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Anatomia individual dos dentes permanentes anteriores: Incisivos

Estudo dirigido sobre incisivos superiores

Comecemos pelo incisivo central. Segure-o pela raiz, de modo que a coroa
fique para baixo, com a face vestibular de frente para você.

Repare que a coroa é bastante larga, com suas bordas mesial e distal
convergindo para cervical. Em alguns dentes há pouca convergência e as
bordas são quase paralelas. Repare também que a raiz não é longa, mas é
bastante robusta. Ela é pouca coisa maior que a altura da coroa. Outro
detalhe: normalmente a raiz é retilínea, sem (ou com muito pouco) desvio
distal. Pronto; você já fez o primeiro exame do dente pela face vestibular e
já reteve sua forma e contorno na memória. Se quiser fazer um desenho desse
contorno, seu estudo será mais significativo. Vamos agora aos pormenores.

Veja a área do colo e examine os lados mesial e distal da junção cemento-


esmalte (coronorradicular). Perceba que um dos lados é retilíneo e o outro
apresenta uma pequena angulação entre a coroa e a raiz. Responda
mentalmente, que lado é esse? Antes da sua resposta mental, lembre-se que
há uma característica comum a todos os dentes, dentre outras. É aquela
explicada na página 16 do livro Anatomia do Dente, sob a denominação
“Desvio distal da raiz”. Ainda que no incisivo central superior esse desvio
seja mínimo, ele existe e faz com que o longo eixo da raiz não coincida com
o longo eixo da coroa; daí a angulação. Portanto, se você respondeu que isso
ocorre do lado distal está certo.

Passemos a outro detalhe: diferenças entre os lados mesial e distal da coroa.


Um dos lados é mais reto e alto e o outro é mais curvo ou arredondado e
baixo. Isto faz com que a área de contato fique mais próxima de incisal em
um dos lados. Que lado é esse?

Pois é, lembra-se da teoria? Na relação dos “Caracteres anatômicos comuns


a todos os dentes” há dois à página 13, cuja explicação é acompanhada de
desenhos sugestivos (Figs. 1-13, 1-14 e 1-15). Lendo-os novamente você
entenderá melhor que a angulação distal, no encontro da coroa com a raiz do
incisivo central, existe não somente porque há um pequeno desvio distal da
raiz, mas também porque a borda distal da coroa é mais convexa ou abaulada.
Mas, voltando à pergunta, você deve ter respondido mentalmente que a área
de contato mesial é, entre as duas, a que está mais deslocada para incisal e
não para cervical.

Finalmente perceba que o ângulo disto-incisal é mais arredondado que o


mesial, conforme se pode ler no primeiro parágrafo da página 14.

Imagine só, se um dentista inverter a forma dos ângulos mésio-incisal e


disto-incisal! Que maçada! O paciente ficará com o rosto transformado!

Conseguiu ver todos os detalhes lembrados por nós em seus dentes de


estudo? Se a borda incisal dos seus modelos está muito desgastada, é preciso
analisá-la bem pelo lado lingual para tentar distinguir os ângulos formados
com as faces de contato.

Para terminar, vamos para a melhor parte do estudo. Abra o livro à página
59 e examine os sete dentes da fileira do alto da Fig. 2-35. São dentes típicos,
selecionados e fotografados pelo Dr. Horácio Faig Leite, da UNESP de São
José dos Campos. Veja como os dentes são largos, de raízes curtas e retas.
Os dois primeiros mostram, exuberantemente, a diferença entre os ângulos
mésio e disto-incisal. Reconhecendo esses ângulos você pode determinar
com segurança se o dente analisado pertence ao lado direito ou ao lado
esquerdo. A angulação coronorradicular do segundo dente está bem
acentuada, não é mesmo? E se ela está localizada distalmente, está claro que
o dente é direito. Um 11. Enfim, analise bem tudo e dê um diagnóstico, de
acordo com o método de dois dígitos (pág. 6). Ou seja, identifique cada um
dos sete dentes e compare as suas respostas com as respostas dadas à página
78.

Visto o incisivo central, fica mais fácil estudar e entender a forma do incisivo
lateral. Este é menor e tem um aspecto mais esguio afilado, adelgaçado
(mais estreito e alongado) do que o outro. Examinando-o pela face
vestibular, duas características logo saltam à vista: o arredondamento
exagerado do ângulo disto-incisal e a raiz com aspecto delgado, longo, com
seu terço apical deslocado para a distal.

