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Lições de Análise Matemática 2

Maria do Carmo Coimbra


Departamento de Engenharia Civil
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Julho de 2008
Conteúdo

Prefácio vii
1 Breves Noções de Topologia em Rn 1
2 Funções Diferenciáveis 9
2.1 Funções Escalares e Funções Vectoriais . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Geometria das Funções Escalares . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Limites e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.4 Diferenciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5 Propriedades da Derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.6 Propriedades do Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

3 Derivadas de Ordem Superior 47


3.1 Derivadas Parciais Iteradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2 Teorema de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.3 Extremos de Funções Escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.4 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.5 Função Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.6 Função Implícita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

4 Cálculo Integral em Rn 93
4.1 Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.2 Integrais Duplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.2.1 Integrais Duplos em Rectângulos . . . . . . . . . . . . 93
2
4.2.2 Integrais Duplos sobre outras regiões de R . . . . . . . 99
2
4.2.3 Integrais Duplos sobre regiões elementares de R . . . . 99
4.3 Integrais Triplos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
4.3.1 Integrais Triplos em Paralelepípedos . . . . . . . . . . 108

Lições de Análise Matemática 2


4.3.2 Integrais Triplos sobre outras regiões de R3
. . . . . . . 111
3
4.3.3 Integrais Triplos sobre regiões elementares de R . . . . 112
4.4 Mudança de Variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
4.4.1 Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
4.4.2 Coordenadas Cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
4.4.3 Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
4.5 Integrais Imprópios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

Exercícios 135
Lista de Figuras
2 2
2.1 Astróide,x3 + y 3 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
x3
2.2 Gráco de f : f (x) = sin x (linha) e de g : g(x) = x− (pontos) 14
6
2 2
2.3 Gráco de f : f (x, y) = x + y . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 2
2.4 Curvas de nível de f : f (x, y) = x − y . . . . . . . . . . . . 16
2 2
2.5 Gráco de f : f (x, y) = x − y . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.6 Gráco de f , descontínua em x = 1 . . . . . . . . . . . . . . . 17
xy
2.7 Gráco de f : f (x, y) = 2 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
x +y
2.8 Gráco de f e da recta tangente no ponto (2, f (2)) . . . . . . 28
2.9 Gráco de f e do plano tangente em (a, f (a)) . . . . . . . . . 31
2.10 Curvas de nível e campo de gradientes . . . . . . . . . . . . . 45

3.1 Gráco de cos(x + y) e de 1 − (x + y)2 /2 . . . . . . . . . . . . 55

3.2 (0, 0) ponto de máximo absoluto de f : f (x, y) = 2e−( ) .


x2 +y 2
. 63
2 2
3.3 (0, 0)
ponto de mínimo absoluto de f : f (x, y) = x + y . . . . 63
2 2
3.4 ponto de sela de f : f (x, y) = x − y . . . . . . . . . .
(0, 0) . 65
2 4 4
3.5 Gráco de f : f (x, y) = (x − y) − x − y . . . . . . . . . . . 73
3.6 Gráco de f : f (x, y) = |x + y| . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
2 2
3.7 Estudo de f : f (x, y) = xy em x + y ≤ 1 . . . . . . . . . . . 80
2 2
3.8 Encontrar os extremos de xy em x + y = 1 . . . . . . . . . . 83
√ √
3.9 Gráco de f : f (x) = 1 − x2 numa vizinhança de x = 22 . . 88
2 2
3.10 Numa vizinhança de (1, 0), x + y = 1 não pode ser gráco
de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

4.1 Cálculo de um volume usando 4 paralelepípedos . . . . . . . . 95


2
4.2 Volume aproximado da região V com 7 paralelipipedos . . . . 95
2
4.3 Volume aproximado da região V com 20 paralelipipedos . . . 96
1 3 x−1
4.4 Região elementar do tipo 1: φ(x) = x + e ψ(x) = + 1 100
4 4 (x−1)2 +1

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4.5 Região elementar do tipo 1: φ(x) = x−1 e ψ(x) = ex−1 , 1.5 ≤
x ≤ 2.5
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
4.6 Região elementar do tipo 2: φ(y) = y1 e ψ(y) = y, 1 ≤ y ≤ 2 . 101
1
p
4.7 Região elementar do tipo 2: φ(y) =
y
e ψ(y) = 4 − y2 . . . . 102
2
4.8 Região elementar do tipo 2: φ(y) = y e ψ(y) = y + 6 . . . . . 103
√ 1 2
4.9 Região elementar do tipo 1 denida por y = 4 x e y = x . . 105
√ 2
1 2
4.10 Região elementar do tipo 2 denida por y = 4 x e y = x . . 106
p 2
4.11 Cone denido por z = 5 e z = x2 + y 2 . . . . . . . . . . . . 115
2 2
4.12 D = {(x, y) : x + y = 25} . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.13 D = {(x, z) : 0 ≤ z ≤ 5 ∧ −z ≤ x ≤ z} . . . . . . . . . . . . . 116
4.14 Sólido S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.15 Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
4.16 Mudança de variável para coordenadas polares . . . . . . . . . 124
4.17 Elemento de área em coordenadas polares . . . . . . . . . . . 124
4.18 Cardióide, a=1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
4.19 Coordenadas Cilindricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
4.20 Projecção do sólido no plano xy . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
4.21 Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Prefácio

Imagination is more important than


knowledge.
( Albert Einstein)

Estes apontamentos em forma de E-book, foram elaborados com o objec-


tivo de oferecer ao aluno um instrumento de trabalho que oriente e desperte
o interesse pela disciplina de Análise Matemática 2. Não se pretende substi-
tuir a bibliograa existente, mas simplesmente fornecer um ponto de partida
para a aprendizagem. Uma nota que gostaríamos realçar é que a Matemática
não se aprende passivamente. Os exercícios, quando não mecanizados, ensi-
nam a usar conceitos, esclarecer dúvidas e dão oportunidade de explorar um
universo diversicado.
Esta disciplina de Análise Matemática 2 trata do estudo das funções de
várias variáveis. Como é natural pressupomos uma certa familiaridade com
funções reais de variável real. Além disso admitem-se conhecidas algumas
noções básicas de Álgebra Linear.
Iremos recorrer à Álgebra Linear para (re)formular conceitos e demonstrar
os teoremas do cálculo diferencial de funções de várias variáveis. Todos os
conceitos introduzidos são ilustrados por meio de exemplos e em muitas situ-
ações os resultados são estabelecidos usando teoremas da análise de funções
reais de variável real.
Em diversas situações é sugerido o uso do maple ou do maxima. Rera-
se que apenas se utiliza este software como uma ferramenta, por isso pode
utilizar a sua máquina gráca ou mesmo prescindir de todo do uso de um
instrumento de cálculo e usar apenas lápis e papel. Bom trabalho!
O meu agradecimento à Doutora Isabel Magalhães pela colaboração dada
e leitura crítica deste manual.

Lições de Análise Matemática 2


Capítulo 1
Breves Noções de Topologia em
Rn

Neste capítulo apresentamos breves noções de topologia do espaço eucli-


diano n-dimensional. São conceitos importantes para o estudo de funções de
Rn em Rm . Recordemos que o conjunto Rn munido das operações soma de
vectores e produto de um vector por um número real,

x + y = (x1 , x2 , ..., xn ) + (y1 , y2 , ..., yn )


= (x1 + y1 , x2 + y2 , ..., xn + yn ) ∈ Rn

λx = λ(x1 , x2 , ..., xn ) ∈ Rn
dene um espaço vectorial real. Os elementos de Rn são por vezes chamados
pontos (elementos de um conjunto) e outras vezes designados por vectores
(elementos de um espaço vectorial). Sabemos também que os vectores

e1 = (1, 0, ..., 0); e2 = (0, 1, ..., 0); ...; en = (0, 0, ..., 1)

são linearmente independentes e que qualquer outro vector x = (x1 , x2 , ..., xn )


se exprime linearmente e de forma única como combinação linear dos vectores
ei , i = 1, 2, ...n, i.e., x = ni=1 xi ei . O conjunto de vectores {ei , i = 1, 2, ...n}
P
n
dene pois uma base, a base canónica, de R , que terá assim dimensão n.
n m
As bases canónicas permitem estabelecer uma bijecção entre, L (R , R ) ,
n m
o conjunto das transformações lineares de R em R e o conjunto M (m × n)
das matrizes reais com m n colunas. A matriz associada à transfor-
linhas e
mação linear A é denida por A = [aij ], tal que se ej é o j-ésimo vector coluna

Lições de Análise Matemática 2


2 Breves Noções de Topologia em Rn

da base canónica de Rn então A · ej é um vector de Rm com componentes


iguais às da j-ésima coluna de A. Isto signica que a i-ésima componente de
A · ej é aij .
Um espaço vectorial real diz-se normado quando a cada vector x está
associado um número real não negativo, designado por norma de x, kxk, que
goza das propriedades:

kxk ≥ 0 e kxk = 0 ⇔ x = 0Rn , ∀x ∈ Rn (1.1)

kλxk = |λ|kxk, ∀x ∈ Rn , ∀λ ∈ R (1.2)

kx + yk ≤ kxk + kyk, ∀x, y ∈ Rn (1.3)

Nos espaços R2 e R3
é bem conhecida de todos a noção de produto interno
n
ou produto escalar. Generalizando a R , o número real

n
X
x·y = xi y i (1.4)
i=i

designa-se por produto interno ou produto escalar dos vectores x e y.


Por exemplo, em R2 ,

(1, 3) · (3, 2) = 1.3 + 3.2 = 9

e é bem conhecida de todos a noção de norma,

p √
k(1, 3)k = (1, 3) · (1, 3) = 10
p √
k(3, 2)k = (3, 2) · (3, 2) = 13
e a noção de ângulo formado pelos vectores (1, 3) e (3, 2) ,

(1, 3) · (3, 2) = k(1, 3)k k(3, 2)k cos θ

pelo que o ângulo θ, formado pelos vectores (1, 3) e (3, 2) é tal que

9
cos θ = √ √
10 13

Lições de Análise Matemática 2


3

Exercício 1 Verique que o produto interno goza das seguintes proprieda-


des: Se x, y, z ∈ Rn e α, β ∈ R então
x·x≥0 e x·x=0⇔x=0 (1.5)

x·y =y·x (1.6)

(αx + βy) · z = α(x · z) + β(y · z) (1.7)

Denição 1 Mais geralmente diz-se que num espaço vectorial, de dimensão


nita ou não, está denido um produto interno quando a cada par de
vectores está associado um escalar com as propriedades 1.5, 1.6 e 1.7. A um
espaço vectorial real de dimensão nita munido de um produto interno dá-se
o nome de espaço euclidiano.
Proposição 1 O espaço vectorial Rn munido de
kxk : Rn → √R+ 0
x 7→ x·x

é um espaço vectorial normado. kxk = x · x designa-se por norma eu-
clidiana.
Partindo da denição axiomática de produto interno, demonstremos que
a norma euclidiana satisfaz os axiomas 1.1, 1.2 e 1.3. Para a demonstração
da validade do axioma 1.1 observe-se que
v
u n
√ uX
kxk = x · x = t (xi )2
i=i

Ora, como sabemos o quadrado de um número real é um número não ne-


2
gativo, (xi ) ≥ 0. Assim a soma de números reais não negativos é ainda um
número não negativo. Será igual a zero se e só se todos as parcelas forem
zero , isto é, se e só se x = 0. A validade de 1.2 é demonstrada considerando
a denição de norma e as propriedades sobre os reais,
v
u n
p uX
kλxk = (λx) · (λx) = t (λxi )2
i=i
v v
u n u n
u 2X 2
uX
= tλ (xi ) = |λ| t (xi )2 = |λ| kxk
i=i i=i

Lições de Análise Matemática 2


4 Breves Noções de Topologia em Rn

Para demonstrar a validade do axioma 1.3, também designado por desigual-


dade triangular, demonstremos primeiramente o seguinte teorema:
Teorema 1 Se x, y ∈ Rn então
|x · y| ≤ kxkkyk

Esta desigualdade é designada por desigualdade de Cauchy-Schwarz.

Demonstração: Se x e y são linearmente dependentes então existe um


α ∈ R, tal que y = αx, e portanto pelas propriedades do produto interno e
atendendo a que kxk2 = x · x

|x · y| = |α|(x · x) = |α|kxk2 = kxkkαxk = kxkkyk

Caso contrário, se x e y são linearmente independentes, temos que y−αx 6= 0,


qualquer que seja α ∈ R. Ora,

0 < ky − αxk2 = (y − αx) · (y − αx) = y · y − 2αy · x + α2 x · x

Observemos que o membro direito é uma equação quadrática na variável α


que não se anula. Portanto o seu discriminante na variável α é negativo, o
que signica que
4(y · x)2 − 4(y · y)(x · x) < 0
o que é equivalente a
|y · x| < kykkxk
cqd
Para demonstrar a desigualdade triangular, observe-se que pela de-
sigualdade de Cauchy-Schwarz,

x · y ≤ |x · y| ≤ kxkkyk

e, desenvolvendo kx + yk2 obtemos,

kx + yk2 = kxk2 + 2x · y + kyk2 ≤ kxk2 + 2kxkkyk + kyk2 = (kxk + kyk)2

e portanto
kx + yk ≤ kxk + kyk (1.8)

o que conclui a demonstração.

Lições de Análise Matemática 2


5

Pelo exposto podemos armar que todo o espaço vectorial com produto
interno é um espaço normado. Por sua vez todo o espaço normado se pode
tornar num espaço métrico denindo a função distância entre dois pontos por

d(x, y) = kx − yk
Quando não for explicitamente referido qual a norma em Rn que esta-
mos a utilizar ca subentendido que se trata da norma euclidiana. Assim a
distância euclidiana ca denida por
q
d(x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + ... + (xn − yn )2
Observe-se que é possível denir em Rn outras distâncias provenientes de
outras normas.
Por exemplo a norma do máximo, kxk∞ , e a norma 1, kxk1 são duas
normas de manipulação algébrica simples

kxk∞ = max {|xi |}


i=1,...,n

e
n
X
kxk1 = |xi |
i=1

É também possível denir distâncias que não provêm de normas e normas


que não provêm de produtos internos.
Seja agora A uma matriz real n×n. Uma vez escolhida uma norma para o
espaço vectorial Rn é possível denir uma norma matricial correspondente
para A,
kAxk
kAk = max
kxk6=0 kxk

onde o máximo é tomado sobre todos os vectores não nulos de Rn . Se consi-


derarmos a norma vectorial euclidiana, a norma matricial associada é de
cálculo difícil. No entanto a norma matricial

kAxk∞
kAk∞ = max
kxk6=0 kxk∞

baseada na norma do máximo é calculada facilmente e mostra-se que

n
X
kAk∞ = max |aij |
1≤i≤n
j=1

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6 Breves Noções de Topologia em Rn

Exemplo 1 A norma do máximo para a matriz,


 
1.01 0.99
A=
0.98 1.02

é
kAk∞ = max {|1.01| + |0.99| , |0.98| + |1.02|} = 2
A norma do máximo da matriz identidade,
 
1 0
I=
0 1

é kAk∞ = 1.

Nas denições que se seguem consideramos o espaço métrico Rn e desi-


gnamos por d a função distância induzida pela norma euclidiana.

Denição 2 Seja a ∈ Rn e r um número real positivo. O subconjunto de


Rn denido por
B(a, r) = {x ∈ Rn : d(x, a) < r}
diz-se bola aberta de centro a e raio r.

Denição 3 Um subconjunto de Rn que contenha uma bola aberta de centro


a e raio r diz-se uma vizinhança de a e representa-se por Va .

Denição 4 Seja U um subconjunto de Rn . Um ponto x ∈ Rn diz-se:


1. Ponto interior a U se e só se
existe r > 0 tal que B(x, r) ⊂ U.
2. Ponto exterior a U se e só se  
existe r > 0 tal que B(x, r) ⊂ Rn U .

3. Ponto T
da fronteira de U sse para todo r > 0, B(x, r) U 6= ∅ e
T
n
B(x, r) R U 6= ∅.

4. Ponto isolado de U se e só se
existe r > 0, tal que B(x, r) U = {x}.
T

Lições de Análise Matemática 2


7

5. Ponto de acumulação de U se e só se
T 
para todo r > 0, B(x, r) U {x} 6= ∅.

Exercício 2 Dê exemplos e represente geometricamente subconjuntos de R2


em que possa indicar:

1. um ponto da fronteira que não pertença ao conjunto;


2. um ponto isolado;
3. um ponto interior;
4. um ponto exterior;
5. um ponto da fronteira que pertença ao conjunto.

Denição 5 Seja U ⊆ Rn .
O conjunto dos pontos interiores a U diz-se o interior de U e repre-

senta-se por int(U ) =U ⊆ U .
O conjunto dos pontos exteriores
 a U diz-se o exterior de U e repre-
senta-se por ext(U ) = R U .
n

O conjunto dos pontos fronteiros a U diz-se a fronteira de U e repre-


senta-se por f r(U ) = ∂U.

O conjunto ad(U ) =U = f r(U ) int(U ) diz-se a aderência ou fecho de
S
U.
O conjunto dos pontos de acumulação de U diz-se o derivado de U e
representa-se por U 0 .

Denição 6 Seja U ⊆ Rn .
U diz-se aberto se e só se int(U ) = U.

U diz-se fechado se e só se U = U.
U diz-se limitado se e só se existe r > 0 tal que U ⊂ B(0, r).

Exercício 3 Dê exemplos e represente geometricamente subconjuntos de R2


e de R3 que sejam:

1. abertos;

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8 Breves Noções de Topologia em Rn

2. fechados;
3. não abertos;
4. limitados;
5. abertos e fechados;
6. não abertos e não fechados;
Denição 7 Seja E um espaço vectorial normado. Um subconjunto S de
E diz-se compacto quando toda a sucessão de elementos de S tem uma
subsucessão convergente para um elemento de S .
Proposição 2 Um conjunto de U ⊆ Rn é compacto se e só se é limitado e
fechado.
Exercício 4 Dê exemplos e represente geometricamente subconjuntos de R2
e de R3 que sejam compactos.
Denição 8 Diz-se que um conjunto U ⊆ Rn é convexo quando contém
qualquer segmento de recta cujos extremos pertençam a U.
Nota: O segmento de recta de extremos x e y de Rn é o subconjunto de
n
R ,
S = {z ∈ Rn : z = (1 − α)x + αy, 0 ≤ α ≤ 1}
Exercício 5 Dê exemplos e represente geometricamente subconjuntos de R2
e de R3 que sejam conjuntos convexos e de outros que o não sejam.

S 9 Uma cisão
Denição de um subconjunto U ⊆ Rn é uma decomposição
B , onde AS B = ∅ e os conjuntos A e B são abertos em U .
T
U =A
A cisão U = U ∅ diz-se cisão trivial.
Um conjunto diz-se conexo quando não admite outra cisão para além da
trivial.
Exercício 6 Quais são os conexos de R?
Exercício 7 Dê exemplos e represente geometricamente subconjuntos de R2
e de R3 que sejam conjuntos conexos e outros que o não sejam.
Exercício 8 Dê exemplo de um subconjunto de R2 conexo mas não convexo.
Exercício 9 Para um subconjunto de R2 relacione os dois conceitos: con-
vexo e conexo.

Lições de Análise Matemática 2


Capítulo 2
Funções Diferenciáveis

2.1 Funções Escalares e Funções Vectoriais

Como sabemos, para descrever uma função necessitamos de informação sobre:

• Domínio

• Contradomínio

• Lei de transformação

Denição 10 Uma função cujo domínio é um subconjunto de Rn e cujo


contradomínio está contido em R diz-se uma função escalar (real) de n
variáveis reais.

Denição 11 Uma função cujo domínio é um subconjunto de Rn e cujo


contradomínio está contido em Rm , m > 1, diz-se uma função vectorial
de n variáveis reais.

Usaremos a seguinte notação para indicar o domínio da função U ⊆ Rn ,


o conjunto de chegada e a lei de transformação.
Funções escalares:
f : U ⊆ Rn → R
x 7→ f (x)

Lições de Análise Matemática 2


10 Funções Diferenciáveis

em que x = (x1 , x2 , ..., xn ) .


Funções vectoriais:
F : U ⊆ Rn → Rm
x 7→ F (x)
em que x = (x1 , x2 , ..., xn ) e F (x) = (f1 (x), f2 (x), ..., fm (x)) .

Denição 12 As funções escalares f1 , f2 , ..., fm dizem-se as funções com-


ponentes da função vectorial F.
Vejamos alguns exemplos de funções de várias variáveis:

Exemplo 2
f : R2 \ {(0, 0)} → R
x2 y
(x, y) 7→ x +y 2
2

Exemplo 3
f : U ⊂ R2 → R
(x, y) 7→ x ln y
U = {(x, y) ∈ R2 : y > 0} é o domínio de f .

Exemplo 4
F : R2 \ {(0, 0)} →  R2 
y −x
(x, y) 7→ 2
x +y 2 , 2
x +y 2

Exemplo 5
g : U ⊆ R2 → R
x−3x2
(x, y) 7→ x2 −y

U = {(x, y) ∈ R2 : y 6= x2 } é o domínio de g .

Exemplo 6 Função distância à origem


d: R3 → p R
(x, y, z) 7→ x + y2 + z2
2

Exemplo 7 Função Projecção sobre o eixo dos xx:


p1 : R3 → R
(x, y, z) 7→ x

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2.1 Funções Escalares e Funções Vectoriais 11

Exemplo 8 Função Projecção sobre o eixo dos yy:


p2 : R3 → R
(x, y, z) 7→ y

Exemplo 9 Função Projecção sobre o eixo dos zz:


p3 : R3 → R
(x, y, z) 7→ z

Exemplo 10 Função Projecção sobre o plano xy:


p: R3 → R2
(x, y, z) 7→ (x, y)

Exercício 10 Considere a função,


f : U ⊂ R3 → R
(x, y, z) 7→ ln (x/y) + ln (y/x)

1. Qual o domínio de f ?
2. Represente U geometricamente.
3. Indique a sua fronteira, f r(U ).
4. Diga se U é um aberto, fechado, limitado, conexo, convexo ou compacto.

Exemplo 11 O contradomínio da função,

F : R → R2
t 7→ (sin t, cos t)
é o subconjunto de C ⊆ R2 denido por

C = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1


que como sabemos dene a circunferência de centro (0, 0) e raio 1. Esta


função não é injectiva pois há objectos distintos com a mesma imagem, por
exemplo, F (π) = F (3π) = (0, −1).

Lições de Análise Matemática 2


12 Funções Diferenciáveis

Exemplo 12 O contradomínio da função,


G : [−π, π[ → R2
t 7→ (cos3 t, sin3 t)

é o subconjunto de A ⊆ R2 denido por


n 2 2
o
A = (x, y) ∈ R2 : x 3 + y 3 = 1

representado pelo gráco apresentado na gura 2.1 e que se designa por as-
tróide. Será G uma função injectiva?

2 2
Figura 2.1: Astróide, x3 + y 3 = 1

Denição 13 Uma função vectorial denida por


F : U ⊆ Rn → Rn
x 7→ F (x)
diz-se um campo vectorial ou campo de vectores em U .

As funções vectoriais permitem criar modelos matemáticos para proble-


mas reais. Vejamos alguns exemplos:

Lições de Análise Matemática 2


2.2 Geometria das Funções Escalares 13

Exemplo 13 Consideremos uma massa M , posicionada em (0,0,0). Seja


r = (x, y, z) o vector posição não nulo , de uma partícula de massa m << M .
De acordo com a lei de gravitação de Newton a força de atracção exercida
sobre a massa m é dada por
F : R3 \ {(0, 0, 0)} → R3
r 7→ − GM m
krk3
r

em que G = 6.67×10−11 N m2 kg−2 . F diz-se o campo de forças gravítico.


Exemplo 14 O potencial gravítico é a função escalar
f : R3 \ {(0, 0, 0)} → R
r 7→ − GM m
krk

Exemplo 15 O movimento de um uido num canal pode ser representado


por uma função vectorial
F : U ⊆ R3 → R2
(x, y, t) 7→ F (x, y, t)

em que F (x, y, t) representa a velocidade do uido num ponto (x, y) do canal


no instante t.

2.2 Geometria das Funções Escalares

O gráco de uma função real de variável real é, como sabemos, um subcon-


2
junto de R . Por exemplo, a gura seguinte mostra o gráco das funções
reais de variável real denidas por

f (x) = sin(x)

e
x3
g(x) = x −
6

Denição 14 Seja f : U ⊆ Rn → R uma função escalar. O conjunto


Graf (f ) = (x, f (x)) ∈ Rn+1 : x ∈ U


diz-se gráco de f.

Lições de Análise Matemática 2


14 Funções Diferenciáveis

3
Figura 2.2: Gráco de f : f (x) = sin x (linha) e de g : g(x) = x − x6 (pontos)

Exemplo 16 Consideremos a função


f: R2 → R
(2.1)
(x, y) 7→ x + y 2
2

O gráco de f é o subconjunto de R3 denido por


x, y, x2 + y 2 : (x, y) ∈ R2
 
Graf (f ) =
Geometricamente, temos o parabolóide elíptico representado na gura 2.3
Denição 15 Seja f : U ⊆ Rn → R uma função escalar e c um número
real. O conjunto
Nc (f ) = {x ∈ U : f (x) = c}
diz-se conjunto de nível de valor c de f. Se n = 2 os conjuntos de nível
designam-se usualmente por curvas de nível. Se n = 3, os conjuntos de
nível designam-se usualmente por superfícies de nível.
Exemplo 17 Consideremos a função denida por 2.1. Para c < 0 os con-
juntos de nível são conjuntos vazios. Para c = 0, Nc (f ) = {(0, 0)} . Para

c>0 os conjuntos de nível são circunferências de centro (0, 0) e raio c,
Nc (f ) = {x ∈ U : x2 + y 2 = c} .

Lições de Análise Matemática 2


2.3 Limites e Continuidade 15

Figura 2.3: Gráco de f : f (x, y) = x2 + y 2

Exemplo 18 Para a função


f: R2 → R
(x, y) 7→ x − y 2
2

as curvas de nível de valor c são as curvas de equação x2 − y 2 = c. Para


c = 0 o conjunto de nível é denido pelas rectas bissectrizes dos quadrantes
e para c 6= 0 por hipérboles, tal como a gura 2.4 ilustra.
O gráco desta função é o parabolóide hiperbólico representado na gura
2.5.

