É triste ver o Brasil se debater entre as propostas de governo dos candidatos à
presidência e as notícias que enchem os nossos lares de desilusão e tristeza todos os dias, através dos variados meios de comunicação aos quais temos acesso. São bombardeios contínuos de violência, morte, atos inescrupulosos e corruptos que ferem a dignidade humana e os valores de nossa sociedade. A mídia não se cansa de nos mostrar em qual mundo e em que país vivemos, somos um povo corroído pelas mazelas sociais e ponto. Não há para onde fugir, para qualquer lado que se penda, como dizia o meu avô, o bicho está sempre pegando. Tenho amigas que chegaram a me dizer, que não assistem nem lêem jornais porque só tem miséria. Lamentável! Como se não bastassem as desagradáveis, porém bem intencionadas, notícias que somos “obrigados” a receber em nossos lares todo dia, ultimamente o povo brasileiro tem assistido a uma angustiante maratona eleitoral pleiteada não somente pelos presidenciáveis, mas por seus admiradores. Nunca a velha figura de cabo eleitoral foi executada de maneira tão escancarada e paradoxalmente, tão falsamente camuflada. Estou falando das empresas de comunicação de maior poder midiático do país. Nesse primeiro turno, o povo brasileiro agonizou diante dos discursos de jornalismo sério, moral e eticamente não tendencioso que preza pela coerência e pela opinião da maioria dos brasileiros, enquanto as manchetes e as vinhetas solapavam mais, mais e mais notícias e opiniões de caráter visivelmente partidarista. Não faltaram analistas políticos, comentaristas, jornalistas, economistas e toda classe de ‘istas’ fazendo malabarismo para convencer a convicta platéia de que o candidato Y era muito melhor que o candidato X, e que qualquer raciocínio ou opinião diferente era produto de uma muito bem feita lavagem cerebral e que para ver-se livre da suposta política do pão e circo e adentrar ao rol dos intelectuais e inteligentes formadores de opinião, era necessário ouvir mais, ver mais, crer mais e pensar menos. Afinal de contas, o que realmente importar, a gente faz! Não foi assim? E vocês, respeitável público, aplaudam no momento em que a luz indicando “APLAUSOS” se acenda. Bem, caros amigos, lastimosamente tivemos que conviver com o que havia de pior no nosso país durante a campanha eleitoral do primeiro turno, todos os podres havidos e obviamente, por haver; reais e nem tanto assim, foram sacados e sacudidos fortemente pela janela a fim de que fossem levados pelo vento aos quatro cantos do Brasil, como a poeira suja daquele tapete velho que um dia resolvemos tirar e pôr ao sol. Até aí, tudo certo, afinal de contas, todos os brasileiros e brasileiras querem e defendem o ideal de um país mais justo, mais igualitário, mais transparente e sem as traças que correm e corrompem o nosso sistema político. Porém, o que nos inquieta, é o momento em que essa poeira é retirada e a forma como ela é lançada no ar, recheada de ácaros ofensivos, caluniadores e cínicos. Ela surge de maneira tão espessa, tão densa, como um nevoeiro que tenta obstruir a visão de quem vai pelo caminho certo, querendo obrigá-lo a sair da rota e pegar um atalho, que fica até difícil acreditar nela. A poeira aparece oportunamente durante a batalha campal dos candidatos à presidência da república e é soprada Brasil afora por ventos cada vez mais, mais e mais fortes, ajudados, obviamente, por um ou outro transeunte que não deixa de levar na roupa, um pouco dessa sujeira que recebeu da ventania. E é nesse momento, meu caro leitor, que a luz vermelha indicando “APLAUDAM” se acende, pedindo uma salva de palmas, não para o caos do país, mas para a qualidade do vendaval criado; os aplausos são para aqueles que acreditam que nesse momento chegaram ao êxtase de sua criatividade publicitária e que o cidadão comum, que até o começo desse texto era um eleitor convicto e tinha algo de esperança no país, passará a acreditar piamente nesse jornalismo “sério” e “em prol da cidadania”. Os sopradores passaram a ter a convicção de que o cidadão terá que mudar de rumo, se quiser continuar tendo algo de esperança no caminho que percorria. No entanto, o que não se previa, era o fato de que os brasileiros, nestes últimos anos, se modernizaram, muitos passaram a ter aspiradores de pó em suas casas e os que não o possuem, sabem há tempos que nenhuma poeira resiste a um bom balde com água e sabão. Os brasileiros de hoje já não se deixam mais influenciar pela força dos ventos que sopram contra o que eles acreditam que é o melhor para suas famílias e para as suas comunidades. O cidadão de agora reconhece a fragilidade do seu sistema político, reconhece que dentro da cesta de belas e suculentas maças Fugi, há alguns jilós podres, doidos para contaminarem todo o sistema, e muitas vezes o fazem; no entanto, o povo brasileiro não acredita mais em velhas fórmulas políticas fracassadas, que nunca deram resultados e que aparecem, trazidas pelo vento, como se fossem, de uma hora para a outra, a única alternativa justa, viável e confiante. Sempre há uma alternativa fresquinha, porque não dizer, verde. Não foi assim? Felizmente, o Brasil que construímos, a partir de mais inclusão social, de mais cidadania, de menos pobreza e mais igualdade, já não acredita que a opinião pública nasça da opinião publicada exclusivamente; neste ponto, tenho que discordar do meu querido padre Zezinho quando diz que “ a televisão, o rádio e os jornais convencem mais cabeças do que o padre lá no altar”. Talvez o esforçado sacerdote de hoje já não exerça tanta influencia sobre seus fiéis como fazia outrora, contudo, pode apostar que atualmente é mais provável e desejável crer nas reflexões de paz, esperança, união e igualdade proclamadas no púlpito da igreja, que no bombardeio de desilusões e falsas soluções quase impostas pela conhecida mídia de sempre. A prova disso, o Brasil verá no dia 31 de outubro, até lá, esperemos que os ventos se acalmem e que a pauta das campanhas sejam as propostas honestas de melhoria do país, sem o intuito de menosprezar a inteligência do nosso povo nem subestimar a sua capacidade de escolha.