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Apelação Cível Nº 1.0024.12.

306233-3/001

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ADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS – CIRURGIA BARIÁTRICA – INTERVENÇÃO
CIRÚRGICA IMPRESCINDÍVEL PARA O REESTABELECIMENTO DA
SAÚDE DO SEGURADO – DEVER DE COBERTURA ASSEGURADO.
Comprovado que a cirurgia bariátrica seria imprescindível para o
restabelecimento da saúde e até mesmo para a sobrevivência do
segurado, inegável o seu direito de obter junto ao plano de saúde à
cobertura do referido procedimento cirúrgico, ainda que não
preenchido o requisito etário previsto na Resolução editada pela ANS,
por se tratar de negativa que frustra os objetivos da própria
assistência médica que fundamenta a existência dos planos de saúde
e, ainda, que viola o princípio da dignidade da pessoa humana.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.12.306233-3/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): UNIMED BELO
HORIZONTE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO LTDA - APELADO(A)(S): RAPHAEL ARTHUR FRAGA
GUIMARAES

AC Ó R D ÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. ARNALDO MACIEL


RELATOR.

Fl. 1/6
Apelação Cível Nº 1.0024.12.306233-3/001

DES. ARNALDO MACIEL (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por UNIMED


BELO HORIZONTE COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO LTDA
contra a sentença de fls. 137/144, proferida pelo MM. Juiz Renato
Luiz Faraco, que julgou procedente o pedido formulado nos autos
da Ação de Obrigação de Fazer ajuizada por RAPHAEL ARTHUR
FRAGA GUIMARAES, para tornar definitiva a tutela concedida às
fls. 28/31, que condenou a ré a arcar com as despesas decorrentes
da realização da cirurgia de gastroplastia (cirurgia bariátrica)
indicada para o autor, condenando a requerida no pagamento das
custas e dos honorários, fixados no importe de R$1.800,00.
Nas razões recursais de fls. 146/153, aduz a apelante que na
hipótese específica dos autos a negativa de autorização para a
realização do procedimento cirúrgico de gastroplastia para
obesidade mórbida foi lícita e pertinente, em virtude do não
preenchimento pelo segurado dos requisitos estipulados pela DUT
da Resolução Normativa nº 387/2015 da Agência Nacional de
Saúde – ANS, eis que possuía 15 anos quando da solicitação do
procedimento. Em seguida, afirma que, mesmo não sendo obrigada
a custear o procedimento pretendido, foi instaurada junta médica em
novembro de 2011, que concluiu pela contraindicação da cirurgia
bariátrica no caso do apelado, situação toda que demonstra que a
negativa em questão constituiu em pleno exercício regular de seu
direito.
Preparo efetuado e comprovado às fls. 154/155.
Apesar de devidamente intimado, o apelado ofertou
contrarrazões, consoante certidão de fls. 156-verso.
Manifestação da Douta Procuradoria de Justiça às fls.
164/168, opinando pelo desprovimento do recurso.

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Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço


do recurso e passo à sua análise.
Inicialmente, faço consignar que o julgamento do presente
processo deverá se submeter às normas do Novo Código de
Processo Civil de 2015, considerando a data da publicação da
decisão que motivou a interposição do recurso ora analisado, em
observância ao Enunciado 54 deste Egrégio Tribunal de Justiça e à
regra insculpida no art. 14 da nova lei.
Pois bem, cuidam os autos de ação cominatória em que a ré
foi condenada a autorizar e custear o procedimento cirúrgico de
gastroplastia para tratamento de obesidade mórbida.
Contra tal decisão insurge-se a ré, sob o argumento de que
teria sido lícita a negativa, por não ter o paciente a idade mínima
exigida pela DUT da Resolução Normativa nº 387/2015 da Agência
Nacional de Saúde – ANS e, ainda, por ter a junta médica concluído
pela contraindicação da cirurgia bariátrica no caso do apelado.
Em que pesem todas as alegações tecidas pela recorrente,
tenho que irretocável a bem lançada sentença de 1º Grau, senão
vejamos.
De pronto, é de se verificar que restou absolutamente
inconteste pelos documentos acostados ao feito a necessidade de o
autor se submeter à cirurgia bariátrica (redução de estômago),
considerando a gravidade do quadro de saúde em que se
encontrava, desencadeado pela doença crônica de obesidade
mórbida de grau III apresentada, que ensejou diversas outras
complicações também graves, tais como hipertensão arterial
sistêmica, apneia do sono, além de distúrbios psicológicos que
estavam interferindo sobremaneira em sua vida social e familiar com
dignidade.
É o que dão conta, sobretudo, os documentos de fls. 14, 15,
16, 17 e 18, concernentes a relatórios e pareceres de diversos
especialistas acerca do estado delicado e debilitado de saúde física
do requerente, os quais também revelam que nenhum dos

