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LEGISLAÇÃO
PENAL ESPECIAL
• Como adotamos o critério legal, são hediondos somente os crimes elencados no art. 1º
da Lei 8.072/90. Por essa razão, não se fala, por exemplo, em hediondez na hipótese de
homicídio do Presidente da República, pois o art. 29 da Lei 7.170/83 não integra o rol.
– lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
– extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º);
• Infelizmente, o rol dos crimes hediondos está entre aqueles assuntos que devem ser
memorizados. Em prova, dificilmente será questionado se um crime “X” é o não hediondo. No
entanto, é possível que a banca pergunte a respeito de prazos de prisão temporária ou de
progressão de regime na hipótese de determinado delito, diferenciados em crimes hediondos.
A resposta é não. O que o dispositivo quis dizer: não é preciso que todos os integrantes do grupo
de extermínio participem da execução do homicídio para o reconhecimento de sua existência
ou de sua hediondez.
• Não confunda grupo de extermínio com concurso de pessoas. Se Caio, Tício e Mévio
decidem matar João, a hipótese será de homicídio em concurso de pessoas, e não de grupo de
extermínio. Por outro lado, se o trio decide matar torcedores de determinado time, estará
caracterizado o grupo de extermínio. Explico: a principal característica do homicídio em
atividade típica de grupo de extermínio é a impessoalidade. A vítima é assassinada em razão de
alguma característica especial (ex.: ser mendigo), e não por ser “A” ou “B”. A sua identidade é
irrelevante para o homicida.
• Agora, imagine a seguinte situação: Tício, agindo com vontade de matar por motivo
torpe – logo, qualificado -, dispara tiros contra Mévio. No entanto, por erro na execução, atinge
Caio, que vem a falecer. Pergunto: o fato de Tício atingir pessoa diversa da pretendida afasta a
hediondez do crime? E se Tício confundisse as vítimas, e, ao invés de atirar em seu inimigo,
matasse o seu irmão gêmeo? Nas duas hipóteses, o homicídio será hediondo. Isso porque, tanto
na hipótese de “aberratio ictus” (CP, art. 73) quanto na de “erro sobre a pessoa” (CP, art. 20, §
3º), leva-se em consideração a vítima pretendida, e não a efetivamente atingida. Logo, se o
homicídio foi praticado por motivo torpe (ou presente outra qualificadora), ele será hediondo,
ainda que o agente não mate a vítima desejada, mas pessoa diversa.
• Em 2009, o CP passou a contar com o § 3º em seu art. 158 (extorsão), com a seguinte
redação: “Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é
necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze)
anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.”. Trata-se do intitulado “sequestro relâmpago”, que, por
razões inexplicáveis, não foi incluído ao rol de crimes hediondos, ainda que ocorra a morte da
vítima. Alguns autores entendem que o delito seria hediondo em razão da remissão que o
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dispositivo faz ao art. 159, §§ 2º e 3º, mas o raciocínio não deve prevalecer, pois, como já dito,
o critério adotado para que um crime seja considerado hediondo é o legal. Ou seja, se um delito
estiver no rol do art. 1º da Lei 8.072/90, é hediondo. Senão, não.
• Perceba que o que a Lei 8.072/90 veda, em seu art. 2º, II, é a fiança, e não a liberdade
provisória. Portanto, é possível que o acusado por um crime hediondo aguarde o desfecho da
ação penal solto. O que não é possível, no entanto, é que a liberdade seja condicionada ao
pagamento de fiança, por expressa vedação legal, mas o juiz não está impedido de impor outra
das medidas cautelares do art. 319 do CPP.
• No art. 2º, § 1º, a Lei 8.072/90 afirma que o condenado por crime hediondo iniciará o
cumprimento da pena necessariamente em regime fechado, pouco importando o “quantum” de
pena fixado. Todavia, o STF, ao julgar o HC 111.840/ES, declarou, em controle difuso, a
inconstitucionalidade do dispositivo, e entendeu que o condenado por crime hediondo pode
iniciar o cumprimento da pena em regime diverso (aberto ou semiaberto). Significa dizer que o
dispositivo permanece em pleno vigor, mas tem sido afastado pelos Tribunais Superiores. O STJ
tem seguido o entendimento, como é possível constatar no HC 306.352/SP, publicado no dia 24
de fevereiro de 2015.
• A Lei 8.072/90, em seu art. 2º, § 3º, transmite a ideia de que, proferida a sentença
condenatória, ainda que não tenha ocorrido o trânsito em julgado, o acusado deverá, em regra,
ser preso, ainda que recorra da decisão – “Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.”. Entretanto, o fato de estar sendo
acusado por um crime de maior gravidade não retira do réu garantias constitucionais a todos
garantidas, como a presunção de inocência ou de não culpabilidade. Portanto, se o acusado
permaneceu solto até a sentença condenatória, só será possível a decretação da prisão
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preventiva se presentes os requisitos do art. 312 do CPP, senão, ele deverá permanecer solto,
não podendo o juiz vincular o conhecimento do recurso ao recolhimento à prisão.
• Para a compreensão da Lei de Execução Penal, é necessário que alguns conceitos sejam
previamente conhecidos. Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que, na esfera criminal, é
possível que alguém seja preso cautelarmente, quando ainda não exista sentença condenatória
transitada em julgado. Nesta hipótese, apesar de a pessoa ser inocente – afinal, não foi
condenada -, a restrição de sua liberdade é essencial para a defesa de interesses maiores, como
a ordem pública, na prisão preventiva. Por isso, fala-se em “cautela”, sinônimo de cuidado. Há
algo a ser preservado e o único meio de proteção é a prisão desse indivíduo, intitulado preso
provisório. Há três prisões cautelares: a prisão em flagrante, regulada nos artigos 301/310 do
CPP, a prisão preventiva, prevista nos artigos 311/316, também do CPP, e a prisão temporária,
da Lei 7.960/89.
• Quanto ao preso estrangeiro que cumpre pena no Brasil, é claro que a LEP é aplicável à
execução de sua pena. Não há motivo para distinção, afinal, a CF estende a ele, em seu art. 5º,
os direitos fundamentais reservados aos brasileiros. Mas, e se o preso estiver em situação
irregular no país? Sobre o tema, assim se manifestou o STJ, no Informativo n. 535/14: “O fato
de estrangeiro estar em situação irregular no país, por si só, não é motivo suficiente para
inviabilizar os benefícios da execução penal. Isso porque a condição humana da pessoa
estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito dos
direitos humanos. Com efeito, esses são aplicáveis não só às relações internacionais, mas a todo
o ordenamento jurídico interno, principalmente às normas de direito penal e processual penal,
por incorporarem princípios que definem os direitos e garantias fundamentais.” (HC 274.249-
SP, Relatora Marilza Maynard - Desembargadora convocada do TJ-SE -, julgado em 4/2/2014).
• No art. 1º, a LEP afirma que os seus regramentos também são aplicáveis aos internados.
Entenda: na hipótese de inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental
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incompleto (CP, art. 26) na época da ação ou omissão criminosa, o réu não é condenado, mas
absolvido. No entanto, a ele é aplicada a intitulada medida de segurança, que consiste em
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado, ou em sujeição a tratamento ambulatorial. Como, de certa forma,
ele está sendo punido, fala-se em absolvição imprópria, e, caso a internação lhe seja imposta, a
lei o considerará “internado”, sujeito ao que a LEP dispõe por expressa previsão em seu art. 1º.
No entanto, cuidado: o menor de dezoito anos também é inimputável, mas a ele não é aplicável
a LEP na hipótese de ato infracional.
• O art. 2º da LEP possui a seguinte redação: “A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais
da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na
conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal”. Na prática, o que o dispositivo que dizer
é que a atuação do Poder Judiciário não está limitada ao processo de conhecimento, mas
também à execução penal. Em consequência disso, em execução, incidem todos os princípios
da ação penal que gerou a condenação, a exemplo da ampla defesa, do contraditório, do devido
processo legal, da publicidade etc.
