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DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    1

Doenças Raras:
A urgência do
acesso à saúde
Fevereiro de 2018
2

SUPERVISÃO

Antônio Britto
Presidente executivo

COORDENAÇÃO-GERAL

Octávio Nunes
Diretor de Comunicação

Selma Hirai
Coordenadora de Comunicação

Giselle Marques
Analista de Comunicação

Maria José Fagundes Delgado


Diretora

Marcela Simões
Analista de Acesso e Inovação

PROJETO EDITORIAL

Nebraska Composição Gráfica

EDIÇÃO

Contrate 1 Ghostwriter
Tatiane R. Lima – Mtb 36439

IMPRESSÃO

Ativaonline Editora e Serviços Gráficos

TIRAGEM

500 cópias
IMAGENS

Banco de imagens Interfarma e Pixabay

SOBRE A INTERFARMA

A INTERFARMA é a Associação da
Indústria Farmacêutica de Pesquisa,
uma entidade setorial, sem fins
lucrativos, que representa 51 associadas,
empresas e pesquisadores que buscam
promover e incentivar a pesquisa,
o desenvolvimento e a inovação
voltada para a produção de insumos
farmacêuticos, matérias-primas,
medicamentos e produtos para a saúde
humana. São condições para fazer
parte da entidade, realizar pesquisa,
desenvolvimento e inovação e aderir ao
Código de Conduta da associação.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    3

“Ação é a chave fundamental


para todo sucesso”
Pablo Picasso
4
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    5

Apresentação
Cinco anos após a publicação do primei- Por outro lado, o estudo também cumpre o
ro estudo relacionado à construção de uma papel de identificar e mostrar o caminho que
Política Nacional para Doenças Raras no Bra- ainda é preciso percorrer para a adoção de
sil, a INTERFARMA - Associação da Indústria uma Política Nacional forte e expressiva. Con-
Farmacêutica de Pesquisa - mantém sua vi- tudo, as barreiras à frente são insignificantes
gília e esforço rumo à empreitada, colaboran- diante da capacidade de realização obtida
do intensamente com autoridades, cientistas, pela ação conjunta dos protagonistas dessa
pacientes e demais interessados na causa. história, isto é, pacientes, governos, cientistas,
indústria, entre outros agentes. O poder de
A pedido da INTERFARMA, o IMS Health, atual mobilização da sociedade, disposta a fazer
IQVIA, e a Prospectiva Consultoria fizeram valer seus direitos, será fundamental para o
uma verdadeira due diligence para identifi- avanço das discussões e decisões em 2018,
car peculiaridades, experiências, prioridades mas como todo ano eleitoral, a atenção deve
e avanços ocorridos no período. Para isso, eles ser mais dispersa após junho.
mergulharam em dados primários e secun-
dários das mais variadas fontes, projetos de lei Diante disso, a INTERFARMA reforça seu
e entrevistas com relevantes agentes, como as compromisso para a adoção de uma Política
associações de pacientes. O esforço levou ao Nacional para Doenças Raras, mantendo-se
presente documento, com dois importantes atenta e atuante em diversos fóruns, buscan-
vieses. do esclarecer e contribuir com autoridades
governamentais, parlamentares, cientistas e
O primeiro deles é o resultado alcançado nos pacientes para a ampliação do acesso aos tra-
últimos cinco anos. A causa das doenças raras tamentos.
ganhou ritmo e força própria, preenchendo
um espaço importante na agenda da Agên- Boa leitura!
cia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
do Ministério da Saúde e do Congresso Nacio-
nal. Além disso, é preciso ressaltar, em espe-
cial, a Portaria 199/14, que trouxe fôlego para Fernando Almeida Antônio Britto
uma luta iniciada há décadas. Presidente do Conselho Diretor Presidente-Executivo
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Prefácio
Zelar pela saúde do brasileiro é para nós, da Comissão Nacional de Justiça, entre o Minis-
INTERFARMA, bem mais que um compro- tério da Saúde e o Congresso Nacional, entre
misso escrito em uma folha de papel. É um a nossa casa e a do paciente, ainda que de
exercício diário de empatia e resiliência para forma indireta. Com informação, ética e trans-
entender a realidade dos diversos atores e co- parência, buscarmos criar o laço mais difícil
criar uma solução. de todos: o da confiança.

A urgência do tema é indiscutível: a Justiça é Esse estudo que chega a suas mãos é par-
a única saída para boa parte dos 13 milhões te deste esforço para pavimentar o caminho
de brasileiros com doenças raras para o aces- rumo a uma Política Nacional de Atenção
so a tratamento. Entre 2010 e 2017, os gastos Integral às Pessoas com Doenças Raras. Os
totais da União com demandas judiciais fo- avanços podem ser pequenos ainda, mas,
ram superiores a R$ 5,2 bilhões. Esse montan- uma a uma, as barreiras para ampliar as assis-
te torna-se irrisório diante do custo social im- tências de saúde e farmacêutica de 13 milhões
posto pelas enfermidades não só ao paciente, de pacientes estão caindo. Ampliadas por um
mas também a seus familiares. esforço coletivo, consistente e incansável, suas
vozes estão, finalmente, sendo ouvidas.
É essa penosa realidade que queremos con-
tribuir para mudar. Alguns desafios podem
ser velhos conhecidos de quem acompanha a
questão, mas nós sempre buscamos um novo
olhar para os dilemas, o que pode ser visto
pela nossa intensa produção de conteúdo.

Desde 2012, a INTERFARMA investe em estu-


dos mundiais, que são adaptados à legisla- Maria José Delgado Fagundes
ção e à realidade brasileira. Nesta empreita- Diretora – INTERFARMA
da, que retrata a realidade nacional, firmamos
parcerias, identificamos sinergias e buscamos
diálogos com diferentes atores, em diferentes
instâncias. Transitamos entre a ANVISA e a
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    7

Introdução
Em 30 de Janeiro de 2014, o Ministério da Esse jogo começou a mudar com a publica-
Saúde publicou a Portaria 199, que instituiu ção da Portaria 199 em 2014, quando o País
a Política de Atenção Integral às Pessoas com passou a ter um conceito próprio de doença
Doenças Raras no Sistema Único de Saúde rara, o esboço de uma rede de serviços para
(SUS). A medida foi um passo importante atender de forma adequada os pacientes e
para ampliar os cuidados específicos e dife- mais espaço para engajamento da sociedade
renciados para os pacientes de doenças raras civil, da academia e dos tomadores de deci-
no Brasil. Foi também um reconhecimento são. Os avanços, alcançados mesmo em um
ao trabalho realizado por diversos agentes da ambiente político-econômico conturbado,
sociedade para aumentar o interesse pelo es- são reconhecidos pelas associações de pa-
tudo, diagnóstico e tratamento de enfermi- cientes e podem contribuir, como a Porta-
dades que acometem cerca de 13 milhões de ria propõe, para a redução da mortalidade, a
pessoas no País. queda da morbimortalidade e das manifesta-
ções secundárias e a melhoria da qualidade
Durante muito tempo, o tema ficou restrito de vida das pessoas.
a pequenos círculos, passando a integrar a
No entanto, observa-se que alguns gargalos
agenda das autoridades governamentais so-
estruturais se mantêm e precisam ser en-
mente a partir da década de 1980. Com a
dereçados para garantir o cuidado integral,
promulgação do Orphan Drug Act – Lei de in-
como a estruturação da rede de centros es-
centivo ao Desenvolvimento de Drogas Orfãs
pecializados, a evolução no processo de ela-
- em 1983, os Estados Unidos foram os pionei-
boração e publicação dos protocolos clínicos
ros na criação de políticas de acesso, segui-
que definem o tratamento de doenças raras
do pelo Japão (1993), Canadá (1996), Austrália
como prioritário e a superação dos desafios
(1998) e China (1999). No Brasil, a necessidade
regulatórios relacionados aos medicamentos
de inclusão de programas que beneficiassem
órfãos, que aumentam a judicialização e cau-
esses pacientes começou a ser discutida por
sam danosos custos sociais e econômicos às
volta de 2000. Quatro anos depois, o Minis-
famílias e ao País.
tério da Saúde criou um grupo de trabalho
para sistematizar uma proposta, que vingou Diante da delicadeza e urgência da questão,
em 2009. Recebida com esperança pelos pa- é importante ouvir quem padece com essa
cientes, a Política Nacional de Atenção à Ge- situação. Por isso, a visão dos pacientes, pela
nética Clínica no SUS não levou em conta a voz das suas representações (associações de
diversidade e as especificidades do universo pacientes), é destacada ao longo deste docu-
das doenças raras, deixando de ocupar uma mento. Cinco associações de pacientes foram
posição mais relevante na agenda de saúde ouvidas e suas experiências serão contadas
pública nacional. em pequenos trechos. A preservação das res-
8

