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DAS UTOPIAS
AO AUTORITARISMO:
HISTORIOGRAFIA, MEMÓRIA E CULTURA
Editora Milfontes
Das Utopias
ao Autoritarismo:
historiografia, memória e cultura
Copyright © 2019, André Ricardo Valle Vasco Pereira, Ayala Rodrigues Oliveira
Pelegrine, Dinoráh Lopes Rubim Almeida, Márcio Gomes Damartini, Mara Lara
Martins, Pedro Ernesto Fagundes, Rossana Gomes Britto (Org.).
Copyright © 2019, Editora Milfontes.
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Brasil
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André Ricardo Valle Vasco Pereira
Ayala Rodrigues Oliveira Pelegrine
Dinoráh Lopes Rubim Almeida
Márcio Gomes Damartini
Maro Lara Martins
Pedro Ernesto Fagundes
Rossana Gomes Britto
(Org.)
Das Utopias
ao Autoritarismo:
historiografia, memória e cultura
EDITORA MILFONTES
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios
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permissão prévia da editora.
Revisão
De responsabilidade exclusiva dos organizadores
Capa
Imagem da capa:
Marcha dos Cem mil - Rio de Janeiro - 1968.
Autor: não citado, logo, tenho declarado que não existe intenção de violação de
propriedade intelectual
Bruno César Nascimento - Aspectos
Inclui Bibliografia.
ISBN: 978-85-94353-41-2
CDD 981.063
Sumário
Apresentação..........................................................................................9
Parte I
A Ditadura Civil-Militar: trabalhadores, mulheres, repressão,
transição e memória
O sindicato dos bancários do Espírito Santo durante a ditadura civil-
militar (1964-1985)................................................................................15
André Ricardo Valle Vasco Pereira
Parte II
A América Latina: Indígenas, dirigentes e cultura
Da utopia à conquista do direito à livre determinação. As
comunidades indígenas mexicanas e seus processos de construção
das autonomias.................................................................................... 215
Antonio Carlos Amador Gil
Parte III
Espírito Santo: Indígenas, território e cultura
Sob os ditames da modernidade: a ressignificação dos rituais
funerários na Vitória da segunda metade do século XIX................269
Júlia Freire Perini
O Barão do Itapemirim e a política indigenista no sul do Espirito
Santo .......................................................................................................289
Tatiana Gonçalves de Oliveira
Parte IV
Brasil: Cultura, poder e religião (Séculos XVIII e XIX)
A Irmandade de Nossa Senhora das Mercês de Mariana: vivência da
fé, dinâmica associativa e composição social (Minas Gerais, Brasil,
séculos XVIII-XIX)...............................................................................331
Vanessa Cerqueira Teixeira
Parte V
Historiografia, Patrimônio, Educação e Cultura
Ensaio, historiografia e experiência intelectual periférica...............427
Maro Lara Martins
Apresentação
Entre os dias 6 e 8 de novembro de 2018, a Associação
Nacional de História, Seção Espírito Santo (ANPUH-ES), realizou
o seu XII Encontro Regional, nas dependências da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES). O tema do evento foi 1968: Das
Utopias ao Autoritarismo. A proposta adveio dos 50 anos passados
desde os eventos de maio de 1968, que abalaram o mundo, trazendo
para o primeiro plano uma geração de jovens inspirados por variadas
utopias. A seu modo, cada uma ambicionava transformações radicais
nos sistemas de poder, de trabalho, de comportamentos, ideias e
atitudes. Em parte, correspondiam a reações contra autoritarismos que
já se encontravam instalados, como no caso do Brasil, enquanto que,
nos países capitalistas avançados, pressionavam por mudanças mais
profundas do que a ordem congelada do pós-II Guerra oferecia. Seus
resultados foram muito diversos, porém suficientemente relevantes
para marcar uma época na qual a mudança era representada por
jovens idealistas. Só isso, a comparação deste momento com o que se
passa no mundo e no Brasil 50 anos depois, já nos inspira a refletir
sobre o que aconteceu para que estejamos vivendo hoje uma situação
contrária, na qual assistimos a uma verdadeira “rebelião dos velhos”,
dos homens brancos, de classe média, nível educacional superior e
meia idade que compõem as hordas de manifestantes que desejam o
retorno a um passado idealizado, necessariamente inventado, ordeiro,
hierárquico, machista, racista, homofóbico, islamofóbico, antissemita,
anticomunista, xenófobo, seja nas passeatas do PEGIDA alemão, seja
nas demonstrações que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff e,
mais recentemente, nas perseguições perpetradas por seguidores deste
triste fenômeno chamado de bolsonarismo.
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Parte I
A Ditadura Civil-Militar: trabalhadores,
mulheres, repressão, transição e memória
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Introdução
O Sindicato dos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários/
ES) foi fundado em 1934 (TOSI; COLBARI; ALVES, 1995). Sua
história pode ser dividida em quatro grandes fases. A primeira vai
da fundação até 1953, quando se constituiu um grupo dirigente que
defendia uma leitura moderada do trabalhismo (PEREIRA, 2014).
Desta data até 1964, deu-se a passagem para uma fase de progressiva
radicalização política e alinhamento com o projeto das Reformas de
Base. Neste momento,
as elites sindicais articularam aspectos mais amplos com a
realidade local, de forma a apelar aos bancários capixabas
como membros da classe trabalhadora, sendo este o sentido
instrumental das Reformas de Base. Foi tal estratégia que
permitiu, ao mesmo tempo, mobilizar a categoria com
base tanto em suas condições de trabalho quanto em um
sentido mais geral (PEREIRA, 2018, p. 1).
Com o Golpe de 1964, aquela experiência de autonomia
de classe foi suprimida. Assim, iniciou-se a terceira fase, que vai de
1964 a 1985. Ela foi caracterizada pela presença de lideranças de perfil
conservador, associadas, por vezes, a indivíduos mais progressistas, mas
que não tinham condições de realizar uma militância política aberta. O
resultado foi o recuo da prática sindical de enfrentamento ao patronato,
da fase anterior, para a prestação de serviços aos filiados (KAREPOVS,
1994), juntamente com a inserção da entidade em um modelo
nacionalizado de representação de empregadores e empregados.
Durante o Regime Militar, este fenômeno não resultou
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Organizações e lideranças
Quando falamos de organizações políticas nesta fase,
devemos ter em mente que elas eram ilegais e perseguidas pela
Ditadura. Por esta razão, encontramos pessoas que possuíam graus
variados de proximidade com relação a elas. Alguns eram militantes
orgânicos. Outros seguiam as diretrizes dos grupos, mas não faziam
parte deles, sendo identificados como “área de influência”. E havia as
pessoas que eram vistos como membros, mas nunca foram de fato.
Entre os grupos que ingressaram no PT, vale destacar
alguns. Foi o caso da Ação Popular Marxista Leninista (APML),
surgida nacionalmente em 1971 (DIAS, 2009). No Espírito Santo, ela
teve uma base no movimento estudantil da UFES. Em 1982, boa parte
de seus membros decidiu se diluir no PT, enquanto outros criaram a
Organização Comunista Democracia Proletária (OCDP). Por outro
lado, temos o Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP),
de 1976, com presença no movimento estudantil e proximidade
com os católicos. No plano nacional, em 1985, o MEP, a OCDP e
a organização Ala Vermelha se fundiram, criando o Movimento
Comunista Revolucionário (MCR). Em 1989, o MCR resolveu se
transformar em tendência interna do PT, passando a se chamar Força
Socialista (FS).
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atocsr/1960-1969/atodocomandosupremodarevolucao-1-10-abril-1964-
364826-publicacaooriginal-1-csr.html>. Acesso em: 13 ago. 2018.
CASA GRANDE, José Theodomiro. José Theodomiro Casa Grande:
entrevista [maio 2014]. Entrevistador: Charles Torres Bertocchi. Vitória:
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em: <http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/280345/1/Correa_
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Introdução
O surgimento do Movimento Feminino pela Anistia
(MFPA) coincide com a celebração do Ano Internacional da Mulher
(1975), data escolhida pela ONU, e com as comemorações dos 30
anos da anistia política após o fim da ditadura do Estado Novo (1937-
1945). É impossível falar do MFPA sem associar essa organização a
figura de sua fundadora: Therezinha Zerbini. Em 1975, declarado
ano Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas
(ONU), criou junto com outros familiares de presos desaparecidos
políticos do Movimento Feminino Pela Anistia (MFPA). Therezinha
Zerbini proferiu uma fala durante essa Conferência Internacional
sobre as mulheres, realizada na cidade do México.
Participar do evento, organizada pela Organização das
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Therezinha Zerbini
E impossível falar do MFPA sem associar essa organização
a figura de sua fundadora: Therezinha de Godoy Zerbini. Nascida em
12 de dezembro de 1928, em São Paulo, Therezinha Zerbini, como era
mais conhecida, casou-se em 1951, com Euryale de Jesus Zerbini, um
militar de carreira que, em 1964, ocupou a posição de comandantes da
guarnição de Caçapava (LEITE, 2012).
Como inúmeros militares que se opuseram ao Golpe de 1964,
o general Euryale de Jesus Zerbini sofreu uma serie de perseguições
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Algumas conclusões:
O MFPA deveria se consolidar como um espaço de luta
reservado apenas para mulheres. Segundo Zerbini, essa característica
seria uma “estratégia de guerra” (DUARTE, 2012, p. 74). Ainda
segundo essa dirigente, essa seria a única forma do movimento ter
visibilidade: incomodando o governo militar.
Ainda nesse sentido, o MFPA utilizou aquilo que Duarte
(2012), denomina de “jogo de gênero”. Segundo essa estratégia,
as mulheres utilizavam a seu favor o pensamento disseminado na
sociedade de “mães”, “pacificadoras” e até “apolíticas”:
Jogavam com o gênero, interpretando o mito de
guardiã do lar, com suas características de fragilidade,
emotividade, ignorância política [...]. Sua força, segundo
Capdevila, repousa justamente sobre a atitude de
confundir as outras facetas de identidade: mulheres
corajosas; determinadas; animadas pelo pensamento
político sobre as quais desliza o estereótipo do feminino
doméstico (DUARTE, 2012, p. 49).
Assim, é necessário problematizar a importância histórica
da utilização do gênero como estratégia de luta empreendida por essas
mulheres. Como DUARTE (2012) exemplifica tal estratégia também
foi utilizada no movimento político argentino conhecido como
Madres da Plaza de Maio3.
Em seus protestos contra a ditadura argentina, esse grupo
de mulheres utilizava como símbolo um lenço branco cobrindo suas
cabeças. A intenção era reportar essa imagem a figura da mãe/avô/
esposa em busca do filho/neto/esposo desaparecidos. Ainda segundo
a autora, essas mulheres jogaram com o gênero utilizando-o em sua
causa política. No entanto, tal estratégia resultou em embates com
grupos feministas e homens que desejavam participar do Movimento.
Por último, gostaríamos de registrar um fato que se destacou
no decorrer da pesquisa sobre o MFPA: o espaço reduzido sobre a
3 As “Mães da Praça de Maio” é uma organização de mulheres da Argentina
(mães, avós) que tiveram seus filhos e netos desaparecidos por lutarem contra
ditadura civil-militar instaurada.
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Referências bibliográficas:
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a esperança do retorno à democracia. Curitiba, PR: CRV, 2011.
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Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo,
2002.
DUARTE, Ana Rita Fonteles. Jogos de memória: O Movimento Feminino
Pela Anistia no Ceará (1976-1979). Fortaleza: INESP, UFC, 2012.
DOM Paulo Evaristo Arns. Jornal Opinião. Rio de Janeiro. ed. 128, 18 abr.
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LEITE, Paulo Moreira. A mulher que era o general da casa: história da
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RODEGHERO, Carla; DIENSTMANN, Gabriel; TRINDADE, Tatiana.
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Anistia, ampla, geral e irrestrita: uma luta inconclusa. Santa Cruz do Sul:
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Trabalho de Conclusão de Curso-Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2015.
ZERBINE, Therezinha Godoy. Anistia: semente da liberdade. São Paulo:
[s.n.], 1979.
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12 (Tradução livre) A ditadura enaltece uma única identidade feminina à qual
as mulheres devem se ajustar, a identidade mariana, de mãe-esposa, fiel companheira
do soldado, salvadora da “pátria”, figura feminina que representa a “grande mãe” [...].
Esta representação das mulheres será acompanhada de uma série de mecanismos
discursivos e de controle (social, jurídico e, em muitos casos, repressivos), que
efetivarão a nova ordem de gênero. A ideologia militar, como expressão máxima do
masculino e com o poder do aparato do Estado em suas mãos, impõe este projeto de
tutela sobre os corpos das mulheres [...].
