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Informativo 610-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios.
DIREITO CIVIL
DÍVIDA DE JOGO
É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior.
POSSE
Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço contratado.
COMPRA E VENDA
Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao abatimento do preço.
TESTAMENTO
Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras e ainda que não tenha
sido feito o registro da condição de cego no instrumento.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições de exames.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES
Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo, não terá direito de receber os
lucros da companhia.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária até a data do pedido de
recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa.
O fato da empresa se encontrar em recuperação judicial não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira.
EXECUÇÃO FISCAL
Alienante do imóvel continua responsável pelos débitos tributários cujo fato gerador ocorreram antes da alienação.
DIREITO PENAL
FALSIDADE IDEOLÓGICA
Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica.
LEI DE DROGAS
Súmula 587-STJ.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
Súmula 590-STJ.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A verba relativa a “quebra de caixa” possui natureza salarial e sobre ela incide contribuição previdenciária.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Associação de Municípios não pode ajuizar ação para tutelar direitos dos Municípios
Diversos Municípios ingressaram com ações contra a União alegando que o valor repassado pelo ente
federal por aluno ficou abaixo daquilo que a legislação determinava.
Até aí, tudo bem. Estas ações tramitam (ou tramitaram) normalmente.
O ponto interessante que eu gostaria de chamar a atenção foi o seguinte: a Associação dos Municípios e
Prefeitos do Estado do Ceará – APRECE, com o objetivo de facilitar a situação para os Municípios cearenses,
decidiu ingressar, como representante processual, com ação contra a União, objetivando a condenação
desta à complementação dos valores do FUNDEF. Em outras palavras, a referida associação falou: meus
associados (Municípios) foram prejudicados pelos repasses da União abaixo do valor previsto na lei. Logo,
eu quero a condenação da União a pagar os valores corretos em favor de cada um dos Municípios
prejudicados.
Este pedido pode ser conhecido? A referida associação possui legitimidade para defender, em juízo, os
direitos dos Municípios associados?
NÃO.
Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade ativa para tutelar em juízo direitos e
interesses das pessoas jurídicas de direito público.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/6/2017 (Info 610).
No caso concreto, inclusive, havia termo de adesão assinado pelos Prefeitos dos Municípios concordando
com a propositura a ação, o que configura a autorização exigida pelo art. 5º, XXI, da CF/88.
Portanto, não é possível que essa regra expressa seja alterada para que a representação se faça por
associação de municípios.
A representação do ente municipal não pode ser exercida por associação de direito privado, haja vista que
se submete às normas de direito público. Assim sendo, não se pode admitir que haja uma delegação para
que uma pessoa jurídica de direito privado (associação) possa tutelar interesses de pessoa jurídica de
direito público (Município).
Em qualquer tipo de ação, permitir que os Municípios sejam representados por associações equivaleria a
autorizar que eles dispusessem de uma série de privilégios materiais e processuais estabelecidos pela lei
em seu favor. E, como esses privilégios visam a tutelar o interesse público, não há como os Munícipios
disporem deles ajuizando suas ações por meio de associações, pois o interesse público é indisponível.
Prova emprestada
Em regra, a prova que será utilizada pelas partes e pelo juiz no processo é produzida dentro do próprio
processo.
É possível, no entanto, que uma prova que foi produzida em um processo seja levada (“transportada”)
para ser utilizada em outro processo. A isso a doutrina chama de “prova emprestada”.
“Prova emprestada é a prova de um fato, produzida em um processo, seja por documentos, testemunhas,
confissão, depoimento pessoal ou exame pericial, que é trasladada para outro processo sob a forma
documental.” (DIDIER JR. Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil.
Vol. 2. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 52).
“A utilização de prova já produzida em outro processo responde aos anseios de economia processual,
dispensando a produção de prova já existente, e também da busca da verdade possível, em especial
quando é impossível produzir novamente a prova.” (NEVES, Daniel Assumpção. Manual de Direito
Processual Civil. São Paulo: Método, 2013, p. 430).
Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha transitado em
julgado?
SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente
produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal não
repercute na instância administrativa, tendo em vista a independência existente entre as instâncias (STJ.
2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013. Info 521).
Fases do PAD
O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases:
I — instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
II — inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;
III — julgamento.
Excesso de prazo
Tanto o STJ como o STF entendem que o excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo
disciplinar não gera, por si só, qualquer nulidade no feito.
O excesso de prazo só tem a força de invalidar o processo administrativo se ficar comprovado que houve
fundado e evidenciado prejuízo à defesa do servidor.
Se não há prejuízo, não há razão para se declarar a nulidade do processo. É a aplicação do princípio do pas
de nullité sans grief (não há nulidade sem prejuízo).
No âmbito federal, a Lei nº 8.112/91 é expressa nesse sentido:
Art. 169 (...)
§ 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do processo.
Obs: a súmula 592 aplica-se não apenas para processos administrativos disciplinares de servidores
públicos federais, mas também para servidores estaduais e municipais.
DIREITO CIVIL
DÍVIDA DE JOGO
É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de jogo contraídas no exterior
Importante!!!
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no
exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a
soberania nacional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610).
João pegou o equivalente a 500 mil dólares em fichas, assinando as respectivas promissórias.
Depois de dois dias jogando, o brasileiro perdeu tudo.
Ele voltou para o Brasil sem pagar pelas fichas que adquiriu.
O cassino ingressou, então, com ação de cobrança na vara cível de São Paulo, local onde mora o réu,
pedindo o pagamento de quase R$ 2 milhões, valor atualizado do débito.
João contestou a ação alegando que o pedido é juridicamente impossível considerando que o
ordenamento brasileiro proíbe a cobrança de dívidas de jogo.
O argumento do réu foi acolhido pelo STJ? A ação deve ser julgada extinta sem resolução do mérito pela
impossibilidade jurídica do pedido?
NÃO.
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é
juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/6/2017 (Info 610).
O jogo explorado por cassinos é proibido pela legislação brasileira, sendo, no entanto, lícito em diversos
estados americanos, como é o caso de Nevada, onde se situa Las Vegas.
A questão a ser debatida, então, diz respeito à possibilidade de cobrança judicial de dívida de jogo
contraída por um brasileiro em um cassino que funciona legalmente no exterior. O STJ entendeu que é
possível. Vamos entender com calma.
Assim, a lei material aplicável ao caso é a norte-americana, mais especificamente a do Estado de Nevada.