2.3 Limites e Continuidade

Como introdução, recordemos a noção de limite de uma função real de va-


riável real num ponto. Consideremos a função denida por

x2 + 10, x < 1
g(x) = (2.2)
ln(x) + 10 x ≥ 1
Analisemos, pelo esboço do gráco de g, o comportamento da função
numa vizinhança do ponto x = 1.

Lições de Análise Matemática 2


16 Funções Diferenciáveis

Figura 2.4: Curvas de nível de f : f (x, y) = x2 − y 2

Figura 2.5: Gráco de f : f (x, y) = x2 − y 2

Lições de Análise Matemática 2


2.3 Limites e Continuidade 17

Figura 2.6: Gráco de f, descontínua em x=1

Como facilmente vericamos, limx→1+ f (x) = 11 e limx→1− f (x) = 10 .


Pelo teorema da unicidade do limite, não existe limx→1 f (x).
A denição de limite para funções de várias variáveis é análoga à denição
conhecida para funções de uma só variável.

Denição 16 Seja f : U ⊆ Rn → R uma função escalar, a um ponto


de acumulação de U e ` ∈ R. Dizemos que f tem limite ` quando x se
aproxima de a ∈ Rn , se e só se para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que
x ∈ U ∧ 0 < kx − ak < δ ⇒ |f (x) − `| < ε.

Por outras palavras, dada uma tolerância ε em torno de `, é possível


encontrar uma bola aberta de centro a, B(a, δ), tal que, para todo x 6= a e x ∈
B(a, δ) o valor correspondente de f (x) situa-se no intervalo de tolerância
]` − ε, ` + ε[. Observe-se que na denição a condição 0 < kx − ak garante
que x 6= a.
Dizer que existe limx→a f (x) signica que os valores f (x) estão tão pró-
ximo de ` quanto se queira desde que x 6= a esteja sucientemente perto de
a.

Lições de Análise Matemática 2


18 Funções Diferenciáveis

Exemplo 19 Consideremos a função projecção sobre o i-ésimo eixo,


pi : Rn → R
(x1 , x2 , ..., xn ) 7→ xi
Vejamos que limx→a pi (x) = ai . Seja ε > 0 qualquer. Observe-se que
q
kx − ak = (x1 − a1 )2 + ... + (xi − ai )2 + ... + (xn − an )2
q
≥ (xi − ai )2 = |xi − ai |
Portanto kx − ak < ε ⇒ |xi − ai | < ε,o que permite concluir que
∀ε > 0 ∃δ = ε : 0 < kx − ak < δ ⇒ |xi − ai | < ε
provando que o limite da função projecção pi quando x tende para a é ai .
Note-se que o valor de limx→a f (x) é independente do que acontece no
ponto a. A função pode mesmo não estar denida no ponto a. Apesar disso
é legítimo questionar sobre o comportamento da função numa vizinhança
desse ponto. Vejamos um exemplo:

Exemplo 20 Consideremos a função,


f: U → R
3x2 y
(x, y) 7→ x2 +y 2

em que o domínio é U = R2 \ {(0, 0)} . Vamos mostrar que


lim f (x, y) = 0
(x,y)→(0,0)

Seja ε > 0 qualquer. Observe-se que x2 ≤ x2 + y 2 . Para (x, y) 6= (0, 0),


3x2 y 2

= 3 |y| x
p

x2 + y 2 − 0 ≤ 3 |y| ≤ 3 x2 + y 2 .
x2 + y 2
Portanto
3x2 y

p
2 2
ε
0 < k(x, y) − (0, 0)k = x + y < ⇒ |f (x) − 0| = 2
− 0 < ε,
3 x + y2
o que permite concluir que
3x2 y

ε
∀ε > 0 ∃δ = : ∀(x, y) ∈ U 0 < k(x, y)k < δ ⇒ 2 < ε,
3 x + y2
provando que o limite da função dada quando (x, y) tende para (0, 0) é 0.

Lições de Análise Matemática 2


2.3 Limites e Continuidade 19

Denição 17 Sejam L = (`1 , `2 , ..., `m ) ∈ Rm , a um ponto de acumulação


de U , x = (x1 , x2 , ..., xn ) e
F : U ⊆ Rn → Rm
(2.3)
x 7→ (f1 (x), f2 (x), ..., fm (x))

Dizemos que limx→a F (x) = L se e só se limx→a fi (x) = `i , para toda a


função componente fi , i = 1, ..., m .
Podemos denir limx→a F (x) de outro modo dizendo que limx→a F (x) = L
se e só se
∀ε > 0 ∃δ : ∀x ∈ U, 0 < kx − akRn < δ ⇒ kF (x) − LkRm < ε. (2.4)

Exercício 11 Mostre que a equivalência entre as duas denições apresen-


tadas na denição 17. Sugestão: Observe que se A = (a1 , a2 , ..., an ) então

|ai | ≤ kAk ≤ (max |ai |) n.

No estudo da função 2.2 evocámos o teorema da unicidade do li-


mite que continua a ser válido para funções vectoriais ou escalares de várias
variáveis:

Teorema 2 Seja L, M ∈ Rm , a um ponto de acumulação de U e F : U ⊆


Rn → Rm . Se existe limx→a F (x) e limx→a F (x) = L e limx→a F (x) = M
então L = M.

Demonstração: Seja ε > 0 qualquer. Admitamos, por redução ao absurdo,


que L 6= M . Como por hipótese limx→a F (x) = L existe γ > 0 tal que

∀x ∈ U, 0 < kx − ak < γ ⇒ kF (x) − Lk < ε

Por outro lado, como limx→a F (x) = M existe δ>0 tal que

∀x ∈ U, 0 < kx − ak < δ ⇒ kF (x) − M k < ε

Seja então η = min(γ, δ). Uma vez que

kL − M k = kF (x) − L − (F (x) − M )k ≤ kF (x) − Lk + kF (x) − M k < 2ε

segue-se que
∀ε > 0 kL − M k < 2ε

Lições de Análise Matemática 2


20 Funções Diferenciáveis

kL−M k
Então, se por exemplo, escolhermos ε= 2
, obtemos
kL − M k < kL − M k
o que é absurdo. O absurdo resultou de termos suposto que L 6= M . Logo
L = M. cqd
Vejamos como este teorema pode ser usado para o estudo de limite de
funções de várias variáveis. Salientemos ainda que quando investigámos a
existência de limite nesse exemplo usámos a noção de limite à esquerda e
limite à direita em vez da denição de limite. Para o caso de, por exemplo,
funções escalares de duas variáveis facilmente constatamos a impossibilidade
de investigar todos os modos possíveis de nos aproximarmos de um ponto.
Daí a necessidade de se introduzir a noção de limite de uma função num
ponto numa restrição ao domínio da função.

Exemplo 21 Consideremos a função,


f : R2 \ {(0, 0)} → R
xy
(x, y) 7→ x2 +y 2

e procuremos investigar a existência de lim(x,y)→(0,0) f (x, y). Para tal analise-


mos o gráco de f . Consideremos o subconjunto S de R2 \ {(0, 0)}, denido
por
S = (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : x = y .


Averiguemos se existe limite de f quando (x, y) tende para (0, 0) e (x, y) ∈ S .


Ora se (x, y) ∈ S , f (x, y) = f (x, x) = 2x
x2
2 = 2 . Então
1

1
lim f (x, y) = .
(x,y)→(0,0),(x,y)∈S 2
Por análise do gráco de f facilmente se verica que se considerarmos o
subconjunto T de R2 \ {(0, 0)}, denido por
T = (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : x = −y


E, estudando a existência de limite de f quando (x, y) tende para (0, 0) e


(x, y) ∈ T , tem-se, lim(x,y)→(0,0),(x,y)∈T f (x, y) = − 21 .
lim f (x, y) 6= lim f (x, y)
(x,y)→(0,0),(x,y)∈S (x,y)→(0,0),(x,y)∈T

e, pelo teorema da unicidade do limite concluímos que não existe


lim f (x, y).
(x,y)→(0,0)

Lições de Análise Matemática 2


2.3 Limites e Continuidade 21

xy
Figura 2.7: Gráco de f : f (x, y) = x2 +y 2

Proposição 3 Sejam f, g, l : U ⊆ Rn → R , a um ponto de acumulação de


U , tais que,
f (x) = g(x)l(x) (2.5)

lim g(x) = 0 (2.6)


x→a

∃M ∈ R+ ∃δ > 0 : |l(x)| < M, ∀x ∈ B(a, δ) ∩ U (2.7)

então limx→a f (x) = 0.


Demonstração: Seja ε > 0 qualquer e ε0 = ε
M
> 0 . Por hipótese 2.6,
0
para este ε ,

ε
∃δ 0 : ∀x ∈ U 0 < kx − ak < δ 0 ⇒ |g(x) − 0| < .
M
Observemos que pelos hipóteses 2.5 e 2.7

|f (x) − 0| = |f (x)| = |g(x)l(x)| ≤ M |g(x)| , x ∈ B(a, δ) ∩ U

Logo |f (x) − 0| < M Mε = ε desde que 0 < kx − ak < min(δ, δ 0 ), o que prova
que limx→a f (x) = 0. cqd

Lições de Análise Matemática 2


22 Funções Diferenciáveis

Proposição 4 Sejam f, g, h : U ⊆ Rn → R, a um ponto de acumulação de


U e `, `1 , `2 ∈ R. Então

lim f (x) = ` ⇔ lim |f (x) − `| = 0. (2.8)


x→a x→a

Se f (x) ≤ h(x) ≤ g(x), ∀x ∈ B(a, δ) ∩ U e além disso limx→a f (x) = ` e


limx→a g(x) = ` então
lim h(x) = ` (2.9)
x→a

Se limx→a f (x) = `1 e limx→a g(x) = `2 então

lim (f (x) + g(x)) = `1 + `2 (2.10)


x→a

Se limx→a f (x) = `1 e limx→a g(x) = `2 então

lim (f (x)g(x)) = `1 `2 (2.11)


x→a

Se limx→a f (x) = `1 e g(x) 6= 0, ∀x ∈ U e limx→a g(x) = `2 6= 0 então


 
f (x)
lim = `1 /`2 (2.12)
x→a g(x)

Denição 18 Seja f : U ⊆ Rn → R , a ∈ U . Dizemos que f é contínua


em a ∈ U se e só se
lim f (x) = f (a).
x→a

ou seja,

∀ε > 0 ∃δ : ∀x ∈ U, kx − ak < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε.

Dizemos que f é contínua em U se e só se f é contínua em todos os pontos


de U.
Seja F : U ⊆ Rn → Rm , a ∈ U . Dizemos que F é contínua em a∈U se
e só se

lim fi (x) = fi (a), ∀fi , i = 1, ..., m.


x→a

Dizemos que F é contínua em U se e só se F é contínua em todos os


pontos de U.

Lições de Análise Matemática 2


2.3 Limites e Continuidade 23

Exemplo 22 A função projecção denida e estudada no exemplo 19 é con-


tínua em Rn . De facto seja a ∈ Rn um ponto qualquer. Ora por denição da
função pi
pi (a1 , a2 , ..., an ) = ai
Por outro lado, no exemplo 19, vimos que
lim pi (x) = ai
x→a

Logo,
lim pi (x) = pi (a)
x→a
o que mostra que pi é contínua em a.
Teorema 3 Sejam F : DF ⊆ Rn → Rm , contínua em a ∈ DF e G : DG ⊆
Rm → Rp , contínua em b = F (a) ∈ DG . Admita-se que F (DF ) ⊆ DG .
Então a função composta G ◦ F é contínua em a ∈ DF .
Demonstração: Seja ε > 0 qualquer. Por hipótese G é contínua em b,
logo
∃δ : ∀y ∈ DG , ky − bk < δ ⇒ kG(y) − G(b)k < ε.
como F é contínua em a, para este δ existe γ>0 tal que

kx − ak < γ ⇒ kF (x) − F (a)k < δ ⇔ ky − bk < δ


Logo

∀ε > 0 ∃γ > 0 : ∀x ∈ DF , kx − ak < γ ⇒ kG(F (x)) − G(F (a))k < ε


o que signica que G◦F é contínua em a ∈ DF . cqd

Proposição 5 Seja f, g : U ⊆ Rn → R funções contínuas em a ∈ U . Seja


α ∈ R. Então são contínuas em a ∈ U as funções denidas por
(f + g) (x) = f (x) + g(x) (2.13)

(f g) (x) = f (x)g(x) (2.14)

(αf ) (x) = αf (x) (2.15)

f (x)
(f /g) (x) = , g(x) 6= 0, ∀x ∈ U (2.16)
g(x)

Lições de Análise Matemática 2


24 Funções Diferenciáveis

Demonstração: Para demonstrar qualquer destas proposições basta recor-


rer à denição de continuidade num ponto e às propriedades dos limites. Por
exemplo, para demonstrar 2.14 basta usar a propriedade 2.10 da proposição
4 e a denição de continuidade num ponto

lim (f g) (x) = lim f (x)g(x) = lim f (x) lim g(x) = f (a)g(a) = (f g)(a)
x→a x→a x→a x→a

cqd

Exemplo 23 Consideremos a função estudada no exemplo 20


f: U → R
3x2 y
(x, y) 7→ x2 +y 2

O domínio de f é U = R2 \ {(0, 0)} . Pela propriedade 2.16 do teorema 5


podemos justicar a continuidade de f em U . De facto, f é o quociente de
duas funções contínuas, não se anulando a função denominador em U . A
função denida por h(x, y) = 3x2 y é contínua pois é o produto de funções
continuas, a função constante c(x, y) = 3 e as funções projecção p1 e p2 ,
denidas em R2 . A função denominador, d(x, y) = x2 + y 2 , não se anula em
U e é contínua pois é a soma de duas funções contínuas, os quadrados das
funções projecção p1 e p2 . Como vimos no exemplo 20 esta função não está
denida na origem mas provámos que o limite da função quando (x, y) tende
para (0, 0) é 0. Isto signica que é possível denir um prolongamento
contínuo de f a R2 , bastando para isso considerar uma nova função, g
: R2 → R, tal que g(0, 0) = lim(x,y)→(0,0) g(x, y), ou seja,

f (x, y), (x, y) 6= (0, 0)
g(x, y) =
0 (x, y) = (0, 0)
A função g assim denida é contínua em R2 .
Exercício 12 Dena, se possível, um prolongamento contínuo das seguintes
funções a R2
h : R2 \ {(0, 0)} → R
xy 2 (2.17)
(x, y) 7→ x2 +y 4

f : R2 \ {(0, 0)} → R
x2 y
(x, y) 7→ x2 +y 4

g : R2 \ {(0, 0)} → R
sin(x2 +y 2 )
(x, y) 7→ x2 +y 2

Lições de Análise Matemática 2


2.4 Diferenciação 25

2.4 Diferenciação

Usando limites e continuidade podemos descrever algumas propriedades de


uma função. Para obter mais informação usamos um outro conceito, o con-
ceito de derivada. Isto já sucedia com as funções reais de variável real. Por
−x2
exemplo, consideremos a função denida por f (x) = e . A informação
relativa à continuidade diz-nos que é possível traçar o seu gráco sem le-
vantar o lápis do papel! A informação proveniente dos limites diz-nos que
y = 0 é a sua assimptota horizontal! Com o auxílio da sua derivada a função,
2
f 0 (x) = −2xe−x , podemos dizer que é crescente para x > 0 e decrescente
para x < 0 . Além disso podemos descrever como varia f . Observando que
f 0 (−2) ≈ 0, 07 e que f 0 (−0, 5) ≈ 0, 78 podemos armar que f cresce mais
depressa para valores de x perto de -0,5 do que para valores de x perto de -2.
n
Dada uma função f denida num aberto A ⊆ R vamos analisar a vari-
ação de f numa vizinhança de a ∈ A, ao longo de uma dada direcção orien-
tada denida pelo versor v . Consideremos então S = {x ∈ A : x = a + hv} .
Dizemos que estamos a estudar a derivada direccional de f no ponto a
segundo a direcção do versor v .

Denição 19 Seja f : A ⊆ Rn → R, A um aberto de Rn e a ∈ A. Se existir


limite, o número real denido por

f (a + hv) − f (a)
lim
h→0 h

diz-se derivada direccional de f no ponto a segundo a direcção do versor


v e denota-se fv0 (a).

Nesta denição usamos vectores unitários para ser possível comparar o


comportamento de f quando x varia ao segundo direcções distintas. Se a
direcção segundo a qual se pretende calcular a derivada direccional for dada
u
por um vector não unitário, u, é necessário normalizá-lo fazendo v = .
kuk

Exemplo 24 Calcule fu0 (0, 0) sendo u = (1, 1) e f : R2 → R tal que


(
xy 2
x2 +y 4
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)

Lições de Análise Matemática 2


26 Funções Diferenciáveis
√ √
Normalizando u obtemos v = u
kuk
=( 2
2
, 2
2
). Então
√ √
2 2
f ((0, 0) + h( , )) − f ((0, 0))
fv0 (0, 0) = lim 2 2
h→0 h
 √ 3
3 22
h
= lim √ 2
  √ 2 
h→0
 
2
h3
2
1 + 22 h

2 √
2 2
= lim  √ 2 =
h→0 2 2
1+ 2
h

Observe-se que em 2.17 vericámos que não existia


xy 2
lim
(x,y)→(0,0) x2 + y 4

Isto permite concluir que f não é contínua em (0, 0). Esta função é pois
um exemplo de uma função não contínua num ponto mas que tem derivada
segundo v nesse ponto.
Denição 20 Seja f : A ⊆ Rn → R, A um aberto de Rn e a ∈ A. Seja
ei um dos vectores da base canónica de Rn . Então, se existir, a derivada
direccional de f no ponto a segundo a direcção ei , denota-se por ∂x
∂f
(a) e
designa-se a i-ésima derivada parcial de f , isto é,
i

∂f f (a + hei ) − f (a)
(a) = lim
∂xi h→0 h
Exemplo 25 Seja f : R3 → R, tal que f (x, y, z) = x + y + z 2 . Calculemos
∂f
∂z
(x, y, z).

∂f f (x, y, z + h) − f (x, y, z)
(x, y, z) = lim
∂z h→0 h
x + y + (z + h)2 − (x + y + z 2 )
= lim
h→0 h
(z + h)2 − z 2 2zh + h2
= lim = lim
h→0 h h→0 h
= lim (2z + h) = 2z (2.18)
h→0

Lições de Análise Matemática 2


2.4 Diferenciação 27

Como facilmente se observa, o resultado obtido é o mesmo que se obtém


considerando as variáveis x e y como constantes e derivando f como se z
fosse a única variável. Esta é uma regra prática que podemos adoptar.

Exemplo 26 Seja
f: R2 → p R
(x, y) 7→ 3 x4 + y 4
Se (x, y) 6= (0, 0) então
∂f 4x3 4 −2/3
(x, y) = x + y4
∂x 3
No ponto (0, 0),

∂f f (0 + h, 0) − f (0, 0)
3
h4 − 0 √
3
(0, 0) = lim = lim = lim h = 0
∂x h→0 h h→0 h h→0

Portanto podemos denir uma nova função, ∂f


∂x
: R2 → R tal que
4x3 −2/3

∂f (x4 + y 4 ) , (x, y) 6= (0, 0)
(x, y) = 3
∂x 0, (x, y) = (0, 0)

Exercício 13 Dena a função ∂f


∂y
.

Exemplo 27 A função f : R2 → R
 xy
x2 +y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)

não é contínua na origem pois como vimos no exemplo 21 não existe


xy
lim
(x,y)→(0,0) x2 + y2
No entanto existem as derivadas parciais na origem pois,
∂f f (0 + h, 0) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂x h→0 h h→0 h
e
∂f f (0, 0 + h) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂y h→0 h h→0 h

Lições de Análise Matemática 2


28 Funções Diferenciáveis

Na teoria das funções reais de variável real sabemos que uma função
derivável é contínua. Se para funções de várias variáveis um teorema se-
melhante for válido então esta função não é derivável na origem. Este exemplo
mostra que possuir derivadas parciais num ponto não basta para a função
ser derivável nesse ponto.
Vamos procurar agora denir derivada de uma função num ponto. Para
uma função real de variável real a derivada de uma função num ponto repre-
senta o declive da recta tangente ao gráco de f no ponto (x, y). Por exemplo
2
se f for a função denida por f (x) = x + 5, a recta tangente ao seu gráco
em x = 2 tem declive 4 e ca denida por y = 4x + 1. Na gura 2.8 podemos
vericar que numa vizinhança do ponto (2, f (2)) o gráco da função denida
por y = 4x + 1 se confunde com o gráco de f .

Figura 2.8: Gráco de f e da recta tangente no ponto (2, f (2))

A questão que se nos coloca é a de generalizar a denição de derivada


num ponto para funções escalares e para funções vectoriais. Recordemos

Lições de Análise Matemática 2


2.4 Diferenciação 29

que f : I ⊆ R → R , I um aberto de R, é derivável em a ∈ R se e só se existe


0
o número real f (a) tal que

f (x) − f (a)
f 0 (a) = lim
x→a x−a
Reescrevamos a denição de modo a que ela se possa aplicar a uma função
de várias variáveis. Usando as propriedades dos limites,

0 f (x) − f (a) f (x) − f (a) 0

f (a) = lim ⇔ lim − f (a) = 0
x→a x−a x→a x−a
mas,
|f (x) − f (a) − f 0 (a) (x − a)|

f (x) − f (a) 0

x−a − f (a) =
|x − a|
Assim a nova denição de derivada de f no ponto a tem o seguinte enunciado:

Denição 21 Seja f : I ⊆ R → R , I um aberto de R. f é derivável em


a ∈ I se e só se existe o número real f 0 (a) tal que

|f (x) − f (a) − f 0 (a) (x − a)|


lim =0 (2.19)
x→a |x − a|

Seja l l(x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) . O gráco de l é


a função denida por
a recta tangente ao gráco de f em (a, f (a)). Então 2.19 signica que, perto
de a, l está sucientemente próximo de f , no sentido de que |f (x) − l(x)|
tende mais depressa para 0 do que x − a, quando x tende para a.
Considerando a denição de derivada de uma função real de variável num
ponto dada por 2.19 vejamos como é possível generalizá-la a funções de duas
variáveis.

Denição 22 Seja f : A ⊆ R2 → R , A um aberto de R2 . Dizemos que f


é derivável em a = (x0 , y0 ) ∈ A se e só se existem ∂f
∂x
(x0 , y0 ) e ∂f
∂y
(x0 , y0 ) e
além disso
|f (x, y) − z(x, y)|
lim =0 (2.20)
(x,y)→(x0 ,y0 ) k(x, y) − (x0 , y0 )k

onde h i x − x 
∂f ∂f 0
z(x, y) = f (x0 , y0 ) + ∂x
(x0 , y0 ) ∂y
(x0 , y0 )
y − y0

Lições de Análise Matemática 2


30 Funções Diferenciáveis

Denição 23 Seja f : A ⊆ R2 → R , A um aberto de R2 , uma função


derivável em a = (x0 , y0 ) ∈ A. O plano em R3 denido por
   
∂f ∂f
z = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) (x − x0 ) + (x0 , y0 ) (y − y0 ) (2.21)
∂x ∂y
designa-se por plano tangente ao gráco de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).
Observe-se que armar 2.20 signica que, perto de (x0 , y0 ), z denido por
2.21 está sucientemente próximo de f , no sentido de que |f (x, y) − z(x, y)|
tende mais depressa para 0 do que k(x, y) − (x0 , y0 )k, quando (x, y) tende
para (x0 , y0 ).

Exemplo 28 Consideremos a função


f: R2 → R
(x, y) 7→ x2 + y 2
Vejamos que f é derivável no ponto (1, 21 ). De facto, existem as derivadas
parciais de f neste ponto,
∂f 1
(1, ) = 2
∂x 2
∂f 1
(1, ) = 1
∂y 2
e 2
x + y 2 − 5 − 2(x − 1) − 1(y − 1 )
lim q 4 2
=0
(x,y)→(1, 21 ) 2 1 2

(x − 1) + y − 2
Para vericar que este limite é zero basta simplicar o numerador,
5 1 5
x2 + y 2 − − 2(x − 1) − 1(y − ) = x2 + y 2 + − 2x − y
4 2 4
1
= (x − 1)2 + (y − )2
2
e portanto
2
x + y 2 − 5 − 2(x − 1) − 1(y − 1 )
lim q 4 2
(x,y)→(1, 12 ) 2 1 2

(x − 1) + y − 2
s  2
2 1
= lim (x − 1) + y − =0
(x,y)→(1, 12 ) 2

Lições de Análise Matemática 2


2.4 Diferenciação 31

o que mostra que f é derivável em (1, 12 ). Então podemos denir o plano


tangente ao gráco de f em a = (1, 12 , 45 ), como o plano de equação
5 1
z= + 2(x − 1) + 1(y − )
4 2
ou seja, z = − 54 + 2x + y tal como a gura ilustra.

