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“Wormholes”:
Túneis no
Espaço-Tempo
Francisco Lobo * Existem soluções das equações de Einstein que
Paulo Crawford * descrevem túneis ou wormholes transitáveis no espaço-
-tempo. Poder-se-á utilizar uma geometria destas para
efectuar viagens interstelares rápidas? Esta questão tem
sido avançada nos últimos tempos. No entanto, a
matéria que constitui um tal wormhole (transitável) tem
densidade de energia negativa, o que viola algumas
condições de energia fundamentais. Por isso, ela se
designa por matéria exótica. Apesar desta e doutras
dificuldades, não existe uma prova irrefutável da
inexistência de wormholes, pelo que nada nos impede de
os considerar possíveis.
4 Gazeta de Física
wormholes: túneis no espaço-tempo
Introdução
É frequente os escritores de ficção científica considerarem Se fosse possível a formação e a estabilização dos túneis
buracos negros para viagens interestelares rápidas. de Kerr, estes possuiriam singularidades em forma de anel.
Imaginam viajantes intrépidos lançando-se num buraco Se a física fosse puramente clássica e o buraco negro
negro e encontrando-se subitamente numa região distante suficientemente grande e com rotação elevada, um
do universo. Para ilustrar tais buracos recorre-se viajante facilmente atravessaria a singularidade. No
normalmente a soluções esfericamente simétricas das entanto, a teoria quântica de campos prevê que as
equações de Einstein, por serem as mais fáceis de tratar. singularidades quebram o estado de vácuo (quântico),
No entanto, podem levantar-se objecções muito sérias às irradiando um fluxo intenso de partículas de altas
viagens interestelares através de buracos negros energias que certamente mataria qualquer viajante.
esfericamente simétricos.
Uma outra solução das equações de Einstein, sem simetria Fig. 2 Diagrama de um wormhole que liga duas regiões distintas de
um espaço-tempo.
esférica mas com simetria em torno de um eixo, é a
solução de Kerr, que descreve buracos negros em rotação.
Esta geometria possui no seu interior túneis que ligam
regiões assimptoticamente planas do espaço-tempo. Se Os wormholes (tradução à letra: buracos de verme)
aceitarmos a formação dos túneis de Kerr, estes não oferecem um mecanismo para viagens interstelares
existiriam por muito tempo devido à presença de rápidas. A Fig. 1 apresenta um diagrama de um wormhole
horizontes de Cauchy: superfícies nulas (i.e., luminosas) que liga dois universos diferentes; a Fig. 2 apresenta duas
para além das quais se quebra a previsibilidade. Estes regiões distantes do mesmo universo. Ambos os
horizontes de Cauchy também são instáveis relativamente wormholes são descritos pela mesma solução das equações
a pequenas perturbações. Um pacote de ondas luminosas de Einstein, a solução de Schwarzschild, diferindo apenas
incidente sofreria um blue-shift, com um aumento nas suas topologias. Saliente-se que estas equações não
exponencial da energia ao aproximar-se do horizonte de impõem restrições à topologia das soluções.
Cauchy, dando origem a campos gravitacionais intensos
que fechariam os túneis, convertendo-os possivelmente Mas também existe uma série de objecções às viagens
em singularidades físicas. Logo, o interior de um buraco interestelares utilizando os wormholes de Schwarzschild.
negro de Kerr não deve possuir túneis a ligar regiões As forças de maré de origem gravitacional na garganta
diferentes do espaço-tempo, mas singularidades que destes wormholes têm a mesma ordem de grandeza que as
também esmagariam qualquer viajante. do horizonte do buraco negro de Schwarzschild.
Gazeta de Física 5
wormholes: túneis no espaço-tempo
1. A métrica
Fig. 4 Kip Thorne atavessa um wormhole. Na ausência de campo gravítico, a geometria do espaço-
-tempo é plana, i.e., se dois acontecimentos A e B são
infinitesimalmente próximos então existe um conjunto
Em 1986 Kip Thorne e Michael Morris descobriram [1] infinito de sistemas de coordenadas tais que as diferenças
uma solução das equações de Einstein que descreve um das coordenadas temporal e espaciais, dt, dx, dy, e dz
wormhole transitável (Fig. 4). É uma solução relativamente medidas num dado sistema de coordenadas, estão
simples, inspirada em parte por um desafio de Carl Sagan relacionadas pela expressão invariante conhecida por
sobre a possibilidade real de viagens interstelares rápidas, métrica do espaço-tempo [2]
ideia que é utilizada no seu livro Contacto, que deu
origem ao filme com o mesmo nome (Fig. 5). (1)
(2)
6 Gazeta de Física
wormholes: túneis no espaço-tempo
redshift). A coordenada radial r tem um significado (i.e., a pressão radial a menos de um sinal negativo); e
geométrico específico, em que 2π r é a circunferência de p(r) é a pressão medida nas direcções angulares (direcções
um círculo centrado na garganta do wormhole. Portanto, r ortogonais à direcção radial).
é não-monótona uma vez que diminui de +∞ até um valor
mínimo, b0, na garganta, aumentando novamente para +∞.
3. As equações de Einstein
Num espaço-tempo estático e assimptoticamente plano, as As equações de Einstein para a métrica dada pela Eq. (2),
superfícies não-singulares onde g00 = -e2Φ →0 identificam depois de referidas a uma base ortonormada, ficam:
os horizontes. Por exemplo, o wormhole de Schwarzschild
possui um horizonte precisamente na garganta, r=2GM/c2. (4)
Logo, a condição do wormhole não possuir qualquer
horizonte corresponde ao facto de Φ(r) ser finita em (5)
qualquer ponto do espaço-tempo.
(6)
Os cálculos subsequentes e a respectiva interpretação
física serão simplificados utilizando uma base de vectores A nossa escolha de b(r) fornecerá ρ(r) através da Eq. (4);
ortonormados, associados ao referencial próprio de um Φ(r) e b(r) forneceram τ(r), e, portanto, p(r).
conjunto de observadores em repouso no sistema de
coordenadas com (r,θ,φ) constante,
A matemática da imersão
Utilizam-se diagramas de imersão para demonstrar que a
métrica (2) descreve um wormhole. A geometria do espaço
tridimensional com a coordenada temporal fixa tem um
interesse particular. Como esta geometria é esfericamente
simétrica, podemos confinar a análise a um plano
Nessa base a métrica toma localmente a forma dada pela equatorial (θ=π/2), sem perda de generalidade. O elemento
Eq. (1) e as equações de Einstein, , de linha, com t=const. e θ=π/2, vem agora
que relacionam a curvatura do espaço-tempo com as
distribuições de massa-energia representadas pelo tensor (7)
energia-momento, , ficam aqui reduzidas as três
equações, como veremos adiante. O objectivo da imersão é construir uma superfície
(bidimensional) do espaço euclidiano tridimensional, com
a mesma geometria do plano equatorial descrito acima,
2. O tensor energia-momento i.e., queremos visualizar a camada equatorial removida do
Sabe-se que a única solução de vácuo ( )e espaço-tempo e imersa no espaço euclidiano.
esfericamente simétrica das equações de Einstein é a
solução de Schwarzschild. Mas, como o wormhole de Utilizam-se as coordenadas cilíndricas z, r e φ no espaço
Schwarzschild não é transitável, somos obrigados a exigir euclidiano de imersão (Figs. 1 e 2), cuja métrica tem a
um tensor energia-momento não nulo para construir um seguinte forma:
wormhole transitável.
Na base ortonormada o tensor de Einstein, , tem a A superfície de imersão apresenta uma simetria axial e
mesma estrutura algébrica do tensor energia-momento, pode ser descrita pela função z(r). O elemento de linha é:
, portanto, este tensor só tem três componentes
não-nulas que são , , . Como os
observadores estáticos utilizam os vectores de base
ortonormados, cada uma das componentes do tensor de que é o mesmo da Eq. (7) se identificarmos as coordenadas
energia-momento tem uma interpretação física simples: (r, φ) do espaço de imersão com as coordenadas (r, φ) do
espaço-tempo do wormhole. Logo a função z(r) satisfaz a
relação
(3)
(8)
em que ρ(r) é a densidade de massa-energia total; τ(r) é a o que mostra o modo como b(r) condiciona a forma do
tensão por unidade de área medida na direcção radial wormhole.
