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MP/MG
FICA A DICA
TEORIAS DA CULPABILIDADE

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TEORIAS DA CULPABILIDADE
Por Liana Schuler

Olá futuros Promotores de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais!!

Um outro tema que muitos candidatos acabam se confundindo são as teorias da culpabilidade e as suas
peculiaridades.

Por esse motivo, o Fica a Dica de hoje será sobre as principais teorias da culpabilidade e, de quebra, ainda
trouxe alguns aspectos mais modernos (para não dizer inusitados rsrs) que julgo interessante conhecer,
pois conhecimento extra nunca é demais!

#Simbora!!

CONCEITO DE CULPABILIDADE

»» É um dos elementos do crime, segundo o caráter ilícito do fato e agir conforme o direito.
conceito tripartido. Consiste no juízo de
»» É pressuposto de pena para os adeptos do
reprovação do agente por ter praticado um fato
conceito bipartido de crime.
típico e antijurídico, quando podia entender o

EVOLUÇÃO DA CULPABILIDADE

»» Teoria psicológica da Culpabilidade crime.

• Base positivista e concebida a partir do sistema »» Teoria psicológico-normativa da Culpabilidade


causal-naturalista de Liszt e Beling.
• Base neokantista e fundamentada na doutrina
• A ação é um movimento corporal voluntário causal-valorativa de Frank e Mezger.
que causa alteração no mundo exterior.
• A ação é concebida de forma social, valorativa
• A culpabilidade é o vínculo psicológico entre e genérica, como um comportamento humano
autor do fato e um resultado típico e ilícito, ou provocador de um resultado socialmente
seja, uma mera imputação (cunho subjetivo: relevante.
análise do dolo e culpa). É formada pela
• Rechaça a visão divisão subjetiva-objetiva do
imputabilidade e dolo normativo/culpa.
modelo anterior de crime, introduzindo uma
• A tipicidade e a antijuridicidade (injusto penal) perspectiva valorativa.
denotam a dimensão objetiva do conceito de
• A culpabilidade é vista como um juízo de valor

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que necessita de uma avaliação simultânea do passo que o erro relacionado aos pressupostos
vinculo psicológico do autor (dolo ou culpa) e fáticos que autorizam a discriminante putativa,
da reprovação social, o que a torna psicológico- caracteriza-se como erro de tipo indireto ou
normativa. O novo elemento da culpabilidade é permissivo.
de natureza normativa (exigibilidade de conduta
#OLHAOGANCHO: anotações sobre o livre-
diversa). É formada pela imputabilidade, dolo
arbítrio
normativo/culpa e potencial consciência da
ilicitude. • Há uma inacabável discussão sobre a sua
existência e sua relevância para a culpabilidade.
»» Teoria normativa pura da Culpabilidade
• Welzel concebeu duas categorias lógico-
• Doutrina finalista de Welzel.
objetivas: a ação final e o poder agir de outro
• A ação como um movimento humano dirigido a modo, fundamentando materialmente a
uma determinada finalidade. Elementos volitivos culpabilidade na existência da possibilidade de
são analisados na tipicidade (dolo e culpa), agir de atuação diversa, centrada numa ideia de
o que impede uma conduta típica sem sua livre-arbítrio. O seu indeterminismo tem como
configuração. O dolo deixa de ser normativo e elemento central a ideia de livre-arbítrio.
passa a ser natural.
• Críticas ao livre-arbítrio: vale-se da figura do
• A culpabilidade deixa de analisar elementos homem médio, que é uma ficção jurídica, o
subjetivos, tornando-se exclusivamente que viola a individualização da pena. O poder
normativa, formada pela inimputabilidade, atuar de outro modo esvazia o conteúdo da
potencial consciência de ilicitude e culpabilidade, que passa a ser analisada com
inexigibilidade de conduta diversa. Representa base em juízos hipotéticos, representando
um juízo de valor consubstanciado pelo “poder um substrato empiricamente indemonstrável.
atuar de outro modo”. É o exercício inadequado Surgem tentativas de apresentar novos modelos
do livre-arbítrio. A liberdade humana é tida como de culpabilidade material, indicação de um novo
um elemento ontológico, inerente ao homem, substrato material para a mesmo ou a busca de
determinando a possibilidade de atuar de outro outro fundamento justificar da liberdade de agir.
modo. Foi a teoria adotada pelo CP.
#APROFUNDANDO O TEMA:
• Teoria normativa extremada: para essa
vertente, todas as discriminantes putativas »» Modernas teorias da Culpabilidade:
configuram erro de proibição indireto. a) GUNTHER JAKOBS:
• Teoria normativa limitada: o erro sobre as • Orientado pelos fins da pena e baseando-se nas
hipóteses e os limites das discriminantes putativas teses de Luhmann e Hegel, Jakobs defende a
configuram erro de proibição indireto, ao substituição da culpabilidade pela PREVENÇÃO

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GERAL, o que representa um retrocesso na garantista da culpabilidade.


