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ROTEIRO DE ATUAÇÃO
1 Roteiro de atuação adaptado de artigo do CAOP-PP, do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte.
2 Promotor de Justiça, Coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa do Patrimônio Público
(CAOP-PP), do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte.
3 Assessor Jurídico do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa do Patrimônio Público (CAOP-PP), do
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte.
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Para fins de ação penal, a origem da verba é decisiva para a delimitação da
competência, e, portanto, de qual Ministério Público deve agir. Se a verba for federal, a infração
penal causa prejuízos a bens e interesses da União, caracterizando a competência da Justiça Federal,
e, portanto, a legitimidade do Ministério Público federal. Caso contrário, se a verba não for federal,
ou já tiver sido incorporada ao patrimônio local, a atribuição é do Ministério Público Estadual.
Abaixo quadro esquemático demonstrando a definição da competência da justiça
federal nas matérias afetas à proteção do Patrimônio Público:
JUSTIÇA FEDERAL
Arts. 108 e 109 da Constituição Federal
CÍVEL PENAL
(ratione personae) (ratione materiae)
Art. 109, I, CF – as causas em que a União, Art. 109, IV, CF – os crimes políticos e as
entidade autárquica ou empresa pública infrações penais praticadas em detrimento de
federal forem interessadas na condição de bens, serviços ou interesse da União ou de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto suas entidades autárquicas ou empresas
as de falência, as de acidentes de trabalho e as públicas, excluídas as contravenções e
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do ressalvada a competência da Justiça Militar e da
Trabalho; Justiça Eleitoral;
Art. 109, VIII, CF – os mandados de Art. 109, VI, CF – os crimes contra a
segurança e os “habeas-data” contra ato de organização do trabalho e, nos casos
autoridade federal, excetuados os casos de determinados por lei, contra o sistema
competência dos tribunais federais; financeiro e a ordem econômico-financeira;
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Federal com fundamento no inciso IV do art. 109 (e não no inciso VI).
Com base nos critérios acima estabelecidos foram editadas as súmulas 208 e 209 do
Superior Tribunal de Justiça, abaixo transcritas, que aludem expressamente à origem da verba como
critério de delimitação de competência em caso de desvio de verbas gerenciadas pelos municípios:
Súmula 208: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de
verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
2. TRANSFERÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
4 FERREIRA FILHO, Roberval Rocha e VIEIRA, Albino Carlos Martins. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça –
organizadas por assunto, anotadas e comentadas. Salvador: Juspodium, 2009. p.505
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transferidas a outros entes por disposição constitucional, resultantes da repartição constitucional das
receitas. O objetivo do repasse é amenizar as desigualdades regionais e promover o equilíbrio sócio
econômico entre Estados e Municípios.
Dentre as principais transferências da União para os Estados, o DF e os Municípios,
previstas na Constituição, destacam-se: o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal
(FPE); o Fundo de Participação dos Municípios (FPM); o Fundo de Compensação pela Exportação
de Produtos Industrializados (FPEX); o Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF); e o Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural (ITR).
3. TRANSFERÊNCIAS LEGAIS
5 FONTES, Paulo Gustavo Guedes, em encontro realizado entre a Controladoria Geral da União, o Ministério Público
Federal e o Ministério Público Estadual, no estado de Sergipe, em junho de 2005. Acessível em:
http://www.prse.mpf.mp.br/artigos/arrazoado%20competencia%20programas%20federais.pdf
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referentes a essas transferências não integram o patrimônio da edilidade.6
Alheios a essa discussão da incorporação ou não ao patrimônio do Município/Estado,
os julgados recentes têm revelado que a existência de repasses de verbas federais, ainda que “fundo
a fundo”, evidenciam o interesse da União na sua fiscalização.
5. TRANSFERÊNCIAS VOLUNTÁRIAS
6 COSTA, Aldo de Campos. Competência para julgar desvios de verbas federais. Disponível em
http://www.conjur.com.br/2013-jul-11/toda-prova-competencia-julgar-desvios-verbas-federais. Último acesso em 24
setembro 2014.
7 COSTA, idem.
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previsão orçamentária de contrapartida (alíneas a e d do inciso IV do art. 25 da LRF)”.8
Sem a comprovação desses requisitos, o ente não poderá receber recursos
voluntários, o que inviabiliza o seu desenvolvimento. A comprovação de todos esses requisitos é
feita através do Cadastro Único de Convênio – CAUC.