Para obrigação constituída no exterior poder ser exigida em nosso país, deve-se respeitar a soberania
nacional, a ordem pública e os bons costumes
Vale ressaltar que a lei estrangeira somente pode produzir eficácia jurídica no Brasil se não ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Em outras palavras, mesmo tendo a obrigação
se constituído no exterior, esta obrigação somente será exigível em nosso país se não violar estes valores.
Isso é o que estabelece o art. 17 da LINDB:
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não
terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.
Dessa feita, a possibilidade (ou não) de cobrança de dívida de jogo contraída no exterior está diretamente
relacionada com os valores mencionados no referido art. 17.
A pergunta que surge, então, é a seguinte: cobrar dívida de jogo contraída no exterior viola a soberania
nacional, ordem pública e bons costumes?
NÃO. Vejamos.
Soberania nacional
A cobrança de dívida de jogo ocorrida no exterior não ofende a soberania nacional. Ora, a concessão de
validade a negócio jurídico realizado no estrangeiro não retira o poder do Brasil em relação ao seu
território nem cria nenhuma forma de dependência ou subordinação a outros Estados soberanos.
Ordem pública
A ordem pública é conceito mutável, relacionado com a moral e com a ordem jurídica vigente em dado
momento histórico. Não se trata de uma noção rígida, mas de um critério que deve ser revisto conforme
a evolução da sociedade.
Existem atualmente no Brasil diversos jogos de azar legalizados, os quais em nada se diferenciam dos jogos
estimulados nos cassinos.
Não há, portanto, uma absoluta incompatibilidade entre a lei do Estado de Nevada, que autoriza os
cassinos supervisionados pelo Estado, com a ordem jurídica vigente no Brasil.
Vale ressaltar que o Brasil pune como contravenção penal a exploração de jogos não legalizados (art. 50).
Ocorre que os cassinos no Estado de Nevada são jogos legalizados, de forma que não se enquadram na Lei
de Contravenções Penais.
Bons costumes
O meio social e o ordenamento jurídico brasileiros não consideram atentatórios aos bons costumes os
jogos de azar. Isso se mostra pelo fato de que diversos deles são autorizados no Brasil, como loterias,
raspadinhas, sorteios e corridas de cavalo.
Além disso, o próprio art. 814 do CC, em sua parte final, afirma que não se pode recobrar a quantia que
voluntariamente se pagou a título de dívida de jogo ou aposta. Ora, se fosse contrário aos bons costumes,
não haveria essa regra de irrepetibilidade.
Dessa forma, cobrar dívida de jogo contraída no exterior não viola a soberania nacional, ordem pública e
bons costumes.
COMPRA E VENDA
Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao abatimento do preço
O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura
de imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a
destinação e impede a diminuição do valor –, afasta o pleito de abatimento do preço.
João comprou apartamento no último andar do edifício, estando previsto no contrato que ele
poderia fazer construções na cobertura. Por ter comprado a cobertura, ele pagou 25% a mais.
Ocorre que, depois que o prédio ficou pronto, João não pode realizar nenhuma construção na
cobertura porque isso foi negado pelo Município sob o argumento de que o prédio já teria
alcançado o limite máximo de altura previsto para aquela localidade. Diante disso, João
ajuizou ação de abatimento de preço contra a construtora. Três anos após o ajuizamento,
houve uma mudança nas regras municipais e o limite de altura dos prédios naquela localidade
aumentou. Com isso, passou a ser permitido que ele construísse na cobertura. João não terá
mais direito ao abatimento do preço.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/8/2017 (Info 610).
Neste caso concreto, João terá direito ao abatimento do preço? Deverá haver o abatimento do preço do
imóvel que, apesar de vendido com direito de uso, gozo e fruição da área de “laje” na cobertura, tal
direito só veio realmente a existir após autorização legislativa anos depois da compra?
NÃO. Como houve a regularização do problema, João não terá mais direito ao abatimento do preço.
Segundo decidiu o STJ:
O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura de
imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a
destinação e impede a diminuição do valor –, afasta o pleito de abatimento do preço.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/8/2017 (Info 610).
No final das contas, o consumidor ficou com o imóvel na forma como ele o adquiriu
Não há direito ao abatimento do preço porque o consumidor acabou recebendo o seu imóvel nos exatos
moldes em que fora pactuado.
Apesar de realmente ter havido um vício oculto inicial, a coisa acabou por não ficar nem imprópria para o
consumo, nem teve o seu valor diminuído, justamente em razão da sanatória posterior, que permitiu a
construção do gabarito nos termos em que contratado.
Assim, realmente, perde fundamento o pedido de abatimento considerando que a coisa não perdeu seu
valor, já que foi recebida em sua totalidade.
POSSE
Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço contratado
Importante!!!
Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode
reter o bem por falta de pagamento do serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017 (Info 610).
Luiz poderia ter feito isso? É possível reter o veículo na oficina até que haja o pagamento do serviço?
NÃO.
Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, não pode reter o
bem por falta de pagamento do serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/8/2017 (Info 610).
O direito de retenção é uma das raras hipóteses de autotutela permitidas no ordenamento jurídico pátrio,
em que o particular pode exercer pessoalmente a tutela de seus interesses, sem a necessidade da
intervenção do Estado-Juiz.
Por se tratar de medida excepcionalíssima, o direito de retenção somente pode ser exercido nos estritos
termos da lei.
Pela simples leitura do art. 1.219, percebe-se que o direito de retenção somente pode ser exercido pelo
possuidor de boa-fé.
No caso concreto, a oficina mecânica em nenhum momento exerceu a posse do bem. É incontroverso que
o veículo foi deixado na empresa pelo proprietário somente para a realização de reparos. Isso não conferiu
posse à oficina, pois esta jamais poderia exercer poderes inerentes à propriedade do bem, relativos à sua
fruição ou mesmo inerentes ao referido direito real (propriedade), nos termos do art. 1.196 do Código
Civil.
Dessa forma, a oficina teve somente a detenção do bem, que ficou sob sua custódia por determinação e
liberalidade do proprietário, que, em princípio, teria anuído com a realização do serviço.
Assim, a posse do veículo não foi transferida para a oficina, que jamais a exerceu em nome próprio, mas
sim em nome de outrem, cumprindo determinações do proprietário do bem, numa espécie de vínculo de
subordinação.
Em suma, a oficina não poderia exercer o direito de retenção sob a alegação da realização de benfeitoria
no veículo, pois, nos termos do art. 1.219 do Código Civil, tal providência é permitida ao possuidor de boa-
fé, mas não ao mero detentor do bem.
Qual a ação judicial que deverá ser proposta pelo proprietário do carro?
Ação de reintegração de posse.
Importante!!!
A EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata da
separação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604).
EC 66/2010
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88,
suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio.