pectivas identidades não acarreta prejuízos


ao significativo testemunho. As Doenças
É importante ressaltar, ainda, que a experi-
ência de outros países joga luz a alguns de-
Raras e os
safios e pode ajudar a acelerar as discussões.
A promulgação dos 14 projetos de lei em tra-
Medicamentos
mitação no Congresso Nacional, ao lado do
aperfeiçoamento dos protocolos e diretrizes
Órfãos
para um programa nacional de tratamento
de doenças raras pelo SUS, mostram-se fun- Recebem esta denominação aquelas enfer-
damentais para garantir o cuidado integral midades com baixa prevalência em uma po-
dos pacientes. pulação. A quantidade pode variar de acordo
com a legislação vigente em cada país. Com
um sistema de saúde público e universal, o
Brasil optou por uma definição ampla: até 65
pessoas a cada 100 mil habitantes, uma con-
cepção diferente da adotada, por exemplo,
pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
A Portaria 199/14
Desde 2014, o Brasil possui sua própria definição
de doenças raras. Recebem esse nome as enfer-
Doenças Raras de acordo
midades com prevalência de até 65 pessoas a
cada 100 mil habitantes.
com alguns países
São objetivos da Portaria:

Garantir a universalidade, a integralidade e a


equidade das ações e serviços de saúde em
relação às pessoas com doenças raras, com EUA
consequente redução da morbidade e morta- Até 66 pessoas/100.000 indivíduos
lidade;

Estabelecer as diretrizes de cuidado às pes- União Europeia


soas com doenças raras em todos os níveis de Até 50 pessoas/100.000 indivíduos
atenção do SUS;

Proporcionar a atenção integral à saúde das Brasil


pessoas com doença rara na Rede de Atenção Até 65 pessoas/100.000 indivíduos
à Saúde (RAS);

Ampliar o acesso universal e regulado das pes-


soas com doenças raras na RAS;
Esse dado, aparentemente irrelevante, é a
Garantir às pessoas com doenças raras, em
principal diretriz para definição do escopo e
tempo oportuno, acesso aos meios diagnós-
da amplitude das políticas oficiais voltadas
ticos e terapêuticos disponíveis conforme suas
necessidades; para essas doenças. Pode facilitar ou dificul-
tar, no caso do Brasil, discussões mais apro-
Qualificar a atenção às pessoas com doenças
fundadas sobre a necessidade de se adotar
raras.
regras específicas em relação ao registro sa-
nitário, fixação de preço e incorporação de
tecnologias no sistema de saúde.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    9

Doenças Raras em números

75%
crianças e
6-8% jovens

População
420-560 milhões de
indivíduos

7-8 mil
doenças raras no mundo

80% 20%
origem genética causas infecciosas,
virais e
degenerativas

95%
tratamento com
3%
tratamento
2%
tratamento
medicamentos cirúrgico ou com
paliativos e medicamentos medicamentos
serviços de regulares órfãos, capazes
reabilitação que atenuam de interferir na
sintomas progressão

13 milhões de brasileiros
Mais do que a população da cidade de São Paulo, duas vezes a do Rio de
Janeiro, quatro vezes a de Salvador e nove vezes a de Porto Alegre
10

O Cenário no Brasil
das vertentes, visto que inúmeros entraves re-
gulatórios continuam dificultando a entrada
dos medicamentos no SUS e o acesso dos pa-
cientes.
A voz do paciente:
"Agora eu percebo uma boa
vontade: há três senadores Redes de Serviço
envolvidos, ANVISA, CONITEC,
INTERFARMA e a sociedade A Portaria 199/14 propôs a criação de dois ti-
civil. Todo mundo sentado pos de serviços: os de Atenção Especializada
conversando." em Doenças Raras e os de Referência em Do-
enças Raras, que se diferenciam em relação
ao tratamento ofertado, equipe e custeio.

Cada serviço precisa ser credenciado por ges-


Universalizar o atendimento a pacientes com tores locais antes de ser habilitado pelo ges-
doenças raras passa inevitavelmente por uma tor federal. O tempo médio entre uma etapa
política que atue tanto no cuidado e trata- e outra gira em torno de 1 ano e 2 meses. A
mento, quanto na ampliação da oferta de manutenção dos serviços oferecidos possui
medicamentos órfãos. Os efeitos da Portaria dependência direta dos repasses governa-
199/14 estão, até o momento, restritos a uma mentais.

SERVIÇOS DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA E DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS RARAS NO SUS

Serviço de atenção
Categoria especializada em doenças raras Serviço de referência em doenças raras

Tratamento Uma ou mais doenças raras Mínimo dois grupos do eixo de doenças raras
de origem genética; ou Mínimo dois grupos do
eixo de doenças raras de origem não genética;
ou Mínimo um grupo para cada eixo.

Equipe mínima Ao menos um enfermeiro, um Ao menos um enfermeiro, um técnico de


técnico de enfermagem, médico e/ enfermagem, um médico geneticista, um
ou, responsável técnico médico médico especialista, um neurologista, um
pediatra, um clínico geral, um psicólogo,
um nutricionista, um assistente social, um
responsável técnico médico (qualquer um dos
tipos médicos citados)

Custeio R$ 11.650,00 + R$ 5.750,00 (por Máximo de R$ 41.480,00


(equipe/mês) serviço adicional dentro do mesmo
estabelecimento)

Unidades credenciadas 0 10

Unidades habilitadas 0 7

Fonte: Portaria 199/2014, Diário Oficial da União (DOU) e relatório das entidades estaduais (CIB) e municipais (Secretarias de Saúde) para
credenciamento dos centros.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    11

Desde a publicação da Portaria 199/14, ob- Além de não compreenderem todas as re-
serva-se uma clara limitação geográfica dos giões do País, as instituições habilitadas não
Serviços de Referência. Há somente sete hos- se encontram, em alguns casos, na capital
pitais habilitados, localizados nos estados de daquele estado, o que dificulta o acesso dos
São Paulo, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro, pacientes.
Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito
Federal.

LOCALIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS RARAS

Serviços credenciados,
mas não habilitados pelo
Ministério da Saúde.
Serviço habilitado pelo
Ministério da Saúde.