13 (Tradução livre) Na tortura, ficou absolutamente clara a assimetria de poder
entre homens e mulheres. Estabeleceu-se, de forma crua, uma relação entre poder,
corpo, gênero feminino e ideologia. Ali se perpetrou o abuso sexual, a violação dos
corpos, praticou-se um programa de perversão e de subjugação como a conquista de
um troféu.
14 No capítulo dedicado à violência sexual e de gênero, o relatório da Comissão
Nacional da Verdade (BRASIL, 2014d, p. 418-419) adota a definição preconizada
pela Organização Mundial de Saúde, segundo a qual é considerada violência sexual
quaisquer atos sexuais ou tentativas de realizar ato sexual, comentários ou investidas
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Conclusão
A partir do exposto, pode-se depreender que as análises
historiográficas acerca do lugar das mulheres na ditadura militar
a partir de uma perspectiva de gênero ainda estão em processo de
amadurecimento, apesar de sua evidente urgência. O gênero permite
compreender o conjunto de normas, estabelecidas pela sociedade
e pela cultura, que modelam os seres humanos em homens e em
mulheres, e se expressam nas relações entre ambos e nos papeis sociais
definidos para cada um. Desse modo, no seio de uma cultura patriarcal
e sexista como a brasileira, a categoria desnaturaliza as concepções e
atribuições de gênero percebidas, historicamente, como intrínsecas
a homens e mulheres, possibilitando vislumbrar como essas foram
instrumentalizadas nas relações de poder difusas na sociedade.
O gênero viabiliza interpretar as manipulações
praticadas pelo Estado militar em seus crimes contra as mulheres.
Mais exatamente, a categoria violência de gênero oportuniza
entender como a estruturação baseada na hierarquia de gênero e
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Referências:
Fontes:
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BRASIL. Relatório Comissão Nacional da Verdade. Volume I, Parte II,
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CNV, p. 85-108, 2014a.
BRASIL. Relatório Comissão Nacional da Verdade. Volume I, Parte III,
Cap. 9: Tortura. Brasília: CNV, p. 328-398, 2014c.
BRASIL. Relatório Comissão Nacional da Verdade. Volume I, Parte III,
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Bibliografia complementar:
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de-arara: o cotidiano da oposição de classe média ao regime militar. In:
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São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
ALONSO, Angela; DOLHNIKOFF, Miriam. (Org.). 1964: do golpe à
democracia. São Paulo, Editora HEDRA, 2015.
AQUINO, Maria Aparecida de. Censura, Imprensa e Estado autoritário
(1968-1978): o exercício cotidiano da dominação e da resistência – o Estado
de São Paulo. Bauru: EDUSC, 1999.
AZEVEDO, Maria Amélia. Mulheres espancadas. A violência denunciada.
São Paulo: Cortez, 1985.
BANDEIRA, Lourdes Maria. Violência de gênero: a construção de um campo
teórico e de investigação. Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, p. 449-469, 2014.
CARVALHO, Luis Maklouf. Mulheres que foram à luta armada. São Paulo:
Globo, 1998.
CODATO, Adriano Nervo. Uma história política da transição brasileira: da
ditadura militar à democracia. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n.
25, p. 83-106, 2005.
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DREIFUSS, René Armand. 1964: a Conquista do Estado Ação Política, Poder
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FERREIRA, Elizabeth Fernandes Xavier. Mulheres, militância e memória:
histórias de vida, histórias de sobrevivência. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
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FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura militar –
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básicos da repressão. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida
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Considerações finais
A proposta de análise do presente, na vertente seguida pela
História do Tempo Presente, objetiva compreender as demandas
sociais do presente em relação ao passado recente da nossa história,
as representações do nosso passado ditatorial visando discutir o
papel desempenhado pela imprensa capixaba na construção de uma
memória positiva sobre a ditadura militar no Espírito Santo.
Para tal análise é necessário entender a dinâmica do controle
da informação estabelecida pelo regime militar, como ela se inseriu no
meio da imprensa de forma a contribuir para a produção do consenso
pró-ditadura. Na questão local, é importante compreender quem
produziu e quem patrocinou a propaganda e a publicidade utilizadas
nos meios de comunicação no Espírito Santo nos anos de 1971 a 1975;
os interesses políticos e econômicos ligados ao poder autoritário, bem
como compreender como se construiu o discurso oficial do Regime
Militar em solo capixaba, os caminhos trilhados pela comunicação/
informação do governo estadual neste recorte histórico e suas
contribuições para o fortalecimento do discurso pró-ditadura perante
a sociedade local.
Relevante é identificar a presença do consentimento, através
das formas de comportamentos sociais tais como: a indiferença, o
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Referências Bibliográficas
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Considerações finais
O fenômeno do controle social e político por meio da
polícia política durante a ditadura militar (1964-1985) não pode ser
separado de ações de violência tout court. A eliminação física foi
um expediente utilizado em muitas ocasiões para a eliminação de
adversários do regime militar. No entanto, o trabalho realizado pela
polícia política e seus efeitos ultrapassam os casos desse tipo violência.
Tortura, assassinato, ocultação de cadáver e ameaças às famílias de
militantes comunistas são acontecimentos denunciados durante
o próprio regime militar e vieram ao grande público em 1985, nos
estertores da ditadura, na obra Brasil: nunca mais, um testemunho e
um apelo, nas palavras do cardeal Paulo Evaristo Arns, para que esses
absurdos fossem extintos. Porém, o trabalho de vigilância política
trouxe muito prejuízo à sociedade, sem que a mesma, muitas vezes,
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Referências:
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GM Editora /APEES, 2012.
FAGUNDES, Pedro Ernesto. Universidade e repressão política: o acesso
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2 Entre 1994 e 2002 ocupou a cadeira de Senador pelo estado de São Paulo.
Faleceu em 2009, aos 79 anos. Fonte: http://memoriasdaditadura.org.br/
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(2014, p. 281). Todavia era notória a sua fragilidade política, o que não
evitava comparações com o seu antecessor e mentor.
Somadas a crise econômica com os levantes operários e
movimentos de rua, além da insistência de parcela do exército em
frear a abertura, tem-se um governante que foi mais conduzido que
condutor da transição. A estratégia inicial só não se perdera em seu
governo em razão da “tibieza da oposição moderada que ganhava
força ao longo do processo” (NAPOLITANO, 2014, p. 283). De
algum modo, apesar de um personagem claudicante, o governo do
general Figueiredo conseguira na política algo que ele não conseguira
na economia, dadas as recorrentes crises, quando analisados os
resultados conquistados com a anistia e a reordenação partidária. A
equação dividir para somar articulada na caserna surtiu um efeito
político esperado.
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Das utopias ao Autoritarismo
vigilância social, dado o fato de suas cifras não serem divulgadas com
veracidade, mas há uma compreensão geral que os gastos eram vultosos
e o governo defendia tal investimento (ALVES, 2005, p. 209). “O SNI
chegou a ter 2.500 funcionários”, contando ainda com colaboradores
e temporários remunerados conforme demanda, além de uma Escola
Nacional de Informações que almejava formar espiões civis como a
CIA estadunidense, porém tal experiência não alcançou êxito - e isso
seria um demonstrativo de como a ditadura era preponderantemente
militar e não civil-militar (FICO, 2007, p. 178).
No contexto da transição permanecia em voga um jargão
consagrado entre os militares brasileiros há décadas: “a ameaça
vermelha espreita o país”. A comunidade de segurança via comunismo
em tudo, inclusive nos militares que instrumentalizavam a abertura.
“Os agentes de informação consideravam como fato estabelecido a
existência de uma conspiração, qual seja, a escalada do ‘movimento
comunista internacional’” (FICO, 2007, p. 179). Acreditavam que
o MDB estava completamente aparelhado, que os jornalistas, o clero
politizado e os intelectuais de esquerda estavam por trás do movimento
de redemocratização e o retorno aos quartéis só faria crescer o
avanço subversivo. Sob o militar Euler Bentes, candidato do MDB à
presidência da república contra João Figueiredo em 1978, havia um
cerco de grampos telefônicos e vigilância coordenados pelo SNI tendo
como justificativa o fato do mesmo ter pensamentos esquerdistas que,
nessa ocasião, tornavam-se notórios (GASPARI, 2016). Na prática, o
trabalho dos agentes de informações envolvia escolher um suspeito
para, posteriormente, providenciar-lhe uma culpa (FICO, 2007, p. 180).
De acordo com Elio Gaspari (2016) a ascensão de João
Figueiredo à presidência colocava a comunidade de informações
em rota de colisão com um dos seus chefes no passado. Num
semestre em 1978, por exemplo, 26 bombas haviam explodido sem
que os inquéritos tivessem esclarecido as causas e os culpados, e o
Comando de Caça aos Comunistas seguia sua ação de destruição de
arquivos, invadindo Diretórios Acadêmicos, como o da Faculdade de
Arquitetura da Universidade Mackenzie, em São Paulo.
De fato, a tendência de acobertamento dos casos de tortura
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2 Versão tida como “cínica” por Fico, pois as ordens vinham do alto
comando militar (2007, p.171). Recentemente esses fatos foram confirmados na
divulgação de um memorando da CIA. Disponível em: https://history.state.gov/
historicaldocuments/frus1969-76ve11p2/d99. Acesso em 16 jul. 2018.
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Considerações Finais
No contexto sociopolítico brasileiro há uma recorrência
da “ameaça vermelha” entendida de forma bastante fluida pelos
sujeitos, todavia, com resultados consideráveis para a formação de
um imaginário social. Conforme assinala Motta (2000), o sentimento
anticomunista teria nascido de modo espontâneo com base no medo
do desconhecido e, assim, a identidade comunista que se consagrou
historicamente no Brasil foi conectada à imagem do mal, com todo
ideário que circunda tal termo. Dessa feita, uma mentalidade política
se formou, na alvorada do golpe militar e no transcorrer de toda a
ditadura, tendo o seu oposto como o paradigma.
O combate ao iminente “golpe vermelho” instrumentalizava
ações, unificava bases sociais difusas e orientava as instituições para
o descumprimento de prerrogativas quando estivesse diante do
“subversivo”. O discurso da “ameaça vermelha” unificou parcela
considerável da sociedade civil, possibilitou o golpe militar, justificou a
violação de direitos humanos e dificultou a transição para a democracia.
De fato, em algumas ocasiões da recente história brasileira
seria cabível a crença em um levante comunista, dados os fatos
históricos que a demonstram. Neste ponto caberia uma razoável
justificativa para a antítese comunista. Entretanto, conforme discute
MOTTA (2000), mais do que o perigo comunista real, a unidade
em torno do “perigo vermelho” somava aspectos de convicção a
elementos de manipulação. Não era um fanatismo simplista, mas um
componente ideológico importante para os sujeitos que defendiam a
erradicação de todo o fator que supusesse a modificação do status quo.
Portanto, no contexto da transição para a democracia, a
“ameaça vermelha” apareceu mais enquanto um emblema que resgatava
imagens de um passado recente da história brasileira no instante em
que bases sociais se unificaram em torno de um adversário comum do
que um autêntico perigo para as instituições nacionais na etapa final
do regime. Porém, os mesmos militares não se furtaram em utilizar da
repetida estratégia do imaginário anticomunista para colocar a abertura
política em xeque. Em certo sentido a iniciativa de uma parcela do
159
Das utopias ao Autoritarismo
Referências Bibliográficas:
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democrática brasileira: memórias de uma geração esquecida. Tese
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Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), São
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NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do regime militar brasileiro. São
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Paz e Terra, 1986. (Estudos brasileiros, v. 92).
160
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Introdução
Com as palavras abaixo, René Rémond inicia seu ensaio
Uma história presente, texto que abre o livro Por uma história política
(1988):
A História, cujo objeto precípuo é observar as mudanças
que afetam a sociedade, e que tem por missão propor
explicações para elas, não escapa ela própria à mudança.
Existe portanto uma história da história que carrega o
rastro das transformações da sociedade e reflete as grandes
oscilações do movimento das ideias. É por isso que as
gerações de historiadores que se sucedem não se parecem:
o historiador é sempre de um tempo, aquele em que
o acaso o fez nascer e do qual ele abraça, às vezes sem o
saber, as curiosidades, as inclinações, os pressupostos, em
suma, a “ideologia dominante”, e mesmo quando se opõe,
ele ainda se determina por referência aos postulados de sua
época (RÉMOND, 2003, p. 13).
