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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

– CAMPUS DIAMANTINA

Resenha Crítica: Doença Falciforme na


Pediatria

Saúde da Criança II – Turma 06

Discentes: Eduardo Faria Nogueira e Giovanni Luca

Docente: Marcela Danielle Pimenta de Barros Souza

Diamantina, 2019

INTRODUÇÃO
A doença falciforme (DF) é uma desordem genética de grande importância clínica e
epidemiológica cuja característica principal é a herança do gene da globina beta S (gene ßs). Este
gene determina a presença da hemoglobina variante S nas hemácias. Os fenômenos vaso-
oclusivos e a hemólise crônica são os principais determinantes das manifestações clínicas da DF.
Apesar de a alteração principal estar restrita aos eritrócitos do sangue, trata-se de doença
sistêmica que pode acometer qualquer órgão. Possui grande prevalência na população
brasileira. Sendo encontrada principalmente em indivíduos negros, visto o processo de
miscigenação que ocorreu no Brasil, tendo como consequência a disseminação na população
dos genes anormais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 1.900 crianças


nasçam todos os anos no Brasil com Anemia Falciforme. De acordo com o Ministério da Saúde,
a doença é incidente em 2% a 6% da população residente nas regiões do país, na qual a sua
maioria portadora, são indivíduos de origem afrodescendente. Desse modo, em virtude das altas
taxas de prevalência da Anemia Falciforme, o diagnóstico passou a ser obrigatório em todos os
estados da Federação. A partir de, 2001, foi criado o Programa Nacional de Triagem
Neonatal/Teste do pezinho. A triagem neonatal visa detectar a doença falciforme de maneira
mais rápida, possibilitando a condução de tratamento mais qualificado, tornando possível a
prevenção das manifestações clínicas, minimizando as intercorrências e, consequentemente,
aumentando a sobrevida e melhorando a qualidade de vida dos portadores

A DF é uma doença genética, crônica degenerativa, que apresenta severas


intercorrências, principalmente nos primeiros cinco anos de vida. É uma doença genética com
alto índice de morbimortalidade, consequente a complicações vaso-oclusivas como crises
recorrentes de dor, síndrome torácica aguda, sequestro esplênico, priapismo, necrose asséptica
de ossos e acidentes vasculares cerebrais. Os portadores de DF são acometidos desde o início
de suas vidas pelos fenômenos de vaso oclusão, que tem como consequência a lesão tecidual
irreversível dos diferentes órgãos. Tais lesões são responsáveis pela manifestação clínica mais
característica da DF, que é a dor em extremidades, região lombar, abdome ou tórax. A chamada
crise álgica, manifesta comumente a partir dos 24 meses de vida. A dor é a causa mais comum
de procura do serviço de emergência pelo paciente, e muitas vezes resultam em internação
hospitalar. As principais manifestações clínicas são exemplificadas na imagem abaixo:

DISCUSSÃO
Ao avaliar a DF podemos classificá-la como uma doença geneticamente determinada
em populações afrodescendentes. Este fato é fortemente relacionado à atenção em saúde
pública destina à população portadora desse distúrbio, visto que grande parcela da negros e
pardos do Brasil ainda não tem acesso aos serviços de saúde eficazes e adequados a abordagem,
sobretudo, de doenças crônicas, como a DF.

O Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) corresponde a um bom mecanismo


de saúde pública para despender atenção à DF. No entanto, essa doença foi incluída apenas
recentemente entre as doenças triadas pelo PNTN, no ano de 2001, e isso implica num grande
número de pessoas que ainda podem não ter sido diagnosticadas com a DF, estando suscetíveis
ao desenvolvimento de agravos decorrentes da DF sem assistência médica adequada. Além
disso, em muitas regiões do país onde a abrangência do Sistema Único de Saúde mostra-se
precária, as quais costumam ser áreas carentes e com alto número de indivíduos afrodescentes,
a realização do PNTN mostra-se insuficiente para cobrir todas as crianças que nascem.

Outro fato importante a se ressaltar é a alta taxa de mortalidade em crianças portadoras


de DF. A maioria dos portadores dessa enfermidade não atinge a idade adulta e a maioria das
complicações e dos óbitos ocorrem nas crianças do nascimento até os dois anos de idade. Dentro
desse contexto, é relevante observar que a maior causa de morte entre os indivíduos que
possuem DF são as infecções, inclusive na faixa etária pediátrica. Esses dados são assombrosos,
pois revelam a insuficiência ou mesmo a inexistência de acompanhamento e tratamento
adequados aos doentes falciformes no Brasil.

Esses fatos demonstram como a atenção em saúde pública destinada à DF ainda é


insuficiente e precisa de mais estruturação e efetivação dos programas de assistência pública de
saúde direcionados a esta causa. Outro ponto que fica explícito é a ainda deficitária atenção
ofertada à promoção de saúde em populações pertencentes a minorias étnicas e sociais no
Brasil. Apesar de existirem políticas públicas e instituições governamentais destinadas ao
fornecimento de medidas públicas de saúde a essas populações, a realidade da DF no país
exemplifica que ainda há muito a ser feito na prática para alterar o paradigma de acesso à saúde
de qualidade no país. O racismo institucional e a privação de direitos à assistência médica básica
suportam os prejuízos à melhor qualidade de vida e mesmo à vida para crianças no país,
sobretudo àquelas portadoras de doenças crônicas, como a DF.

Referências Bibliográficas:
BRUZEGUINI, MEIRIELLI VIEIRA. Situação Epidemiológica da mortalidade por doença
Falciforme no estado do Espirito Santo no período de 2001 a 2013. 2016. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo.

WERNECK, Jurema. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde e Sociedade,


v. 25, p. 535-549, 2016.

ATAIDE, Cintia Aparecida; RICAS, Janete. O enfrentamento do diagnóstico da doença


falciforme: Desafios e perspectivas vivenciadas pela família. Scientia Plena, v. 13, n. 5, 2017.

WANG, Winfred C. Triagem neonatal para verificar a existência de doença falciforme: necessária,
porém insuficiente. Jornal de Pediatria, v. 91, n. 3, p. 210-212, 2015.

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