Ainda pelo aspecto vestibular, repetem-se aqui, para o incisivo lateral,


caracteres anatômicos comuns aos dentes permanentes, já descritos, como a
angulação coronorradicular distal, a borda distal mais baixa e mais curva ou
convexa que a mesial.

Volte agora à Fig. 2-35, da página 59, observe os detalhes mencionados, e


tente identificar cada um dos sete dentes da segunda fileira. Cheque com as
respostas da página 78. Faça o mesmo exercício com outros dentes secos,
avulsos, que porventura você tenha ou que pertençam ao Laboratório de
Anatomia ou a seus colegas.

Está na hora de virar o dente e examiná-lo pela lingual.


O contorno lingual é o mesmo do aspecto vestibular porque é o contorno
vestibular que se vê ao fundo, em vista da face lingual da coroa ser mais
estreita. Leia sobre direções convergentes das faces de contato no sentido
horizontal, às páginas 11 e 12, para saber (lembrar?) porque. O mesmo
acontece com a raiz, que também é mais estreita na lingual.

O que mais caracteriza a face lingual do incisivo central é a presença do


cíngulo no terço cervical e da fossa lingual ladeada pelas cristas marginais,
nos terços restantes. Estes elementos arquitetônicos dentais podem ser
sentidos pela ponta da língua.

No limite entre o cíngulo e a fossa lingual não há solução de continuidade.


Normalmente, nenhum sulco, fosseta ou fissura se interpõe nesse limite. O
cíngulo continua-se insensivelmente com a fossa, formando uma curva
suave.

Pegue agora um incisivo lateral superior para comparar a forma da vista


lingual. Além das diferenças de contorno já estudadas na vista vestibular (e
que são as mesmas), notam-se mudanças no cíngulo (mais estreito, menos
volumoso, menos arredondado), nas cristas marginais (mais salientes) e na
fossa lingual (mais profunda). No limite entre o cíngulo e a fossa,
freqüentemente aparece uma depressão em forma de ponto ou uma fosseta,
conhecida como forame cego.

Conseguiu ver tudo isso? Se os seus dentes não têm forame cego, não fique
triste. Muitas vezes eles não se formam. Na Fig. 2-4 aparece um bem
formado, mas na Fig. 2-36, dos sete dentes incisivos laterais, ele só aparece
em quatro.

Aproveite para examinar bem a Fig. 2-36 e faça o exercício de identificação


dos 14 dentes. Confira com as respostas à página 78. Se você acertou 90%
ou mais, está ficando bom nisso! Os incisivos são mais difíceis porque são
os primeiros a serem estudados. Em relação aos outros, depois será mais...
difícil estudá-los porque eles são mais complexos. Brincadeirinha. Mais ou
menos brincadeirinha!

Para terminar o aspecto lingual, note que, no geral, a forma da raiz do


incisivo central é a de um cone, conforme se pode ver nas fotos das páginas
59 e 60 e na Fig. 2- 1. A do lateral é mais achatada no sentido mésio-distal.
E proporcionalmente mais longa. Na realidade ambas têm comprimento
similar, mas a coroa do central é maior que a do lateral.
Se você ainda estiver com o livro aberto na página 60, compare os dois dentes
enfileirados na Fig. 2-37 e constate a maior proeminência do cíngulo e da
bossa vestibular do incisivo central. O cíngulo proeminente do quarto dente
de baixo é uma exceção. Compare também o contorno da borda vestibular e
note que ele é mais convexo no incisivo central e mais reto no lateral.

Vê-se claramente, por este aspecto mesial, que o terço cervical da coroa é
muito maior que o terço incisal, as faces vestibular e lingual naturalmente
convergem para a incisal, no sentido vertical, conforme você já leu nas
páginas 10 e 11 e que vale a pena reler. Esta característica é comum a todos
os dentes.

Terminou. Dê uma repassada nos seus dentes-modelo para verificar se todos


os elementos descritores foram bem aprendidos. Ao comparar os dois dentes,
confira com os pormenores comparativos que aparecem no quadro da página
58. Se você conseguir acrescentar mais alguma diferença de pormenor ou se
achar algum erro, deixe-nos saber.

