Facebook Ajudou A Levar Milhares de Pessoas Às Ruas de Sorocaba - 01-02-14 - CADERNO de DOMINGO - Jornal Cruzeiro Do Sul

11/07/2019 Facebook ajudou a levar milhares de pessoas às ruas de Sorocaba - 01/02/14 - CADERNO DE DOMINGO - Jornal Cruzeiro do Sul
11/07/2019 Trânsito Cruzeiro Card Assinatura
CADERNO DE DOMINGO
Facebook ajudou a levar

milhares de pessoas às ruas de
Sorocaba
01/02/14 | Equipe Online -
online@jcruzeiro.com.br
https://www2.jornalcruzeiro.com.br/materia/529146/facebook-ajudou-a-levar-milhares-de-pessoas-as-ruas-de-sorocaba 1/9
O estudante Michel Giulian, um dos organizad
Thiago Arioza
thiago.arioza@jcruzeiro.com.br
O ano era 2013 e Henrique Poldo estava

descontente com a política no Brasil. Em
Sorocaba, o mês de junho começava com
o aumento na tarifa do transporte
coletivo, de R$ 2,95 para 3,15, reajuste
que gerava protestos desde o nal do mês
anterior. Até o m da primeira quinzena,
passeatas chegaram a reunir cerca de 30 a
50 pessoas, em sua maioria jovens. A
maior reunião que se tem registro
ocorreu no Terminal Santo Antônio, com
a participação de 500 jovens, segundo
divulgado na época pela organização.
Enquanto isso, na capital paulista, as
manifestações mobilizavam milhares de
pessoas, também descontentes com o
transporte público.
O auxiliar-administrativo de 21 anos anos

pensava em como poderia engajar mais
pessoas contra o reajuste e os problemas
do transporte coletivo na cidade. Ansioso
para agir, resolveu ir ao Facebook. Em
alguns minutos criou um evento que
chamava os cidadãos sorocabanos para
um protesto, inicialmente marcado para
21 de junho. Naquele dia, nem descon ou
que sua atitude fosse uma contribuição
determinante para a maior manifestação
popular de toda a história de Sorocaba.
"No começo achei que seria somente mais
um evento de Facebook com muitos
adeptos, mas que na hora do "vamos ver"
não iria comparecer muita gente. Não
esperava tanta adesão."
Com ajuda de dois amigos, nomeados

administradores do evento, Henrique
começou a divulgar. O que se seguiu foi
uma grande demonstração de
interatividade baseada na tecnologia

digital, jamais vista antes pela cidade. O
evento, posteriormente remarcado para o
dia 20, levou um público estimado de 20
mil pessoas às ruas, segundo
organizadores do Movimento
Contracatraca e da Guarda Civil Municipal
(GCM). Até então, a maior manifestação
registrada na cidade havia sido no dia 19
de novembro de 1987, quando a
população protestou contra o projeto
nuclear da Marinha do Brasil
representado pelo Centro Experimental
Aramar, em Iperó.
O estudante de direito Michel Giulian, 19,

foi um dos convidados por Henrique a
atuar com o status de administrador do
evento. Ele lembra que começou a
convidar um a um os amigos, tendo como
meta reunir aproximadamente três mil
pessoas. "Quando chegou em mil
con rmados, a gente falou: "nossa, até
onde vai isso?"."
Viralização
Henrique e Michel zeram o possível para

que o evento fosse um sucesso, mas não
precisaram de muito esforço. Para cada
pessoa que con rmava presença,
automaticamente o Facebook gerava uma
postagem que aparecia nos feeds de
notícias dos amigos dessa pessoa. Deste
modo, o simples fato de alguém aceitar o
convite, gerava um aviso visível a outras
pessoas, que também cavam sabendo
sobre o protesto e podiam clicar no link
para ingressar à página.
Involuntariamente, cada integrante
comunicava sua con rmação aos amigos
por meio do registro de atividades,
passando adiante a informação. Isso fez a
informação sobre a existência do
movimento se propagar com a mesma
facilidade de um vírus. "O Facebook foi o

que fez acontecer. Se dependesse de uma
divulgação com abordagem de outra
forma, na conversa, boca a boca, não teria
acontecido. Se começássemos a marcar
encontros e divulgar com pan etos,
garanto que seria algo próximo do
fracasso", opina Giulian.
A exemplo de fóruns de discussão, cada

evento tem um mural, onde os
convidados podem escrever o que
pensam, além de postar links, fotos e
vídeos. À medida que mais pessoas
con rmavam presença, começavam a
conversar sobre como estavam
insatisfeitas com a situação em outros
setores públicos e não somente com a
questão da mobilidade urbana. "No
próprio evento, nós debatíamos as
bandeiras que levantaríamos na
manifestação e até o grupo ContraCatraca
quis nos ajudar", a rma Poldo.
Do Facebook, o planejamento e toda a

articulação do protesto passou a ocorrer
também presencialmente, em reuniões na
praça Frei Baraúna, no Centro. Para
Henrique, os encontros foram
produtivos, pois os grupos decidiram
reunir esforços para aumentar o número
de integrantes da grande passeata. Na
opinião de Giulian, na internet a
facilidade era maior, com mais
contribuições por parte dos idealizadores.
"No Facebook falavam claramente. Todo
mundo contribuía para o debate. Já os
encontros em que eu participei, foram
desanimadores. As pessoas cavam
quietas. Quando alguém falava, não tinha
argumentação. Acho que as pessoas são
mais transparentes pela rede."
Grito de vitória
Um dia antes do protesto, marcado para

