias de análises encontram-se na Tabela 2.
Nota-se que a temperatura externa a sala de aula manteve-se dentro de uma faixa de 28-
35°C, enquanto a umidade relativa do ar oscilou de 49% a 83%. Nos dias de menor temperatura,
em sua maioria, a umidade relativa do ar esteve em torno de 80%, enquanto que nos dias com
maior temperatura se manteve na faixa de 40-50%.

33
Tabela 2: Condições climáticas do ambiente interno e externo do objeto de estudo

Horário nº alunos Umidade Temperatura Temperatura


externa interna
08:00 38 66% 33 27,7
1º DIA 11:00 38 63% 34 30
14:00 29 82% 28 26,7
17:00 29 83% 29 26
08:00 38 74% 30 27,4
11:00 - - - -
2º DIA
14:00 29 47% 36 28
17:00 29 40% 34 29,8
08:00 - - - -
11:00 34 63% 33 28,4
3º DIA
14:00 0 54% 30 29,1
17:00 29 49% 35 31
FONTE: Autores.

Por razões técnicas, não foi possível coletar os dados às 11h do 2º dia e às 8h do 3º dia.
Entretanto, para efeito de análise fez-se uma estimativa média para avaliar os comportamentos
térmicos em cada horário.
Em relação a temperatura de saída do fluxo de ar condicionado, temos os perfis
apresentados nas Figuras 11 a 13.
Figura 11: Medições do primeiro dia
30
28
Temperatura (ºC)

26
24
22
20
18
16
14
12
10
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

Ar Condicionado 1 Ar Condicionado 2

A notável diferença do comportamento térmico entre os primeiros dias de estudo e o


último pode ser explicado, principalmente, pelo fato de que às 14h do 2º dia, as medições foram
feitas com a sala sem alunos. Esse fato observado ressalta como o balanço térmico do corpo
humano gera uma alteração significativa da eficiência térmica do ar condicionado

34
Figura 12: Medição do segundo dia.
30
28
Temperatura (ºC)
26
24
22
20
18
16
14
12
10
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

Ar Condicionado 1 Ar Condicionado 2

Figura 13: Medições do terceiro dia


30
28
26
Temperatura (ºC)

24
22
20
18
16
14
12
10
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

Ar Condicionado 1 Ar Condicionado 2

.Ademais, pode-se observar que às 17h do terceiro dia a temperatura observada na saída
do fluxo do aparelho de ar condicionado estava bem mais alta que no horário anterior, assim
como a temperatura do ambiente. Os alunos tinham retornado da educação física e por efeito
de termorregulação térmica, a taxa de calor emitida por convecção e evaporação estavam
maiores.
Em relação as temperaturas da superfície aferidas com o medidor de temperatura a laser
estão indicadas nas Figuras 14 a 16.
A partir dos dados experimentais obtidos, observa-se que, a superfície de maior
temperatura, para todos os dias analisados, foi a da parede na qual se encontrava os ares
condicionados, já que não recebem o fluxo do mesmo.

35
Figura 14: Medições do primeiro dia

34

32
Temperatura (ºC)

Lâmpada
30
Chão
28 Parede do Quadro
Parede do Ar
26
Parede Oposta ao Ar
24 Parede dos fundos

22
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

Figura 15: Medições do segundo dia


36

34
Temperatura (ºC)

32 Lâmpada

30 Chão
Parede do Quadro
28
Parede do Ar
26
Parede Oposta ao Ar
24 Parede dos fundos

22
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

Figura 16: Medições do terceiro dia


34

32
Temperatura (ºC)

Lâmpada
30
Chão
28 Parede do Quadro

26 Parede do Ar
Parede Oposta ao Ar
24
Parede dos fundos
22
08:00 11:00 14:00 17:00
Horário

36
Outrossim, nota-se que a maior fonte de calor de radiação obtida foi a proveniente da
lâmpada, que apresentou em média 4ºC a mais que o restante das superfícies estudadas.
A parede na qual se encontrava o quadro apresentou uma tendência a diminuir sua
temperatura de superfície no período da tarde, devido ao fato da mesma receber o sol da manhã,
e ficar sob a sombra no outro período.
A parede dos fundos, a parede oposta aos ares condicionados e o chão, apresentaram
perfis de temperatura semelhantes, no qual a temperatura diminuía conforme o tempo passava
nos períodos, ou seja, às 8h e às 14h, as temperaturas eram superiores do que as 11h e as 17h.
Isso porque, essas superfícies sofrem maior influência dos ares condicionados, que esfriavam
mais com o passar do tempo de seu funcionamento, do que da radiação solar.
A Tabela 3 sumariza os dados das variáveis térmicas analisados, mostrando alguns
parâmetros estatísticos. Para estes cálculos se utilizou o software Excel© e foi considerado uma
estimativa para os dias em que não foi possível realizar a coleta de dados.
Tabela 3: Análise estatística das variáveis do ambiente térmico