Gazeta de Física 7
wormholes: túneis no espaço-tempo
Forças de maré e tempo de travessia no wormhole Para que o viajante sinta uma aceleração menor ou igual
Imaginemos uma viagem através do wormhole, numa à aceleração gravítica terrestre exige-se que
direcção radial, em que o viajante parte do repouso de
uma estação espacial no universo inferior, em l=-l1, e
(10)
termina numa estação espacial no universo superior, em
l=+l2. Designemos por v(r) a velocidade radial do viajante,
medida por um observador estático em r e seja (iii) As acelerações de maré, , entre as várias partes
, com β=v/c. O valor de v(r) é dado pela do corpo do viajante também não deverão exceder a
derivada da distância própria percorrida pelo viajante, dl, aceleração gravítica terrestre g⊕ . Designemos por a
em ordem ao tempo próprio medido pelo observador separação vectorial entre duas partes do corpo do viajante
estático, dτs=eΦdt. Temos então as equações: (por exemplo, a separação entre a cabeça e os pés). é
puramente espacial no referencial próprio do viajante, i.e.,
.
Para que seres humanos possam realizar comodamente Restrições impostas à tensão e à densidade de
uma viagem através de um wormhole impomos três energia na garganta do wormhole
condições: As restrições impostas à função de forma, b(r), do
(i) A viagem deve demorar pouco tempo, digamos menos wormhole implicam que, através das equações de Einstein
de um ano, quer para o viajante quer para os observadores (4)-(6), surjam restrições na densidade de massa-energia,
nas estações -l1 e +l2. ρ, na tensão radial, τ, e na pressão lateral, p, que geram a
curvatura do espaço-tempo. As restrições mais severas
ocorrem na garganta do wormhole. A tensão radial na
(9) garganta é:
8 Gazeta de Física
wormholes: túneis no espaço-tempo
Um wormhole é um atalho hipotético que liga duas ções de campo de Einstein que
regiões de um espaço-tempo. Contém duas entradas que apresentavam algumas caracte-
designamos por bocas, ligadas por um túnel, cuja rísticas peculiares [1].
circunferência mínima chamamos a garganta. Pode-se Nomeadamente, a matéria que
visualizar um wormhole através de um diagrama de constitui o wormhole tem uma
imersão, que idealiza um espaço-tempo com apenas duas densidade de energia negativa,
dimensões espaciais. Neste diagrama, a garganta do quando observada por um via-
wormhole é representada por uma circunferência, mas no jante que atravessa o wormhole
espaço-tempo tetradimensional seria uma esfera. a uma velocidade elevada. Diz-se,
por vezes, que esta matéria é
Os wormholes foram descobertos matematicamente como exótica, porque viola algumas
soluções das equações de campo por Flamm em 1916, condições de energia que são
poucos meses depois de estas serem formuladas por fundamentais para os teoremas
Einstein. Em 1935, Einstein e Rosen, numa tentativa de clássicos sobre singularidades do espaço-tempo.
construir um modelo geométrico de uma partícula Aparentemente, as leis da física clássica proíbem as densi-
elementar, encontraram soluções que representavam o dades de energia negativas, mas a teoria quântica de campo
espaço físico por dois planos idênticos, em que a partícula prevê a sua existência, violando por isso algumas destas
era representada por uma ponte que ligava os dois planos. condições de energia. Este assunto continua a ser alvo de
Esta solução posteriormente ficou conhecida por “ponte intensa investigação. Espera-se que uma eventual teoria
de Einstein-Rosen”. da gravitação quântica venha a resolver o problema.
Os wormholes foram alvo de estudo exaustivo na década Se é certo que os buracos negros parecem ser uma conse-
de 50 pelo físico norte-americano John Wheeler e seus quência inevitável da evolução estelar, já não se pode
colaboradores. No entanto, nenhuma das soluções a que afirmar que exista um mecanismo natural para a criação
chegaram representa um wormhole transitável no espaço- de wormholes. Pergunta-se: será que uma civilização
-tempo. As soluções encontradas eram as de um wormhole infinitamente avançada poderia construir um wormhole
dinâmico, que, uma vez criado, se expandia até um valor para realizar viagens interstelares? Será que as leis da
máximo da gargan-ta, contraindo-se novamente até a física permitem a construção de wormholes e a mudança
garganta desaparecer. topológica associada? Atendendo às flutuações gravitacio-
A expansão e a contracção do wormhole é tão rápida que nais do vácuo, predomina uma espuma quântica com uma
impede a travessia de qualquer viajante ou mesmo de um topologia multiplamente conexa à escala de Planck.
raio luminoso. Podemos imaginar uma civilização avançadíssima a
Os físicos têm sido bastante cépticos em relação aos extrair um wormhole da espuma quântica e a expandi-lo
wormholes. Em finais da década de 80 deu-se um renas- até dimensões clássicas. Thomas Roman oferece outra
cimento, em parte devido a um desafio, lançado por Carl perspectiva interessante [5]. Considera a formação de um
Sagan a Kip Thorne, sobre a possibilidade real de viagens wormhole no big-bang através de uma flutuação quântica
interstelares rápidas, ideia utilizada no livro Contacto que se expandiu exponencialmente durante a inflação do
(saído na Gradiva). Foram encontradas soluções das equa- universo, atingindo dimensões clássicas.
Mesmo os wormhole não-estáticos e sem simetria esférica forte e dominante que são fundamentais para demonstrar
são constituídos por matéria cuja densidade de energia é alguns dos teoremas sobre a existência de singularidades.
negativa para alguns observadores. Uma análise
qualitativa é a seguinte: um feixe luminoso (formado por
geodésicas nulas) que entra numa boca e emerge na outra Construção e estabilidade de um wormhole
tem uma secção eficaz que inicialmente diminui e depois transitável
de atravessar a garganta aumenta. A conversão do Seria extremamente desconfortável para um viajante
decréscimo para o acréscimo da secção recta eficaz apenas interagir com matéria sujeita a tensões da ordem de
pode ser produzida pela repulsão gravitacional da matéria τo≈5×1040 N/m2(10 m/b0)2. Existem várias maneiras de
do wormhole, o que corresponde à existência de proteger o viajante. Morris e Thorne sugerem que
densidades de massa-energia (ou pressões) negativas. poderíamos colocar um tubo de vácuo através do
wormhole, com um diâmetro muito menor do que o raio
Por outro lado, a restrição τ >ρc2 viola algumas condições da garganta, e utilizar tensões nas paredes do tubo para
de energia, nomeadamente as condições de energia fraca, evitar o acoplamento da matéria exótica com o viajante.
Gazeta de Física 9
wormholes: túneis no espaço-tempo
Essa possibilidade quebra a simetria esférica do wormhole, quântica. Será possível, num cenário inflacionário do
e obriga a obter soluções das equações de Einstein para universo, converter um wormhole quântico num wormhole
um wormhole não-esférico. De facto, Matt Visser [3] com dimensões clássicas?
aplicou o formalismo das condições de junção e descobriu
soluções de wormholes cúbicos e poliédricos. Essas Qualquer esperança de construir um wormhole depende da
soluções têm a vantagem de um viajante não encontrar futura descoberta de um campo exótico, ou seja, de um
matéria exótica na travessia. Morris e Thorne ainda estado quântico cuja tensão exceda a densidade de
sugerem que a matéria exótica que constitui o wormhole energia à escala macroscópica. Mas mesmo que um tal
(apesar das suas tensões e densidade de energia enormes) campo exótico existisse, há outras dificuldades, nomeada-
acopla muito fracamente com a matéria normal, tal como mente: a mecânica quântica poderá proibir uma mudança
acontece com os neutrinos e as ondas gravitacionais. topológica do espaço-tempo, ou os wormholes serem alta-
mente instáveis, e a matéria exótica acoplar fortemente
Na ausência de uma compreensão mais completa da com a matéria normal, o que impediria a travessia.
matéria exótica, é impossível estabelecer uma análise da
estabilidade do wormhole face a pequenas ou grandes Outra consideração assombrosa acerca dos wormholes é a
perturbações, tal como na travessia de uma nave espacial. sua possível utilização como máquinas do tempo, embora
Mas se o wormhole apresenta instabilidades naturais, uma tal viole aparentemente a causalidade…
civilização avançada poderia monitorizar a sua estrutura e
aplicar forças de feedback de modo a estabilizá-lo (nova Em conclusão: apesar das dificuldades apresentadas, não
sugestão de Morris e Thorne). existe uma prova irrefutável da inexistência de wormholes
como soluções das equações de Einstein da gravitação.
A construção de um wormhole é muito problemática, pois Portanto, não nos resta senão admitir wormholes
implica mudanças da topologia do espaço-tempo (Fig. 6). transitáveis no espaço-tempo como uma possibilidade
Na relatividade geral as mudanças topológicas são teórica e continuar a investigar a matéria exótica e todas
provavelmente acompanhadas de singularidades do as outras consequências incómodas associadas aos
espaço-tempo, as quais só poderão ser compreendidas e wormholes.
talvez evitadas no quadro de uma teoria quântica da
gravitação.
