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CLÍNICA MÉDICA

Hematologia
Autoria e colaboração

HEMATOLOGIA
Fernanda Maria Santos
Graduada pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em
Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Hematologia e Hemoterapia pelo Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
Marcos Laércio Pontes Reis
Graduado em Medicina pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa
de Misericórdia do Pará. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pela Casa de Saúde Santa Marcelina e mestre
em Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Fábio Freire José
Graduado em Medicina pela Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. Especialista em Clínica Médica e em Reu-
matologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Médico assistente da disciplina de Clínica Médica e
preceptor-chefe da enfermaria de clínica médica do Hospital São Paulo.
Kelly Roveran Genga
Graduada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). Especialista em Clínica Médica pela Casa de Saúde Santa
Marcelina, em Hematologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e em Terapia Intensiva pelo Hospital
do Servidor Público Estadual (HSPE).
Walter Moisés Tobias Braga
Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa
de Misericórdia de São Paulo. Especialista em Hematologia e Hemoterapia pela Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP). Título de especialista em Hematologia e Hemoterapia pela Associação Brasileira de Hematologia e He-
moterapia (ABHH).

Atualização 2016
Kelly Roveran Genga

Assessoria didática
Natália Varago Franchiosi
Apresentação

O estudante de Medicina, pela área escolhida considerado um apaixonado


por desafios, depois de anos submetido a aulas teóricas e plantões em di-
versos blocos deve enfrentar uma maratona ainda maior: a escolha de uma
especialização, sobretudo se esta exige pré-requisito, seguida da conquista
do ingresso em um centro e programa de Residência Médica de renome.
Mas isso só é possível com o auxílio de um material didático prático, bem
estruturado e preparado por quem é especialista no assunto, e a Coleção
R3, da qual fazem parte 8 volumes só de Clínica Médica, foi desenvolvida
nesse contexto. Os capítulos baseiam-se em temas recorrentes nas provas
dos principais concursos do Brasil, com pré-requisito em Clínica Médica, ao
passo que os casos clínicos e as questões são comentados a fim de oferecer
a interpretação mais segura possível de cada resposta.