Desvio
Fonte Variável Mínimo Máximo Média
Padrão
Temperatura Da Lâmpada 27,00 35,10 30,65 2,47
Temperatura do Chão 25,30 28,00 26,25 1,08
Temperatura da Parede do Quadro 24,20 29,00 26,25 1,65
Dados Temperatura Da Parede do Ar 25,20 31,30 28,30 2,10
obtidos com Temperatura Oposta ao Ar 24,50 28,30 26,53 1,33
o medidor Temperatura da Parede do Fundo 24,80 27,70 26,45 0,96
de Temperatura da Porta 24,80 30,20 27,12 1,66
temperatura Temperatura da Mesa dos Alunos 23,80 28,00 25,58 1,61
a Laser
Temperatura do Aluno 28,00 33,30 31,05 1,94
Temperatura da Janela sob Ar 1 25,60 47,90 33,68 7,39
Temperatura da Janela sob Ar 2 25,50 42,00 32,60 4,98
Temperatura da Porta Oposta ao Ar1 25,00 35,00 28,36 2,89
Temperatura da Porta Oposta ao Ar 2 25,60 35,00 28,40 2,83
Dados Temperatura da Parede do Quadro 25,10 30,90 28,65 1,99
obtidos com
Temperatura Da Parede do Ar 25,70 31,30 27,85 1,80
medidor de
temperatura Temperatura Oposta ao Ar 24,90 31,00 28,70 1,61
da camada
Temperatura Ambiente 26,00 30,00 28,04 1,20
Limite
Temperatura do Ar condicionado 1 12,10 28,00 21,00 4,71
Dados
Temperatura do Ar condicionado 2 12,80 26,30 18,00 4,60
obtidos com
Fluxo de ar do Ar condicionado 1 1,20 2,40 2,20 0,42
Anemômetro
Fluxo de ar do Ar condicionado 2 1,60 5,00 2,35 1,01

37
Dos dados apresentados, destaca-se que um dos menores desvios dos resultados
apresentados é a variação da temperatura da parede dos fundos. Isso pode ser explicado
considerando que esta parede era a oposta ao recebimento dos raios solares. No outro extremo,
ressalta-se um alto desvio padrão das temperaturas obtidas para os ares condicionados, que
acontece em função da grande variação das temperaturas fornecidas pelos fluxos de calor ao
longo dia, variáveis com diversos fatores ambientais.

5.3 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CONFORTO TÉRMICO

5.3.1 Análise qualitativa

Considerando o método de Fanger (1970) e o questionário de sensação térmica aplicado,


determinou-se no histograma representado na Figura 17 a sensação térmica dos alunos, em
função do horário, a partir da média aritmética simples realizada com base nas respostas dos 3
dias de análise.
Vale destacar que 7,22% das respostas foram descartadas considerando que os alunos
não respeitaram as orientações de preenchimento do questionário, marcando mais de uma
opção.
Figura 17: Sensação térmica segundo a percepção dos alunos
7
-3:Muito Frio
6 -2: Frio
-1: Levemente frio
5
0: Neutro
1: Levemente Quente
4
2: Quente
3 2: Muito Quente

0
-3 -2 -1 0 1 2 3

08hr 11hr 14hr 17hr

Pode-se observar que os alunos estavam sentindo, em sua maioria, que o ambiente
estava levemente quente (+1) às 08:00hrs, neutro (0) às 14:00hrs e às 17:00hrs. No entanto, às
11:00hrs, a sensação térmica dos alunos, pela média apresentou números de votos iguais para
sensação térmica neutra e levemente quente.

38
Na Figura 18 é possível observar que, de modo geral, os alunos se sentem confortáveis
em relação as condições climáticas aos quais estão sujeitos. Já em relação as variáveis pessoais
foi possível observar que apenas uma pequena quantidade de alunos estavam agasalhados. Esta
informação é importante, pois para efeito de cálculo do PMV e PPD consideramos nível de
roupa baixo.

Figura 18: Conforto térmico e dados sobre vestimenta

Confortável 138 29

Sim
Não
Agasalhados 26 141

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180


Quantidade de alunos

5.3.2 Análise quantitativa - PMV e PPD

Para análise no software CBE Thermal Comfort Tool foram consideradas as variáveis
de entrada expressas na Tabela 4.
Tabela 4: variáveis de entrada para cálculo do PMV e PPD

Temperatura Temperatura Nível


Velocidade Taxa
Horário ambiente radiante Umidade de
do ar (m/s) metabólica
média (°C) média (°C) roupa
08h 27,55 26,6 0,1 1 39 % 0,57
11h 29,2 26,4 0,1 1 39 % 0,57
14h 27,93 26,7 0,1 1 39 % 0,57
17h 28,93 26,07 0,1 1 39 % 0,57

A temperatura média radiante foi calculada considerando fator de forma igual a 0,087
para as paredes verticais, e 0,319 para teto e piso, determinados pelo programa criado no
Scilab© conforme descrito na Tabela 5.
O nível de roupa considerado corresponde a um indivíduo com calça, camisa de manga
curta, meia, sapato e roupa íntima. Já a taxa metabólica é considerada igual a 1 devido ao fato
de os alunos estarem sentados lendo, sem exercer nenhuma atividade que aumente o
metabolismo. Ademais, a umidade também foi mantida constante em 39% conforme a NBR
6401 (1980) e a velocidade do ar em 0,1 m/s.

