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DIREITO CIVIL

BENS DE FAMÍLIA Art. 1711 a 1722

O direito dos bens da família visa a proteção de moradia, protegendo em relação a alguma dívida que o proprietário
possa vir a ter eventualmente. Se tal dívida não for paga, o devedor pode ter seus bens penhorados. No entanto, a
proteção é em relação a dívidas e apenas a elas, ou seja, se, por exemplo, o governo quiser desapropriar tal imóvel, é
permitido, claro que o dono do imóvel será indenizado.

Para a penhora de bens é criada uma certidão relacionando tal bem a tal dívida, em seguida o bem penhorado vai a
leilão e caso seja arrecadada maior quantia do que o valor da dívida, o restante vai para o devedor.

Geralmente, o imóvel residencial é deixado de lado (salvo exceções), porque, além de, às vezes, não ser o necessário
para o pagamento de uma dívida, é criado, também, um problema social.

O Código Civil é também considerado uma lei. O nosso atual Código Civil, o do ano de 2002, é representado pela lei
10406/02.

No entanto, se tratando de bens de família, existe também a lei 8009/90, ela dá uma proteção automática aos bens,
enquanto a lei 10406 representa apenas a proteção por vontade. A última não revoga a primeira, no enquanto, é ela
que deve ser seguida, assim, a lei 8009 só será seguida caso não haja proteção na lei 10406.

OBSERVAÇÃO: Não é permitida a proteção com base no Código Civil e na lei 8009/90 ao mesmo tempo.

VACATIO LEGIS: Período entre a promulgação e a vigência de uma lei.

PROTEÇÃO COM BASE NO CÓDIGO CIVIL:

Quem pode instituir bem de família e proteger a moradia? Podem os cônjuges (incluindo união estável), a entidade
familiar e terceiros (exemplo: avó).

O bem de família é instituído mediante escritura pública, doação ou testamento, e em qualquer hipótese, tal
documento deve ser levado ao cartório de imóveis, depois disso se criará um prazo para que eventuais interessados
possa manifestar impugnação (somente credores seriam os interessados nisso). Os bens de família também não
pode ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido (aquilo que não está onerado com nada), que será verificado no
momento da instituição.

Patrimônio representa uma universalidade, é diferente de bem.

Assim sendo, 1/3 do patrimônio líquido estará protegido, enquanto os outros 2/3 servirão para o pagamento de
eventuais dívidas.

A proteção ao imóvel residencial também abrange acessórios e pertenças. No entanto, a proteção pode atingir bens
móveis (valores mobiliários), visando garantir o imóvel. Deixando claro que isso é apenas uma possibilidade e não
uma exigência, porque, por exemplo, não adianta ter uma casa para morar se não possuir dinheiro para cuidar dela.

Enriquecimentos posteriores não repercutem na instituição passada, é necessário que se estenda a proteção. A lei só
protege os bens em relação às dívidas contraídas posteriormente à instituição, ou seja, por exemplo, o imóvel
residencial pode responder por dívidas anteriores. Só responderá por dívidas posteriores caso provenham de
tributos relativos ao prédio ou despesas de condomínio.

A proteção aos bens de família cria uma relação de inabilidade ou restrição de alienação. Para vender é necessária
uma autorização judicial de um juiz após ouvir um representante do MP (Ministério Público).

A proteção à instituição prevalece enquanto os instituidores ou cônjuges estiverem vivos, se mortos, a proteção
continua se os filhos forem capazes, se incapazes, a proteção permanece pendente. Se a incapacidade desaparecer,
acaba a proteção.

Exemplo: Os pais morrem e deixam 3 filhos, 2 capazes e 1 incapaz, ao se tornar capaz, a proteção some e deixa de
ser bem de família, mas pode ser feita uma nova instituição e se a incapacidade for permanente, a proteção não
cessa.
Lei 8009/90: Se a pessoa possuir apenas um imóvel residencial, ele será protegido. Se houver mais de um, a proteção
recairá sobre o de menor valor. A proteção com base na lei 8009 vigora para sempre e não gera restrições, por
exemplo, ele pode dispor do imóvel quando quiser sem autorização judicial. O imóvel pode ser penhorado se
existirem dívidas trabalhistas, de alimentos ou previdenciárias com pessoas relacionadas ao imóvel, se for oferecido
como garantia por algo que não foi cumprido ou caso o imóvel tenha sido obtido devido à atividade ilícita.

A proteção com base no Código Civil é mais abrangente, pois possui menos exceções.

FATO JURÍDICO, ATO JURÍDICO E NEGÓCIO JURÍDICO

FATO JURÍDICO

Fato é todo e qualquer acontecimento no mundo. Fato Jurídico é uma espécie de fato com consequência
juridicamente apreciáveis.

Exemplo: Uma chuva torrencial que tem como consequência perda de bem, ferimentos, etc., ou seja, que possui
repercussão jurídica.

O fato jurídico pode ser natural ou ato jurídico (jurígeno, voluntário; se divide em lícito em negócio jurídico).

Fato Natural: espécie de fato jurídico que ocorre naturalmente, sem intervenção do homem.

Exemplo: nascimento (vai acontecer na hora certa), repercute no mundo jurídico, pois quando a pessoa nasce com
vida ela começa a participar da vida jurídica (bens, direitos, etc.). Assim como a morte, fim da pessoa (extinção),
passa a fazer parte do direito real (coisa). Chuva torrencial.

Ato Jurídico/ Jurígeno/ Voluntário: espécie de fato jurídico praticado pela pessoa, com intervenção humana;
omissivo (negativo) onde o comportamento ativo era requisitado.

Ato Jurídico Lícito: praticado em conformidade com o ordenamento jurídico, com proteção da lei.

Exemplo: atropelamento – as consequências como dano material/moral que serão julgadas.

Ilícito: preocupa-se com as consequências, não está de acordo com o ordenamento.

Meramente lícito ≠ Negócio Jurídico

Meramente lícito: ato voluntário, mas suas consequências não precisam ser previstas (Exemplo: invenção do
tesouro).

NEGÓCIO JURÍDICO: vontade qualificada (objetivo) com finalidade específica (vontade em relação a aquilo que se
tem vontade de pôr em prática) à consequências com previsão. O ponto de partida do negócio jurídico é a vontade;
é necessário considerar todos os aspectos (quem pode, quem não pode, o que fazer, etc.).

Tudo o que diz respeito a negócio jurídico tem que ser lícito. Todo negócio jurídico é fato jurídico, mas nem todo fato
jurídico implica em licitude – existe uma categoria de ilícito.

- Ilícito penal: comportamento previsto na lei penal.

- Ilícito civil: comportamento voluntário, a título de culpa, que gere prejuízo.

