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“MELANCHOLIA”:

AS FORMAS DE ENCARAR O FIM DO MUNDO

Andressa Aryelle Fontenele Araújo*

RESUMO
Este trabalho analisa o filme “Melancholia”, de Lars Von Trier. A análise tem por
objetivo esclarecer os valores e idéias gerais expressos no filme. Por referências foram
analisadas críticas do filme que circulam em sites eletrônicos, bem como entrevistas do
diretor e das atrizes principais. Podemos observar nesse filme diferentes interpretações
de como o ser humano lida com a morte.
Palavras-chave: filme; melancolia; Lars Von Trier; fim do mundo;

*Graduanda em Licenciatura em História na Universidade Federal do Piauí (UFPI)


INTRODUÇÃO

Medo, solidão, sensação de incapacidade, essas são as principais emoções que o


filme “Melancholia”, de Lars Von Trier, provoca no espectador. Lançado na metade de
2011, o filme levanta questões que estão presentes na vida de todos.
Com um roteiro também de Lars Von Trier, o filme conta com as atuações
fantásticas de Kirsten Dusnt e Charlotte Gainsbourg. Kirsten inclusive ganhando o
prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
O filme fala sobre duas irmãs, Justine e Claire, e sobre a aproximação de um
planeta chamado Melancholia que está prestes a colidir com a Terra. O longa retrata
diferentes maneiras de lidar com a morte, com o fim do mundo. Aqui são aflorados
sentimentos de irmandade e solidão ao mesmo tempo. E após uma abertura com
fotografias fantásticas, o filme é dividido em duas partes: Justine (Kirsten Dusnt) e
Claire (Charlotte Gainsbourg).
A primeira parte retrata o casamento de Justine, mostrando seu esforço em ficar
contente, quando na verdade esconde os sentimentos de tristeza e aflição. A família de
Justine é um tanto complicada, o que só piora seu desconforto durante a festa. Ao fim
do casamento, vemos uma Justine afundada na depressão, sem nem conseguir banhar ou
comer direito. Enquanto sua irmã Claire está sempre sobre o controle de tudo, Justine se
sente deslocada e sozinha.
A segunda parte, embora veja mais sob a perspectiva de Claire, mostra
inicialmente um lado depressivo de Justine, mas depois mostra meio que seu despertar
dessa depressão, sua conformação com o fim do mundo. Sobre Claire, a parte retrata
como ela se sente quando não pode controlar a situação que está enfrentando, o que
contribui para seu desespero e pavor. Claire tem muito a perder, tem sua própria família,
e isso a deixa mais assustada quanto ao fim do mundo.
Apesar de começar com vários personagens, durante a cena de casamento, esse
filme apocalíptico retrata o fim do mundo pela visão de apenas quatro pessoas. O elenco
é reduzido na segunda parte do filme, quando o planeta Melancholia se aproxima.
Durante o filme não são mostradas visões de outros lugares, nem mesmo por televisão.
O filme se passa no mesmo ambiente, no castelo e na visão do céu, e sob a perspectiva
de apenas Justine, Claire, John e Leo.
Nessa análise, explanarei primeiramente a maneira como Lars Von Trier
costuma fazer seus filmes e como fez esse. Depois, irei analisar cenas e diálogos
presentes no filme, bem como contar a estória do mesmo de uma forma resumida, mas
detalhada. E por último, farei uma breve conclusão sobre as idéias e valores expressos
no filme.