Estudo dirigido sobre incisivos inferiores

A nossa proposta é permanecer estudando anatomia dental, na prática,


seguindo o mesmo tipo de roteiro utilizado para o estudo dos incisivos
superiores. A referência bibliográfica básica continua sendo o Anatomia do
Dente, 4ª edição, 2005. Quanto mais espécimes de incisivos inferiores você
puder usar neste estudo, melhor para você.

Nós terminamos o estudo anterior observando dentes pelo aspecto mesial e


verificamos que a linha da borda vestibular é menos convexa no incisivo
lateral do que no central superior. Compare agora com a mesma borda dos
incisivos inferiores, tal como aparece na Fig. 2-39. Retinha, né?
Convexidade quase zero. Bossa vestibular do terço cervical bem acanhada.
Esta é uma característica forte dos incisivos inferiores.

Outras características, vistas por uma das faces de contato, são o cíngulo
pouco elevado e a grande dimensão da raiz no sentido vestíbulo-lingual.

Por este ângulo de observação, nota-se o maior tamanho do incisivo lateral


e o maior desenvolvimento de suas partes constituintes. Pelos demais
ângulos de observação, comprovaremos isso.

Passemos à face vestibular. Segure seu(s) dente(s) incisivo(s) central(is) pela


raiz, de modo que a coroa fique para cima, com a face vestibular de frente
para você.
É bem mais estreito que o central superior, não é mesmo? E o contorno, o
que você nota? A convergência das faces de contato para a cervical, no
sentido vertical (característico comum a todos os dentes, págs. 10 e 11), é
bem acentuada? O que acha? Se os seus dentes o deixam em dúvida se é
acentuada ou não, observe as Figs. 2-5, 2-6 e 2-38. Nesta última, detenha-se
nos dois últimos dentes da fileira dos centrais e perceba que há uma grande
tendência ao paralelismo. Bordas das faces de contato quase paralelas.
Voltaremos ao assunto.

Ainda por vestibular, analise os ângulos incisais. Praticamente são ângulos


retos (não obtusos, sem arredondamento) e não há diferença entre um e outro.
Se houver desgaste da borda incisal, é mais provável que o ângulo mésio-
incisal fique mais desgastado e, portanto, numa posição mais baixa. Se não
houver, os dois ângulos ficam no mesmo nível, mostrando incrível
semelhança. Realmente trata-se de um dente bastante simétrico, quando se
compara as suas duas metades mesial e distal.

Neste momento cabe uma comparação com a face vestibular do incisivo


lateral. Você que já assistiu aulas ou que já estudou teoria não vai nos
envergonhar e vai explicar direitinho o que o incisivo lateral tem de diferente
do central. Ta? Vamos dar um tempinho para você pensar e organizar suas
idéias e dar sua resposta.

Pronto? Se você disse (pensou) que pela vestibular o incisivo lateral também
é de maiores dimensões, que as faces de contato apresentam maior
convergência na direção cervical e que o ângulo disto-incisal é mais
arredondado que o mésio-incisal, você acertou. Assim, este dente tem um
contorno que tende para o triangular (no central o contorno é puxado para o
retangular), com sinais de assimetria devidos a um ângulo disto-incisal
obtuso e em posição mais baixa.

Quanto à raiz, na visão vestibular, pedimos para manusear os dentes e fixar


bem a imagem de uma raiz estreitada. A mais estreita dos arcos dentais. A
raiz do incisivo lateral é só um pouco maior.

Na superfície lingual não há muita novidade. A anatomia é pobre, isto é, os


acidentes anatômicos não são muito evidentes ou desenvolvidos. As cristas
marginais e a fossa lingual são vestigiais. O cíngulo é miúdo. Além disso,
toda a face lingual é mais estreita que a vestibular. Praticamente não há
diferenças entre ambos os incisivos.

Incisivos Superiores
Os incisivos centrais e laterais superiores são freqüentemente considerados
dentes muito fáceis de serem tratados endodonticamente, porque apresentam
anatomia bastante simples.

Para se obter uma boa instrumentação dos canais radiculares desses dentes,
o ombro lingual da região cervical do canal deve ser removido com o uso de
broca de Batt. Isso possibilita boa visibilidade do canal radicular e, ainda,
proporciona a ação dos instrumentos em todas as paredes do canal, de modo
a facilitar a sua limpeza e desinfecção.