No entanto, é possível que um comportamento tenha relação com mais de uma área do Direito.

RESPONSABILIDADE CIVIL: é caracterizada por um ato ilícito.

Origens da responsabilidade civil:

- Vontade: contratual (contrato à modalidade jurídica) à responsabilidade contratual. Na vontade, não há prévia, há
realização do comportamento e suas consequências.

- Ato ilícito: responsabilidade extracontratual. Ato ilícito é todo comportamento voluntário que viole o Direito
(mesmo que moral).
A responsabilidade civil é dividida em suas teorias: objetiva (ação/omissão, resultado, nexo) e subjetiva
(ação/omissão, resultado, nexo, culpa em sentido amplo).

Na Teoria Objetiva há um comportamento seguido de uma violação do Direito para estabelecer um nexo entre
causalidade e prejuízo para obter um resultado. Ela não exige necessidade ou comprovação de culpa.

Na Teoria Subjetiva há um comportamento, onde será necessário buscar a lesão do Direito (prejuízo), estabelecer
nexo entre causalidade e efeito. A culpa em sentido amplo abrange a culpa propriamente dita e o dolo.

A ação/omissão e o resultado devem ser comprovados pelo autor da ação indenizatória e este só receberá
indenização após a comprovação. Os atos que excluem a licitude não podem ser caracterizados de indenização. As
hipóteses de exclusão de ilicitude (situações de exceção) estão previstas no artigo 88, que excluem o crime (legítima
defesa, estado de necessidade, exercício regular do Direito – nesses casos, o ato é praticado, mas não é considerado
crime, não pode ser considerado ato ilícito; no entanto, não pode haver excesso/abuso em nenhuma situação).

- Legítima defesa: defesa justa por uma lesão injusta, no entanto, não pode haver abuso, ou seja, a pessoa não pode
exceder em sua defesa, pois assim o abuso será considerado ilícito.

- Estado de necessidade: ninguém está agindo de modo irregular (Exemplo: Em um naufrágio, existem dois
sobreviventes e apenas uma boia, então só um pode se salvar), assim, a lei autoriza o “falecimento” do direito, a
pessoa não é punida, pois seu ato não pode ser considerado crime.

Compensações/Concorrência de culpa:

- Ato ilícito: indenização

- Duas pessoas de modo a serem responsabilizadas: as duas serão penalizadas – dois atos ilícitos. O prejuízo será
dividido de acordo com a responsabilidade de cada um.

Condenação solidária: um assume integralmente – não faz parte da concorrência de culpa.

A responsabilidade civil não pode ser causa de enriquecimento. No entanto, no Brasil não há forma de coibir a
repetição de um ato, tornando mais barato indenizar tal comportamento do que deixar de repeti-lo.

NEGÓCIO JURÍDICO

Negócio jurídico é a vontade qualificada dirigida a uma finalidade específica, é ato lícito que tem como finalidade
adquirir, modificar, defender ou extinguir um direito.

Se pode adquirir um direito de forma originária ou derivada. Sendo que a originária ainda pode ser “res nuillius”
(coisa de ninguém) ou “res derelicta” (coisa abandonada).

Adquirir em relação originária: o direito adquirido não possui antecedentes porque não existem ou porque foi
rompido com eles.

“Res nuillius”: o direito, ao ser adquirido, surge de modo inaugural, pela primeira vez, não procura sua origem em
antecedentes. É considerado coisa de ninguém

“Res derelicta”: é coisa abandonada, alguém abandona um direito que ostentava, rompe com tal direito. Exemplo:
objetos em uma caçamba; uso capião de propriedade.

Adquirir em relação derivada: busca a origem no direito anterior já que é decorrente de outro (exemplo: compra e
venda). Compatibilidade e observância do limite do direito atual e do direito anterior, pois este servirá de base para
aquele, deverá atender os limites do direito no qual ele se baseia.

Direito Atual: aquele que já existe de modo pleno, se encontra perfeito. Pode ser exercido por já ter sido adquirido
em sua plenitude/extensão – recebe proteção da lei.

Direito Adquirido: já exerceu sua plenitude e pode ser exercido.


Direito Futuro: recebe a proteção da lei. Se distancia do direito atual porque ainda não é pleno, não está
aperfeiçoado, falta a ocorrência de um dado ou um elemento para completá-lo. Se o direito futuro passar a ser
direito atual, ele poderá ser exercido em sua plenitude.

Exemplo 1: direito condicional. Condição: evento futuro incerto. Exemplo de direito condicional: nascituro; o negócio
jurídico pode ser celebrado com ele, como a doação, a mãe receberá e passará a ser dele no momento do
nascimento com vida, quando a doação se concretizará. No entanto, caso a criança morra durante o parto, o direito
não produzirá efeito, ou seja, não será concretizado.

Exemplo 2: direito a termo (elemento acidental geral, ou seja, pode ser ou não inserido no negócio jurídico) à é
direito futuro certo, a única incerteza em relação a ele é o momento de sua ocorrência.

Expectativa de direito: não há direito, não existe proteção da lei.

A modificação de um direito pode ser objetiva (qualitativa ou quantitativa) ou subjetiva. A mudança objetiva é em
relação ao objeto do direito e a mudança subjetiva é em relação ao titular/sujeito do direito. A modificação se dá em
um direito já existente.

Exemplo de mudança subjetiva: mudança de locatário sobre um imóvel, por exemplo, de irmão para irmão.

Exemplo de mudança objetiva: pagamento de 100 mil reais devia ser feito em dinheiro em 2020, mas é feito em
2010 por uma joia de 80 mil reais – é qualitativa e quantitativa.

A defesa de um direito cabe em respeitar/resguardar o direito do outro. Quando há violação de um direito, a vítima
deve ir ao judiciário para que ele formule/encontre uma solução para o conflito.

A extinção de um direito se dá em casos de alienação, abandono, renúncia (propriamente dita ou translativa),


inércia, confusão, morte.

CLASSIFICAÇÃO DE FORMAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico pode ser unilateral (receptício ou não receptício) ou bilateral.

Unilateral: para que ele exista precisa de apenas uma vontade.

Unilateral receptício: a vontade precisa ser conhecida daquele a quem diz respeito (exemplo: demissão).

Unilateral não receptício: não exige o conhecimento do destinatário, o ato se aperfeiçoa nele mesmo (exemplo:
testamento).

Bilateral: duas vontades (exemplo: contrato, até mesmo o auto contrato ou negócio consigo mesmo –
representação) com sentidos antagônicos, mas convergindo para fins de formação.

- Alienação: é todo e qualquer ato de instituição (exemplo: compra e venda, doação, etc.). É um ato de disposição
voluntária, no entanto, pode haver alienação forçada (exemplo: desapropriação).

