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Doenças Raras:
A urgência do
acesso à saúde
Fevereiro de 2018
2
SUPERVISÃO
Antônio Britto
Presidente executivo
COORDENAÇÃO-GERAL
Octávio Nunes
Diretor de Comunicação
Selma Hirai
Coordenadora de Comunicação
Giselle Marques
Analista de Comunicação
Marcela Simões
Analista de Acesso e Inovação
PROJETO EDITORIAL
EDIÇÃO
Contrate 1 Ghostwriter
Tatiane R. Lima – Mtb 36439
IMPRESSÃO
TIRAGEM
500 cópias
IMAGENS
SOBRE A INTERFARMA
A INTERFARMA é a Associação da
Indústria Farmacêutica de Pesquisa,
uma entidade setorial, sem fins
lucrativos, que representa 51 associadas,
empresas e pesquisadores que buscam
promover e incentivar a pesquisa,
o desenvolvimento e a inovação
voltada para a produção de insumos
farmacêuticos, matérias-primas,
medicamentos e produtos para a saúde
humana. São condições para fazer
parte da entidade, realizar pesquisa,
desenvolvimento e inovação e aderir ao
Código de Conduta da associação.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 3
Apresentação
Cinco anos após a publicação do primei- Por outro lado, o estudo também cumpre o
ro estudo relacionado à construção de uma papel de identificar e mostrar o caminho que
Política Nacional para Doenças Raras no Bra- ainda é preciso percorrer para a adoção de
sil, a INTERFARMA - Associação da Indústria uma Política Nacional forte e expressiva. Con-
Farmacêutica de Pesquisa - mantém sua vi- tudo, as barreiras à frente são insignificantes
gília e esforço rumo à empreitada, colaboran- diante da capacidade de realização obtida
do intensamente com autoridades, cientistas, pela ação conjunta dos protagonistas dessa
pacientes e demais interessados na causa. história, isto é, pacientes, governos, cientistas,
indústria, entre outros agentes. O poder de
A pedido da INTERFARMA, o IMS Health, atual mobilização da sociedade, disposta a fazer
IQVIA, e a Prospectiva Consultoria fizeram valer seus direitos, será fundamental para o
uma verdadeira due diligence para identifi- avanço das discussões e decisões em 2018,
car peculiaridades, experiências, prioridades mas como todo ano eleitoral, a atenção deve
e avanços ocorridos no período. Para isso, eles ser mais dispersa após junho.
mergulharam em dados primários e secun-
dários das mais variadas fontes, projetos de lei Diante disso, a INTERFARMA reforça seu
e entrevistas com relevantes agentes, como as compromisso para a adoção de uma Política
associações de pacientes. O esforço levou ao Nacional para Doenças Raras, mantendo-se
presente documento, com dois importantes atenta e atuante em diversos fóruns, buscan-
vieses. do esclarecer e contribuir com autoridades
governamentais, parlamentares, cientistas e
O primeiro deles é o resultado alcançado nos pacientes para a ampliação do acesso aos tra-
últimos cinco anos. A causa das doenças raras tamentos.
ganhou ritmo e força própria, preenchendo
um espaço importante na agenda da Agên- Boa leitura!
cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
do Ministério da Saúde e do Congresso Nacio-
nal. Além disso, é preciso ressaltar, em espe-
cial, a Portaria 199/14, que trouxe fôlego para Fernando Almeida Antônio Britto
uma luta iniciada há décadas. Presidente do Conselho Diretor Presidente-Executivo
6
Prefácio
Zelar pela saúde do brasileiro é para nós, da Comissão Nacional de Justiça, entre o Minis-
INTERFARMA, bem mais que um compro- tério da Saúde e o Congresso Nacional, entre
misso escrito em uma folha de papel. É um a nossa casa e a do paciente, ainda que de
exercício diário de empatia e resiliência para forma indireta. Com informação, ética e trans-
entender a realidade dos diversos atores e co- parência, buscarmos criar o laço mais difícil
criar uma solução. de todos: o da confiança.