Fonte: Diário Oficial da União (DOU) e relatório das entidades estaduais (CIB) e municipais (Secretarias de Saúde) para credenciamento dos centros.
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HOSPITAIS HABILITADOS COMO SERVIÇOS DE REFERÊNCIA EM DOENÇAS RARAS

Credencia- Habilita- Tempo


Local Associação Especialidade Pacientes mento ção (em meses)

Curitiba, PR Hospital Pequeno • Anomalias Congênitas 2.640/ano 29/01/2016 17/10/2016 9


Príncipe • Deficiência Intelectual
• Erros Inatos do
Metabolismo
• Aconselhamento genético

Recife, PE Associação de • Erros Inatos de 1.670/ano 18/03/2015 19/10/2016 19


Assistência Metabolismo
à Criança • Doenças Raras
Deficiente-AACD Inflamatórias
• Doenças Raras Infecciosas

Anápolis, GO Associação de • Anomalias Congênitas ou 130 ca- 04/12/2014 19/10/2016 22


Pais e Amigos dos de manifestação Tardia dastrados
Excepcionais • Deficiência Intelectual atualmente
Associada a Doenças Raras
• Erros Inatos de
Metabolismo
• Doenças Raras Infecciosas

Santo André Ambulatório de • Deficiência Intelectual 1.680/ano 19/02/2016 29/11/2016 9


(SP) Especialidade da associada a Doenças Raras
FUABC/Faculdade • Erro Inato de Metabolismo
de Medicina ABC/ (EIM)
Santo André
• Doenças Raras
Inflamatórias
• Doenças Raras Autoimunes

Rio de Janeiro Instituto Nacional • Anomalias Congênitas ou Dados não 23/10/2015 28/12/2016 14
(RJ) de Saúde da de manifestação Tardia disponíveis
Mulher, da Criança • Deficiência Intelectual
e do Adolescente associada a Doenças Raras
Fernandes
Figueira (IFF) • Erro Inato de Metabolismo
(EIM)

Brasília (DF) Hospital de Apoio • Anomalias Congênitas ou 1.400/ano 24/05/2016 29/12/2016 7


de Brasília de manifestação Tardia
• Deficiência Intelectual
associada a Doenças Raras
• Erro Inato de Metabolismo
(EIM)
• Doenças Raras
Inflamatórias
• Doenças Raras Autoimunes

Porto Alegre Hospital das • Anomalias Congênitas ou Dados não 08/05/2015 29/12/2016 19
(RS) Clínicas de Porto de manifestação Tardia disponíveis
Alegre • Deficiência Intelectual
associada a Doenças Raras
• Erro Inato de Metabolismo
(EIM)

Até o momento, a estrutura dos centros não b) atraso no credenciamento de centros, im-
foi efetivada de maneira satisfatória por al- pedindo o repasse de verbas para o funciona-
guns fatores: mento.

a) atraso na elaboração e publicação de pro- Há, pelo menos, dez hospitais credenciados
tocolos clínicos (PCDT para definir as doenças entre novembro de 2015 e dezembro de 2017
raras consideradas prioritárias. aguardando habilitação do Ministério da Saú-
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    13

SERVIÇOS NA ESPERA PELA HABILITAÇÃO DO


MINISTÉRIO DA SAÚDE

Credencia-
Cidade Hospital Entidade mento

A voz do paciente: Salvador Hospital Comissão 19/11/2015


Universitário Intergestores
"O país concentra 46 hospitais Professor Bipartite da
Edgard Bahia
universitários e atrai uma Santos –
grande quantidade de HUPES

pacientes com doenças raras Salvador Associação Comissão 17/02/2016


de Pais e Intergestores
vindos de outras regiões. Amigos dos Bipartite da
Estima-se que 5% da população Excepcionais
- APAE
Bahia

do estado tenha uma doença


São Paulo Hospital das Secretaria 18/03/2016
rara, mas São Paulo não possui Clínicas da Municipal da
um centro habilitado junto ao FMUSP Saúde de
São Paulo
Ministério da Saúde."
São Paulo Instituto do Comissão 27/04/2016
Coração/ Intergestores
Hospital das Bipartite do
Clínicas da Estado de
FMUSP São Paulo
de: dois na Bahia, dois no Rio de Janeiro, um
no Ceará, um em Goiás e quatro em São Paulo Rio de Hospital Comissão 30/05/2016
Janeiro Universitário Intergestores
– dos quais dois estão localizados na Capital. Clementino Bipartite
Fraga Filho do Estado
do Rio de
A extensão territorial do País, a dificuldade de Janeiro
atendimento especializado, o atraso no trata- Goiânia Hospital Comissão 24/06/2016
mento, o agravamento dos quadros clínicos Geral de Intergestores
Goiânia Bipartite do
com maior utilização de serviços hospitalares, Dr. Alberto Estado de
Rassi Goiás
os gastos previdenciários, os atrasos no trei-
namento, habilitação e credenciamento de Ribeirão Hospital das Comissão 14/07/2016
Preto Clínicas da Intergestores
serviços geram custo financeiro e desgaste Faculdade Bipartite do
de Medicina Estado de
emocional, culminando na obtenção de me- de Ribeirão São Paulo
dicamentos por via judicial. Preto da
Universidade
de São Paulo
Para as associações de pacientes, a Portaria
Campinas Hospital das Comissão 16/12/2016
199/2014 representou um avanço na teoria, Clínicas da Intergestores
UNICAMP Bipartite do
pois apresenta, na prática, falhas na implan- Estado de
tação efetiva das medidas, como atrasos nos São Paulo

protocolos, atrasos nas certificações de hospi- Fortaleza Hospital Comissão 07/07/2017


Universitário Intergestores
tais de referência por problemas burocráticos, Walter Bipartite do
atrasos na capacitação de equipes e carência Cantídio da Estado do
UFC Ceará
de especialistas, inclusive geneticistas. Esses
Rio de Hospital Comissão 09/11/2017
grupos que prestam relevante assistência a Janeiro Universitário Intergestores
pacientes e seus familiares clamam por ca- Gaffrée e Bipartite do
Guinle da Estado do
pacitação das equipes de avaliação e contro- UNIRIO Ceará

le, além de mais transparência nas decisões.


Fonte: Relatórios das entidades estaduais (CIB) e municipais (Secretarias de
Destacam, ainda, a variedade de fatores que Saúde) para credenciamento dos centros.

pode influenciar, positiva ou negativamente,


neste processo.
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Indústria Cenário
econômico

Sociedade Civil

Interesse do
Governo

Conhecimento Influenciadores
e awareness do acesso
Regulamentação/
Burocracia

Pesquisa
clínica
Avaliações
técnicas
Financiamento/
reembolso

O custo médio de cada criança tratada nos centros


públicos europeus, organizados a partir de planos
nacionais, corresponde a 33% do custo de tratamento
em um programa não integrado.

A experiência internacional reforça que a es- unidades distribuídas pelo país. A Alemanha
truturação da rede de serviços especializados conta com 16 centros de pesquisa, enquan-
é uma importante evolução, mas também co- to Noruega, Dinamarca e Suécia investem em
loca em destaque a fragilidade e a morosidade clínicas multidisciplinares. De acordo com re-
brasileira nos cuidados com as doenças raras. latório de 2009 da EURORDIS, que congrega
Em 2001, a Itália criou uma rede nacional de associações de pacientes de 49 países e repre-
centros de assistência gratuita para prevenção, sentantes de 544 doenças raras, o custo médio
diagnóstico e tratamento das doenças raras. de cada criança tratada nos centros públicos
Quatro anos depois, a França aprovou um pla- europeus, organizados a partir de planos na-
no nacional de estruturação de centros de re- cionais, corresponde a 33% do custo de trata-
ferência em hospitais-escola, totalizando 131 mento em um programa não integrado.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    15

borados sob a égide da Política Nacional de


Atenção Integral à Genética Clínica (PNAIGC).
Eles oferecem acesso a 45 medicamentos,
a tratamentos clínicos e cirúrgicos, a 70 mil
A voz do paciente:
consultas e a mais de 560 procedimentos la-
boratoriais para diagnóstico e tratamento ao
"Então, toda essa morosidade
custo anual superior a 4 milhões de reais.
faz com que os hospitais
que querem se cadastrar De acordo com o “Dossiê de Doenças Raras
desanimem." e Drogas Órfãs: entendendo a situação bra-
sileira no contexto global”, publicado pela
IMS (atual IQVIA), até junho de 2012, das 18
doenças com protocolo de tratamento, ape-
nas uma, a Doença de Gaucher, incorporava
Acesso ao droga órfã. As restantes usam medicamentos
Medicamento Órfão farmacológicos sintomáticos.