39
Observa-se que há similaridades de determinados fatores de forma devido a
consideração que a pessoa analisada para o cálculo do fator de forma esteja no centro da sala,
esta que apresenta dimensões de comprimento e largura iguais. Ademais, verifica-se que a
somatória do fator de forma é próximo a um unitário, condizente com o resultado esperado para
superfícies fechadas. Após implementadas as variáveis de entrada no software obteve-se os
resultados apresentados nas Figuras 19 a 23.
Tabela 5: Cálculos dos fatores de forma da sala de aula avaliada.

Parede do Quadro 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷


𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,087
Parede Leste 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷
𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,087
Parede Sul 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷
𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,087
Parede Oeste 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷
𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,087
Teto 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷
𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,319
Piso 𝐹𝑃−𝐴𝐵𝐶𝐷 = 𝐹𝑃−𝐴 + 𝐹𝑃−𝐵 + 𝐹𝑃−𝐶 + 𝐹𝑃−𝐷
𝐹𝑃−𝐴 0,033
+𝐹𝑃−𝐵 0,033
+𝐹𝑃−𝐶 0,011
+𝐹𝑃−𝐷 0,011 0,319
𝐹𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠−𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠 0,988

40
A zona de temperatura térmica confortável para os indivíduos está representada pela
faixa azul indicada em cada uma das figuras e o círculo vermelho representa as condições
térmicas determinadas para os valores de entrada inseridos.
Figura 19: Carta Psicrométrica de 08h

FONTE: CBE Thermal Comfort Tool.


Embora, na análise subjetiva de 08h a sensação térmica dos alunos tenha se apresentado
como levemente quente, na análise do PMV obteve-se resultados em conformidade com a
Norma ASHRAE 55. O PMV calculado foi 0.40 e PPD de 8%, representando um ambiente
neutro (0).
Figura 20: Carta psicrométrica de 11h

41
Para a análise de 11h (Figura 20), ambos os métodos apresentaram sensação térmica
levemente quente (+1) com PMV igual a 0,66 e PPD igual a 14%.
A análise dos índices de conforto térmico realizada para o horário de 14h, representada
na Figura 21, apresentou dados no limite do conforto térmico com PMV igual a 0,48 e PPD
igual a 10% com temperatura média de 26,5°C. Novamente, os resultados estão em consonância
com a análise subjetiva na qual a maioria dos alunos disse ter a percepção térmica equivalente
a um ambiente neutro.
Figura 21: Carta Psicrométrica de 14h

FONTE: CBE Thermal Comfort Tool.

Figura 22: Carta Psicrométrica de 17h

FONTE: CBE Thermal Comfort Tool.

42
Assim como na análise anterior, os alunos também preencheram o questionário
afirmando estarem em um ambiente neutro as 17h embora nos cálculos de PMV e PPD, os
resultados tenham sido 0,56 e 11% respectivamente.

5.4 RESULTADOS DA ANÁLISE DE CARGA TÉRMICA

i) Determinação das características de contorno

Localização: Cuiabá-MT (Brasil)


Latitude: 15º 35’ 46’’ S
Longitude: 56º 05’ 48’’ W
Altitude média: 176 m
Pressão atmosférica: 1 atm
Características do ambiente, segundo a tabela 6 de Condições Externas para Verão:
TBS (Temperatura do Bulbo Seco): 36ºC
TBU(Temperatura do Bulbo Úmido): 27ºC
Umidade relativa: 39%
Composição e espessura de parede:
Considerou-se que todas as paredes eram compostas pela sequencia:
Tinta – Argamassa – Mistura de concreto e tijolo – Argamassa – Tinta.
Iluminação: 8 lâmpadas fluorescentes de 40w cada.
Dimensões do recinto: 8m x 8m x 3,14m
Dimensões das Janelas:
Janela 1 e 2: Aa = 0,965m x 1,5m = 1,45 m2
Janela 3 e 4: Ab = 0,965m x 2m = 1,93 m2
Equipamentos:
Não foi verificado nenhum equipamento com geração de calor.
Ocupação do recinto:
Em média, a sala suporta 29 alunos, que permanecem no recinto por aproximadamente
4 horas, em cada período (matutino e vespertino).
Tipo de atividade: Escola primária
Faixa de temperatura Indicada: 23 a 25ºC
Faixa de umidade indicada: 40 a 60%