- Abandono: é um ato voluntário de causa instintiva rompida pela falta de interesse, é implícita.

- Renúncia: é semelhante ao abandono – é um ato voluntário de causa instintiva de direito por falta de interesse,
mas ela precisa ser expressa, é explícita.

Renúncia propriamente dita: é abrir mão do direito por falta de interesse.

Exemplo: na sucessão; tem sete filhos e um renuncia, sua parte volta para ser dividida igualmente entre os seis que
restaram.

Renúncia translativa: alguém renuncia algo que tem para beneficiar outra pessoa.

Exemplo: na sucessão, tem sete filhos e um renuncia a favor de outro, ou seja, sua parte fica para apenas aquele que
ele renunciou a favor, não volta para ser dividida igualmente entre os restantes.

- Inércia: falta de exercício, inação. O fato de uma pessoa não exercer um direito seu, não significa que ela vá perdê-
lo, ou seja, o direito não deixa de existir apenas porque não foi utilizado por um período. No entanto, por razão da
inércia, pode ser que se perca o direito por outros motivos. A inércia não é causa instintiva, mas ela pode levar a.
Exemplo: uma pessoa vai embora ou resolve viajar por anos e deixa sua casa “abandonada”, quando volta, sua casa
pode estar ocupada, por exemplo, por uso capião.

- Confusão: causa de extinção. Situação fática onde não consiga individualizar o titular do direito, e se não se sabe
quem é o titular, o direito se extingue para evitar a confusão.

- Morte: pessoas naturais, é causa extintiva da pessoa. Se morre o titular do direito, o direito não morre. A morte
não é causa extintiva como regra, alguns direitos permanecem e outros são extintos.

Exemplo: o titular do direito morre, mas o direito não, pois há, por exemplo, a abertura da sucessão. Seus direitos
serão transferidos para seus herdeiros em sua integralidade. As obrigações, como as dívidas, por exemplo, não
podem ser herdadas, não se pode receber débito. Ao abrir a sucessão, verifica-se créditos e débitos, paga-se a dívida
com a herança, assim, os herdeiros deixam de receber parte da herança para o pagamento das dívidas, mas essas
não podem ser herdadas. A partilha da herança é feita a partir do valor que restar e caso a herança pague apenas
parte da dívida e falte pagar uma parte, essa ficará em aberto, pois ninguém pode ser obrigado a pagar uma dívida
que não contraiu.

Obrigação personalíssima: o direito é extinto porque só poderia ser exercido por aquela pessoa.

CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico também pode ser classificado em gratuito ou oneroso (comutativo ou aleatório) e em
solene/formal ou não solene/não formal.

Gratuito/Benéfico: o sujeito que pratica o negócio jurídico não possui nenhuma vantagem, mas pode gerar
vantagem para outra pessoa – no caso unilateral. No bilateral, se houver vantagem para uma só pessoa, também
será considerado gratuito (exemplo: doação).

Oneroso: o sujeito que pratica obtém vantagem (exemplo: compra e venda, vendedor tem o preço como vantagem e
o comprador tem o objeto como vantagem).

Oneroso comutativo: há existência de identificação ou individualização da vantagem no momento em que o negócio


jurídico é realizado. A vantagem pode ser mensurada e exigida.

Oneroso aleatório: a vantagem não será passível de exigência em toda e qualquer hipótese. A vantagem só pode ser
exigida se sobrevier o futuro incerto (direito condicional), o risco/dúvida existe e está restrito a prestação/vantagem
do negócio.

Solene/formal como sinônimos: a lei estabelece uma mesma forma.

Solene: a lei estabelece instrumento público como forma específica.

Formal: a lei estabelece forma diversa que não seja instrumento público.

Não solene/não formal como sinônimos: a lei não estabelece forma.

Teoria ponteana do negócio jurídico: observar existência, validade e eficácia.

A forma está sob o prisma da validade. Ela corresponde a elemento essencial geral de validade do negócio jurídico,
no entanto, o negócio jurídico tem como regra de que sua forma é livre, assim, a forma só será elemento essencial
geral de validade quando a lei exigir sua observância, se a lei não exigi-la, não pode considerar que a inobservância
da forma cause sua nulidade. No entanto, o particular também pode decidir pela adoção de alguma forma. Se a
forma não é atendida, o negócio jurídico se torna inválido por nulidade.

A invalidade pode causar nulidade ou anulabilidade:

- Nulidade: desatendimento/inobservância da forma, o negócio é nulo.

- Anulabilidade: o negócio é passível de anulação.


A forma não vale por si só, ela está a serviço de. Exigir a forma em determinados negócios seria uma garantia em
relação a eles.

O negócio jurídico se distancia dos demais atos jurídicos em razão da vontade, porque no negócio jurídico a vontade
é qualificada para atender a um objetivo, a uma finalidade específica.

A vontade no negócio jurídico é plena, objetiva, consciente e livre. Ela possui dois momentos:

- Primeiro momento – teoria subjetiva: no momento em que surge (produção de um pensamento intelectivo) à
conclusão de um raciocínio.

- Segundo momento – teoria concreta/objetiva: para fins legais. É considerada no momento em que for veiculada.

A vontade surge por algum motivo no raciocínio e parte para o mundo exterior no momento em que ela for
veiculada.

É possível reconhecer a vontade pelo silêncio? Não se a lei exigir declaração expressa. Sim se a lei não exigir
declaração expressa, desde que haja outros elementos que consintam com isso.

A lei diz que é necessário usar ambas as teorias, subjetiva e objetiva (vontade e intenção) – é determinada a
aplicação das duas teorias, no entanto, deve valer mais a intenção. Trabalha-se com presunção (exercício de
raciocínio lógico), afinal só se conhece o ato literal, no momento em que foi veiculado, não se conhece a intenção, é
necessário racionar para chegar até ela. A referência para chegar à intenção será sempre a disposição literal
(intenção > disposição lateral).

Os elementos essenciais gerais de validade são considerados como causa e tem como consequência a invalidade
devido à inobservância.

Não basta o ato ser lícito, o objeto também precisa ser lícito, possível (possibilidades física e jurídica – não dá para
buscar amparo na lei com um objeto impossível), determinado ou determinável. A inobservância de qualquer dessas
características acarretará a invalidade por nulidade.

- Comodato: empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.

- Mútuo: empréstimo oneroso de coisas fungíveis.

Eficácia: precisa produzir efeitos, ser eficaz, atingir o objetivo. A eficácia deve ser observada a partir da realização do
negócio. Os efeitos são relacionados a elementos acidentais gerais (modalidade específica do negócio jurídico).

