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Tia Neiva

Outono Triste
Outono, onde você desta vez amigo,
Foi me encontrar?
Mais arrasada que outrora,
Não me leves para o mar.

Em sanatório triste,
Onde vivo a meditar,
Vendo as leis da evolução
Fui então me conformar.

De tanto meditar um dia,


Tive este sonho afinal.
Dos meus sonhos este, o mais vivo,
Foi mesmo um sonho real.

Sonhei que era uma folha,


De uma árvore frondosa e bela.
A árvore balançava as folhas,
E eu presa estava a ela.

Vendo que as minhas irmãs


Ficavam ali sobre o chão,
Preferi outro destino,
Pedi outra evolução.

Rogava a Deus todos os dias


Que me desse outra sorte.
Findar no chão não queria,
Desejava outro tributo,
Outra morte.

Veio então o triste outono,


Meu pobre dia chegou.
O vento como um tirano,
Da árvore me carregou.

Não pensei na pobre árvore


Em nada que era meu,
Feliz sem nada saber
Sai dali dando adeus.

O vento levou-me as alturas,


Depois foi descendo para o mar.
Começou então meu tormento,
Passava os dias a chorar.

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Tia Neiva – Outono Triste
Agora sentia saudades,
Do tronco e de minhas irmãs.
Então chorava desesperada,
No mar sem consolação.

Perdi a noção do tempo,


Flutuando sobre o mar.
Tempos rolava na praia,
Tempos voltava para o mar.

Mas sempre tinha esperança,


Passar pela transformação.
Purificar-me era preciso,
Para minha evolução.

Esta esperança de luz,


Dava-me força afinal.
Não sabia de onde vinha,
Tinha certeza de ser fatal.

Já quase a perder as forças,


Uma jangada parou.
E subindo sua tarrafa,
O pescador me apanhou.

Fiquei recolhida num canto,


Vendo o pescador a pescar.
Já cansado com seus peixes,
O pescador quis sonhar.

Tirou do bolso uma fruta,


E ficou a comtemplar.
Depois uma boa ideia lhe veio,
Da semente semear.

Aproveitando-se de mim,
Para a semente guardar.
Logo que chegasse em terra,
Eu iria adubar.

O pescador já em terra,
Começou a recitar.
“Folhinha, esta semente,
É você que vai cultivar.

Crescerás com ela, um dia,


E o tronco será você.
Colherei de ti belos frutos.
Quando por fim renascer.”

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Tia Neiva – Outono Triste
Finalmente me acordei,
Sentindo-me ainda pesar
A semente, a terra, o pescador,
E as valas verdes do mar.

Depois deste sonho triste,


Fico horas a relembrar.
Do meu pescador humilde,
Como fez pra me salvar.

Espero que o pescador


Faça por mim como fez.
São estas as grandes histórias
De quem reencarna outra vez.

Outros troncos como eu existem


Foi o que acabamos de ver.
Que depois de um outono triste
Refloresceu e irá viver.

Salve Deus!

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Tia Neiva – Outono Triste

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