Figura 2.9: Gráco de f e do plano tangente em (a, f (a))

Vamos designar por Df (x0 , y0 ) a matriz das derivadas parciais, a matriz


linha h i
Df (x0 , y0 ) = ∂f∂x
(x ,
0 0y ) ∂f
∂y
(x ,
0 0y )
Então, a denição 2.20 garante que
 
x − x0
f (x0 , y0 ) + Df (x0 , y0 ) (2.22)
y − y0

Lições de Análise Matemática 2


32 Funções Diferenciáveis

é uma boa aproximação de f perto de (x0 , y0 ). Mais uma vez realcemos que
boa aproximação signica que 2.22 difere de f por uma quantidade inferior
a k(x, y) − (x0 , y0 )k . Dizemos que 2.22 é a melhor aproximação linear de f
perto de (x0 , y0 ). Estamos agora em condições de introduzir a denição de
n m
derivada num ponto para funções F : A ⊆ R → R , A um aberto de
n
R . Caso exista, a derivada DF (a) de F = (f1 , f2 , ..., fm ) em a ∈ A é a
transformação linear denida pela matriz T ,tal que

∂fi
tij = (a).
∂xj
matriz essa que se designa por matriz das derivadas parciais de F em a
ou matriz jacobiana F em a.
Denição 24 Seja A um aberto de Rn e F : A ⊆ Rn → Rm . Dizemos que
F é derivável (ou diferenciável) em a ∈ A se e só se existem as derivadas
parciais de F em a e
kF (x) − F (a) − J (x − a)kRm
lim =0 (2.23)
x→a kx − akRn
onde J = DF (a) é a matriz das derivadas parciais de F em a que também
se designa por matriz jacobiana F em a. A transformação linear denida
por J diz-se derivada de F em a.
Exemplo 29 Vejamos que a função f : R2 → R
 xy
x2 +y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)
não é derivável na origem. Vimos no exemplo 27 que
∂f ∂f
(0, 0) = (0, 0) = 0
∂x ∂y
no entanto
 
  x−0
f (x, y) − f (0, 0) − 0 0
y−0
R
lim
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)kR2

xy
x2 +y2
= lim p
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Lições de Análise Matemática 2


2.4 Diferenciação 33

não existe.
Para concluirmos a não existência deste limite consideremos a restrição
denida por U = {(x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : y = 0} . Então

xy
x2 +y2 0
lim p = lim =0
(x,y)→(0,0),(x,y)∈U x2 + y 2 x→0 2 |x| x2
o que signica que a existir limite será 0. Seja agora
S = (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : x = y


Então
xy
x2 +y2 1
lim p = lim √ = +∞
(x,y)→(0,0),(x,y)∈S x2 + y 2 x→0 2 2 |x|
Pelo teorema da unicidade do limite podemos concluir que não existe L e
portanto f não é derivável na origem.
Exemplo 30 Calcular a matriz das derivadas parciais da função
G : R+
0 × [0, 2π] → R2
(ρ, θ) 7→ (ρ cos θ, ρ sin θ)
 
cos θ −ρ sin θ
A matriz das derivadas parciais da função G é a matriz DG (ρ, θ) = .
sin θ ρ cos θ
Denição 25 Dizemos que uma função f é derivável (ou diferenciável) se
e só se f for derivável em todos os pontos do seu domínio.
Denição 26 Seja f : A ⊆ Rn → R , A um aberto de Rn , uma função
derivável em a ∈ A. O vector denido por
 
∂f ∂f ∂f
∇f (a) = (a), (a), ..., (a)
∂x1 ∂x2 ∂xn
designa-se por vector gradiente de f em a.
Denição 27 Seja f : A ⊆ R2 → R, A um aberto de R2 , uma função
derivável em a = (x0 , y0 ) ∈ A. O plano em R3 denido por
z = f (x0 , y0 ) + ∇f (x0 , y0 ) · (x − x0 , y − y0 )
designa-se por plano tangente ao gráco de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 )).

Lições de Análise Matemática 2


34 Funções Diferenciáveis

Exemplo 31 Seja x = (x1 , x2 , ..., xi , ..., xn ). A função projecção


pi : Rn → R
(x1 , x2 , ..., xi , ..., xn ) 7→ xi
é derivável em a = (a1 , a2 , ..., ai , ..., an ) ∈ Rn . De facto, pi (a) = ai e ∂x
∂pi
i
=1
e ∂xj = 0, j =
∂pi
6 i . Logo ∇pi (a) = ei . Vejamos que se verica 2.23. Seja
kpi (x) − pi (a) − J (x − a)kR
L = lim
x→a kx − akRn

|xi − ai − ei . (x − a)|
L = lim q
x→a
(x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2
|xi − ai − (xi − ai )|
= lim q =0
x→a
(x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2
Então pi é derivável em Rn .
Exemplo 32 A função f : R2 → R, denida por f (x, y) = x2 +y é derivável
na origem. De facto, f (0, 0) = 0, ∂f
∂x
(0, 0) =0e= ∂f
∂y
(0, 0) = 1. Averiguemos
agora L = 0, sendo L o limite,
 
  x−0
f (x, y) − f (0, 0) − 0 1
y−0
R
L = lim
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)kR2
2
|x + y − y|
= lim p
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
Ora
|x x| |x|
L= lim p = lim p |x| = 0
(x,y)→(0,0) 2
x +y 2 (x,y)→(0,0) x2 + y 2
pois 0 ≤ √ |x| ≤ 1 e |x| → 0, quando (x, y) tende para (0, 0). Então f é
2x +y 2
derivável na origem e Df (0, 0) = 0 1 , isto é a derivada de f em (0, 0)
 

é a aplicação linear denida pela matriz linha 0 1 ,




Df (0, 0) : R2 → R
(x, y) 7→ y
O plano denido por z = y é o plano tangente ao gráco de f em (0, 0, 0).

Lições de Análise Matemática 2


2.5 Propriedades da Derivada 35

2.5 Propriedades da Derivada

Teorema 4 Seja A um aberto de Rn , F, G : A ⊆ Rn → Rm funções de-


riváveis em a ∈ A. Então a função F + G é derivável em a ∈ A e
D (F + G) (a) = DF (a) + DG(a) (2.24)

Seja α ∈ R, então αF é derivável em a ∈ A e


D (αF ) (a) = αDF (a) (2.25)

Seja A um aberto de Rn , f, g : A ⊆ Rn → R funções deriváveis em a ∈ A.


Então a função f g é derivável em a ∈ A e
D (f g) (a) = g(a)Df (a) + f (a)Dg(a) (2.26)

Seja A um aberto de Rn , f, g : A ⊆ Rn → R , funções deriváveis em a ∈ A


e tal que g(a) 6= 0. Então a função fg é derivável em a ∈ A e
 
f g(a)Df (a) − f (a)Dg(a)
D (a) = (2.27)
g (g(a))2

Exemplo 33 Mostrar que a função f : R2 → R denida por f (x, y) = xy é


derivável em R2 . A função f é o produto das funções projecção
p1 : R2 → R
(x, y) 7→ x
e
p2 : R2 → R
(x, y) 7→ y
Como demonstrámos no exemplo 31 estas funções são deriváveis em R2 . Sabe-
mos que  
Dp1 (x, y) = 1 0
 
Dp2 (x, y) = 0 1
Aplicando agora 2.26, podemos armar que f é derivável e
   
Df (x, y) = p2 (x, y) 1 0 + p1 (x, y) 0 1
   
= y 1 0 +x 0 1
 
= y x

Lições de Análise Matemática 2


36 Funções Diferenciáveis

Exemplo 34 Mostrar que a função f : R2 → R


( 2 2
xy xx2 −y
+y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)

é derivável. Se (x, y) 6= (0, 0), f = hg é o quociente de duas funções de-


riváveis, não se anulando a função denominador, logo pela propriedade 2.27
do teorema 4 f é derivável. De facto, h : R2 → R denida por
h(x, y) = xy x2 − y 2


é derivável porque é a soma (algébrica) de produtos das duas funções projecção


que já sabemos serem funções deriváveis. Pelas propriedades 2.24 e 2.26
podemos garantir que h é derivável. Quanto a g : R2 \ {(0, 0)} → R denida
por
g(x, y) = x2 + y 2
temos que g(x, y) 6= 0, ∀(x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} é a soma dos quadrados das
funções projecção e portanto pelo teorema 4 é uma função derivável em R2 \
{(0, 0)}. Vejamos agora se f é derivável na origem. Ora

∂f f (0 + h, 0) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂x h→0 h h→0 h
e
∂f f (0, 0 + h) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂y h→0 h h→0 h
Portanto f é derivável na origem se e só se
 
  x−0
f (x, y) − f (0, 0) − 0 0
y−0
R
L = lim =0
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)kR2

Ora
|xy (x2 − y 2 )|
L= lim p
(x,y)→(0,0) (x2 + y 2 ) x2 + y 2
Observando que
|xy (x2 − y 2 )| |x| |y| x2 |x| |y| y 2
p ≤ p + p
(x2 + y 2 ) x2 + y 2 (x2 + y 2 ) x2 + y 2 (x2 + y 2 ) x2 + y 2

Lições de Análise Matemática 2


2.5 Propriedades da Derivada 37

e que
x2
≤ 1
(x2 + y 2 )
y2
≤ 1
(x2 + y 2 )
|y|
p ≤ 1
x2 + y 2
segue-se que
|xy (x2 − y 2 )|
p ≤ 2 |x| ≤ 2 k(x, y)k
(x2 + y 2 ) x2 + y 2
Logo, temos que ∀ε > 0 ∃δ = ε
2
tal que
|xy (x2 − y 2 )|
0 < k(x, y)k < δ ⇒ p <ε
(x2 + y 2 ) x2 + y 2
ou seja L = 0. Portanto f é derivável na origem. Logo f é derivável.
Exemplo 35 Denir o plano tangente à superfície, z = x2 + y3 no ponto
(3, 1, 10). A superfície dada é o gráco da função f : R2 → R denida por
f (x, y) = x2 + y 3
Atendendo às propriedades das derivadas podemos armar que f é derivável
em R2 . De facto f = (p1 )3 +(p2 )3 , isto é f é soma de duas funções deriváveis
logo derivável. (p1 )2 e (p2 )3 são funções deriváveis pois resultam do produto
de funções deriváveis - as funções projecção p1 e p2 . Por outro lado, f (3, 1) =
10, ∂f
∂x
(3, 1) = 6 e = ∂f
∂y
(3, 1) = 3. Logo o plano tangente à superfície, z =
x + y no ponto (3, 1, 10) ca denido por
2 3

z = 10 + (6, 3) · (x − 3, y − 1)
isto é, z = 6x + 3y − 11.
Teorema 5 Seja A um aberto de Rn , F : A ⊆ Rn → Rm uma função
derivável em a ∈ A e G : B ⊆ Rm → Rp uma função derivável em F (a) ∈ B ,
B um aberto de Rm tal que F (A) ⊆ B . Então a função G ◦ F é derivável em
a ∈ A e além disso
D (G ◦ F ) (a) = DG(F (a))DF (a)

Lições de Análise Matemática 2


38 Funções Diferenciáveis

Exemplo 36 Seja F : R2 → R3 , tal que


F (x, y) = ex−y , x, sin(x + y)


e G : R3 → R2 , tal que

G(u, v, w) = v 2 , u + w


Uma vez que F e G são funções deriváveis, calculemos D (G ◦ F ) (π, 0). Pela
regra da derivada da função composta também designada por regra da
cadeia,
D (G ◦ F ) (π, 0) = DG(F (π, 0)).DF (π, 0)
Ora, F (π, 0) = (eπ , π, 0) ,
 
eπ −eπ
DF (π, 0) =  1 0 
−1 −1
e  
π 0 2π 0
DG (e , π, 0) =
1 0 1
segue-se que
 
 eπ −eπ 
0 2π 0 
D (G ◦ F ) (π, 0) = 1 0 
1 0 1
−1 −1
 
2π 0
=
eπ − 1 −eπ − 1

Exemplo 37 Seja f : R2 → R, tal que


f (x, y) = 2x2 + y 3

e C : R → R2 , tal que
C(t) = (sin(t), cos(t))
Calculemos D (f ◦ C) (0). Ora C(0) = (0, 1) e
 
1
DC(0) =
0

Lições de Análise Matemática 2


2.5 Propriedades da Derivada 39
 
Df (0, 1) = 0 3
pelo que, uma vez que f e C são funções deriváveis,
 
  1
D (f ◦ C) (0) = 0 3 = [0]
0

Observe-se que f ◦ C é a função real de variável real denida por

(f ◦ C) (t) = f (sin(t), cos(t)) = 2 (sin(t))2 + (cos(t))3

e portanto (f ◦ C)0 (0) = 0.

Exemplo 38 Sejam f : R3 → R e C : R → R3 funções deriváveis, sendo C


tal que
C(t) = (x(t), y(t), z(t))
Calculemos D (f ◦ C) (t). Ora Df (C(t)) é a matriz linha,
h i
∂f ∂f ∂f

Df (C(t)) = ∂x C(t) ∂y C(t) ∂z C(t)

e DC(t) é a matriz coluna,

x0 (t)

DC(t) =  y 0 (t) 
z 0 (t)

Logo
i x0 (t)
 
h
∂f ∂f ∂f

D (f ◦ C) (t) = c(t) c(t) c(t)  y 0 (t) 
∂x ∂y ∂z
z 0 (t)
Observe-se que g = f ◦ C é uma função real de variável real. Portanto
∂f ∂f ∂f
g 0 (t) = 0
C(t) x (t) +
0
C(t) y (t) +
0
C(t) z (t)
∂x ∂y ∂z

Exemplo 39 Consideremos o caso mais geral em que f : R3 → R e G :


R3 → R3 são funções deriváveis. Admitamos que f = f (u, v, w) e que

G(x, y, z) = (u(x, y, z), v(x, y, z), w(x, y, z))

Lições de Análise Matemática 2


40 Funções Diferenciáveis

Então a função escalar h = f ◦ G é também derivável e


∂h ∂h ∂h
 
(Dh) (x, y, z) = ∂x ∂y ∂z |(x,y,z)

Pode ser calculada usando a regra da cadeia,


 ∂u ∂u ∂u 
∂x ∂y ∂z
∂f ∂f ∂f ∂v ∂v ∂v
 
D (f ◦ G) (t) = ∂u ∂v ∂w |G(x,y,z)
 ∂x ∂y ∂z

∂w ∂w ∂w
∂x ∂y ∂z |(x,y,z)

Ou seja,
∂h ∂f ∂u ∂f ∂v
= +
∂x |(x,y,z) ∂u |G(x,y,z) ∂x |(x,y,z) ∂v |G(x,y,z) ∂x |(x,y,z)
∂f ∂w
+
∂w |G(x,y,z) ∂x |(x,y,z)

∂h ∂f ∂u ∂f ∂v
= +
∂y |(x,y,z) ∂u |G(x,y,z) ∂y |(x,y,z) ∂v |G(x,y,z) ∂y |(x,y,z)
∂f ∂w
+
∂w |G(x,y,z) ∂y |(x,y,z)

∂h ∂f ∂u ∂f ∂v
= +
∂z |(x,y,z) ∂u |G(x,y,z) ∂x |(x,y,z) ∂v |G(x,y,z) ∂z |(x,y,z)
∂f ∂w
+
∂w |G(x,y,z) ∂z |(x,y,z)

Lema 1 Seja A um aberto de Rn e F : A ⊆ Rn → Rm uma função derivável


em a ∈ A. Então para x 6= a, x pertencente a uma vizinhança de a,

kF (x) − F (a)k ≤ (1 + kDF (a)k) kx − ak

Demonstração: Por hipótese F é derivável em a ∈ A, logo por denição

kF (x) − F (a) − DF (a) (x − a)k


lim =0
x→a kx − ak

Lições de Análise Matemática 2


2.5 Propriedades da Derivada 41

o que signica que ∀ε > 0∃δ > 0 :


kF (x) − F (a) − DF (a) (x − a)k
0 < kx − ak < δ ⇒ <ε
kx − ak
Seja então ε = 1. Existe δ>0 tal que

kF (x) − F (a) − DF (a) (x − a)k < kx − ak (2.28)

desde que 0 < kx − ak < δ. Por outro lado

kF (x) − F (a)k = kF (x) − F (a) − DF (a) (x − a) + DF (a) (x − a)k


e usando a desigualdade triangular,

kF (x) − F (a)k ≤ kF (x) − F (a) − DF (a) (x − a)k


+ kDF (a) (x − a)k (2.29)

Usando agora a propriedade da norma matricial

kDF (a) (x − a)k ≤ kDF (a)k kx − ak (2.30)

e combinando 2.28 com 2.29 e 2.30 obtemos

kF (x) − F (a)k ≤ kx − ak + kDF (a)k kx − ak


o que mostra que

kF (x) − F (a)k ≤ (1 + kDF (a)k) kx − ak


para x pertencente à vizinhança δ de a. cqd

Teorema 6 Seja A um aberto de Rn e F : A ⊆ Rn → Rm uma função


derivável em a ∈ A. Então F é contínua em a.
Demonstração: Seja ε>0 qualquer. Pelo Lema 1,

kF (x) − F (a)k ≤ (1 + kDF (a)k) kx − ak


desde que 0 < kx − ak < δ . Então existe δ 0 = min(δ, 1+kDF
ε
(a)k
)>0 tal que

0 < kx − ak < δ 0 implica


ε
kF (x) − F (a)k ≤ (1 + kDF (a)k) <ε
1 + kDF (a)k
o que prova que
lim F (x) = F (a)
x→a
ou seja, F é contínua em a. cqd

Lições de Análise Matemática 2


42 Funções Diferenciáveis

Teorema 7 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R , e a ∈ A. Se existem


as derivadas parciais de f numa vizinhança de a e se as derivadas parciais
forem funções contínuas em a então f é derivável em a.
Denição 28 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R . Se f for contínua
em A, f diz-se uma função de classe C 0 .
Se f é uma função de classe C 0 e além disso existem e são contínuas as
derivadas parciais de f , então f diz-se uma função de classe C 1 .
Os resultados sobre a diferenciabilidade de uma função num ponto podem
ser resumidos no seguinte esquema:

f de classe C1

f derivável =⇒ existem derivadas parciais de f

f contínua

2.6 Propriedades do Gradiente

Teorema 8 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e u um versor de


Rn . Se f for derivável em a ∈ A então

fu0 (a) = ∇f (a) · u

Demonstração: Seja s : R → Rn a função derivável em R denida por

s(t) = a + tu

Consideremos a função composta g =f ◦s denida por

g(t) = f (s(t))

Uma vez que s(0) = a e f é derivável em s(0) = a e s derivável em 0, pelo


teorema da derivada da função composta, g é derivável em 0. Além disso,

Dg(t) = Df (s(t)).Ds(t)

e como s0 (0) = u, segue-se que

g 0 (0) = ∇f (a) · u (2.31)

Lições de Análise Matemática 2


2.6 Propriedades do Gradiente 43

Por outro lado a denição de derivada num ponto segundo um vector é

f (a + hu) + f (a)
fu0 (a) = lim
h→0 h
e atendendo à denição de derivada num ponto de uma função real de variável
real

f (s(h)) + f (s(0)) g(h) + g(0)


fu0 (a) = lim = lim = g 0 (0) (2.32)
h→0 h h→0 h
Por 2.31 e 2.32 temos
fu0 (a) = ∇f (a) · u
cqd

Exemplo 40 Averiguar se a função f : R2 → R


(
xy 2
x2 +y 4
(x, y) 6= (0, 0)
,
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)
√ √ 
é diferenciável na origem Consideremos o versor u = 22 , 22 e calculemos
fu0 (0, 0) . Ora,
√ √
0 f ((0, 0) + hu) + f (0, 0) 1 h3 22 12 2
fu (a) = lim = lim 2 1 1
=
h→0 h h→0 h h
2
+ 4h 2
As derivadas parciais de f na origem existem pois
∂f f (0 + h, 0) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂x h→0 h h→0 h
e
∂f f (0, 0 + h) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂y h→0 h h→0 h
Então pelo teorema anterior se f fosse derivável na origem fu0 (a) = ∇f (a)·u.
Ora √ √ √ !
2 2 2
= fu0 (a) 6= (0, 0) · , =0
2 2 2
Logo f não é derivável na origem, pelo que não é contínua na origem. Ob-
serve-se que no exercício 12 tinhamos vericado que não é possível denir
um prolongamento contínuo à função denida por 2.17.

Lições de Análise Matemática 2


44 Funções Diferenciáveis

Teorema 9 Seja A um aberto de R3 , f : A ⊆ R3 → R e f derivável em a


∈ A tal que ∇f (a) 6= 0. Então a direcção e o sentido de ∇f (a) são a direcção
e o sentido do crescimento máximo, em a, de f .

Demonstração: Pretendemos determinar as condições que tornam má-


0
ximo fu (a), u um versor. Pelo Teorema anterior e usando as propriedades do
produto interno

fu0 (a) = ∇f (a) · u = k∇f (a)k kuk cos θ = k∇f (a)k cos θ

em que é o ângulo formado pelos vectores ∇f (a) e u. Ora −1 ≤ cos θ ≤ 1


θ
0
e portanto fu (a) é máxima quando cos θ = 1, isto é, θ = 0, o que implica que
∇f (a) e u têm a mesma direcção e sentido. Consequentemente a derivada
direccional é máxima na direcção e no sentido de ∇f (a) . cqd

Teorema 10 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R, f derivável em a


∈ A e c ∈ R. Seja s : I ⊆ R → R, I um intervalo de R,uma função derivável
em t0 tal que s(t0 ) = a e s(t) ∈ Nc , Nc o conjunto de nível de f de valor c.
Então o vector ∇f (a) é ortogonal a s0 (t0 ), ou seja, o gradiente, não nulo, de
uma função derivável é ortogonal aos conjuntos de nível dessa função.

Demonstração: Consideremos a função composta g = f ◦ s denida por


g(t) = f (s(t)). Como s(t) ∈ Nc segue-se que f (s(t)) = c, logo g é a função
0
constante s : I ⊆ R → R, g(t) = c, logo g (t) = 0, ∀t ∈ I. Por outro lado,
0
podemos calcular g (t0 ) aplicando a regra da derivada da função composta,

0 = g 0 (t0 ) = D(f os)(t0 ) = ∇f (s(t0 )) · s0 (t0 ) = ∇f (a) · s0 (t0 )

o que mostra que ∇f (a) é ortogonal a s0 (t0 ), logo ∇f (a) é ortogonal a Nc .


cqd
Para o caso de n = 3, os conjuntos de nível de uma função são superfícies
3
de R e portanto a equação do plano tangente a uma superfície de nível
denida por f (x, y, z) = c num ponto (x0 , y0 , z0 ) da superfície é

∇f (x0 , y0 , z0 ) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0

Para n = 2 falamos de curvas de nível e de rectas tangentes. Para n > 3


devemos falar de hipersuperfícies de nível e de hiperplanos tangentes.

Lições de Análise Matemática 2


2.6 Propriedades do Gradiente 45

Exemplo 41 Considere a função


f: R2 → R
(x, y) 7→ x + y 2
2

Para c > 0 as √
curvas de nível de valor c são as circunferências de centro na
origem e raio c de equação x2 + y 2 = c. Podemos descrever as circunferên-
cias considerando a função
s: R → √ R2√
t 7→ ( c cos t, c sin t)
√ √
Seja s(t0 ) = (x0 , y0 ) , x0 = c cos t0 e y0 = c sin t0 . Ora
∇f (x0 , y0 ) = (2x0 , 2y0 )

tem direcção radial. É pois ortogonal a


√ √
s0 (t0 ) = − c sin t0 , c sin t0 = (x0 , −y0 )


tal como a gura 2.9 ilustra. Uma vez que ∇f (x0 , y0 ) é ortogonal a qualquer

Figura 2.10: Curvas de nível e campo de gradientes

curva de nível facilmente se escreve a equação da recta tangente a uma curva

Lições de Análise Matemática 2


46 Funções Diferenciáveis
√ √ 
de nível. Por exemplo a recta tangente a x + y = 1 no ponto
2 2
2
2
, 22 éa
recta de equação
√ √ ! √ √ !
2 2 2 2
∇f , · x− ,y − =0
2 2 2 2

isto é, x + y = 2.

Exemplo 42 Calcular a equação do plano tangente à superfície z = x2 +


y 2 − 1 no ponto (1, 1, 1). A superfície dada é o conjunto de nível de valor 1
da função derivável
f: R3 → R
(x, y, z) 7→ z − x2 − y 2

e portanto a equação do plano tangente à superfície z = x2 + y 2 − 1 no ponto


(1, 1, 1) é
∇f (1, 1, 1) · (x − 1, y − 1, z − 1) = 0
Ora ∇f (1, 1, 1) = (−2, −2, 1) e portanto a equação do plano tangente à
superfície z = x2 + y 2 − 1 no ponto (1, 1, 1) é −2x − 2y + z + 3 = 0.

No exemplo anterior considerámos a superfície dada como conjunto de


nível de uma função. Poderíamos fazer uma resolução alternativa consideran-
do a superfície dada como gráco da função

g: R2 → R
(x, y) 7→ x2 + y 2 − 1

Neste caso, a equação do plano tangente à superfície z = x2 + y 2 − 1 no ponto


(1, 1, 1) é dada por

z = g(1, 1) + ∇g (1, 1) · (x − 1, y − 1)

isto é, z = 2x + 2y − 3.

Lições de Análise Matemática 2


Capítulo 3
Derivadas de Ordem Superior

3.1 Derivadas Parciais Iteradas

Seja f : R3 → R uma função de classe C 1. Isto signica que f


é uma função
∂f ∂f
contínua e que existem e são contínuas as funções derivadas parciais ,
∂x ∂y
∂f
e . Se por sua vez estas funções possuírem derivadas parciais contínuas
∂z
2
dizemos que f uma função de classe C . Dizemos que f é uma função de
3
classe C para signicar que existem e são contínuas as derivadas de terceira
ordem. Vejamos alguns exemplos de derivadas parciais de ordem superior,
também designadas por derivadas parciais iteradas.