Ao se referir à disciplina história como uma disciplina
presente, René Rémond aponta para uma questão importante: ela
não é estanque, nem tampouco engessada, mas passa pelas próprias
mudanças que tem por objeto. Logo, a história também é histórica.
No ensaio, Rémond traça as características gerais do
movimento historiográfico do qual fora parte e testemunha durante
os anos 1980. Nos capítulos do livro por ele organizado, são indicados
temas importantes do retorno: as eleições, os partidos políticos, a
associação, etc. A emergência das temáticas políticas indica uma
nova compreensão social acerca da questão; nesse sentido, os estudos
tradicionais do político não comportam mais as relações acerca deste.
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Das utopias ao Autoritarismo
2 Cito tal expressão em itálico mais por uma compreensão geral acerca do
fenômeno do que propriamente algo utilizado pelo próprio autor; este inclusive
discorda da expressão e demonstra o porquê disso, já que outros estudos sobre
o político foram publicados mesmo antes e durante o hiato, o que contribui para
embasar os aspectos da mudança mais adiante (p. 26-28).
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A transição brasileira
É importante relembrar que o processo de entrega do
poder aos civis foi profundamente conciliatório e negociado, caráter
este denominado por Alexandra Barahona de Brito (2013) como em
câmera lenta. Ressalto aqui novamente que o controle das decisões
pelos militares só foi possível graças ao desmonte das guerrilhas
armadas e da centralização das ações de oposição ao regime por
grupos politicamente mais moderados. A partir de 1974, o MDB passa
a exercer um papel predominantemente no processo, impulsionado
pela retumbante vitória eleitoral naquele ano.7 Tais medidas
contribuíram para que durante o período democrático, os militares
não tivessem que lidar com a questão da responsabilidade.
Portanto, ao considerarmos o alto grau de controle do
processo político conseguido pelos militares, podemos caracterizar
a transição brasileira como profundamente pactuada, ou seja,
com as elites autoritárias - no caso do Brasil, as Forças Armadas -
exercendo suas prerrogativas para evitar o máximo de dano possível.
7 Além da Lei de Anistia, a Reforma Partidária teve um papel central ao
fragilizar as oposições e acentuar o caráter controlado da transição. Após o fim do
bipartidarismo, outros partidos emergem na cena política, fragmentando os setores
que se colocavam contrariamente ao regime. Para citar como exemplo dentro das
esquerdas, o PT, fundado em 1980, disputou o papel de representante da classe
trabalhadora com o trabalhismo de Leonel Brizola, que, por sua vez, fundou o PDT
em 1980 após a entrega da sigla do PTB a outros grupos políticos (FREITAS, 2011,
p. 59; NAPOLITANO, 2017, p. 362). A grande força emergente naquele momento
era o PMDB, fundido ao PP (Partido Popular e não o atual Partido Progressista).
Este partido seguiu a maré da conjuntura política, tendo formado uma chapa para
a eleição indireta de 1984 que alçou Tancredo Neves à presidência da República,
tendo por vice José Sarney, ex-membro da ARENA e do PDS, partido que surgiu da
agremiação governista do regime militar e mais tarde veio a se tornar o PFL.
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transitórias. Em 2011, como já foi dito, foi sancionada a lei que criou
a Comissão Nacional da Verdade, juntamente com a Lei de Acesso à
Informação. Um avanço fundamental dessa lei é que o acervo relativo
a violações dos direitos humanos não poderá ser classificado como
“ultrassecreto”, não ficando, portanto, em sigilo no prazo máximo (no
caso, 25 anos)11.
Importante indicar o trabalho de Maria Celina D’Araújo,
que traça um percurso histórico do papel das Forças Armadas na
sociedade brasileira na Nova República, em Militares, Democracia
e Desenvolvimento (2010). O conceito corporativismo (p. 125) é
fundamental para se entender o papel de salvaguarda institucional
adotado pelas Forças Armadas no tema da Lei da Anistia (p. 146) e
na questão do acesso aos arquivos do período ditatorial, mantendo as
restrições com o fito de proteger toda a classe.
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regime civil-militar. In.: PINTO, António Costa. MARTINHO, Francisco
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Brasileira, 2013, p. 215 - 233.
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Introdução
Este trabalho tem como objetivo discutir como a
história do tempo presente revitalizou e abrigou um amplo
movimento de renovação historiográfica, com ampliação de fontes,
interdisciplinaridade, a nova história política, a diversidade temática,
a valorização da história oral e a relação dialética entre memória e
história. Analisaremos a aplicação da História do Tempo Presente no
Brasil, através da justiça de transição, que liga fatos de um passado
recente à atualidade.
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Das utopias ao Autoritarismo
coetâneos;
d) os eventos inacabados; os problemas de delimitação
cronológica (devido as balizas móveis);
e) as memórias e as identidades e a questão da história
judiciária.
Para cada um desses “problemas” apresentados, a autora
traz respostas a tais questões baseadas em autores como Bédarida,
Delacroix, Peschanski, Pollak, Rousso, Chartier e outros. E segundo
FERREIRA (2012, p.108):
O estudo da presença do passado incorporado ao
presente das sociedades, iniciado pelos historiadores do
tempo presente, abre novas temáticas e abordagens para
pesquisadores de outros períodos.
Em 1978, foi criado na França o Institut du Temps Présent
(IHTP), com a finalidade de garantir a objetividade dos estudos,
apresentar bases científicas e defender o domínio desse objeto pelos
historiadores profissionais, afastando amadores, e apresentando os
desafios metodológicos e epistemológicos dessa modalidade histórica,
bem como abarcando uma interdisciplinaridade, que se bem utilizada,
muito contribui para o trabalho do pesquisador.
Com o tempo, as questões anteriormente apresentadas, vem
sendo respondidas, e a HTP vem apresentando notável crescimento
no meio acadêmico e ocupando um lugar expressivo na pesquisa
historiográfica. De acordo com BÉDARIDA (2006, p. 221), fundador
e presidente do IHTP até o ano de 1991,
a história do tempo presente é feita de moradas provisórias.
[...] Sua lei é a renovação. Seu turnover verifica-se muito
rapidamente. Mas é consolador pensar que seus adeptos
têm o privilégio de uma fonte da eterna juventude.
As críticas sofridas pela HPT devido à proximidade dos
historiadores em relação aos acontecimentos pesquisados, o que,
segundo alguns, poderia provocar um olhar limitado sobre os mesmos,
vem sendo desconstruída, e há uma grande adesão de pesquisadores
que defendem a escrita a história do presente ou do imediato.
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Considerações Finais
A História do Tempo Presente tem aberto um importante
e amplo espaço de pluralidade de fontes e novos procedimentos
metodológicos, entretanto, a realidade temporal da história do
imediato nos leva a ouvir vozes múltiplas que algumas vezes se
complementam e em alguns casos são conflitantes, apesar disso o
pesquisador tem vencido as diversas críticas e desafios que a HTP vem
sofrendo nas últimas décadas.
Interessante ressaltar tal pensamento:
Sabemos que a história do tempo presente, mais do que
qualquer outra, é por natureza uma história inacabada: uma
história em constante movimento, refletindo as comoções
que se desenrolam diante de nós e sendo portanto objeto
de uma renovação sem fim. Aliás, a história por si mesma,
não pode terminar (BÉDARIDA, 2006, p. 229)
Constatamos que essa modalidade da “história inacabada”
vem ganhando reconhecimento e espaço, o que se percebe através
da elaboração deste e de muitos trabalhos acadêmicos, que tem
desenvolvido pesquisas ligadas linha da História do Tempo Presente
e através de investigações e de demonstrações empíricas, tem vencido
as interdições e as resistências contra as quais sempre lutou.
A abordagem do trabalho da justiça de transição do Brasil,
vem corroborar para a importância dessa modalidade histórica, ao
trazer ao conhecimento público um passado recente de crimes contra
os direitos humanos e a democracia. Uma competência que não
pode ser entregue a amadores, mais a profissionais da História que
dominam as técnicas do processo e sabem que a história está o tempo
todo se desenrolando diante de nós.
Referências:
Bibliografia:
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militar na década de 1970. In.: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo;
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Das utopias ao Autoritarismo
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Acesso em: 20 jun. 2018.
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André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Introdução
Atualmente discute-se muito nos meios historiográficos
sobre o papel do historiador frente ao período de crise política e social
existente no Brasil iniciado após as jornadas de junho de 2013 e de
certa forma consumado com o impeachment em Dilma Rousseff no
ano de 2016. Destaca-se como marco nesta conjuntura, o fenômeno
da disputa de narrativas e a presença de um “passado que não passa”
no tempo presente brasileiro. Afirmamos isto a partir da ideia de que:
A história é o estudo do passado, certamente, mas também
uma explicação do presente em que vivemos. (O passado
é), um tempo do qual emergimos e que continua, com
efeito a pesar sobre nós (ROUSSO, 2016, p. 174).
Ao observar o Brasil, buscando como distância uma
noção dicotômica, evidencia- se a permanência de discussões e
a busca pela supremacia em relação aos discursos no que tange a
opinião pública. De certa forma ocorre uma disputa pelo controle
da democracia, o que soa inclusive estranho. Durante a conjuntura
pré-impeachment, os conservadores trataram em seu nicho de
inúmeras razões que justificavam o afastamento presidencial, após
ocorrer o impeachment, aumentaram sua influência com a sociedade
ganhando assim a oportunidade de poder opinar em diferentes meios
de comunicação de forma maciça. De certa maneira, estes que são
1 Mestrando do PPGHIS-UFES.
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Considerações finais
O repúdio a uma determinada ideologia mostra temor a ela.
O anticomunismo brasileiro logrou e ainda hoje detém sucesso pela
atuação da opinião pública. Como cidadãos de um país marcado pela
sua frágil democracia, devemos analisar os discursos em voga na disputa
de narrativas para que os fatos reproduzidos por ela nem sempre virem
verdade. No tempo presente brasileiro a crença no perigo vermelho
beira a uma espécie de insanidade de seus mentores. As instituições ou
indivíduos que desenvolvem ou ensaiam em seus discursos e práticas
algo que seja entendido como uma defesa a entidades e organizações
que possuem a alcunha de social em seu nome, ou que utilizam a
cor vermelha como marca, ou são por exemplo a favor dos direitos
humanos (incluindo negros, quilombolas, dependentes químicos, a
comunidade LGBT, as mulheres, ou qualquer que seja a minoria) e por
fim, que são contrários ao impeachment sofrido por Dilma Rousseff
em 2016, são taxados de esquerdistas, e por conseguinte comunistas.
O anticomunismo da atualidade brasileira, não mira em um inimigo,
mas acerta em vários e estes de certa forma não são necessariamente
elementos da esquerda, mas são assim considerados. É fato que nas
conjunturas dos dois primeiros surtos anticomunistas, o perigo
vermelho era real, por conta do quadro político internacional. Nestas
conjunturas o regime soviético e num segundo momento o cubano
também. Entretanto como já referido, o oportunismo foi utilizado
para justificar experiências golpistas.
O crescimento e fortalecimento do conservadorismo é algo
visível e assustador no Brasil da conjuntura pós impeachment, cabe aos
grupos políticos que se denominam progressistas a tarefa de combater
o golpismo, o oportunismo e a manipulação de ideias que beiram às
práticas anticomunistas. É reparável o fato de que o anticomunismo
da terceira onda se desassemelha em vários elementos dos surtos
ocorridos em 1937 e 1964, mas assim como os anteriores finalizou em
golpe nas instituições políticas e como já dito utilizou do oportunismo
e da manipulação da realidade estereotipando os inimigos políticos
em questão.
211
Das utopias ao Autoritarismo
Referências bibliográficas:
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Parte II
A América Latina:
Indígenas, dirigentes e cultura
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não fizessem acordos de cúpula para impor na base, mas sim que
fizessem acordos para ir juntos, para ouvir e organizar a indignação;
que não levantassem movimentos que depois fossem negociados às
custas daqueles que os integravam, mas sim que levassem sempre
em consideração a opinião dos que deles participavam; que não
procurassem presentes, posições, vantagens, cargos públicos ou
cargos de poder, indo sempre além dos calendários eleitorais;
que não tratassem de resolver os problemas da nação mexicana a
partir de cima, mas sim que construíssem a partir de baixo e para
os debaixo uma alternativa à devastação neoliberal, uma alternativa
de esquerda para o México. Os zapatistas convidaram a todos
os que lutavam a partir dos princípios acima relatados para que
participassem diretamente com os zapatistas da campanha nacional
para a construção de outra forma de fazer política, de um programa
de luta nacional e de esquerda e, no caso do México, por uma nova
Constituição. Ou seja, o zapatismo criticava a política como uma
esfera especial, monopolizada por um grupo de profissionais, fora
do controle social e alheia aos anseios da sociedade civil, somente
se voltando para ela nos momentos eleitorais, num quadro de
participação restrita da democracia representativa.