A EC 66/2010 retirou do texto da CF/88 a referência expressa à existência de separação judicial. Compare
as duas redações:
Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art. 1.571, III, do CC (que
menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente revogado. Em outras palavras, o
constituinte reformador tirou da Constituição a separação, mas ela ainda continua presente no Código
Civil. Diante disso, surgiram duas correntes:
Considerando que o divórcio e a separação ainda coexistem no ordenamento jurídico, qual é a diferença
entre eles?
Separação (judicial ou extrajudicial) Divórcio
A separação é modalidade de extinção da É forma de dissolução do vínculo conjugal e
sociedade conjugal, pondo fim aos deveres de extingue o próprio vínculo conjugal, pondo termo
coabitação e fidelidade, bem como ao regime de ao casamento, refletindo diretamente sobre o
bens (art. 1.571, III, do Código Civil) sem, no estado civil da pessoa e permitindo que os ex-
entanto, dissolver o casamento. cônjuges celebrem novo casamento, o que não
ocorre com a separação.
TESTAMENTO
Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas duas leituras
e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no instrumento
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito
por pessoa cega. Exige-se:
a) que o testamento seja público;
a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma);
b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego.
Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um
testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve
apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas.
Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de cego do
testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade.
O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda
leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua
nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do testador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
Espécies
Quanto à forma, os testamentos podem ser classificados em ordinários e especiais:
ORDINÁRIOS (COMUNS, VULGARES) ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS)
São aqueles elaborados em condições normais, São aqueles elaborados em situação de
isto é, sem qualquer situação que possa implicar anormalidade.
vício na vontade.
Espécies de testamento ordinário: Espécies de testamento extraordinário:
a) testamento público; a) testamento marítimo;
b) testamento cerrado (místico); b) testamento aeronáutico;
c) testamento particular (hológrafo). c) testamento militar.
Testamento público
O testamento público (também chamado de aberto) é aquele no qual o testador faz as suas declarações
de última vontade perante o tabelião de notas (ou seu substituto legal) ou o agente consular, na presença
de duas testemunhas, devendo a autoridade lavrar (redigir) o testamento e registrá-lo em livro próprio.
2) depois que o tabelião terminar de lavrar (escrever) o instrumento, ele deverá ser lido em voz alta pelo
tabelião para o testador e para as duas testemunhas, a um só tempo. O testador poderá também preferir
ler ele próprio em voz alta na presença das testemunhas e do oficial do tabelionato.
3) depois da leitura, o instrumento deverá ser assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.
4) Se o testador não souber assinar (ex: analfabeto) ou não puder (ex: sofre de alguma doença que o
impede), quem assinará pelo testador será uma das testemunhas instrumentárias (art. 1.865).
Cego fez testamento público, mas houve apenas uma leitura e não se declarou que o testador era cego
O Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de testamento feito por pessoa cega:
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.
Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer um testamento público.
O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião. Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta
pelo tabelião na presença do testador e de duas testemunhas. Além disso, não houve expressa menção
no corpo do documento da condição de cego do testador.
Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade, mantendo válidas as declarações do testador.
O testamento deve ser mantido, mesmo que descumprida alguma formalidade, desde que esteja
demonstrado que o instrumento reproduz a manifestação de vontade do testador. Isso porque as
formalidades foram pensadas pelo legislador com uma única finalidade: garantir a vontade do testador.
Se esta foi garantida, cumpriu-se a finalidade da norma.
O testamento possui três pressupostos que são essenciais (indispensáveis):
a) capacidade do testador;
b) respeito aos limites do que o testador poderia;
c) lídima declaração de vontade.
Estando presentes esses três pressupostos básicos, entende-se que a ausência de umas das outras
formalidades exigidas por lei, pode e deve ser superada com o objetivo de se preservar a vontade do
testador.
Em suma:
O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público – segunda leitura e
expressa menção no corpo do documento da condição de cego – não gera a sua nulidade se mantida a
higidez da manifestação de vontade do testador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
Cumprimento do testamento
Quando há o falecimento do testador, é necessário que o testamento público seja levado a juízo para que
seja determinado o seu registro e cumprimento. Este procedimento é previsto no art. 736 do CPC/2015:
Art. 736. Qualquer interessado, exibindo o traslado ou a certidão de testamento público, poderá
requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento, observando-se, no que couber, o disposto nos
parágrafos do art. 735.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Plano de saúde pode exigir dos médicos que indiquem a CID nas requisições de exames
O que é a CID?
CID é a denominação comumente dada à Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde, confeccionada pela Organização Mundial de Saúde, tendo a importante função
de codificar a classificação de doenças e sintomas e sendo uma ferramenta de diagnósticos padrão para
epidemiologia, gestão de saúde e propósitos clínicos, incluindo a análise da situação geral de saúde dos
grupos populacionais.
CID é necessária para que o plano verifique se a doença possui cobertura contratual
A exigência de menção da CID nas requisições de exames e demais serviços de saúde decorre do fato de
que as operadoras de planos de saúde estão obrigadas a prestar apenas os serviços previstos no contrato.
Logo, é importante essa informação para que os pagamentos e as requisições de exames não se voltem
para tratamentos que ultrapassem as obrigações contratuais do plano de saúde. Isso porque o contrato
de plano de saúde “pode limitar as doenças a serem cobertas”, conforme já decidiu o STJ. 4ª Turma. AgRg
no Ag 1355252/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2014.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES
Se o indivíduo não é mais acionista no momento do ato de declaração do dividendo,
não terá direito de receber os lucros da companhia
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o
exercício financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação
de suas ações, em data anterior ao ato de declaração do benefício.
Fundamento jurídico: art. 205 da Lei nº 6.404/76.
Ex: o indivíduo possuía 40 mil ações ordinárias da sociedade anônima. Em fev/2015, ele
vendeu suas ações. Em abril/2015, a S.A. realizou Assembleia Geral Ordinária e deliberou
pagar aos acionistas da companhia os dividendos apurados no ano anterior (2014). Este
indivíduo não terá direito ao pagamento porque na data do ato de declaração do dividendo
(data da Assembleia), ele já não mais fazia parte do quadro de acionistas da Companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610).
O pedido de João foi acolhido pelo STJ? Ele terá direito de receber os dividendos?
NÃO.
Não faz jus ao recebimento de dividendos o sócio que manteve essa condição durante o exercício
financeiro sobre o qual é apurado o lucro, mas se desliga da empresa, por alienação de suas ações, em
data anterior ao ato de declaração do benefício.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.281-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/8/2017 (Info 610).