Assim, antes de firmar o instrumento que viabilizará a transferência de recursos para
de recursos para o ente beneficiário, o ente que faz a transferência consulta o CAUC para verificar a
existência de possíveis restrições. Na existência de restrições, o ente não receberá as transferências
voluntárias, conforme o art. 25 da LRF, com exceção para as transferências nas áreas de saúde,
educação e assistência social, nos termos do parágrafo terceiro do dispositivo citado.9
Os instrumentos utilizados para viabilizar as transferências voluntárias são: a) os
convênios; acordos ou ajustes que regulam a transferência de recursos financeiros de dotações
consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União (IN STN nº. 01/1997); b) os
contratos de repasses; instrumentos utilizados para a transferência de recursos da União por
intermédio de instituições ou agências financeiras oficiais federais, destinados à execução de
programas governamentais nas áreas de habitação, saneamento e infraestrutura urbana, esporte, bem
como nos programas relacionados à agricultura(Decreto 1.819/96); e c) os contratos de parceria;
instrumento jurídico destinado voltado para transferência de recursos a entidades qualificadas como
organização da sociedade civil de interesse público para o fomento e a execução das atividades de
interesse público(Lei n° 9.790/99 e Decreto n° 3.100/99).10
Em se tratando das verbas transferidas voluntariamente, há a exigência de
prestação de contas perante o órgão federal concedente, por força do disposto na Instrução
Normativa 01/97, da Secretaria do Tesouro Nacional, que disciplina a celebração de convênios
de natureza financeira que tenham por objeto a execução de projetos ou realização de eventos.11
6. FUNDEB
8 OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
9 LEITE, Harrison. Manual de Direito Financeiro. 2 ed. Salvador: Juspodium, 2013.
10 COSTA, 2013.
11 FONTES, 2005.
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interesse federal (art. 109, IV, da CF), considerando que o texto constitucional atribuiu à União
função supletiva e redistributiva em matéria educacional, bem como o interesse na universalização
de um padrão mínimo de qualidade do ensino, nos termos do §1º do art. 211 da CF/88.
Em relação à competência para julgar as ações de improbidade administrativa
será da Justiça Estadual ou da Justiça Federal, a depender se houve ou não complementação do
FUNDEB pela União. A Justiça Federal apenas será competente se a União possuir interesse que
lhe permita atuar como autora, ré, assistente ou oponente. Inexistindo complementação de verbas
federais ao FUNDEB, a ação de improbidade administrativa é de competência da Justiça Estadual,
considerando que, não estando envolvidas verbas federais, não se justifica a intervenção da União
como parte.
Essa dicotomia anômala entre a competência cível e criminal da Justiça Federal foi
instituída pelo Supremo Tribunal Federal:
JUSTIÇA ESTADUAL
Súmula 209 do STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
JUSTIÇA FEDERAL
Súmula 208 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
Transferências Conceito Exemplos
Transferências Automáticas A transferência legal tem um (a) PNAE (STJ - AgRg
Legais aspecto finalístico, os recursos são no AREsp: 30160 RS)
repassados para acorrer a uma
despesa específica. (b) PDDE (PDE –
São realizadas mediante o Escola, Programa Mais
depósito em Educação) - (TRF-5 –
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AG:710617201240500
00;TRF5 ACR
200405000132349)
b) Fundo Nacional
de Assistência Social
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(TRF5 – AC
000007021201040583
00; TCU AC-3008-
53/09-P; TRF5 - AC
200983000147520;TRF
-1 AG 6866 AP
0006866-
73.2011.4.01.0000)
Cível Se houver
complementação da
União (TRF1 – AC
200739000104144;
TRF1 – AC
FUNDEB 200237000032193)
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Independentemente da
origem do recurso (STJ
Penal – CC: 123817 PB; STJ
– CC 119305 / SP; STF
- ACO 1109)
CAPÍTULO II
Da Gestão Financeira
Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados em
conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos
respectivos Conselhos de Saúde.
§ 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da Seguridade
Social, de outros Orçamentos da União, além de outras fontes, serão administrados pelo
Ministério da Saúde, através do Fundo Nacional de Saúde.
§ 2º (Vetado).
§ 3º (Vetado).
§ 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a
conformidade à programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e
Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá
ao Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei.