Segundo Juan Diez em seu trabalho “Os múltiplos
processos de construção da autonomia do movimento zapatista”,
apesar das leituras abstencionistas ou antieleitorais que muitos
críticos fizeram no momento da divulgação da Sexta Declaração da
Selva Lacandona, o que os zapatistas propuseram, a partir da Sexta
Declaração, foi o rompimento das negociações com a classe política
visto que os zapatistas estavam indignados com a traição da classe
política durante a votação da nova proposta sobre direitos indígenas
que foi precedida por intensas negociações e mobilizações. Juan
Diez deixa claro que não se tratava de uma conclamação a não
votar, de não participar da política, mas uma proposta renovada
em que a tarefa fundamental, a partir de 2005, seria o encontro
e conhecimento dos diferentes grupos, coletivos e pessoas que
lutavam contra o capitalismo, entre os quais deveriam ir discutindo,
coordenando e articulando as novas iniciativas políticas. Portanto,
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Introdução
Os comunistas cubanos fundaram em 1925 o Partido
Comunista de Cuba (PCC) que esteve vinculado, desde seus
primórdios, com a União Soviética e com a matriz ideológica do
bloco comunista. De sua fundação até 1938, o PCC permaneceu na
clandestinidade e só conseguiu o registro eleitoral num momento
de abertura política dirigida pelo general Fulgencio Batista que, já
na década de 1930, comandava o exército cubano e imprimia suas
decisões ao poder executivo nacional. O período compreendido entre
os anos de 1940 e 1952 corresponde à Segunda República cubana,
época de normalidade democrática com a ocorrência de eleições
periódicas e liberdade política. Neste contexto, o PCC, que passou a
chamar-se Partido Socialista Popular (PSP) em 1944, participou de
amplas coalizações, fortaleceu-se internamente com o crescimento do
número de seus filiados, definiu mais claramente um projeto político
voltado, principalmente, para questões trabalhistas e para a ampliação
do poder estatal, inseriu-se em sindicatos e consolidou sua organização
interna. O cenário político mudou quando, em 10 de março de 1952,
o general Batista deu um golpe de Estado e instalou uma ditadura no
país. Ao golpe soma-se o acirramento da Guerra Fria e a perseguição
aos comunistas em toda a América Latina, região marcada por
relações econômicas e políticas bem próximas aos Estados Unidos e
ao capitalismo financeiro.
Este artigo insere-se nas questões colocadas anteriormente
e tem como objetivo analisar alguns elementos da cultura política dos
comunistas cubanos, filiados ao Partido Socialista Popular, durante
1 Graduada em História na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e
mestra pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Atualmente, cursa
o doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e desenvolve uma
pesquisa sobre a cultura política comunista em Cuba nas décadas de 1950 e 1960..
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Representações e imaginário
As representações da história cubana feitas pelos comunistas
fornecem um caminho para a investigação de sua cultura política
e há dois elementos que aparecem de maneira predominante dos
documentos partidárias: o nacionalismo e o anti-imperialismo. Os
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Considerações finais
Pela análise da documentação partidária, notamos as
transformações e o enraizamento de ideias e comportamentos na
cultura política dos comunistas cubanos, bem como sua transformação
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André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
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250
André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Introdução
A Nueva Canción chilena foi um movimento musical
que surgiu durante a década de 1960, com uma produção
predominantemente relacionada às críticas sociais e à valorização da
cultura e elementos populares, sobretudo para a idealização de uma
identidade nacional, além da elevação das classes populares como
protagonistas das lutas políticas do país. Pretendemos demonstrar
algumas relações existentes entre esse movimento e a juventude
chilena que vivenciou as efervescências dos eventos ocorridos
na década de 1960, que consolidaram a juventude no campo das
discussões políticas. Nosso recorte é compreendido entre os anos de
1964 e 1973, período em que a Nueva Canción chilena se formou e
obteve destaque e, também, em que ocorreram episódios relevantes
ligados a participação da juventude universitária. Neste recorte
temporal, dois governantes exerceram a presidência no Chile:
Eduardo Frei Montalva, do Partido Democrata Cristiano (PDC), entre
1964 e 1970; e Salvador Allende, da Unidad Popular (UP), entre 1970
e 1973. Ambos os governos viveram os desdobramentos da Guerra
Fria, um conflito ideológico que influenciou de diferentes formas as
conjunturas internas dos países latino-americanos.
Pretendemos demonstrar como se configurou a relação
existente entre os desdobramentos das manifestações estudantis e
a formação e atuação do movimento da Nueva Canción no cenário
político do país, além de identificar como a atuação dos estudantes
foi representada pelo movimento da Nueva Canción em relação à
1 Mestrando pelo programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal do Espírito Santo.
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265
Parte III
Espírito Santo:
Indígenas, território e cultura
André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Introdução
A partir da problematização do significado da
modernidade feita por Reinhart Koselleck, podemos destacar a
crítica que reside na tentativa de compreender as distintas estruturas
temporais vinculadas à experiência dos homens na história. Para
tanto, o historiador alemão produziu sua própria teoria crítica dos
tempos modernos analisando as mudanças na percepção temporal
vivenciadas pelos europeus entre os anos de 1750 e 1850 que trouxe
à tona uma inflexão entre aquilo que ele denominava como o espaço
de experiência e o horizonte de expectativa. Estas duas categorias
analíticas foram instrumentalizadas por Koselleck para perscrutar
as novas perspectivas em relação ao tempo que foram traduzidas
na incorporação de neologismos ou na alteração do significado de
antigos conceitos políticos para dar conta de demandas surgidas
naquele momento (KOSELLECK, 2006).
Impulsionados pela descoberta do novo mundo, pelo
advento do conhecimento “exato” das ciências naturais, assim como
pelo surgimento das primeiras máquinas e da revolução industrial,
os europeus dos séculos XVIII e XIX teriam, aos olhos de Koselleck,
produzido uma ordenação semântica do tempo na qual o futuro passava
a predominar sobre o presente, dando lugar a concepções filosóficas
que tendiam a enxergar a história como um singular coletivo ou, em
outras palavras, como uma grande marcha da humanidade rumo ao
inexorável caminho do progresso. Entretanto, na interpretação do
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4 Assim como Ilmar R. Mattos (1987, p. 1), entendemos por camada dirigente
um grupo heterogêneo composto por homens letrados - jornalistas, políticos, médicos
-, que desempenharam um importante papel como artífices da política e da mudança
dos costumes da população.
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11 O médico higienista Manoel Goulart de Souza ocupou diversos cargos entre
as décadas de 1860 e 1890, dentre eles, podemos citar: deputado da assembleia
provincial, inspetor de saúde pública, inspetor de saúde em portos, provedor da Santa
Casa de Misericórdia.
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Espírito Santo:
CORREIO DA VICTÓRIA- 1849; 1850; 1871.
JORNAL DA VICTÓRIA- 1864; 1867.
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O ESPÍRITO-SANTENSE- 1871; 1883.
Documentos Oficiais:
Relatórios de presidente de província apresentados a Assembleia Legislativa
Provincial- 1849, 1854, 1864, 1869, 1872, 1873, 1874, 1875, 1877, 1878, 1883,
1896, 1911, 1912, 1913.
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do Espírito Santo (1882/1889). 2007. 130 f. Dissertação (Mestrado em
História) - Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações
Políticas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007.
CORBAIN, Alain. Saberes e odores: o olfato e o imaginário social nos séculos
286
André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
287
André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Introdução
Com a promulgação do novo Regulamento das Missões de
1845 se restitui oficialmente o cargo de Diretor e estabeleceu-se em
todas as províncias do Império uma Diretoria Geral de Índios, que
deveria cuidar do estabelecimento dos aldeamentos e da catequese
e civilização dos índios. É a partir desse novo cenário político que
pretendemos analisar a atuação da Diretoria Geral dos Índios no
Espírito Santo sob a gestão do primeiro barão do Itapemirim, Joaquim
Marcelino da Silva Lima.
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Espírito Santo, Vânia Maria Losada Moreira destaca que estes estavam
em diferentes estágios de contato e de transculturação, governados
por meio de regras legais ou costumeiras (MOREIRA, 2010).
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6 Segundo Márcia Motta, a Lei de Terras de 1850 definiu como devolutas todas
as terras que não estavam sob os domínios públicos e nem pertencessem a nenhum
particular, independente da ocupação. O acesso a essas terras só se daria, em teoria,
por compra.
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Considerações Finais
Certamente não podemos esquecer que as acusações contra
o barão de Itapemirim vinham de bandos antagônicos ao dele. Estes
grupos eram os mais diversos e variavam desde a escala local, provincial
e nacional. Vimos que localmente o barão foi construindo suas redes
de influência, casando com a filha de um abastado fazendeiro na
vila de Itapemirim, que também se destacava na política local. Na
província, o barão foi construindo suas alianças em torno da sua
posição política, ora como vice-presidente da província do Espírito
Santo, deputado e principalmente, substituindo os presidentes na
administração do executivo provincial. Na corte, o barão conseguiu
ser notado, foi considerado um dos “grandes do Império” e, portanto,
tinha acesso mais facilitado ao Imperador e seus ministros. Logo, não
podemos tomar essas denúncias, senão, como constatações da grande
influência que o barão de Itapemirim tinha na província do Espírito
303
Das utopias ao Autoritarismo
Referências
Documentos do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo:
APEES (Arquivo Público do Estado do Espírito Santo). Registros Paroquiais
de Terras de Benevente. Fundo Agricultura, Série DCTC, Livro 75, 1854-
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Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://memoria.bn.br/
DocReader/DocReader.aspx?bib=218235>. Acesso em 4 de setembro de
2017.
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p.1. Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://bndigital.bn.gov.br/
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p.1. Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://bndigital.bn.gov.br/
hemeroteca-digital/>. Acesso em 5 de setembro de 2017.
Correio Mercantil. Rio de Janeiro, Ano XVI, nº 267, 30 de setembro de 1859,
p.2. Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://bndigital.bn.gov.br/
hemeroteca-digital/>. Acesso em 5 de setembro de 2017.
Diário do Rio de Janeiro. Ano XXXVII, nº 165, 18 de junho de 1857, p.2.
Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://bndigital.bn.gov.br/
hemeroteca-digital/>. Acesso em 5 de setembro de 2017.
Diário do Rio de Janeiro. Ano XXXVII, nº 232, 26 de agosto de 1857, p.2.
Disponível em Biblioteca Nacional Digital: <http://bndigital.bn.gov.br/
hemeroteca-digital/>. Acesso em 5 de setembro de 2017.
305
Das utopias ao Autoritarismo
Bibliografia:
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aprova os Estatutos da Companhia denominada – Associação Colonial do
Rio Novo. Coleção de Leis do Império do Brasil – 1855- Tomo XVI, Parte I.
Daemon, Basílio, 1834-1893. Província do Espírito Santo: sua descoberta,
história cronológica, sinopse e estatística. Coordenação, notas e transcrição
de Maria Clara Medeiros Santos Neves. – 2.ed. – Vitória: Secretaria de Estado
da Cultura; Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2010.
MENDES JÚNIOR, João (1912). Os indígenas do Brazil, seus direitos
individuais e políticos. São Paulo: Typ. Hennies Irmão.
TSCHUDI, Johann Jakob Von. Viagem à província do Espírito Santo:
imigração e colonização suíça 1860. Vitória : Arquivo Público do Estado do
Espírito Santo, 2004.
VASCONCELLOS, José Marcelino Pereira de. Livro das Terras ou coleção
da Lei, Regulamentos e Ordens. 4º ed. Rio de Janeiro: H. Laemmert, 1885.
Bibliografia Citada:
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cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
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Espírito Santo - século XIX. Vitória, FCAA, 1983.
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o regime territorial de 1850. Revista Brasileira de História (Impresso), São
Paulo, v. 22, n.43, p. 153-169, 2002.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. A serviço do Império e da nação: trabalho
indígena e fronteiras étnicas no Espírito Santo (1822-1860). Anos 90 (UFRGS.
Impresso), v. 17, p. 13-54, 2010.
MOTTA, Márcia M. M. Nas fronteiras do poder: conflito de terra e direito
à terra no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: Vício de Leitura: Arquivo
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2 Mais importante que todas estas novas vias de penetração do litoral para
Minas, é a do Rio Doce. Ela ocupa seriamente a administração pública porque,
geograficamente, é de fato pelo Espírito Santo, e não pelo Rio de Janeiro, a saída
natural da Capitania.