Bons estudos!
Índice

Capítulo 1 - Interpretação do hemograma... 17 Capítulo 6 - Abordagem inicial da


1. Análise do hemograma.............................................18 hemostasia e trombose.................................. 131
2. Eritrograma.................................................................18 1. Introdução e fisiologia da coagulação................132
3. Leucograma.................................................................21 Resumo........................................................................... 138
4. Plaquetograma...........................................................27
5. Hemograma nas leucemias agudas..................... 29 Capítulo 7 - Distúrbios da hemostasia
6. Hemograma nas asplenias..................................... 30 primária..............................................................139
Resumo.............................................................................. 31 1. Introdução.................................................................140
2. Trombocitopenia...................................................... 141
Capítulo 2 - Anemias.........................................33
Resumo............................................................................155
1. Conceitos gerais......................................................... 34
2. Hematopoese............................................................. 34 Capítulo 8 - Distúrbios das hemostasias
3. Composição do eritrócito........................................37 secundária e terciária.....................................157
4. Mecanismos adaptativos.......................................40 I. Distúrbios da hemostasia secundária............... 158
5. Quadro clínico ............................................................41 - Introdução e considerações gerais..................... 158
6. Investigação etiológica e classificação .............. 42 II. Distúrbios da hemostasia terciária....................167
Resumo............................................................................. 50 - Introdução...................................................................167
Capítulo 3 - Anemias por deficiência de Resumo........................................................................... 168
produção.............................................................. 51 Capítulo 9 - Trombofilias................................ 171
1. Conceitos gerais......................................................... 52 1. Introdução..................................................................172
2. Anemia da insuficiência renal crônica................ 52 Resumo........................................................................... 182
3. Anemias das doenças endócrinas.........................53 Capítulo 10 - Visão geral das neoplasias
4. Anemia por deficiência de ferro............................53 hematológicas..................................................183
5. Anemia de doença crônica .................................... 62
1. Introdução................................................................. 184
6. Anemias sideroblásticas......................................... 66
2. Neoplasias mieloides............................................. 184
7. Anemia megaloblástica............................................67
3. Neoplasias linfoides................................................185
8. Aplasia pura da série vermelha ...........................76
Resumo............................................................................187
Resumo..............................................................................77
Capítulo 4 - Anemias pós-hemorrágicas e Capítulo 11 - Leucemias agudas................... 189
hiperproliferativas.............................................81 1. Introdução................................................................. 190
2. Leucemia mieloide aguda...................................... 191
1. Anemia pós-hemorrágica....................................... 82 3. Leucemia linfoide aguda........................................197
2. Anemias hemolíticas ............................................... 83 4. Leucemia linfoide aguda na infância............... 200
3. Anemia falciforme.................................................... 85 5. Diagnóstico............................................................... 201
4. Hemoglobinopatia C................................................ 99 6. Prognóstico e evolução .......................................202
5. Hemoglobinas instáveis........................................100 7. Tratamento................................................................203
6. Talassemias................................................................101 8. Complicações clínicas............................................205
7. Esferocitose hereditária e outras doenças Resumo...........................................................................209
da membrana eritrocitária.................................. 107
8. Deficiência de G6PD e piruvatoquinase.......... 109 Capítulo 12 - Leucemias crônicas.................. 211
9. Hemoglobinúria paroxística noturna................ 112 1. Leucemia mieloide crônica....................................212
10. Anemia hemolítica autoimune..........................114 Resumo...........................................................................226
11. Anemias hemolíticas microangiopáticas......... 117
Capítulo 13 - Neoplasias mieloproliferativas
Resumo............................................................................118
(não LMC).......................................................... 227
Capítulo 5 - Pancitopenias............................. 121 1. Introdução.................................................................228
1. Introdução..................................................................122 2. Policitemia vera.......................................................228
2. Anemia aplásica.......................................................122 3. Trombocitemia essencial ..................................... 233
3. Síndromes mielodisplásicas.................................125 4. Mielofibrose.............................................................236
Resumo........................................................................... 130 Resumo...........................................................................240
Capítulo 14 - Linfomas....................................241 2. Indicações de transfusões.................................. 280
1. Introdução.................................................................242 3. Autotransfusão.......................................................286
2. Abordagem do paciente.......................................242 4. Manipulação de hemocomponentes................ 287
3. Linfoma de Hodgkin...............................................244 5. Procedimentos especiais......................................288
4. Linfoma não Hodgkin............................................248 6. Reações transfusionais......................................... 291
5. Diferenças clínicas.................................................. 259 Resumo...........................................................................296
Resumo...........................................................................260
Capítulo 17 - Transplante de células-tronco
Capítulo 15 - Mieloma
hematopoéticas............................................... 299
múltiplo..............................................................261
1. Introdução................................................................ 300
1. Introdução.................................................................262
2. Fisiopatologia........................................................... 263 2. Modalidades............................................................ 300
3. Tipos de mieloma.................................................... 267 3. Fontes de células..................................................... 301
4. Quadro clínico.......................................................... 267 4. Técnicas de coleta................................................... 301
5. Exames laboratoriais ............................................268
5. Triagem do doador.................................................302
6. Critérios de diagnóstico .......................................270
7. Estadiamento e prognóstico ...............................270 6. Indicações.................................................................303
8. Variantes de importância clínica da doença 7. Condicionamento pré-transplante.................... 304
dos plasmócitos.......................................................271 8. Infusão das células progenitoras
9. Tratamento............................................................... 273 hematopoéticas..................................................... 304
Resumo........................................................................... 277 9. Complicações pós-TCTH........................................305
Capítulo 16 - Hemoterapia............................ 279 10. Doadores não aparentados................................ 311
1. Introdução................................................................ 280 Resumo............................................................................312