• Por fim, quanto ao objeto, a LEP assim dispõe em seu art. 1º: “A execução penal tem por
objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para
a harmônica integração social do condenado e do internado.”. Perceba que a lei é expressa em
dizer que o objetivo da execução da pena é a reintegração à sociedade daquele punido por
sanção penal. Ademais, a execução visa a efetivação do que dispõe a sentença, como se dá em
outras esferas do Direito. O dispositivo fala, ainda, em decisão criminal, em referência a decisões
interlocutórias proferidas durante a execução (ex.: decisão que determina a progressão de
regime).
• A Constituição Federal, em seu art. 5º, XII, assim dispõe: “é inviolável o sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas,
salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
fins de investigação criminal ou instrução processual penal”. Quanto à interceptação das
comunicações telefônicas, não há o que se falar, afinal, ao preso não é assegurado acesso a
telefones. No entanto, há algum tempo, o STF enfrentou a seguinte questão: o preso tem direito
à inviolabilidade do sigilo da correspondência? A resposta é afirmativa, mas com ressalva: “A
administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina
prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que
respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da lei 7.210/84, proceder a
interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da
inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas
ilícitas.” (HC 70814/SP).
• No art. 41 da LEP, estão elencados os direitos do preso – não farei a transcrição para
que este material não seja cópia da lei, mas peço ao leitor para que faça a leitura do dispositivo.
No parágrafo único do mesmo dispositivo, há a previsão de restrição, pelo diretor do
estabelecimento prisional, dos seguintes direitos do preso: a) à proporcionalidade na
distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; b) à visitação; c) ao contato
com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de
informação que não comprometam a moral e os bons costumes. O porquê deste parágrafo: caso
caia em prova algum questionamento acerca de necessidade de decisão judicial para que o
preso tenha algum direito restringido dentre aqueles do dispositivo mencionado, perceba que
a LEP legitima o diretor do presídio a impor as privações sem prévia manifestação judicial.
• É direito do preso a entrevista pessoal e reservada com o advogado (art. 41, IX). Em um
determinado presídio, a administração exigiu que a conversa fosse feita por meio de interfone,
sem qualquer interferência na comunicação. O advogado entendeu, no entanto, que a vedação
de comunicação direta, sem ser por meio eletrônico, violaria o direito de entrevista, e impetrou
HC questionando a imposição. O STJ assim se manifestou sobre o assunto: “1. Conforme
atestado pela autoridade administrativa competente, ao paciente foi assegurada a sua
entrevista de forma reservada e pessoal com o seu causídico constituído, cuja comunicação foi
estabelecida por meio de interfone, livre de interferência de qualquer agente biológico, ou seja,
respeitando-se a privacidade e sigilo que são inerentes ao exercício da advocacia. 2. E, ainda que
assim não fosse, depreende-se que o paciente entrevistou-se reservada e pessoalmente com o
seu causídico por ocasião da realização do seu interrogatório, circunstância que afasta do
alegado constrangimento ilegal. Precedentes. 3. Ordem denegada.” (HC 130.894/SP).
• A Constituição Federal, em seu art. 15, III, impõe a suspensão dos direitos políticos na
hipótese de sentença criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. E em
relação ao preso provisório, deve ser mantido o seu direito ao voto? A resposta é sim, pois não
há qualquer suspensão de direitos políticos em razão de decretação de prisão preventiva, por
exemplo.
do restante da população carcerária, para que sejam buscados os melhores meios para a sua
reintegração à sociedade através da imposição de pena. A classificação é realizada por uma
comissão, nos termos do art. 6º da LEP.
• Não por outro motivo, a Lei 13.167/15 alterou o art. 84 da LEP, devendo ser adotados
os seguintes critérios de separação de presos: “§ 1º Os presos provisórios ficarão separados de
acordo com os seguintes critérios: I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III -
acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos apontados nos incisos I e
II. § 3º Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes critérios: I -
condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados; II - reincidentes condenados pela
prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; III - primários condenados
pela prática de crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa; IV - demais
condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em situação diversa das previstas
nos incisos I, II e III. § 4º O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada
pela convivência com os demais presos ficará segregado em local próprio.”.
• Para que seja possível a ressocialização, é essencial que o preso seja assistido em suas
necessidades. Por isso, o Estado está obrigado a fornecer, direta ou indiretamente, assistência
material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa. Ou seja, a ele, o preso, deve ser
fornecida estrutura, material e imaterial, para que volte a conviver em paz com a sociedade.
Contudo, de nada adiantaria a assistência durante o cárcere se, no momento da soltura,
houvesse o total desamparo. Por esse motivo, a LEP, em seu art. 10, parágrafo único, estende
aos egressos o direito à assistência, para que o processo de ressocialização tenha maior chance
de êxito e o preso não volte a delinquir. São considerados egressos: a) o liberado definitivo, pelo
prazo de 1 (um) ano a contar da saída do estabelecimento; b) o liberado condicional, durante o
período de prova.
fechado: “1. Não se descura que esta Corte Superior, em casos excepcionais, tem admitido a
prisão domiciliar a condenados portadores de doenças graves, que estejam cumprindo pena em
regime fechado, desde que demonstrada a impossibilidade de receberem o tratamento
adequado no estabelecimento prisional. 2. No caso, indemonstrado o real estado de saúde do
Paciente, porque o mandado de prisão para o inicial cumprimento da pena ainda não foi
cumprido e o apenado não se submeteu aos exames médicos solicitados pelo Juízo das
Execuções, para comprovar a absoluta impossibilidade de tratamento dentro da unidade
prisional. Assim, o direito de recolhimento à prisão domiciliar não restou configurado. 3. Ordem
denegada.” (HC 212.526/DF). Também é possível a prisão domiciliar para o preso provisório
acometido de doença grave (CPP, art. 318, II).
• Por fim, ainda em relação à assistência à saúde, o Estado deve fornecer à presa gestante
acompanhamento médico, desde o pré-natal até o pós-parto, e esses cuidados devem ser
estendidos ao recém-nascido. Ademais, os estabelecimentos penais destinados a mulheres
serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive
amamentá-los até, no mínimo, 6 (seis) meses de vida. Além disso, a unidade prisional deve
oferecer meios que permitam o contato da presidiária com seu filho até, ao menos, os 7 (sete)
anos de idade, nos termos do art. 89, “caput”.
proveito próprio, e, após um tempo preso, esse distanciamento social é ainda maior. Por isso,
além de assistência material, à saúde e educacional, é necessário que o Estado crie uma “ponte”
entre o condenado e a sociedade, para que seja possível a sua reintegração, e isso se dá pela
assistência social. Não por outro motivo, os assistentes sociais devem obrigatoriamente integrar
as Comissões Técnicas de Classificação, vistas anteriormente (veja o art. 7º da LEP).
• A Constituição, em seu art. 5º, VI, assegura o livre exercício de culto religioso como
garantia fundamental. Ao preso ou internado, deve ser mantido o acesso à crença que quiser,
devendo o estabelecimento prisional fornecer local apropriado para o exercício de práticas
religiosas (art. 24, § 1º). Da mesma forma, é garantido o direito de não possuir qualquer crença,
escolha que não pode ser utilizada contra ele em exame criminológico.
• Inicialmente, vimos que a assistência deve ser estendida ao egresso, pois, para que seja
efetivo, o processo de ressocialização deve ter continuidade mesmo após o cárcere. Para a LEP,
são egressos: a) o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do
estabelecimento; b) o liberado condicional, durante o período de prova. Além de assistência
social, o egresso faz jus à assistência material. Tanto o é que, em seu art. 25, II, a LEP assegura o
direito a alojamento e alimentação, pelo período de 2 (dois) meses, após deixar o cárcere. No
entanto, esse suporte deve se dar de forma excepcional. Se necessário, o prazo pode ser
prorrogado por uma única vez, desde que demonstrado que o egresso tem se esforçado para
conseguir um emprego. O Estado deve auxiliar nessa busca do egresso por atividade
remunerada.
• No art. 26 da LEP está a figura do patronato, que tem como função prestar assistência
aos albergados e aos egressos. O patronato, órgão da execução penal, pode ser público ou
particular, e são suas incumbências: a) orientar os condenados à pena restritiva de direitos; b)
fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à comunidade e de limitação de fim
de semana; c) colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão e do
livramento condicional.