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Figura 1: Mapa dos municípios que compunham a Região Litigiosa ao norte do rio
Doce até 1963. Fonte: MURAMATSU (2015, p. 105).
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Referências Bibliográficas
Documentação:
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Secretaria do Interior e Justiça, 1947-1948.
Laudo Arbitral do Serviço Geográfico e Histórico do Exército. 1941.
Documentos da Secretaria do Interior e Justiça, 1945.
Ofícios expedidos pelo Governador do Estado do Espírito Santo. Relatório
- Distrito Policial de Oratório, referência 510, 1951, Vitória, 27 ago. 1951.
Obras:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo, Martins Fontes,
1998.
AGUIRRE, Araujo. Limites entre os Estados do Espirito-Santo e Minas.
Revista do IHGES, Vitória, n. 3, p. 7-26, 1922.
ALBUQUERQUE, José Lindomar Coelho. Fronteiras em movimento e
identidades nacionais: a imigração brasileira no Paraguai. 2005. 265f. Tese
(Doutorado em Sociologia) - Programa de Pós-Graduação em Sociologia,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.
ANDRADE, Darci Bessone de Oliveira; OLIVEIRA, Antonio Gonçalves de.
As questões de limites com o Estado do Espírito Santo: (ao norte do rio
Doce). Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1958. v. 3.
BORGO, Ivan Anacleto Lorenzoni; ROSA, Lea Brígida Rocha de Alvarenga;
Renato José Costa. Norte do Espírito Santo: ciclo madeireiro e povoamento.
Vitória: EDUFES, 1996.
DIAS, Luzimar Nogueira. Massacre em Ecoporanga: lutas camponesas no
Espírito Santo. Vitória: Cooperativa dos Jornalistas do Espírito Santo, 1984.
FOWERAKER, Joe. A luta pela terra: a economia política da fronteira
pioneira no Brasil de 1930 aos dias atuais. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
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Das utopias ao Autoritarismo
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Parte IV
Brasil
Cultura, poder e religião
(Séculos XVIII e XIX)
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hierarquia. Contudo, não foi possível controlar sua presença totalmente (BORGES,
2005).
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15 Fonte: AEAM. Livro de entrada. Irmandade de Nossa Senhora das Mercês
(1749-1810). Prateleira P, nº3; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de Nossa Senhora
das Mercês (1815-1829). Prateleira P, nº 4; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de
Nossa Senhora das Mercês (1777-1814). Prateleira P, nº 32.
16 Hebe Mattos de Castro (1995) também utilizou o termo “crioulização” para
se referir ao crescente número de crioulos na sociedade colonial de fins do século
XVIII e início do XIX.
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17 AEAM. Livro de entrada. Irmandade de Nossa Senhora das Mercês (1749-
1810). Prateleira P, nº3; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de Nossa Senhora das
Mercês (1815-1829). Prateleira P, nº 4; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de Nossa
Senhora das Mercês (1777-1814). Prateleira P, nº 32.
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21 AEAM. Livro de entrada. Irmandade de Nossa Senhora das Mercês (1749-
1810). Prateleira P, nº3; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de Nossa Senhora das
Mercês (1815-1829). Prateleira P, nº 4; AEAM. Livro de Entrada. Irmandade de Nossa
Senhora das Mercês (1777-1814). Prateleira P, nº 32.
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Considerações Finais
Ao se aventurarem pelos montanhosos sertões e, a custo de
sangue e suor, formarem os núcleos urbanos mineradores, indivíduos
de qualidades, crenças e costumes distintos se uniram no território que
posteriormente se tornaria a Capitania de Minas Gerais. Com eles se
desenvolveram inúmeras possibilidades de miscigenação, biológica e
cultural, que geraram uma sociedade complexa, fluida e multifacetada.
A sociedade mineira, em parte herdeira do mundo estamental e
caracterizada pela classificação e hierarquização social, teve de se
adaptar às condições da inconstância do ouro. O enriquecimento,
o acesso aos cargos e as redes de contatos eram formas de burlar as
normas e os valores estabelecidos, bem como promover a mobilidade
social de homens de cor que viveram ou não a experiência do cativeiro
(SILVEIRA, 1996; PAIVA, 2001). Como expôs Hebe Mattos de Castro
(2001, p. 155), “a escravidão e a multiplicação de categorias sociais
referentes à população afrodescendente se mostrariam como a face
mais visível da constante expansão do Antigo Regime em perspectiva
atlântica”. Pardos, crioulos ou negros apresentavam graus distintos
na hierarquia social, mas compartilhavam o fato de estarem, ou terem
estado, próximos à fronteira que separava liberdade e escravidão.
Como nos foi possível observar, a Irmandade de Nossa
Senhora das Mercês de Mariana, embora fundada pelos denominados
“pretos crioulos”, agregava, mesmo que em graus distintos, indivíduos
pretos, crioulos, pardos, cabras e brancos, entre livres, escravos e
libertos. A pluralidade e a diversidade existentes no interior das
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Referências:
Fontes Manuscritas:
Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana:
Livro de Registro Geral da Cúria. Provisões, Sentenças, Termos e Portarias,
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André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Fontes Impressas:
ANTONIL, André João, 1650-1716. Cultura e opulência do Brasil por suas
drogas e Minas. Lisboa, Deslandesiana, 1711.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico,
architectonico... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712-1728.
RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem Pitoresca através do Brasil. Tradução
Sérgio Millet. São Paulo: Martins; Ed. da Universidade de São Paulo, 1972.
SILVA, Antonio Moraes. Diccionario da lingua portugueza - recompilado
dos vocabulários impressos ate agora... (1789). Lisboa: Typographia
Lacerdina, 1813.
VIDE, Sebastião Monteiro da. (Arcebispo, 1643-1722). Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia feitas, e ordenadas pelo Illustrissimo,
e Reverendissimo Senhor D. Sebastião Monteiro da Vide: propostas, e
aceitas em o Synodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho
do anno de 1707. São Paulo: Tipografia 2 de Dezembro de Antonio Louzada
Antunes, 1853. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/
id/222291>. Acesso em: 04 ago. 2018.
353
Das utopias ao Autoritarismo
Bibliografia:
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confrarial entre negros e mulatos no século XVIII. 1993. 318 f. Dissertação
(Mestrado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no
Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
ANDRADE, Francisco Eduardo. Cativeiros e enredos de libertação dos
devotos de cor nas Minas da América portuguesa. Revista Brasileira de
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AZZI, Riolando. A Ordem das Mercês no Brasil: Instalação, Expansão e
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BORGES, Célia Maia. Escravos e Libertos nas Irmandades do Rosário:
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BRÜGGER, Sílvia Maria Jardim; OLIVEIRA, Anderson. Os Benguelas de
São João del Rei: tráfico atlântico, religiosidade e identidades étnicas (Séculos
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Império português: o Antigo Regime em perspectiva atlântica. In: FRAGOSO,
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O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos
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CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. 2.
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DELFINO, Leonara Lacerda. O Rosário dos Irmãos Escravos e Libertos:
Fronteiras, Identidades e Representações do Viver e Morrer na Diáspora Atlântica.
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Introdução
José Ferreira Borges2, deputado às Cortes Constituintes
Portuguesas em 1821, definia finanças enquanto termo que designava
Fazenda do Estado entre os europeus e como fisco para os romanos.
As finanças, segundo Borges (1856), compreendiam além dos réditos
materiais arrecadados pelo Estado, a sua administração e a forma de
sua imposição. Nesse sentido, à administração das finanças cabia as
cobranças e o emprego que seria dado às arrecadações, e às imposições
compreendia a teoria das contribuições. Podendo ser definida como
Syntetologia, essa ciência ensinava aos governantes, seus conselheiros
e funcionários “os meios de prover as necessidades do Estado político
com os recursos do Estado social” (BORGES, 1831, p. 6).
Tal como Borges, Amaro Cavalcanti em Elementos de
Finanças estava preocupado em realizar um estudo prático da doutrina
financeira, principalmente a partir dos trabalhos produzidos na França
e Alemanha sobre as finanças públicas. Designava o conjunto das
atividades financeiras do Estado Brasileiro como “ciência financeira
ou finanças a doutrina da Economia do Estado” (CAVALCANTI,
1896, p. 7). Para ele, a organização das finanças dependia de como
seriam ensinados os princípios e normas que constituíam a economia,
e, consequentemente, como seriam empregadas e administradas as
rendas a partir das necessidades da vida pública.
O advento dos estudos sobre tal ciência seria fundamental
para os principais teóricos do Estado do século XX, tornando a
fiscalidade eixo central para o estudo da formação dos Estados na
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O princípio da instabilidade
A criação da Secretaria de Estado e Negócios da Fazenda
no Brasil em 06 de abril de 1821 é considerado o marco da separação
entre as secretarias dos negócios do Brasil e Fazenda. Tal determinação
expedida por D. João VI, pode ser compreendida, segundo Mircea
Buesco (1984), como uma nova forma de organização local que
buscava ser mais autônoma. Esteve aliada ao retorno do monarca a
Portugal em meio ao decreto das Cortes Gerais e Extraordinárias da
Nação Portuguesa e dos conflitos gerados pela Revolução do Porto.
Sendo assim, partimos da hipótese de que a implementação desta
instituição no Reino do Brasil contribuiu para uma maior organização
das repartições fiscais, na medida em que todas estariam ligadas ao
Erário Régio e à pessoa do Ministro e Secretário de Estado dos
Negócios da Fazenda.
A Secretaria ficaria sob a responsabilidade de d. Diogo de
Menezes, o Conde de Louzã, segundo o decreto de 22 de abril do
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Referências:
Fontes manuscritas:
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Fazenda. Sessão de Manuscritos. Arquivo Nacional.
AN. Série Fazenda. Província de Minas Gerais. BR JANRIO 9F – Junta de
Fazenda. Sessão de Manuscritos. Arquivo Nacional.
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Fontes Publicadas:
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Disponível em <http://imagem.camara.gov.br/pesquisa_diario_basica.asp>.
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Coleção de Leis e Decretos do Império do Brasil de 1821 a 1830.
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BRASIL. MINISTÉRIO DA FAZENDA. Ministro (Manoel Jacinto Nogueira
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Acesso em: 21 fev. 2018.
A Malagueta (RJ). 1821 a 1829. Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional. Disponível em <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.
aspx?bib=364568_01&pasta=ano%20182&pesq>. Acesso em: 21 fev. 2018.
Revérbero Constitucional Fluminense (RJ). 1821 a 1822. Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional. Disponível em <http://memoria.bn.br/
DocReader/docreader.aspx?bib=364568_01&pasta=ano%20182&pesq>.
Acesso em: 21 fev. 2018.
Fonte Secundária:
BORGES, José Ferreira. Princípios de Syntelologia: compreendendo em
geral a teoria do tributo e em particular observações sobre a administração e
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Das utopias ao Autoritarismo
Bibliografia:
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In: RIBEIRO, Gladys Sabina; CAMPOS, Adriana Pereira. (Orgs.). Histórias
sobre o Brasil no oitocentos. São Paulo: Alameda, 2016, p. 15-38.
AIDAR, Bruno Costa. A vereda dos tratos: fiscalidade e poder regional na
capitania de São Paulo, 1723-1808. 2012. 517 f. Tese (Doutorado) – Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2012.
AIDAR, Bruno Costa. Poder regional e fiscalidade colonial na capitania de
São Paulo, 1723-1808. In: XI Congresso Brasileiro de História Econômica e
12ª Conferência Internacional de História de Empresas, 2015, Vitória. Anais
do XI Congresso Brasileiro de História Econômica e 12ª Conferência
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ALMEIDA, Paulo Roberto. A diplomacia financeira no Império. Revista da
Associação Brasileira em Pesquisa em História Econômica, v. 4, n. 1, p.
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ALMEIDA, Paulo Roberto. Formação da diplomacia econômica no Brasil:
as relações econômicas internacionais no Império. 3. ed. rev. Brasília:
FUNAG, 2017.
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Introdução
Durante todo período colonial, as relações Igreja-Estado,
inclusive em Minas Gerais, mostraram-se bastante conturbadas. A
ação dos Bispos defrontava-se diretamente com a atuação do poder
real, devido à confusa legislação no tocante a seus direitos fiscalizadores
e disciplinares. No contexto de ação do padroado régio, a faculdade
episcopal de aplicar censuras e penas canônicas ficava de certa forma
parcialmente inibida pelo recurso do efeito suspensivo que podia ser
solicitado à Coroa.