A adoção de um elemento acidental geral é facultativa, ele pode ser adotado ou não, ou seja, ele é abstratamente
faculdade, mas se o particular escolher utilizá-lo, ele passa a ser obrigatório. Com a adoção de um elemento
acidental geral, o negócio jurídico se distingue dos demais. No entanto, alguns direitos não são compatíveis com
elementos acidentais gerais (exemplo: direito à vida, direito à liberdade, direitos de família puros, etc.).

Os elementos acidentais gerais são: condição, termo e encargo.

CONDIÇÃO: cláusula que é definida pela voluntariedade das partes, causando evento futuro incerto. A condição
precisa ser possível e lícita, ela não se admite como puramente potestativa (arbitrária). – possível e lícita

A lei não impede a condição potestativa, ela impede a condição puramente potestativa. A condição pode ser
simplesmente potestativa.

Requisitos para a condição: voluntariedade/vontade, futuridade (algo que está por vir) e incerteza.

A condição é impossível de ser verificada para saber se ocorrerá ou não. Ela não guarda qualquer vínculo que tenha a
ver com a natureza do negócio realizado, ou seja, o negócio existe independente da condição.

Existem duas espécies de condição previstas em lei: suspensiva e resolutiva.

Condição suspensiva: os efeitos do negócio jurídico dependem do evento futuro incerto, o negócio só ocorrerá caso
o evento se concretize, ou seja, os efeitos ficam suspensos enquanto a condição estiver pendente. – invalidade do
negócio como um todo
Condição resolutiva: traz o fato de fazer cessar efeitos do negócio jurídico. O negócio é realizado, produz efeitos,
mas eles cessam quando se verifica o evento futuro incerto. – inexistência da condição; prevalece o negócio jurídico

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

- as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

- as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

- as condições incompreensíveis ou contraditórias.

A condição suspensiva tem como risco a invalidade do negócio como um todo e a resolutiva tem como risco a
inexistência da condição/prevalece o negócio jurídico.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisas impossível.

TERMO: elemento acidental geral. Não há necessidade da inserção no negócio jurídico. Ele corresponde a evento
futuro certo (possível e lícito) – não pode ser impossível nem ilícito.

Não há incerteza no termo, a única dúvida é de quando o negócio ocorrerá. É espécie de direito futuro, só falta a
ocorrência do evento futuro certo para que se torne direito atual.

Termo “a quo”: termo inicial – momento em que o direito futuro certo passa a ser atual.

Termo “ad quem”: termo final – momento em que o evento futuro certo põe fim a um direito.

Os termos “a quo” e “ad quem” podem ser estabelecidos juntos ou separados.

Exemplo: aluguel de primeiro de julho a 31 de julho. Dia primeiro será o “a quo” e dia 31 será o “ad quem”. Algo que
se inicia hoje não possui termo “a quo”, pois não é futuro, ou seja, se não houver termo inicial, não é espécie de
direito futuro, é atual.

OBSERVAÇÃO

Prazo: espaço de tempo, lapso temporal, entre a realização do negócio e a ocorrência do evento futuro certo.

Na contagem do prazo, ignora-se o primeiro dia e conta-se o último, salvo disposições por lei ou por vontade.

- Vencimento do prazo: dia útil, se não for, prorroga-se para um.

- Início do prazo: dia útil, se não for, prorroga-se para um.

- Prazo em ano ou em mês. Vencimento: dia equivalente, se não houve, dia subsequente (também deve ser dia útil).
O vencimento do prazo em mês também pode ser no meado do mês, 15º dia.

ENCARGO: (direito atual) elemento acidental do negócio jurídico, mas não subordina efeito, ele produz efeito. O
direito se observa desde o momento em que o negócio jurídico é realizado, pois o encargo não é obrigatório, ele é
específico, só cabe a negócios gratuitos ou benéficos e não verifica vantagem para quem o realiza.

O encargo corresponde a uma restrição, um limite imposto a um direito, podendo haver, ou não, a sua inserção. Mas
se ele for utilizado, é necessário atendê-lo e se, eventualmente, ele não atendido, será necessário fazer uma
revogação do negócio jurídico por via judicial.

O negócio será aperfeiçoado com o encargo, que pode dizer respeito ao próprio instituidor (beneficiário), pessoas
indicadas, benefício da coletividade (sociedade).

Quando a identificação do elemento acidental não for viável, será considerado encargo.

Por exemplo, uma pessoa vai doar um terreno para que ocorra a construção de uma praça, mas no negócio jurídico,
ela afirma que para a doação ser concretizada é necessário que ocorra a construção, então, o Ministério Público
exigirá o cumprimento do encargo ou o instituidor fará uma revogação da doação.
O Ministério Público não tem o poder de revogar, apenas de exigir o cumprimento. Ele é o fiscal da lei, atual em
nome da sociedade. E a revogação só tem pode pretender é o instituidor.

Diferença entre encargo e condição:

Na condição, por exemplo, a doação só é concretizada caso a condição seja cumprida.

No encargo, por exemplo, a doação é concretizada e caso o encargo não seja cumprido realiza-se a revogação ou
obriga-se o seu cumprimento.

VÍCIOS DE CONSENTIMENTO E VÍCIOS SOCIAIS

Os vícios de consentimento são: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. Os vícios sociais são: fraude contra
credores e simulação. Todos eles, exceto a simulação possuem anulabilidade (nulidade relativa) e a simulação possui
nulidade (invalidade absoluta).

O erro, o dolo, o estado de perigo e a lesão possuem um ponto em comum: o defeito de verifica na própria vontade,
quem sofre a consequência é quem realiza o ato. E a fraude contra credores e a simulação também possuem um
ponto em comum: quem pratica o ato viciado sabe o que está fazendo e o faz porque quer, com uma finalidade
determinada – o defeito se verifica na prática do ato com finalidade de prejudicar alguém lá na frente.

à Credor quirografário: credor comum.

- Credor: a quem se deve dinheiro ou outra coisa.

ERRO DE FATO

O erro de fato é decisivo no negócio jurídico. Ele reside na vontade, é a má apreciação da realidade/vontade. O erro
de fato é substancial, principal, espontâneo, escusável e dotado de cognicibilidade (conhecimento – se soubesse não
cometeria).

- Natureza do negócio. Exemplo: contrato de locação, a pessoa acha que está pagando para comprar, mas é apenas
locação – proteção jurídica apenas para atos de boa fé.

- Qualidade essencial do objeto. Exemplo: quer anel de ouro, se não for de ouro, não quer.

- Qualidade essencial da pessoa. Exemplo: anulação de casamento, adota comportamento diferente do que adotaria
– por exemplo, descobre que o parceiro é homossexual.

O erro é espontâneo, não existe má fé na situação fática. O erro é suscetível de anulação caso a vontade não seja
atentiva.

ERRO ≠ DOLO

Erro: espontâneo, de boa fé.