10 Gazeta de Física
artigos
O Trabalho Experimental
no Ensino de Tópicos de
Electricidade (8º ano)
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*
Introdução
A Electricidade é considerada por muitos alunos um assunto difícil [1] e
referida por diversos investigadores em Didáctica da Física [2] [3] como uma
das áreas onde existem concepções alternativas dos alunos muito estáveis e
resistentes à mudança. Tal põe em causa a eficácia de uma abordagem
tradicional de tópicos dessa área, nomeadamente circuitos eléctricos, corrente
eléctrica e diferença de potencial.
Numa tentativa de melhor compreender e contribuir para uma eventual
alteração dessa situação desenvolveu-se, no âmbito de uma tese de mestrado
[4], um estudo que consistiu em conceber, concretizar (em ambiente normal de
sala de aula) e avaliar um conjunto de estratégias de ensino/aprendizagem, e
respectivo material didáctico, para esses tópicos a nível do ensino básico
(8º ano). Uma das estratégias utilizadas foi o trabalho experimental realizado
pelos alunos. Este artigo centra-se na importância desse trabalho.
Gazeta de Física 11
Tópicos de Electricidade
12 Gazeta de Física
Tópicos de Electricidade
Gazeta de Física 13
Tópicos de Electricidade
14 Gazeta de Física
Tópicos de Electricidade
incentivo às tentativas dos alunos de repensar e a [1] Neto, A., Valente, M. e Valente, M. O. (1991). “Circuitos elementares de
corrente contínua: dificuldades de aprendizagem e formas de as superar”,
reelaborar as suas ideias; assim, para além de motivar,
Gazeta de Física 14 (3) 94-106.
ensinar destrezas laboratoriais, promover a compreensão [2] Shipstone, D. (1988). “Pupil’s understanding of simple electrical circuits:
de conceitos científicos, o trabalho experimental procurou, some implications for instruction”, Physics Education 23, 92-96.
ainda, desenvolver atitudes científicas, envolvendo [3] Licht, P. (1991). “Teaching electrical energy, voltage and current: an
os alunos em pequenos trabalhos de pesquisa. alternative approach”, Physics Education 26 (5), 272-277.
[4] Vasconcelos, F. (1997). “O ensino/aprendizagem de tópicos de Electricidade
Dada a importância do papel desempenhado pela
(8º ano) numa perspectiva de mudança conceptual: um estudo de investigação-
professora nesta metodologia e, em particular, no
-acção”, tese de mestrado, Universidade do Minho, Braga.
planeamento do trabalho experimental, consoante as [5] Hodson, D. (1994). “Hacia un enfoque más crítico del trabajo de laboratório”,
recomendações no programa da disciplina de Ciências Enseñanza de las Ciencias 12 (3), 299-313.
Físico-Químicas do ensino básico e na literatura da [6] Hodson, D. (1996). “Practical work in school science: exploring some
especialidade, impõe-se que a actividade docente seja directions for change”, International Journal of Science Education 18 (7),
755-760.
precedida e/ou acompanhada de uma actualização na
[7] Loureiro, M. (1991). “Uma nova abordagem ao ensino da Electricidade
formação de professores que dê resposta a essas - 8º ano”, em Actas do 2º Encontro Nacional de Didácticas e Metodologias
exigências. de Ensino, Universidade de Aveiro, Aveiro, 212-224
Gazeta de Física 15
entrevista
Gazeta de Física — É o físico português com maior número P. — Houve alguma razão específica para tomar essa
de citações nas revistas científicas internacionais. Qual decisão?
é o seu trabalho mais citado? R. — Pus três condições a mim. A primeira foi que,
José Luís Martins — Tenho vários trabalhos com muitas ao fim de seis meses, estivesse em vias de financiamento
citações. O mais citado não é o melhor, mas o mais útil. de projectos. Outra consistia em ter um gabinete só para
É um artigo de doutoramento [de um aluno meu nos EUA] mim. A terceira era ter um computador pessoal
em que se desenvolve uma nova forma de pseudopotencial relativamente rápido para trabalhar. Ao fim de seis meses
que permite fazer cálculos mais facilmente, e que essas condições estavam preenchidas e resolvi ficar.
é praticamente usado por toda a gente. Daí as referências
no trabalho de outros investigadores, que se vão P. — O que encontrou de diferente em Portugal
acumulando. relativamente aos outros sítios onde trabalhou?
Há outros muito citados, entre os quais um publicado em R. — É tudo completamente diferente. Eu recomendo
1991 que fez parte dos 10 mais citados, em todas as áreas a todos os estudantes que me perguntam o que hão-de
científicas, nesse ano. É sobre a estrutura electrónica fazer com a sua carreira que, a menos que tenham razões
do carbono 60. pessoais para ficarem em Portugal, vão uns anos para
o estrangeiro.
P. — Os seus estudos universitários e uma parte significativa
do seu trabalho de investigação foram feitos no estrangeiro. P. — Na sua opinião, os jovens físicos devem “emigrar”...
Porque decidiu regressar a Portugal? R. — Sempre. Uma das coisas que eu dizia aos primeiros
R. — É verdade que estive 16 anos no estrangeiro, metade estudantes que fizeram licenciatura comigo era que
na Suíça e a outra metade nos Estados Unidos. o ambiente lá fora era diferente. Claro que queriam saber
Mas a certa altura cheguei à conclusão que ou regressava mais, ou seja, em que é que era diferente. Bem, é diferente!
a Portugal ou nunca mais vinha para cá. O meu primeiro E três ou quatro dias depois de lá chegarem eu recebia um
estágio de pós-doutoramento tinha acabado e o segundo “e-mail” a dizer “percebemos por que é que o ambiente
estava a começar, e como não tinha compromissos é diferente”...
científicos, pedi seis meses de licença sem vencimento.
Cheguei a 1 de Janeiro de 1992 e quando esse período P. — Consegue explicar em que consiste essa diferença?
acabou resolvi ficar. R. — Tomemos o caso dos Estados Unidos. Há uma vida
16 Gazeta de Física
José Luís Martins
de “campus” e de departamento que não existe de todo que tem uma biblioteca minimanente decente é o de Física
em Portugal. Por exemplo: um desses alunos estava muito de Coimbra.
orgulhoso por ter conseguido organizar uma série de E há um problema de atitude perante as coisas. Por vezes
concertos de música clássica no Salão Nobre do Instituto levo pessoas a ver a biblioteca para lhes mostrar o que
Superior Técnico (IST). Quando chegou lá descobriu que se passa aqui e elas vêem que os livros estão fechados
a Universidade tinha... duas orquestras, uma praticamente à chave para não serem roubados. Qualquer estrangeiro
profissional e a outra para os amadores de música. Para ri-se com isso, pois o objectivo de qualquer biblioteca
não falar de dezenas de outras estruturas e actividades é facultar o acesso à informação. Os roubos, que acontecem
culturais. em todo o lado, fazem parte do risco de haver informação.
Depois, há as discussões nos corredores. Existindo um Com a Internet, felizmente que as coisas estão a melhorar,
departamento onde as pessoas passam todos os dias, pois há um acesso directo à informação.
acabam por se encontrar, quer seja à hora do café, nos
seminários ou nos colóquios. Em Portugal nada disso P. — O que é preciso fazer em Portugal para reduzir essa
existe. No nosso departamento [Departamento de Física diferença, que mencionou, em relação a outros países
do IST] cada pessoa está no seu canto — eu estou aqui no considerados de referência na sua área de investigação?
INESC, outros no LIP, outros ainda no próprio R. — Neste momento, o importante é dar oportunidade
departamento ou no antigo Complexo 2 — e raramente se aos vários jovens que saíram para o estrangeiro nos
encontram. A dispersão geográfica impede que se façam últimos anos — a política de enviar muita gente para
coisas... fora do país foi muito importante — e que estão
Quando eu cheguei estava a dar-se a grande a regressar.
transformação do Técnico — essencialmente um grande Há um sério problema de enquadramento, pois a nossa
liceu onde as pessoas iam dar as aulas e se iam embora — estrutura de investigação empresarial é muito pequena
para um espaço onde as pessoas ficavam e faziam e as universidades estão completamente esclerosadas.
investigação. Entre o que ele era há 10 anos ou que é Costumo perguntar: se um português a trabalhar no
agora, comparado com aquilo que existe no estrangeiro, estrangeiro ganhar um prémio Nobel e quiser vir para
a diferença é enorme. Portugal trabalhar, pode fazê-lo? Não, porque os quadros
das grandes universidades de Lisboa, Porto e Coimbra
P. — Quais são as maiores dificuldades com que se depara estão cheios e há um minúsculo número de pessoas que
no seu trabalho de investigação? se vão reformar nos próximos tempos. Além disso, não
R. — O problema que tenho agora [Julho de 1999] é não existe aquela flexibilidade que existe nos Estados Unidos
ter dinheiro para investigar. que permite arranjar sempre lugar para uma pessoa
brilhante que apareça.