A ação pastoral apresentou-se, assim, em formato
suplementar e ratificador aos interesses da política colonizadora
(BOSCHI, 1986, p. 62-86). Ademais, a autoridade dos Bispos por vezes
era questionada pelas ordens religiosas, inclusive terceiras. Em Minas
Gerais, por exemplo, as confrarias leigas afirmavam estar subordinados
diretamente aos Gerais do Carmo (em Roma) e de São Francisco (em
Castela), eximindo-se assim, inclusive, de uma obediência ao Estado
português. Paralelamente, os Bispos enfrentavam a desobediência dos
cabidos (BOSCHI, 1986, p. 62-81).
O período de governo de Dom José da Santíssima Trindade
no Bispado de Mariana estendeu-se de 1820 a 1835, sendo ele o
sexto bispo desta Diocese. Foi, assim, antecedido por Dom Frei
Manuel da Cruz (1748-1764), Dom Joaquim Borges de Figueiroa
(1771- 1773), Dom Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis (1773-
1777), Dom Frei Domingos da Encarnação Pontével (1779-1793),
Dom Frei Cipriano de São José (1798-1817). Dom Frei José chegou
ao Bispado num momento de vacância do Seminário e, sobretudo,
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Referências:
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397
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Documentário:
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Mariana, MG: Laboratório de Ensino de História da UFOP, 2010. DVD.
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Introdução
A presente comunicação insere-se no campo da História
do Brasil Imperial, em confluência com o domínio da História do
Direito. O problema central em análise é a influência do Opinio
Doctorum2 nos acórdãos proferidos pelo Tribunal da Relação do Rio
de Janeiro durante as duas primeiras décadas do Segundo Reinado,
prática esta que iria de encontro a uma concepção de “justiça de leis”,
aproximando-se de uma “justiça de juízes”.
De acordo com o pressuposto teórico fornecido por Carlos
Garriga e Andréa Slemian (2013), até a independência do Brasil,
em 1822, e, ao menos até as duas décadas subsequentes, as decisões
tomadas em nossos tribunais ainda eram regidas essencialmente pelo
Opinio, o que, não raro, propiciava abusos por parte dos magistrados.
Grosso modo, os autores argumentam que “[...] a ‘boa administração
da justiça’ dependia do ‘bom juiz’, e do seu reto comportamento, e
não das leis e de sua devida aplicação” (GARRIGA; SLEMIAN, 2013,
p. 181).
Objetiva-se, desta forma, verificar se o recurso a esta fonte
jurídica, típica do Antigo Regime, foi mantido durante o Segundo
Reinado, tomando a jurisprudência do Tribunal da Relação do Rio
de Janeiro como estudo de caso. Embora o tema abarque todo o
longo século XIX, escolheu-se delimitar o problema entre a reforma
constitucional, com a lei de interpretação do Ato Adicional de 1834,
e o fim da década de 1850, quando a maior parte dos códigos legais
criados em todo o período imperial já estavam constituídos.
A pesquisa debruçou-se sobre os acórdãos proferidos pela
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Da Justiça Imperial
A emancipação brasileira trouxe a esperança de nova
ordem política baseada no Estado de Direito à luz dos ideais de
autodeterminação iluministas, embora sua consumação tenha
ocorrido por meio de processo peculiar. Diferentemente das ex-
colônias espanholas na América Latina, a
ex-colônia portuguesa, se não evitou um período inicial
de instabilidade e rebeliões, não chegou a ter uma única
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Tabela 1: Tipos de ações publicadas na Gazeta dos Tribunais
Apelações Apelações Revistas Revistas Não
Ano embargos Agravos Total %
civis crime cíveis Crime identificados-
1843 45 6 18 4 1 1 1 77 36,8
1844 16 0 8 3 6 4 1 38 18,2
1845 29 4 14 1 2 2 0 52 24,9
1846 21 2 16 0 2 0 1 42 20,1
Total 111 12 56 8 11 7 3 208 100
Tipos de ações publicadas no Correio
1850 1 0 1 1 1 0 1 5 3,5
1851 3 0 1 0 5 3 1 13 8,9
1852 0 1 0 0 0 0 0 1 0,8
1853 0 0 0 0 0 0 1 1 0,8
1854 3 0 0 0 0 0 0 3 2,1
1855 52 11 1 7 0 0 3 74 50,7
1856 0 2 0 0 0 0 14 16 10,9
1857 1 5 1 0 1 0 2 10 7,0
1858 0 12 0 0 0 0 0 12 8,3
1859 0 10 0 0 0 0 0 10 7,0
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Tabela 2: classificação do acórdãos de acordo com a fonte de direito na Gazeta dos Tribunaes
Indeterminado:
33,1%
%
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---
Total
Alvarás
Acentos
Reg. Imp.
Doutrinas
Decr. Imp.
Disp. Prov.
Cod. Crim.
Const. Imp.
Ordenações
Provimento
Avisos Imp.
Decreto Colonial
Leis Imp. Avulsas
1843 27 2 0 0 4 5 3 5 10 0 0 1 0 3 2 23 85 34,1
1844 14 4 0 1 2 2 1 1 2 0 1 1 1 1 4 14 50 19,8
1845 17 2 0 0 4 1 1 0 5 2 0 2 0 4 2 23 63 25,0
1846 10 1 1 0 4 2 2 3 2 0 2 1 0 0 2 23 53 21,0
Indeterm.:
%
--- 34,97%
Total
Crim.
Alvarás
Avulsas
Avulsas
Decreto
Leis Col
Acentos
Colonial
Leis Imp.
Reg. Imp.
Doutrinas
Cod. Proc.
Decr. Imp.
Disp. Prov.
Cod. Crim.
Cod. Com
Const. Imp.
Ordenações
Provimento
Avisos Imp.
1850 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 4 2,2
1851 2 0 0 1 0 0 0 1 2 0 0 1 2 0 1 2 2 7,7
1852 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5
1853 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5
1854 0 0 0 0 0 2 1 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1,6
1855 15 1 0 2 2 0 6 8 3 0 0 2 1 8 5 4 55 61,2
1856 9 1 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 8,2
1857 0 0 0 1 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 1 1 5 5,5
1858 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 11 1 0 6,6
1859 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 1 0 5,5
1860 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0,5
Total 28 2 0 4 2 2 8 11 11 0 0 4 3 9 27 11 64
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Total
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1852
1853
1854
1855
1856
1857
1858
1859
1860
%
Livro I 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 3 9,4
Livro II 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0
Livro III 1 3 1 0 0 6 5 0 0 0 0 16 50,0
Livro IV 0 0 0 0 0 9 4 0 0 0 0 13 40,6
Livro V 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0
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uso, inclusive, foi o mais citado por esta corte, chegando à metade
de todas ocorrências das Ordenações na década de 1850 (total de
32). Interessante notar que o Livro III disciplinava os processos
tramitados na Justiça. No entanto, desde a publicação das Disposições
Provisórias da Administração da Justiça publicadas como apêndice do
Código Criminal de 1832, o Brasil editou diversas medidas de direito
processual como a Lei 261 de 1841, o Decreto de 143 de 1842, o Decreto
278 de 1843 e o Decreto 737 de 1850. O Regulamento (decreto) 737 ao
qual o autor se refere, apareceu apenas seis vezes.
Conclusões
Em síntese, pode-se entender que a utilização das fontes
jurídicas provenientes do Antigo Regime foi decisiva para a
jurisprudência do Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, mesmo após
mais de vinte anos de nossa Independência.
Entretanto, as fontes indicam que, diversamente da hipótese
adotada nesta pesquisa, as decisões tomadas por esta Corte no período
pesquisado eram fundamentadas essencialmente em leis, e não no
Opinio Doctorum. Para além disso, a tendência de nossa estrutura
judicial era a de privilegiar cada vez mais os códigos legais que iam
surgindo, embora ainda convivessem com as fontes oriundas do
Antigo Regime, principalmente no que tange às questões civis.
Essa aparente contradição entre modernidade e tradição
de nosso judiciário refletia as próprias antinomias socioeconômicas
do nascente Império brasileiro. Assim, se, por um lado, um dos
principais pilares da cidadania no universo oitocentista era o Direito
positivo, o Estado brasileiro fora construído e sustentado, por todo o
período imperial, pelo latifúndio agroexportador escravista, em uma
sociedade essencialmente analfabeta, patrimonialista e patriarcal. Era
em cima destas estruturas que o judiciário tinha que funcionar, o
que exigia uma constante adaptação, e nenhuma das várias reformas
feitas em seu sistema seria capaz de superar as contradições daquela
sociedade. Como muitos contemporâneos já percebiam, o problema
maior não estava nas leis.
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André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
Referências:
Documentos:
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Typographia do Correio Mercantil, ed. 40, ano 12, 10 de fevereiro de
1855, 4 p. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.
aspx?bib=217280&PagFis=843&Pesq=typogr>
Correio mercantil, e instructivo, político, universal, Rio de Janeiro:
Typographia do Correio Mercantil, ed. 65, ano 12, 7 de março de 1855,
4 p. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.
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Correio mercantil, e instructivo, político, universal, Rio de Janeiro:
Typographia do Correio Mercantil, ed. 191, ano 12, 12 de julho de 1855,
4 p. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.
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Correio mercantil, e instructivo, político, universal, Rio de Janeiro:
Typographia do Correio Mercantil, ed. 333, ano 14, 6 de dezembro de
1857, 4 p. Disponível em:<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.
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Gazeta dos tribunaes, Rio de Janeiro: Typ. Imparcial de F. de Paula Brito, ed,
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lhe três. Vendido! – Um estudo sobre anúncios de leilões de livros no jornal
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WEHLING, Arno. A atividade judicial do Tribunal da Relação do Rio de
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Parte V
Historiografia, Patrimônio,
Educação e Cultura
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Das utopias ao Autoritarismo
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Das utopias ao Autoritarismo
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435
Das utopias ao Autoritarismo
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Das utopias ao Autoritarismo
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Das utopias ao Autoritarismo
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Introdução
Heródoto é considerado o autor da primeira obra em prosa
da literatura grega preservada até os nossos dias, tendo nascido em
Halicarnasso, cidade próxima a Mileto, no litoral da Ásia Menor,
nas primeiras décadas do século V a.C. Em sua época, Halicarnasso
era um centro florescente da cultura helênica. O momento em que
Heródoto empreendeu sua investigação foi um momento de grandes
transformações das ideias e da mentalidade helênica, pois foi na
primeira metade do século V a.C. que Atenas se tornou hegemônica
na Hélade.
Em relação à obra, História, não sabemos exatamente
quando foi escrita, mas apenas que, em 445 a.C., Heródoto se
encontrava em Atenas, onde teria lido em público sua obra ou parte
dela (KURY, 1985, p. 7). O objetivo principal de Heródoto, em
História, é descrever a guerra entre o Império Persa e a Hélade ou,
segundo as categorias empregadas pelo autor, entre o despotismo
oriental baseado na vontade onipotente dos tiranos e na sujeição cega
dos povos dominados e o governo fundado na obediência às leis e na
livre determinação dos povos do Ocidente. Porém,
Heródoto não apenas descreve a guerra entre os helenos e
persas, sua narrativa espelha seu interesse pelos costumes
dos povos, pela sua geografia, pelas suas práticas religiosas,
por tudo que compõe e forma um povo (SILVA, 2015 p. 45).
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quando seu rei morria, ritual esse que ao olhar grego é visto como um ato
de selvageria e de barbárie, pois, entre os helenos a mutilação havia sido
proibida antes mesmo da legislação de Sólon. Acreditava-se que aquele
que praticava a mutilação estava se pondo à parte da esfera do direito,
pois não se devia tocar na integridade do corpo do cidadão. Entre os
citas, os participantes do cortejo fúnebre se mutilavam, mas o cadáver
do rei era preservado, visto que era embalsamado. Como Hartog explica
essa prática da mutilação era uma maneira de preservação da memória
e não um ato de selvageria desmedido
Os citas, com efeito, ainda que não elevem a voz e
não articulem palavra alguma falam, mas falam à sua
maneira – em seus corpos e com seus corpos. Mutilam-
se, inscrevem em seus corpos a lei cita e fazem de seus
corpos a celebração e a oração fúnebre do rei morto. Pelas
cicatrizes que trarão, seus corpos tornar-se-ão memória.
Mais ainda, essas mutilações não são exageros de violência
feitos ao acaso, mas, ao contrário, parte do cerimonial
fúnebre (HARTOG, 2014, p. 182).