2.6 Do trabalho.
• O trabalho do preso deve ser obrigatoriamente remunerado, não podendo o valor ser
inferior a ¾ (três quartos) do salário-mínimo. No entanto, as suas atividades laborais não são
regidas pelas CLT – a LEP expressamente afirma que o trabalho do preso não está sujeito à
Consolidação das Leis do Trabalho. Portanto, não há o que se falar em 13º ou gozo de férias.
Isso não significa, contudo, que o preso não tenha direito a condições dignas de trabalho, como
qualquer outro trabalhador. A título de exemplo, não faz jus ao pagamento de hora-extra, mas
não pode ser forçado a trabalhar em jornada de trabalho desumana. Na hipótese de acidente
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• A cada três dias trabalhados, um dia da pena é descontado por força do instituto da
remição. Dessa forma, enquanto exerce a atividade, além de contraprestação financeira, o
trabalhador preso tem sua pena reduzida, ainda que o trabalho seja uma obrigação a ele
imposta. No entanto, só devem ser contabilizados os dias efetivamente trabalhados para fins de
remição, não havendo o que se falar em desconto durante o repouso semanal. Como já
explicado, o trabalho do preso não é regido pela CLT. Entretanto, na hipótese de acidente de
trabalho, estando incapacitado de voltar à atividade, o preso faz jus à remição, embora não
esteja efetivamente trabalhando. O STJ assim esclarece: “Somente o preso que fique
impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-
se com a remição, nos termos do § 4º do art. 126 da Lei de Execução Penal. Aquele que nem
sequer iniciara o trabalho para a remição, mesmo que não tenha capacidade laborativa em razão
de sua invalidez, não pode obter o benefício de maneira fictícia.” (HC 261.514/SP, julgado em
19/08/2014).
• O trabalho exercido pelo preso pode ser interno, no interior da unidade prisional, ou
externo. Como já explicado, o trabalho é obrigação imposta ao preso, e a sua recusa indevida é
causa de falta grave. Em relação à obrigação, uma importante ressalva: o preso provisório não
está obrigado a trabalhar, mas, caso queira exercer alguma atividade laborativa, deve ser
sempre interna. Seja qual for a natureza do trabalho, interna ou externa, deve ser sempre
remunerada, mas não é aplicável a CLT. No entanto, a seguinte questão pode ser exigida em sua
prova: o preso em regime aberto que exerce atividade externa pode ser empregado nos termos
da CLT? Ou a vedação à CLT, prevista no §2º, do art. 28, da LEP, é aplicável a presos em qualquer
regime? Na jurisprudência, prevalece o entendimento de que o trabalho externo prestado por
condenado em regime aberto não configura o trabalho prisional, devendo, sim, ser regido pela
CLT, como qualquer outra relação de trabalho. Da mesma forma, há julgados que reconhecem
a relação de emprego, nos termos da CLT, na hipótese de preso em regime semiaberto que
exerce atividade laborativa externa. Contudo, em relação ao preso em regime fechado, o
trabalho jamais poderá ser regido pela CLT, seja interno ou externo, e, quanto aos demais
regimes, quando interno o trabalho, a CLT também será afastada.
• Com o pagamento recebido, deve o preso indenizar o dano causado pelo crime, garantir
assistência à sua família, ressarcir o Estado pelas despesas com a sua manutenção e pagar
pequenas despesas pessoais. O restante deve ser depositado em caderneta de poupança, que
será entregue ao condenado quando posto em liberdade (art. 29, §2º). Na hipótese de o
trabalho consistir em prestação de serviço à comunidade decorrente de substituição de pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, não haverá remuneração.
• Como já vimos, o trabalho pode ser externo ou interno. O trabalho interno, obrigatório,
é aquele realizado no próprio estabelecimento prisional, e será atribuído ao preso levando-se
em consideração suas aptidões e capacidade. O trabalho não precisa ser necessariamente
braçal, afinal, não se trata de punição – nada impede que um profissional da saúde exerça o seu
ofício na enfermaria do estabelecimento. Esqueça a imagem do homem preso a uma bola de
ferro, em uniforme listrado e quebrando pedras. Por isso, o exame de classificação inicial é
importante, pois é nele em que será avaliada a capacidade laborativa do preso. Ademais, o
serviço não precisa ser relacionado à conservação da unidade prisional, podendo consistir na
produção de bens ou produtos, que serão preferencialmente vendidos a particulares, e, caso
isso não seja possível, à Administração Pública (art. 35).
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• Por mais que o trabalho interno não seja regido pela CLT, o preso não deve ser
submetido a jornadas de trabalho excessivas. Por isso, a jornada normal de trabalho não será
inferior a 6 (seis) e nem superior a 8 (oito) horas diárias, com descanso aos sábados e feriados.
No entanto, o descanso não é contado para fins de remição. A LEP, todavia, excepciona, e afirma
que a jornada poderá ultrapassar o período máximo de 8 (oito) horas. Neste caso, como não se
fala em hora-extra, o preso será recompensado com a contabilização de mais um dia de trabalho
para a remição – a cada 3 (três) dias, desconta-se 1 (um) dia da pena. Os maiores de 60 (sessenta)
também estão obrigados a trabalhar, assim como os deficientes físicos. Contudo, o serviço deve
ser adequado às condições físicas dessas pessoas.
• Quanto à hora extraordinária, uma observação deve ser feita: a remição leva em
consideração dia trabalhado, e não hora. Como comentado, o excesso, além do limite de 8 (oito)
horas, deve ser considerado como um novo dia de trabalho. Isso não significa, no entanto, que,
caso o preso trabalhe 9 (nove) horas, uma hora além do limite, um dia cheio de trabalho será
considerado. Neste caso, a hora a mais será considerada exatamente como hora a mais, como
fração de dia trabalhado, e o preso deverá trabalhar, no mínimo, outras 5 (cinco) horas para
completar mais um dia de trabalho – lembre-se que a jornada mínima para a remição é de 6
(seis) horas. Nesse sentido, STJ: “1. O recorrido trabalhou, de fato, prestando um serviço
essencial à estrutura do estabelecimento prisional, laborando além da carga horária prevista em
lei, fazendo-se necessário que se lhe conceda pretendida remição de pena, até por tratar-se de
direito subjetivo público. 2. Se o condenado desempenhar atividade laboral fora do limite
máximo da jornada de trabalho (8 horas diárias), o período excedente deverá ser computado
para fins de remição de pena, considerando-se cada 6 (seis) horas extras realizadas como 1 (um)
dia de trabalho. Precedentes.” (REsp 1064934/RS).
• Por questões de segurança, o limite máximo do número de presos será de 10% (dez por
cento) do total de empregados na obra. O trabalho, é claro, deve ser remunerado, na forma
como já explicado em linhas anteriores.
mínimo para que se avalie a disciplina e a responsabilidade, dois dos requisitos subjetivos. A
autorização para o trabalho externo cabe à direção do presídio, não sendo necessária decisão
judicial (art. 36).
• E se, mesmo presentes os requisitos subjetivos e objetivos, o Estado não puder garantir
a vigilância do preso em regime fechado em trabalho externo? Para o STJ, “A permissão para
trabalho externo, aos reeducandos do regime fechado de cumprimento de pena, está
subordinada à capacidade e à disponibilidade de vigilância do Poder Público, considerada a
possibilidade de fuga, e, ainda, à fiscalização estatal, no exercício do poder disciplinar sobre os
apenados em cumprimento de pena.” (AgRg no AREsp 492982/MG). Por mais injusto que
pareça, pois se trata de benefício negado por inoperância estatal, a jurisprudência tem
entendido que, nessas hipóteses, o trabalho externo não pode ser autorizado.
• O benefício do trabalho externo será revogado quando o preso: a) pratica fato definido
como crime. Não é preciso que o preso seja processado e condenado para a revogação; b)
comete e é punido por falta grave. Neste caso, a revogação deve ser precedida do procedimento
para averiguação do ocorrido, respeitado o contraditório; c) tem comportamento inadequado
no trabalho que lhe foi designado. A responsabilidade e a disciplina são requisitos subjetivos do
benefício. Caso inexistam ou deixem de existir posteriormente, a autorização para o trabalho
externo deve ser revogada.