P. — O que reduz todos os outros problemas que possa ter Por tudo isso, creio que só uma nova geração que venha
a insignificâncias... com vontade de trabalhar e os hábitos de trabalho adqui-
R. — Claro. Houve um hiato muito grande entre concursos. ridos nos Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha,
Como em Portugal há uma ideia enraizada que, quando é que vai poder refazer um estilo de investigação em
se tem de mexer nas coisas, tem de se mudar tudo, Portugal.
quando isso acontece pára tudo. Como era preciso mudar
tudo, não houve concursos durante anos. O último em que P. — Mas há outras universidades além das que citou...
recebi algum dinheiro considerável para fazer investigação R. — A vinda desses jovens investigadores seria uma boa
foi em 1994. No ano passado houve outro, mas esse oportunidade para as universidades mais pequenas, mas,
dinheiro ainda não chegou. salvo algumas excepções, elas não estão a aproveitar essas
possibilidades.
P. — Neste momento está parado?
R. — Não estou parado! Mas a situação não é muito P. — Que balanço faz da actividade do Ministério da Ciência
brilhante. e Tecnologia?
R. — Ainda é um bocado cedo, porque se fizeram
P. — Vamos imaginar que tem dinheiro para investigar. modificações demasiado profundas e falta ver se, a médio
Quais são os problemas concretos que dificultam o seu prazo, isso é positivo ou não. A curto-prazo, os efeitos
trabalho de investigação? foram negativos, porque ao querer mudar-se tudo,
R. — Há um problema com as bibliotecas. A do IST não se fez nada. Praticamente só há um ano é que
encontra-se distribuída por várias mini-bibliotecas as instituições começaram a funcionar nos novos moldes
e comparada com a de qualquer instituição deste tamanho e, por isso, é ainda cedo para se fazer uma avaliação
no estrangeiro, é ridícula. Creio que o único departamento do seu trabalho.
Gazeta de Física 17
notícias
Física em Portugal
Provas na Universidade (Laboratório de Instrumentação e Física
de Aveiro Experimental de Partículas), o Instituto
Estudantes do Porto dão curso Agregação: João de Lemos Pinto, em Pedro Nunes e o recém-criado Centro
de Astronomia Julho de 1999, e Vítor Torres, em de Tecnologias Nucleares Aplicadas à
Começa em meados de Outubro mais Outubro de 1999. Saúde.
um Curso de Introdução à Astronomia Mestrado em Ensino de Física e
promovido pela Associação para a Pro- Química: Carlos Alberto Duarte,
moção Cultural da Criança (APCC). “A Interpretação do Mundo Físico”,
Desta vez o curso realizar-se-á, pela em Maio de 1999 e Pedro Pombo, Física em Colisão
primeira vez, na Delegação Regional “Óptica e Holografia no Ensino Realiza-se em Junho de 2000, durante
Norte daquela associação e será minis- Secundário”, em Julho de 1999. três dias, a “20th Conference Physics in
trado por estudantes da licenciatura de Collision”, no Museu da Ciência, da
Astronomia da Faculdade de Ciências Universidade de Lisboa. A organização
da Universidade do Porto. Estes ani- é do LIP e da Faculdade de Ciências
madores fazem parte do Grupo de Provas na Universidade da Universidade de Lisboa. Da Comissão
Informação e Recreação Astronómica de Coimbra Organizadora fazem parte os Drs. Gaspar
(GIRA), que se dedica à divulgação da Agregação: Rui Ferreira Marques, em Barreira, Augusto Barroso e Amélia
Astronomia em geral, tendo por isso Setembro de 1999. Maio. As datas exactas da conferência,
uma vasta experiência em acções deste Doutoramento em Física Teórica: com a duração de dois dias, serão
tipo. Fernando Nogueira, “Descrição de fixadas no próximo mês de Dezembro.
O GIRA publica o Giroscópio (ver sólidos e agregados metálicos usando
http://come.to/GIRA), um suplemento pseudopotenciais”, em Julho de 1999.
de Astronomia na revista “Ciência J”, Mestrado em Física Teórica: Miguel
da Associação Juvenil de Ciência (ver Afonso Oliveira, “Integrais de caminho Formação contínua de
http://www.ajc.pt/cienciaj). Para mais em teoria de Colisões — Método de professores em Coimbra
informações contactar a APCC na Praça Makri e Miller”, em Julho de 1999. Começaram em Setembro e pro-
da República, 93 — 3º escrit. 4, Tel. 22 Mestrado em Física Tecnológica: Luís longam-se por Outubro próximo, no
2004284 ou o GIRA na Rua Capitão Miguel da Silva Margato, “Estudo de Departamento de Física da Uni-
Pombeiro, 59 — 2º dtº, 4000 Porto, detectores do tipo MSGC, MGC e GEM versidade de Coimbra, as acções “Foco”
telefone 22 5091520, e-mail - para aplicação a elevadas taxas de intituladas “FORPROFIS 2: Formação
gira@geocities.com. contagem”, em Maio de 1999, Filipa de Professores de Física–Das Teorias
Leonor Rodrigues Vinagre, “Técnica de aos Procedimentos 2” (coordenada pela
medição do valor de W para raios X em Drª Maria José de Almeida)
gases: resultados para misturas Ne-Xe”, e “Exploração de Equipamento Experi-
Dinâmica da Cisão em Julho de 1999, e Carla Cristina mental Existente nas Escolas Secun-
Terá lugar no Luso de 15 a 20 de Maio Alves de Oliveira, “Dosimetria termolu- dárias para a Leccionação dos Curricula
de 2000, por iniciativa do Centro de minescente em radioterapia externa de Física” (coordenada pelo Dr. Adriano
Física Teórica da Universidade de com o sistema Rialto, modelo 688, da Pedroso de Lima). Ambas as acções
Coimbra, um encontro sobre “Dinâmica NE Technology - Estudo das condições têm 38 horas de leccionação (15
da cisão”. A comissão organizadora de aplicabilidade”, em Outubro de unidades de crédito) e são destinadas
é formada pelos Drs. D. M. Brink, F. F. 1999. a professores do ensino secundário,
Karpechine, F. B. Malik e J. da sendo a primeira extensível a pro-
Providência. O programa abrange fessores do 3º ciclo do ensino básico.
a área da cisão atómica (situação A avaliação é individual, estando os
experimental e desenvolvimentos Hadrões para a Saúde formando obrigados à presença em 75
teóricos) e cisão nuclear (situação A exposição itinerante do CERN sobre a por cento das acções, que têm lugar
experimental: cisão ternária, fria terapia com hadrões, “Hadrons for às sextas feiras das 15 às 19 horas.
e espontânea, cisão induzida por Health”, deverá vir a Coimbra durante o Pedidos de esclarecimento sobre
muões, características gerais da cisão ano de 2000, estando em negociação acções de formação de professores
a energias baixas, intermédias, altas, as datas exactas dessa realização. devem ser feitos por “e-mail” para
e desenvolvimentos teóricos). “Coimbra Cidade da Saúde” acolherá jacruz@ci.uc.pt
essa exposição com a colaboração de
várias instituições, entre elas o LIP
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Simulação de processos
biológicos
Decorre em Santarém nos dias 2 e 3 de
Outubro o segundo curso da Sociedade
Portuguesa de Biofísica, cujo objectivo é
dar um panorama de técnicas de
simulação usadas nas ciências biológicas,
com uma aplicação essencialmente
prática. Os tópicos cobertos são
simulações de dinâmica molecular
(clássica e quântica), interacções mole-
culares, métodos electroestáticos no
contínuo, predição da estrutura de
proteínas, organização de membranas,
etc. É co-organizador o Dr. Cláudio
Soares, do ITQB, Universidade Nova de
Lisboa. Para mais informações ver
http://www.itqb.unl.pt
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Provas nacionais de Física do 12º ano destes termos serem hoje geralmente utilizados, eles não são
adequados. Quando se procura avaliar experimentalmente
Pedimos à Dra. Ana Eiró, professora do Departamento uma grandeza fazendo várias medições, idealmente em
de Física da Universidade de Lisboa, e que acompanhou pela número muito grande, obtém-se o valor da grandeza
parte da Sociedade Portuguesa de Física (SPF) o processo calculando a média dos valores obtidos ou traçando uma recta
dos exames do 12º ano, alguns comentários sobre as provas “pelo meio dos pontos” obtidos, como é o caso do exemplo
nacionais de Física. Fizemos-lhe duas perguntas e, como na questão III do ponto da 1ª chamada. Define-se erro
é evidente, as suas respostas são dadas a título pessoal e não absoluto da medição como o módulo do maior desvio, isto é,
veiculam a posição da SPF. o módulo da maior diferença entre o valor medido e o valor
médio (que não é necessariamente o valor mais provável), e o
P. — Como comenta os exames de Física do 12º ano deste ano? erro relativo como a razão entre o erro absoluto e o valor
Os enunciados eram adequados? experimental da grandeza. Estas definições aparecem
R. — As provas foram adequadas ao programa da disciplina. frequentemente referidas ao “valor verdadeiro”, no
Pareceram-me equilibradas relativamente à distribuição das pressuposto de que se conhece a grandeza que se vai medir.