Casos clínicos..................................... 317 Comentários


Cap. 1. Interpretação do hemograma.................. 395
Questões Cap. 2. Anemias............................................................398
Cap. 1. Interpretação do hemograma.................. 335 Cap. 3. Anemias por deficiência de produção....407
Cap. 2. Anemias............................................................ 338 Cap. 4. Anemias pós-hemorrágicas e
Cap. 3. Anemias por deficiência de produção.... 345 hiperproliferativas.........................................415
Cap. 4. Anemias pós-hemorrágicas e Cap. 5. Pancitopenias................................................. 421
hiperproliferativas........................................350 Cap. 6. Abordagem inicial da hemostasia e
Cap. 5. Pancitopenias.................................................354 trombose.........................................................425
Cap. 6. Abordagem inicial da hemostasia e Cap. 7. Distúrbios da hemostasia primária.........429
trombose......................................................... 357 Cap. 8. Distúrbios das hemostasias
Cap. 7. Distúrbios da hemostasia primária.........360 secundária e terciária.................................. 433
Cap. 8. Distúrbios das hemostasias Cap. 9. Trombofilias.................................................... 435
secundária e terciária.................................. 363 Cap. 10. Visão geral das neoplasias
Cap. 9. Trombofilias.................................................... 365 hematológicas................................................438
Cap. 10. Visão geral das neoplasias Cap. 11. Leucemias agudas......................................... 439
hematológicas................................................ 367
Cap. 12. Leucemias crônicas......................................445
Cap. 11. Leucemias agudas.........................................368
Cap. 13. Neoplasias mieloproliferativas
Cap. 12. Leucemias crônicas...................................... 372
(não LMC)..........................................................451
Cap. 13. Neoplasias mieloproliferativas
Cap. 14. Linfomas..........................................................454
(não LMC)......................................................... 377
Cap. 15. Mieloma múltiplo.......................................... 459
Cap. 14. Linfomas.......................................................... 378
Cap. 16. Hemoterapia...................................................465
Cap. 15. Mieloma múltiplo.......................................... 383
Cap. 16. Hemoterapia................................................... 387 Cap. 17. Transplante de células-tronco
hematopoéticas.............................................469
Cap. 17. Transplante de células-tronco
Outros temas................................................................470
hematopoéticas..............................................391
Outros temas................................................................ 392 Referências bibliográficas........................................ 472
Fernanda Maria Santos / Marcos Laercio Pontes Reis
Fábio Freire José / Kelly Roveran Genga

Neste capítulo, serão abordadas as principais causas de


anemias pós-hemorrágicas decorrentes de hemorragias
agudas/crônicas (como em traumas agudos ou sangra-
mentos gastrintestinais) e anemia hemolítica decorrente
de processos autoimunes, por exemplo. Os fatores que
causam redução nos valores de hemoglobina são o
aumento acentuado do reticulócito e da desidrogenase
láctica, o aumento de bilirrubina indireta e a diminuição
de haptoglobina. O texto aborda, ainda, anemias decor-
4
Anemias pós-he-
rentes de doenças como anemia falciforme, talassemias

morrágicas e
e deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase,
que leva a hemólise da hemácia e diminuição do seu
tempo médio de vida (em virtude das suas alterações
estruturais). As talassemias acometem mais indivíduos
da região do Mediterrâneo, assim como a anemia fal-
ciforme, enquanto a deficiência de glicose-6-fosfato
desidrogenase (G6PD) acomete mais indivíduos negros.
hiperproliferativas
104 R3 CLÍNICA MÉDICA - HEMATOLOGIA
PNEUMOLOGIA

Pergunta Na betatalassemia major (anemia de Cooley), os sinais geralmente são


evidentes em torno do 6º mês de vida, período em que ocorre diminui-
ção da síntese de HbF e seria esperado aumento da Hb contendo cadeia
beta (HbA). Numerosos problemas clínicos acontecem a partir desse
2011 - UNICAMP - CLÍNICA
momento, como anemia hemolítica crônica intensa, falhas de cresci-
MÉDICA
mento e desenvolvimento, deformidades ósseas devido a eritropoese
4. Uma mulher, 22 anos, subme-
intensa, hepatoesplenomegalia, icterícia e hematopoese extramedular.
tida à avaliação clínica porque
Se as crianças não são tratadas, 8% morrem no 1º ano de vida por insu-
deseja engravidar, recebe resul-
ficiência cardíaca, inanição e infecção. A evolução clínica é modificada
tado de hemograma: Hb = 11,8g/
pela realização de terapêutica transfusional adequada, porém a sobre-
dL, 4,4 milhões de hemácias/
carga de ferro transfusional (hemossiderose) pode ser grave, com le-
mm3, VCM = 70fL, HCM = 23g/L,
sões de múltiplos órgãos e redução da sobrevida, se não tratada.
8.270 leucócitos/mm3, 320.000
plaquetas/mm3, reticulócitos = Nas formas mais graves de talassemia, como resposta à eritropoese
2%, VHS = 18mm. Eletroforese de ineficaz, a série eritroide medular aumenta, às vezes de maneira tão
hemoglobina: HbA = 94%, HbA2 intensa que pode levar à proliferação das camadas hematopoéticas de
= 4,8%, HbF = 1,2%. O diagnóstico ossos chatos e longos, com deformidades ósseas severas, osteopenia e,
correto é: eventualmente, fraturas patológicas.

a) betatalassemia minor Tabela 12 - Principais alterações ósseas na talassemia


b) traço alfatalassêmico
- Protuberância da região frontal e das regiões malares;
c) traço falciforme
d) deficiência de ferro - Depressão na ponta do nariz;
e) hemoglobinopatia H
- Horizontalização dos orifícios nasais;
Resposta no final do capítulo
- Hipertrofia dos maxilares com exposição de dentes e gengivas superiores.