LARS VON TRIER

Ou você ama ou você odeia: assim costumam serem recebidos os filmes de Lars
Von Trier. Não há meio termos. O modo como o diretor e roteirista faz os seus filmes
sempre causam certo incômodo no espectador, mas há quem goste.
Von Trier é visto por boa parte de cinéfilos como um dos melhores gênios da
sétima arte na atualidade. Conhecido pelo mal-estar que seus filmes causam, ele é
admirado por chocar o espectador, incomodar, levando-o a uma reflexão sobre si e
sobre a sociedade ao redor.
Em uma coletiva de imprensa, Von Trier disse que só consegue escrever para si
mesmo, assim foi em todos os seus filmes e assim é em “Melancholia”. O diretor disse
inclusive que acabou de passar por uma depressão, e que Justine a retrata no filme,
assim como acerca de sua visão sobre a morte e o fim do mundo.
A idéia do roteiro veio de uma conversa do diretor com a atriz Penélope Cruz,
sobre a peça “Les Bonnes”, do dramaturgo francês Jean Genet, onde duas empregadas
matam a patroa. Mas como Von Trier nunca faz um filme que não tenha saído dele
próprio, ele resolveu se basear nas duas empregadas para fazer as duas irmãs do filme.
A atriz italiana ia participar do filme, mas desistiu para fazer “Piratas do Caribe:
Navegando em águas misteriosas”. Sobre a música escolhida para o filme, o diretor diz
que ela brinca com o clichê dos desastres, é algo comum. E finaliza dizendo que seu
filme é mais romântico do que melancólico.
“Melancholia” repercutiu mais ainda por causa de uma declaração irônica e
equivocada feita por Von Trier durante o lançamento do filme no Festival de Cannes,
onde ele afirmou “eu entendo Hitler”. Mesmo após pedir desculpas, ele foi banido do
festival, ganhando o título de “persona non grata”.
O diretor tem sua importância reconhecida a partir do Dogma 95, movimento de
cinema, e também por ganhar uma Palma de Ouro em Cannes pelo filme “Dançando no
escuro”. O último filme de Von Trier, antes de “Melancholia”, foi “Antichrist”, um
filme violento que causou angústia nos espectadores, que causou um sentimento de
incompreensão total do mundo, uma incapacidade de curar as próprias feridas.
“MELANCOLIA”: O FILME