• Para que seja viável a ressocialização, a LEP elenca uma série de deveres inerentes ao
preso (veja o art. 39). O rol está baseado em submissão ao que a lei impõe, por sentença ou não,
e à boa convivência com as pessoas que o rodeiam enquanto cumpre a pena. A violação de
algum dos deveres pode fazer com que o preso sofra sanções disciplinares. Além disso, como a
análise comportamental é levada em consideração durante toda a execução, a oposição aos
deveres pode causar a não concessão ou a revogação de benefícios já concedidos. Os deveres
também são aplicáveis aos presos provisórios, exceto, é claro, aqueles decorrentes de sentença
penal condenatória transitada em julgado, a exemplo da indenização à vítima (art. 39, VII).
• Além de deveres, o preso tem direitos. Em seu art. 41, em rol exemplificativo, a LEP traz
uma porção deles. Alguns são óbvios, como o direito à alimentação e vestuário. Outros, nem
tanto, e são exatamente os que serão exigidos em sua prova, como o direito à Previdência Social
(art. 41, III). Sobre o tema, há muita celeuma em torno do auxílio-reclusão, um suposto prêmio
ao preso. No entanto, vale frisar que o auxílio só é devido quando a pessoa presa era,
anteriormente à prisão, contribuinte da Previdência Social. Não existe carência para requerer o
benefício. Por isso, a partir do momento em que passou a contribuir, ocorrendo a prisão do
segurado por condenação ao regime fechado ou semiaberto, pode o dependente requerer o
benefício.
• O direito à visita também conta com previsão expressa (inciso X). O preso tem direito a
ser visitado pelo cônjuge, companheiro, parentes e amigos, em dias determinados. Embora a lei
fale em “companheira”, é claro que a presa também faz jus à visita do companheiro do sexo
masculino. Não seria justo pensar de forma diversa. Apesar de se tratar de direito, pode o diretor
do estabelecimento, por ato motivado, suspendê-lo ou restringi-lo – por exemplo, por questão
de segurança. Quanto à visita íntima, não há qualquer previsão legal, e a sua concessão se dá a
critério da administração do estabelecimento prisional. Em relação ao preso em Regime
Disciplinar Diferenciado (RDD), o direito de visita está restrito a duas pessoas por semana, sem
contar as crianças, com duração de duas horas (art. 52, III).
• Em respeito ao princípio da legalidade, não haverá falta e nem sanção disciplinar sem
expressa e anterior previsão legal ou regulamentar. Não poderia ser diferente, afinal, trata-se
de punição imposta pelo Estado ao indivíduo. As faltas podem ser leves, médias e graves, sendo
estas previstas na LEP e as duas primeiras em legislação estadual. Muito se discute sobre a
possibilidade de a administração carcerária impor, em regulamento, faltas e sanções. Quanto às
faltas graves, como só podem ser estipuladas em legislação federal, não há o que discutir.
Todavia, em relação às faltas médias e leves, a LEP autoriza a criação por “legislação local”, e há
quem entenda que a expressão alcançaria regulamentos administrativos. Para boa parte da
doutrina, entrementes, prevalece o entendimento de que administração carcerária não pode
regulamentar sobre o assunto.
punido, não sendo possível a punição de todos da cela, com base na certeza de que a conduta
fora praticada por um ou mais dos presos reclusos naquele compartimento.
• São consideradas graves as seguintes faltas, quando praticadas por preso condenado à
pena privativa de liberdade: a) incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a
disciplina; b) fugir; c) possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física
de outrem; d) provocar acidente de trabalho; e) descumprir, no regime aberto, as condições
impostas; f) inobservar os deveres inerente aos presos; g) ter em sua posse, utilizar ou fornecer
aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com
o ambiente externo. É importante ressaltar que o rol do art. 50 é taxativo, sendo vedada
qualquer analogia “in malam partem”. Também é possível a prática de falta grave pelo
condenado à pena restritiva de direitos (veja o art. 51).
• Para a aplicação de sanção disciplinar por falta grave, deve ser assegurado ao preso o
direito ao contraditório e à ampla defesa, sob pena de nulidade. Contudo, questiona-se: é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo, no âmbito da administração
carcerária, para que o preso se manifeste em defesa? Ou o procedimento administrativo pode
ser suprido por audiência de justificação da falta grave perante o juízo da execução? Para que o
tema fique mais claro, entenda: o poder disciplinar, no âmbito da execução, é exercido pela
autoridade administrativa a quem se sujeite o condenado. Portanto, cabe ao diretor do
estabelecimento prisional apurar a conduta faltosa do detento, assim como realizar a subsunção
do fato à norma legal, ou seja, verificar se a conduta corresponde a uma falta leve, média ou
grave, e aplicar eventual sanção. Contudo, a prática de falta grave gera algumas sanções que só
podem ser aplicadas pelo juiz da execução, a exemplo da regressão de regime (art. 118, I), da
revogação de saída temporária (art. 125), da perda de dias remidos (art. 127) e da conversão de
pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181, § 1º, d, e § 2º). Por isso, a LEP
determina que, na hipótese de falta grave, o diretor do estabelecimento deve representar ao
juiz da execução, para que, eventualmente, sejam aplicadas as sanções de sua competência. O
juiz, então, para a regressão do regime, realizará uma audiência de justificação, para que o preso
possa se manifestar sobre a suposta falta grave (art. 118, § 1º). Volto, então, ao questionamento
inicial: se o preso teve a oportunidade de se defender em juízo, na audiência de justificação, é
dispensável o procedimento administrativo? O STJ, no REsp 1.378.557/RS, entendeu pela
imprescindibilidade. Quanto à necessidade de defesa técnica, a Súmula Vinculante n. 5 é clara
ao afirmar que a “falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar
não ofende a Constituição”. Ademais, atenção: pune-se a tentativa de falta com a sanção
correspondente à falta consumada.
• Qual é o prazo prescricional para a apuração e sanção de falta grave? Como a LEP não
regula o tema, assim disciplina o STJ: “A jurisprudência deste eg. Superior Tribunal de Justiça
consolidou-se no sentido de que o prazo prescricional para apuração de falta disciplinar grave
praticada no curso da execução penal é o previsto no art. 109, inciso VI, do Código Penal, com a
redação dada pela Lei nº 12.234/2010, tendo em vista a inexistência de dispositivo legal
específico sobre a matéria. Desse modo, tem-se que o prazo prescricional para apuração de falta
disciplinar é de 3 (três) anos para fatos ocorridos após a alteração dada pela Lei n. 12.234, de 5
de maio de 2010, ou 2 (dois) anos se a falta tiver ocorrido antes desta data. No presente caso, a
prática da falta grave se deu em 25/11/2009, ou seja, antes da entrada em vigor da Lei n.
12.234/2010, devendo, portanto, ser observado o prazo prescricional de 2 (dois) anos. Com
efeito, a decisão homologatória do processo disciplinar ocorreu somente em 22/8/2012, ou seja,
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quando já transcorrido prazo superior a dois anos, sendo imperioso reconhecer a prescrição da
falta disciplinar objeto da impetração.” (HC 295974/SP).
• De acordo com a LEP, em seu art. 52, o RDD será aplicável ao preso, provisório ou
condenado, que pratica fato previsto como crime doloso e que ocasione subversão da ordem
ou disciplina internas. Os requisitos são cumulativos, não ensejando o RDD a existência isolada
de um ou outro. Ademais, também é possível a sua decretação a presos provisórios ou
condenados, brasileiros ou estrangeiros, que apresentem alto risco à ordem e à segurança do
estabelecimento penal ou da sociedade, ou quando existirem fundadas suspeitas de
envolvimento ou de participação em organização criminosa.