Dolo: provocado, de má fé.

ERRO DE DIREITO

Não se admite isenção do cumprimento de lei por desconhecimento ou ignorância – lei de introdução ao código civil.

Art. 139. Inciso 3. O negócio jurídico é passível de anulação por erro de Direito, assim, é compatível com a lei de
introdução. Não se pode deixar de cumprir a lei por ignorância, mas pode, para cumprir a lei, anular o negócio
jurídico com base em um erro de Direito.

Hipótese: pode ocorrer quando não for para recusar/contraria a lei, e é exatamente o contrário, ocorre para que se
aplique a lei.

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. – Ou seja, não
repercute de modo a anular o negócio jurídico. Se o erro incidir sobre o motivo não poderá ocorrer anulação, a não
ser que seja expresso para a razão determinante do negócio.
Exemplo: aluga-se um espaço para instalar uma farmácia devido à inauguração de um hospital. Se esse motivo
estiver expresso no contrato/negócio, será passível de anulação, caso contrário, o negócio não poderá ser anulado.

O erro não é compatível com a má fé, a pessoa que erra está, teoricamente, agindo de boa fé.

DOLO

O dolo é provocado, vício ou defeito que se opera no negócio jurídico e possibilita sua anulação (é causa de anulação
do negócio jurídico). – (Difere do dolo penal).

“Dolus Bonus”: não leva ao erro, não produz engano, não tem a finalidade de enganar. Não é causa de anulação – é
o enaltecimento/exacerbação de uma qualidade.

“Dolus Malus”: é de má fé. É a causa de anulação do negócio jurídico. Contém o propósito de enganar, é o erro
provocado por alguém.

Não é possível reconhecer na mesma hipótese o erro e o dolo, é apenas um ou outro, eles não ocorrem ao mesmo
tempo. Se houver dolo, ele absorve o erro.

Só quem tem legitimidade para propor ação anulatória é a vítima do dolo, aquele suja a vontade tenha sido violada
por dolo, nesse caso.

Dolo como razão determinante do negócio jurídico: pode ser anulado.

Dolo apenas primário, se o negócio se realizasse de outra maneira, não caberia anulação. O dolo secundário não
autoriza anulação, apenas indenização.

Dolo bilateral: um pretende enganar o outro e vice-versa. O juízo se verifica em ambas as partes, os dois agiram de
má fé. Não cabe anulação nem indenização – a lei não protege ninguém porque ninguém agiu de boa fé, a má fé foi
recíproca.

O protegido no solo será o indivíduo que foi induzido a ele. O vício se verifica a partir do momento em que ocorre a
má fé.

DOLO COMISSIVO

É o comportamento ativo.

Exemplo: pessoa que anel de ouro e o vendedor a faz acreditar que tais anéis são de ouro, mesmo não sendo à
comportamento ativo.

DOLO POR OMISSÃO

É o comportamento omissivo ou ação omissiva. A pessoa omite uma informação por malícia, omissão maliciosa ou
omissão reticente – qualquer omissão maliciosa caracteriza dolo.

Exemplo: a pessoa quer um anel de ouro e leva o anel pensando que é ouro, a obrigação do vendedor é esclarecer e
informar que o material não é ouro, no entanto, ele permanece em silencio, fazendo o comprador acreditar que é
ouro.

DOLO DE TERCEIRO

O “terceiro” é um estranho ao negócio jurídico, ele não está realizando o negócio, mas age com dolo.

Exemplo: em uma loja, a pessoa Y quer comprar um anel de ouro, e outra pessoa X que não tem nada a ver com a
loja, faz o comprador acreditar que o anel é de ouro, sendo que não é.

É preciso analisar o sujeito que foi beneficiado pelo dolo, se tem conhecimento (se tiver, deve evitar, se não evitar,
agiu de má fé também, mesmo não sendo quem cometeu o dolo), cabe anulação do negócio jurídico, ou seja, com o
conhecimento da loja, o negócio jurídico é anulado em relação à loja e indenização em relação ao terceiro e/ou à
loja. Se não houver conhecimento da loja, não pode haver anulação do negócio jurídico com base no dolo de
terceiro, mas cabe ação indenizatória em relação ao terceiro.
COAÇÃO

Coação é ócio de consentimento, a vontade é viciante.

COAÇÃO ABSOLUTA

A coação absoluta é a supressão da vontade, diz respeito a um mal grave, a pessoa não tem margem de escolha.

Exemplo: exigência decorrente de roubo em que o ladrão tenha porte de arma de fogo, a vontade foi do ladrão, mas
nós acabamos por fazer a vontade dele.

A coação absoluta suprime a vontade, considera-se que o vício é nulo.

COAÇÃO RELATIVA

Na coação moral ou relativa, existe a possibilidade de não ceder. O legislador nos protege em relação: ceder à
coação? Pode ceder, pois se, ocasionalmente, esse ato decorrer de coação, o vício autoriza a propositura da nulidade
do ato. O ato pode ser anulado. Hipótese em que a vontade foi discriminada pelo coator, havendo margem de
escolha.

Requisitos:

1. Intenção: diz respeito ao coator. Ele agiu com a intenção de coagir?

2. Decorrência: o comportamento do coagido foi determinado pelo do coator?

3. Injusto: o não atendimento da exigência tem como consequência um mal, um resultado prejudicial a mim?

4. Mal grave concreto: no tocante à gravidade estipula-se um padrão ao homem médio e o mal grave avaliado em
situação concreta (o que é para mim, pode não ser para outro). A lei adota a situação concreta (depende da idade,
pessoa, etc.).

Exemplo 1: Se você não for para a aula e for para o bar, contarei para seus pais – coação foi chata e não grave, não
implica no desvio da vontade.

Exemplo 2: Se falarem para a professora não ir à aula é diferente.

Exemplo 3: Relação de débito e crédito. Se em 24 horas o devedor não pagar, eu vou pedir a decretação de sua
falência, mas ele é comerciante e com isso ele não poderia exercer mais a sua função. O mal é gravíssivo, mas não é
injusto, porque ele está agindo no limite de seu direito. Não pode pedir anulação, porque apesar de constrangido,
ele pagou o que devia. Justo, o credor estava exercendo seus direitos.

*O mal grave deve ser concreto, iminente e injusto.

5. Pode recair à pessoa, à família do coagido: faça isso caso você não faça, haverá consequência negativa para seu
filho e ainda um terceiro (entrando a família do coagido).

Exemplo: casal de namorado, o namorado sofre coação, constrangimento para ele realizar algo, caso não faça,
consequência negativa à natureza, logo ele tem que ceder ao constrangimento.

COAÇÃO DE TERCEIRO

Com relação ao negócio jurídico. O sujeito vai coagir para obter vantagem para terceiro, não para si próprio. O
coator constrange para beneficiar terceiro.