diferentes partes da matéria e ao alcance do aluno médio. Era isto que se pedia nos enunciados dos exames e toda a
Apesar de não serem complicadas, as provas exigiam gente entendeu o que se pretendia, até porque estas questões
a realização de alguns cálculos, um pouco longos para foram muito semelhantes às que apareceram nas provas
os alunos menos treinados. modelo. Quanto a incerteza da medição, remeto para a
Havia questões de variados graus de dificuldade, o que definição proposta por G. Almeida no seu livro “Sistema
permite distinguir os alunos. Algumas destas questões podem Internacional de Unidades” (Plátano, 2ª ed., 1997): “estimativa
ter provocado hesitações no aluno bem preparado. que caracteriza o intervalo de valores no qual se situa o
Por exemplo, na questão 3.3 do ponto da 2ª chamada, verdadeiro valor da grandeza medida”.
o aluno conhecedor da matéria pode ter procurado
o movimento de uma partícula sujeita simultaneamente P. — Houve ou não erro ou imprecisão no ponto da 2ª
a um campo eléctrico e magnético, em vez de encontrar uma chamada?
resposta simples baseada no equilíbrio entre as forças no R. — Houve, de facto, uma incorrecção na questão I.5 do
ponto inicial do movimento. exame da 2ª chamada. Embora seja interessante, a questão
O aspecto gráfico das provas era bom, mas algumas figuras não apresenta nenhuma solução correcta. A aceleração do
deveriam ter sido mais cuidadas. Por exemplo, no ponto da 1ª corpo quando percorre o líquido Y é maior do que quando
chamada, na questão II.1, o pormenor da figura era essencial percorre o líquido X, o que significa que a velocidade cresce
à resolução do problema. A figura 4 deveria ter sido ampliada com o tempo em Y de uma forma mais acentuada do que em
e, sobretudo, respeitada a escala dos ângulos assinalados. X. O gráfico escolhido deve ter uma descontinuidade. Este
Há ainda aspectos de pormenor, como o fornecimento de raciocínio leva o aluno a optar pelo gráfico D (o mesmo nas
dados não necessários à resolução e a não explicitação duas versões). Mas este gráfico não está correcto, pois
completa das condições em que se colocam as questões. apresenta a variação da velocidade com a altura e não com o
À primeira vista a existência de dados a mais não deveria tempo. Se a velocidade varia linearmente com o tempo não
prejudicar os alunos e, de facto, penso que assim acontece no varia linearmente com a altura. Só o quadrado da velocidade
caso do aluno médio. Contudo, os melhores alunos podem ser varia linearmente com a altura, pelo que o gráfico correcto
perturbados por informação irrelevante. devia apresentar dois ramos de parábola em lugar de dois
Quanto à explicitação das condições do problema, é uma segmentos de recta ou, alternativamente, indicar no eixo das
questão de precisão: o campo gravítico que se refere no ordenadas o quadrado da velocidade.
problema II.2 da 1ª chamada é seguramente uniforme... Não creio que este erro tenha prejudicado a maioria dos
Um comentário geral sobre as questões do grupo III, ditas alunos, que nem deram conta dele. Poderá, porém, ter
experimentais: embora tendo sido introduzidas nos exames confundido uma minoria que terá optado por não assinalar
com o objectivo de fomentar o ensino experimental — ou pelo nenhuma resposta certa. O Ministério deu indicação aos
menos de criar hábitos de análise dos resultados experimentais correctores de que deveriam dar a cotação completa a quem
—, a resposta a estas perguntas não avalia a capacidade ou tivesse assinalado a opção D ou não tivesse assinalado
experiência do aluno em trabalhos de laboratório. Têm sido nenhuma hipótese, ou ainda tivesse dito que nenhuma das
questões simples, que ajudam a cotação a subir... É, contudo, hipóteses estava correcta, o que me pareceu uma opção
essencial que as palavras utilizadas e os conceitos subjacentes equilibrada no sentido de minorar os males. Mas o “remédio”
sejam claros. Pede-se para calcular a incerteza dos valores e o adoptado não resolve a questão de fundo... É inacreditável
valor da incerteza em percentagem e fala-se, nos critérios de que apareçam erros nos enunciados! Será que não é possível
correcção, em incerteza absoluta e incerteza relativa. Apesar resolver de vez esta questão?
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Museu de Física Gulbenkian, 1997), do qual existe uma exposição, realizada pela Fundação
versão em inglês. Calouste Gulbenkian com o apoio do
O Museu de Física da Universidade de O Museu de Física tem recebido, para Museu de Física, foi visitada por cerca
Coimbra tem a sua origem no Real além de numerosos visitantes nacionais de 50 000 pessoas.
Gabinete de Física, uma valiosa e estrangeiros, muitos grupos de alunos . “O Engenho e a Arte”, na Sala da
colecção de instrumentos de Física dos 2º e 3º ciclos do ensino básico e do Cidade e no Edifício do Chiado, em
pertencente ao Real Colégio de Nobres ensino secundário, de cursos de pós- Coimbra, de Dezembro de 1997 a
de Lisboa e transferida para Coimbra graduação em Museologia, e ainda Março de 1998. A exposição,
para integrar a cadeira de Física grupos de cientistas nacionais e constituída pelos 149 instrumentos
Experimental (criada pelos Estatutos de estrangeiros. anteriormente expostos na Fundação
1772 no âmbito da reforma pombalina O interesse da colecção motivou ainda Calouste Gulbenkian, teve cerca de
da Universidade). Este museu possui a visita de especialistas, nomeadamente 12 000 visitantes.
hoje um notável espólio de instrumen- Jane Wess (Conservadora do Museu de . “Os Construtores do Oriente
tos científicos e didácticos de Física dos História da Ciência de Londres), Português”, no Museu de Transportes
séculos XVIII e XIX, utilizados no Emanuel Araújo (Director da e Comunicações da Alfândega do
Gabinete de Física Experimental da Pinacoteca do Estado de São Paulo), Porto, de Junho a Novembro de 1998.
Universidade de Coimbra desde que ele Gian Antonio Saladin (Director do . “Splendors of Portugal”, exposição
foi criado. Museu de História da Física de Pádua), a decorrer no Japão entre Maio
A colecção de instrumentos é uma das Stuart Talbot (Presidente da “Scientific e Dezembro de 1999 e que integra a
mais raras no mundo. Os instrumentos Instrument Commission” da máquina electrostática de disco de
do século XVIII, que deram origem na “International Union of the History and vidro e o magnete esférico.
época a um dos mais completos Philosophy of Science”) e, por ocasião . Exposição temporária no Visiona-
gabinetes para o estudo da Física da conferência anual desta última rium, Centro de Ciência do Europarque
Experimental, são considerados verda- organização, realizada em Lisboa em de Santa Maria da Feira, de Junho de
deiras obras de arte. Os instrumentos Maio passado, de um grupo de cerca de 1998 a Agosto de 1999. Para esta
do século XIX são, por sua vez, re- 50 cientistas de várias nacionalidades. exposição o Museu cedeu 17 peças da
presentativos do desenvolvimento da No sentido de melhorar a exploração sua colecção.
Física Experimental naquele período. pedagógica do espólio do Museu foram
Uma parte do actual espólio do Museu construídas réplicas de alguns Projectos em curso
encontra-se em exposição permanente instrumentos cuja utilização poderá Actualmente o Museu desenvolve os
nas salas onde foi originalmente complementar a visita por alunos. seguintes projectos:
instalado o Gabinete de Física. Estas — Projecto PRAXIS XXI/2/2.1/
salas, com o mobiliário da época, DC&T/1939/96 - Mediatização do
constituem parte integrante do Museu. Museu de Física da FCTUC.