• Ademais, os presos devem ser separados de acordo com os seguintes critérios (art. 84):
“§ 1º Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os seguintes critérios: I - acusados
pela prática de crimes hediondos ou equiparados; II - acusados pela prática de crimes cometidos
com violência ou grave ameaça à pessoa; III - acusados pela prática de outros crimes ou
contravenções diversos dos apontados nos incisos I e II. § 3º Os presos condenados ficarão
separados de acordo com os seguintes critérios: I - condenados pela prática de crimes hediondos
ou equiparados; II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa; III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa; IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou
contravenções em situação diversa das previstas nos incisos I, II e III. § 4º O preso que tiver sua
integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivência com os demais presos ficará
segregado em local próprio.”.
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• Em regra, a pena deve ser cumprida onde o crime foi praticado e o réu condenado. No
entanto, é possível a transferência do preso para local diverso, para que, por exemplo, para que
fique mais próximo de sua família. Contudo, a segurança pública deve prevalecer em relação aos
interesses pessoais do preso. Veja o seguinte julgado: “Muito embora a Lei de Execução Penal
assegure ao preso o direito de cumprir sua reprimenda em local que lhe permita contato com
seus familiares e amigos, tal garantia não é absoluta, podendo o Juízo das Execuções, de maneira
fundamentada, indeferir o pleito se constatar ausência de condições para o acolhimento no
estabelecimento prisional pretendido ou a necessidade de submeter o condenado a regime
disciplinar diferenciado.” (AgRg no RHC 46314/MS). Portanto, é possível que o preso seja
transferido de sua cidade, onde vive sua família, para outro estado, desde que isso ocorra por
razões de segurança pública – por exemplo, a transferência de um presídio estadual no Rio de
Janeiro para o presídio federal de Rondônia.
• Há dois instrumentos importantes que devem ser conhecidos pelo leitor: o mandado de
prisão e o alvará de soltura. É por meio deles que o juiz fará cumprir a sua ordem de prisão ou
de soltura de determinada pessoa. Em regra, uma prisão só poderá ser efetuada mediante a
expedição do respectivo mandado, exceto na prisão em flagrante. Quanto à soltura, também só
é possível mediante a expedição de alvará, salvo hipóteses excepcionais, a exemplo do término
do prazo de prisão temporária. Esta exposição foi necessária para a compreensão dos parágrafos
a seguir.
ser o fechado. Se não for reincidente, sendo a pena superior a 4 (quatro) anos e não excedendo
8 (oito) anos, o regime inicial deve ser o semiaberto. Por fim, se não reincidente, e sendo a pena
igual ou inferior a 4 (quatro) anos, o regime inicial deve ser o aberto. A Lei dos Crimes Hediondos
(Lei 8.072/90), em seu art. 2º, § 1º, prevê que a condenação por crime hediondo impõe
necessariamente o regime inicial fechado, pouco importando a pena aplicada. Todavia, o STF,
ao julgar o HC 111.840/ES, considerou inconstitucional o dispositivo. Portanto, é possível regime
inicial diverso do fechado aos crimes hediondos e equiparados, devendo o juiz levar em
consideração, para a escolha do regime, o que dispõe o art. 33, § 2º, do CP.
jurisprudência decidir a celeuma, e o STJ, após reiteradas decisões, editou a súmula n. 491: “É
inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.”.
• O tempo de progressão volta a correr do zero caso o condenado pratique falta grave.
Portanto, se estava próximo de cumprir 1/6 (um sexto), se praticada falta grave, a contagem
recomeçará, e o condenado terá de cumprir mais 1/6 (um sexto) da pena restante para
progredir. Aliás, seja qual for o instituto, deve-se levar em consideração sempre o quanto o
condenado deve, seja o total, se no início do cumprimento, ou o restante, se já cumprida parte
da pena. Isso porque, pena cumprida é pena extinta. Em uma pena de 10 (dez) anos, se o
condenado já cumpriu 1 (um), a dívida dele será de 9 (nove) anos, e nunca mais os 10 (dez),
salvo, é claro, se praticar novo delito, hipótese em que a nova pena será somada à anterior.
Além disso, a prática de falta grave é causa de regressão, vista a seguir.
• O art. 117 da LEP trata do PAD, ou prisão albergue domiciliar. Trata-se de hipótese em
que o condenado que cumpre pena em regime aberto é recolhido em prisão domiciliar, e não
em casa de albergado, como impõe a legislação como regra. O benefício é possível: a) ao
condenado maior de 70 (setenta) anos; b) ao condenado acometido de doença grave; c) à
condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; d) à condenada gestante. Na prática,
contudo, o benefício tem sido estendido a outros presos em razão da inexistência de casas de
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albergados ou por falta de vagas em tais instituições. Quanto ao preso provisório, é possível o
recolhimento domiciliar nas hipóteses do art. 317 do CPP.
• Por outro lado, a saída temporária é benefício, e, como tal, tem alguns requisitos para a
sua concessão. São eles: a) comportamento adequado; b) cumprimento mínimo de 1/6 (um
sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; c)
compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. O benefício só pode ser concedido ao
preso em regime semiaberto, e depende de autorização judicial. A saída temporária tem por
objetivo a ressocialização do condenado, e será concedida para os seguintes fins: a) visita à
família; b) frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do ensino
médio ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; c) participação em atividades que
concorram para o retorno ao convívio social. A saída temporária pode ser concedida pelo prazo
de até 7 (sete) dias, podendo ser renovada 4 (quatro) vezes ao ano. Em se tratando de curso,
entretanto, o prazo pode ser diferenciado, sendo possível, até mesmo, a saída temporária diária
durante o período letivo. Ademais, as saídas devem ser autorizadas em intervalos mínimos de
45 (quarenta e cinco) dias – logo, se concedida em um mês, não pode ser novamente permitida
no mês seguinte. Por fim, se praticado fato definido como crime ou se punido o condenado por
falta grave, bem como se desatendidas as condições do benefício impostas pelo juiz, ou se baixo
o aproveitamento do curso, o benefício deve ser revogado.
• E se o preso trabalhar e também estudar, como é feita a remição? Desde que sejam
compatíveis os horários – por exemplo, 6 (seis) horas de trabalho e 4 (quatro) de estudo diárias
23
-, a remição se dará tanto pelo trabalho quanto pelo estudo, separadamente. Seria um
verdadeiro desestímulo ao preso a escolha de um ou outro. Caso consiga concluir o ensino
fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, o tempo de remição será
acrescido de 1/3 (um terço). Ou seja, se estudadas efetivamente 960 (novecentos e sessenta
horas), quando concluído o curso, serão acrescidas mais 320 (trezentos e vinte). Trata-se de
verdadeira e justa premiação ao preso que se dedicou ao estudo. Ademais, caso o preso fique
impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-
se com a remição. No entanto, atenção: a incapacidade deve ocorrer quando o preso já trabalhe
ou estude. Caso não tenha iniciado essas atividades e se acidente, e em razão disso fique
impossibilitado de trabalhar ou de estudar, não fará jus à remição.
• Um tema com grande probabilidade de cair em prova é a perda dos dias remidos na
hipótese de punição por falta grave. Pela antiga redação do art. 127, nesta hipótese, o preso
perderia todos os dias remidos, pouco importando o tempo trabalhado ou de estudo, o que não
é justo. Por isso, em 2011, o dispositivo foi alterado, e, pela redação atual, no caso de falta grave,
o preso pode perder até 1/3 (um terço) dos dias remidos. Como o dispositivo fala em “até”, a
fixação do “quantum” fica a critério do juiz, nos seguintes termos: “No que respeita ao quantum
a ser fixado pelo juízo das execuções penais, devem ser levados em conta os critérios
estabelecidos no art. 57 da novel legislação, quais sejam: ‘a natureza, os motivos, as
circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão’,
cabendo ao juiz certa discricionariedade.” (HC 297.154/SP).
• Para finalizar, três julgados recentes sobre a remição: a) “Reconhecida falta grave, a
perda de até 1/3 do tempo remido (art. 127 da LEP) pode alcançar dias de trabalho anteriores à
infração disciplinar e que ainda não tenham sido declarados pelo juízo da execução no cômputo
da remição.” (Informativo n. 571 do STJ, de 23.10.2015); b) “A atividade de leitura pode ser
considerada para fins de remição de parte do tempo de execução da pena.” (Informativo n. 564
do STJ, de 22.6.2015); c) “É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando
o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa
extramuros.” (Informativo n. 562 do STJ, de 19.5.2015).