De acordo com o Ministério da Saúde, há Em 2017, nove medicamentos para doenças


atualmente 26 protocolos clínicos ligados às raras foram incorporados, sendo que três de-
doenças raras, sendo que 18 deles foram ela- les são considerados órfãos pelo FDA (agên-

DOENÇAS E PRODUTOS EM ANÁLISE

Listagem Indicação/Doença rara Produtos Moléculas Empresas

Doenças Acromegalia Somavert Pegvisomanto Pfizer


consideradas no
estudo anterior Somatuline Lanreotida Ipsen

Angioedema hereditário Firazyr Acetato de icatibant Shire

Fabry Fabrazyme Beta-galsidase Genzyme

Replagal Alfagalsidase Shire

Gaucher’s Cerezyme Imiglucerase Genzyme

Vpriv Alfavelaglicerase Shire

Zavesca Miglustate Actelion

HAP Tracleer Bosentan Actelion

MPS VI Naglazyme Galsulfase BioMarin

Nienmann-Pick Zavesca Miglustate Actelion

Inclusão de Hipertensão Pulmonar Tromboemótica Crônica (HPTEC) Adempas Riociguate Bayer


Doenças
Tumor neuroendócrino Afinitor Everolimus Novartis

Lupus Eritematoso Sistêmico Benlysta Belimumabe GSK

Mielofibrose Jakavi Ruxolitinib Novartis

Pompe Myozyme Alfalglicosidase Genzyme

Sindrome de Cushing Upelior Pasireotide Novartis

As moléculas Laronidase (MPSI), Idursulfase (MPSII) e Tafamidis (PAF) faziam parte do estudo anterior, porém não constam nesta tabela, uma vez que foram incor-
poradas pela CONITEC (2017). Fonte: IMS – Rare Diseases – Budgetary Impact Update 2017.
16

cia norte-americana de vigilância sanitária)


Regulação Sanitária
- laronidase (Mucopolissacaridose Tipo I),
idursulfase (Mucopolissacaridose Tipo II), e No Brasil, os medicamentos só podem ser
somatropina. Recentemente, em janeiro de comercalizados após obter o registro da AN-
2018, o medicamento Tafamidis (Polineuro- VISA que atesta sua segurança, qualidade e
patia amiloidótica familiar - PAF) também foi eficácia e após obtido o registro de preço na
adicionado a esta lista. Câmara de Regulação do Mercado de Medi-
camentos (CMED). A Portaria 199/14 não trou-
De acordo com as associações de pacientes, xe definição nem fixa regras específicas para
muitas PCDTS estão engavetadas; outras fo- drogas órfãs. No entanto, em dezembro de
ram descartadas por falta de informações cla- 2017, uma resolução da Diretoria Colegiada
ras ou alternativas de tratamento capazes de da Agência (RDC 205/17) estipulou um proce-
justificar o protocolo. dimento especial para Doenças Raras, envol-
vendo a anuência de ensaios clínicos, certifi-
cação de boas práticas de fabricação e regis-
tro de novos medicamentos para tratamento,
diagnóstico ou prevenção de doenças raras.
E os medicamentos registrados por meio de
tais critérios serão priorizados, tendo prazo de
A voz do paciente: até 365 dias para serem comercializados. A
"Muitos dos protocolos não resolução, que deve entrar em vigor até mar-
foram devolvidos pelos ço de 2018, reduz significantemente o tempo
especialistas responsáveis das aprovações regulatórias.
pelo trabalho. Alguns foram
Conforme demonstrado, há atualmente 19
devolvidos sem conclusão."
doenças raras com medicamentos órfãos re-
gistrados na ANVISA ainda não incorporados
às linhas oficiais de tratamento. A principal
É importante destacar ainda, que, mesmo justificativa, o custo do tratamento, perde
após a inclusão de um medicamento no SUS, fundamentação frente à realidade do au-
o acesso ao tratamento pode esbarrar em mento do número de ações e o envolvimento
problemas de gestão e logística, que frequen- do Poder Judiciário para o acesso aos medi-
temente afetam o abastecimento da rede de camentos ou tratamentos.
saúde e comprometem o tratamento dos pa-
cientes. Nos últimos anos, o agravamento da
crise econômica do País e as constantes tro-
Regulação Econômica
cas dentro do Ministério da Saúde afetaram O setor farmacêutico no Brasil é regulado pela
a periodicidade e o volume de compras, im- Câmara de Regulação do Mercado de Medica-
pactando a disponibilidade de medicamen- mentos (CMED), que estabelece os preços de
tos para os pacientes. entrada e os preços máximos que podem ser
praticados no mercado nacional. Para deter-
minados medicamentos é aplicado ainda um
Coeficiente de Ajuste de Preços, o CAP, criado
pela CMED com o intuito de uniformizar o pro-
cesso de compras públicas de medicamentos
e tornar mais efetivo o acesso universal e iguali-
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    17

tário, princípio fundamental do Sistema Único


de Saúde – SUS. Na prática, a aplicação do CAP
se justifica para medicamentos adquiridos
pela administração pública, principalmente
por meio de compras centralizadas, permitin- A voz do paciente:
do um desconto de preço maior de acordo
"Já era complicado antes, com
com a quantidade do produto obtida.
técnicos que ajudaram na
É importante destacar que as estratégias de
construção da Portaria 199/2014.
ganho de escala saem prejudicadas na aquisi-
Que dirá com uma pessoa que
ção de medicamentos órfãos, que tratam do-
não tem esse conhecimento
enças que atingem uma pequena parcela de
nem a capacitação necessária."
pacientes. Esta prerrogativa também se aplica
ao desconto compulsório, que não considera
as especificidades de um nicho de mercado
tão particular. Vale ressaltar, ainda, que, para Protocolos Clínicos
que um medicamento órfão seja, de fato, dis-
Ainda que o medicamento esteja incorpora-
ponibilizado no sistema de saúde para a popu-
do no sistema de saúde, é necessária a defi-
lação, ele precisa passar por um processo de
nição do seu papel na estratégia de cuidado
incorporação, conforme exposto a seguir.
do paciente. Esse é o objetivo dos chamados
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
(PCDT), previsto na Portaria 199/14. No mesmo
Mecanismos de Avaliação ano da publicação dessa Portaria, a CONITEC
de Tecnologias em Saúde abriu consulta pública para priorizar as doen-
ças raras que fariam parte dos novos PCDTs.
Por abranger grupos muito menores de usuá- Foram registradas 834 contribuições, sendo
rios, os custos de produção dos medicamen- que 91% foram encaminhadas por pacientes,
tos órfãos são consideravelmente mais eleva- familiares, amigos e grupos de pacientes. Em
dos, comprometendo sobremaneira os testes maio de 2015, o relatório final de priorização
de eficácia, que não apresentam resultados listou 42 doenças cujos PCDTs deveriam ser
demonstrativos significativos. publicados até 2018. A iniciativa, recebida
com entusiasmo pelos pacientes e demais
A metodologia de custo-efetividade, adotada interessados, não evoluiu, pois esbarrou em
pela Comissão Internacional de Incorporação mudanças ocorridas no Ministério da Saúde,
de Tecnologias no SUS (CONITEC), também com substituição de ministros e equipes.
não se aplica aos medicamentos órfãos. As fer-
ramentas tradicionais de avaliação de tecnolo- É importante ressaltar que, desde 2014, 22
gias enfatizam o preço ao comparar novos tra- PCDTs de doenças raras foram publicados.
tamentos com aqueles já disponíveis pelo SUS. Nenhum destes, no entanto, integrava a lista
Por incidir sob um número restrito de pacien- final de priorização, produzida pela CONITEC.
tes, os resultados dos estudos clínicos não são O órgão, que lidera esse processo, dedica-
nada robustos quando comparados com medi- -se atualmente à elaboração de cinco PCDTs
camentos para doenças de maior prevalência. para doenças raras, dos quais três estão em
Além disso, essa metodologia desconsidera o estágio avançado e aguardam apenas a assi-
impacto no valor social das doenças raras, con- natura do secretário da Secretaria de Ciência,
forme exposto no item sobre custos sociais. Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), do
18

