EXCELENTISSÍMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL
DA COMARCA DE BOM DESPACHO-MG
Pedro Henrique Silva, brasileiro, casado, pedreiro, portador do CPF
n°122.352.934-88, residente e domiciliado à rua X, n°1, bairro Escanteio, município de Bom Despacho/MG, em litisconsórcio ativo com Maria das Graças Silva, brasileira, casada, doméstica, portadora do CPF n° 111.585.875-96, residente e domiciliada à rua X, n°1, bairro Escanteio, município de Bom Despacho/MG, vêm, mui respeitosamente, por meio de seu advogado devidamente qualificado pelo instrumento de mandato anexo, com fundamento no artigo 166, inciso I do Código Civil, propor:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Em face do estabelecimento comercial Chica e Gadu LTDA, CNPJ, com
endereço à rua 2X, n°10, bairro Escanteio, município de Bom Despacho/MG, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.
DOS FATOS
Os Autores da presente demanda são os pais da menor Gabriela Silva das
Graças , que possui 15 anos de idade. Ocorre que a referida menor, absolutamente incapaz, após ter tido uma negativa por parte dos seus pais ao pedir-lhes uma bola de futebol, haja vista que a mesma é fanática com o esporte, pegou, sorrateiramente, a quantia de R$ 1.000,00 (um mil reais) que estava sobre a escrivaninha no quarto dos pais e saiu em busca de uma bola. Durante a busca a menor deparou-se com a loja de Chica e Gadu, e, adentrando no estabelecimento, encontrou uma bola com autógrafo do goleiro Fábio do time Cruzeiro Esporte Clube. Diante do amor incondicional pelo time celeste e, em especial, pelo goleiro Fábio, a menor mais que depressa demonstrou interesse pela referida bola, todavia, ao perceberem a situação e a vulnerabilidade da menor, as proprietárias da loja, maliciosamente, perguntaram quanto dinheiro a adolescente possuía. Após esta as informar sobre a quantia que possuía, elas convenceram a menor a adquirir a bola pela quantia de um mil reais, haja vista ser uma bola única na região, não tendo mais nenhuma outra com o autógrafo do referido goleiro. Após tomarem conhecimento do ocorrido, Pedro e Maria se dirigiram ao estabelecimento e tentaram desfazer o negócio, todavia, as proprietárias da loja negaram a devolução do dinheiro. Os fatos se deram dia 01/04/2019 e a quantia paga pela bola seria usada para pagar o aluguel do imóvel onde residem, que venceu dia 05/04/2019, logo, diante da inadimplência, os Requerentes estão sujeitos às multas contratuais pelo atraso, bem como a serem despejados do imóvel.
DO DIREITO DA NULIDADE DO NÉGOCIO JURÍDICO
O Código Civil, em seu artigo 3°, é claro ao estabelecer que os menores de 16
(dezesseis) anos são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, devendo serem representados na prática de tais atos. Em decorrência desta incapacidade, o legislador entendeu por bem declarar nulo o negócio jurídico quando este for celebrado por pessoa absolutamente incapaz, nos termos do inciso I, do artigo 166 do Código Civil. Veja-se:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for
ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere
essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a
prática, sem cominar sanção. Neste mesmo sentido está o entendimento do egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS- CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CELEBRADO POR PESSOA ABSOLUTAMENTE INCAPAZ - NULIDADE - DÉBITO INEXISTENTE - RESTITUIÇÃO AO "STATUS QUO ANTE" - DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS - DANO MORAL - NÃO CABIMENTO. Nos termos do artigo 104 do Código Civil, para que haja validade no negócio jurídico é imprescindível à capacidade do agente. Tratando-se de contrato de empréstimo celebrado por pessoa interditada, independente da forma como ocorreu a contratação, o negócio jurídico é nulo nos termos dos artigos 3º, III, c/c 166, I, do Código Civil, por ter sido celebrado por agente absolutamente incapaz. A consequência lógica da decretação de nulidade do negócio jurídico é a declaração de inexistência de débito e a restituição das partes ao status quo ante, devendo ser restituídos pelo autor os valores obtidos através do negócio jurídico celebrado. Quando o autor dá causa à negativação de seu nome nos cadastros restritivos de crédito, não cabe condenação a indenização por danos morais. (Processo: Apelação Cível, 1.0707.13.031164- 0/001, relatoria da Des.(a) Valéria Rodrigues Queiroz, Data de julgamento: 21/03/2019).
Logo, diante de todo o exposto, faz-se mister, no caso em apreço, a declaração
de nulidade do negócio jurídico celebrado pela menor que, a época dos fatos, era absolutamente incapaz para negociar, devendo as serem restituídas ao seu status quo ante.
DOS PEDIDOS
1 – Determinar a citação da ré, para que, querendo, apresente contestação, sob
as penas da revelia e confissão. 2 – Protesta provar o alegado por todo gênero de prova em direito admissíveis, em especial o depoimento pessoal das proprietárias da empresa Ré, prova oral e documental, cujos documentos anexos fazem parte integrante desta. 3 – A condenação da Ré ao pagamento dos honorários advocatícios sucumbenciais no importe de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação e custas processuais. 4 – A designação de audiência para tentativa de conciliação, nos termos do artigo 334 do Código de Processo Civil. 5 – A procedência da presente ação, requerendo seja decretada a nulidade do negócio jurídico mencionado, voltando-se as partes ao estado quo ante.
Dá se à causa o valor de R$1.000,00 (um mil reais).