• A Lei de Interceptação Telefônica é, sem dúvida alguma, uma das mais cobradas em
concursos públicos – principalmente em provas do Ministério Público. A redação é de fácil
compreensão, e a leitura não tomará mais do que dez minutos. No entanto, há algumas
peculiaridades - a maioria oriunda de posicionamentos do STJ e do STF - que merecem atenção,
pois são exatamente os temas comumente presentes em questões.
• Seja qual for a natureza da comunicação, a interceptação deve ser sempre precedida de
autorização judicial que a autorize. Caso a interceptação seja realizada sem autorização, e,
posteriormente, o juiz a autorize, não haverá o que se falar em convalidação. Portanto, a
autorização deve ser obrigatoriamente prévia, sem exceção. Nem mesmo a autorização
posterior de um dos interlocutores legitima a interceptação. Nesse sentido, STJ: “Não é válida a
interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial, ainda que haja posterior
consentimento de um dos interlocutores para ser tratada como escuta telefônica e utilizada
como prova em processo penal.” (STJ, HC 161.053/SP). Neste julgado, o STJ considerou que a
escuta telefônica não está abrangida pela Lei 9.296/96. A questão, todavia, é polêmica em sede
doutrinária.
• Ponto relevante é a questão da quebra do sigilo telefônico, não regulada pela Lei
9.296/96, que não pode ser confundida com a interceptação telefônica. Enquanto, na
interceptação, quem intercepta tem acesso ao teor da conversa, na quebra do sigilo a única
informação a que se tem acesso é o registro de ligações efetuadas e recebidas. Outra importante
utilidade da quebra do sigilo é a identificação do local em que o aparelho telefônico se
encontrava em determinado horário. Contudo, não há acesso ao teor das conversas – as
companhias telefônicas não podem gravar as conversas realizadas entre os seus clientes.
• Por ser medida de extrema gravidade, a interceptação tem alguns requisitos para a sua
concessão: a) indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal; b)
imprescindibilidade da medida; c) o fato investigado deve constituir crime punido com reclusão.
Se o leitor fizer a leitura do art. 2º, não entenderá as três exigências anteriores. No entanto,
perceba que apenas transformei as hipóteses em que a interceptação é vedada em requisitos
positivos de admissibilidade.
• Por fim, há um terceiro requisito: para a decretação da interceptação, o crime deve ser
punido com reclusão. Portanto, não é possível, por exemplo, a investigação do crime de ameaça,
previsto no art. 147 do CP, que prevê em seu preceito secundário pena de detenção, de um a
seis meses. Por outro lado, é possível a interceptação para a investigação de um homicídio, pois
a pena é de reclusão, de seis a vinte anos. No entanto, é preciso ter cuidado com a hipótese de
“serendipidade”, tema frequente em questões sobre a interceptação telefônica.
3.3 Da serendipidade.
3.7 Da degravação.
• Embora seja interessante, a Lei 9.296/96 não exige a gravação das conversas telefônicas
interceptadas. Em seu art. 6º, assim dispõe: “§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação
da comunicação interceptada, será determinada a sua transcrição.”. Você deve estar se
perguntando: caso não grave, de que servirá a interceptação? Nesta hipótese, não vejo outra
solução senão a oitiva, como testemunha, de quem ouviu a comunicação. Evidentemente, o
valor probante será menor.
mera divisão de tarefas dentro do próprio órgão, o que não retira dos promotores de justiça a
responsabilidade pela condução das diligências, conforme o art. 4º, V, da Res. n. 76/2009 do
CNMP.” (HC 244.554/SP). Para os procedimentos de interceptação de que trata a Lei 9.296/96,
a autoridade policial pode requisitar (exigir) serviços e técnicos especializados às
concessionárias de serviço público.
• Por derradeiro, a Lei 9.296/96 tipifica, em seu art. 10, a conduta de “realizar
interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo
da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.”. Perceba, o crime
abrange todas as possíveis violações ao que dispõe a Lei de Interceptação Telefônica. Como já
falado em mais de um momento, a interceptação é medida grave. Portanto, é justa a punição
daquele que flexibiliza o direito à intimidade e ao sigilo das comunicações ilegalmente. Trata-se
de tipo penal misto alternativo. Portanto, se o agente praticar mais de uma conduta em um
mesmo contexto fático, um único crime será praticado. A pena cominada é de reclusão, de dois
a quatro anos, e multa
4.1 Introdução
4.2. Cabimento
legislador preferiu limitar a temporária somente a alguns crimes. São eles: “a) homicídio doloso
(art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e)
extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f) estupro (art. 213, caput,
e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor (art.
214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (art.
219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultado de
morte (art. 267, § 1°); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal
qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art.
288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de
1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de
outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986).”.
Como se trata de rol taxativo, caso um delito não se encontre no rol, a temporária não poderá
ser decretada.
• O leitor deve ter percebido, caso não tenha pulado a leitura do rol de delitos, que alguns
desses crimes foram modificados nos últimos anos. Quanto ao homicídio, apesar da recente
alteração promovida pela Lei n. 13.104/15, que criou a figura do feminicídio, nenhuma
relevância há para a prisão temporária, pois o art. 1º, III, “a”, da Lei 7.960/89, faz menção ao
parágrafo segundo do art. 121 do CP, estando incluídas, portanto, todas as qualificadoras,
inclusive as dos incisos VI e VII. Em relação à extorsão, o legislador não incluiu o “sequestro
relâmpago” ao rol, ainda que com resultado morte, previsto no art. 158, § 3º. Como ficou de
fora, não se pode falar em prisão temporária quando a prática deste crime. Ademais, a Lei
12.015/09 promoveu diversas modificações nos crimes de natureza sexual. O atentado violento
ao pudor (art. 214 do CP, revogado) passou a integrar o estupro, no art. 213, e a combinação
deste artigo com o antigo art. 223 deu espaço ao estupro de vulnerável, do art. 217-A. Destarte,
é cabível a prisão temporária tanto para o estupro de vulnerável quanto para o estupro. O rol
também faz menção ao rapto violento, antigamente previsto no art. 219 do CP, revogado pela
Lei n. 11.106/05. Atualmente, a conduta está prevista no art. 148, § 1º, V. Como não houve a
abolição do delito (“abolitio criminis”), mas a transferência para outro dispositivo, é possível a
decretação de temporária na hipótese de prática do crime do último dispositivo mencionado. O
dispositivo fala também em quadrilha ou bando. Entretanto, em 2013, a Lei 12.850 modificou o
art. 288 do CP, que passou a ser intitulado associação criminosa. Como não foi hipótese de
“abolitio criminis”, também é viável a decretação de prisão temporária se praticado o crime do
atual art. 288. Por fim, a Lei 7.960/89 faz expressa menção ao tráfico, mas com remissão à Lei
6.368/76, revogada pela Lei 11.343/06. Novamente, a mesma justificativa: não houve a extinção
do tráfico de drogas, mas a transferência para outro dispositivo, em lei nova, sendo possível a
decretação de temporária caso o agente tenha praticado o tráfico de drogas da atual legislação
que trata sobre o tema.
por ele requerida. Portanto, é vedada a medida em crimes de ação penal privada. Da decisão
que rejeita a decretação de temporária requerida pelo MP, cabe Recurso em Sentido Estrito
(CPP, art. 581, V) - o dispositivo fala em prisão preventiva, mas prevalece o entendimento de
que a prisão temporária também pode ser discutida em ReSE. Ademais, a decisão que decretar
a prisão temporária deverá ser fundamentado, como todas as decisões judiciais, e prolatada
dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação
ou do requerimento.