Os incisivos centrais superiores podem apresentar curvatura de suas raízes


para a vestibular. Esse fato não é detectado na radiografia ortorradial e,
portanto, deve-se tomar radiografias em várias angulações. Esses dentes só
oferecem dificuldades na localização de seus canais caso estes estejam
bastante atresiados.

Os incisivos laterais superiores apresentam curvatura das raízes para


a distal na maioria dos casos. Portanto, deve-se pensar em uma técnica de
instrumentação adequada, de modo a evitar perfurações.

Esses dentes estão situados em uma área de grande risco embriológico e


inúmeros pesquisadores têm relatados casos de anomalias neles.

São, normalmente, apresentam-se unirradiculados, mas foram relatados


casos de incisivos laterais superiores com duas raízes (Madeira 1973,
Christie et al. 1981)

Entre as anomalias de desenvolvimento observadas nesses dentes, pode-se


citar: Dens invaginatus, Cúspide Talão , radicular grooves (depressão
radicular) e dentes com coroas cônicas.

O Dens invaginatus é também conhecido como Dens in dente, podendo


ocorrer em qualquer dente. Mas, sua maior incidência ocorre nos incisivos
laterais superiores. Normalmente, esses dentes podem apresentarem-se
coniformes (peg shape).

Existem três tipos de Dens invaginatus, de acordo com a classificação de


Oehler (1957):

Tipo I - a invaginação do esmalte está circunscrita à área da coroa dental.

Tipo II - a invaginação do esmalte estende-se até o terço médio da raiz,


terminando em um saco cego.
Tipo III - a invaginação do esmalte estende-se até a região apical do dente,
de modo a formar diversos forames apicais.

O Dens invaginatus do tipo I não oferece dificuldade ao tratamento


endodôntico, uma vez que a invaginação é pequena e está situada na coroa
dental.

O do tipo II oferece certa dificuldade ao tratamento endodôntico, uma vez


que faz-se necessária a remoção da invaginação do esmalte do interior do
canal radicular. Pécora et al.(1987) e Vansan et al. (1990) relatam casos de
tratamento endodôntico de Dens invaginatus tipo II.

O Dens Invaginatus tipo III oferece dificuldade ao tratamento endodôntico,


pois deve ser complementado com retro-obturação. Nem sempre é possível
salvar um dente com esse tipo de anomalia. Costa et al. (1990) relatam um
caso de Dens invaginatus do tipo III em um segundo molar superior.

Outra anomalia que tanto pode ocorrer no incisivo central como no lateral
superior é Dens Evaginatus ou Cúspide Talão.

Essa anomalia consiste na evaginação da área do cíngulo desses dentes,


promovendo uma cúspide extra. A presença da cúspide extra nos incisivos
superiores pode causar problemas de estética, cárie em virtude da dificuldade
de higienização, trauma de oclusão e, ainda, irritação traumática da língua
durante o ato mastigatório.

Ao contrário do Dens Invaginatus, o tratamento de um dente com cúspide


Talão é bastante simples, uma vez que a remoção da evaginação transforma
a intervenção nesse dente igual àquela realizada em um dente normal.

Caso haja comunicação com o órgão pulpar durante a remoção da cúspide


extra, realiza-se o tratamento endodôntico de modo convencional.

O incisivo lateral superior pode apresentar uma anomalia de difícil


diagnóstico, que é a presença da depressão radicular (radicular grooves).
Essa depressão normalmente está presente na lingual dos incisivos laterais,
na área do cíngulo e se estende para a raiz, podendo cessar em diferentes
pontos da região radicular. A presença da depressão radicular constitui uma
via de penetração de microrganismos, que alimenta de modo definitivo um
problema periodontal.

O diagnóstico precoce dessa anomalia é importante pois o paciente pode ser


orientado para higienizar seus dentes de modo a evitar a instalação de uma
bolsa periodontal. A confecções de próteses fixas sobre um dente que
apresenta depressão radicular deve ser evitado, pois o problema periodontal
não terá fácil solução.

Incisivos Inferiores

Esses dentes têm alta incidência de dois canais em sua raiz. No passado, eles
eram conhecidos como dentes com um só canal e essa crença, infelizmente,
persiste até os dias atuais. A incidência de dois canais é maior nos incisivos
laterais do que nos incisivos centrais, mas o fato não pode ser esquecido.
Tenha sempre em mente que a possibilidade de encontrar incisivos inferiores
com dois canais é bastante grande.