Ministério da Saúde, para serem publicados. A Universidade de São Paulo (USP) também
São eles: Mucopolissacaridose tipo I (MPS I), se uniu à Secretaria Estadual de Saúde do
Doença de Wilson e Doença Falciforme. Os Estado de São Paulo, defendendo a elabo-
outros dois PCDTs seguem em análise após ração por pesquisadores de relatórios e pa-
consulta pública, com parecer favorável pela receres que instruam o magistrado sobre a
CONITEC. São eles: Mucopolissacaridose tipo eficácia dos medicamentos reclamados em
II (MPS II) e Hepatite Autoimune. Dos cinco juízo, além da existência de tratamentos al-
protocolos, apenas dois (MPS I e MPS II) cons- ternativos disponíveis no SUS. De uma forma
tam na lista de priorização da CONITEC. ou de outra, todas as discussões versam sobre
modelos de atenção que viabilizem o direito
à saúde tal como garantido nos artigos 196, da
Constituição Federal, e no 16, da Lei Orgânica

Poder
do SUS (Lei 8080/1990).

Em dezembro de 2017, o Conselho Nacional


Judiciário de Justiça (CNJ) promoveu mais uma roda-
da de discussão. Durante mais de 10 horas,
30 representantes de diversos segmentos da
Com o aumento da judicialização, o Conselho sociedade e do governo apresentaram suas
Nacional de Justiça (CNJ) adotou postura de perspectivas a respeito da judicialização. Se-
apoio aos magistrados e criou o Fórum Nacio- gundo a presidente do Supremo Tribunal
nal da Judicialização para a Saúde, um traba- Federal (STF) e do CNJ, Ministra Cármen Lú-
lho multidisciplinar que permite a interação cia, medidas serão tomadas para dar conta
entre Ministério da Saúde, ANVISA, Agência do “acervo de demandas judiciais”, como por
Nacional de Saúde e Conselhos Estaduais e exemplo, suporte técnico e científico ao juiz.
Municipais de Saúde (CONASS e CONASEMS).
Ainda que relevantes, as iniciativas não se
Outras iniciativas surgiram, como Câmara mostraram suficientes para conter o forte
Técnica de Doenças Raras, criada pelo Conse- crescimento das demandas judiciais. De acor-
lho Federal de Medicina, em 2015. Ela reúne do com estimativas do Ministério da Saúde,
associações de pacientes, representantes da elas cresceram 490% desde 2011. Somente
indústria farmacêutica, órgãos do governo e em 2016, os gastos da União com demandas
sociedades médicas. judiciais atingiram R$1,3 bilhão, um aumento
de 23% em relação ao ano anterior. Em julho
Em 2017, a Câmara aprovou um curso que de 2017, o governo federal já havia acumula-
tem como objetivo tornar aptos médicos que do R$705,1 milhões em gastos com produtos
não são especialistas em genética para reco- judicializados.
nhecer. Com isso, esses profissionais poderão
encaminhar adequadamente os casos que A participação dos medicamentos órfãos nos
necessitem de avaliação com especialista e gastos da União por via judicial já representa
oferecer, na atenção básica em saúde, cuida- 90% do total. Em 2016, 10 dos 20 medicamen-
do médico às pessoas com doenças genéti- tos mais demandados judicialmente estavam
cas. Os primeiros treinamentos foram realiza- ligados às doenças raras. Esse movimento se
dos em novembro de 2017 e contaram com a intensificou em 2017, sendo que, até junho,
participação de 5,2 mil médicos. 13 dos 20 medicamentos mais judicializados
eram para doenças raras.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    19

GASTOS TOTAIS DA UNIÃO COM DEMANDAS JUDICIAIS (2010-2017*) - EM MILHÕES DE REAIS

1360,0

1100,0

839,7
705,1
549,1
367,8
230,5
122,6

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

*Gastos até julho/2017   Fonte: Prospectiva com dados do Ministério da Saúde, 2016; 2017

GASTOS DA UNIÃO COM OS 20 MEDICAMENTOS MAIS JUDICIALIZADOS (2011-2017**) – EM MILHÕES DE REAIS

Doenças Raras Outros 92,4

7,3

4,8 1,5

70,7
3,8
1,5

151,0 210,7 238,6 580,2 861,2 956,4 592,8

2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017**

*Dados de 2016 foram disponibilizados até novembro   **Dados de 2017 foram disponibilizados até junho
Fonte: Prospectiva com dados do Departamento de Logística em Saúde (MS), 2016

OS 20 MEDICAMENTOS MAIS JUDICIALIZADOS PELA UNIÃO (2011-2017**)

Doenças Raras Outros

9 7
11 10
14 14
16

13
11 10
9
6 6
4

2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017**

*Dados de 2016 foram disponibilizados até novembro   **Dados de 2017 foram disponibilizados até junho
Fonte: Prospectiva com dados do Departamento de Logística em Saúde (MS), 2016
20

Além de drenar recursos financeiros, as de-


mandas judiciais afetam tanto a União, Esta-
dos e Municípios pela falta de previsibilidade NA PAUTA DO STF...
na alocação de recursos por conta da falta de
programação de compra dos medicamentos, Dois recursos relacionados às Doen-
pela diminuição do poder de negociação da ças Raras aguardam, desde 2016, de-
administração pública e pela inexistência de cisão do Supremo Tribunal Federal
controle logístico, quanto os pacientes, que (STF). Referem-se à obrigatoriedade
correm o risco de descontinuidade no trata- do Estado de fornecer medicamen-
mento. Ao longo de 2017, notou-se uma ten- tos de alto custo para pessoas que
tativa dos entes federativos de aprimorar a não possuem capacidade financeira
gestão das compras por meio de uma série (RE 566.471) e a de fornecer medica-
de iniciativas. Entre elas, destaca-se o núcleo mentos que não possuem registro na
de demandas judiciais do Ministério da Saú- ANVISA (RE 657.718). Paralisado após
de, que também tornou disponível para as o falecimento do ministro Teori Zavas-
gestões estaduais e municipais um software cki, o julgamento dos recursos conta
(S-CODES) para controle de compras. com três votos proferidos, que apon-
tam que a judicialização deve, em
Observou-se, também no ano passado, algu- longo prazo, restringir-se a pacientes
mas iniciativas do governo em reduzir o for- incapazes de arcar com os custos do
necimento de medicamentos por demanda tratamento, além do fortalecimen-
judicial. Em março de 2017, os pacientes rece- to das instâncias técnicas do Serviço
beram o suficiente para 45 dias de tratamen- Único de Saúde, como a ANVISA e a
to, e não para seis meses como era de costu- CONITEC, em decisões relacionadas
me. A situação só foi revertida, após mobili- a registro e incorporação. Os recursos
zação de grupos de pacientes e de membros serão, ainda, analisados pelos outros
do Legislativo. O Ministério decidiu estender o oito ministros.
prazo para 150 dias.
A presidente do STF, Ministra Cármen
É importante destacar que os possíveis atra- Lúcia, já se envolveu com a questão
sos nas decisões judiciais punem os pacien- e endossou, em novembro de 2017, a
tes, dado o risco de afetar a continuidade do decisão do Tribunal de Justiça do Rio
tratamento. As associações de pacientes cor- de Janeiro (TJ-RJ) que impõe à Fun-
roboram essa visão, ressaltando que o aces- dação Municipal de Saúde de Niterói
so aos principais tratamentos ainda é muito (RJ) o fornecimento do remédio para
desigual. A judicialização nasce da ausência tratamento de Deficiência de Mevalo-
ou desatualização dos protocolos, além da nato Quinase (MKD) a uma portado-
falta de definição do papel e das obrigações ra, destacando que “a suspensão dos
dos pagadores privados. Além disso, o apelo à efeitos da decisão impugnada poderia
Justiça para garantir o acesso a medicamen- causar situação mais gravosa (inclusive
tos está hoje limitado a uma pequena parce- o óbito da paciente) do que aquela
la da população que tem conhecimento ou que se pretende combater”.
contato com entidades mais preparadas.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    21