Nessa perspectiva, constatamos que é através dos corpos
que os citas se expressam e expressam seu luto, mas qual a mensagem
que essas mutilações passam? A condição de súdito de tais homens.
O corpo é tido como uma maneira de atestar para si mesmo e de
atestar para o outro que faz parte do mesmo grupo, a comunidade
cita. De acordo com Hartog (2014, p. 183), “[...] Durkheim e outros
mostram que as cerimônias de luto são meios, para a coletividade, de
demonstrar que não se encontra atingida, que sairá mesmo reforçada
da prova”. Nas cidades gregas, pelo contrário, a mutilação era proibida
e vista como um horror.
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Conclusão
Nossa análise da obra de Heródoto aponta que o autor tentou
construir uma narrativa negativa a respeito dos citas, de seus costumes
e de seu território. Utilizando como parâmetro a cultura grega para
elaborar sua representação, Heródoto exagera o quesito violência,
como uma forma de impressionar os gregos, utilizando a violência
e a selvageria cita como um aparato narrativo para impressionar o
ouvinte, visto que sua obra foi lida em público. Heródoto, com toda
sua bagagem cultural, não descreve com veracidade os costumes da
comunidade cita. Pelo contrário, o autor elabora uma representação
de tal comunidade com o intuito de mostrar sua inferioridade diante
da grandiosa Grécia. Tal representação não se restringe somente aos
citas, mas abrange outras culturas por ele descritas.
O que o autor retrata como violência ao acaso, selvageria e
barbárie, na verdade são rituais que fazem parte dos costumes citas e
que nos informam como essa comunidade enxergava o mundo e com
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Referências:
Fontes:
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da Gama Kury. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1985.
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473
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André Ricardo Valle Vasco Pereira [et. al.] (org.).
primavera.
Logo que o tamanho da pegada que a gralha faz andando
parecer aos homens igual ao das folhas
na ponta de um ramo de figueira, então o mar é navegável.
Essa é a navegação da primavera; quanto a mim,
não a recomendo; não me agrada em meu coração (Os
Trabalhos e os Dias, 663-683).
Ainda que se aventurando no mar, os gregos permaneceram
um povo essencialmente ligado à agricultura e às formas de
pastoreio de animais de médio porte. Contudo, o clima da região,
aliado às condições de fertilidade do solo da maior parte das terras
banhadas pelo Mediterrâneo no continente grego, não favoreceu o
desenvolvimento de uma agriculta em níveis satisfatórios. A terra
produzia, quando muito, o essencialmente necessário à subsistência.
Tal condicionamento fez com que o mar adquirisse um papel de
extrema importância na complementação da dieta desses povos, assim
como abriu portas à exploração de novas terras que, esperava-se,
fossem mais férteis, servindo também ao enxugamento da população
nas áreas de origem. Um menor índice demográfico implicava,
necessariamente, num consumo menor dos já esparsos recursos
alimentares disponíveis (VIDAL-NAQUET, 2002; LEFÈVRE, 2013).
Consideremos ainda que,
se o clima imprevisível contribuiu para tornar a vida
no campo uma empreitada precária, as ações humanas
também causaram crises. A guerra atrapalhava o ciclo
agrícola ou, mais gravemente, resultava na deliberada
destruição de plantações [...] (ALCOCK, 2002, p. 51).
Isso posto, podemos concluir que a fome e a carestia devem
ter sido uma ocorrência persistente na sociedade grega.
Dependendo das forças particulares em jogo, esses
episódios variavam em escala e gravidade, às vezes
afetando famílias, às vezes comunidades, às vezes regiões
inteiras da Grécia (ALCOCK, 2002, p. 64).
Em função disso,
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sobre a Ilíada, Soares (2016, p. 100), afirma que tal percepção do espaço
marítimo se deu em função, da cor cinza lembrar ao homem grego,
as tonalidades do mar quando afetado pelas tempestades de inverno,
classificadas “como sendo devastadoras e, por sua vez, presentes no
cotidiano das populações instaladas em torno do Mediterrâneo”.
Na abertura da Odisseia, o poeta conta o retorno dos gregos
idos à Guerra de Tróia e nos fala sobre:
“[...] as muitas dores amargadas
no mar a fim de preservar o próprio alento
e volta aos sócios (Odisseia, C. I. v. 5-4).
Um mar de tormentas, mas que esteve presente nos
principais feitos que os aedos, ao cantarem o seu mundo, quiseram
destacar. Homero nos fala, portanto, de um “mundo grego” em que
o mar faz parte do cotidiano. Em Fédon, Platão descreve tal relação
numa passagem clássica, lembrada sempre que se deseja realçar o elo
existente entre os gregos antigos e o espaço marítimo:
Ao depois, continuou, que também se trata de algo
imensamente grande e que nós outros, moradores da
região que vai do Fásis às Colunas da Hércules, ocupamos
uma porção insignificante da terra, em torno do mar à
feição de formigas e rãs na beira de um charco (Fédon,
LVIII, 21-24).
Não precisemos avançar no tempo, chegando ao Período
Clássico (época da escrita de Fédon), para perceber como esse espaço
figurou na vida dos gregos. A Odisseia nos fornece, sobremaneira,
os termos dessa relação. Quando desceu ao Ades e tendo consultado
Tirésias, o vate, este último recomendou a Odisseu como agir caso
quisesse retornar à Ítaca:
Na volta punirás os petulantes.
Exterminados no palácio os pretendentes
com armadilhas, cara a cara, a pique brônzeo,
empunha o remo exímio e parte, até alcançar
a terra em que os homens nada sabem do oceano,
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mais parte da paisagem urbana atual. Para tal, optou-se por analisar
a história de Santos a partir de uma visão interdisciplinar, onde são
abordados diferentes aspectos da nossa história, a partir dos conceitos
básicos da disciplina tais como tempo, fato e sujeito histórico, e dos
processos de transformações e permanências.
Os roteiros acercam-se dos suportes materiais tais como os
edifícios e monumentos tombados existentes no Centro Histórico,
além de mapas e fotografias antigas objetivando vislumbrar o passado
da cidade pelos olhos do presente, a fim de que nossos alunos sintam-
se parte de um lugar e de uma paisagem que está em profunda
transformação.
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Anexos
Sobre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional: 8
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Introdução
Sabemos que a Lei 10.639 estabeleceu novas diretrizes e
bases para a educação nacional, incluindo no currículo oficial da
rede de ensino a obrigatoriedade da temática “história e cultura afro-
brasileira”, e que desde então profissionais da educação e editoras
de manuais didáticos vêm enfrentando desafios de promover novas
abordagens e métodos para o tratamento do conteúdo da história
africana. Em especial, os especialistas da área da história antiga se
deparam com a problemática de reconectar a antiguidade africana
à história do mundo ocidental e percorrer novamente os caminhos
das relações políticas e trocas culturais mediterrânicas. É um processo
de desconstrução da imagem de uma História da África isolada,
descolada e desconectada da história do mundo ocidental.
O artigo 26 previa que esses conteúdos seriam ministrados
nas escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares, e
sendo a temática que aborde os conteúdos da cultura e história afro-
brasileira, o “estudo da História da África e dos Africanos” também
deve estar incluída. Essa premissa tem como objetivo o resgate
histórico da contribuição dos negros na formação da sociedade
brasileira. A partir disso, por meio do ensino de história e cultura afro-
brasileiras, poderíamos estimular e promover uma alteração positiva
na realidade vivenciada pela população negra. É um currículo que
pretende estimular a formação de valores, hábitos e comportamentos
que respeitem as diferenças e as características próprias de grupos e
minorias; a valorização da história, cultura e identidade da população
afrodescendente, combatendo o racismo e a discriminação e formando
1 Aluna mestranda da Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de
Ciências Humanas e Naturais. Programa de pós-Graduação em História (PPGHIS).
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do pai e depois não pode mais ser atingida, enfrentando até Satanás.
Sua autoridade, se transformando de discípula, na visão da escada,
seguindo Saturus, a mestra do cristianismo primitivo, em seu martírio.
Toda a obra parece conspirar para o ápice atingido no
momento da morte de Perpétua, que é descrito com vibração e
emotividade. Ela é exaltada ao status de mártir ao não simplesmente
morrer, mas ser instrumento de sua própria morte, pela sobriedade
e quase insensibilidade a dor, causados, na trama narrativa, pela sua
inerente justiça. “Talvez uma mulher tão grandiosa, que foi temida
até por um espírito imundo, não poderia ter sido assassinada a não
ser que ela mesma quisesse” (Martirio, 2003, p. 438, tradução nossa).
O relato foi composto pela combinação dos imaginários
dos textos culturais do cristianismo, textos canônicos, mas que
também sofreram acessos por parte da imaginação do culto imperial.
Essas interpenetrações imagéticas parecem ocorrer somente nas
visões, onde há maior necessidade de criação de mundos. Dessa
forma, podemos concluir que as experiÊncias cristãs não tiveram
sua identidade moldada por conceitos distintos da cultura, mas
pela combinação de imaginários e formas imagético-redacionais
da sociedade romana às experiências cristãs do início da Era Cristã.
O diálogo com a cultura, desde antes da cristianização do Império
Romano, foram basilares na construção da identidade cristã no
terceiro século de nossa era e, em especial, tornaram-se parte
intrínseca à obra Passio Perpetua e do cristianismo, como um todo
(CARDOSO, 2015, p. 26).
A confissão pública tornou-se uma das estratégias e
expediente fundamentais para garantir e afirmar a identidade cristã
em solo africano. A publicidade do evento em contexto processual
e em lugares de espetáculo se constituiu em fortes elementos de
comunicação e de linguagem simbólica, reinterpretando os códigos
culturais de referência. A morte heroica fez nascer uma vasta literatura
cristã e se transformou em exempla para as suas comunidades,
intensamente valorizada em solo africano, haja vista a formação de
um calendário festivo em comemoração aos seus mártires. O relato
da paixão por Perpétua traz algumas ações curiosas que expressam a
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Considerações Finais
É necessário ser pensado, pelos profissionais, numa
abordagem que articule passado, presente e futuro para um ensino de
História da África tratada em perspectiva positiva, não só de denúncia
da miséria e discriminações. A história africana
deve estar presente em sala de aula desde a Idade Antiga
explorando as relações entre as diversas sociedades, superando
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Referencias bibliográficas:
CARDOSO, S. K. Identidade e autoridade no cristianismo primitivo:
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próprio Rei Sol francês, Luís XIV. Os excessos eram costume tanto
para a corte francesa quanto para a portuguesa, que tentou imitar
a primeira como pode. Apesar de todo o esforço de D. João V em
modernizar o Portugal durante seu reinado, essas mudanças foram
feitas em áreas específicas.
Na área científica, as transformações foram ainda muito mais
específicas, mesmo com contratações de professores estrangeiros por
iniciativa da coroa. Sendo um país com profundas raízes no cristianismo
católico, estudos científicos eram sempre estudados para se entender as
coisas de Deus, jamais para profana-las. Um exemplo disso era o estudo
de anatomia dos cursos de medicina das universidades lusitanas, que
não usavam corpos humanos em hipótese alguma, mas sim animais,
como o carneiro. O próprio D. João V havia decretado em 1739 que a
dissecção de cadáveres humanos era estritamente proibida. Os jesuítas
eram de grande influência nos estudos acadêmicos, o que fez os novos
estudos feitos por cientistas de outros reinos seres obstaculizados a
chegar às universidades portuguesas. A medicina do corpo deveria estar
em harmonia com a medicina da alma, então os estudos ou publicações
acadêmicas precisavam ser lidas e analisadas pela hierarquia clerical
para serem aprovadas para publicações, pois o que não provém ou não
está associado a Deus é, portanto, maligno e herético.
Em Portugal, também no século XVIII, sobretudo com a
contratação de professores estrangeiros de renome, por
iniciativa de D. João V e, posteriormente, com a reforma
pombalina da Universidade, ocorreu alterações no ensino
médico. No entanto, de maneira geral, os autores da
Antiguidade, a exemplo de Hipócrates e Galeno ou de
seus comentadores árabes na Idade Média, como Avicena,
continuaram a constituir a base do conhecimento médico
que subsidiava a formação na Universidade de Coimbra
ainda no século seguinte (MERLO, 2015, p. 73).