As técnicas radiográficas de dissociação de imagem são bastante úteis para


revelar a presença de dois canais nesses dentes. Quando dois canais estão
presentes, um estará situado na vestibular da raiz e o outro na lingual.

Na presença de incisivos inferiores com dois canais, amplie a cavidade de


acesso no sentido vestíbulo lingual para se obter maior visibilidade dos
canais. Normalmente o canal lingual está situado abaixo do ombro. Portanto
a sua remoção faz-se necessária.

Caninos Superiores

Pela configuração anatômica, esses dentes apresentam canais com


dimensões maiores no sentido vestíbulo-lingual do que no sentido mésio-
distal. Eles podem apresentar comprimento muito longo. Em nossos estudos,
observamos que os caninos superiores podem apresentar um comprimento
médio de 25.5 mm , variando de 20 mm até 32 mm.

Os caninos apresentam ombro na região cervical do canal radicular, que deve


ser removido para possibilitar uma boa instrumentação . Eles podem
apresentar curvaturas de suas raízes. Essas curvaturas podem ser, em muitos
casos, bastante acentuadas.

Para detectar a direção da curvatura das raízes, deve-se tirar radiografias em


diferentes angulações. Se a curvatura apical da raiz mover em direção oposta
à movimentação do cone de raio X, a curvatura estará para a vestibular. Caso
a curvatura mova-se na mesma direção que o cone de raio X, a raiz apresenta
curvatura para a lingual.

Os caninos superiores podem apresentar Dens Invaginatus. Ver Dens


invaginatus Tipo III com tratamento por retro-obturação e um Dens
Invaginatus TipoIII em dente extraido.
Os caninos muito longos apresentam dificuldades para serem limpos.
Portanto, utilize muita solução irrigante e instrumente com muita atenção.
Durante a obturação, leve pouco cimento de cada vez, até preencher todo o
canal radicular. Quando se coloca muito cimento obturador no interior do
canal radicular de uma só vez, há a possibilidade de o cimento ficar todo na
região cervical, não atingindo as regiões média e apical do canal.

Esses dentes não estão isentos da possibilidade de apresentar anomalias de


desenvolvimento. Portanto, toda atenção é pouca.

Canino Inferior

Esses dentes apresentam achatamento mésio-distal de suas raízes e, desse


modo, o canal é mais largo no sentido vestíbulo-lingual do que no sentido
mésio-distal. A área de dentina na região vestibular e lingual do canal
radicular é mais permeável que as paredes mesiais e distais. A
instrumentação do canal radicular deve ser feita atuando em todas as paredes
dos canais radiculares, principalmente na parede vestibular e lingual, pois
nestas áreas estão presentes os microrganismos em maiores números.

Os caninos inferiores podem se apresentar do seguinte modo: a) uma raiz e


um canal; b) uma raiz com dois canais, que podem terminar em um único
forame ou em dois forames independentes e c) com duas raízes e dois canais,
que podem estar bifurcados na região média ou na região apical ou, ainda,
fusionados.

Observe muito bem a radiografia de diagnóstico para saber como é o canino


inferior que você vai intervir. Cuidado com os caninos inferiores, pois eles
não são simples como parecem.

Anatomia do Dente Canino

Canino Superior

Generalidades
O grupo dos caninos está localizado na porção anterior do arco dental, após
os incisivos.
É o mais longo e o mais resistente de todos os dentes. Os caninos, por sua
vez, têm forma pontiaguda semelhante a uma “pá” ou “lança”.

Função
A função principal dos caninos é a de dilacerar os alimentos mais fibrosos
e resistentes, que necessitam de maior força mastigatória para cortá-los. Isto
é possibilitado pela morfologia dos caninos que apresentam uma coroa que
funciona como uma ponta dilacerante e uma raiz forte e robusta.

Morfologia

Coroa: Sua forma pode ser comparada à ponta de uma lança, pois sua
borda oclusal apresenta duas vertentes que determina uma cúspide de vértice
agudo. Ao contrário dos incisivos a coroa dos caninos é convexa em todos
os sentidos, quase não apresentando acidentes anatômicos. Sua coroa é
formada por grande quantidade de dentina, o que lhe propicia grande força e
resistência.