A urgência do tema é indiscutível: a Justiça é Esse estudo que chega a suas mãos é par-
a única saída para boa parte dos 13 milhões te deste esforço para pavimentar o caminho
de brasileiros com doenças raras para o aces- rumo a uma Política Nacional de Atenção
so a tratamento. Entre 2010 e 2017, os gastos Integral às Pessoas com Doenças Raras. Os
totais da União com demandas judiciais fo- avanços podem ser pequenos ainda, mas,
ram superiores a R$ 5,2 bilhões. Esse montan- uma a uma, as barreiras para ampliar as assis-
te torna-se irrisório diante do custo social im- tências de saúde e farmacêutica de 13 milhões
posto pelas enfermidades não só ao paciente, de pacientes estão caindo. Ampliadas por um
mas também a seus familiares. esforço coletivo, consistente e incansável, suas
vozes estão, finalmente, sendo ouvidas.
É essa penosa realidade que queremos con-
tribuir para mudar. Alguns desafios podem
ser velhos conhecidos de quem acompanha a
questão, mas nós sempre buscamos um novo
olhar para os dilemas, o que pode ser visto
pela nossa intensa produção de conteúdo.
Introdução
Em 30 de Janeiro de 2014, o Ministério da Esse jogo começou a mudar com a publica-
Saúde publicou a Portaria 199, que instituiu ção da Portaria 199 em 2014, quando o País
a Política de Atenção Integral às Pessoas com passou a ter um conceito próprio de doença
Doenças Raras no Sistema Único de Saúde rara, o esboço de uma rede de serviços para
(SUS). A medida foi um passo importante atender de forma adequada os pacientes e
para ampliar os cuidados específicos e dife- mais espaço para engajamento da sociedade
renciados para os pacientes de doenças raras civil, da academia e dos tomadores de deci-
no Brasil. Foi também um reconhecimento são. Os avanços, alcançados mesmo em um
ao trabalho realizado por diversos agentes da ambiente político-econômico conturbado,
sociedade para aumentar o interesse pelo es- são reconhecidos pelas associações de pa-
tudo, diagnóstico e tratamento de enfermi- cientes e podem contribuir, como a Porta-
dades que acometem cerca de 13 milhões de ria propõe, para a redução da mortalidade, a
pessoas no País. queda da morbimortalidade e das manifesta-
ções secundárias e a melhoria da qualidade
Durante muito tempo, o tema ficou restrito de vida das pessoas.
a pequenos círculos, passando a integrar a
No entanto, observa-se que alguns gargalos
agenda das autoridades governamentais so-
estruturais se mantêm e precisam ser en-
mente a partir da década de 1980. Com a
dereçados para garantir o cuidado integral,
promulgação do Orphan Drug Act – Lei de in-
como a estruturação da rede de centros es-
centivo ao Desenvolvimento de Drogas Orfãs
pecializados, a evolução no processo de ela-
- em 1983, os Estados Unidos foram os pionei-
boração e publicação dos protocolos clínicos
ros na criação de políticas de acesso, segui-
que definem o tratamento de doenças raras
do pelo Japão (1993), Canadá (1996), Austrália
como prioritário e a superação dos desafios
(1998) e China (1999). No Brasil, a necessidade
regulatórios relacionados aos medicamentos
de inclusão de programas que beneficiassem
órfãos, que aumentam a judicialização e cau-
esses pacientes começou a ser discutida por
sam danosos custos sociais e econômicos às
volta de 2000. Quatro anos depois, o Minis-
famílias e ao País.