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tratamentos clínicos por ele tentados há vários anos teriam surtido


efeito e que a cirurgia bariátrica seria a única solução para a
melhora da sua qualidade de vida e, até mesmo, para evitar novos e
enormes problemas que poderiam levá-lo inclusive ao óbito.
A conclusão acima joga por terra a segunda tese lançada
pela ré, de que a junta médica concluiu pela contraindicação da
cirurgia bariátrica no caso do apelado em 2014.
Quando o assunto se volta para a principal argumentação
levantada pela apelante, não se nega que o segurado não
preenchia todos os requisitos exigidos pela Resolução Normativa -
RN nº 262, de 1º de agosto de 2011, em seu anexo II, item 41, para
a classificação da gastroplastia (cirurgia bariátrica) como sendo de
cobertura obrigatória, especificamente a idade entre 18 e 65 anos,
eis que contava com 15 anos.
Contudo, tal situação não é justificativa, por si só, capaz de
amparar a negativa da ré, tendo em vista que as diretrizes da ANS
são meras orientações e que, por óbvio, não podem sobrepor-se às
prescrições médicas necessárias ao reestabelecimento da saúde do
segurado.
Na verdade, a negativa da ré frustra o próprio objetivo da
contratação interpartes e, ainda, viola as regras protetivas do CDC
aplicáveis à situação, que levam inclusive em consideração o fato
de que os consumidores, ao contratarem um plano de saúde, o
fazem com o objetivo de ter acesso a tratamentos e procedimentos
médicos e, assim, se verem resguardados contra riscos futuros
ligados à sua saúde, cujos gastos não conseguiriam suportar sem o
amparo de empresas especializadas em assistência médica.
Ora, a cirurgia bariátrica em questão era procedimento de
extrema urgência e inconteste necessidade, essencial inclusive à
sobrevivência do menor, que se encontrava com distúrbios físicos e
psicológicos graves, razão pela qual exigir-lhe o pagamento do
citado procedimento cirúrgico, ao argumento de não preencher o
requisito etário para a classificação do procedimento como sendo de

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cobertura obrigatória, viola os princípios da dignidade da pessoa


humana e da proteção ao consumidor, além de frustrar o próprio
objetivo da contratação em questão, qual seja, o de tornar possível
o restabelecimento da saúde do segurado, deixando-o em total
desamparo e em situação de desvantagem exagerada.
Em caso no qual o segurado menor pretendia à cobertura da
cirurgia bariátrica, eis o entendimento deste Eg. Tribunal de Justiça,
abaixo transcrito:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO -
PRELIMINAR - SENTENÇA "CITRA PETITA" -
APLICAÇÃO DO ART. 1.013, §3º, III, DO CPC/2015
- MÉRITO - CIRURGIA BARIÁTRICA - NÃO
PREENCHIMENTO DAS DIRETRIZES DA ANS -
MERA ORIENTAÇÃO GERAL - LAUDOS
MÉDICOS - COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE
DA INTERVENÇÃO CIRÚRGICA -
OBRIGATORIEDADE DE COBERTURA -
NEGATIVA BASEADA EM IDADE MÍNIMA PARA
REALIZAÇÃO DE CIRURGIA - NORMA QUE VISA
À PROTEÇÃO DA INTEGRIDADE FÍSICA - DANO
MORAL - INEXISTÊNCIA. 1 - Há julgamento citra
petita quando o magistrado deixa de apreciar
pedido constante na exordial, devendo-se aplicar o
disposto no art. 1.013, §3º, III, do CPC/2015. 2 -
Segundo as diretrizes da Agência Nacional de
Saúde, em caso de cirurgia bariátrica, a cobertura
é obrigatória para pacientes com idade entre 18 e
65 anos, com falha no tratamento clínico realizado
por, pelo menos, 2 anos e obesidade mórbida
instalada há mais de cinco anos. 3 - As diretrizes
estipuladas pelas Resoluções Normativas não são
aptas a se sobrepor às instruções médicas, de
maneira que, se a cirurgia for o procedimento
indicado por especialistas, não há que se obstruir a
sua cobertura baseado numa orientação geral. 4 -
Não gera dano moral a negativa de cobertura
baseada no fato de o postulante não possuir idade
mínima recomentada para a realização da cirurgia
bariátrica conforme diretriz da ANS. (TJMG -
Apelação Cível 1.0024.13.303144-3/003,
Relator(a): Des.(a) Octávio de Almeida Neves (JD
Convocado), 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
03/05/2018, publicação da súmula em 11/05/2018)

Destarte, deve ser mantida a sentença de 1º Grau que impôs


à apelante o custeio das despesas relativas à internação e

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tratamento do autor para a realização da cirurgia bariátrica,


conforme solicitação do médico.
Ante todo o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso e
mantenho na íntegra a respeitável decisão hostilizada.
Custas recursais pela parte apelante, devendo ainda arcar
com a verba honorária, que ora majoro para o importe de
R$2.000,00, atendendo, assim, a determinação contida no §11, do
art. 85 do Código de Processo Civil de 2015.

DES. JOÃO CANCIO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. SÉRGIO ANDRÉ DA FONSECA XAVIER - De acordo com o(a)


Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO


RECURSO."

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