Numa delas é feita uma recriação de O projecto está em vias de conclusão,
um Gabinete de Física da segunda podendo visitar-se, no endereço
metade do século XVIII. Na outra são http://www.fis.uc.pt/museu, páginas
apresentados instrumentos adquiridos que incluem: informação geral; “O
ao longo do século XIX. Engenho e a Arte” (colecção de 149
instrumentos mostrados através de
Actividades recentes fotografias, esquemas, textos e
O Museu de Física abriu as suas portas Participações exteriores animações); passeio virtual (novo: salas
ao público em 29 de Janeiro de 1997, O Museu de Física participou nas e objectos reconstituídos em três
tendo desde então mantido um seguintes exposições: dimensões); homenagem (Mário Silva e
funcionamento regular. O material . “A Magia da Imagem”, no Centro Rómulo de Carvalho); obras de Física
exposto é constituído por cerca de Cultural de Belém, de Fevereiro a Junho dos séculos XVIII (novo), etc.
300 instrumentos científicos dos de 1996. Nesta exposição estiveram — “Science and Technology Historical
séculos XVIII e XIX, e por livros antigos expostas algumas lâminas de vidro Routes - STHIR”, projecto submetido
de carácter científico. Para a exposição pintadas e a câmara óptica. em 1999 ao programa RAFAEL, em
inaugural foi publicado o catálogo . “O Engenho e a Arte”, na Fundação colaboração com o Museu Nacional da
“O Engenho e a Arte: Colecção de Calouste Gulbenkian, em Lisboa. De Ciência e da Técnica de Madrid e com
Instrumentos do Real Gabinete de Abril a Agosto de 1998 esteve patente o Museu de História da Física da
Física” (Universidade de Coimbra - uma mostra constituída por uma Universidade de Pádua.
Faculdade de Ciências e Tecnologia - selecção de 149 instrumentos — MULTILAB, projecto submetido em
Museu de Física e Fundação Calouste científicos dos séculos XVIII e XIX. Esta 1999 à Comissão Europeia, em
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Gás de fermiões quase ao zero de Fermi com degenerescência quântica fluido de Fermi” permitirá investi-
absoluto tem mais energia do que a prevista pela gações das várias formas de super-
Um gás atómico com “degenerescência física clássica, uma vez que os fermiões fluidez e supercondutividade. Outros
de Fermi”, um gás de átomos têm de ocupar níveis de energias cada grupos estão a procurar estes e outros
fermiónicos (átomos compostos por vez mais altos à medida que os níveis estados similares com átomos fermiónicos.
um numero ímpar de partículas: de baixo são preenchidos. A obtenção (DeMarco and Jin, Science, 10 / Set. / 1999 e
electrões, protões e neutrões) que desta situação no laboratório tem-se Physical Review Focus, 24/ Mai./ 1999).
essencialmente se sobrepõem uns aos revelado difícil uma vez que arrefecer
outros, foi criado pela primeira vez, fermiões é mais difícil do que arrefecer
prometendo obter conclusões no bosões: uma vez colocados numa
laboratório sobre as principais pro- “ratoeira” construída com campo Visualizando orbitais
priedades de estrelas de neutrões, hélio magnéticos, os fermiões em estados electrónicas
superfluido e todas as formas de semelhantes tendem a repelir-se uns
supercondutividade. A preparação deste aos outros e evitam as colisões
gás de fermiões requer as mesmas transferidoras de energia que são
condições que a preparação de um necessárias para o chamado “arre-
condensado de Bose-Einstein (BEC) fecimento por evaporação”. Para
de átomos bosónicos, átomos contrariar isto, investigadores em
compostos por um número par de Colorado, EUA (Deborah Jin,
partículas. Tem de se arrefecer um gás NIST/University of Colorado) prepa-
de átomos até estes exibirem raram átomos de potássio-40 em dois
propriedades ondulatórias e empacotá- estados diferentes de “spin”, que
-los densamente até que a distância descreve como os átomos respondem
média entre os átomos seja comparável a um campo magnético externo.
ao seu comprimento de onda As duas espécies podiam colidir uma
de Broglie. Nesta altura, os átomos com a outra e isso permitiu
individuais tornam-se indistinguíveis. o arrefecimento por evaporação. Então, A imagem de um átomo é, de facto,
Se os átomos são bosões, então caiem uma espécie de “spin” foi removida por a imagem dos electrões mais exteriores
todos no estado de energia mais baixo um campo de rádio-frequência, ou, para ser mais preciso, a imagem da
(fundamental) para formar um BEC. deixando cerca de um milhão de probabilidade de que esses electrões
Se os átomos são fermiões, porém, isto átomos do outro spin para estudo. estejam nos vários pontos do espaço.
não acontece. O princípio de exclusão O grupo do Colorado deduziu que Para todos os electrões, excepto os mais
de Pauli proíbe dois fermiões de ocupar a temperatura era de aproximadamente interiores, a forma desta superfície de
o mesmo estado. Em vez disso, os 290 nanokelvins — a temperatura mais probabilidade (ou orbital) será não-
fermiões ocupam estados quânticos baixa algum dia atingida para um gás -esférica. Físicos do Arizona (EUA)
diferentes nos níveis de energia mais de fermiões. Verificaram que a natureza obtiveram uma imagem destas orbitais
baixos, tal como a água que enche uma fermiónica dos átomos inibia de facto pela primeira vez e mostraram que elas
garrafa desde o fundo até um certo dramaticamente o arrefecimento por se parecem mesmo com os desenhos
nível (ver figura). evaporação. Isto é devido em parte que aparecem nos livros de mecânica
à pressão de Fermi — a repulsão dos quântica desde há décadas. Usando
átomos na “ratoeira” – que resiste uma técnica que combina difracção de
à compressão necessária para um raios-X e microscopia electrónica, os
arrefecimento por evaporação efectivo. cientistas da Arizona State University
Este sistema pode fornecer uma visão produziram um mapa 3D das orbitais
sobre o modo como os fermiões que de átomos de cobre e das suas ligações
formam anãs brancas e estrelas de com os átomos vizinhos no composto
neutrões permanecem a flutuar em vez de cobre Cu2O (ver figura). As imagens
de colapsar pela força da gravidade. No das ligações Cu-O e Cu-Cu podem
Este conjunto de átomos é chamado futuro, os investigadores esperam fornecer uma visão sobre o mecanismo
um “gás com degenerescência estudar a supercondutividade con- dos supercondutores a alta tem-
quântica“, pelo facto de as diferenças seguindo formar pares de Cooper com peratura, onde são cruciais a posição
entre bosões e fermiões só se tornarem os fermiões, a temperaturas ainda mais dos electrões e lacunas (os buracos
importantes neste regime de baixa baixas do que as que agora se deixados por electrões).
temperatura e alta-densidade. Um gás obtiveram . A criação de um tal “super- (J. M. Zuo et al., Nature, 2 / Set. / 1999)
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Aprovado “Experimenta”
em Leiria
A Sociedade Portuguesa de Física,
Delegação Regional do Centro, viu O que dizem os físicos
aprovado em Setembro pelo programa
“Ciência Viva” o seu projecto
“Experimenta, Laboratório de Ciências
Físicas”, que visa instalar, gerir e José Mariano Gago (Março/1999)
explorar um laboratório moderno de “Portugal continua ainda muito abaixo dos níveis razoáveis em termos
ciências físicas na Escola Secundária europeia no sector da ciência e tecnologia (…) O salto só pode ser dado se
Domingos Sequeira, em Leiria. O se mantiver, nos próximos 10 anos, uma política de apoio sistemático aos
projecto tem o apoio da Câmara investigadores e aos centros de investigação e se o sistema permitir
Municipal de Leiria e deverá em breve a ascensão aos lugares de chefia de quadros jovens e com capacidade de
começar a ser concretizado. Prevê-se liderança”.
que, para além dos alunos das escolas
secundárias, seu “público-alvo” prefe- José Emílio Ribeiro e Jorge Dias de Deus (Maio/1999)
rencial, o “Experimenta” venha a “A produção científica nacional continua anormalmente baixa — dados
constituir um núcleo a partir do qual se do Science Citation Index e CIA revelam que Portugal, em contraste com
promovam acções de divulgação da a Irlanda, produz três vezes menos do que seria de esperar para o seu PIB
cultura científica destinadas a toda a — e a inovação, medida por patentes, não se afasta do nível zero.
população da área de Leiria e, mais em Houve certa animação interna, com avaliações internacionais atribuindo
geral, da região Centro. Contacto: Rui estrelas aos centros de investigação — estilo Guia Michelin — mas, no
Ferreira Marques, e-mail: essencial, não se alterou nada. As avaliações, em alguns casos (relembrar
rui@lipc.fis.uc.pt debates da época) não se revelaram prestigiantes.”
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física
A Secção “Olimpíadas de Física”, seguida de visita ao Laboratório assuntos do programa das Olimpíadas
Física” é coordenada onde foram apresentados alguns Internacionais de Física que não fazem
por José António Paixão trabalhos experimentais realizados por parte dos currículos do ensino
e Manuel Fiolhais. alunos do Mestrado em Física para secundário português.