tério da Saúde criou um grupo de trabalho
para sistematizar uma proposta, que vingou Diante da delicadeza e urgência da questão,
em 2009. Recebida com esperança pelos pa- é importante ouvir quem padece com essa
cientes, a Política Nacional de Atenção à Ge- situação. Por isso, a visão dos pacientes, pela
nética Clínica no SUS não levou em conta a voz das suas representações (associações de
diversidade e as especificidades do universo pacientes), é destacada ao longo deste docu-
das doenças raras, deixando de ocupar uma mento. Cinco associações de pacientes foram
posição mais relevante na agenda de saúde ouvidas e suas experiências serão contadas
pública nacional. em pequenos trechos. A preservação das res-
8
75%
crianças e
6-8% jovens
População
420-560 milhões de
indivíduos
7-8 mil
doenças raras no mundo
80% 20%
origem genética causas infecciosas,
virais e
degenerativas
95%
tratamento com
3%
tratamento
2%
tratamento
medicamentos cirúrgico ou com
paliativos e medicamentos medicamentos
serviços de regulares órfãos, capazes
reabilitação que atenuam de interferir na
sintomas progressão
13 milhões de brasileiros
Mais do que a população da cidade de São Paulo, duas vezes a do Rio de
Janeiro, quatro vezes a de Salvador e nove vezes a de Porto Alegre
10
O Cenário no Brasil
das vertentes, visto que inúmeros entraves re-
gulatórios continuam dificultando a entrada
dos medicamentos no SUS e o acesso dos pa-
cientes.
A voz do paciente:
"Agora eu percebo uma boa
vontade: há três senadores Redes de Serviço
envolvidos, ANVISA, CONITEC,
INTERFARMA e a sociedade A Portaria 199/14 propôs a criação de dois ti-
civil. Todo mundo sentado pos de serviços: os de Atenção Especializada
conversando." em Doenças Raras e os de Referência em Do-
enças Raras, que se diferenciam em relação
ao tratamento ofertado, equipe e custeio.
Serviço de atenção
Categoria especializada em doenças raras Serviço de referência em doenças raras
Tratamento Uma ou mais doenças raras Mínimo dois grupos do eixo de doenças raras
de origem genética; ou Mínimo dois grupos do
eixo de doenças raras de origem não genética;
ou Mínimo um grupo para cada eixo.
Unidades credenciadas 0 10
Unidades habilitadas 0 7
Fonte: Portaria 199/2014, Diário Oficial da União (DOU) e relatório das entidades estaduais (CIB) e municipais (Secretarias de Saúde) para
credenciamento dos centros.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 11
Desde a publicação da Portaria 199/14, ob- Além de não compreenderem todas as re-
serva-se uma clara limitação geográfica dos giões do País, as instituições habilitadas não
Serviços de Referência. Há somente sete hos- se encontram, em alguns casos, na capital
pitais habilitados, localizados nos estados de daquele estado, o que dificulta o acesso dos
São Paulo, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro, pacientes.
Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito
Federal.
Serviços credenciados,
mas não habilitados pelo
Ministério da Saúde.
Serviço habilitado pelo
Ministério da Saúde.
Fonte: Diário Oficial da União (DOU) e relatório das entidades estaduais (CIB) e municipais (Secretarias de Saúde) para credenciamento dos centros.
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Rio de Janeiro Instituto Nacional • Anomalias Congênitas ou Dados não 23/10/2015 28/12/2016 14
(RJ) de Saúde da de manifestação Tardia disponíveis
Mulher, da Criança • Deficiência Intelectual
e do Adolescente associada a Doenças Raras
Fernandes
Figueira (IFF) • Erro Inato de Metabolismo
(EIM)
Porto Alegre Hospital das • Anomalias Congênitas ou Dados não 08/05/2015 29/12/2016 19
(RS) Clínicas de Porto de manifestação Tardia disponíveis
Alegre • Deficiência Intelectual
associada a Doenças Raras
• Erro Inato de Metabolismo
(EIM)
Até o momento, a estrutura dos centros não b) atraso no credenciamento de centros, im-
foi efetivada de maneira satisfatória por al- pedindo o repasse de verbas para o funciona-
guns fatores: mento.