Exemplo 43 Seja f : R2 → R denida por f (x, y) = x2 ey − x. Então as


derivadas parciais de primeira ordem são dadas por
∂f
(x, y) = 2xey − 1
∂x
∂f
(x, y) = x2 ey
∂y
As derivadas de segunda ordem são
∂ 2f
 
∂ ∂f
2
(x, y) = (x, y) = 2ey
∂x ∂x ∂x

∂ 2f
 
∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 2xey
∂x∂y ∂x ∂y

Lições de Análise Matemática 2


48 Derivadas de Ordem Superior

∂ 2f
 
∂ ∂f
2
(x, y) = (x, y) = x2 ey
∂y ∂y ∂y
∂ 2f
 
∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 2xey
∂y∂x ∂y ∂x
A título de exemplo,
∂ 3f ∂ 2f
 

3
(x, y) = (x, y) = 0
∂x ∂x ∂x2
e
∂ 3f ∂ 2f
 

2
(x, y) = (x, y) = 2ey
∂y∂x ∂y ∂x2

As derivadas parciais
∂2f
∂x∂y
e
∂2f
∂y∂x
dizem-se derivadas parciais mistas.
Teorema 11 Se f : U ⊆ R2 → R é uma função de classe C 2 , denida num
aberto U ⊆ R2 , então as derivadas parciais mistas são iguais, isto é
∂ 2f ∂ 2f
=
∂x∂y ∂y∂x

Demonstração: Consideremos a expressão

G(h, k) = f (x + h, y + k) − f (x + h, y) − f (x, y + k) + f (x, y)

Mantendo xo y e k, consideremos g a função derivável denida por

g(x) = f (x, y + k) − f (x, y) (3.1)

Então,
G(h, k) = g (x + h) − g(x)
Aplicando o teorema do valor médio à função real de variável real g, existe
ξx, ξx um número real entre x+h e x tal que

g (x + h) − g(x)
g 0 (ξ x ) =
h
Portanto,
G(h, k) = hg 0 (ξ x )

Lições de Análise Matemática 2


3.1 Derivadas Parciais Iteradas 49

Derivando ambos os membros de 3.1, em ordem a x,


∂f ∂f
g 0 (ξ x ) = (ξ x , y + k) − (ξ , y)
∂x ∂x x
Logo  
∂f ∂f
G(h, k) = h (ξ , y + k) − (ξ , y)
∂x x ∂x x
ou seja,
G(h, k) = h (s (y + k) − s(y))
em que s é a função real de variável real, derivável (f ∈ C 2 ),
∂f
s (y) = (ξ , y) (3.2)
∂x x
Aplicando novamente o teorema do valor médio à função real de variável real
s, existe ξy , ξy um número real entre y+k e y tal que

 s (y + k) − s(y)
s0 ξ y =
k
ou seja,
s (y + k) − s(y) = ks0 ξ y

(3.3)

Mas
∂ 2f
s0 ξ y =

(ξ , ξ ) (3.4)
∂y∂x x y
logo,
∂ 2f 
s (y + k) − s(y) = k ξx, ξy
∂y∂x
ou seja
∂ 2f 
G(h, k) = hk ξx, ξy
∂y∂x
∂2f
Como por hipótese é uma função contínua segue-se que
∂y∂x

∂ 2f G(h, k)
(x, y) = lim
∂y∂x (h,k)→(0,0) hk
De modo análogo, e atendendo à simetria de G, poderíamos vericar que

∂ 2f G(h, k)
(x, y) = lim
∂x∂y (h,k)→(0,0) hk

Lições de Análise Matemática 2


50 Derivadas de Ordem Superior

o que demonstra que

∂ 2f ∂ 2f
(x, y) = (x, y)
∂y∂x ∂x∂y

para qualquer ponto (x, y). cqd

Exemplo 44 Calcular as derivadas parciais mistas de f : R2 → R


( 2 2
−y
xy xx2 +y 2, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0)

na origem. As derivadas parciais de f de primeira ordem são as funções,


∂f
∂x
: R2 → R
(
yx4 +4x2 y 3 −y 5
∂f (x2 +y 2 )2
, (x, y) 6= (0, 0)
(x, y) =
∂x 0, (x, y) = (0, 0)

e ∂f
∂y
: R2 → R
(
−xy 4 −4y 2 x3 +x5
∂f (x2 +y 2 )2
, (x, y) 6= (0, 0)
(x, y) =
∂y 0, (x, y) = (0, 0)

Então,
∂f ∂f
∂ 2f ∂y
(0 + h, 0) − ∂y
(0, 0) h−0
(0, 0) = lim = lim =1
∂x∂y h→0 h h→0 h
e
∂f ∂f
∂f ∂x
(0, 0 + h) − ∂x
(0, 0) −h − 0
(0, 0) = lim = lim = −1
∂y∂x h→0 h h→0 h
Logo
∂ 2f ∂ 2f
(0, 0) 6= (0, 0)
∂x∂y ∂y∂x
o que permite concluir que f não é de classe C 2 .

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 51

3.2 Teorema de Taylor

Para funções de uma variável de classe C ∞, f : R → R o Teorema de


Taylor garante que
f (2) (a) 2 f (k) (a)
0
f (x) = f (a) + f (a) (x − a) + (x − a) + ... + (x − a)k
2! k!
+Rk (x, a)

onde o resto Rk (x, a) verica

|Rk (x, a)|


→0 quando x→a
(x − a)k
O que pretendemos nesta secção é obter um teorema análogo para funções
f : Rn → R. Como sabemos uma função derivável num ponto pode ser aprox-
imada, em torno desse ponto por uma sua linearização, isto é, se denirmos

R1 (x, a) = f (x) − f (a) − [Df (a)] (x − a)

a denição de f derivável em a garante que

|R1 (x, a)|


→0 quando x→a
k(x − a)k
Podemos escrever este resultado designando-o por fórmula de Taylor de
primeira ordem:
Teorema 12 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e f derivável em a
∈ A . Então
n
X ∂f
f (x) = f (a) + (xi − ai ) (a) + R1 (x, a)
i=1
∂xi

onde o resto R1 (x, a) verica


|R1 (x, a)|
→0 quando x→a
k(x − a)k

Observe-se que se considerarmos h = x−a e o teorema de Taylor de


primeira ordem escreve-se

Lições de Análise Matemática 2


52 Derivadas de Ordem Superior

Teorema 13 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e f derivável em a


∈ A . Então
n
X ∂f
f (a + h) = f (a) + hi (a) + R1 (h, a)
i=1
∂xi

onde o resto verica


|R1 (h, a)|
→0 quando h→0
khk

Escrevemos R1 (h, a) num abuso de notação para vincar que o resto de-
pende de h a. Para escrevermos a fórmula
e de  de Taylor  de ordem superior
∂ ∂ ∂
a 1 consideremos o operador nabla, ∇ = , , ..., ∂xn e a seguinte no-
∂x1 ∂x2
tação:
(h · ∇)0 f = f (3.5)
n
X ∂f
(h · ∇) f = (xi − ai )
i=1
∂xi

(h · ∇)k = (h · ∇) (h · ∇)k−1
Caso Particular: Assim, no caso particular de f ser uma função de duas
variáveis,f :A⊆ R2 → R e f derivável em a = (x0 , y0 ), h = (h1 , h2 ) e
 
∂f ∂f ∂f ∂f
(h · ∇) f = (h1 , h2 ) · , = h1 + h2 (3.6)
∂x ∂y ∂x ∂y
 2
2 ∂ ∂
(h · ∇) f = h1 + h2 f (3.7)
∂x ∂y
Se as derivadas parciais mistas forem iguais

∂ 2f ∂ 2f 2
2 ∂ f
(h · ∇)2 f = (h1 )2 + 2h1 h2 + (h2 )
∂x2 ∂x∂y ∂y 2
Por analogia se as derivadas parciais mistas de ordem n de f forem iguais,

k
k
X k! ∂kf
(h · ∇) f = (h1 )k−i (h2 )i k−i i
i=0
(k − i)!i! ∂x ∂y

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 53

Teorema 14 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e f de classe C n+1


numa vizinhança de a ∈ A . Seja h = x − a. Então
n
X 1
f (a + h) = (h · ∇)k f (a) + Rn (h, a) (3.8)
k=0
k!

onde o resto Rn (h, a) verica

|Rn (h, a)|


→0 quando h→0
khkn

Seja f : A ⊆ R2 → R nas condições do teorema anterior. Escrevamos a


fórmula de Taylor de segunda ordem para f em torno de a = (x0 , y0 ) . De
acordo com 3.8 e 3.5

1 1
f (a + h) = f (a) + (h · ∇)1 f (a) + (h · ∇)2 f (a) + R2 (h, a)
1! 2!

Usando 3.6 e 3.7, obtemos

 
∂f ∂f
f (a + h) = f (a) + h1 (a) + h2 (a)
∂x ∂y
2
1 2 ∂ f ∂ 2f
+ (h1 ) (a) + h1 h2 (a)
2! ∂x2 ∂x∂y
2
1 2 ∂ f
+ (h2 ) (a) + R2 (h, a) (3.10)
2! ∂y 2
em que

|R2 (h, a)|


q →0 quando (h1 , h2 ) → (0, 0)
2 2
(h1 ) + (h2 )

Exemplo 45 Escrever a fórmula de Taylor de segunda ordem para f em


torno de (0, 0), sendo

f: R2 → R
(x, y) 7→ cos (x + y)

Lições de Análise Matemática 2


54 Derivadas de Ordem Superior

A função f é uma função de classe C 0 pois é a composta de duas funções


contínuas. Calculando as derivadas parciais de f,
∂f ∂f
(x, y) = (x, y) = − sin (x + y)
∂y ∂x
∂ 2f ∂ 2f
(x, y) = (x, y) = − cos (x + y)
∂x2 ∂y 2
∂ 2f ∂ 2f
(x, y) = (x, y) = − cos (x + y)
∂y∂x ∂x∂y
Vericamos que são também funções contínuas que as terceiras derivadas
parciais iteradas são também funções contínuas. logo f é uma função de
classe C 3 . Usando 3.10,
1 1
−x2 − 2xy − y 2 + R2 (x, a)

cos (x + y) = 1 + (0 + 0) +
1! 2!
Podemos pois armar que numa vizinhança da origem,
1
cos (x + y) ≈ 1 − (x + y)2
2
tal como a gura ilustra.
Vamos omitir a demonstração do Teorema de Taylor para o caso geral. Já
vericámos a validade da fórmula de Taylor de primeira ordem para funções
deriváveis. Faremos a demonstração da fórmula de Taylor de segunda
ordem.
Teorema 15 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e f uma função de
classe C 3 . Então
n
X ∂f
f (a + h) = f (a) + hi (a)
i=1
∂xi
n
1 X ∂ 2f
+ hi hj (a)
2! i,j=1 ∂xi ∂xj
+R2 (h, a)
onde o resto R2 (h, a) verica
|R2 (h, a)|
→0 quando h→0
khk2

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 55

Figura 3.1: Gráco de cos(x + y) e de 1 − (x + y)2 /2

2
O Teorema é válido para funções de classe C . Assumimos que f é uma
3
função de classe C apenas para ser possível escrever o resto R2 (h, a) numa
forma apropriada.
Demonstração: Seja s : R → Rn a função derivável em R denida por
s(t) = a + th. Consideremos a função composta g = f ◦s denida por
g(t) = f (s(t)). Pelo teorema da derivada da função composta, g é derivável
em t. Além disso,
Dg(t) = Df (s(t)).Ds(t)
isto é
g 0 (t) = ∇f (a + th) · h (3.11)

Observemos que s(0) = a e que s(1) = a + h. Ora pelo teorema fundamental


do cálculo,
Z1
g 0 (t) = g(1) − g(0) = f (a + h) − f (a)
0
Assim, integrando ambos os membros de 3.11 obtemos

Z1
f (x) − f (a) = ∇f (a + t (x − a)) · (x − a) dt (3.12)

Lições de Análise Matemática 2


56 Derivadas de Ordem Superior

Observemos agora que

n
X ∂f
∇f (a + th) · h = hi (a + th)
i=1
∂xi

Designemos por I o membro direito de 3.12,

Z1
I= ∇f (a + th) · hdt
0

Logo
n Z1
X ∂f
I= hi (a + th)dt (3.13)
i=1
∂xi
0
R 0
uv = uv − vu0 ,
R
Usando a integração por partes, calculemos agora

Z1
∂f
Ii = (a + th)dt
∂xi
0

fazendo
∂f
u= (a + th)
∂xi
e
v = t − 1 (v 0 = 1)
Pela regra da derivada da função composta e como f admite derivadas par-
ciais contínuas de segunda ordem,

n
X ∂ 2f
u0 = hj (a + th)
j=1
∂xj ∂xi

e
∂f ∂f
uv t=1
t=0 = (t − 1) (a + th) t=1
t=0 = (a)
∂xi ∂xi
Logo
Z1 n
∂f X ∂ 2f
Ii = (a) + (1 − t) hj (a + th)dt
∂xi j=1
∂xj ∂xi
0

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 57

Deste modo 3.13 escreve-se


n  
X ∂f
I= hi (a) + J
i=1
∂xi

onde
n
X
J= hj Jj
j=1
com
Z1
∂ 2f
Jj = (1 − t) (a + th)dt (3.14)
∂xj ∂xi
0
O integral I escreve-se

n n
X ∂f X
I= hi (a) + hi hj Jj
i=1
∂xi i,j=1

Se designarmos por R1
n
X
R1 = hi hj Jj
i,j=1

Então a expressão 3.12 escreve-se

n
X ∂f
f (a + h) − f (a) = hi (a) + R1
i=1
∂xi

que não é mais do que a fórmula de Taylor de primeira ordem de f em torno


de a.
Calculemos agora o integral 3.14 integrando novamente por partes. Como
3
f é de classe C consideremos

∂ 2f
u= (a + th) e v = − (t − 1)2 /2
∂xj ∂xi
segue-se que
n
0
X ∂ 3f
u = hk (a + th)
k=1
∂xk ∂xj ∂xi
e
2 ∂ 2f t=1 ∂ 2f
uv t=1
t=0 = − (t − 1) /2 (a + th) t=0 = (a)
∂xj ∂xi ∂xj ∂xi

Lições de Análise Matemática 2


58 Derivadas de Ordem Superior

Logo
Z1 n
∂ 2f (t − 1)2 X ∂ 3f
Jj = (a) + hk (a + th)dt
∂xj ∂xi 2 k=1
∂x k ∂xj ∂xi
0

Deste modo o integral denido em 3.12 escreve-se

n n
X ∂f X ∂ 2f
I= hi (a) + hj hi (a) + R2
i=1
∂xi j,i=1
∂xj ∂xi

onde
n Z1
X (t − 1)2 ∂ 3f
R2 = hk hj hi (a + th)dt (3.15)
k,j,i=1
2 ∂xk ∂xj ∂xi
0

e portanto a expressão 3.12 escreve-se

n
X ∂f
f (a + h) − f (a) = hi (a)
i=1
∂xi
n
1X ∂ 2f
+ hj hi (a)
2 j,i=1 ∂xj ∂xi
+R2

e assim obtemos a fórmula de Taylor de segunda ordem. Observemos agora


que
|hk hj hi | ≤ khk3 .
Por outro lado a função integranda em 3.15 é uma função contínua logo
limitada numa pequena vizinhança de a. Assim para kx − ak sucientemente
pequeno existe M >0 tal que o resto denido por 3.15 verica

|R2 | ≤ M khk3

Logo
|R2 |
≤ M khk (3.16)
khk2
e portanto
|R2 |
→0 quando h→0
khk2

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 59

o que completa a demonstração. cqd


Observe-se que esta demonstração sugere como proceder para demonstrar
o caso geral. Integrando por partes o integral que dene R2 obteríamos o
desenvolvimento de terceira ordem e assim por diante. Isto mostra que caso
geral pode ser demonstrado por indução matemática.
O conceito que vamos introduzir envolve a noção de funções quadráticas.
Consideremos a matriz M = [mij ] . Uma função quadrática é uma função
G : Rn → R tal que
n
X
G(h1 , h2 , ..., hn ) = hj hi mij (3.17)
j,i=1

ou, em termos de multiplicação matricial,

 
m11 m12 ... m1n

h1
  m21 m22
 ... m2n 
 h2 

G(h1 , h2 , ..., hn ) = h1 h2 ... hn  .. .
.
.
.   ... 

 . . ... .
m1n m2n ... mnn hn

Observe que se Gé uma função quadrática verica G(λh) = λ2 G(h), sendo


h = (h1 , h2 , ..., hn ).

Denição 29 Seja A um aberto de Rn e f : A ⊆ Rn → R uma função de


que admite segundas derivadas parciais no ponto a ∈ A. Seja h = x−a ∈ Rn .
A função quadrática

Hf (a) : Rn → R
1
Pn ∂2f (3.18)
h 7→ 2 j,i=1 hj hi ∂xj ∂xi (a)

designa-se por Hessiana de f (conceito introduzido por Ludwig Hesse em


1844). A matriz das segundas derivadas parciais de f no ponto a é frequente-
mente designada por matriz hessiana de f em a.

Usando a matriz jacobiana, isto é, a matriz das primeiras derivadas par-


ciais de f em a e a matriz hessiana podemos reescrever o teorema de Taylor
de segunda ordem:

Lições de Análise Matemática 2


60 Derivadas de Ordem Superior

Teorema 16 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R e f uma função de


classe C 3 . Seja h = x − a ∈ Rn , J a matriz Jacobiana de f em a e H a
matriz hessiana de f em a. Então
1
f (a + h) = f (a) + Jh + hT Hh + R2 (h, a) (3.19)
2
onde o resto R2 (h, a) verica
R2 (h, a)
→0 quando h→0
khk2
Exemplo 46 Seja f : R3 → R tal que f (x, y, z) = x2 y2 + z 2 y2 . Calculemos o
desenvolvimento de Taylor de segunda ordem de f em torno de a = (1, 2, 1).
Ora, f (1, 2, 1) = 8 e
 
Df (x, y, z) = 2xy 2 2y(x2 + z 2 ) 2zy 2
pelo que a matriz Jacobiana de f em a é a matriz linha J = 8 8 8 .O
 

desenvolvimento de Taylor de primeira ordem é pois

f (x, y, z) = −24 + 8x + 8y + 8z + R1
A matriz das derivadas parciais de segunda ordem é a matriz
∂2f ∂2f ∂2f
   
∂x2 ∂y∂x ∂z∂x 2y 2 4xy 0
∂2f ∂2f ∂2f
 = 4yx 2(x2 + z 2 ) 4yz 
  
 ∂x∂y ∂y 2 ∂z∂y
∂2f ∂2f ∂2f 0 4zy 2y 2
∂x∂z ∂y∂z ∂z 2

A matriz hessiana de f em a é a matriz



8 8 0
H= 8 4 8 
0 8 8
logo 3.19 escreve-se

 
  h1
f (1 + h1 , 2 + h2 , 1 + h3 ) = 8 + 8 8 8  h2 
h3
  
8 8 0 h1
1  
+ h1 h2 h3  8 4 8   h2 
2
0 8 8 h3
+R2 (h, a)

Lições de Análise Matemática 2


3.2 Teorema de Taylor 61

e, fazendo (x, y, z) = (1+h1 , 2+h2 , 1+h3 ) e agrupando os termos semelhantes,


obtemos, para (x, y, z) numa vizinhança de a = (1, 2, 1),

f (x, y, z) ≈ 24 − 16x − 16y − 16z + 4x2 + 8yx + 2y 2 + 8yz + 4z 2

Verique que o desenvolvimento de terceira ordem é

f (x, y, z) ≈ −8 + 8x + 8y + 8z − 4x2 − 2y 2 − 4z 2 − 8xy


−8zy + 2xy 2 + 4x2 y + 2zy 2 + 4z 2 y

E qual o desenvolvimento de quarta ordem?

Exemplo 47 Seja f : R2 → R tal que f (x, y) = ex2 +y2 . Mostre, usando o


desenvolvimento de Taylor de segunda ordem de f em torno de a = (0, 0),
que
f (x, y) ≈ 1 + x2 + y 2
Ora f é uma função de classe C ∞ . O vector gradiente é o vector
 2 2 2 2

∇f (x, y) = 2xex +y , 2yex +y

e a matriz hessiana é a matriz


 2 +y 2 2 +y 2 2 2 
2ex + 4x2 ex 4yxex +y
H(x, y) = 2 2 2 2 2 2
4yxex +y 2ex +y + 4y 2 ex +y
 
2 0
No ponto (0, 0), f (0, 0) = 1, ∇f (x, y) = (0, 0) e H(0, 0) = . Assim
0 2
o desenvolvimento de Taylor de f em (0, 0) dado por 3.19 é
  
1 2 0 x
f (x, y) = 1 + (0, 0) · (x, y) + (x, y) + R2 ((x, y), a)
2 0 2 y

Pelo que f (x, y) ≈ 1 + x2 + y 2

Lições de Análise Matemática 2


62 Derivadas de Ordem Superior

3.3 Extremos de Funções Escalares

Nesta secção vamos estudar o comportamento das funções escalares quanto


à existência e localização dos pontos onde a função atinge valores máximos
e valores mínimos. São conhecidos de todos as denições e resultados para o
caso particular de funções reais de variável real. Vejamos como generalizar
os conceitos para funções escalares de várias variáveis.

Denição 30 Seja f : A ⊆ Rn → R. Dizemos que a ∈ A é um ponto de


máximo relativo (ou local) de f se existir uma vizinhança Va de a tal que
f (a) ≥ f (x), ∀x ∈ Va ∩ A (3.20)

Neste caso dizemos que f (a) é um máximo relativo (ou local) de f .

Denição 31 Seja f : A ⊆ Rn → R. Dizemos que a ∈ A é um ponto de


mínimo relativo (ou local) de f se existir uma vizinhança Va de a tal que
f (a) ≤ f (x), ∀x ∈ Va ∩ A (3.21)

Neste caso dizemos que f (a) é um mínimo relativo (ou local) de f .

Denição 32 Seja f : A ⊆ Rn → R. Dizemos que a ∈ A é um ponto de


máximo absoluto de f se e só se
f (a) ≥ f (x), ∀x ∈ A

Neste caso dizemos que f (a) é um máximo absoluto de f .

Exemplo 48 A função f : R2 → R: f (x, y) = 2e−(x +y ) cujo gráco se


2 2

pode visualizar na gura 3.2 tem um ponto de máximo absoluto em (0, 0). O
valor máximo de f é 2.

Denição 33 Seja f : A ⊆ Rn → R. Dizemos que a ∈ A é um ponto de


mínimo absoluto de f se e só se
f (a) ≤ f (x), ∀x ∈ A

Neste caso dizemos que f (a) é um mínimo absoluto de f .

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 63

f : f (x, y) = 2e−(x )
2 +y 2
Figura 3.2: (0, 0) ponto de máximo absoluto de

Figura 3.3: (0, 0) ponto de mínimo absoluto de f : f (x, y) = x2 + y 2

Lições de Análise Matemática 2


64 Derivadas de Ordem Superior

Exemplo 49 A função f : R2 → R: f (x, y) = x2 + y2 cujo gráco se pode


visualizar na gura 3.3 tem um ponto de mínimo absoluto em (0, 0). O valor
mínimo de f é 0.

No cálculo de funções reais de variáveis reais aprendemos que toda a


função contínua num intervalo fechado I tem em I um máximo absoluto e um
mínimo absoluto. Uma generalização deste teorema para funções escalares é
o resultado seguinte que não demonstraremos.

Teorema 17 Seja S um conjunto compacto de Rn ( conjunto fechado e li-


mitado de Rn ) e f : S ⊆ Rn → R uma função contínua. Então f tem em S
um máximo absoluto e um mínimo absoluto.

Exemplo 50 Consideremos novamente a função do exemplo 49, mas deni-


da não em R2 mas em S = [−3, 3] × [−3, 3] . Como f é contínua e S é
um compacto de R2 , pelo teorema 17, f tem em S um máximo absoluto e
um mínimo absoluto. Por visualização do seu gráco, gura 3.3, facilmente
se verica que o valor mínimo de f em S é 0 e que o ponto de mínimo
absoluto é a origem. O valor máximo de f em S é 18 e os pontos de má-
ximo absoluto são os vértices do quadrado [−3, 3] × [−3, 3] , isto é os pontos,
(−3, −3), (−3, 3), (3, 3) e (3, −3).

Denição 34 Seja f : A ⊆ Rn → R. Dizemos que a ∈ A é um extremante


relativo (ou local) de f se a ∈ A é um ponto de mínimo relativo ou
um ponto de máximo relativo de f . Se a é um extremante de f, f (a)
diz-se um valor extremo de f .

Denição 35 Seja f : A ⊆ Rn → R, f derivável em a ∈ A. Dizemos que


a ∈ A é um ponto crítico de f se e só se

∇f (a) = 0Rn (3.22)

Ao escrevermos∇f (a) = 0Rn pretendemos armar que o gradiente de f


n
em a é o vector nulo de R . Sempre que não houver motivo para confusão
escreveremos apenas ∇f (a) = 0.

Denição 36 Seja f : A ⊆ Rn → R, f derivável. Se a ∈ A é um ponto


crítico de f e a ∈ A não é um ponto extremante relativo de f , a ∈ A diz-se
um ponto de sela.

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 65

Exemplo 51 Seja f : R2 → R, tal que f (x, y) = x2 − y2 . Os pontos críticos


de f são os pontos que vericam:
 ∂f 
∂x
(x, y) =0 2x = 0
∂f ⇔
∂y
(x, y) =0 −2y = 0
o que signica que a origem é o único ponto crítico de f . No entanto f
não tem na origem um extremante local. Basta observar f (0, 0) = 0 e que
f (x, 0) = x2 ≥ 0, ∀x ∈ R e que f (0, y) = −y 2 ≤ 0, ∀y ∈ R. Logo qualquer
que seja a vizinhança da origem, ela contém pontos cuja imagem é superior
a f (0, 0) e pontos cuja imagem é inferior a f (0, 0). Isto mostra que a origem
é um ponto de sela. A gura 3.4 mostra o gráco de f numa vizinhança
de origem e podemos vericar que localmente o gráco relembra uma sela de
cavalo!

Figura 3.4: (0, 0) ponto de sela de f : f (x, y) = x2 − y 2

Exemplo 52 Seja f : R3 → R, tal que f (x, y, z) = xy + z 2 . Os pontos


críticos de f são os pontos que vericam:
 ∂f 
 ∂x
(x, y, z) =0  y=0
∂f
∂y
(x, y, z) =0 ⇔ z=0
 ∂f 
2z = 0
∂z
(x, y, z) =0

Lições de Análise Matemática 2


66 Derivadas de Ordem Superior

o que signica que a origem é o único ponto crítico de f .


Exemplo 53 Calculemos os pontos críticos da função
f : R2 → R : f (x, y) = (x − y)2 − x4 − y 4

Ora f é uma função derivável, logo a = (x, y) é um ponto crítico de f se e


só se ∇f (a) = 0, ou seja
 
−4x3 + 2 (x − y) = 0 4x3 − 2 (x − y) = 0

−4y 3 − 2 (x − y) = 0 4x3 + 4y 3 = 0

4x3 − 2 (x − y) = 0

x3 = −y 3

4x3 − 4x = 0

x = −y

x = 0 ∨ x = 1 ∨ x = −1

x3 = −y 3
  
x=0 x=1 x = −1
⇔ ∨ ∨
y=0 y = −1 y=1

Logo são pontos críticos de f os pontos (0, 0), (1, −1) e (−1, 1).
A localização dos extremos locais é baseada num teorema que é familiar ao
aluno tomando como referência o caso particular das funções reais de variável
real, n = 1: Todo o extremante local é um ponto crítico. Este teorema
fornece condições necessárias (mas não sucientes) para a existência de
extremante local.