O contacto com os coor- o ensino da FCUL. Da parte da tarde,
denadores poderá ser feito durante a correcção das provas, foi
para: organizada uma visita à exposição
Departamento de Física, do CERN “E=mc2 — quando a energia Menção honrosa
Universidade de Coimbra, se transforma em matéria”, no Museu na XXX Olimpíada Internacional
3000 Coimbra; de Ciência da Universidade de Lisboa. de Física
ou pelos telefones A equipa vencedora do escalão A foi A Olimpíada Internacional de Física
239-410645, 410615, a da Escola Secundária Quinta do (IPhO) de 1999 decorreu na cidade
fax 239-829158 Marquês (Oeiras), constituída pelos italiana de Pádua de 18 a 27 de
ou “e-mails” seguintes elementos: Catarina Miguel Julho de 1999. Estiveram presentes
jap@pollux.fis.uc.pt e Martins, Liliana Patrícia da Silva estudantes de 62 países de todo
tmanuel@teor.fis.uc.pt e Pedro Miguel Leal. o mundo e observadores de três
Os vencedores do escalão B foram, por países (entre os quais o Brasil).
ordem de classificação: 1- Ricardo A representação portuguesa foi
Miguel Paiva, Esc. Sec. Camões, Lisboa, constituída pelos alunos do 12º ano
2- João Eduardo Gouveia, Esc. Sec. Rui Bebiano (Esc. Sec. Herculano
Olimpíadas Nacionais 1999 José Falcão, Coimbra, 3- Pedro Tiago Carvalho, Lisboa), Rui Meleiro (Esc.
Decorreram no passado dia 26 de Batista, Esc. Sec. Prof. Herculano de Sec. Emídio Navarro, Viseu), João
Junho, no Departamento de Física da Carvalho, Lisboa, 4- Fernando José Cardeiro (Esc. Sec. D. Pedro V, Lisboa),
Faculdade de Ciências da Universidade Abegão, Esc. Sec. Gabriel Pereira, Évora, Pedro Miranda (Esc. Sec. José Sara-
de Lisboa, as Olimpíadas Nacionais de 5- Marta Maria Varela, Esc. Sec. do mago, Lisboa) e José Miguel Santos
Física. Nesta prova concorreram as três Lumiar, Lisboa, e José Pedro Farinha, (Esc. Sec. Latino Coelho, Lamego),
equipas do escalão A vencedoras da Esc. Sec. Jaime Moniz, Funchal (ex-
etapa regional e no escalão B os oito æquo); 7- Pedro Miguel Caldes, Esc.
melhores classificados nesta etapa, em Sec. Gabriel Pereira, Évora, 8- Ângelo
cada região. Gabriel Cardoso, Esc. Sec. Bernardino
Na prova teórica do escalão A foi Machado, Figueira da Foz.
proposto um problema sobre um Os vencedores do escalão B e ainda
instrumento de precisão e, na parte os 9º e 10º classificados, João Vide
experimental, investigou-se o custo Barbosa (Esc. Sec. António Sérgio, V. N.
energético de aquecer e evaporar uma de Gaia) e André Nuno Carvalho Souto
certa quantidade de água. A prova (Esc. Sec. Infante D. Henrique, Porto),
teórica do escalão B desenvolveu-se em encontram-se pré-seleccionados para
torno de uma questão de mecânica de integrar a equipa olímpica que irá
A equipa olímpica portuguesa
corpos celestes e, na prova participar nas competições inter-
experimental, os alunos mediram a nacionais do próximo ano, a IPhO- e ainda pelos “team-leaders” José
distância entre duas espiras 2000 que decorrerá em Leicester (Reino António Paixão e Manuel Fiolhais.
consecutivas de um CD, que funcionou Unido) e as Olimpíadas Ibero- Rui Bebiano obteve uma menção
como rede de difracção de um laser. Americanas de Física, que terão lugar honrosa, sendo esta a primeira vez
Os enunciados de todas as provas em Jaca (Espanha) e onde Portugal que um estudante português é
estão disponíveis através da Internet irá participar pela primeira vez. Esta premiado numa Olimpíada Interna-
(spf.pt/dsul/olimpiadas.html). “selecção olímpica” terá, à semelhança cional de Física.
Durante a realização das provas, o dos anos anteriores, uma preparação A prova teórica foi constituída por três
Dr. António Vallera, do Departamento que decorrerá durante o próximo ano problemas: o primeiro tratava um
de Física da Faculdade de Ciências lectivo, e que conta com a colaboração assunto de Termodinâmica, com alguns
da Universidade de Lisboa (FCUL), de professores da Universidade de afloramentos de Física Moderna; o
proferiu uma conferência para os Coimbra e dos professores orientadores segundo, de Electromagnetismo, andou
professores acompanhantes sobre dos alunos, a designar pelas escolas em torno do campo de indução
“Colaboração Universidade-Escolas no onde os alunos frequentarão o 12º ano. magnética criado por um fio infinito,
desenvolvimento de experiências de Esta preparação tem em vista cobrir dobrado em V, percorrido por uma
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corrente estacionária; na terceira A organização da IPhO promoveu uma classificação de 41,5 num total de
questão pedia-se para analisar o visitas a locais de interesse turístico, 50 pontos. Este estudante obteve
movimento de um satélite enviado ao entre os quais Veneza, e aos também a melhor classificação na
planeta Júpiter e envolvia, sobretudo, Laboratórios Nacionais de Legnaro. Aí prova experimental. A melhor prova
conhecimentos sobre o movimento de pudémos observar, entre outros, os teórica foi realizada por um estudante
uma partícula num campo de forças equipamentos utilizados nas espanhol.
central. experiências de detecção de ondas No ano 2000 a competição terá lugar
Na questão experimental estudava-se gravitacionais. em Jaca (Espanha), estando prevista,
um pêndulo de torsão de momento Na cerimónia de encerramento, que como já se referiu, a participação de
de inércia variável. Contamos contou com a presença do prémio Portugal com uma equipa de quatro
apresentar na Internet, na página Nobel italiano Carlo Rubia, foi elementos, a seleccionar por entre os
da SPF, os enunciados de todas oficialmente anunciado que a XXXI estudantes apurados nas Olimpíadas de
as questões bem como de propostas IPhO decorrerá em Leicester (Reino Física de 1999.
de resolução (todos os textos em Unido), em Julho de 2000.
português).
O facto de este ano a IPhO se realizar
mais tarde do que o habitual tornou
possível propiciar aos nossos Olimpíadas
estudantes uma preparação suple- Ibero-Americanas de Física
mentar de quatro dias antes da partida Teve lugar de 20 a 24 de Setembro em
para Itália e já depois de terem Ochomogo (Costa Rica) a IV Olimpíada
realizados os exames do 12º ano. Ibero-Americana de Física onde
Uma tal preparação intensiva Portugal participou, pela primeira vez,
é absolutamente necessária, já que com o estatuto de observador. Esta
as matérias sobre as quais incide competição, cujas edições anteriores
a prova olímpica vai muito para além tiveram como países anfitriões a
do programa de Física do ensino Colômbia, a Venezuela e o México,
secundário. Em anos anteriores esta pretende promover a Física entre os
preparação decorreu antes ou, por jovens da América Latina, Portugal e
vezes, durante o período de exames, Espanha e estreitar a cooperação entre
o que lhe retirou eficácia. Este ano, estes países no domínio da divulgação
o próprio calendário terá contribuído e ensino da Física.
para uma melhoria significativa nos Participaram este ano na competição
resultados dos nossos estudantes, 13 países de um total de 22 que
sendo certo que o principal mérito formam a comunidade de países ibero-
dessa melhoria vai sobretudo para -americanos. A representação de
o esforço desenvolvido ao longo do Portugal ficou a cargo do Dr. José
ano pelos próprios alunos, mas António Paixão.
também para o trabalho empenhado Tal como na IPhO, há duas provas —
dos professores orientadores e para uma de índole teórica e outra expe-
a escola que apoiou cada um dos rimental. O programa de Física também
alunos, e para os docentes do é idêntico ao da IPhO, mas as questões
Departamento de Física da Uni- apresentadas nas Olimpíadas Ibero-
Rui Bebiano que obteve uma menção honrosa na
versidade de Coimbra (Adriano Lima, Americanas têm, geralmente, um grau
XXX IPhO
Pedro Alberto, Lucília Brito, de dificuldade menor.
Francisco Gil, Décio Martins) que Nas Olimpíadas Ibero-Americanas
colaboraram com os “team leaders” podem participar alunos do ensino
na preparação suplementar. secundário, sendo a idade máxima dos
Registe-se ainda que Rui Meleiro estudantes de 18 anos. A competição é
ficou a 0,8 ponto (em 50) da individual, sendo cada país repre-
menção honrosa e João Cardeiro e sentado por uma equipa de, no
Pedro Miranda a dois pontos. máximo, quatro estudantes.