ii) Cálculo de cargas térmicas

43
- Carga térmica derivada da insolação e transmissão de calor pelas janelas
Para o cálculo de Insolação nas janelas, utilizou-se da tabela com coeficientes de
transmissão de calor através de vidros, que relaciona o período do ano, a face da estrutura
analisada, e os valores máximos dos coeficientes em e cada orientação.
Sendo assim, considerando a geometria da sala de aula e a sua localização segundo as
rosa dos ventos, sabe-se que as janelas 1 e 3 estavam nas paredes ao Leste, e as janelas 2 e 4 na
parede Oeste. Portanto, os coeficientes Ui para as janelas são:
Ui(janela 1) =458 kcal/h*m2
Ui(janela 2) =439kcal/h*m2
Ui(janela 3) =458 kcal/h*m2
Ui(janela 4) =439kcal/h*m2
Tendo que:
𝑄𝑖 = 𝐴𝑗 ∗ 𝑈𝑖 ( 22)

Onde:
𝑄𝑖 : Calor por insolação nas janelas
𝐴𝑗 : Área da janela
𝑈𝑖 : Coeficiente de transmissão de calor solar através de vidros
Deste modo, as cargas térmicas derivadas dessas insolações são:
Qi(janela 1) = Aa* Ui(janela 1) = 662,955Kcal/h
Qi(janela 2) = Aa* Ui(janela 2) = 542,50 Kcal/h
Qi(janela 3) = Ab* Ui(janela 3) = 883,94 Kcal/h
Qi(janela 4) = Ab* Ui(janela 4) = 847,27 Kcal/h
A carga térmica total derivada da insolação calculada é 2936,66Kcal/h.
Já o cálculo de transmissão é feito considerando o coeficiente global de transmissão de
calor para janelas de vidros comum, sendo igual pra todas as vidraças, Ut=5,18Kcal/h*m2*ºC.
Logo, as cargas térmicas são:
𝑄𝑡𝑗 = 𝐴𝑗 ∗ 𝑈𝑡𝑗 ∗ (𝑇𝐵𝑆 − 𝑇𝑖𝑛𝑡 ) ( 23)

Onde:
𝑄𝑡𝑗 : Calor por transmissão nas janelas
𝑈𝑡𝑗 : Coeficiente global de transmissão de calor para janelas de vidros
Qt(janela 1)= Qt(janela 2)=Ut*Aa(TBS-Tint) = 89,97Kcal/h
Qt(janela 3)= Qt(janela 4)=Ut*Ab(TBS-Tint) = 119,96Kcal/h
A carga térmica total derivada da transmissão solar calculada é 419,13Kcal/h.
44
- Carga térmica através de paredes externas e do telhado
Para o cálculo de transmissão de calor a partir das paredes, desconsiderou-se a
condutividade da tinta, em razão de sua espessura ser ínfima. O coeficiente global de
transmissão de calor para tijolos furados (20x20x10cm), dado pela tabela 3.3 da NBR 1601, é
Up=2,59kcal/h*m2*ºC, logo:
𝑄𝑝 = 𝐴𝑒𝑥𝑡 ∗ 𝑈𝑝 ∗ (𝑇𝐵𝑆 − 𝑇𝑖𝑛𝑡 ) ( 24)

Onde:
𝑄𝑝 : Calor por transmissão nas paredes
𝐴𝑒𝑥𝑡 : Área externa total
𝑈𝑝 : Calor por transmissão nas paredes
A área total externa é 4* 8m x 3,14m = 100,48m2, dessa forma, 𝑄𝑝 =3122,91Kcal/h.
A carga térmica da cobertura é calculada utilizando-se o coeficiente global de
transferência de calor para telhado, Ut=2,11 kcal/h*m2*ºC.
𝑄𝑡 = 𝐴𝑡 ∗ 𝑈𝑡 ∗ (𝑇𝐵𝑆 − 𝑇𝑖𝑛𝑡 ) ( 25)
Onde:
𝑄𝑡 : Calor por transmissão no telhado
𝐴𝑡 : Área do telhado
𝑈𝑡 : Coeficiente global de transferência de calor para telhado
A área do telhado é 8m*8m = 64m2, logo, Qt = 1620,48Kcal/h.

- Carga térmica de iluminação


De acordo com Pirani (2004), pode se considerar a potencia nominal doe equipamentos
eletrônicos presentes no ambiente como cargas térmicas sensíveis, e seus ganho são dados por:
𝑄𝑙 = 𝑛 ∗ (1 + 𝑟) ∗ 𝑃 ∗ 0,86 ( 26)
Onde:
𝑄𝑙 : Calor derivado da iluminação
n: Quantidade de lâmpadas
𝑟: porcentagem de calor dissipado pelos reatores
𝑃: Potencia nominal da lâmpada
Como o reator térmico em questão são lâmpadas fluorescentes, r=0,075, logo
𝑄𝑙 =295,84Kcal/h.