legitimação da pena. A função da pena é a
• Defende a prevenção especial, em substituição
prevenção geral positiva (afirmar a vigência do
da liberdade humana.
ordenamento) para permitir a estabilização da
sociedade. • Crítica: choca-se com critérios político-criminais,
pois resta perceptível a falta de um substrato real
• A culpabilidade perde sua importância e seu
para caracterizar o juízo de culpabilidade e, com
conteúdo praticamente desaparece, sendo
isso, um elemento empírico para determinar a
caracterizada como o simples dever de
punição.
fidelidade à norma. A função da culpabilidade
é meramente instrumental, sendo indiferente a c) BERND SCHUNEMANN:
análise da liberdade humana.
• Buscou estabelecer um novo fundamento
• Segundo Jakobs, o conceito de culpabilidade para a liberdade humana, que fundamenta a
deverá ser configurado funcionalmente, ou seja, culpabilidade. Adota modelo hibrido, no qual
que alcança um objetivo de regulação para uma a estrutura física da realidade e a experiência
sociedade. constroem os fundamentos ontológicos do
sistema e a realidade, por sua vez, demonstra a
b) CLAUS ROXIN:
base ontológica do uso da linguagem.
• Também constrói a sua teoria da culpabilidade
d) KLAUS GUNTHER:
de forma dissociada do ontologismo finalista e
da ideia de livre-arbítrio. Alicerça suas bases nas • Baseado na teoria da ação comunicativa de Jurgen
finalidades do direito penal e da aplicação da Habermas, defende um modelo de culpabilidade
pena. pautado na legitimação democrática de normas
jurídicas, inaugurando um discurso desvinculado
• Conceito de ação baseado na exteriorização da
da liberdade de vontade (livre-arbítrio).
personalidade.
• Ideia de autonomia comunicativa, lealdade
• No âmbito do injusto penal, cria a teoria da
comunicativa e espaço livre comunicativo.
imputação objetiva, que substitui a causalidade
pela existência de um risco não permitido no • O juízo de culpabilidade consiste em uma
âmbito de proteção da norma. reprovação da falta de lealdade com a autonomia
comunicativa (déficit de lealdade ao direito criado
• Na seara da culpabilidade, amplia a
democraticamente).
categoria para o exame da “responsabilidade”
(necessidade de reprovação / necessidade »» Neurociência e Culpabilidade
preventiva da sanção). A culpabilidade depende
• Nega a liberdade humana como fundamento da
do merecimento de pena. Caráter mais flexível e
culpabilidade.

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• São deterministas que buscam demonstrar por A liberdade de ação não provém de uma
meio de técnicas das ciências naturais que o concepção de livre-arbítrio, mas de uma lógica-
livre-arbítrio não existe. Ressurgem para afirmar discursiva. Se a ação é algo contextual, linguístico,
o determinismo. e não físico, é óbvio que nenhum conceito de
determinado estado físico, mesmo que cerebral,
• A reação social do sistema não deve ser uma
possa definir um qualificativo para ação.
pena, mas uma medida de proteção, que exclui
a pessoa da sociedade em razão do seu perfil, e A demonstração empírica do livre-arbítrio é algo
não de em razão dos seus atos. desnecessário e utópico.

• No processo de tomada de decisões e execução • Ramon Vázquez: a questão da liberdade não


de um movimento corporal voluntário, existe pode ser respondida pela neurociência.
atividade cerebral não consciente que precede
• Gunther Klaus: afirma que a história tem muitos
o consciente (potencial de predisposição/
exemplos de regimes autoritários que trataram
prontidão).
como doentes mentais cidadãos que se negavam
• O limite temporal entre atividade de áreas a obedecer às normas legais, mas ilegítimas.
cerebrais conscientes e não conscientes se Convicções deterministas podem levar a um
apresenta como uma prova empírica de que a amplíssimo controle social e ulteriores restrições
liberdade de vontade não existe e que o homem da liberdade individual.
não domina sua própria decisão consciente das
• Winfried Hassemer (funcionalismo mínimo
ações que realiza.
ou do controle social): afirma que cada ciência
»» Críticas à neurociência: deveria se ocupar somente daquilo que seus
• Vives Antón: orientado pela filosofia da instrumentos lhe permitem alcançar, de modo
linguagem, afirma ser impossível analisar e que as ciências que trabalham com o método
compreender o que se passa na própria mente. empírico não podem afirmar se existe ou não
Tudo no mundo é objeto de atribuição de liberdade. O problema da culpabilidade só pode
significado por meio da linguagem, razão pela ser resolvido normativamente. Hassemer discute
qual a compreensão que os seres humanos têm a eliminação da reprovação como elemento da
sobre si e sobre o que se entende acerca da culpabilidade e a necessária preponderância de
liberdade não é algo palpável, mas produto de um conceito de responsabilidade atento ao fato
interpretação e atribuição de sentido. concreto.

Desse modo, não se pode considerar que as • Munoz Conde, por seu turno, afirma que a
pesquisas neuro-científicas afastem a liberdade culpabilidade não é um fenômeno individual, mas
e, consequentemente, o fundamento material social, razão pela qual não possui fundamento
da culpabilidade. psicológico, nem é uma categoria abstrata

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desconectada do contexto histórico-social, mas • Zaffaroni: de modo mais radical, afirma não
produto de uma profunda elaboração conceitual ser aceitável uma simples culpabilidade pelo
que pretende explicar por que e para que, em injusto, mas sim, é necessária uma culpabilidade
um determinado momento histórico, se impõe pela vulnerabilidade (essa última é mais ampla
a alguém uma consequência tão grave como que a coculpabilidade, pois abarca outros
uma pena. Deve-se avaliar a conveniência e componentes além da diferença social).
necessidade de uma sanção penal.

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