Exemplo: o coator faz a exigência, faça a doação a fulano de tudo, porque se não eu vou expor seu filho a um mal
grave.

RESSALVA: pelo código de 1916 há causa de anulação. O código atual é fundado na boa fé, então não é sempre causa
de anulação, se o sujeito beneficiado pela coação tem conhecimento = má fé, cabe ação anulatória. Se ele não sabia
e não tinha motivo, não agiu de má fé, não cabe ação anulatória e sim indenizatória – semelhante ao dolo de
terceiro.
SIMPLES TERMO REVERENCIAL

Corresponde ao respeito que deve ser observado nas relações interpessoais (família, trabalho, estágio, etc.).

Exemplo: professor grita “calem a boa”, não é coação, logo não cabe nada. Limita no exercício de direito, não pode
ser abusivo.

ESTADO DE PERIGO

O estado de perigo se assemelha ao estado de necessidade.

Exemplo: naufrágio com um bom nadador e uma pessoa que não sabia nadar, mas rico. O rico diz que vai transferir
todo seu dinheiro se o nadador o salvar. Na hora ele realiza o ato, pois era uma situação de risco. A situação que
compromete a vontade é a situação de risco.

A vontade que pratica o ato sofre influência da situação de risco, se não houvesse o risco, ele não teria agido de tal
forma.

Necessidade de preservação: da pessoa, da família da pessoa e de alguém que não é da família, mas que há razão de
preservar.

Exemplo: pai inteiro um filho e dá um cheque de 100 mil reais que não possui. À necessidade premente e risco.

Para anular o negócio tem que haver necessidade de risco e conhecimento (vai se beneficiar com o negócio) pela
outra parte, igual ao dolo de aproveitamento; e obrigação excessivamente onerosa.

Exemplo: o hospital sabe que estou em necessidade e em situação de risco, aproveita disso para cobrar alto, pois
sabe que será pago.

Excessivamente oneroso: há disparidade (um está ganhando com isso) – um paga muito, mas outro ganha com isso,
é desproporcional em relação à prestação.

Reconheceu a presença da má fé. Houve o negócio excessivamente oneroso, instituidor pode anular o negócio.

LESÃO

A necessidade que caracteriza a lesão corresponde à necessidade negocial, ou seja, não há risco. Precisa realizar o
negócio.

Exemplo: ela resolve vender os bens e colocar na poupança. Vendeu um bem por 100 e descobriu depois que valia
300 – a vontade dela não seria essa se ela tivesse o domínio total da situação.

Há desproporcionalidade (quando há descompasso – exemplo: vale 100 e vende por 99).

Necessidade negocial implica na desproporcionalidade, não precisa ser conhecida pelo outro, afasta a má fé.

Tem que haver aproveitamento do negócio jurídico.

Admite abrir mão do proveito, pois não há dolo de aproveitamento (não há má fé para caracterizar). Autoriza a
continuação do negócio se cessar a desproporcionalidade – há acordo, paga a diferença ou anula o negócio.

FRAUDE CONTRA CREDORES

Situação específica: é necessária a figura de um devedor insolvente (aquele que a capacidade de cumprir com a
obrigação é inferior) ou em vias de tornar-se insolvente.

Devedor insolvente: abre mão dos bens, repercutindo de forma negativa em relação aos credores quirografários
(aqueles que não têm assegurados antecedente seus bens). Devedor dispõe de bens.

A lei protege o credor quirografário (não tem garantia específica que precisa manter bens).
Relação de débito e crédito tem que se verificar antes da insolvência (não consegue cumprir com as suas obrigações)
– quem contrata com insolvente já sabe que ele não vem cumprindo com as suas obrigações, não pode alegar
fraude.

A fraude se verifica no ato de disposição do devedor insolvente com o objetivo de atingir credo quirografário (não
consegue satisfazer seu crédito).

Fraude contra credores. É todo ato praticado pelo devedor com a intenção de fraudar os seus credores do que lhes é
devido.

Nesta razão, qualquer manejo ou maquinação oculta do devedor, para fugir ao cumprimento de suas obrigações,
seja desfalcando seu patrimônio, por meio de alienações ou qualquer outros atos de disposição, que se mostrem
injustos e prejudicados aos interesses de seus credores, indica-se fraude contra os credores.

Ocorrida a alienação e evidenciadas a diminuição do patrimônio do devedor, ou a sua insolvabilidade, assinala-se o


prejuízo aos credores (eventus damni), em que se frauda e onde está o caráter de fraude contra os credores.

O consilium fraudis, que é a má fé ou fraude dos que participam do ato fraudulento, decorre da circunstância, em
que o ato se operou, sendo, por ela, ordinariamente presumível. A intenção do devedor em causar o prejuízo aos
credores e o conhecimento por parte da pessoa com quem o devedor contratou, de que o ato viria a trazer prejuízo
aos credores dele, constituem o consilium fraudis.

Os atos praticados em fraude contra os credores são anuláveis, a fim de que se revoguem e volte o patrimônio do
devedor ao estado anterior.

*NECESSIDADE DE TER OS ELEMENTOS OBJETIVO E SUBJETIVO JUNTOS!

ELEMENTO OBJETIVO

O elemento objetivo é concreto, é o elemento danoso, corresponde ao próprio ato de disposição pelo devedor
insolvente.

ELEMENTO SUBJETIVO

Elemento subjetivo = “concilium fraudis” (concílio fraudatório), corresponde à intenção de frustrar/atingir ou não o
credor.

Exemplo: dispõe de bem para levantar capital para deixar guardado – frustrou o credor.

1. Ato a título gratuito Presumido pela lei (elemento subjetivo 2. Perdão da dívida está presente) 3. Atos a título
oneroso 4. Pagamento antecipado da dívida Precisa identificar elementos objetivo e subjetivo 5. Constituição
posterior de garantia

1. Ato a título gratuito

Exemplo: devedor insolvente pratica contrato de doação de seus bens (não possui mais nada), não tem como honrar
seus compromissos – pode doar, mas primeiro tem que pagar a dívida. Mas está fazendo a doação para não pagar a
dívida (pais com dívidas doam bens para filhos para proteger os bens).

2. Perdão da dívida

Devedor insolvente credor devedorjpgA= devedor insolvente, B= credor quirografário, C= devedor

A deve para B que é credor de C. A perdoou C, mas isso prejudica B que é credor de A – renúncia ao crédito.

3. Atos a título oneroso

O devedor insolvente realiza o ato de disposição de bens a título oneroso para fazer remessa para paraíso fiscal (se
for identificado elemento subjetivo será fraude).

EXCEÇÃO: Se for para sustentar a família, aumentar negócio para pagar credor, OK.