- Carga térmica do ar exterior (infiltrações)

45
As infiltrações de ar calculadas pela NBR 6401 são baseadas nas possíveis frestas das
janelas e portas, considerando-se a velocidade do ar de 15km/h. Para janelas comuns, é tabelado
3m3/h por metro de fresta (largura considerada de 4,5mm). Entretanto, como se está estimando
um ambiente fechado, este fator será desconsiderado nos cálculos.
Já para as portas, as infiltrações são calculadas pela quantidade de pessoas no recinto, e
pelo local na qual esta instalada a porta. No caso de uma escola primária, essa vazão de saída
de ar é ignorada, uma vez que se entende que os alunos saem esporadicamente do local.

- Carga térmica da renovação do ar


Baseado na norma vigente para as análises feitas, a vazão de ar exterior para renovação
necessária em uma sala de aula é de 50m3/h por pessoa, desta forma, para o caso analisado, a
renovação ar é de 1450m3/h. Além disso, foram considerados para os cálculos de calor pela
renovação de ar, os seguintes parâmetros:
𝑄𝑟𝑒 = 𝜌𝑎𝑟 ∗ 𝑐𝑝 ∗ 𝑉 ∗ (𝑇𝐵𝑆 − 𝑇𝑖𝑛𝑡 ) ( 27)

Onde:
𝑄𝑟_𝑒 : Carga térmica específica da renovação do ar
𝜌𝑎𝑟 : Densidade do ar
𝑐𝑝: Calor especifico do ar
𝑉: Vazão de renovação de ar
A densidade do ar é de 1,20 kg/m3 e o calor específico é 1,013kJ/Kg*ºC, portanto,
𝑄𝑟_𝑒 =5059,52kcal/h.
Para o cálculo de calor latente:
𝑄𝑟𝑙 = 𝜌𝑎𝑟 ∗ 𝑐𝑙 ∗ 𝑉 ∗ (𝑊𝑒 − 𝑊𝑖 ) ( 28)

Onde:
𝑄𝑟_𝑙 : Carga térmica latente da renovação do ar
𝑐𝑙: Calor latente de vaporização de água líquida
𝑊𝑒 : Umidade específica do ar externo
𝑊𝑖 : Umidade especifica do ar interno
O calor latente de vaporização da água líquida é de 2500 kJ/kg e as umidades específicas
externas e internas são respectivamente 0,021 kg/kg e 0,011kg/kg. Resultando em Qr_l =
9177,55kcal/h.

- Carga térmica dos ocupantes

46
Como foi determinado que a média de alunos presentes na sala era de 29 crianças, e
que os mesmos permanecem cerca de 4 horas no local, considerando a tabela 12 para o caso de
uma escola primária, na qual os ocupantes permanecem sentados, ou seja, com baixa
movimentação, tem que o calor sensível liberado à 24ºC é de 60kcal/h por pessoa, logo:
𝑄𝑡𝑠 = 𝑁 ∗ 𝑄𝑜𝑠 ( 29)

Onde:
𝑄𝑡_𝑠 : Carga térmica sensível total dos ocupantes
𝑁: Número de ocupantes
𝑄𝑜_𝑠 : Calor sensível liberada por ocupante
Obtendo-se 𝑄𝑡_𝑠 = 1740 kcal/h.
Já o calor latente nessas mesmas condições é de 40 kcal/h, logo:
𝑄𝑡𝑙 = 𝑁 ∗ 𝑄𝑜𝑙 ( 30)

Onde:
𝑄𝑡_𝑙 : Carga térmica latente total dos ocupantes
𝑄𝑜_𝑙 : Calor latente liberada por ocupante
O que resulta em 𝑄𝑡_𝑠 = 1160 kcal/h.
Somando-se todas as cargas térmicas obtidas, chegou-se ao resultado de Qt = 101250,33
BTU/h. Cada ar condicionado no ambiente estudado possuía 36000 BTU, como havia 2
aparelhos, constata-se que o valor fornecido não atende toda demanda da sala.

5.5 RESULTADOS DA SIMULAÇÃO DO MODELO

O processo de simulação durou aproximadamente 40 minutos para resolver o caso com


a malha de 519291 elementos e 124633 nós. A malha computacional construída para a
simulação da sala de aula é composta por elementos tetraédricos. Foi adotado o máximo de 150
interações no processo com RMS (medida do desiquilíbrio local para cada equação do domínio
computacional) de 0,00055. A Figura 23 mostra a geometria construída que representa a sala
de aula e a Figura 24 a malha da geometria construída para a simulação.
Na simulação do processo, considerou-se um que a velocidade do fluido que sai do ar
condicionado possui apontamento para o eixo y e z. A Figura 23 apresenta tamém a indicação
da inclinação de incidência do fluxo de ar que sai pelo condicionador de ar.
As Figuras 25 e 26 apresentam a distribuição de velocidade local do ar na altura de 0,3
metros e 2 metros, respectivamente, na sala de aula. É possível verificar que as altas velocidades

47
da distribuição do ar são predominantes na área central da sala devido ao ar condicionado
direcionar o fluxo de escoamento para o centro.
Figura 23: Geometria da sala de aula

Figura 24: Malha da geometria construída para a simulação

48
Figura 25: Perfil de velocidade local em 0,3m.

Figura 26: Perfil de velocidade local para 2m.