...E DO STJ
O Superior Tribunal de Justiça mostra-
-se também um ator decisivo para a
judicialização de medicamentos. Em
maio de 2017, a Primeira Turma sus-
pendeu todos os processos judiciais
em andamento e destacou a obrigação
do Estado de fornecer medicamentos
de alto e baixo custo não incorpora-
dos no SUS. A decisão gerou grande
repercussão. Para o ministro Benja-
min Gonçalves, relator do recurso, o
fornecimento pode ocorrer desde que
haja, cumulativamente, apresentação
de laudo médico sobre imprescindi-
bilidade do remédio, comprovação de
insuficiência financeira do paciente e
registro do medicamento na ANVISA.

O julgamento foi interrompido após


o pedido de vista da ministra Assuse-
te Magalhães. Os outros nove minis-
tros que compõem a 1ª Seção devem
avaliar o recurso, cuja decisão deve ser
proferida no prazo de um ano. Ela não
deve afetar o trabalho do STF, mas o
resultado do julgamento deste pode
criar uma exceção e, no caso de medi-
camentos de alto custo, em uma deci-
são final do STJ.
22

Poder
como oportunidade de elevar a discussão e
engajar mais atores sociais no processo.

Legislativo Entre 2014 e 2017, a Comissão de Seguridade


Social e Família (CSSF) da Câmara dos Depu-
tados realizou 154 audiências públicas (23, 52,
As doenças raras são o centro de várias discus- 28, 51, por ano, respectivamente), sendo 102
sões em tramitação no Congresso Nacional, sobre saúde; dessas, 8 foram sobre doenças
seja por meio de projetos de lei que garan- raras, número expressivo frente a quantidade
tam a necessidade do cuidado adequado, de temas do setor.
seja pela criação de um ambiente regulatório
compatível com a realidade dos tratamentos. É importante ressaltar que, em meio à crise
No total, há 14 projetos em tramitação, que institucional, a Câmara e o Senado têm ser-
não devem ser encarados como respostas vido como palco de importantes discussões
prontas elaboradas pelos congressistas, mas ao tema.

SÍNTESE DOS PROJETOS DE LEI EM TRAMITAÇÃO

Projeto Autor (Partido) Tema Ementa

PL 3.167/2008 Deputado Luiz Acesso a Obriga o fornecimento de medicamentos para portadores de doenças
Carlos Hauly medicamentos crônicas de baixa prevalência ou rara a pacientes da rede pública
(PSDB/PR) de saúde e determina participação de todos os entes federados no
financiamento dos medicamentos.

PLC 56/2016 Ex-deputado Acesso a Dispõe sobre a dispensação de medicamentos para doenças raras e
(1.606/2011) Marçal Filho medicamentos graves, que não constam em listas de medicamentos excepcionais
(PMDB/MS) padronizadas pelo SUS.

PL 4.815/2012 Deputada Mara Atenção Institui o Serviço de Apoio Especializado para Atividades da Vida
Gabrilli (PSDB/ especializada Diária, destinado a pessoas com deficiência severa ou doenças raras
SP) com grande restrição de movimentos, com o objetivo de garantir sua
autonomia e independência pessoal.

PL 6.566/2013 Ex-senador P&D para Obriga o repasse de 30% dos recursos do Programa de Fomento à
Eduardo Suplicy tecnologias em Pesquisa em Saúde, em atividades voltadas para o desenvolvimento
(PT/SP) doenças raras tecnológico de medicamentos, imunobiológicos, produtos para a
saúde e etc., destinados ao tratamento de doenças raras ou negli-
genciados.

PL 8.188/2014 Ex-Senador Conscientização Dispõe sobre a instituição do Dia Nacional de Doenças Raras.
Eduardo Suplicy
(PT/SP)

PL 2.657/2015 Ex-senador Vital Ambiente Dispõe sobre o registro e a importação, por pessoa física, de
do Rêgo (PMDB/ regulatório medicamento órfão, bem como prevê critério diferenciado para a
PB) avaliação e a incorporação destes medicamentos, especifica também
que, na definição e no reajuste de preços dessas medicações, a
comparação de preços deve-se restringir aos dessa categoria.

PL 3.302/2015 Deputado Pedro P&D para Dispõe sobre a aplicação mínima de recursos para a pesquisa e o
Cunha Lima tecnologias em desenvolvimento de diagnósticos, medicamentos e outros produtos
(PSDB/PB) doenças raras para a saúde destinados ao tratamento de doenças raras, e destina
parcela dos recursos recuperados em ações de ressarcimento ao
erário da União às ações de atenção integral às pessoas com doenças
raras no SUS.

PL 2.654/2015 Deputado Diego Isenção de Inclui as despesas com aquisição de medicamentos para tratamento
Garcia (PHS/PR) impostos de doenças raras nas hipóteses de dedução da base de cálculo do
imposto de renda das pessoas físicas.

PLS 31/2015 Senador Álvaro Dias Ambiente Tipifica e define medicamentos órfãos para efeitos legais, além de enumerar
(PSDB/PR) regulatório em que casos e em que condições será permitida sua importação. Também
determina que o registro destes fármacos seja dotado de procedimentos ágeis e
desburocratizados.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    23

SÍNTESE DOS PROJETOS DE LEI EM TRAMITAÇÃO (CONTINUAÇÃO)

Projeto Autor (Partido) Tema Ementa

PL 4.345/2016 Deputado Atila A. Acesso a Cria os centros para tratamento de doenças raras em todos os estados da fed-
Nunes (PSL/RJ) tratamento eração e dá outras providências.

PL 4.818/2016 Deputada Mariana Acesso a Autoriza o uso de fármacos, substâncias químicas, produtos biológicos e corre-
Cavalho (PSDB/RO) tratamento latos ainda em fase experimental e não registrados, por pacientes com doenças
graves ou raras.

PL 5.017/2016 Deputada Leandre Acesso a Trata do uso compassivo de fármacos experimentais por pacientes portadores de
(PV/PR) tratamento moléstia grave ou rara.

PL 5.998/2016 Deputada Mariana Ambiente Estabelece critérios diferenciados para a avaliação e a incorporação de medica-
Carvalho (PSDB/RO) regulatório mentos órfãos, destinados ao tratamento das doenças raras.