Figura 8 - Alterações ósseas

No crânio, podem-se ter, ainda, o alargamento da díploe, o desapareci-


mento da tábua externa e o aparecimento de estrias perpendiculares,
que conferem o aspecto característico de “porco-espinho”. O exame ra-
diológico de ossos em geral, finalmente, mostra redução do osso com-
pacto da cortical e reabsorção das trabéculas.

Figura 9 - Alargamento da díploe e diminuição da


tábua externa no crânio Figura 10 - Crânio “em porco-espinho”
Marcos Laercio Pontes Reis / Fernanda Maria Santos
Fábio Freire José / Kelly Roveran Genga

Este capítulo irá abordar os principais tipos de leu-


cemias, tanto da linhagem linfoide (como a leucemia
linfoide aguda) quanto da mieloide (como a leucemia
mieloide aguda). Para a sua diferenciação e seu diagnós-
11
Leucemias
tico, são utilizados métodos de imunofenotipagem a fim
de detectar as alterações genéticas envolvidas e veri-
ficar a presença ou não do cromossomo Filadélfia em

agudas
alguns tipos de leucemias, pois este confere mau prog-
nóstico ao paciente. O tratamento, em geral, é feito com
quimioterapia individualizada para cada leucemia.
196 R3 CLÍNICA MÉDICA - HEMATOLOGIA
PNEUMOLOGIA

A infiltração extramedular por blastos é conhecida como cloroma ou

Pergunta sarcoma granulocítico. Os sítios mais comuns são pele (leukemia cutis)
e mucosa (hiperplasia gengival), mais frequentes na LMA de linhagem
monocítica. O cloroma pode aparecer virtualmente em qualquer tecido
2014 - UFSC - CLÍNICA MÉDICA e é também descrito atrás dos olhos e na meninge (particularmente
1. Um homem de 27 anos, porta- relacionado à LMA promielocítica), epidural, ovário, intestino e medias-
dor de leucemia mieloide aguda, tino. É pouco comum o seu aparecimento sem a detecção da doença
procura a emergência do HU com medular, mas é possível (daí a classificação da OMS separadamente de
febre e mal-estar há 24 horas. O sarcoma mieloide), e o tratamento é o mesmo.
último ciclo de quimioterapia teve Dor óssea, principalmente no esterno e em ossos longos, é pouco co-
término há 10 dias. Ao exame, mum entre adultos com LMA e corresponde à expansão leucêmica na
alerta, orientado, prostrado, com cavidade medular.
PA = 80x50mmHg, FC = 110bpm, T
As leucemias apresentam, portanto, sintomas e sinais inespecíficos,
= 38,8°C, Sat = 96% e FR = 24irpm.
que podem simular o quadro clínico de muitas patologias: artrite reu-
No laboratório, Hb = 8,2g/dL, Ht
matoide juvenil, febre reumática, lúpus eritematoso sistêmico, púrpura
= 26%, leucócitos = 1.370/mm3,
trombocitopênica idiopática, aplasia medular e mononucleose infec-
neutrófilos = 320/mm3 e plaque-
ciosa, entre outras.
tas = 74.000/mm3. Com base nesse
caso clínico, assinale a alterna-
tiva correta:

a) a maioria dos casos de sepse


grave e choque séptico em neu-
tropênicos febris é causada por
germes Gram negativos; ce-
falosporina de 3ª geração é o
antibiótico empírico de escolha
b) diante da instabilidade hemo- Figura 3 - Hiperplasia gengival por in-
filtração leucêmica na LMA M5
dinâmica, deve-se considerar
cobertura para germes Gram po-
sitivos no esquema antibiótico
inicial
c) entre os neutropênicos febris, os
sintomas do foco primário costu-
mam ser bastante expressivos e
guiam o esquema antimicrobiano
d) a associação amoxicilina-cla- Figura 4 - Leukemia cutis
vulanato + ciprofloxacino oral é
uma opção a ser usada nesse pa-
ciente, permitindo tratamento
domiciliar Figura 5 - Cloroma retro-orbitário
e) culturas quantitativas de san-
gue periférico e central têm valor
limitado na abordagem terapêu-
- Leucemia promielocítica aguda ou LMA M3
tica entre imunossuprimidos De acordo com a classificação FAB, a LPA ou LMA M3 representa de
Resposta no final do capítulo 10 a 15% das LMAs. Pela classificação da OMS, é conhecida como LMA
t(15;17) com a fusão gênica PML/RARa. É uma variante clínica e bio-
lógica distinta das LMAs. Esse tipo de leucemia apresenta morfologia
celular característica, com promielócitos anormais, núcleo excêntrico
e abundantes granulações no citoplasma. Caracteriza-se também pela
presença de múltiplos bastonetes de Auer no citoplasma, formando
feixes, dando a essas células a denominação de faggot cells (células
com maços ou feixes – Figura 6).
Os indivíduos com LPA apresentavam alta taxa de mortalidade devido
à coagulopatia que lhe é característica, sendo, por isso, uma emergên-
CLÍNICA MÉDICA