O médico de D. João V e fonte de pesquisa de trabalho se
enquadrava no que era esperado de um médico do rei. Muito douto
e racional, porém com o objetivo de sempre respeitar e entender as
coisas de Deus. Francisco da Fonseca Henriques viveu no Portugal
do século XVIII (1689-1750), sendo médico na corte do rei D. João
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dos que buscam a informação, não seria dirigido a essa classe? Afinal,
quem seriam os letrados do século XVIII em Portugal? Sabemos que
eram os mais abastados. Pode-se observar que as próprias preferências
alimentares de Henriques estão também em sua obra. Pensamos o
autor e o lugar que ocupava na sociedade. Chocolate, café, açúcar,
por exemplo, recebem ponderações, mas são muito elogiados por
suas propriedades medicinais (e devo dizer que pelo gosto do autor
também). O chocolate, por exemplo, ele aponta
O chocolate é a melhor bebida de quantas inventaram os
castelhanos. É quente e seco, ainda que não falte quem
diga que é temperado, sem excesso de calor, nem de frio. O
certo é que ele se compõe de baunilhas, de canela e açúcar,
que são quentes (...). Toma-se em jejum, ao almoço, de
tarde e ao jantar, ou seja antes, ou depois de comer, que em
qualquer tempo e a qualquer hora o recebe bem o estômago,
falando em comum; porque estômago pode haver que
sempre o receba mal, mas ordinariamente o aceitam bem
os estômago; e não retarda o seu cozimento, ainda que se
beba no tempo dele. As bebidas quentes sempre são mais
próprias para os tempos frios, mas o chocolate, no inverno,
no estio e em todo ano se pode tomar, usando-o com tal
prudência que não ofenda por excessivo, o que aproveitará
sendo moderado (HENRIQUES, 2004, p. 250).
Além disso, ao adoçar o chocolate, podemos perceber que
o açúcar começa a ganhar um espaço específico, não tão misturado
a carnes e algumas sopas como ocorria ainda no final de 1600. Já na
segunda metade do século XVIII é demonstrado na obra de Henriques
que o açúcar é cada vez menos utilizado no preparo de alimentos
que já se usam o sal como tempero, resultando numa “separação” de
pratos doces e salgados.
Assim, a obra pode nos ajudar a elucidar os hábitos
alimentares dos mais abastados e do próprio Henriques. Essa busca
irá considerar o lugar que ele ocupava na sociedade, um lugar de
notoriedade e prestígio, seu acesso aos alimentos finos e distintos e
seu gosto pessoal, que está discretamente demonstrado em seu livro,
para que se possa entender a construção dos gostos da aristocracia
portuguesa e nos mostrar o quanto sua obra sobre dietética é
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Introdução
Na França, o período que começa no fim do século XIX
e que se estende até 1914 é comumente chamado de Belle Époque,
com mudanças socioeconômicas e culturais, além de transformações
urbanas importante para o remanejamento da cidade. A cidade
se expande, torna-se mais homogênea, dotada de infraestrutura e
equipamentos sanitários e, sob esta nova lógica urbana, o modo de vida
das pessoas também teve que se adaptar à nova realidade, assim como
a moda. Esta foi extremamente influenciada pela estética do estilo Art
Nouveau com suas linhas orgânicas e motivos florais. Assim, a figura da
mulher ganha novos contornos e papéis culturais e socioeconômicos
renovados, dado que este tipo de consumo se tornou um os mais
importantes para a França a partir dessa época. Com esse destaque à
moda, os costureiros tornam-se figuras célebres e, dentre eles, há Paul
Poiret, homem que revolucionou as roupas femininas perto do fim da
Belle Époque e mostrou sinais do estilo artístico que mais tarde seria
chamado de Art Déco e que foi largamente adotado após a Primeira
Guerra Mundial. Entretanto, Poiret não alcança o mesmo sucesso
que antes da Guerra mesmo tendo lançado tais tendências e, por
isso, este artigo busca analisar como as mudanças sociais, artísticas
e econômicas ocorridas nesse meio tempo influenciaram a moda, a
carreira e a queda do costureiro Paul Poiret.
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A Belle Époque
Apesar de não haver total consenso entre os pesquisadores
sobre a data de início da Belle Époque, este artigo considera que ela
começou em 1871, momento que se segue à instauração da Terceira
República francesa, e quando a França e Alemanha assinaram o Tratado
de Frankfurt, permitindo um período de paz e desenvolvimento entre
as potências europeias (MÉRCHER, 2012, p.1).
Dito isso, passa-se à modernização da cidade de Paris
ocorrida durante a Belle Époque. Até o início do século XIX, a
cidade tinha uma imagem distante daquilo que ela viria a ser. A sua
modernização foi possível graças a um conjunto de fatores, dentre
eles, a chamada Segunda Revolução Industria que ocorreu por volta de
1850, quando se acelera o avanço tecnológico, científico e industrial,
e que permitiu a expansão de estradas de ferro, novas formas de
utilização de materiais, novas fontes de energia e também melhorias
nos sistemas de transporte e de comunicação.
Com o novo e crescente desenvolvimento da população,
das tecnologias, da cidade e do comércio a partir da modernização de
Paris, novas necessidades foram colocadas em pauta. Para isso foram
necessários investimentos capazes de transformar a capital francesa
em uma metrópole moderna, entre eles a substituição das antigas vielas
e ruas estreitas, tortuosas e de difícil circulação, por largas avenidas
longitudinais. Aos olhos do governo, a antiga estrutura urbanística
também favorecia revoltas populares e a construção de barricadas,
que não eram incomuns. Assim, o problema da circulação e da ordem
pública fez com que o governo procurasse novas soluções, modificando
a estrutura urbanística e o traçado das ruas, o alargamento de grandes
avenidas e também investimento em saneamento básico.
Para comandar as necessárias mudanças logo em 1851,
o Imperador escolheu o prefeito do antigo departamento do Sena
Georges-Eugène Haussmann, mais conhecido como o barão de
Haussmann, e um dos primeiros planejadores urbanos. Durante seu
governo (1853-1870) ele submeteu Paris a um verdadeiro processo de
reconstrução ao demolir antigas ruas, casas e pequenos comércios, e
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acabou com o passar dos anos e, como EKSTEINS (1991, p. 57) afirma:
“o mundo de 1893, quando um manual de etiqueta francês declarava
que um jovem respeitável nunca se sentaria no mesmo sofá com uma
moça, parecia, vinte anos mais tarde, decididamente medieval”.
Como se pôde perceber, as mudanças ocorridas durante a
Belle Époque também foram importantíssimas para as mudanças nas
vestimentas de acordo com os novos modos de vida associados à vida
moderna. Assim, passamos agora para uma análise do fenômeno da
moda e os seus desdobramentos durante a Belle Époque.
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estudiosos que defendem que a moda seria uma forma de arte ou não.
Esta pesquisa considera que a moda está mais próxima da arte visual e
plástica do que, por exemplo, a linguagem verbal defendida por Roland
Barthes no livro O Sistema da Moda (2009). A semântica da moda e das
roupas seria instável porque, de acordo com SVENDSEN(2010, p. 80),
na sociedade pós-moderna elas funcionariam como “textos abertos”
que podem adquirir novos significados a qualquer hora dependendo
do contexto e da temporalidade, ao passo que a linguagem verbal tem
uma estabilidade muito maior.
Nem todos concordam que a moda seja de fato arte,
mas defendemos a visão de que a moda pode ser considerada arte
dependendo da interpretação a ela dada, e considerando que na
atualidade as fronteiras da arte se diluíram e a mesma deixou de ser
pura, hibridizando-se com outras formas de linguagens, processos e
saberes.
Segundo GODART (2010, p. 13), a indústria da moda possui
uma dualidade fundamental pois, ao mesmo tempo que é atividade
econômica, é também atividade artística, já que seus designers e
criadores transformam matérias-primas inertes em objetos dotados
de significado expressos através de cortes, cores ou uma logomarca.
Portanto, a indústria da moda gera símbolos carregados de significado,
podendo ser considerada uma indústria cultural ou criativa. Além
disso, mesmo podendo ser considerada arte, SVENDSEN (2010, p.
105 e 106) afirma que a moda ocupa um lugar especial entre a arte e o
capital e que, desde o tempo do estilista Paul Poiret, “a arte foi usada
para aumentar o capital cultural do estilista”.
A questão de a moda ser arte ou não gera muitos debates
justamente por não ter sido considerada como tal de forma tradicional.
Sob um ponto de vista de demarcação de uso, SVENDSEN (2010,
p. 119) afirma que a moda usável pode ser vista como arte aplicada
ou ofício, e a peça de roupa que acaba não sendo usável não pode
ser considerada moda, mas pode ser arte. Entretanto, esta visão
seria problemática por que no fim todas as roupas pretendem ser
usadas e nem todo objeto inútil pode ser visto como arte. Há a visão
de que a moda é arte quando esta faz algum tipo de reflexão com o
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2 Art Déco: estilo artístico marcado pelo uso de linhas geométricas. Foi
direcionado principalmente à burguesia do pós-guerra, apesar de também atingir um
público-alvo mais amplo graças à crescente produção em massa de roupas.
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de seu mestre, mas não demorou muito para que suas opiniões fortes
entrassem em conflito com Doucet e ele teve que deixar a Maison.
Desde a morte de Charles Frederick Worth em 1895, seus
filhos Gaston e Jean deram continuidade à Maison Worth. Gaston,
em determinado momento, falou com Poiret que seu irmão Jean
se recusava a fazer determinados tipos de vestidos mais práticos e
simples, mas que lhes eram pedidos. Era como se um restaurante só
servisse trufas, mas precisava criar um setor de batatas fritas. A Poiret
foi oferecida a tarefa de fazer as “batatas fritas” e assim ele passou a
trabalhar para a Maison Worth.
Desde cedo, Jean Worth não gostava das roupas que
Poiret fazia. Segundo ele, elas rebaixavam o status da Maison. Os
desentendimentos com Jean e alguns de seus clientes fizeram com
que Poiret não conseguisse ficar lá por muito tempo. Uma casa vazia
na rue Auber fez com que Poiret começasse seus planos de abrir sua
própria loja. A procura de apoio, ele chegou para Gaston Worth e
disse (POIRET, 2009, p.34 – tradução livre):
Você me pediu para criar um departamento de batatas
fritas. Eu fiz isso. Estou satisfeito com isso e espero que
você também. Mas espalha-se pela casa um odor de fritura
que parece incomodar muita gente. Assim penso em me
mudar para outro quarteirão, fritando batatas por minha
conta. Você poderia pagar pela minha frigideira?
Gaston disse que entendia a impaciência de Poiret e
admirava sua iniciativa, mas que não podia nem sonhar em investir
em outro negócio que não fosse o seu, desejando-o boa sorte. Para
poder conquistar seus objetivos, Poiret teve que contar com a ajuda
da mãe, pois seu pai não fazia mais questão de ampará-lo. Em 1904,
a Maison Poiret foi inaugurada. Apenas um mês depois, boa parte
da alta sociedade de Paris já havia passado pela Maison, inclusive
atrizes famosas.
As principais criações de Paul Poiret foram feitas por volta
de 1910, consagrando seu estilo na História da moda da Belle Époque.
Ele influenciou outros costureiros e pode ser considerado o precursor
de uma nova era, estendendo suas influências pelos anos vindouros.
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Conclusão
Diante da análise apresentada neste artigo, conclui-se que
uma guerra pode gerar tantas mudanças nas mais diversas esferas
públicas e privadas que toda uma cultura de uma sociedade pode
ser modificada a ponto de afetar escolhas que antes eram bem vistas
pela maioria, como pinturas, esculturas e roupas, mas que se tornam
insuficientes para expressarem os novos modos de pensar das pessoas.
Paul Poiret foi um costureiro que ditou a moda da Belle
Époque principalmente por volta de 1910 e lançou tendências que
seriam moda na década seguinte, mas como as pessoas do pós-guerra
tinham a inclinação de negarem grande parte das coisas que eram
de antes da guerra, Poiret foi enxotado pra um limbo de onde não
conseguiu sair por não ser capaz de adaptar suas criações à novas
necessidades culturais e sociais exigidas nas roupas, principalmente
das mulheres e seus novos papéis sociais.
Referências bibliográficas:
BARTHES, Roland. Sistema da Moda. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
BOUCHER, François. História do vestuário no ocidente. São Paulo: Cosac
Naif, 2010
CALANCA, Daniela. História Social da Moda. São Paulo: Senac, 2011
DICIONÁRIO Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Mirador
Internacional, 1980.
EKSTEINS, Modris. A sagração da primavera: a guerra e o nascimento da
era moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
GODART, Frédéric. Sociologia da moda. São Paulo: Senac São Paulo, 2010.
GOMBRICH, E. H. História da Arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.
KAWAMURA, Yuniya. Fashion-ology: na introduction to fashion studies.
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