PLS 415/2015 Senador Cássio Ambiente Tornar obrigatória a definição em regulamento e a divulgação do indicador ou
Cunha Lima (PSDB/ regulatório parâmetro de custo-efetividade utilizado na análise das solicitações de incorpo-
PB) ração de tecnologia e determina a aleatoriedade e publicidade na distribuição
dos processos às instâncias responsáveis por essa análise

AUDIÊNCIAS PÚBLICAS CSSF (2014, 2015, 2016 E 2017) AUDIÊNCIAS PÚBLICAS CAS (2014, 2015, 2016 E 2017)

13%
Assistência
Social
26%
3%
3% Assistência
Previdência
Previdência Social
Social
Social

18%
Outros

18%
Outros

66%
Saúde

Cenário semelhante é observado na Comissão


de Assuntos Sociais (CAS), do Senado. Entre
2014 e 2017, a comissão realizou 70 audiên-
cias públicas, sendo 37 sobre saúde. Dentre as
audiências sobre saúde, 13 trataram de doen-
ças raras, sendo que cinco delas foram realiza-
53%
das em 2017, ano de criação da Subcomissão Saúde
Especial sobre Doenças Raras (CASRARAS),
presidida pelo Senador Waldemir Moka, da
qual participam associações de pacientes, re-
presentantes do governo, médicos e entidade
da indústria farmacêutica.
24

Outros Fatores
A voz do paciente:
Relevantes
"A meu ver, seria mais
prioritário educar o médico “Somente os custos
da Unidade Básica."
relacionados à perda
de produtividade
representam até 56% do
custo total da doença.”
A EC 95/2016
Promulgada em dezembro de 2016, a Custos Sociais
Emenda Constitucional (EC) nº 95 limi-
tou por 20 anos o teto dos gastos do Não há estudos significativos no Brasil sobre
governo federal. Em seu primeiro ano a natureza dos dados gerados pelas doenças
de vigência, a saúde e a educação fo- raras. É inquestionável, porém, a perda de
ram as áreas menos atingidas em com- produtividade do paciente e dos seus fami-
paração a outros órgãos e Poderes da liares por mal-estar físico e/ou emocional; o
República. A EC 95 poupou dois seto- absenteísmo dos pacientes e familiares oca-
res fundamentais de cortes maiores do sionado pela necessidade de consultas mé-
que os gastos do ano anterior, somados dicas, exames e outros cuidados; a aposen-
à variação do IPCA, e permitiu que o Mi- tadoria antecipada ou pensão por invalidez
nistério da Saúde continue recebendo em decorrência do agravamento da doença;
recursos extras, advindos de cortes de os custos emocionais relacionados às dores
outros ministérios. Embora as transfe- e sofrimentos causados pela doença e pela
rências constitucionais feitas a estados absoluta falta de perspectiva de cura e dificul-
e municípios não tenham sido afeta- dade de acesso ao tratamento.
das, o deslocamento de recursos do
Fundo Nacional de Saúde (FNS) para Algumas iniciativas internacionais ajudam
os orçamentos de estados e municí- a tangibilizar os impactos econômicos e so-
pios devem ser afetadas, já que fazem ciais relacionados a essas doenças. É o caso
parte do orçamento do Ministério da do projeto europeu “Custo Socioeconômico e
Saúde. Caberá a eles exclusivamente o Qualidade de Vida relacionado a Doenças Ra-
financiamento de programas e serviços ras” (BURQOL RD, 2008), que avalia os custos
públicos de saúde, que já corre riscos globais (médicos e não médicos) e identifica
com a crise fiscal e a queda nas arreca- a relevância e magnitude econômica e so-
dações. Essa situação reforça a impor- cial relacionadas a 10 doenças raras em oito
tância da atual agenda de aumento da países (Alemanha, Bulgária, Espanha, França,
eficiência de gestão e de redução dos Hungria, Itália, Reino Unido e Suécia). Os re-
gastos do Ministério da Saúde – incluin- sultados sinalizam o impacto significativo dos
do, a judicialização. custos indiretos. Somente os custos relacio-
nados à perda de produtividade representam
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    25

CUSTO TOTAIS DE DOENÇAS RARAS SELECIONADAS POR ANO, POR PACIENTE

País Doença Custo total Custo direto % total Custo Indireto % total

Hungria Esclerose Sistêmica € 12.032,00 € 5.350,00 44,4% € 6.742,00 56,6%

Reino Unido Histiocitose £ 49.947,00 £ 34.962,00 70% £ 14.984,00 30%

Reino Unido Fibrose Cística € 48.603,00 € 42.381,00 87,2% € 6.221,00 12,8%

França Esclerose Sistêmica € 22.459,00 € 11.933,00 53,1% € 10.526,00 46,9%

Fonte: Prospectiva com dados de Angelis et al (2015) ; Angelis et al (2014) ; Chevreul et al (2014) ; Cavazza et al (2016)

até 56% do custo total da doença. Ainda que gratuito a todos os participantes da pesquisa
haja peculiaridades locais, os resultados po- aos métodos profiláticos, diagnósticos e te-
dem direcionar esforços e apoiar a tomada rapêuticos considerados mais eficazes, pelo
de decisões. prazo de cinco anos, após obtenção do regis-
tro na ANVISA.

Essas experiências reforçam a importância da


Pesquisas Clínicas internacionalização dos ensaios clínicos, das
O cenário para o desenvolvimento de pesqui- parcerias público-privadas, da estruturação
sas clínicas no Brasil também não é favorá- de serviços diferenciados de atendimento e
vel. Verifica-se que a burocracia e a demora da desburocratização para disponibilização
no processo de aprovação de protocolos de de medicamentos órfãos, incorporando-os
pesquisa dificultam o desenvolvimento de aos sistemas de saúde.
terapias inovadoras e a adoção de medidas
Alguns países adotaram estratégias para agi-
centradas no paciente, como acontece em
lizar o acesso do paciente ao medicamento
outros países.
órfão, como revisão rápida da documentação
A média mundial de aprovação de ensaios clí- e redução de exigências técnicas nos parâme-
nicos, por exemplo, varia de 3 a 4 meses, bem tros de avaliação e outras facilidades. As políti-
inferior à do Brasil, que pode ultrapassar um cas diferem de acordo com as características
ano. Essa demora impossibilita a participação do sistema de saúde, se públicos ou privados.
do Brasil em pesquisas multicêntricas, (que Outra solução diferenciada que poderia servir
ocorrem simultaneamente em vários países). como inspiração é a autorização temporária
Além disso, a Resolução do Conselho Nacio- de uso de medicamentos para pacientes com
nal de Saúde (CNS) nº466/2012, que exige a doenças raras, em casos de risco de vida ou
obrigatoriedade de fornecimento do medi- na ausência de alternativa terapêutica, como
camento pelo resto da vida dos participantes acontece na França e na Espanha.
da pesquisa, é outro fator a afetar o ambiente
nacional de pesquisas clínicas. No que se refe-
re às doenças ultrarraras, vale destacar ainda
a Resolução 563, publicada em novembro de
17, destinada exclusivamente a enfermidades
com incidência menor ou igual a um caso
para cada 50 mil habitantes. Essa Resolução
responsabiliza o patrocinador pelo acesso
26

Elaboração de projetos para captação de re-


cursos.

Entre os projetos defendidos de forma prio-


ritária:
A voz do paciente:
"É preciso rever a legislação Conscientização e incorporação do “Teste do

de pesquisa clínica no Pezinho”;


Brasil. Ela não é atrativa para Estipulaçãode prazo, por lei, para CONITEC
desenvolvimento de estudos para incorporação de drogas no SUS logo
no país." após registro;
Implementação imediata de uma política
de doenças raras;
Divulgação na TV, em âmbito nacional, so-
O papel dos Pacientes bre o tema.
Muitas organizações têm papel-chave para o
É essencial ressaltar, ainda, o aumento do pro-
paciente e para o desenvolvimento do am-
tagonismo das associações nos últimos anos,
biente: por um lado, oferecem serviços de
que passaram a atuar em advocacy, atuando
apoio e aconselhamento, desempenhando
fortemente para ampliar o awareness e mu-
um papel que caberia ao próprio sistema
dar políticas públicas, estendendo o cuidado
de saúde; por outro lado, dão visibilidade ao
com os pacientes e suas famílias.
tema e pressionam os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário a encontrar soluções
para garantir o acesso aos tratamentos. Esta
mobilização é fundamental também para
combater a falta de informação, que ainda
é um dos principais entraves ao diagnóstico
precoce e ao tratamento adequado das do-
A voz do paciente:
enças raras.
"O trabalho de um diretor de
Hoje as atividades das Associações de Pacien- uma Associação de pacientes,
tes estão voltadas para: é praticamente 24 horas."

