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Um exemplo de organização:

Imagine um cara que está aprendendo Madroños de Torroba, já tem bem firme as Variações de Frescobaldi e já
sabe de cor e toca com fluência o prelúdio no.2 do Villa e a Sonata op.15 no.2 de Sor, mas sente que ainda tem de
melhorar essas músicas.
Escolhi estas músicas porque cobrem uma gama técnica variada: escalas, harpejos, melodias cantadas, saltos com
extensão, aberturas, ligados e escrita polifônica.
Realisticamente, folga no domingo e calcula só uma hora no sábado.
5 minutos de aquecimento com aberturas e notas longas repetidas.
O Madroños é novo, então ele vai ocupar 25-30 minutos, diariamente, por 3 semanas. Começar tocando a música
inteira bem devagar. Se não conseguir ler com fluência, escolha uma seção completa. Segundo passo: desmembre
essa seção em componentes menores, frases inteiras. Distribua ao longo da semana para não empacar numa só.
Desmembre em quantos componentes sejam necessários para você tocar com calma e se ouvir direito.
Pode ser uma mudança de posição, uma nota ligada, pode ser só o primeiro acorde, que é chato de tocar sem
tensionar a mão. Tente melhorar aquilo, não tenha a meta de resolver na hora. Se conseguir melhorar e se manter
razoavelmente relaxado, já tá no lucro, amanhã você tenta de novo. Em 25 minutos, não vai dar pra fazer muito
mais que isso, então tente tocar a música do começo ao final, ou a passagem que você estudou, com alguma
fluência.
Para 2 minutos para descansar.
Os próximos 25-30 minutos serão de técnica. Melhor não interromper muito, que esfria. Suponha que
você tem muita dificuldade com os harpejos do Sor e com a escala do Villa-Lobos. Selecione exercícios correlatos,
mais simples, para formar o movimento. Aumente a complexidade dos exercícios e do sistema de prática, para
gradualmente "chegar" a uma dificuldade similar à que tem na música.
Por exemplo, o harpejo de sor pode ser desmembrado em dois exercícios, p-a-i-m e i-m-i-m. Estude
p-a-p-a, p-a-i, i-m-i-m, m-a-m-a, devagar, com metrônomo, ovindo tudo. Toque p-a-i-m mudando as cordas,
mudando o ritmo, mudando a dinâmica. Se conseguir, toque p-ch-m-a. Por 15 minutos tem de fazer um pouquinho
de tudo isso. Bole um sistema similar em 15 minutos de escala.
Escolha 3 ou 4 exercícios, NÃO MAIS, ou 4 séries de exercícios, adequados para o que você precisa.
Estude os difíceis todos os dias e os fáceis em dias alternados.
Pausa para relaxamento, 5-10 minutos com os alongamentos ou exercícios que achar mais benéficos. Não ligue a
TV, não fale ao telefone, não abra a Playboy. Melhor nem sair do quarto. Eu entro na internet com hora pra
terminar, ou brinco um pouco com as crianças, 10-15 minutos.
Agora você tem 1 hora para melhorar as músicas que já estão encaminhadas.
Você acha que o Frescobaldi já está praticamente pronto, só precisa mehorar alguns detalhes e fixar o que já sabe,
pois é difícil de memorizar. Programe-se de tocar às 2as, 4as e 6as. Na 2a e na 6a, vai só dar uma manutenção,
passar inteiro e revisar alguma passagem que saiu mal, ou seja, 15 minutos. Na 4a, vai trabalhar um pouquinho
mais em algumas passagens que ainda não estão super bonitas, então 20-25 minutos.
O Villa é bem difícil, então você estuda 2a,3a, 5a e 6a., mas ainda tem de fazer a ralação de desmembrar
trechos pequenos, estudar TODAS as notas minuciosamente, estudar o SOM da música, etc (supondo que isso já
foi feito no Frescobaldi). 35 minutos na 2a feira, 20-25 minutos nos outros dias. O Sor também é bem difícil, mas
você já toca há mais tempo. Entretanto os dois minutos finais ainda não estão firmes. Nem toque inteira, vá direto
ao final e estude de trás para diante. 10 minutos na 2a feira, 40 na 4a feira, 20-25 minutos nos outros dias.
Relaxa, 10-15 minutos de leitura à primeira vista, se sobrar tempo. Se estiver muito ruim, diminua o
número de músicas pra manter e aumenta o tempo de leitura.
Sobrou tempo? Toque o Frescobaldi como se fosse um concerto, agradecendo, sentando, afinando o violão, sem
parar, sem vacilar. Sobrou tempo? Zoa. Leia música nova, improvisa, toca pelado, canta no banheiro, sei lá. Tente
tocar aquela música que faz 2 anos que você nem olha, pra ver como está.
Semana seguinte, refaça a tabelinha. Como? Tem de fazer uma análise do teu progresso. Tem de ser
honesto. Se você reservou 2 horas diárias e só conseguiu estudar uma, tem de ter metas mais modestas e re-
programar a tabela para uma hora.
Se o Madroños não saiu do lugar, ou ele é difícil demais pra você, ou você é o tipo de pessoa que não consegue
manter muitas músicas ao mesmo tempo. altere a rotina de acordo.
Se suas escalas estão uma porcaria, programe-se de tocar todos os dias, não pode ficar em dias
alternados. Se não melhorar ainda assim, avalie-se. Mas cuidado, ninguém, nem o Pepe Romero, estuda uma escala
a 45 bpms na 2a feira e chega a 145 na 6a feira.
Essa trajetória pode levar anos. Tenha uma meta realística.
Imagine que o Frescobaldi já está satisfatório e você nem sabe mais pra onde ir. Ele começa a cair da tabelinha.
Põe só duas vezes por semana, 10 minutos pra ver o que acontece. Mas tente tocar perfeito, em situação de concerto,
mas com a cadeira alta demais, com uma calça que escorrega, com o violão desafinado, com a unha mal lixada,
ligue a TV e toque junto, molha um pouco a mão para escorregar.
Ele cai completamente da tabelinha por 6 semanas, e é substituído por outra música.
Daqui a 6 semanas, do seco, sem ensaiar, tente tocar de novo na hora da zoeira. Se sair sem acontecer
nenhuma tragédia, é hora de tocar em público. Se acontecer alguma tragédia, refaça todo o processo, até ele ficar
bom.
Se tem alguma apresentação marcada, tente sempre reservar os últimos minutos de estudo para tocar
seu programa simulando uma situação de concerto, na ordem, ensaiando a afinação, a etiqueta, etc. Quanto mais
cansado você estiver, melhor. Se desconcentrar, ótimo. Eu nem sempre estudo assim hoje em dia, mas estudei
desse jeito por anos. A tabelinha agora está na cabeça.

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