Hematologia
CASOS CLÍNICOS, QUESTÕES E COMENTÁRIOS
Casos Clínicos
Ú DO M ED
TE

CE
C ON

R3 Casos Clínicos
L
C ON
L
CE
TE
Ú DO M ED

Hematologia

Caro leitor,

Este espaço é reservado para os Casos Clínicos das instituições que optam por esse formato de prova em seus concur-
sos, além de questões dissertativas sobre condutas diagnósticas e terapêuticas elaboradas pelo corpo docente Medcel.
Isso significa que o seu conteúdo é exclusivo, servindo como complementação às questões comentadas ao final do livro.
Para tanto, foi extraído material de importantes provas, além de novos casos, com base nos temas mais abordados em
processos seletivos para Residência Médica, o que permite estudar resolvendo testes semelhantes aos aplicados nos
principais concursos do país. Temos certeza de que, com mais forma de revisar o conteúdo dos capítulos, você se sentirá
mais preparado para garantir a sua vaga na especialidade e na instituição desejadas.

2015 - SUS-BA - CLÍNICA MÉDICA


1. Uma jovem de 17 anos, negra, residente de zona ru-
ral, chega ao ambulatório de referência com história
de anemia crônica e é encaminhada para avaliação. Há
queixa de inapetência, cansaço fácil e anorexia. A his-
tória familiar é desconhecida, tendo em vista que fora
adotada quando nasceu. Refere dor frequente em mem-
bros inferiores que não dificulta a deambulação. Sem
outras queixas. O exame físico mostra regular estado
geral, ativa, hidratada, afebril, sem alterações em dados
vitais. Mucosas descoradas (++/++++). Sem adenomega-
lias. A ausculta cardíaca apresenta sopro holossistólico, c) Indique o significado clínico do RDW.
classificado com II/VI, audível em focos da base do co-
ração. Ausculta respiratória e restante do exame seg-
mentar sem alterações. Traz exames que mostram Ht
= 24,6%, Hb = 8,2g/dL e RDW = 24%, com presença de
drepanócitos em sangue periférico. Diante do quadro
apresentado:

a) Indique o exame diagnóstico laboratorial específico.

2014 - FMUSP - CLÍNICA MÉDICA


2. Um homem de 70 anos, com lombalgia há 3 meses,
traz consigo radiografia de coluna apenas com sinais de
osteoartrose. Exame clínico: sem alterações. Exames
laboratoriais: Hb = 16g/dL, leucócitos = 6.000/mm3 com
diferencial normal, plaquetas = 250.000/mm3, creati-
nina = 1mg/dL, ureia = 40mg/dL, função hepática nor-
mal, cálcio sérico = 9,5mg/dL. Eletroforese de proteí-
nas: albumina = 4g/dL e, na fração de gamaglobulina,
pico monoclonal = 1,8g/dL. A partir desses resultados,
b) Classifique a anemia quanto ao mecanismo fisiopato- prosseguiu-se na investigação: proteinúria de 24 horas
lógico. = normal; imunofixação de proteínas séricas com com-
328 sic R3 hematologia

f) Qual seria a conduta inicial a ser instituída à paciente? tramos, à análise do sangue periférico, a presença de neutrófi-
los hipersegmentados. Nesse caso, temos alterações displási-
cas dos neutrófilos, como hipogranulação e hipossegmentação
nuclear (anomalia de pseudo-Pelger-Huët), que sugere bastan-
te o diagnóstico de mielodisplasia.

b) Por ser uma alteração clonal da célula-tronco hematopoé-


tica, será necessário realizar mielograma, biópsia de medula
óssea e citogenética (ou cariótipo ou análise cariotípica).