O vencedor absoluto da XXX IPhO O vencedor da competição deste ano
foi um estudante russo. foi um estudante argentino que obteve
Gazeta de Física 33
publicações
34 Gazeta de Física
livros
livros ee multimedia
multimedia
livros livros e multimedia
e multimedia
“(...) O autor não se sente feliz por William Whewell ter criado
a palavra cientista para qualificar o praticante de uma
actividade que todos pareciam aceitar se chamasse Ciência
(...). Bem melhor teria sido adoptar a designação, que tão “Ciência, a Anatomia do Maravilhoso”
bem Newton justificou, e que foi anunciada por Francis António Manuel Baptista
Bacon, de Filosofia Experimental. Com efeito, muitos dos SPB Editores, Lisboa, 1998
desencontros, que levam até a acrimoniosas discussões,
gravitam em torno da ambiguidade do significado da palavra
Ciência com uma ganga milenária profundamente incrustada.
Permito-me assim sugerir uma prova que julgo pelo menos
servir para acertar agulhas nesta navegação entre palavras
Obras editadas
que é qualquer discurso. Consiste, onde se encontrem as
palavras Ciência ou Cientista, na sua substituição por
A partir deste número procederemos à menção, sem
Filosofia Experimental e Filósofo Experimental, respecti-
prejuízo de eventuais notas críticas mais desenvolvidas
vamente. O efeito, por vezes, é quase mágico e, outras vezes,
a publicar posteriormente, dos livros editados que
introduz uma pausa reflexiva de que só pode beneficiar a
chegarem à redacção da “Gazeta de Física”.
consistência do discurso.
Muitos autores gravíssimos, como diria António Vieira, entre
Eis uma selecção de obras de Física e de Ciência em
eles eminentes matemáticos, falam de ciência matemática.
geral publicadas desde 1998:
Mas quando assim for leiamos ou escutemos filosofia
experimental matemática e talvez já não pareça tão estranho
porque defendemos que a Matemática (não estamos a referir
. “Perfil da Investigação Científica em Portugal”,
Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundação para a
a Matemática Aplicada, claro) não é uma ciência. Façamos a
Ciência e Tecnologia”, Carlos Matos Ferreira (Coord.),
prova mais vezes: quando se falar em ciência política ou
Observatório das Ciências e Tecnologias, 1998.
ciência social ouçamos filosofia experimental, política ou filo-
sofia experimental social; em vez de ciência linguística,
. “Introdução à Relatividade Restrita”, João Manuel
Resina Rodrigues, IST Press, 1998.
filosofia experimental linguística; em vez de psicologia
científica, filosofia experimental psicológica, etc. O que nos
. “Por que não são Negros os Buracos Negros”, Robert
M. Hazen e Maxine Singer, Dinalivro, 1998.
pareceria se ouvíssemos referir o cientista Sigmund Freud
como o filósofo experimental Sigmund Freud? Mesmo quando
. “Fé de Físico!”, Louis Leprince-Ringuet,
Gráfica de Coimbra, 1998.
dizemos filosofia da Ciência deveríamos ter presente que nos
. “Visões”, Michio Kaku, Bizâncio, 1998.
estamos a referir a filosofia da Filosofia Experimental. Se
alguns se atrevem mesmo a falar de ciência metafísica, se
. “O Universo de Carl Sagan”, Yervant Terzian e
Elisabeth Bilson, Universidade de Aveiro/Gradiva, 1998.
ouvíssemos falar de filosofia experimental metafísica, todos
estremeceríamos, principalmente, acreditamos, os
. “Imposturas Intelectuais”,
Alan Sokal e Jean Bricmont, Gradiva, 1999.
metafísicos... Não estamos, nos exemplos indicados (por
exemplo, quando falámos de psicologia científica), que se
. “Perguntem ao Tio Alberto”,
Russell Stannard, Edições 70, 1999.
poderiam multiplicar, a propor o teste como absolutamente
negando qualquer carácter científico à actividade referida
. “A Natureza e os Gregos e Ciência e Humanismo”,
Erwin Schroedinger, Edições 70, 1999.
mas a indicar que possivelmente muito do que se lhe refere
como “científico” não tem jus a este adjectivo. E já não
. “Respostas da Ciência”, John Brockman e Katinka
Matson, Círculo de Leitores, 1999.
falamos da astrologia científica, ou parapsicologia científica,
ou de quaisquer outras perversões e abusos insultantes.”
C. F.
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opinião
Promoções e Concursos
Augusto Barroso*
As universidades em Portugal gozam de autonomia
consagrada na Constituição da República. Contudo,
a esta solenidade no plano dos princípios corresponde
uma prática pouco autonómica. Desde logo, o acto mais
importante da vida da universidade, a escolha dos seus
professores, está balizado por um diploma legal, esteja habilitado com o título académico de agregado.
designado por estatuto da carreira docente, negociado Concordo com esta exigência e também concordo com
entre o Estado e os sindicatos sem que a instituição quadros com um número de lugares pré-determinado.
universidade tivesse tido qualquer interferência. Apesar As chamadas carreiras circulares são incompatíveis com
da tradição, não estou convencido de que terá de ser uma carreira cuja hierarquia deve corresponder a níveis
sempre assim. Antes pelo contrário: a realidade muda-se. progressivamente mais exigentes de competência
Por isso, é tempo de abrir um debate sobre estes assuntos. científica. Pelo contrário, esta exigência progressiva
É o que vou procurar fazer aqui. implica uma carreira em pirâmide, como forma de
Pelo menos no âmbito dos maiores departamentos garantir uma saudável competição entre vários
de Física das nossas universidades, é um dado adquirido, candidatos.
que a contratação se faz, pelo menos, para o lugar de Contudo, estou em desacordo com a prática actual porque
professor auxiliar. Está assim definitivamente afastado, ela não permite uma distinção entre promoção dos
salvo em condições excepcionais que podemos considerar professores de um determinado departamento e recruta-
em vias de extinção, a contratação de assistentes para mento de novos professores. Quanto ao recrutamento, ele
funções docentes. Por esta via, fica assim resolvido deveria ser efectuado por concurso aberto exclusivamente
o problema da passagem automática dos assistentes a candidatos exteriores ao departamento. Estes concursos
a professores auxiliares. Falta agora abordar de uma poderiam ser abertos para qualquer das três categorias
forma cientificamente correcta, isto é, de uma forma que de professores e corresponderiam à implementação da
garanta a defesa dos interesses da instituição política de desenvolvimento do departamento.
universitária, a permanência na carreira e a promoção. Se é necessário um professor para reforçar ou iniciar uma
Quanto à permanência na carreira, designada dada área, então deve procurar-se contratar o melhor
habitualmente por nomeação definitiva, o sistema vigente candidato que se consiga atrair. Este candidato deverá
deveria ser revisto. Actualmente, após um primeiro vir do exterior, já que a promoção a uma posição mais
quinquénio como professor auxiliar, o professor elabora elevada na hierarquia de um professor já existente no
um relatório sobre a sua actividade que submete departamento não introduzirá, obviamente, qualquer
à apreciação do conselho científico da sua faculdade. alteração qualitativa no departamento.
Este órgão nomeia dois professores para efectuarem um Por outro lado, parece-me imprescindível que, na
parecer sobre o relatório que é depois votado por todos universidade, também exista uma política de promoção
os professores. Infelizmente, esta democraticidade está do seu pessoal docente. Em qualquer instituição, uma
na origem de uma grande irresponsabilidade. Diria política de gestão de recursos humanos passa pela
mesmo que a irresponsabilidade cresce na razão directa implementação de um esquema de promoções que
do número de votantes, já que na sua maioria não tem premeie os melhores. Sem este esquema, a instituição
nem competência científica na área do candidato nem arrisca-se a perder os seus melhores quadros ou, pior
interesse directo no resultado da apreciação. Talvez fosse ainda, arrisca-se a que se instale um clima que não
razoável encurtar o período probatório de cinco para três incentive o esforço e a iniciativa. Tal é ainda mais grave
anos e transferir a decisão para um júri de cinco a sete em instituições, como são presentemente as universidades
membros nomeados pelo conselho científico. portuguesas, onde a política de remunerações está ligada
à função e não ao desempenho.
Perder os melhores
Quanto à progressão na carreira, ela é actualmente Proposta “delicada”
efectuada por concurso público para professor associado Como fazer então as promoções? Atribuir a sua
e para professor catedrático, abertos sempre que exista competência a um júri formado por todos os professores
uma vaga nos respectivos quadros. Acresce ainda que, catedráticos de um determinado departamento mais
para concorrer a catedrático, se exige que o candidato outros professores catedráticos ou especialistas exteriores
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