A solução para essa controvérsia encontra-se no caput do art. 205 da Lei nº 6.404/76, que preconiza:
Art. 205. A companhia pagará o dividendo de ações nominativas à pessoa que, na data do ato de
declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação.
O autor vendeu suas ações em fevereiro de 2015. O ato de declaração do dividendo ocorreu em abril de
2015 (data em que foi realizada a Assembleia Geral Ordinária). Neste momento, o autor já não mais fazia
parte do quadro de acionistas da Companhia. Logo, ele realmente não tinha mais direito aos dividendos.
O simples fato de o autor possuir as ações no período do exercício a que correspondem os dividendos,
não faz com que ele tenha direito aos dividendos considerando que existe regra expressa no art. 205
exigindo que a pessoa esteja inscrita como proprietária ou usufrutuária na data do ato de declaração do
dividendo.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A habilitação de crédito deverá limitar a incidência de juros de mora e correção monetária até a
data do pedido de recuperação judicial mesmo que a sentença diga de forma diversa
Recuperação judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
Fases da recuperação
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
a) Postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
Vale ressaltar que o termo final da incidência dos juros e correção monetária é a data do pedido de
recuperação judicial.
Isso significa dizer que todos os créditos serão necessariamente atualizados até a data do pedido de
recuperação judicial. A partir de então, poderá o plano deliberar modificação das condições originalmente
contratadas, impedindo a fluência de juros e correção monetária após o requerimento de recuperação
judicial.
Não ofende a coisa julgada a decisão de habilitação de crédito que limita a incidência de juros de mora
e correção monetária, delineados em sentença condenatória de reparação civil, até a data do pedido de
recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.662.793-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/8/2017 (Info 610).
O art. 9º, II, da Lei de Falências afirma expressamente que a atualização do valor do crédito habilitado
deverá ocorrer até a data do pedido de recuperação judicial.
Todos os créditos devem ser tratados de maneira igualitária, sejam eles fundados em título judicial ou
extrajudicial, sempre com vistas à formação harmoniosa do quadro geral de credores e sua desejável
realização prática a viabilizar o soerguimento da empresa. Assim, todos os créditos deverão respeitar a
regra do art. 9º, II.
Além disso, o art. 49, §2º, da Lei de Falências estabelece que “as obrigações anteriores à recuperação
judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz
respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.”
Em habilitação de créditos na recuperação judicial, aceitar a incidência de juros de mora e correção
monetária em data posterior ao pedido da recuperação judicial implica negativa de vigência ao art. 9º, II,
da Lei de Falências. Esse entendimento não representa violação da coisa julgada, significando apenas que
está sendo feito um “exercício de interpretação normativa própria da matriz axiológica que norteia o
instituto da recuperação judicial” (Min. Nancy Andrighi).
Deve-se lembrar, por fim, que o art. 59 da Lei de Falências dispõe que “o plano de recuperação judicial
implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos”.
A novação do crédito, oriundo de sentença condenatória por reparação civil, permite o ajuste do cálculo
da dívida na recuperação, sem que isso implique violação da coisa julgada, pois a execução seguirá as
condições pactuadas na novação e não na obrigação extinta.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
O fato de a empresa se encontrar em recuperação judicial
não obsta a homologação de sentença arbitral estrangeira
Regulamentação
A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei nº 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC
versando sobre o tema.
Convenção de arbitragem
As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de
arbitragem (art. 3º).
Convenção de arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
• a cláusula compromissória e
• o compromisso arbitral.
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste
contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil
brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de
Arbitragem)."
§ 2º Não sendo acolhida a arguição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de
vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual
propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei.
Qual é a exigência para que uma sentença arbitral estrangeira produza efeitos no Brasil?
Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à
homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 35 da Lei nº 9.307/96).
Essa homologação segue o mesmo procedimento adotado para homologação das demais sentenças
estrangeiras.
O processo de homologação de sentença estrangeira tem natureza constitutiva e tem por objetivo conferir
eficácia jurídica, no Brasil, a um provimento jurisdicional alienígena (“sentença estrangeira”). Isso é feito
a fim de permitir que a decisão possa vir a ser executada em nosso país.
Dessa forma, a homologação é um pressuposto lógico da execução da decisão estrangeira, não se
confundindo com o próprio processo de execução, o qual será instaurado posteriormente, se for o caso.
Em outras palavras, homologação de sentença estrangeira não é execução do crédito. Trata-se de
providência necessária para, no futuro, o credor pedir a execução do crédito.
Em virtude disso, o simples fato de a empresa estar em recuperação judicial não faz com que seja proibida
a homologação da sentença estrangeira porque não haverá, ainda, qualquer ato de constrição do
patrimônio do devedor. Por essa razão, o processo de homologação de sentença estrangeira em face da
empresa recuperanda não atrapalha o princípio da preservação da empresa, que é o grande objetivo da
recuperação judicial.
Não se aplica, no caso, a suspensão de que trata o art. 6º, § 4º da Lei nº 11.101/2005 (Na recuperação
judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo
improrrogável de 180 dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-
se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções,
independentemente de pronunciamento judicial)?
NÃO. Não se aplica o art. 6º, § 4º, da Lei de Falências como óbice à homologação da sentença arbitral,
uma vez que se está em fase antecedente à execução, apenas emprestando eficácia jurídica ao provimento
homologando. Logo, o pedido de homologação não se enquadra no conceito de “ações” ou “execuções”
de que trata o art. 6º, § 4º.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA
Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite Resp sob a alegação de
que o mérito do acórdão impugnado está em sintonia com o entendimento do STJ
Cabem embargos de divergência no âmbito de agravo que não admite recurso especial com
base na Súmula 83/STJ para dizer que, no mérito, o acórdão impugnado estaria em sintonia
com o entendimento firmado por esta Corte Superior.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 200.299-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/8/2017 (Info 610).
Embargos de divergência
Os embargos de divergência são um recurso previsto nos arts. 1.043 e 1.044 do CPC/2015, bem como nos
regimentos internos do STF e do STJ.
Este recurso possui dois objetivos:
1) Obter a reforma ou anulação do acórdão embargado;
2) Uniformizar a jurisprudência interna do STF e do STJ, evitando que prevaleçam decisões conflitantes.
Só cabem os embargos de divergência contra decisão de:
• órgão fracionário do STJ (turma ou seção) em julgamento de Recurso especial;
• órgão fracionário do STF (turma) em julgamento de Recurso extraordinário.
A decisão do órgão fracionário do STJ deve ter sido divergente em relação ao julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal (STJ).
A decisão do órgão fracionário do STF deve ter sido divergente em relação ao julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal (STF).