Teorema 18 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R derivável e a ∈ A


um extremante local de f . Então a ∈ A é um ponto crítico de f , isto é,
∇f (a) = 0 (3.23)

Demonstração: Seja h ∈ Rn qualquer. Consideremos a função composta


denida por g(t) = f (a + th). Suponhamos que a ∈ A é um ponto de máximo
local de f . Então a função g tem um ponto de máximo local em t = 0. Usando
o resultado válido para funções reais de variável real, podemos armar que
g 0 (0) = 0. Por outro lado, pela regra da derivação da função composta,

g 0 (t) = ∇f (a + th) · h

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 67

e portanto

0 = g 0 (0) = ∇f (a) · h
ou seja

0 = ∇f (a) · h = 0, ∀h ∈ Rn
o que signica que

∇f (a) = 0
cqd
No estudo de funções reais de variável real o estudo da natureza de um
ponto crítico baseava-se no estudo da segunda derivada da função no ponto.
Vejamos que a matriz hessiana permite em alguns casos classicar os extre-
mantes locais. Recordemos que, admitindo que as funções a estudar são de
2
classe C , podemos garantir que as derivadas mistas são iguais e por isso a
matriz hessiana é simétrica logo os valores próprios são reais. Necessitamos
ainda das seguintes denições e dos seguintes resultados da Álgebra Linear:

Denição 37 Uma função quadrática G : Rn → R diz-se denida positiva


se e só se G(h) ≥ 0, ∀h ∈ Rn e G(h) = 0 ⇔ h = 0.

Denição 38 Uma função quadrática G : Rn → R diz-se denida nega-


tiva se e só se G(h) ≤ 0, ∀h ∈ Rn e G(h) = 0 ⇔ h = 0.
Denição 39 Uma matriz real M ∈ M(n × n) diz-se denida positiva
se e só se para todo h 6= 0, h ∈ Rn

hT M h > 0

Proposição 6 Uma matriz real e simétrica M ∈ M(n × n) é denida


positiva se e só se todos os seus valores próprios são positivos.
Denição 40 Uma matriz real M ∈ M(n × n) diz-se denida negativa
se e só se h 6= 0, h ∈ Rn
hT M h < 0

Proposição 7 Uma matriz real e simétrica M ∈ M(n × n) é denida


negativa se e só se todos os seus valores próprios são negativos.

Lições de Análise Matemática 2


68 Derivadas de Ordem Superior

Proposição 8 Se B ∈ M(n×n) é uma matriz associada à função quadrática


denida positiva
B : Rn → Pn R
1
h 7→ 2 j,i=1 hj hi bij

então existe uma constante M > 0 tal que para todo h ∈ Rn ,


B(h) ≥ M khk2

Demonstração: Consideremos a restrição de B aos pontos h ∈ Rn : khk =


1, isto é, consideremos a função G : U = {h ∈ Rn : khk = 1} → R tal que
G(h) = B(h). A função G é uma função contínua e U é um fechado limitado
n n
de R logo um compacto de R . Como toda a função contínua num compacto
tem um mínimo absoluto podemos garantir que existe um M tal que ∀h ∈
U G(h) ≥ M.
n h h
Seja agora h ∈ R qualquer. Então h = khk e khk ∈ U. Ora como B é
khk
uma função quadrática,

h h
B(h) = B( khk) = B( ) khk2 ≥ M khk2
khk khk
cqd

Teorema 19 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R uma função de


classe C 3 e a ∈ A um ponto crítico de f . Se a matriz hessiana de f em a é
denida positiva então a é um ponto de mínimo local de f .
Demonstração: Nas condições do teorema, f uma função de classe C3 e
∇f (a) = 0, o Teorema de Taylor pode ser expresso por

1
f (a + h) − f (a) = hT Hh + R2 (h, a) (3.24)
2
com
|R2 (h, a)|
→0 quando h→0 (3.25)
khk2
Se H a matriz hessiana de f em a é denida positiva temos que, pela
proposição 8, existe um M tal que
1 T
2
h Hh ≥ M khk2 , isto é,

1
M khk2 ≤ hT Hh (3.26)
2

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 69

para todo o vector h não nulo. Por outro lado, a denição de limite aplicada
a 3.25 garante que para este ε = M , existe δ > 0 tal que para 0 < khk < δ
2
se tem |R2 (h, a)| < M khk , isto é,

−M khk2 < R2 (h, a) < M khk2 (3.27)

Então por 3.26 e 3.27 existe δ>0 tal que para 0 < khk < δ se tem

1
0 < hT Hh + R2 (h, a)
2
Então por 3.24 existe uma vizinhança de a em que

0 < f (x) − f (a)

o que signica a é um ponto de mínimo de f e que f (a) é um mínimo de f.


cqd

Teorema 20 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R uma função de


classe C 3 e a ∈ A um ponto crítico de f . Se a matriz hessiana de f em a é
denida negativa então a é um ponto de máximo local de f .
Demonstração: f em a é denida negativa
Se a matriz hessiana de
então a matriz hessiana de −f denida positiva pelo teorema 19 a
em a é
é um ponto de mínimo local de −f . Logo a é um ponto de máximo local de
f. cqd

Teorema 21 Seja A um aberto de Rn , f : A ⊆ Rn → R uma função de


classe C 3 e a ∈ A um ponto crítico de f . Se a matriz hessiana de f em a,
H , tem um valor próprio positivo e tem um valor próprio negativo
então a não é ponto de máximo local de f nem ponto de mínimo
local de f . É um ponto de Sela.
Demonstração: Seja λi o valor próprio positivo e vi o vector próprio de
H associado aλi > 0. Seja λj o valor próprio negativo e vj o vector próprio
de H associado a λj < 0. Pelo desenvolvimento de Taylor,

1
f (a + h) − f (a) = hT Hh + R2 (3.28)
2
em que
|R2 |
→0 quando h→0
khk2

Lições de Análise Matemática 2


70 Derivadas de Ordem Superior

ou seja, pela denição de limite, garantimos que

|R2 |
∀ε > 0∃δ > 0 : 0 < khk < δ ⇒ <0
khk2

Seja agora
|λi | |λj |
ε = min( , )
2 2
Então para este ε>0 existe δ > 0 tal que 0 < khk < δ implica que

|R2 | < ε khk2

Consideremos h = αvi e tal que 0 < khk < δ . Então

−εα2 kvi k2 < R2 < εα2 kvi k2

e, por outro lado, como vi é vector próprio de H, tem-se Hvi = λi vi

hT Hh = (αvi )T H (αvi ) = λi α2 kvi k2

logo
   
λi 2 1 T λi
2
− ε α kvi k < h Hh + R2 < + ε α2 kvi k2
2 2 2
|λi | λi
e como
2
= 2
≥ε segue-se que

 
λi 1
0< − ε α2 kvi k2 < hT Hh + R2
2 2

logo
1
0 < hT Hh + R2
2
e da fórmula de Taylor 3.28 podemos concluir que existe um h = αvi su-
cientemente perto de a tal que

f (a + h) − f (a) > 0

Se considerarmos agora h = αvj e tal que 0 < khk < δ . Então

−εα2 kvj k2 < R2 < εα2 kvj k2

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 71

e, por outro lado, como vj é vector próprio de H, tem-se Hvj = λj vj ,logo,

hT Hh = (αvj )T H (αvj ) = λj α2 kvj k2

logo    
λj 2 1 T λj
2
− ε α kvj k < h Hh + R2 < + ε α2 kvj k2
2 2 2
|λj | λ
e como
2
= − 2j ≥ ε segue-se que

 
1 T λj
h Hh + R2 < + ε α2 kvj k2 < 0
2 2
logo
1 T
h Hh + R2 < 0
2
e da fórmula de Taylor 3.28 podemos concluir que existe um h = αvj su-
cientemente perto de a tal que

f (a + h) − f (a) < 0

Podemos pois concluir que para qualquer vizinhança de a é possível encontrar


pontos x f (x) > f (a) e pontos x tal que f (x) < f (a) . Logo a não é
tal que
um extremante de f , a é um ponto de sela. cqd
No caso de 0 ser um valor próprio da matriz hessiana de f no ponto crítico
a, e todos os outros valores próprios não nulos serem do mesmo sinal, a
matriz hessiana não permite determinar a natureza do ponto crítico. É o
chamado caso duvidoso. Para estudar este caso ter-se-á, por exemplo,
que considerar termos de maior ordem da fórmula de Taylor de f em a ou
analisar, se possível, a expressão que dene f.

Exemplo 54 No exemplo 53 vericámos que os pontos (0, 0), (1, −1) e (−1, 1)
são pontos críticos da função denida por f (x, y) = (x − y)2 −x4 −y 4 . Vamos
usar a matriz hessiana para tentar classicar a sua natureza. Ora
 
−12x2 + 2 −2
Hf (x, y) =
−2 −12y 2 + 2

No ponto (1, −1)  


−10 −2
Hf (1, −1) =
−2 −10

Lições de Análise Matemática 2


72 Derivadas de Ordem Superior

Os valores próprios de Hf (1, −1) são os zeros da equação característica,


(−10 − λ)2 − 4 = 0, isto é, (−10 − λ) − 2 = 0 ∨ (−10 − λ) + 2 = 0 ⇔ λ =
−12 ∨ λ = −8. Como os valores próprios de Hf (1, −1) são ambos negativos,
(1, −1) é um ponto de máximo local de f . O máximo local é f (1, −1) = 2.
No ponto (−1, 1)
 
−10 −2
Hf (−1, 1) =
−2 −10

Os valores próprios de Hf (−1, 1) são λ = −12 ∨ λ = −8. Como os valores


próprios de Hf (−1, 1) são ambos negativos, (−1, 1) é um ponto de máximo
local de f . O máximo local é f (−1, 1) = 2.
Na origem,  
+2 −2
Hf (0, 0) =
−2 +2
Os valores próprios de Hf (0, 0) são os zeros da equação característica, (2 −
λ)2 −4 = 0, isto é, (2−λ)−2 = 0 ∨ (2−λ)+2 = 0 ⇔ λ = 0 ∨ λ = 4. Como
λ = 0 é um valor próprio de Hf (0, 0) nada se pode concluir. No entanto,
observemos que
f (x, x) = −2x4 < 0, ∀x 6= 0
e que
f (x, 0) = x2 − x4 > 0, ∀x ∈ ]−1, 1[ \ {0}
Assim, qualquer que seja a bola de centro na origem e raio δ > 0, B((0, 0), δ),
existe γ = min( 12 , 2δ ) tal que

(γ, γ) ∈ B((0, 0), δ) ∧ f (γ, γ) < 0

e
(γ, γ) ∈ B((0, 0), δ) ∧ f (γ, γ) > 0
Logo (0, 0) não é ponto de mínimo e não é ponto de máximo de f . (0, 0) é
um ponto de sela de f . A gura 3.5 ilustra a situação.

Exemplo 55 A origem é um mínimo local da função denida por


f (x, y) = x2 − 2xy + 2y 2

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 73

Figura 3.5: Gráco de f : f (x, y) = (x − y)2 − x4 − y 4

De facto, ∇f (x, y) = (2x − 2y, −2x + 4y). Logo


(2x − 2y, −2x + 4y) = (0, 0) ⇔ x = 0 ∧ y = 0

Segue -se que a origem é o único ponto crítico de f . A matriz hessiana de f


na origem é  
+2 −2
Hf (0, 0) =
−2 +4
√ √
cujos valores próprios são λ = 3 + 5 > 0 ∨ λ = 3 − 5 > 0. Logo H é
denida positiva e a origem é um ponto de mínimo local de f . O mínimo
local de f é f (0, 0) = 0. Observando que
f (x, y) = x2 − 2xy + 2y 2 = (x − y)2 + y 2

facilmente se conclui que o mínimo local é também um mínimo absoluto pois


(x − y)2 + y 2 ≥ 0 e

(x − y)2 + y 2 = 0 ⇔ x − y = 0 ∧ y = 0 ⇔ x = 0 ∧ y = 0

Exemplo 56 Consideremos a função denida por


2 −y 2
f (x, y) = e1+x

Lições de Análise Matemática 2


74 Derivadas de Ordem Superior

tem na origem um ponto de sela. Ora, ∇f (x, y) = (2xe1+x


2 −y 2 2 −y 2
, −2ye1+x ).
Logo
∇f (x, y) = (0, 0) ⇔ x = 0 ∧ y = 0
e a origem é o único ponto crítico de f . Por outro lado,
f (0, 0) = e,
2
f (x, 0) = e1+x > e, ∀x 6= 0
2
f (0, y) = e1−y < e, ∀y 6= 0
Logo qualquer vizinhança da origem contém ponto com imagem superior à
imagem de f e pontos com imagem inferior à imagem de f , logo a origem é
um ponto de sela. Poderíamos também usar a matriz hessiana para chegar a
esta conclusão. A matriz hessiana de f na origem é a matriz diagonal
 
2e 0
H(0, 0) =
0 −2e
Os valores próprios são os elementos da diagonal. Como se constata, um
valor próprio é positivo e outro é negativo, logo a origem é um ponto de sela.
Podemos sintetizar o processo para determinação de extremos de uma
função f : A ⊆ Rn → R de classe C 3 denida num aberto A de Rn do modo
seguinte: Seja a ∈ A um ponto crítico de f. A matriz hessiana de f em
a que lhe está associada é uma matriz real e simétrica. Os seus valores
próprios são reais. Assim,

valores próprios são todos positivos então a ∈ A é um ponto


1. Se os
de mínimo local de f .
valores próprios são todos negativos então a ∈ A é um ponto
2. Se os
de máximo local de f .
3. Se existe um valor próprio positivo e se existe um outro negativo
então a∈A é um ponto de sela de f .
4. Se os valores próprios são todos maiores ou iguais a zero mas
existe pelo menos um que é zero ou os valores próprios são todos
menores ou iguais a zero mas existe pelo menos um que é
zero, então a matriz hessiana não permite concluir sobre a natureza
de a ∈ A. Este ponto crítico diz-se degenerado.

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 75

Para o estudo de funções f : A ⊆ R2 → R podemos demonstrar um


critério que evita o cálculo dos valores próprios da matriz hessiana. As-
2
sumindo que a função é, pelo menos, de classe C , a matriz H é simétrica.
determinante da matriz hessiana, tam-
Este critério envolve o cálculo do
bém designado por hessiano e do traço da matriz hessiana. Usualmente
designa-se por critério de Silvester e é válido apenas para funções de duas
variáveis.

Denição 41 Seja  
a b
H=
b c

Então o determinante da matriz hessiana é


det(H) = ac − b2

e o traço da matriz hessiana.é,


tr(H) = a + c

Proposição 9 Seja f : A ⊆ R2 → R uma função de classe C 3 no aberto A


e a ∈ A um ponto crítico de f . Seja H a matriz hessiana de f em a.
Se det(H) > 0 ∧ tr(H) > 0 então a é um ponto de mínimo local.
Se det(H) > 0 ∧ tr(H) < 0 então a é um ponto de máximo local.
Se det(H) < 0 então a é um ponto de sela.
Se det(H) = 0 então nada se pode concluir.

Demonstração: Uma vez que H é uma matriz real e simétrica os valores


próprios são reais. Sejam λ1 e λ2 os valores próprios de H. Como sabemos,
det(H) = λ1 λ2 .
Se det(H) > 0 segue-se que os valores próprios ou são ambos positivos
ou ambos negativos pelo que H é ou denida positiva ou denida negativa.
Consequentemente, a é um extremante local de f. Em ambos o casos a
equação característica é

λ2 − tr(H)λ + det(H) = 0

e portanto
λ1 λ2 = det(H) = ac − b2

Lições de Análise Matemática 2


76 Derivadas de Ordem Superior

e
λ1 + λ2 = tr(H) = a + c
o que mostra que o sinal de tr(H) dene o sinal dos valores próprios, isto é,
se tr(H) > 0 os valores próprios são ambos positivos logo a é um ponto de
mínimo local; Se tr(H) < 0 os valores próprios são ambos negativos logo a é
um ponto de máximo local.
Consideremos agora o caso em que det(H) < 0. Então os valores próprios
são de sinais contrários. Logo a não é um extremante de f, a é um ponto de
sela.
Se det(H) = 0 então pelo menos um dos valores próprios é nulo, e como
só temos 2 valores próprios estamos no caso duvidoso logo nada se pode
concluir. cqd

Exemplo 57 Seja f : R2 → R : f (x, y) = (x2 + y2 )2 − 2 (x2 − y2 ). Ora


f é uma função derivável, logo (x, y) é um ponto crítico de f se e só se
∇f (a) = 0, i.e.,
 
4x (x2 + y 2 − 1) = 0 x = 0 ∨ x2 + y 2 − 1 = 0
2 2 ⇔
4y (x + y + 1) = 0 y=0
  2
x=0 x −1=0
⇔ ∨
y=0 y=0
  
x=0 x=1 x = −1
⇔ ∨ ∨
y=0 y=0 y=0
A matriz hessiana de f é a matriz,
 
12x2 + 4y 2 − 4 8xy
H(x, y) =
8xy 12x2 + 4y 2 + 4
Logo na origem,  
−4 0
H(0, 0) =
0 +4
e det(H(0, 0)) = −16 < 0. Portanto pelo critério de Silvester, (0, 0) é um
ponto de sela.
No ponto (1, 0) e no ponto (−1, 0)
 
8 0
H(1, 0) = H(−1, 0) = H =
0 8
logo det(H) = 64 > 0 e tr(H) = 16 > 0. Portanto pelo critério de Silvester,
quer (1, 0) quer (−1, 0) são pontos de mínimo local de f.

Lições de Análise Matemática 2


3.3 Extremos de Funções Escalares 77

Na procura dos extremantes de uma função escalar admitimos, em todos


as denições e resultados, que a função estava denida e era derivável num
aberto. Para procurarmos os extremos de uma função contínua, denida
n
num conjunto não necessariamente aberto, f : D ⊆ R → R onde a derivada
possa ou não existir, devemos proceder do modo seguinte:

1. Localizar os pontos críticos de f no interior de D.

2. Localizar os pontos interiores de D onde não f não seja derivável.

3. Localizar os pontos não interiores, isto é, os pontos da fronteira de D.

Exemplo 58 Consideremos a função contínua f : R2 → R :f (x, y) = |x + y|,


cujo gráco é apresentado na gura 3.6. Ora,

x + y, y ≥ −x
f (x, y) = |x + y| =
−x − y, y < −x

pelo que facilmente se verica que f é derivável em R2 \{(x, y) ∈ R2 : y = −x}


Nos pontos da forma (a, −a) não existem as derivadas parciais. De facto não
existe
∂f f (a + h, −a) − f (a) |h| − 0
(a, −a) = lim = lim
∂x h→0 h h→0 h
e de modo análogo, não existe
∂f f (a, −a + h) − f (a) |h| − 0
(a, −a) = lim = lim
∂y h→0 h h→0 h

Os pontos de R2 onde não existe derivada são os pontos da forma (a, −a), a ∈
R. Nestes pontos f (a, −a) = 0. Pelas propriedades do valor absoluto,

f (x, y) ≥ 0 ∧ f (x, y) = 0 ⇔ y = −x

Logo os pontos da forma (a, −a) são pontos de mínimo absoluto de f .

Exemplo 59 Admitindo que a distribuição de temperatura T numa chapa


circular,
x2 + y 2 ≤ 1
é dada por T (x, y) = xy . Pretende-se determinar as temperaturas máxima e
mínima da chapa assim como os pontos da chapa em que ocorrem.

Lições de Análise Matemática 2


78 Derivadas de Ordem Superior

Figura 3.6: Gráco de f : f (x, y) = |x + y|

Consideremos então a função derivável,

T : D = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1 → R


tal que T (x, y) = xy . Localizemos os pontos críticos no interior de D. Ora


T é uma função derivável, logo (x, y) é um ponto crítico de T se e só se
∇T (x, y) = 0 
y=0
x=0
Logo no interior de D temos o ponto crítico
 (0, 0). Facilmente se verica que
0 1
a matriz hessiana de T na origem é H = . Como det(H) = −1 < 0
1 0
segue-se que a origem não é um extremante local. Logo, também não é um
extremante absoluto. Consideremos agora os pontos de D não interiores,
isto é, os pontos da fronteira de D, f r(D) = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} .
Atendendo a que
n √ o
f r(D) = (x, y) ∈ R2 : −1 ≤ x ≤ 1 ∧ y = 1 − x2
n √ o
∪ (x, y) ∈ R2 : −1 < x < 1 ∧ y = − 1 − x2

Lições de Análise Matemática 2


3.4 Multiplicadores de Lagrange 79

Consideremos as funções g1 : D = [−1, 1] → R tal que


√ √
g1 (x) = T (x, 1 − x2 ) = x 1 − x2

e g2 : D = ]−1, 1[ → R tal que


√ √
g2 (x) = T (x, − 1 − x2 ) = −x 1 − x2

O comportamento de T em f r(D) poderá ser estudado através do estudo do


comportamento das funções reais de variáveis reais g1 e g2 . Para determinar
os extremantes de g1 vamos analisar os seus pontos críticos bem como os
pontos x = 1 e x√= −1.
Ora g10 (x) = 1 − x2 − √1−x
x2
. Pelo que
−1+2x 2
2 = −

1−x2
√ √
2 2
g10 (x) =0⇔x= ∨x=−
2 2
√ √
Como g1 (1) = g1 (−1) = 0, g( 22 ) = 12 e g(− 22 ) = − 21 segue-se que o√mínimo
absoluto de g1 é − 12 e o máximo absoluto de g1 é √21 . O ponto x = − 22 é um
ponto de mínimo absoluto de g1 e o ponto x = 22 é um ponto de máximo
absoluto de g1 . Para determinar os extremantes de g2 vamos analisar os
seus pontos críticos. Ora
√ x2 −1 + 2x2
g20 (x) = − 1 − x2 + √ = √
1 − x2 1 − x2

e facilmente se verica que√o mínimo absoluto de g2 é − 12 e o máximo absoluto


de g2√é 21 . O ponto x = − 22 é um ponto de mínimo absoluto de g2 e o ponto
x = 22 é um ponto de máximo absoluto de g2 . Então o mínimo absoluto de
f é − 12 e o máximoabsoluto
 √ de√ f é 2 . São pontos de mínimo absoluto de f
1
√ √
os pontos − 22 , 22 e 22 , − 22 . São pontos de máximo absoluto de f os
√ √   √ √ 
pontos 2
2
, 22 e − 2
2
, − 22 . A gura 3.7 ilustra a situação.

3.4 Multiplicadores de Lagrange

Em muitos casos pretendemos determinar os máximos e os mínimos de uma


n
função f : A ⊆ R → R quando as variáveis independentes estão sujeitas

Lições de Análise Matemática 2


80 Derivadas de Ordem Superior

Figura 3.7: Estudo de f : f (x, y) = xy em x2 + y 2 ≤ 1

a uma restrição do tipo g(x1 , x2 , ..., xn ) = c, isto é quando (x1 , x2 , ..., xn )


pertence ao conjunto de nível de valor c da função g : A ⊆ R2 → R. Foi o
que sucedeu no exemplo 59 quando procurámos os extremos de f denida por
f (x, y) = xy sob a condição x2 + y 2 = 1. O método que usámos foi resolver
2 2
a equação x + y = 1 em ordem a y e substituir o resultado na expressão
de f de modo a obter uma função de apenas uma variável real. Este método
não é aplicável se não for possível resolver a equação g(x1 , x2 , ..., xn ) = c em
ordem a uma das variáveis. Vejamos um processo alternativo que possibilita
a resolução de problemas de extremos sujeitos a restrições ou extremos
condicionados.
Teorema 22 Sejam f, g : A ⊆ Rn → R funções de classe C 1 denidas
no aberto A de Rn tal que g(a) = c e S o conjunto de nível de valor c da
função g . Suponhamos que ∇g(a) 6= 0. Se a restrição de f a S , f |S , tem
em a um extremo local então existe um número real λ, que se designa por
multiplicador de Lagrange, tal que
∇f (a) = λ∇g(a)

Não desenvolvemos técnicas sucientes para a demonstração do teorema


22. No entanto podemos deter a nossa atenção no que será uma ideia para

Lições de Análise Matemática 2


3.4 Multiplicadores de Lagrange 81

a demonstração. Seja α uma função qualquer denida num intervalo I de R


e cujo contradomínio está em S e tal que α(t1 ) = a. Considerando agora a
função composta ϕ = f ◦α temos que ϕ tem um extremo em t1 pois f tem
um extremo em a. Logo
ϕ0 (t1 ) = 0
Por outro lado, pela derivada da função composta

ϕ0 (t1 ) = ∇f (α(t1 )) · α0 (t1 )

e portanto

0 = ∇f (a) · α0 (t1 )
o que signica ∇f (a) é ortogonal ao vector velocidade α0 (t1 ), qualquer que
seja α, α(t) ∈ S. Recordemos agora, que por S ser o conjunto de nível da
0
função g , ∇g(a) é ortogonal a S , logo ortogonal a α (t1 ). Segue-se que ∇g (a)
e ∇f (a) paralelos, o que se expressa dizendo que existe um número real λ,
tal que

∇f (a) = λ∇g(a)
uma vez que supomos ∇g(a) 6= 0. De acordo com o teorema 22. os candidatos
a extremantes de f sujeita à restrição g(x1 , x2 , ..., xn ) = c são os pontos a
tais que

∇f (a) = λ∇g(a)
(3.29)
g(a1 , a2 , ..., an ) = c
Este processo designa-se por método dos multiplicadores de Lagrange.