4. Pagamento antecipado da dívida


O pagamento antecipado da dívida pode ou não ser fraude – depende se o elemento subjetivo for identificado.

Exemplo: está pagando porque daqui pra frente não pagará mais.

5. Constituição posterior de garantia

Credor quirografário transformado em credor com garantia prejudicando outros será fraude (tem que haver mais de
um credor quirografário).

Exemplo: 3 credores quirografários – vou dar um bem para um credor para a garantia de caso não consiga pagar, ou
seja, dei preferência para um, prejudicando os outros. As dívidas possuíam a mesma natureza, eu alterei a natureza
de um em detrimento das outras. – Analisar elemento subjetivo.

Mecanismo de evitar consumação da fraude:

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente,
o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.

Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda
ao valor real.

O artigo só pode se aplicar nos atos a título oneroso.

Fraude não ultimada/concretizada: vende um bem, o dinheiro do bem é depositado em juízo para que os credores
peguem como pagamento – não caracteriza fraude.

Ação Pauliana: discutir fraude contra credor. Somente credo quirografário pode ajuizar contra o devedor para
anular/revogar o ato.

Ação Paulina (do dicionário de vocabulário jurídico). É a ação que assiste aos credores para o fim de anularem atos
praticados pelo devedor, dolosamente e sob fraude, que tenham onerado ou alheado bens de sua propriedade,
sendo estes, os únicos que poderiam ser usados para solver seus compromissos.

Desse modo, o credor, que se julga assim lesado, pede a reversão dos bens fraudulentamente alienados ou a
revogação do ônus dolosamente promovido, a fim de que possa sobre eles correr a excussão já iniciada ou
despachada, e se possa cobrar sobre o produto de sua venda.

Tem também os nomes de ação revogatória ou ação revocatória.

São elementos para a sua procedência:

- provar a insolvência do devedor;

- demonstrar que houve o intuito de fraudar o credor (concilium fraudis);

- evidenciar que o ato provocou prejuízo ao credor (eventus damni).

SIMULAÇÃO

A simulação ocorre quando deixou de proteger um interesse privado e passou a proteger um interesse público,
sendo causa de nulidade (não admite ratificação, não sofre com o tempo, não convalida). Corresponde à situação em
que o sujeito apresenta um ato aparente, que tem por intenção do sujeito, mas por trás desse ato possui o real
objetivo que o sujeito quer esconder.

Quem realiza o ato simulado sabe o que está fazendo e a consequência negativa será sofrida por alguém que não
sabe.

Exemplo: casal casado em regime de comunhão de bens decide se divorciar e o marido não quer dividir todos os
bens. Para isso, ele combina com um amigo (ato simulado) a existência de uma dívida (engana a mulher). A mulher
concorda em transferir bens para o amigo como quitação da dívida. Ele ostenta a dívida e a transferência de bens,
mas a dívida não existe e feita a partilha de bens ele “pegaria” de volta os bens transferidos e ficaria com mais –
quem age de modo simulado se abastece de cautelas para eventuais riscos.
Ato simulado é ato aparente, não se caracteriza com real intenção.

Simulação absoluta: a declaração enganosa da vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não
havendo intenção de realizar ato negocial algum.

Exemplo: caso da emissão de títulos de crédito, que não representam qualquer negócio, feita pelo marido antes da
separação judicial para lesar a mulher na partilha de bens.

Simulação relativa: ato aparente/simulado ocultando a natureza de outro ato. Apresentam-se dois contratos: um
real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar de terceiros o contrato real, que é o querido por eles.

Exemplo: contrato de compra e venda com valor de 1 milhão, declara que o negócio foi realizado sob 700 mil, assim
o imposto será recolhido em cima desse valor. Negócio aparente. Compra e venda por 700, mas por trás desse
ocorre outro negócio, a compra e venda por 1 milhão. – Decretada a nulidade do ato aparente (nulidade da compra
e venda por 700), há existência de outro ato (ato dissimulado, que quer esconder; compra e venda por 1 milhão).

Na simulação relativa, o negócio simulado/aparente é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem
causar prejuízo a terceiros. E o aproveitamento do negócio dissimulado não decorre somente do afastamento do
negócio jurídico simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e formais de
validade daquele.

A nulidade diz respeito à simulação, no ato dissimulado, é possivelmente aproveitado (art. 167).

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na
forma.

Inciso 1º. Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem;

II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

Inciso 2º. Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Caracterizar simulação:

- Normalmente se realiza um ato de bilateralidade;

- Há realização de acordo (Exemplo: marido e amigo sabiam; vendedor e comprador sabiam do real valor);

- Existe na simulação: malícia, má fé.

Simulação inocente: não se verificava prejuízo decorrente do ato aparente. É causa nulatória, por isso não é
necessário verificar pessoa prejudicada, pois a própria estrutura do negócio será prejudicada.

Exemplo: homem não casaco realiza “doação” e chama de compra e venda com a mulher, havendo um acordo entre
eles, ninguém sofreu prejuízo.

PROVA EM RELAÇÃO AO ATO

A prova em relação ao ato visa demonstrar, comprovar algo em relação aos atos jurídicos. O ato é provocado de
acordo com a forma do ato.

Exemplo: casamento, a prova no tocante à forma é a certidão de casamento; contrato por meio de escritura pública;
etc. À atos para os quais a lei determina a forma.

Atos com forma livre: comprovação é feita por qualquer e todo tipo de prova, menos a prova ilícita. Qualquer meio
útil para demonstração. Não existe uma prova melhor que a outra, todas possuem o mesmo “peso”, é analisada no
contexto, no conjunto.
1. Confissão: reconhecer algo que seja desfavorável (contraria os meus interesses, mas vou admitir) – ninguém é
obrigado a falar a verdade (ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo).

2. Prova testemunhal: a testemunha tem compromisso com a verdade, já que fez juramento, não podendo mentir
nem omitir, que incide o falso testemunho (obrigatoriedade em relação à verdade) = múnus público.

Relatar aquilo que sabe é objetivo.

Algumas pessoas não podem ser testemunhas: crianças, pessoas com interesse na questão, pessoas que mantêm
inimizade (não possuem imparcialidade).

Na prática, às vezes pessoas que não podem ser testemunhas precisam ser ouvidas, não como testemunhas, mas
como declarantes. Não estão sob compromisso, se faltar com a verdade, não incide em falso testemunho. Não
invalida como prova, é útil à prova, respectivas declarações são utilizadas como provas.

3. Prova documental: tudo aquilo que admite registro. Pode ser público se sua origem for um ente público e
particular se for emanado de forma particular.

4. Perícia: avaliação feita por um técnico. A prova pericial pode assumir inúmeros vieses, vai de acordo com o que se
quer demonstrar.