Ao propor este recurso, o recorrente deverá realizar uma comparação entre o acórdão recorrido e um
acórdão paradigma do mesmo Tribunal provando que o acórdão recorrido foi divergente do acórdão
paradigma.
Decisão monocrática
Chegando o processo no STJ, foi sorteado um Ministro Relator e este, monocraticamente, negou
seguimento ao Resp alegando que o pleito do recorrente era manifestamente contrário à jurisprudência
do STJ. A decisão monocrática foi baseada Súmula 83 do STJ:
Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.
Embargos de divergência
Contra o acórdão da 1ª Turma do STJ, João apresentou embargos de divergência argumentando que a 2ª
Turma do STJ entende que é devida a gratificação X para os servidores públicos federais.
A União apresentou contrarrazões dizendo que os embargos de divergência não deveriam ser conhecidos,
aplicando-se o raciocínio contido na súmula 315 do STJ:
Súmula 315-STJ: Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento que não
admite recurso especial.
Neste caso, no agravo que manteve a decisão monocrática houve verdadeiro exame do mérito do recurso
especial, tendo o acórdão da 1ª Turma considerado que os servidores públicos não têm direito à
gratificação X.
Os precedentes que deram origem à súmula 315 do STJ referem-se acerca do não cabimento de embargos
de divergência em sede de agravo de instrumento no recurso especial (atual agravo em recurso especial)
quando o acórdão embargado não tivesse examinado o mérito do recurso especial, limitando-se a obstar
o seu seguimento em razão da existência de óbices de admissibilidade.
Em outras palavras, a súmula 315-STJ aplica-se a situações em que no julgamento do agravo não se
apreciou o mérito do recurso especial. Por outro lado, se o mérito foi examinado, não é o caso de incidir
a súmula, cabendo, portanto, os embargos de divergência.
Desse modo, o óbice da súmula 315-STJ aplica-se apenas naqueles casos em que a parte quer apresentar
embargos de divergência para rediscutir pressupostos de conhecimento do recurso especial. Isso porque
os embargos de divergência têm por finalidade exclusiva a uniformização da jurisprudência interna do
Tribunal quanto à interpretação do direito em tese, não servindo para discutir o acerto ou desacerto na
aplicação das regras formais de conhecimento do Resp.
Nos casos em que o acórdão embargado nega seguimento ao Resp com base na Súmula 83-STJ, o que o
acórdão faz é examinar o mérito da controvérsia recursal. Logo, repito, tendo sido examinado o mérito do
recurso, é cabível a interposição de embargos de divergência.
EXECUÇÃO FISCAL
Alienante do imóvel continua responsável pelos débitos tributários
cujo fato gerador ocorreram antes da alienação
O alienante possui legitimidade passiva para figurar em ação de execução fiscal de débitos
constituídos em momento anterior à alienação voluntária de imóvel.
Ex: em 01/01/2015, data do fato gerador do IPTU, João era proprietário de um imóvel; alguns
meses mais tarde ele aliena para terceiro; Município poderá ajuizar execução fiscal contra
João cobrando IPTU do ano de 2015.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 942.940-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
O fato gerador do IPTU ocorreu em 01/01/2015 e, nesta data, João ainda era o proprietário da casa. Assim,
o fato gerador do imposto se deu antes da alienação do imóvel.
A correta interpretação do art. 130 do CTN, combinada com a característica não excludente do parágrafo
único, permite concluir que o objetivo do texto legal não é desresponsabilizar o alienante, mas sim a de
responsabilizar o adquirente na mesma obrigação do devedor original. Trata-se, portanto, de
responsabilidade solidária, reforçativa e cumulativa sobre a dívida, em que o sucessor no imóvel adquirido
se coloca ao lado do devedor primitivo, sem a liberação ou desoneração deste.
A responsabilidade do art. 130 do CTN está inserida ao lado de outros dispositivos (arts. 129 a 133 do
CTN), que veiculam distintas hipóteses de responsabilidade por sucessão, e localizada no mesmo capítulo
do CTN que trata da responsabilidade tributária de terceiros (arts. 134 e 135) e da responsabilidade por
infração (arts. 136 a 138). O que há em comum a todos os casos de responsabilidade tributária previstos
no CTN é o fim a que ordinariamente se destinam, no sentido de propiciar maior praticidade e segurança
ao crédito fiscal, em reforço à garantia de cumprimento da obrigação com a tônica de proteção do erário.
O STJ tem entendido que os arts. 132 e 133 do CTN consagram responsabilidade tributária solidária, por
sucessão, e o art. 135 ventila hipótese de responsabilidade de caráter solidário, por transferência. Assim,
a interpretação sistemática do art. 130 com os demais dispositivos que tratam da responsabilidade
tributária no CTN corrobora a conclusão de que a sub-rogação ali prevista tem caráter solidário, aditivo,
cumulativo, reforçativo e não excludente da responsabilidade do alienante, cabendo ao credor escolher o
acervo patrimonial que melhor satisfaça o débito cobrado a partir dos vínculos distintos.
DIREITO PENAL
FALSIDADE IDEOLÓGICA
Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica
Importante!!!
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a realidade.
Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque:
1) currículo Lattes não é considerado documento por ser eletrônico e não ter assinatura
digital;
2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de falsidade
ideológica. Quando o documento é passível de averiguação, o STJ entende que não há crime de
falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele inserido informações falsas.
STJ. 6ª Turma. RHC 81.451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/8/2017 (Info 610).
Currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto material de falsidade ideológica
O STJ foi além e disse o seguinte: ainda que o currículo Lattes pudesse ser considerado um documento
digital válido para fins penais, mesmo assim não teria havido crime. Isso porque, como qualquer currículo,
seja clássico (papel escrito) ou digital, o currículo Lattes é passível de averiguação, ou seja, as informações
nele contidas deverão ser objeto de aferição por quem nelas tenha interesse.
Quando o documento é passível de averiguação, o STJ entende que não há crime de falsidade ideológica,
mesmo que o agente tenha inserido nele informações falsas. Nesse sentido:
(...) Já se sedimentou na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que a petição apresentada em
Juízo não caracteriza documento para fins penais, uma vez que não é capaz de produzir prova por si
mesma, dependendo de outras verificações para que sua fidelidade seja atestada. (...)
STJ. 5ª Turma. RHC 70.596/MS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 01/09/2016.
(...) somente se configura o crime de falsidade ideológica se a declaração prestada não estiver sujeita a
confirmação pela parte interessada, gozando, portanto, de presunção absoluta de veracidade. (...)
STJ. 6ª Turma. RHC 46.569/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 28/04/2015.