20 de junho, o prefeito Antonio Carlos
Pannunzio (PSDB) anunciou a revogação
do decreto que havia reajustado as tarifas
do transporte coletivo em Sorocaba. O
chefe do Executivo admitiu ter se
in uenciado pelas manifestações que
ocorreram até então e que também agiu
em função das perspectivas de redução de
tributos incidentes na área do transporte,
por parte do Governo Federal. A medida
foi anunciada após reuniões com jovens
dos movimentos de protesto e secretários
municipais.
"O evento foi mantido, para mostrar que

o povo não estava apenas se
manifestando pelos 20 centavos, e sim
por diversos outros motivos como saúde e
educação. E também, de certa forma,
comemorar o que todos nos conseguimos
juntos, que foi a redução para o preço
anterior", explicou Henrique, que alterou
o título do evento, acrescentando a
expressão "grito de vitória".
ERICK PINHEIRO
Manifestantes em passeata no dia 20 de junho, na
avenida Afonso Vergueiro, em Sorocaba
Henrique a rmou que é inesquecível a

emoção de ver os cidadãos saindo da
internet para as ruas. "Eu senti alegria em
saber que as pessoas queriam que as
coisas mudassem, que eu pude ajudar de
certa forma para que aquilo estivesse
ocorrendo. Lógico que tive ajuda de
amigos e da população que aderiu a essa

manifestação. Mas ter sido a pessoa que
apertou o botão "criar evento", dá uma
satisfação em ter ajudado isso acontecer."
Uso de rede social para organizar atos

não é exclusividade brasileira
O uso das mídias sociais para a realização

de protestos já existe há mais tempo em
outros países. Entre os mais signi cativos
e pioneiros, a Primavera Árabe, no mundo
árabe, Occupy Wall Steet, nos Estados
Unidos, e Los Indignados, na Espanha.
Por aqui, a pressão das manifestações

como consequência da mobilização nas
redes sociais também balançou as
instituições, a julgar pela própria
presidência: Dilma Roussef a rmou que
seu governo "ouviu e compreendeu a voz
das ruas". De fato, a população tomou
conhecimento de seu poder e se fez ouvir,
clamando por direitos básicos. Mas o que
esperar desse novo cenário?
Na avaliação do Sérgio Lüdtke, Diretor de

Interatores.com e coordenador do
Programa Avançado em Jornalismo
Digital do Instituto Internacional de
Ciências Sociais, há sinais de mudanças
nos governos e na sensibilidade deles em
relação às mobilizações da internet. "Os
índices de aprovação de alguns governos
despencaram e houve quem já defendesse
o recall de políticos das manifestações de
junho. Os nossos per s nas redes sociais
funcionam como identidade digital, com
a facilidade de conexão e acesso a mais
gente, creio que muitas coisas vão mudar
em algum tempo."
Lüdtke destacou o fato de que o poder de

auto-organização e os efeitos dele são
fundamentalmente baseados nos
usuários. "O evento marcado pelo

Facebook acessa muito rapidamente as
pessoas e o poder de divulgação é imenso.
Se a causa é popular isso é muito mais
potencializado. Acho que a grande
colaboração da rede é a possibilidade de
acionar. A indignação, a simpatia pela
causa, isso já estão nas pessoas, não é a
rede que cria."
Leandro Hipólito trabalha com

monitoramento, métricas e análise de
mídias sociais. Com base em sua
experiência e na participação da
cobertura pela internet dos protestos em
São Paulo, ele concorda que, se depender
dos brasileiros, não faltará engajamento.
"Temos essa ferramenta de propagação
de informações que é prática, não é
burocrática e que todos conhecem.
Antigamente, para combinar algo, a
pessoa tinha de ligar individualmente.
Agora, com alguns cliques, dá para criar
um evento, convidar as pessoas-chaves e
simplesmente deixar que a coisa se
desenrole. Foi o caso das manifestações
em 2013."
Hipólito citou o pronunciamento da

presidente Dilma, dias após as
manifestações, em que ela anunciou
medidas para atender às reivindicações,
como a redução de tributos no setor de
transporte público. Para ele, a atitude foi
emblemática. "As mobilizações foram
potencializadas e alcançaram quase todo
o país e isso, assim como uma epidemia,
tomou proporções que a maioria não via
como possível, ainda mais usando algo
considerado como uma brincadeira por
muitos: uma rede social."
FUNDAÇÃO UBALDINO
DO AMARAL
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O estudante Michel Giulian, um dos organizad

O ano era 2013 e Henrique Poldo estava

O auxiliar-administrativo de 21 anos anos

Com ajuda de dois amigos, nomeados

interatividade baseada na tecnologia

O estudante de direito Michel Giulian, 19,

Henrique e Michel zeram o possível para

facilidade de um vírus. "O Facebook foi o

A exemplo de fóruns de discussão, cada

Do Facebook, o planejamento e toda a

Um dia antes do protesto, marcado para

"O evento foi mantido, para mostrar que

Manifestantes em passeata no dia 20 de junho, na

avenida Afonso Vergueiro, em Sorocaba

Henrique a rmou que é inesquecível a

amigos e da população que aderiu a essa

Uso de rede social para organizar atos

O uso das mídias sociais para a realização

Por aqui, a pressão das manifestações

Na avaliação do Sérgio Lüdtke, Diretor de

Lüdtke destacou o fato de que o poder de

usuários. "O evento marcado pelo

Leandro Hipólito trabalha com

Hipólito citou o pronunciamento da

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