a) atraso na elaboração e publicação de pro- Há, pelo menos, dez hospitais credenciados
tocolos clínicos (PCDT para definir as doenças entre novembro de 2015 e dezembro de 2017
raras consideradas prioritárias. aguardando habilitação do Ministério da Saú-
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 13
Credencia-
Cidade Hospital Entidade mento
Indústria Cenário
econômico
Sociedade Civil
Interesse do
Governo
Conhecimento Influenciadores
e awareness do acesso
Regulamentação/
Burocracia
Pesquisa
clínica
Avaliações
técnicas
Financiamento/
reembolso
A experiência internacional reforça que a es- unidades distribuídas pelo país. A Alemanha
truturação da rede de serviços especializados conta com 16 centros de pesquisa, enquan-
é uma importante evolução, mas também co- to Noruega, Dinamarca e Suécia investem em
loca em destaque a fragilidade e a morosidade clínicas multidisciplinares. De acordo com re-
brasileira nos cuidados com as doenças raras. latório de 2009 da EURORDIS, que congrega
Em 2001, a Itália criou uma rede nacional de associações de pacientes de 49 países e repre-
centros de assistência gratuita para prevenção, sentantes de 544 doenças raras, o custo médio
diagnóstico e tratamento das doenças raras. de cada criança tratada nos centros públicos
Quatro anos depois, a França aprovou um pla- europeus, organizados a partir de planos na-
no nacional de estruturação de centros de re- cionais, corresponde a 33% do custo de trata-
ferência em hospitais-escola, totalizando 131 mento em um programa não integrado.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 15
As moléculas Laronidase (MPSI), Idursulfase (MPSII) e Tafamidis (PAF) faziam parte do estudo anterior, porém não constam nesta tabela, uma vez que foram incor-
poradas pela CONITEC (2017). Fonte: IMS – Rare Diseases – Budgetary Impact Update 2017.
16
Ministério da Saúde, para serem publicados. A Universidade de São Paulo (USP) também
São eles: Mucopolissacaridose tipo I (MPS I), se uniu à Secretaria Estadual de Saúde do
Doença de Wilson e Doença Falciforme. Os Estado de São Paulo, defendendo a elabo-
outros dois PCDTs seguem em análise após ração por pesquisadores de relatórios e pa-
consulta pública, com parecer favorável pela receres que instruam o magistrado sobre a
CONITEC. São eles: Mucopolissacaridose tipo eficácia dos medicamentos reclamados em
II (MPS II) e Hepatite Autoimune. Dos cinco juízo, além da existência de tratamentos al-
protocolos, apenas dois (MPS I e MPS II) cons- ternativos disponíveis no SUS. De uma forma
tam na lista de priorização da CONITEC. ou de outra, todas as discussões versam sobre
modelos de atenção que viabilizem o direito
à saúde tal como garantido nos artigos 196, da
Constituição Federal, e no 16, da Lei Orgânica
Poder
do SUS (Lei 8080/1990).
1360,0
1100,0
839,7
705,1
549,1
367,8
230,5
122,6
*Gastos até julho/2017 Fonte: Prospectiva com dados do Ministério da Saúde, 2016; 2017
7,3
4,8 1,5
70,7
3,8
1,5
*Dados de 2016 foram disponibilizados até novembro **Dados de 2017 foram disponibilizados até junho
Fonte: Prospectiva com dados do Departamento de Logística em Saúde (MS), 2016
9 7
11 10
14 14
16
13
11 10
9
6 6
4
*Dados de 2016 foram disponibilizados até novembro **Dados de 2017 foram disponibilizados até junho
Fonte: Prospectiva com dados do Departamento de Logística em Saúde (MS), 2016
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...E DO STJ
O Superior Tribunal de Justiça mostra-
-se também um ator decisivo para a
judicialização de medicamentos. Em
maio de 2017, a Primeira Turma sus-
pendeu todos os processos judiciais
em andamento e destacou a obrigação
do Estado de fornecer medicamentos
de alto e baixo custo não incorpora-
dos no SUS. A decisão gerou grande
repercussão. Para o ministro Benja-
min Gonçalves, relator do recurso, o
fornecimento pode ocorrer desde que
haja, cumulativamente, apresentação
de laudo médico sobre imprescindi-
bilidade do remédio, comprovação de
insuficiência financeira do paciente e
registro do medicamento na ANVISA.
Poder
como oportunidade de elevar a discussão e
engajar mais atores sociais no processo.