Para tanto, através da Figura 27 é possível observar que a região central da sala de aula,
apresenta a menor temperatura, consequentemente relacionado ao caso da distribuição da alta
velocidade de ar empregado pelo ar condicionado. Sobretudo, observa-se que a superfície do

49
quadro apresentou as maiores temperaturas em comparação aos outros pontos da sala, devido
ao fato da região discutida apresentar-se como a zona de menor fluxo de ar.
Figura 27: Perfil de temperatura local para 2m.

Figura 28: Distribuição de temperatura global da sala de aula para 2m.

Analisando a Figura 28, obteve-se uma temperatura média da sala de aula de 28,5 ºC.
Essa condição térmica condiz com a média dos dados experimentais obtidos. Como pode ser
analisado, os resultados da simulação proporcionam diversos parâmetros como a pressão, a
temperatura do ar a velocidade, porém não geram nenhum dado direto para o conforto térmico.

50
6 CONCLUSÃO

Conclui-se pelo estudo desenvolvido, que a análise do conforto térmico em ambientes


escolares interfere nas condições psicofisiológicas vivenciadas pelos alunos, que no caso dos
parâmetros analisados, o local examinado provou estar dentro das normativas que definem os
índices PMV e PPD de qualidade térmica.
Os resultados das análises subjetivas acerca do conforto térmico estão condizentes com
o método adotado pela legislação fundamentada na técnica desenvolvida por Fanger (1970).
Com relação à análise de carga térmica, verificou-se que para as condições estabelecidas
pela NBR 6401, a potência de resfriamento do ar condicionado (72.000 BTU’s) não atende de
forma eficiente a carga térmica necessária para o ambiente (aproximadamente 100.000 BTU’s),
ficando cerca de um terço abaixo do esperado. Entretanto, vale ressaltar que a norma estabelece
que a temperatura ideal de uma sala de aula seria em torno de 24° C, e tanto experimentalmente
quanto numericamente, a temperatura média do ambiente analisado ficou 4° C acima. Embora
não seja o parâmetro ideal, os alunos não demonstraram estar desconfortáveis com essas
condições.
A simulação computacional também demonstrou ser de grande auxílio para visualização
da distribuição térmica e do fluxo de ar, compreendendo as zonas de transferência de massa e
calor dentro da sala de aula.
O resultado obtido pela ferramenta computacional permitiu concluir que o
posicionamento do ar condicionado na parede oposta do quadro melhoraria a distribuição de ar
no ambiente e, consequentemente, promoveria uma maior homogeneidade térmica da sala de
aula. Além disso, a temperatura obtida numericamente coincidiu com a temperatura média
experimental. O que salienta a consistência do método.

6.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

• Adição de novos parâmetros a parte experimental, bem como dados qualitativos de sexo,
idade, e localização dos indivíduos dentro do ambiente analisado, para verificar as relações
desses fatores com suas perspectivas quanto a sensações térmicas e biológicas.
• Repetição das coletas de dados objetivos em outras estações, junto com aplicação dos
questionários aos indivíduos para analisar situações térmicas variáveis com o clima.
• Verificar cargas térmicas por ventilação natural, como forma de analisar um sistema de
ventilação cruzada dentro das salas de aulas.

51
• Incluir cargas térmicas desconsideradas nos cálculos do presente trabalho, verificando
se a soma de seus pequenos acréscimos poderia modificar significativamente na carga total.
• Fazer modelagens com CFD em temperaturas diferentes, para analisar fluxos de ar com
outras condições de contorno.
• Acrescentar às modelagens com CFD condições em estado transiente para verificar o
comportamento temporal dos fluxos de ar ao longo do dia no volume de controle.

52
7 REFERÊNCIAS

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ASHRAE55. Thermal environmental conditions for human occupancy. American


Society of Heating, Refrigerating and Air-conditioning Engineers Inc. Atlanta, GA, USA, 2013.

BRAZ, JOSÉ REYNALDO C. Fisiologia da termorregulação normal. Departamento de


Anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual de São Paulo-
UNESP. In Revista Neurociências, 2005.

CORREIA et. al. Avaliação do conforto térmico em uma sala de aula. XXXVI Encontro
Nacional De Engenharia De Producão. João Pessoa – Paraíba. 2016

COUTINHO, A. S. Conforto e Insalubridade térmica em ambientes de trabalho. 2ª ed.


João Pessoa. Ed. Universitaria, 2005.

CIBSE Guide C, Reference data. 2001.

DATE, Anil W. Introduction to Computational Fluidynamics. Cambridge: Cambridge


University Press, 2005. 377 p.

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engineering. United States: McGraw-Hill Book Company, 1970. 244 p.

INFRAERO, Aeroportos Brasileiros. Manutenção Básica em Sistemas de Ar


Condicionado. Guarulhos, 2009.

