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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

MEC 117 – REFRIGERAÇÃO E AR CONDICIONADO

Prof. Luís Antônio Bortolaia


Unidade 5 Carga Térmica

CARGA TÉRMICA DE INSTALAÇÕES FRIGORÍFICAS

1. Introdução
As instalações frigoríficas são conjuntos de câmaras frias que
permitem refrigerar, congelar e conservar pelo frio, produtos
perecíveis, além de toda a infra-estrutura necessária para o seu
funcionamento.
Para o cálculo da carga térmica de câmaras frigoríficas para
resfriamento, congelamento e armazenamento de produtos, além
de um correto estabelecimento das condições climáticas do local e
das condições internas da câmara, devem ser consideradas as
seguintes parcelas:
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• carga térmica devido à transmissão de calor pelas paredes, teto e


piso.

• carga térmica devido aos produtos contidos na câmara.

• carga térmica devido à infiltração de ar externo quando da


abertura e fechamento das portas de acesso das câmaras.

• carga térmica devido a luzes, pessoas, e outras fontes de calor no


interior da câmara.
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2. Condições externas de projeto


Estas condições podem ser obtidas de fontes específicas para a
cidade considerada, de normas técnicas, ou outras literaturas.

Parâmetros de projeto para algumas cidades brasileiras (condições de


verão).
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3. Condições internas de projeto


Para os melhores resultados, cada produto deveria ser armazenado
de acordo com os seus requisitos específicos de temperatura e
umidade relativa, especificados em manuais.
Contudo, nem sempre se torna prático a construção de uma câmara
individual para cada produto manipulado por uma indústria ou
comércio.
Dessa forma, os produtos a serem armazenados são divididos em
grupos que requerem condições de armazenamento semelhantes.
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4. Composição da carga térmica total


4.1. Carga térmica devido à transmissão de calor nas paredes
• é uma função da diferença de temperatura entre o ambiente
externo e o interior da câmara, da condutividade térmica dos
elementos construtivos da câmara (paredes, teto, piso, portas,
etc...) e da área das superfícies expostas à diferença de
temperaturas.
• é determinada através da equação:
Diferença de temperaturas
Taxa de calor que penetra
entre o ambiente externo e o
na câmara através das
interior da câmara
superfícies (teto, piso,
laterais)
Resistência térmica imposta
Área das superfícies da ao fluxo de calor
câmara
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Para o cálculo da resistência térmica deve-se levar em


consideração:
• o coeficiente de convecção externo;
• a condutividade térmica dos materiais construtivos da parede;
• o coeficiente de convecção interno.
Tomando-se uma câmara frigorífica com paredes de alvenaria
(conforme a figura), a resistência térmica será dada por:
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sendo:

valores típicos para o coeficiente de convecção externo:


• 7,0 kcal/h.m².°C, para o ar parado;
• até 35 kcal/h.m².°C, para o ar com velocidade próxima de 20
km/h.
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o coeficiente de convecção interno, que também depende da


movimentação do ar dentro da câmara, varia de 7,0 a 12,0
kcal/h.m².°C.
os valores da condutividade térmica dos materiais construtivos
das câmaras podem ser obtidos de tabelas ou, para o caso dos
isolantes, de dados do fabricante.
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Condutividade térmica de alguns materiais usados na refrigeração


industrial
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Uma forma simplificada, porém bastante utilizada para o cálculo


da espessura do isolamento é a fixação de um valor para a taxa
de transferencia de calor por unidade de área da parede ( ).

• valores para a taxa de transferencia de calor por unidade de


área:

Fixado o valor da taxa de transferencia de calor por unidade de


área e, desprezando-se a resistência térmica imposta:
• pelo ar externo, pela parede e pelo ar interno.
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Pode-se determinar a espessura do isolamento pela seguinte


equação:

A diferença de temperatura da equação, se a câmara não sofrer


efeitos da radiação solar direta (não estiver exposta ao sol),
corresponde à diferença entre a temperatura externa e a
temperatura da câmara.
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Caso a câmara sofra influência da radiação solar direta, o valor do


ΔT deve ser corrigido em função da orientação da parede e de sua
coloração. O cálculo é fornecido pela equação:

e o valor de ΔT´ é dado pela Tabela a seguir.

Correção para a diferença de temperaturas em câmaras frigoríficas (ΔT´)


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Finalmente, a carga térmica devido à transmissão de calor pode ser


calculada pela equação:

onde ( ) pode ser adotado de acordo com a qualidade do


isolamento, como mencionado anteriormente, e A é a área de todas
as superfícies da câmara.
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Podemos determinar também o calor transmitido através das


paredes através da equação:

- calor transmitido através das paredes, piso ou teto, kJ/24h;


A - área da superfície externa da parede, piso ou teto, m2
U - coeficiente total de transmissão de calor (tabelado), W/m².ºC;
- temperatura externa da câmara frigorífica, oC ;
- temperatura interna da câmara frigorífica, oC ;
- acréscimo de temperatura devido à insolação , ºC.
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Tabela – Coeficiente total de transferência de calor (W/m².ºC)


Unidade 5 Carga Térmica
Unidade 5 Carga Térmica
Unidade 5 Carga Térmica
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4.2. Carga térmica devido aos produtos