• A prisão temporária, nos crimes comuns, pode ser decretada pelo prazo de 5 (cinco)
dias, prorrogável, uma única vez, por igual período. Se hediondo ou equiparado o delito, o prazo
é de 30 (trinta) dias, também prorrogável por igual período, em caso de extrema e comprovada
necessidade. A prorrogação do prazo não pode ser automática, devendo sua imprescindibilidade
ser comprovada para a nova decretação. Além disso, é importante ressaltar que o prazo só
começa a correr da efetiva prisão, e não do dia em que é decretada a medida. Por fim, uma
observação: o juiz pode decretar a prisão temporária por prazo menor (três dias, por exemplo),
e, apesar de o dispositivo falar em “igual período” (art. 2º), nada impede que o juiz decrete dois
prazos diferenciados. Exemplo: inicialmente, a prisão temporária é decretada por 3 (três dias),
e, na renovação do prazo, o juiz a decreta por mais 5 (cinco) dias. Encerrado o prazo, o preso
deve ser imediatamente solto, independentemente de alvará de soltura.
5.1 Conceito
e se consuma com a prática de qualquer ato voltado a tal fim, não sendo necessária a
interrupção da investigação – crime formal.
• Ademais, aos dois delitos anteriormente discutidos, são aplicáveis agravantes e causas
de aumento especiais previstas na Lei 12.850/13. No § 3º, há a seguinte previsão: “A pena é
agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda
que não pratique pessoalmente atos de execução.”. Como se trata de agravante, deve incidir na
segunda fase da dosimetria da pena, cabendo ao juiz definir o “quantum” de aumento, devendo,
no entanto, manter a pena entre o mínimo (três) e o máximo (8). No § 4º, há algumas causas de
aumento, que fazem com que a pena seja aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços).
Como se trata de majorante, aplicável na terceira fase da dosimetria, ao aplicá-las, o juiz pode
elevar a pena acima do máximo, que é de 8 (oito) anos. São elas: a) a participação de criança ou
adolescente na organização; b) o concurso de funcionário público, valendo-se a organização
criminosa dessa condição para a prática de infração penal; c) quando o produto ou proveito da
infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; d) quando a organização criminosa
mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; e) quando as
circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.
• A Lei 12.850/13 prevê expressamente (art. 3º, I) a colaboração premiada como meio de
obtenção de prova. O procedimento consiste na oportunidade dada ao participante ou coautor
do fato delituoso de receber determinado benefício mediante a prestação de informações às
autoridades. Como possíveis benefícios àquele que colaborar com as investigações a lei prevê a
extinção da punibilidade (perdão judicial); a diminuição da pena de até 2/3 (dois terços) ou a
substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito. No entanto, não basta
a voluntariedade em participar para que o delator goze dos benefícios, sendo necessário que se
alcance um dos seguintes resultados: a) a identificação dos demais coautores e partícipes da
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; b) a revelação da estrutura
hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; c) a prevenção de infrações penais
decorrentes das atividades da organização criminosa; d) a recuperação total ou parcial do
produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; e) a
localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
• Por fim, também é digna de menção a figura do agente infiltrado (art. 10). Nesta
hipótese, um integrante da polícia ingressa na organização e age como um dos criminosos,
ocultando sua identidade. Em regra, não é possível que um particular atue em tal condição. Por
expressa previsão legal, a infiltração deve ser “precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa
autorização judicial, que estabelecerá seus limites”. A infiltração pode ser requerida pelo MP ou
solicitada pelo delegado de polícia - neste segundo caso, o MP deve ser ouvido. O procedimento
pode ser autorizado por até 6 (seis) meses, podendo ser prorrogado por mais tempo, desde que
comprovada a necessidade. Ademais, o agente deve concordar em participar da missão, não
podendo ser penalizado caso se recuse. Por fim, a dúvida mais comum sobre o assunto: o agente
deve ser responsabilizado por crimes praticados enquanto infiltrado na organização? A Lei
12.850/13 esclarece (art. 13, parágrafo único): “Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática
de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.”.
• Para a incidência da lei em estudo, o que pode ser considerado droga? Cigarro? Cerveja?
Sertanejo universitário? Para que alguém seja punido com penas tão graves - no tráfico, a pena
é de 05 (cinco) a 15 (quinze) anos de reclusão -, é essencial que exista um rol bem delimitado
das substâncias consideradas como drogas. Por isso, em seu art. 66, a Lei de Drogas assim
dispõe: “Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que seja atualizada a
terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias
entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no
344, de 12 de maio de 1998.”. Portanto, para que alguém responsabilizado por tráfico, a análise
do art. 33 deve ser feita em conjunto com a Portaria n. 344 SVS/MS.
• O art. 28 da Lei 11.343/06 possui a seguinte redação: “Art. 28. Quem adquirir, guardar,
tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à
comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.”.
33
Popularmente intitulado “crime de uso de drogas”, quando, na verdade, o dispositivo nem traz
o verbo “usar”, trata-se de hipótese em que o agente porta drogas para consumo pessoal. O uso
de droga não é crime, seja por não ter previsão legal (atipicidade formal) ou em razão do
princípio da alteridade (atipicidade material). No entanto, na prática, é praticamente impossível
que o usuário não pratique uma das condutas do art. 28 para manter o seu vício.
• O crime do art. 28 pode ser praticado das seguintes formas: a) adquirir: é a obtenção da
droga, de forma gratuita ou onerosa; b) guardar: consiste em ter a droga sob o seu poder. Por
ser crime permanente, o agente pode ser preso em flagrante enquanto estiver guardando a
droga, mesmo que isso se prolongue por dias, semanas ou meses; c) ter em depósito: é a
manutenção da substância em estoque. Também é crime permanente; d) transportar: levar de
um lugar a outro. O agente pode ser preso a qualquer momento durante a transferência de um
lugar a outro; e) trazer consigo: ter a droga junto ao corpo ou em seu interior. Também é crime
permanente. Como se trata de tipo penal misto alternativo, a prática de mais de um verbo em
um mesmo contexto fático faz com que o agente pratique um único delito, e não vários.
• O porte de drogas para consumo pessoal traz em seu preceito secundário as seguintes
penas: a) advertência sobre os efeitos das drogas; b) prestação de serviços à comunidade; c)
medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Como não há previsão
de pena de reclusão ou de detenção, muitos sustentam que o disposto no art. 28 não seria crime.
No entanto, não é o que prevalece. Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, trata-se, sim,
de crime, mas despenalizado. Portanto, embora não seja possível a pena de prisão, é viável a
prisão em flagrante de quem é surpreendido portando droga para uso pessoal. Além disso, todos
os demais efeitos da prática de um delito devem ser suportados, como a reincidência.
penas impostas, é possível a sua prisão? Ou seja, é viável a conversão em pena privativa de
liberdade? A resposta é não. Diante de recusa, o juiz tem duas alternativas para compelir o
condenado a cumprir as imposições da sentença: a admoestação verbal, que nada mais é do que
uma censura verbal, e multa. O prazo prescricional para a execução e a imposição das medidas
punitivas é de 2 (dois) anos.
• Apesar de a lei não utilizar a expressão, o art. 33 tipifica o crime de tráfico de drogas,
equiparado a hediondo pela Constituição. O art. 34, visto em linhas a seguir, também é
considerado tráfico de drogas. Há 18 (dezoito) formas de se praticar o crime do art. 33 da Lei
11.343/06: a) importar; b) exportar; c) remeter; d) preparar; e) produzir; f) fabricar; g) adquirir;
h) vender; i) expor à venda; j) oferecer; l) ter em depósito; m) transportar; n) trazer consigo; o)
guardar; p) prescrever; q) ministrar; r) entregar a consumo; s) fornecer drogas, ainda que
gratuitamente. Seja qual for a forma como se deu o delito, o STJ decidiu, em diversos julgados,
não ser possível a incidência do princípio da insignificância.
• Embora tenha transcrito o “ainda que gratuitamente” somente ao final, todos os outros
verbos podem ser cometidos gratuitamente, sem interesse em lucro, exceto, é claro, o “vender”
e o “expor à venda”, onde há evidente interesse mercenário. Todos os 18 (dezoito) verbos
configuram crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto o “prescrever”,
conduta que só pode ser praticada por profissional habilitado a prescrever drogas (médico,
dentista etc.). Portanto, próprio. Ademais, caracterizam crime permanente as seguintes
hipóteses: expor à venda, ter em depósito, transportar, trazer consigo e guardar. Por isso, caso
o agente tenha em depósito, por anos, determinada quantidade de droga, a sua prisão poderá
ocorrer a qualquer momento, nos termos do art. 303 do CPP.