Exemplo 60 Procurar os extremantes de f (x, y) = xy, sujeita à restrição


x2 + y 2 = 1. Usando agora o método dos multiplicadores de Lagrange, os
extremos condicionados de f encontram-se entre os pontos que satisfazem
3.29. Neste caso,

 y = 2λx
(y, x) = λ (2x, 2y)

⇔ x = 2λy
x2 + y 2 = 1
x2 + y 2 = 1

 
 λ = 21  λ = − 21
⇔ x=y ∨ x = −y
x2 = 12
 2 1
x =2

Lições de Análise Matemática 2


82 Derivadas de Ordem Superior

São então candidatos a extremantes os pontos


√ √ ! √ √ ! √ √ ! √ √ !
2 2 2 2 2 2 2 2
, , − ,− , ,− e − ,
2 2 2 2 2 2 2 2

Como f é contínua e S = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1} é um fechado limitado


de R2 , pelo teorema 17, f tem em S um máximo e um mínimo absolutos.
Como √ √ ! √ √ !
2 2 2 2 1
f , =f − ,− =
2 2 2 2 2
e √ √ ! √ √ !
2 2 2 2 1
f ,− =f − , =−
2 2 2 2 2
O valor máximo de f na restrição é 12 e o valor
 √mínimo de
 f √na restrição é
√  √ 
− 2 . São pontos de máximo absoluto os pontos 2 , 2 e − 2 , − 2 . São
1 2 2 2 2
√ √   √ √ 
pontos de mínimo absoluto os pontos 22 , − 22 e − 22 , 22 . A gura 3.8
mostra a geometria do problema. Podemos visualizar diferentes conjuntos de
nível de f assim como a restrição, conjunto de nível de valor 1 de g . Os
extremos ocorrem nos pontos em que as curvas de nível de f são tangente
à curva de nível de valor 1 de g , representada a ponteado na gura 3.8.
Consideremos agora o caso geral de procurar os extremos de f sujeita não
a uma mas a várias restrições gi (x1 , x2 , ..., xn ) = ci , tal como no exemplo
seguinte.
Exemplo 61 Seja f : R3 → R denida por f (x, y, z) = xyz . Procuremos os
extremos de f na restrição
S = (x, y, z) ∈ R3 : x − y = 0 ∧ z = y − 2


Sejam
g1 : R3 → R : g1 (x, y, z) = x − y
e
g2 : R3 → R : g2 (x, y, z) = z − y + 2
Pretendemos determinar os extremos de f na intersecção de dois planos, os
conjuntos de nível de valor 0 de g1 (x, y, z) e de g2 (x, y, z). Ora
∇g1 (x, y, z) = (1, −1, 0)

Lições de Análise Matemática 2


3.4 Multiplicadores de Lagrange 83

Figura 3.8: Encontrar os extremos de xy em x2 + y 2 = 1

∇g2 (x, y, z) = (0, −1, 0)

são vectores linearmente independentes. O que o teorema dos multiplicadores


de Lagrange arma para o caso geral é que se f tem um extremante em a
então ∇f (a), ∇g1 (a) e ∇g2 (a) pertencem ao mesmo plano, isto é existem
constantes λ1 , λ2 tais que

∇f (a) = λ1 ∇g1 (a) + λ2 ∇g2 (a)

Os candidatos a extremantes são pois os pontos


 ∇f (a) = λ1 ∇g1 (a) + λ2 ∇g2 (a)
x−y =0
z−y+2=0

Lições de Análise Matemática 2


84 Derivadas de Ordem Superior

o que conduz a
 

 yz = λ1 
 yz + xy = λ1 + λ2
xz = −λ1 − λ2  xz = −λ1 − λ2

 


xy = λ2 ⇔ xy = λ2
x=y x=y

 


 

z =y−2 z =y−2
 


 yz + xy + xz = 0
 xz = −λ1 − λ2


⇔ xy = λ2
x=y




z =y−2



 y(2z + y) = 0
xz = −λ1 − λ2



⇔ xy = λ2
x=y




z =y−2

 

 y = 0 
 y = 34
 0 = λ1  − 89 = λ1

 

16
⇔ 0 = λ2 ∨ 9
= λ2
x=0 x = 43

 


 

z = −2 z = − 23
 

Os candidatos a extremantes são (0, 0, −2) e 43 , 43 , − 32 . Observe-se que S




não é um compacto de R3 , pois não é um conjunto limitado de R3 . Para


estudar a natureza destes pontos, observe-se que resolvendo a primeira re-
strição em ordem a x temos x = y . Resolvendo a segunda restrição em
ordem a z temos z = y − 2. Consideremos então a função real de variável
real h : R → R denida por
h(y) = f (y, y, y − 2) = y 2 (y − 2)
Então
h0 (y) = 2y (y − 2) + y 2
e
h00 (y) = 6y − 4
Logo os pontos críticos de h são os pontos tais que h0 (y) = 0 ⇔ y = 0∨y = 34 .
Como h00 (0) = −4 < 0, y = 0 é um ponto de máximo local de h. Como

Lições de Análise Matemática 2


3.5 Função Inversa 85

h00 ( 34 ) = 4 > 0, y = 34 é um ponto de mínimo local de h. Como f |S =g ,


segue-se que (0, 0, −2) é um é um ponto de máximo local de f e 34 , 34 , − 23 é
um ponto de mínimolocal de f. O máximo local é (0, 0, −2) = 0 e o mínimo
local de é f 34 , 43 , − 23 = − 27
32
.

3.5 Função Inversa

Seja f uma função real de variável real com domínio I ⊆ R e contradomínio


J ⊆ R, injectiva. Então a função inversa de f é a função f −1 , a única
função de domínio J ⊆ R e contradomínio I ⊆ R, que satisfaz

f −1 ◦ f (x) = x,

∀x ∈ I
−1

f ◦f (y) = y, ∀y ∈ J

Por exemplo a função f : R → R :f (x) = x2 não tem inversa denida para


+
todo o real. Se zermos a restrição de f , por exemplo, ao conjunto R0 , então
−1

podemos falar de inversa e f (x) = x. Nesta secção procuramos condições
n n
que garantam a existência de inversa local para funções F : R → R . Não
faremos a demonstração do teorema da função inversa mas apenas teceremos
algumas considerações.

Teorema 23 Seja F : A ⊆ Rn → Rn uma função de classe C k , k ≥ 1,


denida no aberto A ⊆ Rn . Seja a ∈ A e suponha-se que o determinante da
matriz jacobiana de F em a é não nulo, isto é,
det (JF (a)) 6= 0 (3.30)

Então existe uma vizinhança de a, Va ⊆ A, e existe uma vizinhança de


F (A), WF (a) ⊆ Rn , tal que F aplica bijectivamente Va em WF (a) . Além disso
a função inversa de F : Va → WF (a) , que designamos por F −1 : WF (a) → Va
é de classe C k em WF (a) .
A condição 3.30 garante que F é invertível localmente. Trata-se de
um resultado local e não global. Podemos deduzir o comportamento numa
vizinhança de um determinado ponto mas não o que se passa noutros pontos.

Exemplo 62 Consideremos a função F : R2 → R2 tal que


F (x, y) = (ex sin y, ey cos x)

Lições de Análise Matemática 2


86 Derivadas de Ordem Superior

e provemos que F é localmente invertível em a = π2 , 0 . De facto F é de




classe C ∞ e  x 
x
e sin y e cos y
JF (a) =
−ey sin x ey cos x
e portanto,
π   π 
0 e2
JF ,0 =
2 −1 0

logo, det JF π2 , 0 = e 2 6= 0. Aplicando o teorema concluí-se que F é


 π

localmente invertível em a = π2 , 0 .

Suponha-se que são satisfeitas as hipóteses do teorema da função inversa.


Então

F −1 ◦ F (x) = x, ∀x ∈ Va


Então usando o teorema da derivada da função composta

D F −1 ◦ F (a) = D(F −1 (F (a)))DF (a))




Logo

D(F −1 (F (a)))DF (a)) = I ⇔ D(F −1 (F (a))) = [DF (a))]−1

Segue-se pois que a matriz Jacobiana de F −1 em F (a) é a inversa da matriz


Jacobiana de F em a.
No exemplo anterior, podemos garantir a existência de inversa local numa
π
, 0 . Além disso a como F π2 , 0 = (0, 0) a matriz
 
vizinhança de a =
2
−1 π
Jacobiana de F em (0, 0) é a inversa da matriz Jacobiana de F em ,0
2

 π −1
0 e2
JF −1 (0, 0) =
−1 0
 T
1 0 1
= π π
e 2 −e 2 0
 
0 −1
= π
e− 2 0

Lições de Análise Matemática 2


3.6 Função Implícita 87

3.6 Função Implícita

Consideremos a seguinte equação linear

x + 2y = 5

Podemos resolver esta equação em ordem a y,


5−x
y=
2
5−x
o que signica que a função denida por g(x) =
2
é solução da equação
x + 2y = 5 para todo o x. Qualquer ponto da forma x, 5−x

é solução da
2
2
equação. Signica também que o gráco de g é o subconjunto de R denido
por aquela equação linear,

Graf (g) = (x, y) ∈ R2 : x + 2y = 5




Consideremos agora a equação não linear

x2 + y 2 = 1

Averiguemos se é possível determinar uma função y = f (x) que seja solução


da equação dada para todo
√  x ∈ [−1,
√ 1] . De
 facto qualquer ponto da forma
x, 1 − x2 ou da forma x, − 1 − x2 são solução da equação dada.
Isto signica que conhecendo a coordenada x de um ponto que verica a
equação não nos é possível determinar a outra coordenada. Com este ex-
emplo concluímos que nem sempre é possível resolver, globalmente, equações
deste 
tipo. Vamos
√ √ 
agora procurar uma solução local. Consideremos o ponto
2 2
P = 2 , 2 que satisfaz a equação, x2 + y 2 = 1. Tal como a gura 3.9

ilustra, existe uma bola centrada em P , com raio sucientemente pequeno


para que não contenha o ponto (1, 0), por exemplo, a bola de centro P e raio
2 2
0, 2 tal que o conjunto das soluções (x, y) da equação x + y = 1 que estão
nessa bola constituem o gráco de uma certa função, a função

f: I → √ R
x 7→ 1 − x2

em que I é o intervalo indicado na gura. Consideremos agora a solução


2 2
(1, 0) da equação, x + y = 1. Agora por muito pequeno que seja o raio da

Lições de Análise Matemática 2


88 Derivadas de Ordem Superior

√ √
2
Figura 3.9: Gráco de f : f (x) = 1 − x2 numa vizinhança de x= 2

Figura 3.10: Numa vizinhança de (1, 0), x2 + y 2 = 1 não pode ser gráco de
uma função

Lições de Análise Matemática 2


3.6 Função Implícita 89

bola centrada em (1, 0) x2 + y 2 = 1 que estão


o conjunto das soluções de
nessa bola não pode ser gráco de uma função f : I ⊆ R → R, tal como
a gura 3.6 indica. O mesmo se passa no ponto (0, −1). Observemos que
designando por g a função

g: R2 → R
(x, y) 7→ x2 + y 2 − 1

a equação x2 + y 2 = 1 dene o conjunto de nível de valor 0 de g. Calculando


a derivada parcial de g em ordem a y,

∂g
(x, y) = 2y
∂y
2 2
podemos observar que (1, 0) e(−1,0) são os únicos pontos de x + y = 1
√ √ 
∂g ∂g 2
em que
∂y
se anula. O facto de
∂y 2
, 22 6= 0 garante a possibilidade de

2 2 2
localmente, numa vizinhança de
2 √ √ x=
, ser possível resolver x + y = 1 em
2
ordem a y . Dizemos que numa vizinhança de
2
, 22 a equação x2 + y 2 = 1
dene y como função de x. Observemos que sendo assim, derivando ambos
os membros
√ da equação x2 +y 2 = 1, é possível obter a derivada de y no ponto
2
x= 2 ,
2x
2x + 2yy 0 = 0 ⇔ y 0 = −
2y
√ √
2 2
e substituindo para x= 2
e y= 2
,
√ !
0 2
y = −1
2

É o que nos garante o seguinte teorema que se designa por teorema da


função implícita (básico).

Teorema 24 Seja g : Rn+1 → R uma função de classe C 1 e (x, y) ∈ Rn+1


tal que x ∈ Rn e y ∈ R. Admitamos que (x0 , y0 ) satisfaz as condições
∂g
g (x0 , y0 ) = 0 e (x0 , y0 ) 6= 0
∂y

Lições de Análise Matemática 2


90 Derivadas de Ordem Superior

Então existe uma vizinhança U de x0 ∈ Rn e uma vizinhança V de y0 ∈ R


tal que existe uma única função h : U → V tal que
g (x, h(x)) = 0
Além disso se x ∈ U , y ∈ V e g(x, y) = 0 então h é também uma função de
classe C 1 e ∂g
∂h (x0 , y0 )
(x0 ) = − ∂x
∂g
i

∂xi ∂y
(x0 , y0 )

Exemplo 63 Seja g : R3 → R a função dada por


g(x, y, z) = x + y + z + sin(xyz)
Mostremos que numa vizinhança de (0, 0, 0) a equação g(x, y, z) = 0 dene z
como função de x e y , isto é z = z(x, y). Vejamos que estamos nas condições
do teorema da função implícita. De facto g é uma função de classe C 1 pois
é soma de funções de classe C 1 , as funções projecção e a função composta,
seno após h, em que h é o produto das funções projecção. O ponto (0, 0, 0)
verica a equação g(x, y, z) = 0 pois g(x, y, z) = 0 + 0 + 0 + sin 0 = 0.
Calculemos agora
∂g
(x, y, z) = 1 + xy cos(xyz)
∂z
Ora
∂g
(0, 0, 0) = 1 + 0 = 1 6= 0
∂z
Logo o teorema da função implícita garante que existe uma vizinhança U de
(0, 0) e uma vizinhança V de 0 tal que existe uma única função z : U → V
tal que
g (x, y, z(x, y)) = 0
Além disso uma vez que
∂g ∂g
(x, y, z) = (x, y, z) = 1 + xy cos(xyz)
∂x ∂y
a função z : U → V é de classe C 1 e
∂z 1
(0, 0) = − = −1
∂x 1
e
∂z 1
(0, 0) = − = −1
∂y 1

Lições de Análise Matemática 2


3.6 Função Implícita 91

O problema que estamos a tratar pode ser generalizado para sistemas.

Teorema 25 Sejam g1 , g2 , ..., gr : Rn+r → R funções de classe C 1 e (x, y) ∈


Rn+r tal que x ∈ Rn e y ∈ Rr . Admitamos que (x0 , y0 ) satisfaz as condições

gi (x0 , y0 ) = 0, i = 1, · · · , r

e
∂g1 ∂g1
 
∂y1 (x0 ,y0 )
··· ∂yr (x0 ,y0 )
.. ..
. .
det   6= 0
 
···
∂gr ∂gr
∂y1 (x0 ,y0 )
··· ∂yr (x0 ,y0 )

Então existe uma vizinhança U de x0 ∈ Rn e uma vizinhança V de y0 ∈ Rr


tal que existe uma única função h : U → V de r componentes tal que

gi (x, h(x)) = 0, i = 1, · · · , r

dene de modo único funções de classe C 1

hi = hi (x1 , ..., xn ) , i = 1, · · · , r

Além disso as derivadas destas funções podem ser calculadas por derivação
implícita.

Exemplo 64 Mostrar que numa vizinhança de (x, y, u, v) = (1, 1, 1, 1) é pos-


sível resolver o sistema 
xu + yvu2 = 2
xu3 + y 2 v 4 = 2
em ordem a u e v . Sejam g1 , g2 : R4 → R as funções de classe C 1 denidas
por
g1 (x, y, u, v) = xu + yvu2 − 2
e
g2 (x, y, u, v) = xu3 + y 2 v 4 − 2
Ora g1 (1, 1, 1, 1) = 1 + 1 − 2 = 0 e g2 (1, 1, 1, 1) = 1 + 1 − 2 = 0. Calculemos
agora
∂g1 ∂g1
 
det ∂u (1,1) ∂v (1,1)
∂g2 ∂g2
∂u (1,1) ∂v (1,1)

Lições de Análise Matemática 2


92 Derivadas de Ordem Superior

que para simplicação de notação designamos por


∂g1 ∂g1
 
∂ (g1 , g2 ) ∂u ∂v
= det ∂g2 ∂g2
∂ (u, v) ∂u ∂v
Ora  
∂ (g1 , g2 ) x + 2yvu yu2
= det
∂ (u, v) 3xu2 4y 2 v 3
Pelo que  
∂ (g1 , g2 ) 3 1
(1, 1, 1, 1) = det = 9 6= 0
∂ (u, v) 3 4
Logo o sistema dado pode ser resolvido em ordem a u e v numa vizinhança
de (1, 1, 1, 1). Escreva-se para simplicação de notação u = u(x, y) e v =
v(x, y). O teorema da função implícita garante ainda que u e v são funções
de classe C 1 . Derivando, em ordem a x, ambos os membros de cada uma das
equações do sistema dado,
u + x ∂u + 2yvu ∂u ∂v

∂x ∂x
+ yu2 ∂x =0
3 2 ∂u 2 3 ∂v
u + 3xu ∂x + 4y v ∂x = 0
e substituindo no ponto (1, 1, 1, 1),

1 + (1 + 2) ∂u (1,1) + 1 ∂v (1,1) = 0

∂x ∂x
1 + 3 ∂u
∂x
(1,1) + 4 ∂v (1,1) = 0
∂x
ou seja
3 ∂u (1,1) + ∂v (1,1) − 1 = 0

∂x ∂x
3 ∂u
∂x (1,1)
∂v
+ 4 ∂x (1,1) − 1 = 0
Usando a regra de Cramer para sistemas,


1 1

∂u 1 4 3 1
(1,1) = = =
∂x 3 1
9 3
3 4
e

3 1

∂v 3 1 0
(1,1) = = =0
∂x 3 1
9
3 4
Fica ao cuidado do aluno calcular as derivadas parciais de u e v em ordem
a y.

Lições de Análise Matemática 2


Capítulo 4
Cálculo Integral em Rn

4.1 Integração

Em 1910, Gomes Teixeira denia assim Cálculo Integral:


Chama-se Cálculo Integral o ramo da Analyse que tem por m procurar as
funções quando são dadas as suas derivadas. As funções procuradas chamam-
se integraes e o processo que se emprega para as achar chama-se integração.
Os conceitos de integral e de integral denido foram estudados na disci-
plina de Análise Matemática 1. Vamos agora estudar a integração de funções
reais de duas variáveis e a integração de funções reais de três variáveis.

4.2 Integrais Duplos

Designamos por integrais duplos os integrais de funções reais de duas var-


iáveis. Primeiramente vamos denir o conceito de um integral de uma função
2
real de duas variáveis denida num rectângulo de R .

4.2.1 Integrais Duplos em Rectângulos

Seja f : R ⊆ R2 → R em que R é um rectângulo de R2 de lados paralelos


aos eixos coordenados,

R = [a, b] × [c, d]
Suponhamos que f (x, y) ≥ 0, ∀(x, y) ∈ R. O volume da região V , denida
pelo gráco de f , e os planos z = 0, x = a, x = b, y = c, y = d designa-se

Lições de Análise Matemática 2


94 Cálculo Integral em Rn

por integral duplo de f em R e escreve-se


ZZ
V ol(V ) = f (x, y)dA
R

Denição 42 Consideremos uma partição de R = [a, b]×[c, d] considerando


n2 rectângulos,
Rij = [xi , xi+1 ] × [yj , yj+1 ] , i, j = 1, ..., n
Seja x∗i , yj um ponto qualquer

de Rij e consideremos o paralelepípedo de


base Rij e altura f xi , yj tal como a gura 4.1 mostra. Podemos então
∗ ∗


armar que o volume dos n2 paralelepípedos aproxima o volume da região V ,


denida pelo gráco de f , e os planos z = 0, x = a, x = b, y = c, y = d.
Ora, o volume dos n2 paralelepípedos é,
n X
X n
f x∗i , yj∗ 4xi 4yj

Vn =
i=1 j=1

em que 4xi = xi+1 − xi e 4yj = yj+1 − yj . Denimos o integral duplo de f


em R como sendo o volume da região V , i.e.,
n X
X n
f x∗i , yj∗ 4xi 4yj

V ol(V ) = lim Vn = lim
n→∞ n→∞
i=1 j=1

As somas Vn dizem-se Somas de Riemann.

Denição 43 Uma função f : R ⊆ R2 → R diz-se integrável em R se e


só se o limite da sucessão das Somas de Riemann existe e não depende da
escolha dos pontos x∗i , yj∗ . Se f for integrável então o integral duplo de f
em R é
ZZ n X
X n
f x∗i , yj∗ 4xi 4yj

f (x, y)dxdy = lim Vn = lim
R n→∞ n→∞
i=1 j=1

As guras 4.2 e 4.3 mostram como as somas de Riemmann aproximam o


valor do integral duplo.
Algumas questões podem ser formuladas agora: Quais as funções inte-
gráveis? Será necessário calcular as somas de Riemannn sempre que pre-
tendemos vericar se uma dada função é integrável? Como avaliar a inde-
∗ ∗

pendência do limite da escolha do ponto xi , yj ? O teorema seguinte, cuja
demonstração omitiremos, fornece algumas pistas.

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 95

Figura 4.1: Cálculo de um volume usando 4 paralelepípedos

Figura 4.2: Volume aproximado da região V com 72 paralelipipedos

Lições de Análise Matemática 2


96 Cálculo Integral em Rn

Figura 4.3: Volume aproximado da região V com 202 paralelipipedos

Teorema 26 Seja f : R ⊆ R2 → R uma função limitada denida num


rectângulo. Assuma-se que f é contínua em todos os pontos de R com ex-
cepção dos pontos pertencentes a um número nito de trajectórias de funções
c : I ⊂ R → R ⊆ R2 denidas num intervalo de R. Então f é integrável em
R.

Teorema 27 Sejam f, g : R ⊆ R2 → R funções integráveis em R. Seja c


uma constante real. Então
ZZ ZZ ZZ
(f + g) (x, y)dA = f (x, y)dA + g(x, y)dA
R R R

ZZ ZZ
(cf ) (x, y)dA = c f (x, y)dA
R R
Z Z ZZ

f (x, y)dA ≤ |f (x, y)| dA

R R
ZZ ZZ
f (x, y) ≤ g(x, y), ∀(x, y) ∈ R f (x, y)dA ≤ g(x, y)dA
R R

O Teorema seguinte mostra como calcular um integral duplo de uma


função contínua num rectângulo. É designado por Teorema de Fubini
para integrais duplos.

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 97

Teorema 28 Seja f : R ⊆ R2 → R uma função contínua denida num


rectângulo R = [a, b] × [c, d] . Então
 
ZZ Zb Zd
f (x, y)dA =  f (x, y)dy  dx
R
a c
 
Zd Zb
=  f (x, y)dx dy
c a

Demonstração: Vejamos primeiramente que

 
Zb Zd ZZ
 f (x, y)dy  dx = f (x, y)dA
R
a c

Para tal, consideremos uma partição de [c, d] em n intervalos de igual ampli-


tude usando os pontos yk+1 = yk + 4y, k = 0, ..., n − 1. Seja g a função real
de variável real denida por

Zd
g(x) = f (x, y)dy, x ∈ [a, b]
c

Então,
y
n−1 Zk+1
X
g(x) = f (x, y)dy, x ∈ [a, b]
k=0 y
k

e usando o teorema da média para funções reais de variável real,

yZk+1

f (x, y)dy = f (x, Yk ) (yk+1 − yk )


yk

para algum ponto Yk ∈ ]yk+1 , yk [ . Portanto

n−1
X
g(x) = f (x, Yk ) (yk+1 − yk ) , x ∈ [a, b]
k=0

Lições de Análise Matemática 2


98 Cálculo Integral em Rn

Logo, pela denição de integral de uma função real de variável real num
intervalo,

Zb n−1
X
g(x)dx = lim g(Xj ) (xj+1 − xj )
n→∞
a j=0

com Xj ∈ ]xj+1 − xj [ e sendo os pontos xj+1 = xj + 4x, j = 0, ..., n − 1


pontos de uma partição uniforme de [a, b] . Fazendo Cjk = (Xj , Yk ), obtemos

n−1
X
g(Xj ) = f (Cjk ) (yk+1 − yk )
k=0

e portanto

 
Zb Zd Zb
 f (x, y)dy  dx = g(x)dx
a c a
n−1
X
= lim g(Xj ) (xj+1 − xj )
n→∞
j=0
n−1 X
X n−1
= lim f (Cjk ) (yk+1 − yk ) (xj+1 − xj )
n→∞
j=0 k=0
ZZ
= f (x, y)dA
R

Para concluir a demonstração ca ao cuidado do aluno mostrar, usando ar-


gumentos análogos, que

 b 
Zd Z ZZ
 f (x, y)dx dy = f (x, y)dA
R
c a

cqd

Exemplo 65 Calcular (x2 + y 2 ) dA em que R = [−1, 1] × [−1, 1] . Este


RR
R
integral representa o volume da região apresentada na gura 4.1. Usando o

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 99

Teorema de Fubini,
 
ZZ Z1 Z1
x2 + y 2 dA = x2 + y 2 dy  dx
 

R
−1 −1
Z1  y=1
2 y3
= x y+ dx
3 y=−1
−1
Z1  
2 1 2 1
= x + +x + dx
3 3
−1
x=1
2x3 2x

= +
3 3 x=−1
2 2 2 2 8
= + + + =
3 3 3 3 3

4.2.2 Integrais Duplos sobre outras regiões de R2


Seja D⊂R um conjunto fechado e limitado de R2 f : D ⊂ R2 → R uma
e
função contínua em D. Consideremos o seguinte prolongamento de f de D
ao rectângulo R:

g : R ⊂ R2 →  R
f (x, y), (x, y) ∈ D
(x, y) 7→
0, (x, y) ∈ R \ D

Então
ZZ ZZ
f (x, y)dA = g(x, y)dA
D R

4.2.3 Integrais Duplos sobre regiões elementares de R2


O nosso objectivo é desenvolver técnicas que possibilitem o cálculo de in-
tegrais duplos em regiões mais gerais do plano. Consideremos as seguintes
regiões que designamos por regiões elementares do plano.

