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Apelação Cível Nº 1.0024.12.

168357-7/002

<CABBCABCCBBACADBCAADBCCBADCBAAAAADDA
ADDABCAAD>
EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO POSSESSÓRIA. PRELIMINAR.
NULIDADE. INEXISTÊNCIA. USO DE VAGA DE GARAGEM. ÁREA
DE USO COMUM. MERA PERMISSÃO/ TOLERÂNCIA. NEGADO
PROVIMENTO.
- O fato da parte não comparecer à audiência de instrução, não
havendo pedido de depoimento pessoal, não gera nulidade, já que
sua presença é dispensável.
- A ocupação por condônimo, durante qualquer tempo que seja,
em área comum do condomínio, não induz posse, mas mera
detenção.
- Não dispondo o condômino de posse de área comum do
condomínio, não há como dar guarida a ação possessória.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.12.168357-7/002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - 1º APELANTE: LUÍS CESAR


LEITÃO BORGES - 2º APELANTE: NADIR CAMPOS ATHAYDE - APELADO(A)(S): CONDOMINIO DO EDIFICIO
PAULO LAGE

AC Ó R D ÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em REJETAR PRELIMINAR E NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. PEDRO ALEIXO


RELATOR.

Fl. 1/6
Apelação Cível Nº 1.0024.12.168357-7/002

DES. PEDRO ALEIXO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de apelação interposta por LUIS CESAR LEITÃO


BORGES e NADIR CAMPOS ATHAYDE contra a sentença de fs.
200/201, proferida nos autos da AÇÃO DE MANUTENÇÃ DE
POSSE interposta em face de CONDOMÍNIO DO EDIFICIO APULO
LAGE, que julgou improcedente o pedido inicial.
A parte autora/Apelante foi condenada ao pagamento das
custas processuais e de honorários advocatícios, arbitrados em
10% (dez por cento) sobre o valor dado à causa.
Pelas razões de fs. 202/212, pretende o segundo
autor/Apelante a reforma da sentença, argumentando, em síntese,
preliminar da sentença em razão da ausência do sindico na
audiência de instrução; vício de representação legal nos autos. No
mérito aduz que área de uso comum também pertence a todos os
proprietários; as vagas da garagem são consideradas de uso
comum, mas, não estão sob mera detenção; alega que em razão da
ausência de regulamentação interna as vagas existentes são “terras
de ninguém”, sem constituição de direitos possessórios sobre
quaisquer condôminos.
Diante de tais razões, pugna pelo acolhimento das
preliminares e nulidade da sentença ou julgamento procedente do
pedido inicial.
Preparo, fs. 214.
Já a primeira autora, apela às fls.216/221, aduzindo, em
síntese, que possui direito de permanecer utilizando da vaga já que
possui a posse durante muito tempo, consoante constou da prova
oral colhida. Diz ser contraditória a decisão a quo já que restou
consignado na decisão que a parte apelante possui a posse da
garagem e deve continuar no exercício daquela. Pugna pela
procedência do pedido recursal.

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Apelação Cível Nº 1.0024.12.168357-7/002

Contrarrazões, fls. 225/228 e 229/233 pelo condomínio.


É o relatório.
Conheço do recurso, eis que presentes os pressupostos de
admissibilidade.

DA NULIDADE ALEGADA

No que tange à alegada falta de comparecimento do síndico


em audiência, afirmo não ser necessária.
Isto porque, na fase de especificação de provas, os autores,
pugnaram apenas pela oitiva de testemunhas (f.146v). Logo, a
ausência do representante legal do condomínio não é causa de
nulidade já que não houve pedido de depoimento pessoal.
No que diz respeito à representação do síndico atesto que foi
devidamente regularizada quando fora intimado para tal ato,
consoante se vê f. 158 e 170/172.
Assim, rejeito as preliminares arguidas.
Passando adiante, a controvérsia cinge-se em analisar
eventual direito à manutenção na posse das vagas de garagem dos
proprietários dos apartamentos 300 e 301 do Condomínio do
Edifício Paulo Lage.
Sobre a matéria, para o deferimento da tutela possessória
deve o autor atender aos requisitos exigidos pelo art. 927 do CPC:

"Art. 927. Incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

Il - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na


ação de manutenção; a perda da posse, na ação
de reintegração."