Como já ressaltado, o filme divide-se em duas partes: Justine e Claire. Mas antes
conta com uma abertura esplendorosa. Porém, antes de analisar os filmes, vamos
primeiro conhecer as personagens principais.
Justine é uma mulher criativa e sensível. Na primeira parte do filme, ela aparenta
ser uma pessoa frágil e insegura, que esconde seu medo e aflição dos que estão ao seu
redor no casamento, inclusive de seu noivo Michael (Alexander Skargard). Após o seu
casamento, que dura muito pouco, Justine entra em uma profunda depressão e vai morar
com Claire, não conseguindo nem comer nem tomar banho, precisando de cuidados. Na
segunda parte do filme, que apenas no começo mostra essa depressão, a personagem
muda completamente, ganhando certa força, uma segurança, uma certeza, e parece não
sentir medo com a aproximação do planeta Melancolia.
Ao contrário de Justine, Claire parece conseguir manter tudo sob controle
durante a primeira parte do filme. A personagem é mãe de Leo (Cameron Spurr) e
esposa de John (Kiefer Sutherland). Ela aparenta ser uma mulher centrada e
controladora, forte. Na segunda parte do filme, vemos essa força de Claire desaparecer.
O planeta Melancolia está se aproximando da Terra e ela não sabe como lidar com a
morte, com o fim do mundo. Seu desespero é por saber que não pode controlar a
situação. Feitas as apresentações, passemos a análise do filme.
A abertura do filme foi feita em tilt-shift, super slow-motion, e dura quase oito
minutos. Ao som do prelúdio de “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner, a abertura
mostra a incapacidade dos personagens de se locomover, estando presos ao fim do
mundo, sem escapatória, enquanto isso o planeta Melancolia se aproxima da Terra.
A primeira imagem que vemos nessa abertura é o rosto de Justine, aparentando
sofrido e acabado. Por trás dela, caem pássaros mortos. Depois, é mostrada uma gravura
se desmanchando. Gravura essa de um livro que é aberto por Justine mais adiante, no
decorrer do filme. Em seguida, vemos Claire segurando seu filho Leo nos braços,
tentando fugir, enquanto seus pés vão afundando no caminho. Um cavalo surge na tela
afundando, é Abraham, o cavalo que Justine monta. Depois vemos Justine de braços
abertos, enquanto insetos estão voando. Então aparecem três pessoas na tela, separadas,
Justine, Leo e Claire, elas se movem devagar. O planeta Melancolia se aproxima,
Justine vê uns raios saindo da ponta de seus dedos, parece a vida se esvaindo dela. Em
seguida, Justine está vestida de noiva e tenta andar, lutando contra o que parecem ser
galhos, agarrados ao seu corpo. Melancolia se aproxima mais ainda da Terra, então
vemos Justine flutuando sobre a água de um rio, ainda vestida de noiva. Depois a vemos
andando em direção a seu sobrinho, que está a cortar um bambu, dentro de uma floresta.
E passa-se a última imagem, a chocante colisão do planeta Melancolia com a Terra.
A sensação de incapacidade demonstrada pelos personagens nessa abertura é
angustiante para o espectador. Causa um certo incômodo, um mal-estar, lembrando o
quão frágeis somos diante da morte.
A parte I é intitulada Justine. No início, vemos os recém-casados Justine e
Michael, ambos sorridentes, tentando chegar a sua festa de casamento, com extrema
dificuldade, pois o caminho é estreito demais para a limusine que os transporta, passar.
Essa cena já nos adianta a dificuldade de ultrapassar caminhos que estará no decorrer do
filme. Chegando muito atrasados, atraso de 2h, eles recebem reclamações de Claire
ainda na entrada da casa, onde a mesma diz que passou muito tempo organizando essa
festa, e sem nenhuma restrição econômica. Porém, antes de entrarem, Justine percebe
uma estrela vermelha no céu noturno, ao que John (marido de Claire) responde ser
Antares, a estrela principal da constelação de escorpião. Depois, Justine corre ao
estábulo para ver seu cavalo, Abraham, tentando apresentá-lo ao marido. Em seguida,
todos entram na enorme casa onde os convidados esperam, os noivos são recebidos com
aplausos.
Justine é chamada por seu sobrinho de tia “steelbraker”, algo como uma heroína
capaz de romper o aço, o que nada condiz com sua fragilidade e insegurança
demonstrada nessa parte do filme. Começam os discursos, o chefe de Justine e padrinho
do noivo é o primeiro a falar, mas em seu discurso ele tenta arrancar um slogan de
Justine, que é sua redatora, e a promove a diretora de arte. Durante toda a primeira parte
do filme, Jack (Stellan Skarsgard) tenta arrancar o tal slogan de Justine, sem sucesso.
Ele chega mesmo a levar seu sobrinho Tim para insistir que Justine crie um slogan, com
quem ela acaba tendo uma relação sexual durante a festa. Em um momento, ela também
se chateia com Jack, dizendo que odeia ele e sua empresa, sendo assim demitida.
O próximo a discursar é Dexter (John Hurt), pai de Justine. Começando por
elogios a filha, ele acaba por chamar sua ex-esposa Gaby (Charlotte Rampling), mãe de
Justine, de dominadora, o que acarreta numa discussão. Gaby levanta-se e diz a todos
que não acredita em casamentos, chegando a dar um recado aos noivos: “Desfrutem
enquanto durar.” Após esse discurso estarrecedor, Claire percebe que Justine está
abatida, chamando-a para conversar, onde lembra à irmã que não pode fazer nenhuma
cena durante o casamento. Quando voltam, aproveitando a deixa de que uma mulher vai
começar a cantar, Justine se levanta da mesa e sai. Nessa cena a música “Tristão e
Isolda” retorna, enquanto Justine vai passear com o carro de golfe. Quando volta,
ouvimos um discurso meigo de Michael.
Na cena seguinte, os noivos e os convidados dançam na sala de estar, todos
sorriem. O filho de Claire aparece sonolento, e Justine resolve colocá-lo para dormir.
No quarto, o menino pergunta a tia quando eles irão construir uma caverna juntos, pois
para ele a tia é uma mulher muito forte. Justine adormece. Quando Claire vem procurá-
la e pergunta o que está acontecendo, Justine revela a irmã como está se sentindo,
tentando caminhar enquanto algo pesado lhe agarra. Isso retrata sua depressão, a
depressão de Lars Von Trier. Justine vai tomar um banho, todos a esperam para cortar o
bolo. Quando retorna, Justine não consegue mais disfarçar o que sente como antes, está
com uma aparência mais falsa. Em um diálogo com sua irmã ela revela “Eu sorrio e
sorrio e sorrio...” e Claire retruca “Você está mentindo para todos nós.” Justine não
resiste e chora enquanto abre gravuras nos livros. A depressão está chegando e ela
começa a enlouquecer. Em conversa com sua mãe, ela diz “Mãe, estou com medo!