5. Presunção: é conclusão, quem presume não sabe. É decorrência de raciocínio lógico. Parte-se de um fato
conhecido para concluir sobre um fato desconhecido.

- Comum ou omnis: é aquela que todos têm, varia de pessoa para pessoa, de acordo com a idade, escolaridade.

- Legal: que decorre da lei.

- Relativa: quando em relação a ela caiba prova em contrário (exemplo: paternidade).

- Absoluta: quando não cabe discussão sobre ela.

Para comprovar um mesmo ato, podem ser utilizados quantos meios de provas quiser. Tem que se valer da prova se
ela for útil, tem que ser realizada dentro da sua necessidade.

Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo
valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.

Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária
ou complementar da prova por escrito.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Dois institutos diferentes com uma mesma finalidade, que é a estabilidade, segurança jurídica com o tempo
interferindo no direito. Para discutir violação, deve-se haver limites. Deve-se haver prazos para propositura (propor
ação).

PRESCRIÇÃO AQUISITIVA

O tempo na posse do bem possibilita sua aquisição.

Exemplo: usucapião.

PRESCRIÇÃO EXTINTIVA

Ela promove a extinção do direito de ação. A prescrição extintiva somente se opera em benefício ou em relação aos
direito pessoais. Sua finalidade é liberar o devedor da obrigação que lhe era imposta, desde que o credor
negligenciou o seu direito, por tempo que a lei assinalou, não pode mais exigi-la.

O tempo não atinge o direito propriamente dito, vai atingir a capacidade de atingir o direito.

Para que ocorra é indispensável:


- a fixação legal de um tempo;

- o decurso desse tempo;

- a inação ou negligência por parte do titular do direito.

O prazo fixado começa a correr do momento em que surge a ação, ou seja, em que nasce a ação (actio data).

Incide em matéria de ordem patrimonial.

Exemplo: relação de débito e crédito. Maria emprestou dinheiro em 1970, José deveria pagar em 1972. Maria
deveria propor ação de cobranças, mas não propôs. Hoje, em 2012, ela resolve propor ação, mas não receberá, pois
a dívida está prescrita.

José pode pagar se quiser, pois o tempo interferiu na capacidade de exercer o direito, a capacidade de defesa.

DECADÊNCIA

É a queda ou o perecimento de um direito, pelo decurso do prazo prefixado ao seu exercício, ou seja, a queda ou
perecimento de um direito pela falta de ser exercício no intervalo assinalado pela lei. Na decadência o direito e o
poder de exigir nascem junto, há uma identidade. Incide em matéria de ordem pessoal.

CLASSIFICAÇÃO DA AÇÃO:

Pode classificar a ação a partir do que a parte pretende obter.

1. Ação meramente declaratória: não tem prazo, o tempo não interfere. Exemplo: reconhecimento de paternidade.

2. Constitutivas (decadência):

- Positiva: quer declaração desconstitutiva.

- Negativa: desconstitutiva: anula (prazo para propor ação é decadencial).

A decadência é o prazo que a pessoa tem pra entrar com a ação constitutiva (constitui um direito), ao perder o
prazo, a pessoa perde o direito e não pode mais entrar com a ação.

3. Condenatória (prescrição): provimento condenatório (prazo prescricional).

Exemplo: ordene o pagamento da dívida.

Toda hipótese de prescrição tem origem na lei.

Origem da decadência: matéria de ordem pública = lei, vontade (decadência convencional).

PRESCRIÇÃO

DECADÊNCIA

A parte tem que requerer para que o juiz defina. Poderia ser reconhecida de ofício só se beneficiasse incapaz
(revogado).

Art. 194 revogado pela lei 11280/06. O juiz pode decretar a prescrição de ofício para todas as situações – o prazo
pode sofrer suspensão e interrupção (prazo prescricional está em curso).

Não admite suspensão nem interrupção.

- Suspensão: o prazo está correndo, mas ele fica suspenso, desaparecida a causa suspensiva, volta a contar os meses
restantes.

- Interrupção: prazo em curso é rompido, tendo que começar tudo do início, não pode aproveitar. Devolve-se a
integralidade do caso – devolução integral.

O beneficiado pode renunciar, pois o direito é dele. No caso do devedor, se ele quiser pagar, ele está renunciando.
Não cabe renúncia, já que é matéria de ordem pública (propõe ação anulatória se quiser). Quando decorre de lei não
cabe renúncia, somente se tiver origem na vontade.

Art. 197. Não corre a prescrição:

I. Entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II. Entre os ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

III. Entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

“Não corre”, pode ser impedimento ou suspensão, pois as causas são as mesmas, só se saberá ao relacionar com o
negócio jurídico.

Exemplo: Maria empresta dinheiro para José e ele não paga.

- Casam depois da dívida à causa suspensiva, prazo é suspenso.

- Já são casados à causa impeditiva.

Art. 198. Também não corre prescrição:

I. Contra os incapazes de que trata o art. 3º;

II. Contra os ausente do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;

III. Contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas em tempo de guerra.

Não corre a prescrição, suspende ou impede.

Exemplo 1: Maria empresta dinheiro para José. Ele foi para Paris porque trabalha no consulado brasileiro (ele devia
ter pago enquanto ainda estava aqui), como está a serviço do governo brasileiro, o prazo não flui. À Causa
suspensiva.

Exemplo 2: Maria já morava em Paris quando emprestou à Causa impeditiva. Ela não pode cobrar direito pessoais.

Exemplo 3: José estava em Paris, ele volta e ela quer cobrar, não pode. Ela poderia ter cobrado enquanto ele estava
lá.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:

I. Pendendo condição suspensiva;

II. Não estando vencido o prazo;

III. Pendendo ação de evicção.

Não corre prescrição, pendendo a condição suspensiva. Pendente = ainda pode acontecer. Ou seja, o prazo pode
fluir se o evento futuro incerto sobrevier, vire direito adquirido e o direito for violado.

A interrupção aplica-se à prescrição – sem preocupação com as hipóteses de interrupção – saber como ocorre e
causas.

Causas de interrupção (o direito é violado, pessoa propõe mediante ação): só pode haver interrupção uma vez no
prazo prescricional.

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Prescrição intercorrente é a modalidade de prescrição extintiva que ocorre durante o processo. Assim, ocorre essa
prescrição quando a parte deixa de providenciar o andamento do processo, possibilitando a interferência.

Quando o Estado (União, Municípios, DF, etc.) for o devedor, não será aplicado o Código Civil. Aplica-se o decreto
10910 de 1932 – ajuíza a ação, interrompe-se o prazo e terá depois o prazo pela metade (por exemplo, no prazo de 5
anos, terá 2 anos e meio). No entanto, se o estado for o credor, será aplicado o Código.

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