Caso 4
a) Doença de von Willebrand.
Questão muito bem elaborada. A doença de von Willebrand é
a coagulopatia hereditária mais frequente, porém muito sub-
diagnosticada na prática. Estima-se que cerca de 1% da popula-
g) Que tratamentos podem ser oferecidos? Que orienta- ção tenha algum tipo de deficiência do fator de von Willebrand.
ções devem ser oferecidas quanto às chances de cura? Na maioria dos casos, essa deficiência é parcial, levando a sinto-
mas de sangramentos mucosos em mulheres durante o período
menstrual, como no caso em questão. A paciente, além da his-
tória pessoal de metrorragia, também apresenta história fami-
liar de sangramento menstrual excessivo. Laboratorialmente,
cursa com prolongamento do tempo de sangramento, diminui-
ção na atividade do fator de ristocetina, podendo se apresentar
com alargamentos discretos no TTPA e diminuição dos níveis de
fator de von Willebrand.

Caso 5
a) Púrpura trombocitopênica trombótica e plasmaférese.
São características da púrpura trombocitopênica trombótica
a presença de hemólise microangiopática, reticulocitose, DHL
alto, leucócitos com contagem normal, plaquetopenia, teste de
Coombs negativo, sintomas neurológicos, febre e alteração de
função renal. O tratamento consiste na realização de plasma-
férese.

RESPOSTAS Caso 6
a) Síndrome hemofagocítica (SHF) ou linfo-histiocitose eritro-
Caso 1 fagocítica.
Embora rara, a SHF é uma condição potencialmente fatal. O
a) Eletroforese de hemoglobina.
diagnóstico de SHF baseia-se em uma combinação de sinais clí-
nicos e biológicos e exige, além de exame histológico/citológico
b) Anemia hemolítica de causa corpuscular.
para detecção de hemofagocitose, uma investigação etiológica
c) Anisocitose/diferentes tamanhos das hemácias. exaustiva. É caracterizada por uma apresentação clínica seme-
lhante à da sepse, com esplenomegalia, citopenia, hiperferri-
tinemia, coagulopatia e hemofagocitose. Consequentemente,
Caso 2 os pacientes comumente apresentam falência de múltiplos
órgãos, o que leva a elevada mortalidade. Na presença de 5
a) Gamopatia monoclonal de significado indeterminado.
achados clínico-laboratoriais (dos 8 citados a seguir), podemos
Esta se caracteriza pela presença de pico monoclonal <3g/dL,
confirmar esse diagnóstico:
mielograma com menos de 10% de plasmócitos e ausência de
- Febre ≥38,5°C;
lesões em órgãos-alvo relacionadas ao mieloma múltiplo (ou
R3 Casos Clínicos

- Esplenomegalia;
seja, ausência de anemia, insuficiência renal, hipercalcemia ou
- Citopenias, na presença de, no mínimo, 2 dos seguintes: Hb
doença óssea).
<9g/dL (para lactentes <4 semanas, Hb <10g/dL); plaquetas
b) Para fazer diagnóstico diferencial com mieloma múltiplo não <100.000/mm3; neutrófilos <1.000/mm3 (contagem absolu-
secretor, no qual temos presença de >10% de plasmócitos ao ta);
mielograma, e com outras doenças linfoproliferativas, que po- - Hipertrigliceridemia (triglicérides ao jejum >265mg/dL) e/ou
dem cursar com gamopatia monoclonal. hipofibrinogenemia (fibrinogênio <150mg/dL);
- Hemofagocitose na medula óssea, baço, linfonodos ou fígado;
- Atividade de células NK baixa ou ausente;
Caso 3 - Ferritina >500ng/mL (ferritina >3.000ng/mL é mais indicati-
va desse diagnóstico);
a) Síndrome mielodisplásica ou mielodisplasia.
- Aumento dos níveis de CD25 solúvel (receptor solúvel da IL
O grande diagnóstico diferencial entre as anemias macrocíticas
-2a), sendo acima de 2 desvios-padrão (de acordo com o valor
é entre deficiência de vitamina B12 e/ou de ácido fólico (anemia
ajustado para a idade).
megaloblástica) e síndrome mielodisplásica. Na primeira encon-
Questões