PL 3.167/2008 Deputado Luiz Acesso a Obriga o fornecimento de medicamentos para portadores de doenças
Carlos Hauly medicamentos crônicas de baixa prevalência ou rara a pacientes da rede pública
(PSDB/PR) de saúde e determina participação de todos os entes federados no
financiamento dos medicamentos.
PLC 56/2016 Ex-deputado Acesso a Dispõe sobre a dispensação de medicamentos para doenças raras e
(1.606/2011) Marçal Filho medicamentos graves, que não constam em listas de medicamentos excepcionais
(PMDB/MS) padronizadas pelo SUS.
PL 4.815/2012 Deputada Mara Atenção Institui o Serviço de Apoio Especializado para Atividades da Vida
Gabrilli (PSDB/ especializada Diária, destinado a pessoas com deficiência severa ou doenças raras
SP) com grande restrição de movimentos, com o objetivo de garantir sua
autonomia e independência pessoal.
PL 6.566/2013 Ex-senador P&D para Obriga o repasse de 30% dos recursos do Programa de Fomento à
Eduardo Suplicy tecnologias em Pesquisa em Saúde, em atividades voltadas para o desenvolvimento
(PT/SP) doenças raras tecnológico de medicamentos, imunobiológicos, produtos para a
saúde e etc., destinados ao tratamento de doenças raras ou negli-
genciados.
PL 8.188/2014 Ex-Senador Conscientização Dispõe sobre a instituição do Dia Nacional de Doenças Raras.
Eduardo Suplicy
(PT/SP)
PL 2.657/2015 Ex-senador Vital Ambiente Dispõe sobre o registro e a importação, por pessoa física, de
do Rêgo (PMDB/ regulatório medicamento órfão, bem como prevê critério diferenciado para a
PB) avaliação e a incorporação destes medicamentos, especifica também
que, na definição e no reajuste de preços dessas medicações, a
comparação de preços deve-se restringir aos dessa categoria.
PL 3.302/2015 Deputado Pedro P&D para Dispõe sobre a aplicação mínima de recursos para a pesquisa e o
Cunha Lima tecnologias em desenvolvimento de diagnósticos, medicamentos e outros produtos
(PSDB/PB) doenças raras para a saúde destinados ao tratamento de doenças raras, e destina
parcela dos recursos recuperados em ações de ressarcimento ao
erário da União às ações de atenção integral às pessoas com doenças
raras no SUS.
PL 2.654/2015 Deputado Diego Isenção de Inclui as despesas com aquisição de medicamentos para tratamento
Garcia (PHS/PR) impostos de doenças raras nas hipóteses de dedução da base de cálculo do
imposto de renda das pessoas físicas.
PLS 31/2015 Senador Álvaro Dias Ambiente Tipifica e define medicamentos órfãos para efeitos legais, além de enumerar
(PSDB/PR) regulatório em que casos e em que condições será permitida sua importação. Também
determina que o registro destes fármacos seja dotado de procedimentos ágeis e
desburocratizados.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 23
PL 4.345/2016 Deputado Atila A. Acesso a Cria os centros para tratamento de doenças raras em todos os estados da fed-
Nunes (PSL/RJ) tratamento eração e dá outras providências.
PL 4.818/2016 Deputada Mariana Acesso a Autoriza o uso de fármacos, substâncias químicas, produtos biológicos e corre-
Cavalho (PSDB/RO) tratamento latos ainda em fase experimental e não registrados, por pacientes com doenças
graves ou raras.
PL 5.017/2016 Deputada Leandre Acesso a Trata do uso compassivo de fármacos experimentais por pacientes portadores de
(PV/PR) tratamento moléstia grave ou rara.
PL 5.998/2016 Deputada Mariana Ambiente Estabelece critérios diferenciados para a avaliação e a incorporação de medica-
Carvalho (PSDB/RO) regulatório mentos órfãos, destinados ao tratamento das doenças raras.