LEI DE DROGAS
Para a configuração do tráfico interestadual de drogas (art. 40, V, da
Lei nº 11.343/2006), não se exige a efetiva transposição da fronteira
Súmula 587-STJ: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é
desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo
suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017.
Quando caracterizado o tráfico entre estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal, o réu
deverá sofrer uma sanção maior do que aquele que, por exemplo, vende entorpecente a um usuário local.
Isso está de acordo com o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da CF/88).
A defesa alegou que o agente não chegou a atravessar a fronteira de nenhum Estado, de forma que não
houve tráfico "entre Estados da Federação". Logo, não deveria incidir a causa de aumento do inciso V.
Essa tese é aceita pela jurisprudência? Para incidir essa causa de aumento, é necessário que o agente
atravesse as fronteiras?
NÃO.
Para que incida a causa de aumento de pena prevista no inciso V do art. 40, não se exige a efetiva
transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a
substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).
STJ. 6ª Turma. REsp 1370391/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 03/11/2015.
APROFUNDANDO
O que você estudou acima é o suficiente para entender a súmula 587 do STJ. No entanto, acho importante
alertar sobre um tema correlato: a necessidade de demonstração da intenção do agente de pulverizar a
droga em mais de um Estado para que se caracterize a causa de aumento de pena do art. 40, V, da Lei de
Drogas. Veja abaixo:
Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado
ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.
Voltando ao exemplo
Pablo foi denunciado e condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) com
as causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V):
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços,
se:
A defesa recorreu alegando que não restou provada a interestadualidade prevista no art. 40, V.
Resumindo:
As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito,
previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas
simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a
de pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide
apenas a transnacionalidade.
Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e
da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de
difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter
que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a
interestadualidade.
STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586).
Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/09/2017, DJe 18/09/2017.
Quais são os requisitos cumulativos para a conversão da pena privativa de liberdade em penas
restritivas de direitos?
Estão previstos no art. 44 do CP e podem ser assim resumidos:
1º requisito (objetivo): 2º requisito (subjetivo): 3º requisito (subjetivo):
Natureza do crime e Não ser reincidente A substituição seja
quantum da pena em crime doloso indicada e suficiente
a) Se for crime doloso: Regra: para ter direito, o réu não pode A culpabilidade, os
• a pena aplicada deve ser igual ser reincidente em crime doloso. antecedentes, a conduta social
ou inferior a 4 anos; Exceção: se o condenado for e a personalidade do
• o crime deve ter sido reincidente, o juiz poderá aplicar a condenado, bem como os
cometido sem violência ou substituição, desde que, em face de motivos e as circunstâncias,
grave ameaça a pessoa. condenação anterior, a medida seja indicarem que essa
b) Se for crime culposo: pode socialmente recomendável e a substituição seja suficiente
haver a substituição qualquer reincidência não se tenha operado em (Princípio da suficiência da
que seja a pena aplicada. virtude da prática do mesmo crime. resposta alternativa ao delito).
Se o réu pratica um crime com violência ou grave ameaça, mas se trata de uma infração penal de menor
potencial ofensivo (pena máxima de 2 anos), ele terá direito à substituição da pena?
A doutrina majoritária afirma que sim. Se o agente for condenado por uma infração penal de menor
potencial ofensivo, sua pena privativa de liberdade poderá ser substituída por restritiva de direitos mesmo
que tenha sido cometida com violência ou grave ameaça. Trata-se de exceção ao inciso I do art. 44 do CP.
O argumento utilizado pela doutrina é o de que a Lei nº 9.099/95 (que é posterior ao Código Penal) previu
uma série de medidas despenalizadoras para as infrações penais de menor potencial ofensivo (exs:
transação penal e composição civil). Logo, seria irrazoável e contrário ao espírito da lei não permitir a
aplicação de penas restritivas de direito para tais infrações consideradas de menor gravidade.
Discussão sobre a aplicação das penas restritivas para infrações praticadas no âmbito da violência doméstica
O art. 17 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) prevê o seguinte:
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de
penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que
implique o pagamento isolado de multa.
Veja, portanto, que esse dispositivo proíbe que o juiz aplique as seguintes penas restritivas de direitos à
pessoa que praticou violência doméstica e familiar contra a mulher:
• Pena de "cesta básica";
• Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 45, §§ 1º e 2º);
• Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).
Diante disso, alguns doutrinadores sustentaram a tese de que o art. 17, ao proibir apenas esses tipos de penas,
teria, a contrario sensu, permitido que fossem aplicadas outras espécies de penas restritivas de direitos.
Essa interpretação foi aceita pela jurisprudência do STJ? É possível a aplicação de penas restritivas de direito
para os crimes cometidos contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico?
NÃO. O STJ pacificou o entendimento de que não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos nos crimes ou contravenções penais cometidos contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico.
O STJ editou a súmula 588 para espelhar essa sua posição consolidada.
Em caso de CONTRAVENÇÕES PENAIS praticadas contra a mulher com violência ou grave ameaça no
ambiente doméstico há uma discordância. Ex: imagine que o marido pratica vias de fato (art. 21 da Lei de
Contravenções Penais) contra a sua esposa; ele poderá ser beneficiado com pena restritiva de direitos?
• STJ e 1ª Turma do STF: NÃO. Não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos tanto no caso de crime como contravenção penal praticados contra a mulher com violência ou
grave ameaça no ambiente doméstico. É o teor da Súmula 588-STJ. A 1ª Turma do STF também comunga
do mesmo entendimento: HC 137888/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 31/10/2017.
• 2ª Turma STF: SIM. Afirma que é possível a conversão da pena privativa de liberdade por restritiva de
direito, nos moldes previstos no art. 17 da Lei Maria da Penha, aos condenados pela prática da
contravenção penal. Isso porque a contravenção penal não está na proibição contida no inciso I do art. 44
do CP, que fala apenas em crime. Logo, não existe proibição no ordenamento jurídico para a aplicação de
pena restritiva de direitos em caso de contravenções. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 131160, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016. Relembre o que diz o inciso I do Código Penal:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
O STJ e a 1ª Turma do STF fazem, portanto, uma ampliação do inciso I do art. 44 do CP para abranger
também os casos de contravenção penal praticados com violência ou grave ameaça (STJ. 6ª Turma. AgRg
no REsp 1607382/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/09/2016). A 2ª Turma do STF não
admite essa ampliação e trabalha com o texto literal do art. 44, I, do CP.
Resumindo:
É possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos nos casos de crimes ou
contravenções praticadas contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico?
1) Crime: NÃO. Posição tanto do STJ como do STF.
2) Contravenção penal:
• 2ª Turma do STF: entende que é possível a substituição.