Hematologia - R3 Questões
Hematologia

2013 - UERJ - CLÍNICA MÉDICA


3. Finalmente, ficou disponível, na rede do laboratório,
Interpretação do hemograma
o resultado do hemograma completo pedido para jovem
com sangramento catamenial profuso de longa data. O
residente transcreveu para o prontuário os seguintes
2014 - SANTA CASA-SP - ACESSO DIRETO/CLÍNICA MÉ-
valores: contagem de hemácias = 3.700.000/µL, he-
DICA
moglobina = 9,3g/dL, hematócrito = 30%, VCM = 81,1fL,
1. Uma mulher de 52 anos, com antecedente de hipertensão
HCM = 25,1pg, CHCM = 31% e RDW = 17,3%. Ao analisá
arterial, diabetes mellitus e infecção urinária de repetição,
-los, ele concluiu que os glóbulos vermelhos tinham:
procura atendimento por quadro de fraqueza, cansaço e
a) grande variação de volume
dispneia aos grandes esforços há 4 meses. Ao exame clíni-
b) pequena variação de volume
co, apresenta-se em bom estado geral, descorada (2+/4+),
c) grande variação da concentração de hemoglobina
eupneica, com PA = 160x90mmHg, bulhas rítmicas normo-
d) pequena variação da concentração de hemoglobina
fonéticas sem sopro, murmúrio vesicular bilateral sem ruí-
dos adventícios, abdome e extremidades sem alterações. Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
Laboratorialmente, apresenta Hb = 8g/dL, Ht = 24%, ferri- Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder

tina = 20ng/mL, saturação de transferrina = 10%, creatinina


2013 - UERJ - CLÍNICA MÉDICA
= 2mg/dL, ureia = 49mg/dL, Na = 140mEq/L, K = 4,8mEq/L,
4. Quando palpou fígado e baço volumetricamente au-
clearance estimado de creatinina de 65mL/min/mm2 e eco-
mentados, em homem de 59 anos, com mucosas hipoco-
dopplercardiograma normal. Qual é a melhor estratégia te-
radas (++/4+) e história de cansaço, o residente colheu
rapêutica inicial para o tratamento dos sintomas?
amostra de sangue e levou-a ao laboratório. Confirmou-
a) hemotransfusão
-se discreta anemia, sem alterações significativas no nú-
b) administração de diuréticos
mero de leucócitos e plaquetas por microlitro. O exame
c) sulfato ferroso
microscópico do esfregaço foi compatível com mielofi-
d) reposição de eritropoetina
brose primária e, entre outros achados, demonstrou a
e) administração de betabloqueador adrenérgico
característica presença de:
Tenho domínio do assunto Refazer essa questão a) células “em alvo”
Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder b) hemácias “em lágrima”
c) corpúsculos de Pappenheimer
2014 - AMP - CLÍNICA MÉDICA d) esquizócitos com anéis de Cabot
2. Uma mulher de 44 anos procura atendimento por epi-
sódios de dor no hipocôndrio direito de forte intensidade, Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder
e, na investigação, foi encontrada doença calculosa biliar.
A paciente conta que desde a infância apresentava facili- 2013 - HAC - CLÍNICA MÉDICA
dade para formar equimoses em qualquer lugar do corpo 5. Para a caracterização de poliglobulia secundária à
e que apresenta grande volume menstrual desde a me- doença cardiorrespiratória, deve-se proceder à avalia-
narca, tendo sido necessário tratamento para anemia 2 ção da:
vezes. Por ocasião de uma extração dentária, necessitou a) curva de dissociação de O2
de procedimento em centro cirúrgico para contenção da b) saturação de O2 arterial
hemorragia. Para avaliar o risco hemorrágico dessa pa- c) carboxi-hemoglobina
ciente para uma colecistectomia, deve-se solicitar: d) dosagem da pCO2
a) tempo de protrombina e de tromboplastina parcial e) eritropoetina
ativada
b) tempo de sangramento Tenho domínio do assunto Refazer essa questão
c) antígeno plasmático do fator de von Willebrand Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder

d) avaliação de hematologista
2013 - HAC - CLÍNICA MÉDICA
e) coagulograma
6. A inclusão de uma “bateria de exames laboratoriais”
Tenho domínio do assunto Refazer essa questão pré-operatórios tem sido uma prática comum de muitos
Reler o comentário Encontrei dificuldade para responder médicos, e as razões podem incluir desde a pretensão
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Hematologia - R3 Comentários
Hematologia