Suporte de pacientes e familiares no que


diz respeito a conhecimento, suporte e di-
recionamento no acesso ao tratamento e na Educação e Capacitação
melhoria da qualidade de vida;
Profissional
Promoção de palestras e outras atividades
para aumentar a visibilidade do tema entre A sensibilização dos profissionais da área de
diferentes públicos; saúde, inclusive na atenção básica, é um co-
nhecido entrave do sistema. Para fomentar o
Participação
junto a agentes públicos para
interesse e reforçar a capacitação, é preciso
desenvolvimento de políticas e conscienti-
trabalhar:
zação;
a falta de conhecimento e entendimento
Colaboração com outras entidades meno-
das doenças por todos os agentes envolvi-
res;
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    27

dos na regulamentação e no controle das


políticas;
aconsciência por parte de médicos e enfer-
meiros para identificar e diagnosticar efeti-
vamente as enfermidades; A voz do paciente:

aalta rotatividade de profissionais nas uni-


"Às vezes, não são os médicos.
dades do SUS, que prejudica o controle pró-
Os nossos maiores olheiros são,
ximo e o acompanhamento do paciente;
na verdade, os enfermeiros."

odesenvolvimento dos centros, com equi-


pamentos e equipes adequadas.
28

Impacto
Orçamentário
Na estimativa da INTERFARMA, o incremento dicação, com os processos judiciais e com a
no orçamento seria diretamente proporcio- seguridade social, além dos benefícios previ-
nal ao número de pacientes beneficiados por denciários a que têm direito pacientes e seus
protocolos, diagnósticos precoces e precisos, cuidadores. Acrescente-se ainda, a queda nas
tratamentos adequados, medicação especí- despesas com tratamentos desnecessários e
fica e supervisão de equipes especializadas. incorretos e suas possíveis e frequentes com-
plicações que requerem internações hospita-
Em contrapartida, cairiam os custos com a lares, gerando mais custos.
judicialização, que impactam significativa-
mente os orçamentos federal, estadual e mu-
nicipal, visto que englobam gastos com me-

SUMÁRIO DO IMPACTO ORÇAMENTÁRIO POR DOENÇA RARA

Pacientes tratados Custo total/ano (R$ MM) %Variação


Indicação/ Estimados
Estimados Estimados
Doenças Rara no Brasil Pacientes Custo
Atualmente com o Atualmente com o
tratados total
protocolo protocolo

Acromegalia 1.770 115 553 8,9 34,4 381% 288%

Cushing 8.300 0 45 0 3,0** - -

Fabry 1.769 612 772 269,9 340,4 26% 26%

Gaucher 2.588 734 1.000 465,5 511,9 36% 10%

HAE 3.100 300 300 182,2 147,1 0% -19%

HAP 8.243 63 450 7,8 51,6 614% 566%

HPTEC 1.973 70 387 13,5 60,2 453% 346%

Lúpus 26.255 904 2.327 45,3 94,1 157% 108%


Eritematoso
Sistêmico

Mielofibrose 2.000 105 163 23,6 29,6** 55% 25%

MPS VI 250 155 162 194,2 163,8 5% -16%

Nienmann-Pick 1.725 22 100 9,3 16,5 355% 78%

Pompe 3.450 106 120 119,5 110,9 13% -7%

Tumor 100.000 44 69 5,1 6,5** 57% 27%


Neuroendócrino

Total 161.423 3.230 6.448 1.345 1.570 100% 17%

Fonte: Dados fornecidos pela Interfarma, Datasus, estudos epidemiológicos publicados, bases proprietárias da QuintilesIMS.
*Observação: os cálculos, premissas e estimativas realizadas pela QI para este estudo foram baseados nas informações disponíveis de fácil acesso e sem a adoção de
metodologias específicas ou validação com especialistas; não devem, portanto, ser adotados como referencial e fonte para outros fins (ex.: estudos, protocolos etc.).
**Para o cálculo de custo total no ano para estes indicados, a Interfarma adotou um fator de 0,5 por conta do delay para início de tratamento.
DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    29

Conclusão
Nesse cenário, a Judicialização continua sen-
do uma das principais formas de acesso aos
tratamentos, limitando-se, porém, aos que
são mais esclarecidos ou que mantêm con-
São inegáveis os avanços obtidos após a pu- tato com associações mais preparadas. Além
blicação da Portaria 199/2014, em especial o da indefinição de responsabilidades para pa-
reconhecimento dos pacientes com doenças gadores privados (Agência Nacional de Saúde
raras no País por meio de Protocolos Clínicos Suplementar), a legislação atual prejudica o
e serviços de saúde especializados. A experi- interesse da indústria e não favorece o desen-
ência internacional corrobora essa visão, de- volvimento de pesquisas clínicas.
monstrando que a política de implantação
de centros de referência representa melhora A pressão por parte das associações de pa-
significativa em todos os aspectos - sejam eles cientes mostra-se essencial para manter a
de natureza emocional, social, organizacio- discussão e o interesse. A união dessas enti-
nal, cultural ou econômica. No entanto, pas- dades fortaleceria a luta. O diálogo e a união
sados três anos da promulgação, pacientes e com a indústria farmacêutica também são
familiares têm que trabalhar a frustração ao peças fundamentais para a aceleração dos
ver hospitais aguardando habilitação e a mo- processos de registro, definição de preços e
rosidade na publicação de PCDTs. negociações com o governo. Com objetivos
transparentes e fiscalização sobre a atuação
A necessidade de uma política nacional forte das indústrias farmacêuticas, esta parceria
e expressiva se faz presente diante das regula- beneficiaria o objetivo final, pressionando po-
ções atuais, que desconsideram as especifici- sitivamente as instituições governamentais.
dades dos medicamentos órfãos, afetando o
acesso a tratamentos e impactando negativa- Em resumo, o caminho para a ação é a união
mente a saúde e a qualidade de vida dessas de setores, públicos e privados. Relações mais
pessoas. próximas entre todos os agentes e organiza-
ções, espelhadas nos modelos de sucesso em
outros países, podem acelerar os processos
e mudar a realidade nacional. Cursos de ca-
pacitação e gestão, treinamento de equipes,
formação contínua de especialistas, incluindo
geneticistas, e o fomento de pesquisas clíni-
A voz do paciente: cas são algumas iniciativas para um avanço
"Existe uma portaria sem consistente das políticas de acesso. Por fim, a
aplicabilidade. A gente não criação de uma Política Pública, ao invés de
tem algo com a força de Lei." Portarias, pode reduzir a burocracia que atra-
vanca o andamento do processo em todos os
níveis.

O cenário econômico e o interesse do governo


mantêm-se como barreiras a serem transpos-
tas. Os recursos limitados da Saúde, a buro-
cracia, os entraves políticos e crises, apesar do
envolvimento de alguns deputados e senado-
res, contribuem para a lentidão dos avanços.
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DOENÇAS RARAS: A URGÊNCIA DO ACESSO À SAÚDE    31

AV I S O D E CO N F O R M I DA D E

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