A carga térmica devido ao produto (que geralmente
corresponde a maior porcentagem da carga térmica de câmaras
de resfriamento e congelamento) é composta basicamente das
seguintes parcelas:
• calor sensível antes do congelamento: é a parcela devida ao
calor que deve ser retirado do produto para reduzir sua
temperatura desde a temperatura de entrada na câmara até a
temperatura de início de congelamento, ou, no caso em que o
produto somente vai ser resfriado, a sua temperatura final.
• calor latente de congelamento: é o calor retirado do produto
para promover a sua mudança de fase, isto é, seu
congelamento.
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• calor sensível após o congelamento: é a parcela devida ao calor


que deve ser retirado do produto para reduzir sua temperatura desde
a temperatura de congelamento até a temperatura final do produto.
• calor de respiração: representa o calor liberado na câmara devido
ao processo de respiração de frutas frescas e vegetais. A liberação
deste calor de respiração, também conhecido como calor vital, varia
com a temperatura. Assim quanto mais frio o produto, menor o calor
liberado.
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Considerando todas as parcelas anteriores, tem-se:

onde:
- é a movimentação diária de um determinado produto na
câmara, em kg/dia.
- calor específico do produto antes do congelamento, em
kcal/kg. °C.
- temperatura de entrada do produto na câmara, em °C.
- para câmaras de resfriamento é a temperatura final do
produto e, para câmaras de congelamento, é a própria
temperatura de congelamento do produto, em °C.
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- calor latente de congelamento do produto, em kcal/kg.


- calor específico do produto após o congelamento, em
kcal/kg. °C.
- temperatura final do produto congelado em °C.
- quantidade total de produtos na câmara, em kg.
- quantidade de calor liberado pela respiração do produto, em
kcal/kg.dia.
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Dados para cálculo da carga térmica de produtos


Unidade 5 Carga Térmica
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Unidade 5 Carga Térmica
Unidade 5 Carga Térmica
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Diferença entre as cargas térmicas de congelamento e


estocagem (armazenamento) de um produto
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Deve-se levar em consideração também, o calor representado pela


embalagem (se ela existir), determinado pela equação:

onde:
- calor devido à embalagem, kJ/24h;
- massa diária de embalagem, kg/24h;
- calor específico da embalagem (2,8 para a madeira e 1,88
para o papelão), kJ/kgoC;
- temperatura inicial da embalagem, oC;
- temperatura interna da câmara frigorífica, oC.
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4.3. Carga Térmica devido à Infiltração de Ar Externo


• a carga térmica devido à infiltração de ar está relacionada com a
entrada de ar quente (ar externo) e saída de ar frio da câmara
frigorífica, através de portas ou quaisquer outras aberturas.
• cada vez que uma porta da câmara é aberta uma determinada
quantidade de ar externo penetra na mesma, a qual deverá ser
resfriada pelo sistema frigorífico da câmara, aumentando a carga
térmica.
• assim, a quantidade de ar que entra em câmara pode ser
estimada, entre outras formas, a partir do Fator de Troca de Ar
(FTA) de uma câmara, sendo este, por sua vez, dependente do
volume e tipo da câmara. O FTA expressa o número de trocas de ar
por dia (trocas/dia) da câmara (valores tabelados).
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Fator de Troca de Ar de Câmaras Frigoríficas


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• conhecendo-se o volume de ar externo que entra na câmara por


dia, pode-se determinar a carga de infiltração pela equação a
seguir:

Onde:
Vcam - é o volume da câmara, em m³;
ΔH´ - refere-se ao calor cedido por cada metro cúbico de ar que
entra na câmara (Tabela a seguir).
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Calor cedido pelo ar externo ao entrar na câmara (ΔH´, em kcal/m³)


Unidade 5 Carga Térmica
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4.4. Carga térmica devido à presença de pessoas no interior das


câmaras frigoríficas
Esta carga térmica depende da atividade que estas pessoas estão
exercendo, do tipo de vestimenta e sobretudo da temperatura da
câmara. Uma forma de se estimar a carga térmica devido as
pessoas é através da equação abaixo:

onde:
Tcam - temperatura da câmara, em °C;
τ - tempo de permanência das pessoas na câmara, em h/dia;
n - número de pessoas na câmara.
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4.5. Carga térmica devido a iluminação


O calor dissipado pelo sistema de iluminação depende da
potência das lâmpadas instaladas instalada e do seu tempo de
utilização. Pode-se considerar que a potência dissipada pelo
sistema de iluminação é de aproximadamente 10 W/m². Assim:

área da câmara: largura tempo de utilização: horas/24 horas


x comprimento
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4.6. Carga térmica devido a motores elétricos


O calor dissipado por motores elétricos pode ser obtido a partir da
sua potência e do seu rendimento.
Na ausência de dados específicos sobre um determinado motor,
podem ser utilizados os valores da Tabela abaixo, a qual fornece o
calor dissipado em função da potência do motor.
Calor dissipado por motores elétricos
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4.7. Carga térmica total


A carga térmica total do sistema é a soma das cargas anteriores.
O cálculo da carga térmica é normalmente realizada para um
período de 24 horas (1 dia). Contudo, o equipamento de
refrigeração não deve funcionar 24 horas por dia (é necessário um
tempo a fim de permitir a manutenção e o descongelamento
diário do evaporador). O gelo formado tende a isolar a serpentina
evaporadora reduzindo sua capacidade de refrigeração.
Dessa forma, a carga térmica deve ser distribuída ao longo de um
número de horas menor, representando o tempo de
funcionamento diário do equipamento, que varia de 16 a 20
h/dia.
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Assim, a carga térmica diária em kcal/24 horas (kcal/dia), dividida


pelo tempo de funcionamento diário do equipamento fornecerá a
carga térmica em Kcal/h (ou kW).
Este resultado permitirá a escolha adequada dos equipamentos
para a referida instalação frigorífica.

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