Tenho dificuldades em ‘caminhar’ corretamente” e sua mãe responde “Pare de sonhar,
Justine. Esqueça, vá embora deste lugar”.
No fim do casamento, Michael vai embora da casa, deixando Justine. O
casamento acabou mais cedo do que esperavam. Justine havia passado a noite forjando
uma cara de felicidade e distante dele. Um dia após o casamento fracassado, as irmãs
saem para um passeio a cavalo, quando o cavalo de Justine pára de cavalgar e ela
percebe que Antares não está mais no céu. Com uma hora e seis minutos de duração,
termina a primeira parte do filme.
“Claire”, título da segunda parte do filme, começa provavelmente algumas
semanas após o casamento de Justine. Claire está esperando sua irmã chegar, e pela
conversa no telefone, percebemos que Justine não está nada bem. Após o telefonema,
vemos pela primeira vez no filme comentários sobre o planeta Melancolia. Na cena,
John, que se interessa por astronomia, fala para Claire não se preocupar, pois o planeta
não colidirá com a Terra. E lembra que em cinco dias ele irá aparecer, ainda dizendo
para sua esposa “Confie nos cientistas”.
Justine chega à casa de Claire bastante abatida. Claire tem um sentimento de
irmã mais velha, de cuidar da outra. Tentando alegrar Justine, ela faz seu prato favorito,
rocambole de carne, mas primeiro tenta banhá-la. Sem sucesso no banho, Claire leva a
irmã à cozinha para jantar. Ao sentir o cheiro, Justine fica contente com o prato, mas ao
provar, declara que tem gosto de cinza, chorando. Claire a leva para deitar. Leo vai atrás
da tia e lhe mostra imagens do planeta Melancolia que se aproxima da Terra. Claire
chega e diz a Leo para não assustar Justine, ao que a irmã responde “Se acha que tenho
medo deste planeta, você é uma estúpida.” Ao que parece, Claire se sente pior com a
declaração da irmã, pois pensa agora que só ela mesma tem medo.
Cenas depois vemos John organizando algumas compras, segundo ele coisas que
precisarão caso Melancolia chegue muito perto da Terra, ele pede a Justine que não
comente nada com Claire. Em seguida, vemos as irmãs passearem novamente com os
cavalos, e o cavalo de Justine pára no mesmo lugar da última vez, ao que ela reage
disparando tapas violentos no animal. Ela só pára quando nota Melancolia no céu.
A próxima cena demonstra um pouco do medo de Claire quanto à aproximação
do planeta. Primeiramente, ela observa Melancolia, depois o marido e o filho, e em
seguida Justine, depois Melancolia novamente. Essa cena é como se ela tivesse olhando
o que aquele planeta poderia machucar. Pouco depois disso, Justine sai de casa e Claire
a segue, deparando-se com o corpo nu de sua irmã sob a luz de Melancolia, Claire fica
confusa. Podemos observar aqui que Justine não tem medo algum do planeta que se
aproxima, ela o encara.
Na noite seguinte, Claire vai observar o planeta no telescópio. Assustada com o
tamanho dele, ela pesquisa na internet e descobre que ele vai primeiro passar pela Terra,
mas depois voltará e colidirá. Quando John tenta reconfortá-la quanto a isso, ela pede
que ele prometa que os planetas não colidirão. Ele promete. Nessa cena, vemos tamanho
o desespero de Claire que ela busca um refúgio em seu marido, arriscando que ele saiba
de tudo e que vai protegê-la, esclarecendo em um diálogo com Justine “John estudou
isso. Sempre estudou”. Mas ainda assim, quando o dia amanhece, Claire sai para
comprar um frasco de remédios, pois quer outra saída caso Melancolia colida com a
Terra.
Uma das cenas principais do filme é quando Claire, desesperada, conversa com
Justine sobre a aproximação de Melancolia. Justine diz “A terra é má. Não devemos
sentir pena dela. Ninguém sentirá falta dela.”, onde o desespero de Claire fica mais
claro ainda “Mais onde Leo crescerá?”. Justine “Tudo o que sei é que a vida na terra é
má” Claire “Então talvez haja vida em outro lugar” Justine “Não há. Eu sei que estamos
sozinhos. A vida só existe na Terra. E não por muito tempo.” Esse diálogo arrebatador
entre as irmãs é talvez o ponto mais alto do filme, onde fica clara a maneira como cada
uma está lidando com a situação. Justine está conformada e tranqüila, enquanto Claire
está apavorada pelo que vai acontecer a ela e a sua família.
Leo fez um objeto de arame onde os personagens podem perceber a que
velocidade Melancolia se afasta ou se aproxima da Terra. Ao ver por esse objeto que o
planeta agora se afasta, Claire fica contente e aliviada. Mas ao amanhecer, John é quem
está preocupado. Claire não percebe isso e adormece. Ao acordar, John não está mais
próximo a ela, que decide dar mais uma olhada no objeto que seu filho inventou. Ao
perceber que o planeta está muito próximo da Terra, Claire procura apavorada por John.
Procurando pelos cômodos da casa, ela percebe que seu frasco de remédios agora está
vazio. Mais desesperada ainda, ela procura por John, o achando no estábulo, morto.
John cometeu suicídio, essa foi a forma que ele conseguiu lidar com o fim do mundo
próximo.
Com medo, Claire esconde o corpo de seu marido e diz a Justine e a Leo que ele
saiu a cavalo para ir à vila, soltando Abraham para confirmar o que contou.
Desesperada, ela agora quer sair daquela casa, saindo com Leo no carro de golfe. No
meio do campo, o carro pára e vemos Claire voltar com seu filho nos braços, lembrando
a cena da abertura.
Ao voltar, ela planeja um cenário para os três, com vinho e canção no jardim. Ao
que Justine não concorda. Quando Justine vê a certeza da morte tomando conta de Leo,
ela diz a ele que vão construir a caverna mágica para se esconder. Recolhendo alguns
bambus, como na abertura do filme, eles constroem uma cabana pequena e aberta
encima de um morro. Os três entram na cabana e dão as mãos, mas quanto mais
Melancolia se aproxima, Claire se desespera e chora com as mãos na cabeça. O filme
termina com a incrível cena de colisão entre os planetas, ao som de “Tristão e Isolda”.
Vemos nesse filme o modo como o ser humano lida com a morte. A personagem
Justine se aproxima mais de Lars Von Trier, não duvidando que também seja a visão de
outras pessoas. A aproximação é vista em sua recente saída de uma depressão e sua
conformação com o fim do mundo, sua aceitação, sua tranqüilidade com o fato de que
todos irão morrer, de que o mundo vai acabar. John encara a morte cometendo suicídio,
tamanho seu medo e desespero. Claire é talvez o modo mais comum de se encarar a
morte, o pavor, o desespero, mas tentando manter o controle, tentando ir até o fim,
agüentar, por si e pelos outros.
CONCLUSÃO