• 1ª Turma do STF e STJ: afirmam que também não é permitida a substituição.
Em concursos, se o enunciado não estiver fazendo qualquer distinção, fiquem com a posição exposta na
súmula e que também é adotada pela 1ª Turma do STF.
Princípio da insignificância
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”.
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação da
doutrina e da jurisprudência.
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade
material.
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem
jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com
fundamento no art. 386, III do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.
O princípio da insignificância pode ser aplicado aos delitos praticados em situação de violência doméstica?
NÃO. Não se aplica o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a
mulher no âmbito das relações domésticas.
Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva ofensividade, periculosidade
social, reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e
devem submeter-se ao direito penal.
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes e contravenções
praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a
relevância penal da conduta.
Precedentes nesse sentido:
STJ. 5ª Turma. HC 333.195/MS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 12/04/2016.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 318.849/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/10/2015.
STF. 2ª Turma. RHC 133043/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso do processo
criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio da bagatela imprópria”. Essa
tese é aceita pelos Tribunais Superiores?
NÃO. Assim como ocorre com o princípio da insignificância, também não se admite a aplicação do princípio
da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais praticados contra mulher no âmbito das
relações domésticas, tendo em vista a relevância do bem jurídico tutelado (STJ. 6ª Turma. AgInt no HC
369.673/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 14/02/2017).
O fato de o casal ter se reconciliado ou de a vítima ter perdoado não importará na absolvição do réu. Nesse
sentido:
O princípio da bagatela imprópria não tem aplicação aos delitos praticados com violência à pessoa, no
âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal da conduta, não implicando a reconciliação do
casal em desnecessidade da pena.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1463975/MS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 09/08/2016.
desnecessária. No princípio havia desvalor da ação e do resultado. Mas depois, em razão da reparação dos
danos (circunstância post-factum), torna-se desnecessária a pena.
• Pagamento do tributo nos crimes tributários;
• Colaboradores da justiça (delator etc.) quando o juiz deixa de aplicar a pena.
Portanto, nem o princípio da insignificância nem o princípio da bagatela imprópria são aplicados aos
crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
A súmula 589 do STJ deixou isso expresso quanto ao princípio da insignificância.
TRIBUNAL DO JÚRI
Documento ou objeto somente pode ser lido ou exibido no júri se a parte adversa
tiver sido cientificada de sua juntada com até 3 dias úteis de antecedência
Importante!!!
Segundo o art. 479 do CPP: “Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento
ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3
(três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte.”
O prazo de 3 dias úteis a que se refere o art. 479 do CPP deve ser respeitado não apenas para
a juntada de documento ou objeto, mas também para a ciência da parte contrária a respeito
de sua utilização no Tribunal do Júri.
Em outras palavras, não só a juntada, mas também a ciência da parte interessada deve ocorrer
até 3 dias úteis antes do início do júri.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.637.288-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 8/8/2017 (Info 610).
Neste caso concreto, o membro do MP poderá ler esse documento durante os debates no júri? Se o
documento foi juntado com 3 dias de antecedência cumpriu-se a exigência do art. 479 do CPP, ainda que
a parte contrária somente seja intimada com menor antecedência (ex: 1 dia antes)? O que interessa é a
juntada aos autos?
NÃO.
O prazo de 3 dias úteis a que se refere o art. 479 do CPP deve ser respeitado não apenas para a juntada
de documento ou objeto, mas também para a ciência da parte contrária a respeito de sua utilização no
Tribunal do Júri.
Em outras palavras, não só a juntada, mas também a ciência da parte interessada deve ocorrer até 3
dias úteis antes do início do júri.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.637.288-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 8/8/2017 (Info 610).
Assim, por exemplo, se o Promotor de Justiça for ler um documento durante os debates no plenário do
júri, ele somente poderá fazer isso se o documento estiver nos autos e a defesa tiver tido ciência da sua
existência com, no mínimo, 3 dias de antecedência. O que interessa é a data da ciência. A ciência é que
deve ter ocorrido no mínimo 3 antes.
A intenção do legislador foi a de garantir o julgamento justo, permitindo a ambas as partes (defesa e
acusação) não só conhecer de documento relevante para o julgamento como também ter tempo hábil
para sobre ele se manifestar. Por essa razão, conclui-se facilmente que o prazo de 3 dias úteis se refere
não apenas à juntada, mas também à ciência.
De nada serviria esta exigência legal se permitíssemos que a ciência se desse apenas, por exemplo, às
vésperas da sessão de julgamento, sem que a parte tivesse tempo suficiente para conhecer a fundo o
documento e colher elementos para, se for o caso, refutá-lo. A lei seria inócua. De nada adianta a exigência
de que o documento seja juntado em tempo razoável se não vier acompanhada da necessidade de que a
parte contrária seja cientificada também em tempo razoável da juntada.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
Liquidação de entidade de previdência e imposto de renda
sobre o valor recebido pelo participante a título de rateio
Previdência complementar
Previdência complementar é um plano de benefícios feito pela pessoa que deseja receber, no futuro,
aposentadoria paga por uma entidade privada de previdência.
A pessoa paga todos os meses uma prestação e este valor é aplicado por uma pessoa jurídica, que é a
entidade gestora do plano (ex: Bradesco Previdência).
É chamada de "complementar" porque normalmente é feita por alguém que já trabalha na iniciativa
privada ou como servidor público e, portanto, já teria direito à aposentadoria pelo INSS ou pelo regime
próprio. Apesar disso, ela resolve fazer a previdência privada como forma de "complementar" a renda no
momento da aposentadoria.
O plano de previdência complementar é prestado por uma pessoa jurídica chamada de "entidade de
previdência complementar" (entidade de previdência privada).
Obs: existem alguns entes públicos que também oferecem plano de previdência privada aos servidores.
Neste caso, este ente público é que será o patrocinador.
A entidade patrocinadora oferece o plano de previdência privada por meio de uma entidade fechada de
previdência privada. Enfim, só existe entidade patrocinadora no caso de plano fechado de previdência privada.
Os benefícios mais comuns que são oferecidos pela previdência complementar fechada são os seguintes:
aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria por invalidez e pensão por morte.
Participante
Participante é a pessoa física que adere ao plano de previdência complementar oferecido por uma
entidade fechada de previdência complementar (EFPC). O participante, para poder aderir a esse plano,
tem que estar vinculado à entidade patrocinadora (ex: ser funcionário do patrocinador).
O valor das contribuições vertidas pelo participante para a entidade de previdência é descontado de seu
salário no momento do pagamento.