Raiz: Todos os elementos do grupo dos caninos são unirradiculados. Suas


raízes apresentam forma cônico-piramidal, e dentre todas as raízes dentais,
são as mais compridas e as mais resistentes e determinam no osso maxila
uma saliência do alvéolo denominada eminência canina.

Colo: Se um corte for feito transversalmente na região do colo, podemos


verificar que ele possui a forma de um triângulo, com ângulos arredondados.
A linha cervical é sinuosa, apresentando nas faces vestibular e lingual um
aspecto de semicírculo com concavidade voltada para a coroa, e nas faces
proximais, a forma de um ‘’V’’ com a abertura voltada para a raiz.

Primeiro Pré-Molar Superior

Normalmente, esses dentes são birradiculares, sendo uma raiz localizada na


vestibular e outra na lingual.
A cirurgia de acesso à câmara pulpar deve ter forma oval, sendo maior no
sentido vestíbulo lingual do que no sentido mésio-distal.

Quando esses dentes apresentam-se com raiz única, normalmente


apresentam dois canais: um na vestibular e o outro na lingual, que podem
terminar em um único forame ou em dois forames distintos.

Os pré-molares birradiculados podem apresentar as suas raízes terminando


em uma ponta bem fina, especialmente a raiz vestibular. A instrumentação
desses canais não deve ser exagerada, para não causar perfurações.

Algumas vezes, os primeiros pré-molares superiores podem se apresentar


com três raízes e, portanto, três canais. Quando isto ocorre, a instrumentação
dos três canais torna-se uma tarefa bastante difícil, em virtude da pequena
dimensão da coroa deste dente.

Para evitar complicações durante o tratamento endodôntico desses dentes,


faça várias radiografias de diagnóstico e as estude com atenção. Só inicie o
tratamento endodôntico após ter certeza das variações anatômicas que
podem estar presentes no dente a ser intervido.

Segundo Pré-Molar Superior

Esses dentes apresentam-se com uma única raiz na maioria dos casos (90 %),
mas somente poucos apresentam-se com um único canal. Tudo o que foi
relatado sobre os primeiros pré-molares superiores deve ser observado
nos segundos pré-molares superiores.

Pré-Molares Inferiores

Primeiro Pré-Molar Inferior

Os primeiros pré-molares inferiores são, provavelmente, os mais difíceis de


serem tratados endodonticamente, em virtude de apresentarem
uma anatomia externa e interna bastante complexa.

Eles podem se apresentar do seguinte modo: a) um canal e um forame; b) um


canal que se bifurca no terço apical, terminando em dois forames
independentes; c) um canal que se bifurca no terço médio da raiz terminando
em dois forames independentes; d) dois canais separados desde o terço
cervical da cavidade pulpar , terminando em dois forames independentes, e)
dois canais separados desde o terço cervical, terminando em um único
forame; f) dois canais que se bifurcam em quaisquer dos terços e terminam
em um único forame. Além dessas variações anatômicas, eles podem ainda
apresentar raízes fusionadas com dois, três ou quatro canais.

Mais uma vez, insistimos na atenção que deve ser dada ao estudo da
radiografia de diagnóstico antes de se iniciar o tratamento endodôntico
desses dentes. Muitas vezes, dependendo do número de canais presentes,
devemos ampliar a cavidade de acesso à câmara pulpar no sentido vestíbulo-
lingual, para facilitar a instrumentação e obturação dos canais radiculares.

Segundo Pré-Molar Inferior

A anatomia desses dentes pode apresentar-se bastante complexa, de modo


semelhante aos primeiros pré-molares inferiores.

Molares Superiores
Primeiro Molar Superior

Estes dentes têm sido bastante estudado quanto às suas anatomias internas,
principalmente em relação ao número de canais presentes na raiz mésio-
vestibular.

Antigamente, os dentistas acreditavam que eles apresentavam-se com três


canais e, infelizmente, essa crença predomina até os dias de hoje. Inúmeras
pesquisas têm demostrado a alta incidência de dois canais na raiz mésio-
vestibular.

Hoje, o primeiro molar superior deve ser encarado como um dente que
apresenta, normalmente, quatro canais, que podem estar distribuídos do
seguinte modo: um canal na raiz palatina (na literatura há casos citados de
dois canais nessa raiz), um canal na raiz vestíbulo-distal e dois canais na raiz
vestíbulo-mesial.