Uma visão romântica da mortalidade, isso é o que vemos durante esse filme de
Lars Von Trier. Ou o que anda circulando nos sites eletrônicos: “bonita história sobre o
fim do mundo”.
Definições à parte, o filme causa uma sensação de vazio no espectador muito
incômoda. Mas aí é que está o ponto dos filmes de Von Trier, como ressaltado no início
do artigo. O incômodo é de praxe nos filmes dele, que ao mesmo tempo concede lugar à
reflexão, ao repensar condutas e valores.
Com apenas quatro personagens ao fim, acompanhamos o suspense da colisão
dos dois planetas. Não há notícias nem pânico coletivo, aproveitados na maioria dos
filmes sobre o fim do mundo. Só o site que Claire e Leo visitam para saber sobre a rota
de colisão. O apocalipse de Von Trier é diferente, se faz presente no interior das
personagens, em suas questões pessoais e em como reagem à situação. Aqui, o
psicológico é que está em jogo.
É difícil assistir “Melancholia” e não sentir a sensação de melancolia mesmo.
Passar incólume a uma obra de Von Trier só é explicado se o espectador não entendeu a
idéia do filme nem do diretor. Outra característica, é que as cenas do filme foram feitas
com a câmera na mão. É nítida a transição de uma cena para outra, por vezes saindo
tremidas. O espectador que não está acostumado às obras de Von Trier incomoda-se um
pouco com a visão.
No mais, o filme merece ser visto não só pela sua poesia, pela sua fotografia que
mais parece pintura, pela música perturbadora e repetitiva ou pelas atuações profundas e
excelentes de Kisten Dusnt e Charlotte Gainsbourg, mas principalmente pelas questões
que levanta acerca da morte, de como as pessoas lidam com ela, de como lidariam se o
fim do mundo estivesse bem próximo.
REFERÊNCIA