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O dispositivo transcrito revela que quaisquer recursos repassados – não importando a
que título – estarão sob o crivo da fiscalização do Ministério da Saúde e, consequentemente, da
União.
Além disso, a Lei nº 8.080/1990 previu, em seu inciso XIX do art. 16, e no § 4º do
art. 33, a criação de um Sistema Nacional de Auditoria – SNA – do SUS, efetivada no art. 6º da Lei
nº 8.689/199313 e regulamentada no Decreto nº 1.651/1995, mantido pela União, com a participação
de Estados, Distrito Federal e Municípios:
13 Art. 6º Fica instituído no âmbito do Ministério da Saúde o Sistema Nacional de Auditoria de que tratam o inciso XIX
do art. 16 e o § 4º do art. 33 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.
§ 1º Ao Sistema Nacional de Auditoria compete a avaliação técnico-científica, contábil, financeira e patrimonial do
Sistema Único de Saúde, que será realizada de forma descentralizada.
§ 2º A descentralização do Sistema Nacional de Auditoria far-se-á através dos órgãos estaduais e municipais e de
representação do Ministério da Saúde em cada Estado da Federação e no Distrito Federal.
§ 3º Os atuais cargos e funções referentes às ações de auditoria ficam mantidos e serão absorvidos pelo Sistema
Nacional de Auditoria, por ocasião da reestruturação do Ministério da Saúde, de que trata o art. 13.
§ 4º O Departamento de Controle, Avaliação e Auditoria será o órgão central do Sistema Nacional de Auditoria.
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AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSO PENAL.
CRIMES DE QUADRILHA, FALSIDADE IDEOLÓGICA, PECULATO E CORRUPÇÃO
PASSIVA. DESVIO DE VERBAS PROVENIENTES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
– SUS. CONTROLE DO PODER EXECUTIVO FEDERAL E DO TRIBUNAL DE
CONTAS DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULA 208/STJ.
1. Segundo o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e desta Corte de Justiça,
compete à Justiça Federal processar e julgar as causas relativas ao desvio de verbas do
Sistema Único de Saúde - SUS, independentemente de se tratar de repasse fundo a fundo ou
de convênio, visto que tais recursos estão sujeitos à fiscalização federal, atraindo a
incidência do disposto no art. 109, IV, da Carta Magna, e na Súmula 208 do STJ.
2. O fato de os Estados e Municípios terem autonomia para gerenciar a verba financeira
destinada ao SUS não elide a necessidade de prestação de contas perante o Tribunal de
Contas da União, nem exclui o interesse da União na regularidade do repasse e da correta
aplicação desses recursos.
3. Portanto, a competência da Justiça Federal se mostra cristalina em virtude da existência
de bem da União, representada pelas verbas do SUS, bem como da sua condição de
entidade fiscalizadora das verbas federais repassadas ao Município.
4. Não trazendo o agravante tese jurídica capaz de modificar o posicionamento
anteriormente firmado, é de se manter a decisão agravada na íntegra, por seus próprios
fundamentos 5.Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no CC 122.555/RJ,
Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/08/2013, DJe
20/08/2013)
O Tribunal de Contas da União tem precedentes afirmando ser sua a atribuição para
fiscalizar recursos transferidos fundo a fundo, o que revela óbvio interesse da União:
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REITERAÇÃO DE DETERMINAÇÃO. PEDIDO DE REEXAME. CONHECIMENTO.
PROVIMENTO. CIÊNCIA ÀS PARTES.
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PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA INSTAURADO
ENTRE JUÍZOS FEDERAL E ESTADUAL. AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA AJUIZADA PELO MUNICÍPIO CONTRA EX-PREFEITO.
SUPOSTAS IRREGULARIDADES NA UTILIZAÇÃO DE VERBAS FEDERAIS JÁ
INCORPORADAS À MUNICIPALIDADE. SÚMULA 209/STJ. PRECEDENTES DO
STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
Diante do exposto, sugere-se que seja fixada a competência da Justiça Federal para
processar feitos que tenham por objeto verbas repassadas pela União aos Estados e aos Municípios
no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Sugere-se ainda a necessidade de fixação da competência da Justiça Estadual para
processar e julgar Ações Civis Públicas e Ações Penais que tenham por objeto verbas estritamente
estaduais e/ou municipais, a exemplo das que tenham por fonte de recursos o código 100.14