Lições de Análise Matemática 2


100 Cálculo Integral em Rn

Regiões do tipo 1
Denição 44 Designamos por região elementar do plano de tipo 1 um
domínio denido por
D = (x, y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b ∧ φ(x) ≤ y ≤ ψ(x)


sendo ψ e φ funções reais de variável real contínuas e tais que


φ(x) ≤ ψ(x), ∀x : a ≤ x ≤ b

São exemplo de regiões elementares do tipo 1 as apresentadas nas guras


4.4 e 4.5

Figura 4.4: Região elementar do tipo 1: φ(x) = 41 x + 34 e ψ(x) = x−1


(x−1)2 +1
+1

O integral duplo sobre uma região elementar do tipo 1 é


 
ZZ Zb ψ(x)
Z
f (x, y)dA = f (x, y)dy  dx
 

D
a φ(x)

Regiões do tipo 2
Denição 45 Designamos por região elementar do plano de tipo 2 um
domínio denido por
D = (x, y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d ∧ φ(y) ≤ x ≤ ψ(y)


Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 101

Figura 4.5: Região elementar do tipo 1: φ(x) = x − 1 e ψ(x) = ex−1 , 1.5 ≤


x ≤ 2.5

sendo ψ e φ funções reais de variável real contínuas e tais que

φ(y) ≤ ψ(y), ∀y : c ≤ y ≤ d

São exemplo de regiões elementares do tipo 2 as apresentadas nas guras


4.6 e 4.7

1
Figura 4.6: Região elementar do tipo 2: φ(y) = y
e ψ(y) = y, 1 ≤ y ≤ 2

Lições de Análise Matemática 2


102 Cálculo Integral em Rn

1
p
Figura 4.7: Região elementar do tipo 2: φ(y) = y
e ψ(y) = 4 − y2

O integral duplo sobre uma região elementar do tipo 2 é

 
ZZ Zd ψ(y)
Z
f (x, y)dA = f (x, y)dx dy
 

D
c φ(y)

Exemplo 66 Seja f denida por f (x, y) = e2x+y . Considere-se a região


elementar, D, denida por y = 2x, y = x, x = 1 e x = 2. Calcular
f (x, y)dA. Ora, as rectas y = 2x e y = x intersectam-se na origem
RR
D
e

x ≤ 2x, ∀x : 1 < x < 2

Então a região de integração é uma região do tipo 1 e

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 103

 
ZZ Z2 Z2x
f (x, y)dA =  e2x+y dy  dx
D
1 x
Z2
 2x+y y=2x
= e y=x
dx
1
Z2
e4x − e3x dx

=
1
x=2
e4x e3x

= −
4 3 x=1
8 6
e e e4 e3
= − − +
4 3 4 3

Exemplo 67 Seja f denida por f (x, y) = 2y. RRConsidere-se a região ele-


mentar denida por y = x − 6 e y = x. Calcular D f (x, y)dA. Ora, a recta
2

y = x − 6 e a parábola y 2 = x intersectam-se em (9, 3) e (4, −2) e, além


disso,
y 2 < y + 6, ∀y : −2 < y < 3
Então a região de integração é uma região do tipo 2 tal como a gura 4.8
ilustra. Logo,

Figura 4.8: Região elementar do tipo 2: φ(y) = y 2 e ψ(y) = y + 6

Lições de Análise Matemática 2


104 Cálculo Integral em Rn
 
ZZ Z3 Zy+6
f (x, y)dA =  2ydx dy
 
D
−2 y2

Z3
= [2yx]x=y+6
x=y 2 dy
−2
Z3
2y(y + 6) − 2y 3 dy

=
−2
y=3
2y 3 y4

= + 6y 2 −
3 2 y=−2
3 4
2(−2)3 (−2)4
 
2.3 2 3 2
= + 6.3 − − + 6(−2) −
3 2 3 2
81 16
= 18 + 54 − + − 24 + 8
2 3
211 125
= 56 − =
6 6

Aplicações
Cálculo de áreas de regiões do plano Seja D ⊂ R um conjunto limitado
e fechado de R2 . A área de D é dada por

ZZ
A(D) = 1dA
D

Exemplo 68 Considere-se a região elementar D denida por

φ(x) = x − 1
ψ(x) = ex−1

com 1, 5 ≤ x ≤ 2, 5, tal como a gura 4.5 mostra. Calculemos a área da

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 105

região D.
 
ZZ Z2.5 Zψ(x)

1dA = 1dy  dx
 

D
1.5 φ(x)

Z2.5 eZx−1
 

=  1dy  dx
1.5 x−1
Z2.5
y=ex−1
= [y]y=x−1 dxdx
1.5
Z2.5
 x−1 
= e − (x − 1) dx
1.5
2.5
x2

x−1
= e − +x
2 1.5
= e1.5 − 3.125 + 2.5 − e0.5 + 1.125 − 1.5
= e1.5 − e0.5 − 1

Exemplo
√ 69 Calcular a área da região do plano denida pelas equações y =
4 x e y = 12 x2 . A intersecção destas linhas ocorre em (0, 0) e (4, 8) e portanto
a área pretendida é a representada na gura 4.9 Escrevendo o integral como


Figura 4.9: Região elementar do tipo 1 denida por y=4 x e y = 12 x2

Lições de Análise Matemática 2


106 Cálculo Integral em Rn

o integral sobre uma região do plano de tipo 1


 

Z4 4 x
Z
 
A = A1 = 
 1dy 
 dx
0 x2
2

Escrevendo o integral como o integral sobre uma região do plano de tipo 2,


tal como a gura 4.10 ilustra, e portanto


Figura 4.10: Região elementar do tipo 2 denida por y=4 x e y = 12 x2
 
y2
Z8 Z16
 
A = A2 = 
 1dx
 dy

0 2y

Calculando
 

Z4 4 x
Z
 
A = A1 = 
 1dy 
 dx
0 x2
2

Z4 
√ x2

= 4 x − dy dx
2
0
 4
8 3/2 1 3 32
= x − x =
3 6 0 3

Lições de Análise Matemática 2


4.2 Integrais Duplos 107

Cálculo de Volumes D ⊂ R um conjunto limitado e fechado de R2 .


Seja
2
Sejam g, h : D ⊂ R → R tais que g(x, y) ≤ h(x, y), ∀(x, y) ∈ D . Então o
volume do Sólido S denido por

S = {(x, y, z) : (x, y) ∈ D ∧ g(x, y) ≤ z ≤ h(x, y)}

é dado por
ZZ
V (S) = (h − g) (x, y)dA
D

Exemplo 70 Sejam L e ρ constantes positivas. Calcular o volume do cilin-


dro denido pelos planos z = 0 e z = L e tal que x2 + y 2 ≤ ρ2 . Ora, o volume
do cilindro é ZZ
V (S) = (L − 0) dA
D

em que D = {(x, y) : x2 + y 2 ≤ ρ2 }. Portanto,


 
ZZ Zρ ψ(x)
Z
LdA = Ldy  dx
 

D
−ρ φ(x)
 √ 
ρ ρ2 −x2
Z Z
 
= 
 Ldy  dx

−ρ

− ρ2 −x2
Zρ √
y= ρ2 −x2
= L [y] √ 2 2 dxdx
y=− ρ −x
−ρ
Zρ p
= L 2 ρ2 − x2 dx
−ρ

Fazendo agora a mudança de variável x = ρ sin t, obtemos dx = ρ cos tdt.


Quanto aos limites de integração obtemos − π2 ≤ t ≤ π2 . Por outro lado,
ρ2 − x2 = ρ2 − ρ sin2 t = ρ |cos t| = ρ cos t, uma vez que − π2 ≤ t ≤ π2 .
p p

Lições de Análise Matemática 2


108 Cálculo Integral em Rn

Então
Zρ p
V (S) = L 2 ρ2 − x2 dx
−ρ
π
Z2
= L 2ρ2 cos2 tdt
− π2
π
Z2
= Lρ2 (cos (2t) + 1) dt
− π2
 t= π2
sen(2t)
2
= Lρ +t
2 t=− π2
π π 
= Lρ2 + = Lπρ2
2 2
que como sabemos é o volume de um cilindro de altura L e raio da base ρ.

4.3 Integrais Triplos.

Designamos por integrais triplos os integrais de funções reais de três var-


iáveis. Primeiramente vamos denir o conceito de um integral de uma função
3
real de três variáveis denida num paralelepípedo de R .

4.3.1 Integrais Triplos em Paralelepípedos

SejaP um paralelepípedo de R3 de lados paralelos aos eixos coordenados,


P = [a, b] × [c, d] × [e, f ] . Seja f : P ⊆ R3 → R .
Denição 46 Consideremos uma partição de P = [a, b] × [c, d] × [e, f ] con-
siderando n3 paralelepípedos,
Pijk = [xi , xi+1 ] × [yj , yj+1 ] × [zk , zk+1 ] , i, j, k = 1, ..., n
Seja x∗i , yj∗ , zk∗ um ponto qualquer de Pijk . Podemos formar as Somas de


Riemann n X
n X
n
X
f x∗i , yj∗ , zk∗ 4xi 4yj 4zk

Vn =
i=1 j=1 k=1

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 109

em que 4xi = xi+1 − xi , 4yj = yj+1 − yj e 4zk = zk+1 − 4zk . Denimos o


integral triplo de f em P como sendo
ZZZ n X
X n X
n
f x∗i , yj∗ , zk∗ 4xi 4yj 4zk

f (x, y, z)dV = lim Vn = lim
P n→∞ n→∞
i=1 j=1 k=1

caso este limite exista e seja independente da escolha de x∗i , yj∗ , zk∗ . Nesse


caso f : P ⊆ R3 → R diz-se integrável em P.

Uma questão podemos formular novamente: Quais as funções integráveis?


Será necessário calcular as somas de Riemannn sempre que pretendemos ver-
icar se uma dada função é integrável? Como avaliar a independência do
∗ ∗ ∗

limite da escolha do ponto xi , yj , zk ? O teorema seguinte cuja demon-
stração omitiremos fornece algumas pistas.

Teorema 29 Sejam f, g : P ⊆ R3 → R funções integráveis em P. Seja c


uma constante real. Então
ZZZ ZZZ ZZZ
(f + g) (x, y, z)dV = f (x, y, z)dV + g(x, y, z)dV
P P P

ZZZ ZZZ
(cf ) (x, y, z)dV = c f (x, y, z)dV
P P

Z Z Z ZZZ

f (x, y, z)dV ≤ |f (x, y, z)| dV

P P

ZZZ ZZZ
f (x, y, z) ≤ g(x, y, z), ∀(x, y, z) ∈ P ⇒ f (x, y, z)dV ≤ g(x, y, z)dV
P P

O Teorema seguinte mostra como calcular um integral triplo de uma função


contínua num paralelepípedo. É designado por Teorema de Fubini para
integrais triplos.

Teorema 30 Seja f : P ⊆ R3 → R uma função contínua denida num

Lições de Análise Matemática 2


110 Cálculo Integral em Rn

paralelepípedo R = [a, b] × [c, d] × [e, f ] . Então

  f  
ZZZ Zb Zd Z
f (x, y)dV =   f (x, y, z)dz  dy  dx
R
a c e
Zf
  d  
Zb Z
=   f (x, y, z)dy  dz  dx
a e c
  f  
Zd Zb Z
=   f (x, y, z)dz  dx dy
c a e
Zf
   
Zd Zb
=   f (x, y, z)dx dz  dy
c e a
Zf
   
Zb Zd
=   f (x, y, z)dy  dx dz
e a c
Zf
   
Zd Zb
=   f (x, y, z)dx dy  dz
e c a

Demonstração: omitimos a demonstração que se obtém seguindo o raciocínio


usado para o Teorema de Fubini para integrais duplos. cqd

Exemplo 71 Calcular (x2 + y 2 + z 2 ) dV em que P = [0, 1] × [0, 2] ×


RRR
P

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 111

[0, 4] . Usando o Teorema de Fubini,


   
ZZZ Z1 Z2 Z4
x2 + y 2 + z 2 dV x2 + y 2 + z 2 dz  dy  dx
 
=  
P
0 0 0
 
Z1 Z2  3
z=4
z
x2 + y 2 z +

=  dy  dx
3 z=0
0 0
 
Z1 Z2  3

4
x2 + y 2 4 +

=  dy  dx
3
0 0
Z1 y=2 !
y3 43
 
= x2 y + 4+ y dx
3 3 y=0
0
Z1 
23 43
 
2
= x 2+ 4 + 2 dx
3 3
0
 3 x=1
23 43

2x
= + x 4 + 2x
3 3 3 x=0
3 3
 
2 2 4 1 168
= + 4 + .2 = (2 + 32 + 128) = = 56
3 3 3 3 3

4.3.2 Integrais Triplos sobre outras regiões de R3


Seja D⊂P um conjunto fechado e limitado de R3 f : D ⊂ R3 → R uma
e
função contínua em D. Consideremos o seguinte prolongamento de f de D
ao paralelepípedo P:

g : P ⊂ R3 →  R
f (x, y, z), (x, y, z) ∈ D
(x, y, z) 7→
0, (x, y, z) ∈ P \ D

Então
ZZZ ZZZ
f (x, y, z)dV = g(x, y, z)dV
D P

Lições de Análise Matemática 2


112 Cálculo Integral em Rn

4.3.3 Integrais Triplos sobre regiões elementares de R3


O nosso objectivo é desenvolver técnicas que possibilitem o cálculo de inte-
grais triplos em regiões mais gerais do espaço tridimensional. Consideremos
as seguintes regiões que designamos por regiões elementares do espaço.

Regiões do tipo 1
Denição 47 Seja R(2d) uma região elementar do plano. Designamos por
região elementar do espaço de tipo 1 um domínio denido por
D = (x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R(2d) ∧ φ(x, y) ≤ z ≤ ψ(x, y)


sendo ψ e φ funções reais de duas variáveis reais contínuas e tais que

φ(x, y) ≤ ψ(x, y), ∀(x, y) ∈ R(2D)

O integral triplo sobre uma região elementar do tipo 1 é


 
ZZZ ZZ ψ(x,y)
Z
f (x, y, z)dV = f (x, y, z)dz  dA
 

D R(2d)
φ(x,y)

Regiões do tipo 2
Denição 48 Seja R(2d) uma região elementar do plano. Designamos por
região elementar do espaço de tipo 2 um domínio denido por
D = (x, y, z) ∈ R3 : (y, z) ∈ R(2d) ∧ φ(y, z) ≤ x ≤ ψ(y, z)


sendo ψ e φ funções reais de duas variáveis reais contínuas e tais que

φ(y, z) ≤ ψ(y, z), ∀(y, z) ∈ R(2d)

O integral triplo sobre uma região elementar do tipo 2 é


 
ZZZ ZZ ψ(y,z)
Z
f (x, y, z)dV = f (x, y, z)dx dA
 

D R(2d)
φ(y,z)

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 113

Regiões do tipo 3

Denição 49 Seja R(2d) uma região elementar do plano. Designamos por


região elementar do espaço de tipo 3 um domínio denido por

D = (x, y, z) ∈ R3 : (x, z) ∈ R(2d) ∧ φ(x, z) ≤ y ≤ ψ(x, z)




sendo ψ e φ funções reais de duas variáveis reais contínuas e tais que

φ(x, z) ≤ ψ(x, z), ∀(y, z) ∈ R(2d)

O integral triplo sobre uma região elementar do tipo 3 é

 
ZZZ ZZ ψ(x,z)
Z
f (x, y, z)dV = f (x, y, z)dy  dA
 

D R(2d)
φ(x,z)

Exemplo 72 Seja f denida por f (x, y, z) = x. Considere-se a região ele-


mentar, S , denida por z = x2 + y 2 e z = 2. Calcular f (x, y, z)dV. Ora,
RRR
S
as superfícies z = 2 e z = x2 + y 2 intersectam-se nos pontos z = 2 ∧ x2 + y 2 =
2. Como D = {(x, y) : x2 + y 2 = 2} dene uma região elementar do plano

Lições de Análise Matemática 2


114 Cálculo Integral em Rn

do tipo 1, temos,
 2 
ZZZ ZZ Z
f (x, y, z)dV =  xdz  dA
S D
0
ZZ
[xz]z=2

= z=0 dA
Z ZD
= 2xdA
D
√  √ 
Z2 Z2−x2
= 2xdy  dx
 

√ √
− 2 − 2−x2

Z2  √ 
y= 2−x2
= [2xy]y=−√
2−x2
dx

− 2

Z2 √
= 4x 2 − x2 dx

− 2

Z2 √
= −4 −x 2 − x2 dx

− 2


4 √ 3/2 x= 2
= − 2− x2 √
3 x=− 2
= 0

Será que poderíamos justicar o resultado sem calcular o integral?

Aplicações
Cálculo de volumes de sólidos Seja S um conjunto limitado e fechado
de R3 . O volume V (S) de S é dado por

ZZZ
V (S) = 1dV
S

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 115

Exemplo 73 Escrever dois integrais distintos que permitam calcular o vol-


ume do sólido delimitado pelo cone denido por z = 5 e z = x2 + y 2 tal
p

como a gura 4.11 ilustra.

p
Figura 4.11: Cone denido por z=5 e z= x2 + y 2

Projectando o sólido no plano xy e considerando a região elementar do


plano D = {(x, y) : x2 + y 2 = 25}, tal como a gura 4.12 mostra temos que

Figura 4.12: D = {(x, y) : x2 + y 2 = 25}

Lições de Análise Matemática 2


116 Cálculo Integral em Rn
 
ZZ Z5
 
V (S) = 
 1dz 
 dA
D √
x2 +y 2
 √   
Z5 25−x2
Z Z5
   
= 


 1dz  dy  dx
 
−5

2

− 25−x x2 +y 2

ou, projectando o sólido no plano xz e considerando a região elementar do


plano D = {(x, z) : 0 ≤ z ≤ 5 ∧ −z ≤ x ≤ z}, tal como a gura 4.13 mostra,
temos que

Figura 4.13: D = {(x, z) : 0 ≤ z ≤ 5 ∧ −z ≤ x ≤ z}

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 117
 √ 
ZZ z 2 −x2
Z
V (S) = 1dy  dA
 

D√
− z 2 −x2
  √  
Z5 Zz z 2 −x2
Z
= 1dy  dx dz
   
 

0 −z − z 2 −x2

Cálculo da Massa, dos Momentos e do Centro de Massa Seja S um


sólido de R 3
e
3
ρ : S ⊂ R → R a função densidade do sólido. Então a massa
do Sólido S é dado por

ZZZ
m= ρ(x, y, z)dV
S

Os momentos em relação a cada um dos três planos são


ZZZ
Myz = xρ(x, y, z)dV
Z Z ZS
Mxz = yρ(x, y, z)dV
Z Z ZS
Mxy = zρ(x, y, z)dV
S

_ _ _
O centro de massa é o ponto (x, y , z) tal que

− Myz
x =
m
_ Mxz
y =
m
_ Mxy
z =
m

Cálculo de Momentos de Inércia Seja S um sólido de R3 e ρ : S ⊂


3
R →R a função densidade do sólido. Então os momentos de inércia em

Lições de Análise Matemática 2


118 Cálculo Integral em Rn

relação a cada um dos três eixos são

ZZZ
Ix = x2 ρ(x, y, z)dV
Z Z ZS
Iy = y 2 ρ(x, y, z)dV
Z Z ZS
Iz = z 2 ρ(x, y, z)dV
S

Exemplo 74 Calcular a massa e o centro de massa z do sólido, S , do


primeiro octante limitado pelo cilindro x2 + y 2 = 1 e pelos planos y = z ,
x = 0 e z = 0, supondo que a função densidade é denida por ρ(x, y, z) = K ,
sendo K uma constante positiva. Como a função densidade é constante,
ZZZ ZZZ
m= ρ(x, y, z)dV = K 1dV = DV
S S

isto é, a massa é K vezes o volume do sólido. O sólido está representado


na gura 4.14 Para calcular o volume do sólido consideremos a projecção do

Figura 4.14: Sólido S

sólido sobre o plano xy ,


n √ o
D = (x, y) : 0 ≤ x ≤ 1 ∧ 0 ≤ y ≤ 1 − x2

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 119

Então

Zy
 
ZZ
V =  1dz  dA
D
0
ZZ
= ydA
D

Z Z1−x2
1

= ydydx
0 0
Z1 √ 2
1 − x2
= dx
2
0
Z1
1
1 − x2 dx

=
2
0
1
x3

1
= x−
2 3 0
 
1 1 1
= 1− =
2 3 3

Logo m = K
3
. Calculemos os momentos

ZZZ ZZZ
Myz = xρ(x, y, z)dV = K xdV
Z Z ZS Z Z ZS
Mxz = yρ(x, y, z)dV = K ydV
Z Z ZS Z Z ZS
Mxy = zρ(x, y, z)dV = K zdV
S S

Lições de Análise Matemática 2


120 Cálculo Integral em Rn

Ora


ZZZ Z1 Z1−x2Zy
xdV = xdzdydx
S
0 0 0

2
Z1 Z1−x
= xydydx
0 0
Z1
1 − x2
= x dx
2
0
Z1
1
x − x3 dx

=
2
0
 
1 1 1
= −
2 2 4
1
=
8


ZZZ Z1 Z1−x2Zy
ydV = ydzdydx
S
0 0 0

2
Z1 Z1−x
= y 2 dydx
0 0
Z1 √
1 3
= 1 − x2 dx
3
0

Fazendo agora a mudança de variável x = sin t, obtemos dx = cos√tdt. Quanto


3
aos limites de integração obtemos 0 ≤ t ≤ π2 . Por outro lado, 1 − x2 =

Lições de Análise Matemática 2


4.3 Integrais Triplos. 121
p 3
1 − sin2 t = (|cos t|)3 = (cos t)3 , uma vez que 0 ≤ t ≤ π2 . Então

ZZZ Z1 √
1 3
ydV = 1− x2 dx
S 3
0
π
Z2
1
= (cos t)4 dt
3
0
1 3π π
= =
3 16 16

Por m,


ZZZ Z1 Z1−x2Zy
zdV = zdzdydx
S
0 0 0

2
Z1 Z1−x
y2
= dydx
2
0 0
Z1 √
1 3
= 1 − x2 dx
6
0
1 3π π
= =
6 16 32

Logo,

ZZZ
K
Myz = 5 xdV =
8
Z Z ZS

Mxz = 5 ydV =
16
Z Z ZS

Mxy = 5 zdV =
S 32

Lições de Análise Matemática 2


122 Cálculo Integral em Rn

e o centro de massa é
− Myz 3
x = =
m 8
_ Mxz 3π
y = =
m 16
_ Mxy 3π
z = =
m 32

4.4 Mudança de Variável

Na integração de funções reais de uma variável por vezes é conveniente efec-


tuar uma mudança de variável. Sabemos que

Zb Zd
f (x)dx = f (g(t))g 0 (t)dt
a c

com a = g(c)e d = g(b). Para funções de duas e três variáveis podemos


utilizar um procedimento análogo.

Teorema 31 Seja f : D ⊂ R2 → R uma função integrável, D e D∗ duas


regiões elementares de R2 e T uma transformação bijectiva de classe C 1 tal
que T (D∗ ) = D,
T : D∗ → D
(u, v) 7→ (x(u, v), y(u, v))
Podemos expressar f dA como um integral da função composta f ◦ T sobre
RR
D
a região D∗ ,
ZZ ZZ
∂ (x, y)
f (x, y)dxdy = (f ◦ T ) (u, v)
dudv
∂ (u, v)
D D∗

onde ∂(x,y)
∂(u,v)
é o determinante da matriz jacobiana de T.

4.4.1 Coordenadas Polares

Seja (x, y) ∈ R2 . Designemos por ρ a distância de (x, y) à origem e por θ o


ângulo do vector posição com o eixo dos xx medido no sentido positivo tal

Lições de Análise Matemática 2


4.4 Mudança de Variável 123

Figura 4.15: Coordenadas Polares

como a gura 4.15 ilustra. ρ e θ relacionam-se com as coordenadas cartesianas


do modo seguinte:
x = ρ cos θ, y = ρ sin θ
com ρ ≥ 0 e 0 ≤ θ ≤ 2π. Consideremos a transformação que a cada ponto
(ρ, θ) do plano ρθ faz corresponder um ponto (ρ cos θ, ρ sin θ) do plano xy. O
determinante da matriz jacobiana dessa transformação é
 
cos θ −ρ sin θ
det =ρ
sin θ ρ cos θ
Logo o Teorema 31 da mudança de variável escreve-se
ZZ ZZ
f (x, y)dxdy = f (ρ cos θ, ρ sin θ) ρdρdθ
D D∗
Vejamos uma interpretação geométrica desta expressão. Vamos consid-

erar um elemento de área D no plano ρθ e um elemento de área D no plano
xy tal como a gura 4.16 ilustra. Dizemos que o elemento de área em coorde-
nadas cartesianas ∆A = ∆x∆y é transformado no elemento de área ρ∆ρ∆θ.
De facto a área do rectângulo polar pode ser aproximada por ∆ρ vezes o
comprimento do arco de circunferência de raio ρ e ângulo ∆θ , isto é, ∆ρ
vezes ρ∆θ tal como mostra a gura 4.17.

Exemplo 75 Seja a > 0. Calcular a área da região R do plano limitada por


2
x2 + y 2 − ax = a x2 + y 2


Lições de Análise Matemática 2


124 Cálculo Integral em Rn

Figura 4.16: Mudança de variável para coordenadas polares

Figura 4.17: Elemento de área em coordenadas polares

Lições de Análise Matemática 2


4.4 Mudança de Variável 125

representada na gura 4.18

Figura 4.18: Cardióide, a=1

A equação polar da fronteira de R é ρ = a (1 + cos θ) com θ ∈ [0, 2π] .


Portanto
 a(1+cos θ) 
ZZ Z2π Z
A(R) 1dxdy =  ρdρ dθ
R 0 0
Z2π
1 2
= a (1 + cos(θ))2 dθ
2
0
Z2π
1 2
1 + 2 cos(θ) + cos2 (θ) dθ

= a
2
0
1 2
= a (2π + 0 + π)
2
3 2
= aπ
2
Teorema 32 Seja f : D ⊂ R3 → R uma função integrável, D e D∗ duas
regiões elementares de R3 e T uma transformação bijectiva de classe C 1 tal
que T (D∗ ) = D,
T : D∗ → D
(u, v, w) 7→ (x(u, v, w), y(u, v, w), z(u, v, w))

Lições de Análise Matemática 2


126 Cálculo Integral em Rn

Podemos expressar f dV como um integral da função composta f ◦T sobre


RRR
D
a região D∗ ,
ZZZ ZZZ
∂ (x, y, z)
f (x, y, z)dxdydz = (f ◦ T ) (u, v, w) dudvdw
∂ (u, v, w)
D D∗

onde ∂(x,y,z)
∂(u,v,w)
é o determinante da matriz jacobiana de T.

4.4.2 Coordenadas Cilíndricas

As coordenadas cilíndricas são a extensão natural das coordenadas polares a


R3 . Considera-se no plano xy as coordenadas polares e retém-se a coordenada
cartesiana z,
x = ρ cos θ, y = ρ sin θ, z=z
com ρ≥0 e0 ≤ θ ≤ 2π. A variável ρ mede agora a distância de um ponto
do espaço ao eixo dos z enquanto que a coordenada z mede a altura relativa
ao plano xy . A gura 4.19 mostra a denição das coordenadas cilíndricas.