FICHA TÉCNICA
Título original: Melancholia
Título no Brasil: Melancolia
Gênero: Ficção Científica|Drama|Suspense
Duração: 130min
Origem: Dinamarca / Suécia / França / Itália / Alemanha
Estréia original: 26 de maio de 2011
Data de estréia no Brasil: 5 de agosto de 2011
Diretor: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Estúdio: Zentropa Entertainment / Memfis Film / Slot Machine / BIM Distribuzione /
Zentropa International Köln / Eurimages / Arte France Cinéma / Trollhattan Film AB
Distribuidora: Magnolia Pictures (EUA) / California Filmes (Brasil)
Música: Richard Wagner (Tristão e Isolda)
Produção: Meta Louise Foldager e Louise Vesth
Fotografia: Manuel Alberto Claro
Direção de arte: Simone Grau
Figurino: Manon Rasmussen
Edição: Molly Marlene Stensgaard e Morten Hojbjerg
Efeitos especiais: Filmgate /Dansk Speciel Effekt Service
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling,
John Hurt, Alexander Skarsgård, Stellan Skarsgård, Brady Corbet, Cameron Spurr

ENTREVISTAS. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=05dLYLC91Y0 Acesso em: 14/11/2011


http://www.youtube.com/watch?v=LayW8aq4GLw Acesso em: 14/11/2011
http://www.youtube.com/watch?v=FWDAtnHLwnU Acesso em 14/11/2011
http://www.youtube.com/watch?v=1NokYc8nn-k&feature=related Acesso em:
14/11/2011

COMENTÁRIOS sobre o filme. Disponível em:

http://www.nofestival.com/2011/05/critica-cannes-2011-melancholia-lars.html Acesso
em: 18/11/2011
http://atmosphera2.blogspot.com/2011/10/critica-melancholia-por-urbano.html Acesso
em: 18/11/2011
http://pipocacombo.com/critica-melancolia/ Acesso em: 18/11/2011
http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/diversao/2011/08/04/281288-critica-em-
melancolia-lars-von-trier-discute-rituais-e-medos-na-iminencia-do-fim-do-mundo
Acesso em: 18/11/2011

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