PLS 415/2015 Senador Cássio Ambiente Tornar obrigatória a definição em regulamento e a divulgação do indicador ou
Cunha Lima (PSDB/ regulatório parâmetro de custo-efetividade utilizado na análise das solicitações de incorpo-
PB) ração de tecnologia e determina a aleatoriedade e publicidade na distribuição
dos processos às instâncias responsáveis por essa análise
AUDIÊNCIAS PÚBLICAS CSSF (2014, 2015, 2016 E 2017) AUDIÊNCIAS PÚBLICAS CAS (2014, 2015, 2016 E 2017)
13%
Assistência
Social
26%
3%
3% Assistência
Previdência
Previdência Social
Social
Social
18%
Outros
18%
Outros
66%
Saúde
Outros Fatores
A voz do paciente:
Relevantes
"A meu ver, seria mais
prioritário educar o médico “Somente os custos
da Unidade Básica."
relacionados à perda
de produtividade
representam até 56% do
custo total da doença.”
A EC 95/2016
Promulgada em dezembro de 2016, a Custos Sociais
Emenda Constitucional (EC) nº 95 limi-
tou por 20 anos o teto dos gastos do Não há estudos significativos no Brasil sobre
governo federal. Em seu primeiro ano a natureza dos dados gerados pelas doenças
de vigência, a saúde e a educação fo- raras. É inquestionável, porém, a perda de
ram as áreas menos atingidas em com- produtividade do paciente e dos seus fami-
paração a outros órgãos e Poderes da liares por mal-estar físico e/ou emocional; o
República. A EC 95 poupou dois seto- absenteísmo dos pacientes e familiares oca-
res fundamentais de cortes maiores do sionado pela necessidade de consultas mé-
que os gastos do ano anterior, somados dicas, exames e outros cuidados; a aposen-
à variação do IPCA, e permitiu que o Mi- tadoria antecipada ou pensão por invalidez
nistério da Saúde continue recebendo em decorrência do agravamento da doença;
recursos extras, advindos de cortes de os custos emocionais relacionados às dores
outros ministérios. Embora as transfe- e sofrimentos causados pela doença e pela
rências constitucionais feitas a estados absoluta falta de perspectiva de cura e dificul-
e municípios não tenham sido afeta- dade de acesso ao tratamento.
das, o deslocamento de recursos do
Fundo Nacional de Saúde (FNS) para Algumas iniciativas internacionais ajudam
os orçamentos de estados e municí- a tangibilizar os impactos econômicos e so-
pios devem ser afetadas, já que fazem ciais relacionados a essas doenças. É o caso
parte do orçamento do Ministério da do projeto europeu “Custo Socioeconômico e
Saúde. Caberá a eles exclusivamente o Qualidade de Vida relacionado a Doenças Ra-
financiamento de programas e serviços ras” (BURQOL RD, 2008), que avalia os custos
públicos de saúde, que já corre riscos globais (médicos e não médicos) e identifica
com a crise fiscal e a queda nas arreca- a relevância e magnitude econômica e so-
dações. Essa situação reforça a impor- cial relacionadas a 10 doenças raras em oito
tância da atual agenda de aumento da países (Alemanha, Bulgária, Espanha, França,
eficiência de gestão e de redução dos Hungria, Itália, Reino Unido e Suécia). Os re-
gastos do Ministério da Saúde – incluin- sultados sinalizam o impacto significativo dos
do, a judicialização. custos indiretos. Somente os custos relacio-
nados à perda de produtividade representam
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 25
País Doença Custo total Custo direto % total Custo Indireto % total
Fonte: Prospectiva com dados de Angelis et al (2015) ; Angelis et al (2014) ; Chevreul et al (2014) ; Cavazza et al (2016)
até 56% do custo total da doença. Ainda que gratuito a todos os participantes da pesquisa
haja peculiaridades locais, os resultados po- aos métodos profiláticos, diagnósticos e te-
dem direcionar esforços e apoiar a tomada rapêuticos considerados mais eficazes, pelo
de decisões. prazo de cinco anos, após obtenção do regis-
tro na ANVISA.