ISO 7730: Ergonomics of the thermal environment —Analytical determination and


interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local
thermal comfort criteria, Geneva, 2005.

ISO/DIS 7726. Ergonomics of the thermal environment – Instruments for measuring


physical quantities. International Organization for standardization, Genebra, 1998.

LAMBERTS, Roberto et al. Conforto e stress térmico. LabEEE, UFSC, 2011.

LAUNDER, B. E.; SPALDING, D. B. The numerical computation of turbulent flows.


Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, UK, v. 3, n. 2, p. 269-289, mar.
1974.

53
LUCAS, RUAN E. C. SILVA, LUIZ B. Conforto ambiental em sala de aula: Análise da
percepção térmica dos estudante de duas regiões e estimação de zonas de conforto. In Revista
Produção Online. Florianópolis – SC. p. 804-827. 2017

MACHADO, H. A. Refrigeração e ar condicionado. Rio de Janeiro, 2009. (apostila)

MATTOS, U. MÁSCULO, F. Higiene e Segurança do Trabalho. Rio de Janeiro. Brasil.


2011.

MIRANDA, W. R.; NASCIMENTO JR., E. D.; REZENDE, A. L. T. Simulação


Numérica de uma Bolha de Separação em Bordo Arredondando Utilizando Equações Médias
de Reynolds. In: XI Simpósio Brasileiro de Automação Inteligente. Fortaleza, out. 2013.

MOURA et. al. O conforto ambiental do professor em sala de aula. In Revista Produção
Acadêmica. p. 98-114. 2016

OLIVEIRA, Ricardo Henrique Sousa; RODRIGUES, Stéfanny Guimarães. Análise da


influência da climatização do ambiente no desempenho estudantil. 2015.

PENA, S.M. Sistemas de Ar Condicionado e Refrigeração. Programa Nacional de


Conservação de Energia Elétrica, 1° Edição. 2002.

PINTO, J. Psicologia da aprendizagem: Concepções, teorias e processos. 4. ed. Stória


Editores LDA, 2003. 51 p.

SIQUEIRA, J. C. F. Avaliação d parâmetros cardiovasculares e desempenho cognitivos


de estudantes de ambientes inteligentes de ensino submetidos à variação de temperatura do ar.
Dissertação (mestrado). UFPB. João Pessoa. 2015.

TORRES, MANOEL G. L. Conforto térmico e desempenho nos ambientes de ensino


com inovações tecnológicas – estudo multicasos no nordeste brasileiro. João Pessoa.
Dissertação (mestrado) UFPB/CT. 2016.

TRIBESS, Arlindo; HERNANDEZ NETO, Alberto. Aspectos de conservação de


energia em ambientes condicionados. Anais, 1997.

TU, J., YEOH, G.H. AND LIU, C. Computational Fluid Dynamics: A Practical
Approach. 1. ed. Butterworth-Heinemann, London, 2008. 456p.

VERSTEEG, H. K.; MALALASEKERA, W. An introduction to computational fluid


dynamics: the finit volume method. 2. ed. Harlow: Pearson Education, 2007. 503 p.
54
WENDT, J. F. et al. Computational fluid dynamics: An Introduction. Berlin, Springer-
Verlag, 1992. 332 p.

ÇENGEL, Yunus A.; GHAJAR, Afshin J. Transferência de calor e massa: uma


abordagem prática. 4. ed. São Paulo: McGraw-Hill, Bookman, AMGH, 2012. 902 p.

55
ANEXOS

ANEXO I – RESUMO DAS NORMAS SOBRE AMBIENTE TÉRMICO

A. ISO 7730/2005: Fundamentada no modelo desenvolvido por Fanger (1970) esta norma
estabelece índices para predizer a sensação térmica do indíviduo, quando este é
submetido a determinado ambiente, além do percentual de pessoas insatisfeitas com as
condições térmica, considerando que o local não apresenta grandes discrepâncias de
temperatura em todas as zonas.
B. ASHRAE 55/2013: Referente a ambientes térmicos e condições para ocupação humana,
esta norma especifica as combinações dos parâmetros térmicos pessoais de um
ambiente, além de apresentar informações sobre o isolamento das vestimentas, os
períodos e localizações de medições, o desconforto devido à corrente de ar. Constitui
uma importante bibliografia em relação aos estudos realizados acerca do tema.
C. NR 15, Anexo nº3/1978: Esta norma fia os limites de tolerância para exposição ao calor,
definindo os limites máximos de tempo ao qual o indivíduo pode permanecer sujeito a
uma condição de stress por calor.

ANEXO II – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO


(ADAPTADO DA NORMA ASHRAE 55)

Você está agasalhado?


Sim Não

Qual sua sensação térmica hoje?


Levemente quente
Quente
Muito Quente
Neutro
Levemente frio
Frio
Muito Frio

Você está se sentindo confortável hoje?