Liquidação extrajudicial
As entidades de previdência privada, quando quebram, submetem-se a um processo especial de
“falência”, que não é chamado de falência, mas sim de “liquidação extrajudicial”.
O processo de liquidação extrajudicial das entidades de previdência complementar é regido pela LC
109/2001 e apenas subsidiariamente será aplicada a Lei de Falências.
Veja o que diz a LC 109/2001:
Art. 47. As entidades fechadas não poderão solicitar concordata e não estão sujeitas a falência,
mas somente a liquidação extrajudicial.
Art. 48. A liquidação extrajudicial será decretada quando reconhecida a inviabilidade de
recuperação da entidade de previdência complementar ou pela ausência de condição para seu
funcionamento.
Surgiu, no entanto, uma dúvida: João terá que pagar imposto de renda sobre esse valor recebido?
• Sobre o crédito correspondente ao valor da contribuição que ele aportou à entidade em liquidação (R$
50 mil): NÃO.
• Sobre o crédito que exceder ao referido valor (R$ 30 mil): SIM, considerando que se trata de acréscimo
patrimonial, que é o fato gerador do imposto de renda, nos termos do art. 43, II, do CTN:
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza
tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica:
Assim, sobre o montante restituído ao participante a título de rateio da entidade de previdência privada,
deve incidir o imposto de renda na parte que, porventura, exceder ao valor total das contribuições
realizadas pelo participante, atualizadas monetariamente.
Esse entendimento foi materializado na súmula 590 do STJ, que pode ser assim reescrita:
Em caso de liquidação de entidade de previdência privada, haverá rateio do patrimônio entre os
participantes, cada um recebendo uma quantia proporcional às contribuições que fez. Se o valor recebido
for igual ou menor do que as contribuições que o participante fez, ele não terá que pagar imposto de
renda. Se o valor for maior, ele terá que pagar o imposto sobre a diferença, ou seja, sobre o valor que
exceder o total das contribuições vertidas (atualizadas monetariamente). Isso porque, neste caso, terá
havido acréscimo patrimonial, que é o fato gerador do imposto de renda.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
A verba relativa a “quebra de caixa” possui natureza salarial
e sobre ela incide contribuição previdenciária
A CF/88 determina que os recursos arrecadados com as contribuições previstas no art. 195, I, “a” e II serão
destinados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários do RGPS (administrado pelo INSS).
Em razão disso, a maioria dos autores de Direito Previdenciário denomina as contribuições do art. 195, I,
“a” e II de “contribuições previdenciárias”, como se fossem uma subespécie das contribuições para a
seguridade social. Nesse sentido: Frederico Amado.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
A contribuição previdenciária é uma espécie de tributo, cujo montante arrecadado é destinado ao
pagamento dos benefícios do RGPS (aposentadoria, auxílio-doença, pensão por morte etc.)
Existem duas espécies de contribuição previdenciária:
QUEBRA DE CAIXA
O que é auxílio quebra de caixa?
Existem determinados tipos de empregado que, no exercício de suas atividades na empresa, são
responsáveis pelo controle ou conferência de dinheiro. Trata-se de uma atividade de certa forma
arriscada. Isso porque se o dinheiro que estava sob a sua responsabilidade some, eles terão que repor
essa quantia. É o caso, por exemplo, do operador de caixa bancário, do auxiliar de caixa, do conferente,
do tesoureiro, do cobrador etc.
Algumas vezes o sindicato desses profissionais firma acordos ou convenções coletivas obrigando que as
empresas paguem uma verba mensal aos empregados como forma de compensar esses riscos. Tal verba
é chamada, no Direito do Trabalho, de auxílio quebra de caixa.
Assim, o auxílio quebra de caixa consubstancia-se no pagamento efetuado mês a mês ao empregado como
uma forma de compensar os riscos assumidos pela função exercida que envolve guarda e conferência de
dinheiro.
Vale ressaltar que não existe uma lei obrigando o pagamento do auxílio quebra de caixa, sendo esse
pagamento feito por liberalidade do empregador que aceita, normalmente via acordo ou convenção
coletiva, incorporar essa quantia na remuneração mensal do trabalhador.
Incide contribuição previdenciária sobre o auxílio quebra de caixa pago pelo empregador ao
empregado?
SIM. O STJ entende que o auxílio quebra de caixa tem nítida natureza salarial e integra a remuneração.
Logo, possuindo natureza salarial, conclui-se que esta verba integra a remuneração, razão pela qual incide
contribuição previdenciária.
Deve-se relembrar a seguinte regra:
Tem natureza salarial: INCIDE contribuição previdenciária.
Possui natureza indenizatória: NÃO incide contribuição previdenciária.
Por que o STJ entende que o auxílio quebra de caixa tem natureza salarial? Ele não é uma forma de
compensar os riscos do empregado? Não seria mais correto considerá-lo com natureza indenizatória?
O STJ adota o seguinte critério: se a verba é paga por liberalidade do empregador, ela não pode ser
considerada como sendo de natureza indenizatória. Para o STJ, as verbas de natureza indenizatória são
Informativo 610-STJ (27/09/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 41
Informativo
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obrigatórias. Como o auxílio quebra de caixa não é obrigatório (a empresa poderia ter se recusado a
celebrar o acordo/convenção coletiva), não se pode dizer que ela seja indenizatória.
O TST possui um enunciado sobre o tema:
Súmula 247-TST: A parcela paga aos bancários sob a denominação "quebra de caixa" possui natureza
salarial, integrando o salário do prestador de serviços, para todos os efeitos legais.
QUADRO-RESUMO:
Com base na jurisprudência do STJ, podemos construir a seguinte tabela:
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Associação de Municípios e Prefeitos possui legitimidade ativa para tutelar em juízo direitos e interesses
das pessoas jurídicas de direito público. ( )
2) É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente
autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa. ( )
3) (Juiz TJAM 2016 CESPE) A competência para autorizar a interceptação telefônica é exclusiva do juiz
criminal, caracterizando prova ilícita o aproveitamento da diligência como prova emprestada a ser
utilizada pelo juízo cível ou em processo administrativo. ( )
4) O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar causa nulidade. ( )
5) A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona legalmente no exterior é
juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional. ( )
6) O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de terraço na cobertura de
imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que garante o seu uso de acordo com a destinação
e impede a diminuição do valor –, afasta o pleito de abatimento do preço. ( )
7) Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário, pode reter o bem por
falta de pagamento do serviço. ( )
8) A EC 66/2010 revogou tacitamente a legislação ordinária que trata da separação judicial. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C
11. E 12. C 13. E 14. C 15. E 16. E 17. C 18. C 19. E 20. C
21. C 22. E