Impacto
Orçamentário
Na estimativa da INTERFARMA, o incremento dicação, com os processos judiciais e com a
no orçamento seria diretamente proporcio- seguridade social, além dos benefícios previ-
nal ao número de pacientes beneficiados por denciários a que têm direito pacientes e seus
protocolos, diagnósticos precoces e precisos, cuidadores. Acrescente-se ainda, a queda nas
tratamentos adequados, medicação especí- despesas com tratamentos desnecessários e
fica e supervisão de equipes especializadas. incorretos e suas possíveis e frequentes com-
plicações que requerem internações hospita-
Em contrapartida, cairiam os custos com a lares, gerando mais custos.
judicialização, que impactam significativa-
mente os orçamentos federal, estadual e mu-
nicipal, visto que englobam gastos com me-
Fonte: Dados fornecidos pela Interfarma, Datasus, estudos epidemiológicos publicados, bases proprietárias da QuintilesIMS.
*Observação: os cálculos, premissas e estimativas realizadas pela QI para este estudo foram baseados nas informações disponíveis de fácil acesso e sem a adoção de
metodologias específicas ou validação com especialistas; não devem, portanto, ser adotados como referencial e fonte para outros fins (ex.: estudos, protocolos etc.).
**Para o cálculo de custo total no ano para estes indicados, a Interfarma adotou um fator de 0,5 por conta do delay para início de tratamento.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE 29
Conclusão
Nesse cenário, a Judicialização continua sen-
do uma das principais formas de acesso aos
tratamentos, limitando-se, porém, aos que
são mais esclarecidos ou que mantêm con-
São inegáveis os avanços obtidos após a pu- tato com associações mais preparadas. Além
blicação da Portaria 199/2014, em especial o da indefinição de responsabilidades para pa-
reconhecimento dos pacientes com doenças gadores privados (Agência Nacional de Saúde
raras no País por meio de Protocolos Clínicos Suplementar), a legislação atual prejudica o
e serviços de saúde especializados. A experi- interesse da indústria e não favorece o desen-
ência internacional corrobora essa visão, de- volvimento de pesquisas clínicas.
monstrando que a política de implantação
de centros de referência representa melhora A pressão por parte das associações de pa-
significativa em todos os aspectos - sejam eles cientes mostra-se essencial para manter a
de natureza emocional, social, organizacio- discussão e o interesse. A união dessas enti-
nal, cultural ou econômica. No entanto, pas- dades fortaleceria a luta. O diálogo e a união
sados três anos da promulgação, pacientes e com a indústria farmacêutica também são
familiares têm que trabalhar a frustração ao peças fundamentais para a aceleração dos
ver hospitais aguardando habilitação e a mo- processos de registro, definição de preços e
rosidade na publicação de PCDTs. negociações com o governo. Com objetivos
transparentes e fiscalização sobre a atuação
A necessidade de uma política nacional forte das indústrias farmacêuticas, esta parceria
e expressiva se faz presente diante das regula- beneficiaria o objetivo final, pressionando po-
ções atuais, que desconsideram as especifici- sitivamente as instituições governamentais.
dades dos medicamentos órfãos, afetando o
acesso a tratamentos e impactando negativa- Em resumo, o caminho para a ação é a união
mente a saúde e a qualidade de vida dessas de setores, públicos e privados. Relações mais
pessoas. próximas entre todos os agentes e organiza-
ções, espelhadas nos modelos de sucesso em
outros países, podem acelerar os processos
e mudar a realidade nacional. Cursos de ca-
pacitação e gestão, treinamento de equipes,
formação contínua de especialistas, incluindo
geneticistas, e o fomento de pesquisas clíni-
A voz do paciente: cas são algumas iniciativas para um avanço
"Existe uma portaria sem consistente das políticas de acesso. Por fim, a
aplicabilidade. A gente não criação de uma Política Pública, ao invés de
tem algo com a força de Lei." Portarias, pode reduzir a burocracia que atra-
vanca o andamento do processo em todos os
níveis.
AV I S O D E CO N F O R M I DA D E
www.interfarma.org.br