Figura 4.19: Coordenadas Cilindricas

Consideremos a transformação que a cada ponto (ρ, θ, z) do espaço ρθz faz


corresponder um ponto (ρ cos θ, ρ sin θ, z) do espaço xyz. O determinante da
matriz jacobiana dessa transformação é
 
cos θ −ρ sin θ 0
det  sin θ ρ cos θ 0  = ρ
0 0 1

Lições de Análise Matemática 2


4.4 Mudança de Variável 127

Logo o Teorema 32 da mudança de variável escreve-se


ZZZ ZZZ
f (x, y, z)dxdydz = f (ρ cos θ, ρ sin θ, z) ρdzdρdθ
D D∗

Exemplo 76 Calcular Z
x2 + y 2 dV


em que S é a região do espaço limitada pelos dois cilindros x2 + y 2 = 1 e


x2 + y 2 = 4 e os planos z = 0, z = 1, x = 0 e x = y . Projectando sobre o
plano xy obtemos o domínio D de R2 mostrada na gura 4.20

Figura 4.20: Projecção do sólido no plano xy

 1 
Z Z Z
x2 + y 2
x2 + y 2 dz  dA
 
dV = 
S D 0

Como D não é uma região elementar de R2 teremos de decompor o integral


duplo em dois. No entanto a descrição de S em coordenadas cilíndricas é
elementar:
π π
1 ≤ ρ ≤ 2, ≤θ≤ e 0≤z≤1
4 2
Em coordenadas cilíndricas a função integranda é x2 + y 2 = (ρ cos θ)2 +
(ρ sin θ)2 =ρ2 . Como o determinante da matriz jacobiana da mudança de

Lições de Análise Matemática 2


128 Cálculo Integral em Rn

variável é ρ segue-se que


π
Z Z2 Z2 Z1
15
x2 + y 2
ρ3 dzdθdρ =

dV = π
16
S 1 π 0
4

Exemplo 77 Calcular Z p
x2 + y 2 dV
S

sendo S o sólido delimitado pela folha superior do cone z 2 = x2 + y 2 e pelo


plano z = 1. Usando coordenadas cilíndricas,
Z p Z1 Z2π Z1
π
x2 + y 2 dV = ρ2 dzdθdρ =
6
S 0 0 ρ

4.4.3 Coordenadas Esféricas

Consideremos a mudança de variável T : R3 → R3 denida por ,

x = r cos θ sin ϕ, y = r sin θ sin ϕ, z = r cos ϕ

com r ≥ 0, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ ϕ ≤ π. Um ponto P é representado por r, θ, ϕ


em que

• A variável r mede a distância de um ponto P do espaço à origem O.

• O ângulo θ é o ângulo formado pelo plano que contém P e o eixo dos


z e o plano xz . Desempenha o papel da longitude.
• O`ângulo ϕ é o ângulo que a linha raial OP forma com a parte positiva
do eixo dos z . Desempenha o papel da latitude Um ponto sobre a
o semi-eixo dos z com z > 0 é caracterizado por um ângulo ϕ = 0
enquanto sobre o semi-eixo dos z com z < 0 é caracterizado por um
π
ângulo ϕ = π . Um ponto sobre o plano xy é caracterizado por ϕ = .
2

A gura 4.21 mostra a denição das coordenadas esféricas


Consideremos a transformação que a cada ponto (r, θ, ϕ) do espaço rθϕ
faz corresponder um ponto (r cos θ sin ϕ, r sin θ sin ϕ, r cos ϕ) do espaço xyz.

Lições de Análise Matemática 2


4.4 Mudança de Variável 129

Figura 4.21: Coordenadas Esféricas

O valor absoluto do determinante da matriz jacobiana dessa transformação


é
 

cos θ sin ϕ −r sin θ sin ϕ r cos θ cos ϕ

|det J| = det  sin θ sin ϕ r cos θ sin ϕ r sin θ cos ϕ 

cos ϕ 0 −r sin ϕ

cos ϕ −r sin θ sin ϕ r cos θ cos ϕ − r sin ϕ cos θ sin ϕ −r sin θ sin ϕ

= r cos θ sin ϕ r sin θ cos ϕ sin θ sin ϕ r cos θ sin ϕ


2
cos ϕ sin ϕ −r2 sin2 θ − r2 cos2 θ − r sin ϕ sin2 ϕ r cos2 θ + r sin2 θ
 
=
2
−r sin ϕ cos2 ϕ sin2 θ + cos2 θ − r2 sin3 ϕ cos2 θ + sin2 θ
 
=
2
−r sin ϕ cos2 ϕ + sin2 ϕ

=
= r2 sin ϕ

Logo o Teorema 32 da mudança de variável escreve-se

ZZZ ZZZ
f (x, y, z)dxdydz = f (r cos θ sin ϕ, r sin θ sin ϕ, r cos ϕ) r2 sin ϕdrdϕdθ
D D∗

Exemplo 78 Calcular o volume do Sólido S delimitado pelas duas esferas

Lições de Análise Matemática 2


130 Cálculo Integral em Rn

concêntricas x2 + y 2 + z 2 = b2 e x2 + y 2 + z 2 = a2 sendo 0 < a < b. Ora


Z Zb Z2π Zπ
r2 sin ϕ dϕdθdr

V = 1dV =
S a 0 0
Zb Zπ
r2 sin ϕ dϕdr

= 2π
a 0
Zb
= 2π −r2 [cos ϕ]π0 dr
a
Zb
= 2π −r2 [−1 − 1] dr
a
Zb b
r3

2
= 4π r dr = 4π
3 a
a
4π 3
b − a3

=
3

4.5 Integrais Imprópios

Nas secções anteriores denimos integrais duplos e integrais triplos, isto é,


integrais de funções de duas e três variáveis e enunciámos critérios que garan-
tem que uma dada função seja integrável num domínio fechado e limitado de
R2 ou de R3 . Por exemplo no teorema 26 exigimos que a função fosse uma
função limitada. Vejamos agora em que sentido podemos denir o integral
de uma função não limitada.

Exemplo 79 Consideremos f (x, y)dxdy em que f (x, y) = √ 1


e
RR
1−x2 −y 2
D
D = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1}. Ora D é um conjunto fechado e limitado
de R2 mas f é uma contínua no interior de D mas não está denida na
fronteira de D.RRTemos pois que f não é limitada em D. Que sentido então
podemos dar a f (x, y)dxdy? Seja L um número real tal que 0 ≤ L < 1 e o
D
conjunto DL = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ L}. Diremos que este integral existe

Lições de Análise Matemática 2


4.5 Integrais Imprópios 131

se existir ZZ
lim f (x, y)dxdy
L→1−
DL

e nesse caso o integral diz-se impróprio e denimos


ZZ ZZ
f (x, y)dxdy = lim− f (x, y)dxdy
L→1
D DL

Ora, usando coordenadas polares,

ZZ ZL Z2π
1
f (x, y)dxdy = lim− p ρdθdρ
L→1 1 − ρ2
D 0 0
ZL
ρ
= lim−
2π p dρ
L→1 1 − ρ2
0
hp iL
= lim− −2π 1 − ρ2
L→1 0
h√ i
= lim− −2π 1 − L2 − 1
L→1
= 2π

Vejamos agora um exemplo em que calculamos o integral de uma função


3
num domínio ilimitado, R .

Exemplo 80 Calculemos e−(x


2 +y 2 +z 2 )3/2
dxdydz. Para dar existência a
RRR
R3
este integral consideremos o integral da função f (x, y, z) = e−(x
2 +y 2 +z 2 )3/2

numa esfera centrada na origem de raio L > 0. Denamos

DL = (x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 ≤ L


e ZZZ ZZZ
−(x2 +y 2 +z 2 )3/2 2 +y 2 +z 2 )3/2
e dxdydz = lim e−(x dxdydz
L→+∞
R3 DL

Lições de Análise Matemática 2


132 Cálculo Integral em Rn

Ora, usando coordenadas esféricas

ZZZ ZL Z2π Zπ
−(x2 +y 2 +z 2 )3/2 3
e dxdydz = lim r2 e−r sin ϕdϕdθdr
L→+∞
R3 0 0 0
ZL Z2π
3
= lim r2 e−r [− cos ϕ]π0 dθdr
L→+∞
0 0
ZL
3
= 4π lim r2 e−r dr
L→+∞
0
4π h 3 L
i
= − lim 2 e−r
3 L→+∞ 0
4π h
2 −L3
i
= − lim e −1
3 L→+∞

=
3

Exemplo 81 Calculemos 1
sendo W o sólido delimi-
RRR
(1−x2 −y 2 )3/2
dxdydz,
W
tado por z = x2 + y 2 e z = 2 − x2 − y 2 . Ora a função não está denida
nos pontos de R3 tal que x2 − y 2 = 1, isto é não está denida nos pontos
de intersecção das duas superfícies. Seja L > 0 e consideremos o integral da
função f (x, y, z) = (1−x2 −y
1
2 )3/2 no sólido WL ,

WL = (x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ L ∧ x2 + y 2 ≤ z ≤ 2 − x2 − y 2


ZZZ ZZZ
1 1
dxdydz = lim− dxdydz
(1 − x − y 2 )3/2
2 L→1 (1 − x2 − y 2 )3/2
W WL

Lições de Análise Matemática 2


4.5 Integrais Imprópios 133

Usando coordenadas cilíndricas,


ZZZ Z 2
ZL Z2π 2−ρ
1 ρ
dxdydz = lim− dzdθdρ
(1 − x2 − y 2 )3/2 L→1 (1 − ρ2 )3/2
W 0 0 ρ2
ZL Z2π
ρ 2

= lim− 2 − 2ρ dθdρ
L→1 (1 − ρ2 )3/2
0 0
ZL

= lim− 2π dρ
L→1 (1 − ρ2 )1/2
0
L
lim− −2π (1 − ρ2 )1/2 0

=
L→1
h√ i
= lim− −2π ( 1 − L2 − 1
L→1
= 4π

Lições de Análise Matemática 2


134 Cálculo Integral em Rn

Lições de Análise Matemática 2


Exercícios
p
1. Considere a função f denida por f (x, y) = 100 − x2 − y 2 .

(a) Indique e esboce o domínio, D ⊆ R2 de f.


(b) Indique um ponto interior, um ponto fronteiro e um ponto exterior
ao conjunto D e diga se D é aberto, fechado, limitado, conexo.

(c) Dena e esboce os conjuntos de nível de valor c para a função f


considerando c = −1, 0, 2, 4, 8, 10, 12.
(d) Calcule f (2, 2).
(e) Dena e esboce o gráco de f. Verique se (2, 2, 4) ∈ graf (f ).

2. Seja h : D ⊆ R2 −→ R denida por

1
h(x, y) = √
xy − 1

(a) Determine e esboce o domínio de h, D.


(b) Indique um ponto interior, um ponto fronteiro e um ponto exterior
ao conjunto D e diga se D é aberto, fechado, limitado, conexo.

(c) Indique, justicando, se (10, 1, 1/3) ∈ graf (h).


x
3. Considere a função vectorial denida por G(x, y, z) = ( p , z 2 , ey )
x2 + y 2

(a) Dena as funções componentes de G.


(b) Indique o domínio de G.
(c) Calcule G(1, 1, 1) e G(1, 0, −3).

Lições de Análise Matemática 2


136 Exercícios

1
4. Considere a função denida por g(x, y, z) = p
x2 + y 2 + z 2

(a) Indique o domínio de g.



(b) Calcule g(1, 1, 1) g(3, −1, 6).
e

(c) Verique se (−3, 1, 6, 4) ∈ graf (g).
(d) Dena e esboce o conjunto de nível de valor 1 da g.

5. Determine o domínio, D ⊆ R2 , da função f denida por f (x, y) =


2 2
x −y
log . Indique o seu interior e fronteira.
xy
6. Considere a função f denida por

√ √
2 2
f (x, y) = xy e− 1−x −y

(a) Determine e esboce o domínio D ⊆ R2 da função f.


(b) Determine, justicando, o interior e a fronteira de D. Indique se
D é aberto, fechado, limitado.

7. Para cada uma das funções determine e esboce o respectivo domínio.

x2
(a) f (x, y) = e− y
x2 + y 2
(b) f (x, y) =
x2 + y

8. Considere a função f : R2 −→ R
x2

y
, 6 0
y=
f (x, y) =
0, y=0

(a) Verique que existem as derivadas parciais de f na origem.

(b) Calcule, se existirem, as derivadas parciais de f no ponto (1, 0).


(c) Calcule, se existirem, as derivadas parciais de f no ponto (1, 2).
(d) Mostre que f não é contínua na origem.

9. Considere a função denida por f (x, y) = x ln xy .

Lições de Análise Matemática 2


137

(a) Indique e esboce o domínio D ⊆ R2 de f.


(b) Mostre que, existe um número real K tal que sendo S uma semi-
recta com origem (0, 0), contida no domínio D de f, se tem

lim f (x, y) = K
(x,y)→(0,0);(x,y)∈S

−1
(c) Considere pontos do domínio de f que satisfazem y = exp .
x2
Mostre que não existe lim f
(x,y)→(0,0)

x2 y
10. Considere a função denida por f (x, y) =
x2 + y 2

(a) Indique e esboce o domínio D ⊆ R2 de f.


(b) Averigue se é possível determinar um prolongamento contínuo de
f a <2 .

11. Seja f : R2 −→ R denida por f (x, y) = 2xy + x2 cos y .

(a) Dena as funções derivadas parciais de f de primeira ordem


∂f
(b) Calcule
∂x
(0, π) e ∂f
∂y
(0, π).
∂2f ∂3f
(c) Calcule
∂y 2
(x, y) e ∂x∂y 2 (x, y)

5(x − 1)y
12. Seja f : D ⊆ R2 −→ R denida por f (x, y) =
(x − 1)2 + y 2

(a) A função f é contínua no seu domínio D? Justique.

(b) Averigue a existência de limite de f em (1, 0).


(c) Com base em (b), o que pode concluir sobre a existência de pro-
2
longamento contínuo de f a < ?

2xy
13. Seja f : R2 −→ R denida por f (x, y) = p , se (x, y) 6= (0, 0)
x2 + y 2
e f (0, 0) = α, sendo α uma constante real.

(a) Justique a armação: A função f é contínua em qualquer ponto


(x, y) 6= (0, 0)

Lições de Análise Matemática 2


138 Exercícios

(b) Determine α de modo que f seja contínua em <2 .


(c) Considere o valor de α determinado em (b) e averigue se a função
f tem derivadas parciais na origem.

OBS: Se não respondeu a (b) faça α=0

x2 − y 2
14. Seja f : D ⊆ R2 −→ R denida por f (x, y) = log . Mostre que
xy

∂ 3f ∂ 3f ∂ 3f ∂ 3f 1 1
3
+ 2
− 2
− 3
= 2( 3 − 3 ) , ∀(x, y) ∈ D.
∂x ∂x ∂y ∂x∂y ∂y y x

x2 y
15. Seja f : R2 −→ R denida por f (x, y) = p , se (x, y) 6= (0, 0)
x2 + y 2
e f (0, 0) = 0.

(a) Calcule as derivadas parciais da função f na origem.

(b) Averigue se a função f tem derivada origem.

(c) Justique a armação: A função f é contínua.

16. Seja g : R2 −→ R denida por g(x, y) = 2xy + x2 cos y

(a) Mostre que g é diferenciável.

(b) Calcule ∇g .
√ √
2
(c) Calcule a derivada de g no ponto (2, π/2) segundo o vector ( 2
, − 22 ).
(d) Obtenha a equação cartesiana do plano tangente ao gráco de g
no ponto (1, 0, 1).

17. Sejam F : R3 −→ R2 e G : <2 −→ <2 denidas por

• F (x, y, z) = (sin(xy + z), (1 + x2 )yz ),


• G(u, v) = (u + ev , v + eu ).

(a) Mostre que F é diferenciável em (1, −1, 1) e calcule DF (1, −1, 1).
(b) Mostre que G é diferenciável em (0, 1/2) e calcule DG(0, 1/2).
(c) Calcule D(GoF )(1, −1, 1).

Lições de Análise Matemática 2


139

18. Seja f : R2 −→ R denida por

(
xy 3
x3 +y 6
, x3 + y 6 =
6 0
f (x, y) = 3 6
0 , x +y =0

(a) Mostre que existe derivada de f na origem, segundo qualquer vec-


tor não nulo.

(b) Estude a diferenciabilidade de f na origem.

19. Escreva a equação da recta tangente à elipse x2 + xy + y 2 = 7 no ponto


(2, −3).
xy
20. Seja f : R2 −→ R denida por f (x, y) = x2 +y 2
se (x, y) 6= (0, 0) e

f (0, 0) = 0

(a) Averigue a existência de limite de f na origem.

(b) A função f é contínua em <2 ? Justique.

(c) Averigue a existência de derivadas parciais na origem.

(d) A função f é diferenciável em R2 ? Justique.

21. Seja f : R2 −→ R, e A um ponto de R2 tal que. Seja A = (0, 0) e


x2 − y 2
f (x, y) = xy 2 , se (x, y) 6= (0, 0) e f (0, 0) = 0.
x + y2

(a) Estude, usando a denição, a diferenciabilidade de f em A.


(b) Que pode concluir quanto à continuidade de f em A?

22. Seja f (x, y) = sin x + φ(sin y − sin x) , sendo φ uma função real de
0
variável real de classe C . Mostre que

∂f ∂f
cos x + cos y = cos x cos y.
∂y ∂x

23. Seja f : R2 −→ R denida por

1
(x + y)2 sin x+y

, 6 0
x+y =
f (x, y) =
0 , x+y =0

Lições de Análise Matemática 2


140 Exercícios

∂f
(a) Mostre que existe ∀(x, y) ∈ R2 mas não é função contínua em
∂x
R2 .
(b) Mostre que f é diferenciável em R2 .

24. Escreva a equação do plano tangente ao hiperboloide x2 + y 2 − z 2 = 18


, em (3, 5, −4).

25. Obtenha a fórmula de Taylor de segunda ordem para as funções seguintes


nos pontos indicados:

(a) f (x, y) = ex+y , (0, 0)


(b) f (x, y) = sin (xy) + cos (xy) , (0, 0)
(c) f (x, y) = exp (x − 1)2 cos y , (1, 0)

26. Estude a existência e natureza de extremos relativos das funções denidas


por

(a) f (x, y) = −x3 + y 3 − 3xy .


(b) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 + xy

27. Determine os extremos relativos das seguintes funções sujeitas às condições


indicadas:

(a) f (x, y) = xy , S :x+y =1


(b) f (x, y) = x2 + y 2 , S : x2 + y = 1

28. Seja f tal que

f : R2 → R
(x, y) 7 (x2 + y 2 )2 − 2(x2 − y 2 ).

(a) Indique os pontos críticos da função f.


(b) Mostre que a restrição de f a qualquer recta oblíqua de declive m,
com |m| < 1, que contenha a origem, possui um máximo relativo
na origem.

Lições de Análise Matemática 2


141

29. Considere a secção feita no elipsóide x2 + 2y 2 + z 2 = 1 pelo plano


x + y = 1. Determine os pontos dessa curva que estão mais próximos
ou mais afastados da origem.

30. Determine os valores máximo e mínimo da função f (x, y) = x2 + y 2 −


x − y + 1 no disco D ⊂ R2 denido por x2 + y 2 ≤ 1.

31. Seja f : R2 → R : f (x, y) = x4 + y 4 − (x − y)2 .

(a) Estude a existência de extremos locais de f.


(b) Mostre que (0, 0) é um ponto de máximo local de f restringida a

S = {(x, y) ∈ R2 : y = 0}

32. Mostre que (0, 0) é um ponto de mínimo relativo da função denido


porf (x, y) = (y − 3x2 )(y − x2 ) em qualquer recta que passe na origem,
mas que esse ponto não é mínimo relativo de f .

1
33. O gráco da função f (x, y) = xy é uma superfície S de R3 . Determine

os pontos de S mais próximos da origem.

34. Mostre que (0, 0) é um ponto de mínimo relativo da função denida


porf (x, y) = (y − 3x2 )(y − x2 ) em qualquer recta que passe na origem,
mas que esse ponto não é mínimo relativo de f .

35. Considere-se a função f tal que

f : R3 →R
(x, y, z) 7→ xyz.

e S ⊂ R3 tal que S = {(x, y, z) ∈ R3 : x − y = 0 ∧ z = y − 2}.

(a) Use o método dos multiplicadores de Lagrange para determinar


os pontos candidatos a extremos de f restrita a S.
(b) Averigúe a natureza desses pontos .

F : R2 −→ R2 denida por F (x, y) = (z(x), e(1−2y) ) e G :⊂


36. Seja
R −→ R3 denida por G(x, y) = (z(y), ln (x − y)2 , xy), onde z :
2

R −→ R é uma função diferenciável e tal que

Lições de Análise Matemática 2


142 Exercícios

• z(0) = 0
• z 0 (0) = 2
• z 0 (1) = 1

Determine a matriz jacobiana de G◦F em (0, 21 ).

37. Considere a função f : R3 −→ R denida por

f (x, y, z) = x + y + z − sin(xyz)

Mostre que numa vizinhança de (0, 0, 0) a equação f = 0 dene im-


∂z ∂z
plicitamente z como função de x e de y. Calcule (0, 0) e (0, 0).
∂x ∂y
38. Verique que a equação x5 + y 5 + xy = 3 dene implicitamente y como
função de x numa vizinhança de (1, 1) e calcule

dy d2 y
(1) e
dx2
(1).
dx
39. Seja f : R −→ R uma função de classe C 1 , e x0 ∈ R tal que f 0 (x0 ) 6= 0.
Seja

• u(x, y) = f (x)
• v(x, y) = −y + xf (x)

40. Mostre que a função F : R2 −→ R2 de componentes u(x, y) e v(x, y) é


invertível numa vizinhança de (x0 , y) e que a inversa é dada por

• x = f −1 (u)
• y = −v + uf −1 (u)

41. Seja f : R −→ R uma função diferenciável e g : D ⊆ R2 −→ R tal que


x+y
g(x, y) = f ( ). Mostre que,
xy
∂ ∂
x2 g(x, y) − y 2 g(x, y) = 2(x − y)g(x, y).
 
∂x ∂y
2
√ 
42. Sendo f (u, v) = cos u sin v e T (s, t) = cos t s, ln 1 + s2 , determine
∂(f ◦T )
∂s
(0, 0).

Lições de Análise Matemática 2


143

∂w
43. Sendo w = f (x, y, z, t), x = g(u, z, t) e z = h(u, t), obtenha
∂t
,
supondo f , g e h funções diferenciáveis.

44. Considere o sistema



x2 + yt − zx + t2 = 0
xz + yx − zt =3

Mostre que numa vizinhança de (x0 , y0 , z0 , t0 ) = (1, 1, 1, −1) o sistema


∂z
dene implicitamente z e t como função de x e y. Calcule (1, 1) e
∂x
∂z
(1, 1).
∂y

45. Considere a função F,

F : R2 −→ R2
(x, y) 7→ (y 3 + 2xy 2 , x − y)

Calcule, caso exista, D(F −1 )(3, 0).

46. Calcule os seguintes integrais:

(a)
Z 0 Z 2
(−x ln y) dydx
−1 1

(b)
Z π/2 Z 1
(y cos x + 2) dydx
0 0

(c)
Z 1 Z 2x Z x2 +y 2
dzdydx
0 0 0

47. Faça um esboço da região de integração e calcule os seguintes integrais:

(a)
Z
|x − y| dxdy, R = [−1, 1] × [−1, 1]
R

Lições de Análise Matemática 2


144 Exercícios

(b)

Z  
2 2x
ydxdy, D = (x, y) ∈ < : 0 ≤ ≤ y ∧ y ≤ sin x
D π

48. Considere o seguinte integral

2 y
x2
Z Z
I= dxdy
1 1/y y2

(a) Esboce o domínio de integração e inverta a ordem de integração.

(b) Calcule I.

49. Considere os integrais, em que f : <3 → < é uma função contínua

Z 1 Z 1−x Z x+y
I= f (x, y, z)dzdydx
0 0 0

Z 1 Z 1−x2 Z 1
J= √ √ f (x, y, z)dzdydx
−1 − 1−x2 x2 +y 2

(a) Faça um esboço da região de integração de cada um dos integrais.

(b) Escreva cada um dos integrais fazendo variar a ordem de inte-


gração.

50. Calcule os seguintes integrais:

(a)
Z
D = (x, y) ∈ <2 : 1 ≤ x2 + y 2 ≤ 2 ∧ y ≥ 0

(1 + xy) dxdy,
D

(b)
Z
D = (x, y) ∈ <2 : x2 ≤ y ≤ x

xdxdy,
D

(c)
Z
ex+y+z dxdydz, W = (x, y, z) ∈ <3 : 0 ≤ y ≤ x ≤ 1 ∧ y + x ≥ z ≥ 0

W

Lições de Análise Matemática 2


145

51. Faça um esboço da região de integração e calcule

(a)
Z 2 Z 3x+1
dydx
1 2x

(b)
Z 1 Z 1
(x + y) dxdy
−1 |y|

(c)
Z 1 Z 1 Z x2 +y 2
dzdydx
0 0 −x−y

52. Calcule Z 1 Z 1
x2 + y 2 dxdy

0 y

usando a mudança de variável, x = u + v, y = u − v.

53. Calcule, usando coordenadas polares

Z
2 +y 2
ex D = (x, y) ∈ <2 : x2 + y 2 ≤ 1

dxdy,
D

54. Calcule Z
1
I= dxdydz
W (1 − x2 − y 2 )3/2
sendo W a região de <3 limitada pelos parabolóides z = x2 + y 2 e
z = 2 − x2 − y 2 .

55. Calcule, usando integrais, a área do sector circular

D = (x, y) ∈ <2 : x2 + y 2 ≤ 1 ∧ y ≤ x ∧ 0 ≤ x


56. Calcule o volume da região limitada pelas superfícies


p x2 + y 2 = 2xy ,
z = x2 + y 2 e pelos planos z = 0, z = 1 e x = 0.

Lições de Análise Matemática 2


146 Exercícios

57. Calcule, usando coordenadas polares


Z
ln x2 + y 2 dxdy, D = (x, y) ∈ <2 : a2 ≤ x2 + y 2 ≤ b2 ∧ y ≥ 0 ∧ x ≥ 0
 
D

58. Determine usando coordenadas apropriadas, o volume do sólido com-


2 2 2
preendido entre a folha superior do cone de equação x + y = 3z e os

planos x= 3y e z = 3.

59. Seja D = {(x, y, z) ∈ <3 : x2 + y 2 + z 2 ≤ 1} . Calcule

(a)
Z √
2 2 2 3
e (x +y +z ) dxdydz
D

(b)
Z
1
p dxdydz
D 2 + x2 + y 2 + z 2

60. Calcule usando mudanças de coordenadas apropriadas

(a)
Z
1
dxdydz
<3 x2 + y2 + z2
(b)

Z
sin x2 + y 2 dxdy D = (x, y) ∈ <2 : x2 + y 2 ≤ 1
 
D

61. Sabendo que a área de um círculo de raio r é πr2 , usando uma mudança
x2 y2
de variável apropriada, mostre que a área da elipse 2 + 2 ≤ 1 é πab.
a b

62. Calcule o volume de um cone de altura h e raio da base r.

63. Calcule o volume do sólido de revolução z ≥ x2 + y 2 contido na região


2 2 2
limitada pela superfície x + y + z = 1.

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