Questão 3. Este hemograma nos mostra a presença de


Interpretação do hemograma
anemia hipocrômica (definida pela diminuição do HCM
– Hemoglobina Corpuscular Média –, cujos valores nor-
Questão 1. Esta paciente apresenta anemia sintomática, mais situam-se entre 27 e 34pg) e normocítica (definida
com baixos níveis de ferritina e saturação de transferri- pelo valor normal do VCM – Volume Corpuscular Médio
na, ou seja, trata-se de anemia ferropriva. O tratamento –, normal entre 80 e 100fL).
deve ser feito com administração de sulfato ferroso por A variação no volume das hemácias é avaliada pelo RDW
via oral, até a normalização da hemoglobina e da ferritina. – do inglês, Red cell Distribution Width. Hemácias nor-
Analisando as demais alternativas: mais possuem o diâmetro aproximado de 7 a 8µ, sendo
a) Incorreta. Não há nenhuma indicação de hemotrans- representadas pelo VCM. Entretanto, o VCM pode ser
fusão neste momento, já que a paciente não apresenta falsamente normal em casos de população eritrocitária
sinais de descompensação hemodinâmica aguda, como dismórfica, quando há presença concomitante de hemá-
hipotensão ou sinais de cor anêmico, o que pode ser evi- cias macrocíticas e microcíticas (já que o VCM represen-
denciado pelo exame clínico e pelo ecocardiograma. ta o tamanho médio das hemácias). A análise do RDW
b) Incorreta. O uso de diuréticos seria indicado caso a nos auxilia nesses casos. Valores aumentados (>14%),
causa da dispneia fosse descompensação cardíaca le- sabendo-se que o normal situa-se entre 11 e 14%, são su-
vando à congestão pulmonar, o que não é o caso. gestivos de que existe população eritroide de diferentes
d) Incorreta. Eritropoetina é um agente estimulador da tamanhos, o que denominamos de anisocitose. Dessa
eritropoese e não tem indicação nos casos de anemia forma, o RDW nos dá uma noção do grau de anisocitose.
ferropriva. Suas principais indicações são anemia asso- O CHCM representa a relação entre o valor da hemoglo-
ciada à insuficiência renal crônica, anemia relacionada à bina contida num determinado volume de sangue e o he-
quimioterapia em pacientes oncológicos, alguns casos de matócrito, sendo expressa em porcentagem. Seu valor
síndrome mielodisplásica e como terapia adjuvante em normal situa-se entre 32 a 35%, isso equivale a dizer que
mieloma múltiplo. existe 32 a 35 gramas de hemoglobina por decilitro de
e) Incorreta. Bloqueadores dos receptores beta-adre- hemácias (ou 320 a 350g/L). Valores baixos ocorrem nas
nérgicos possuem ampla gama de indicações, como em mesmas situações que geram VCM e HCM baixos, como
taquiarritmias, síndromes coronarianas agudas, hiper- anemia ferropriva. Valores aumentados ocorrem na
tensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca, distúr- presença de esferocitose hereditária e outras anemias
bios de ansiedade e hipertireoidismo. hemolíticas, nas quais existe desidratação das hemácias,
Gabarito = C como anemia falciforme, hemoglobinopatia C e xeroci-
tose.
Questão 2. A paciente apresenta antecedente hemorrági- A alternativa correta, portanto é a “a”, ou seja, neste
co importante, que deve com certeza ser valorizado. Nas hemograma existe uma grande variação do volume das
avaliações das coagulopatias em geral, a história clínica é hemácias, representado pelo RDW acima de 14% (17,3%).
extremamente importante, sendo muitas vezes suficiente Gabarito = A
para algumas decisões terapêuticas. Nesse caso, o hema-
tologista é o especialista indicado para avaliação do risco Questão 4. Na mielofibrose primária, é frequente o
cirúrgico. A solicitação de alguns exames laboratoriais cita- achado de hemácias “em lágrima” em sangue periférico
dos nas alternativas faz parte da investigação, como tem- e reação leucoeritroblástica, caracterizada por leucoci-
po de protrombina, tromboplastina parcial ativada e tem- tose com desvio à esquerda e eritroblastos circulantes.
po de sangramento. Outros exames investigativos serão Analisando as demais alternativas:
solicitados de acordo com o resultado destes. A história clí- a) Incorreta. Células “em alvo” ocorrem com frequência
nica é muito sugestiva de doença de von Willebrand, sendo nas síndromes talassêmicas.
importante para confirmação diagnóstica a pesquisa da c) Incorreta. Corpúsculos de Pappenheimer são peque-
atividade do cofator de ristocetina, antígeno plasmático do nos corpúsculos arredondados, compostos por grânulos
fator de von Willebrand e atividade do fator VIII. sideróticos, irregulares e escuros, que podem ser identi-
Gabarito = D ficados por corantes usados na rotina dos laboratórios

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