A presença de dois canais na raiz palatina é bastante rara mas pode ser
encontrada, e isto exige do operador bastante atenção.

A presença de dois canais na raiz vestíbulo-mesial é bastante alta. O canal


principal dessa raiz é mais amplo que o segundo canal. O segundo canal,
normalmente, está localizado mais para a porção lingual da raiz vestíbulo-
mesial. A presença de um sulco no assoalho pulpar , saindo do canal
principal, é um forte indicativo da presença do segundo canal nesta raiz.

Para localizar o segundo canal da raiz vestíbulo-mesial mais facilmente,


estenda a cavidade de acesso mais para a mesial e para a vestibular. No lugar
de uma cavidade de forma triangular, faça uma cavidade de forma de
coração.

Esquema da cirurgia de acesso que facilita a localização do segundo canal


na raiz vestíbulo-mesial

Procure com bastante atenção o segundo canal da raiz mésio-vestibular, pois


a sua não localização e, portanto, a sua não instrumentação e obturação
comprometem seriamente o sucesso do tratamento endodôntico.

Observar que a raiz palatina pode apresentar curvatura para a vestibular em


54,6% dos casos

Segundo Molar Superior

Esses dentes apresentam variação no número de raízes. Eles podem


apresentar duas raízes, três raízes e até mesmo quatro raízes. A fusão de
raízes no segundo molar superior é um fato comum, principalmente nos
pacientes de origem mongólica. A presença de três raízes é um fator
indicativo de que a raiz mésio-vestibular deva ser muito bem pesquisada,
pois ela pode apresentar dois canais, como nos primeiros molares superiores.

Dens invaginatus pode ser encontrados nos segundos molares superiores


(Costa et al, 1990).

Terceiros Molares Superiores

Muitas vezes, faz-se necessário o tratamento endodôntico desses dentes e a


sua anatomia é bastante irregular. Eles tanto podem apresentar-se como um
molar comum, como podem apresentar-se com anatomia completamente
irregular. Toda atenção é pouca para não deixar nenhum canal sem
tratamento.

Molares Inferiores

Primeiro Molar Inferior

Os primeiros molares inferiores também fazem partes dos dentes onde o mito
de apresentarem três canais é bastante forte. Hoje, após inúmeras pesquisas
desenvolvidas no decorrer deste século, esse mito não corresponde à
realidade.

Nos primeiros molares inferiores, apesar de sua grande maioria apresentar-


se com duas raízes , o número de canais radiculares pode variar do seguinte
modo: a) dois canais na raiz mesial e um canal na raiz distal; b) dois canais
na raiz mesial e dois canais na raiz distal; c)três canais na raiz mesial e um
na raiz distal; d) três canais na raiz mesial e dois canais na raiz distal. Além
dessas variações, esses dentes podem se apresentar com três raízes e todas as
variações anteriormente citadas. Desse modo, é possível verificar a enorme
variação anatômica que pode estar presente no primeiro molar inferior.

A incidência de três raízes nesse dente é baixa nos povos de origem


caucasiana (5%) e alta nos povos de origem mongólica (20%). A terceira raiz
está situada na posição disto-lingual.

Ao iniciar um tratamento endodôntico em um primeiro molar inferior, tenha


em mente todas essas possibilidades.

Segundo Molar Inferior

Esses dentes podem apresentar anatomia interna e externa semelhantes aos


primeiros molares inferiores. Na região da furca, eles podem apresentar uma
pequena raiz acessória na vestibular( forma peduncular).

Terceiro Molar Inferior

Muitas vezes, faz-se necessário o tratamento endodôntico desses dentes e,


então, é importante considerar que eles não seguem um padrão anatômico
característico. Toda atenção é necessária para se obter um sucesso na
terapêutica endodôntica.

Para finalizar esse breve lembrete sobre a anatomia interna dos dentes
humanos, queremos deixar bem claro o fato que um dente pode apresentar
um canal a mais do que o esperado.

Você pode colaborar com a pesquisa de anatomia interna, documentando e


publicando todas as variações detectadas nos dentes humanos.

Sugerimos a leitura de artigos sobre anatomia interna publicados nas


Revistas Especializadas.

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