Informam os autores que possuem a posse do espaço de


garagem sendo que duas vagas são do apartamento 301 e uma

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vaga para o apartamento 300 e que o direito vem sendo exercido há


mais de 10 (dez) anos e que o condomínio está querendo retirá-los
da posse das vagas.
Por outro lado, assevera o Réu/Apelado que o ato de
utilização das vagas por muitos anos se deu por mero ato de
tolerância, já que na constituição do condomínio constam seis
apartamentos e cada um tem uma vaga, contudo o segundo autor,
tem utilizado de duas, já a primeira autora utiliza da sua vaga para
deixar uma “sucata” que nem lhe pertence. Alega que os autores
possuem a vaga de forma irregular e que já foram notificados e não
abrem mão da vaga.
Indiscutível a utilização de duas vagas pelo segundo autor e
de área utilizada para garagem que é área comum do condomínio.
Com efeito, atesto pela convenção de condomínio (fs.61/68), que
restou considerada a garagem como área de uso comum (parágrafo
segundo) e, ainda, inexistência de vagas privativas no registro do
imóvel.
Ademais, o réu colaciona fotos demonstrando a utilização das
vagas pelos autores (fs. 73 e 75), bem como restou demonstrada a
utilização de vaga de área de manobra, o que não fora contestado
pelas partes (f.77)
Consta, ainda, laudo onde relata a existência de seis vagas
de carro oficial e uma área utilizada sendo comum ao condomínio
(onde atualmente estaciona um veículo), concluindo a engenheira
que tal vaga ocupada dificulta a manobra dos demais veículos (fs.
81/82).
Constato que houve convocação de reunião para discutir
dentre outros fatores a questão das vagas (fs. 91, datada de
17/05/2010). Procedida a reunião, estando todos os seis
proprietários presentes, não houve acordo quanto a questão das
vagas de garagens ocupadas pelas partes.

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Em 23/05/2012 foi enviada notificação extrajudicial ao


segundo réu para que ocupasse apenas uma vaga, sob pena de
aplicação de multa (f.28)
Nessa senda, pelo acervo probatório conclui-se que não
houve regulamentação da questão da delimitação das vagas, em
convenção de condomínio, sendo que os autores utilizam das
vagas, o segundo autor, apelante, ocupa duas vagas, razão pela
qual o outro proprietário utiliza espaço comum do condomínio para
estacionar o seu carro o que reflete de forma negativa no deslocar
dos outros veículos, dificultando a entrada e saída dos demais
proprietários nas outras vagas.
Por outro lado, no que tange a vaga utilizada pela
proprietária do apartamento 300, ora apelante, ainda que a mesma
tenha direito à utilização da vaga, pelo depoimento da testemunha
ouvida, de fato, a vaga parece ser maior uma vez que a testemunha
Maria Elizabete Pimenta Aiala, afirma ser possível estacionar dois
carros pequenos, confirmado, ainda, que a autora utiliza a vaga.
A propósito da matéria, sabe-se que os condomínios edilícios
caracterizam-se pela divisão em duas partes: a primeira constitui-se
de unidades autônomas, que pertencem exclusivamente a cada um
dos condôminos e, assim, permitem ao respectivo titular que exerça,
sobre a sua unidade, as faculdades decorrentes do direito de
propriedade, desde que não descumpra os deveres que lhe são
impostos em razão da própria essência do condomínio, como
disposto no artigo 1.336 do Código Civil; a segunda, por sua vez,
refere-se às áreas que são comuns aos condôminos,
compreendendo, portanto, o exercício do direito dominial por todos
eles, simultaneamente.
No caso em espeque, pelo que dos autos consta não houve,
a identificação das vagas em convenção de condomínio e nem nas
assembleias realizadas.
Logo, trata-se de área comum e a ocupação por condômino
durante qualquer tempo que seja, em área comum do condomínio,

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não induz posse e sim mera detenção em razão do ato de


permissão/tolerância.
Logo, considerando que a fruição da garagem é de uso
comum, que cada apartamento tem direito a uma vaga e a
existência de vaga em local de manobras, utilizada de forma
inapropriada, o direito alegado pelos apelantes, até ulterior decisão
em convenção, trata-se de ato de mera detenção, que não induz
posse.
Neste sentido, dispõe o art. 1.208, do Código Civil “Não
induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou
clandestinidade.”
Assim, por não se constituir posse, mas ato de detenção em
razão da permissão, como acima afirmado, entendo que a sentença
de primeiro grau deve ser mantida.
Dessarte, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO, mantendo
hígida a sentença, por seus próprios fundamentos.
Custas recursais pela parte apelante.
Nos termos do art. 85, §2º e 11º do CPC, majoro os
honorários advocatícios a favor dos advogados da parte ré para
12% (doze por cento) sobre o valor dado à causa.

DES. MARCOS HENRIQUE CALDEIRA BRANT - De acordo com


o(a) Relator(a).

DES. OTÁVIO DE ABREU PORTES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM PRELIMINAR E


NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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