Sim Não

56
ANEXO III – PROGRAMA IMPLEMENTADO NO SCILAB PARA CÁLCULO DO FATOR
DE FORMA E TEMPERATURA MÉDIA RADIANTE

//DETERMINAÇÃO DO FATOR DE FORMA

avert1 = 4 // distância pessoa parede - comprimento


bvert1 = 2.6 // distância eixo central da pessoa e teto - altura
cvert1 = 4 // distância pessoa parede - largura
Avert1 = 1.216 //coeficiente vertical
Bvert1 = 0.169 //coeficiente vertical
Cvert1 = 0.717 //coeficiente vertical
Dvert1 = 0.087 //coeficiente vertical
Evert1 = 0.052 //coeficiente vertical
Fmaxvert1 = 0.118 //coeficiente vertical
tauvert1 = Avert1 + Bvert1*(avert1/cvert1)
betvert1 = Cvert1 + Dvert1*(bvert1/cvert1) + Evert1*(avert1/cvert1)
FactorVertical1 = Fmaxvert1*(1 - (exp(-(avert1/cvert1)/tauvert1)))*(1 - (exp(-(bvert1/cvert1)/betvert1)))
disp(FactorVertical1)

ahoriz1 = 4 // distância pessoa parede - comprimento


bhoriz1 = 4 // distância pessoa parede - largura
choriz1 = 2.6 // distância eixo central da pessoa e teto - altura
Ahoriz1 = 1.396 //coeficiente horizontal
Bhoriz1 = 0.130 //coeficiente horizontal
Choriz1 = 0.951 //coeficiente horizontal
Dhoriz1 = 0.080 //coeficiente horizontal
Ehoriz1 = 0.055 //coeficiente horizontal
Fmaxhoriz1 = 0.116 //coeficiente horizontal
tauhoriz1 = Ahoriz1 + Bhoriz1*(ahoriz1/choriz1)
bethoriz1 = Choriz1 + Dhoriz1*(bhoriz1/choriz1) + Ehoriz1*(ahoriz1/choriz1)
FactorHoriz1 = Fmaxhoriz1*(1 - exp(-(ahoriz1/choriz1)/tauhoriz1))*(1 - exp(-(bhoriz1/choriz1)/bethoriz1))
disp(FactorHoriz1)

avert2 = 4 // distância pessoa parede - comprimento


bvert2 = 0.6 // distância eixo central da pessoa e teto - altura
cvert2 = 4 // distância pessoa parede - largura
Avert2 = 1.216 //coeficiente vertical
Bvert2 = 0.169 //coeficiente vertical
Cvert2 = 0.717 //coeficiente vertical
Dvert2 = 0.087 //coeficiente vertical
Evert2 = 0.052 //coeficiente vertical
Fmaxvert2 = 0.118 //coeficiente vertical
tauvert2 = Avert2 + (Bvert2*(avert2/cvert2))
betvert2 = Cvert2 + Dvert2*(bvert2/cvert2) + Evert2*(avert2/cvert2)
FactorVertical2 = Fmaxvert2*(1 - (exp(-(avert2/cvert2)/tauvert2)))*(1 - exp(-(bvert2/cvert2)/betvert2))
disp(FactorVertical2)

ahoriz2 = 4 // distância pessoa parede - comprimento


bhoriz2 = 4 // distância pessoa parede - largura
choriz2 = 0.6 // distância eixo central da pessoa e teto - altura
Ahoriz2 = 1.396 //coeficiente horizontal
Bhoriz2 = 0.130 //coeficiente horizontal
Choriz2 = 0.951 //coeficiente horizontal
Dhoriz2 = 0.080 //coeficiente horizontal
Ehoriz2 = 0.055 //coeficiente horizontal
Fmaxhoriz2 = 0.116 //coeficiente horizontal
tauhoriz2 = Ahoriz2 + Bhoriz2*(ahoriz2/choriz2)
bethoriz2 = Choriz2 + Dhoriz2*(bhoriz2/choriz2) + Ehoriz2*(ahoriz2/choriz2)
FactorHoriz2 = Fmaxhoriz2*(1 - exp(-(ahoriz2/choriz2)/tauhoriz2))*(1 - exp(-(bhoriz2/choriz2)/bethoriz2))
disp(FactorHoriz2)

FParedeAr = 2*FactorVertical1 + 2*FactorVertical2


FParedeFun = 2*FactorVertical1 + 2*FactorVertical2
FParedeOp = 2*FactorVertical1 + 2*FactorVertical2

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FParedeFrente = 2*FactorVertical1 + 2*FactorVertical2
FPiso = 2*FactorHoriz1 + 2*FactorHoriz2
FTeto = 2*FactorHoriz1 + 2*FactorHoriz2

printf("Fatores de forma das paredes verticais e horizontais")


disp(FParedeAr)
disp(FPiso)

ANEXO IV – REPRESENTAÇÃO DA GEOMETRIA DA SALA DE AULA ANALISADA

FONTE: Autores – feito no Revit©


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