• Não é típico o tráfico de drogas culposo, sendo punível somente a modalidade dolosa
do delito. Entretanto, pode ocorrer de o agente praticar um dos verbos do art. 33 por não saber
que a substância é droga – por exemplo, o caminhoneiro que transporta 100kg de cocaína
imaginando se tratar de farinha de trigo. Nesta hipótese, estamos diante de erro de tipo (CP,
art. 20), que, quando evitável, afasta o dolo e faz com que o agente responda a título de culpa,
mas, se inevitável, afasta o dolo e a culpa. Como já dito, não é típico o tráfico de drogas culposo,
e, por isso, ocorrendo o erro de tipo, o agente deve ser absolvido.
• O art. 33, §1º, também considera traficante de drogas quem: a) importa, exporta,
remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito,
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado
35
• Ademais, o art. 33, no parágrafo 2º, pune a intitulada participação no uso indevido de
drogas, que consiste em induzir (criar a ideia), instigar (estimular a ideia já existente) ou auxiliar
(dar suporte material) alguém ao uso indevido de droga. Em relação ao auxílio, atenção: se o
auxílio consistir em fornecer a droga, o crime será o do art. 33, “caput”, com penas mais altas.
Para que seja reconhecida a figura do parágrafo segundo, o auxílio deve ser o de fornecer meios
para que o usuário tenha acesso à droga. Por exemplo, emprestar dinheiro para que ele a
adquira. A indução, instigação ou auxílio devem ser voltados a alguém específico, determinado.
Ademais, o crime só se consuma com o efetivo uso da droga, e não com a mera prática dos
verbos nucleares.
• Por fim, o art. 33, § 3º, tipifica a conduta de oferecer droga, eventualmente e sem
objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem. Assim como o
parágrafo segundo, também não configura delito equiparado a hediondo. Portanto, não incide
a Lei 8.072/90, que carrega uma série de malefícios: prazos de progressão de regime e de prisão
temporária superiores aos dos demais crimes, inafiançabilidade etc. O crime se consuma no
momento do oferecimento, pouco importando a aceitação ou não da droga. Caso seja aceita a
quem foi oferecida a droga, o seu crime (de quem aceita) será o do art. 28 da Lei 11.343/06.
• O art. 33 traz, em seu parágrafo quarto, a seguinte redação: “§ 4º Nos delitos definidos
no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,
vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”.
Embora, equivocadamente, a doutrina e a jurisprudência falem em tráfico privilegiado, trata-se,
em verdade, de causa de diminuição de pena, a ser sopesada na terceira fase de aplicação da
pena (sistema trifásico), e pode fazer com que a pena fique abaixo do mínimo legal. Portanto,
ao incidir a minorante, é possível que a pena do tráfico fique abaixo do limite mínimo, de 05
(cinco) anos. Ademais, atenção: atualmente, é possível a conversão da pena privativa de
liberdade em restritiva de direitos, pois o STF declarou inconstitucional o previsto no § 4º acerca
do tema. Além disso, o trecho está suspenso por força da Resolução n. 5, de 2012, do Senado.
• No art. 34, a Lei de Drogas prevê o crime de “fabricar, adquirir, utilizar, transportar,
oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que
gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação,
preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”. Embora, em regra, não sejam puníveis atos
preparatórios, o legislador decidiu punir aquele que mantém maquinário, aparelho, instrumento
ou qualquer outro objeto voltado à produção de drogas para o posterior tráfico, ainda que a
substância não seja encontrada. E se, em um mesmo contexto fático, o agente for surpreendido
traficando e também em posse de maquinário voltado à fabricação de drogas? Para o STJ, nesta
hipótese, o delito do art. 34 deve ser absorvido pelo art. 33, devendo o agente ser
responsabilizado somente pelo tráfico de drogas. Veja: “Responderá apenas pelo crime de
tráfico de drogas – e não pelo mencionado crime em concurso com o de posse de objetos e
maquinário para a fabricação de drogas, previsto no art. 34 da Lei 11.343/2006 – o agente que,
além de preparar para venda certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência, mantiver,
no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha utilizados na preparação das
substâncias. De fato, o tráfico de maquinário visa proteger a saúde pública, ameaçada com a
possibilidade de a droga ser produzida, ou seja, tipifica-se conduta que pode ser considerada
como mero ato preparatório. Portanto, a prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de
Drogas absorve o delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada
a existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de
forma distinta. Na situação em análise, não há autonomia necessária a embasar a condenação
em ambos os tipos penais simultaneamente, sob pena de ‘bis in idem’.” (REsp 1.196.334/PR).
No entanto, o STJ, no mesmo informativo (n. 531/13), assim decidiu: “Responderá pelo crime
de tráfico de drogas – art. 33 da Lei 11.343/2006 – em concurso com o crime de posse de objetos
e maquinário para a fabricação de drogas – art. 34 da Lei 11.343/2006 – o agente que, além de
ter em depósito certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência para fins de mercancia,
37
possuir, no mesmo local e em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que constituam
laboratório utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de drogas ilícitas em
grandes quantidades. Nessa situação, as circunstâncias fáticas demonstram verdadeira
autonomia das condutas e inviabilizam a incidência do princípio da consunção. Sabe-se que o
referido princípio tem aplicabilidade quando um dos crimes for o meio normal para a
preparação, execução ou mero exaurimento do delito visado pelo agente, situação que fará com
que este absorva aquele outro delito, desde que não ofendam bens jurídicos distintos. Dessa
forma, a depender do contexto em que os crimes foram praticados, será possível o
reconhecimento da absorção do delito previsto no art. 34 – que tipifica conduta que pode ser
considerada como mero ato preparatório – pelo crime previsto no art. 33. Contudo, para tanto,
é necessário que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e coexistentes
aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta.” (AREsp 303.213/SP).
• No art. 35 está a figura da associação criminosa para fins de tráfico: “Associarem-se duas
ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos
nos artigos 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei”. Como a redação é de 2006, muitos questionam se
o art. 35 não teria sido revogado pelo atual art. 288 do CPP, objeto da Lei 12.850/13, onde está
prevista a associação criminosa, em substituição à antiga quadrilha ou bando. No entanto, como
o CP é norma geral, o art. 35, especial, permanece em vigor. Na associação para fins de tráfico,
bastam 2 (duas) pessoas, enquanto na associação criminosa do art. 288 são exigidas, no mínimo,
3 (três). Para que seja reconhecida a associação, não é necessária a identificação de todos os
envolvidos – basta que seja provada a sua existência, ainda que somente um agente seja
identificado pelo envolvimento. Além disso, como se trata de crime formal, o delito se consuma
com a mera associação, não sendo exigida a efetiva prática do tráfico, que, se vier a ocorrer, fará
com que os envolvidos respondam pela associação (art. 35) em concurso material com o outro
delito praticado (art. 33, “caput” ou 1º, ou art. 34).
• O tema foi objeto de informativo recente do STJ (n. 568, de setembro de 2015): “O
condenado por associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343/2006), caso não seja reincidente
específico, deve cumprir 2/3 da pena para fazer jus ao livramento condicional. Isso porque a
própria Lei 11.343/2006, no parágrafo único do art. 44, prevê requisito objetivo específico para
a concessão do livramento condicional ao delito de associação para o tráfico: "Os crimes
previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis,
graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas
de direitos. Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento
condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente
específico". Assim, em observância ao Princípio da Especialidade, aplica-se o disposto no art. 44,
parágrafo único, da Lei 11.343/2006 em detrimento dos incisos I e II do art. 83 do CP. Ressalte-
se que o lapso temporal de cumprimento de pena para obtenção do livramento condicional
quanto ao delito do art. 35 da Lei 11.343/2006 independe da análise do caráter hediondo do
crime. Precedentes citados: AgRg no REsp 1.484.138-MS, Sexta Turma, DJe de 15/6/2015; e HC
292.882-RJ, Sexta Turma, DJe de 18/8/2014.” (HC 311.656-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
25/8/2015, DJe 2/9/2015).
• A Lei 11.343/06 também pune quem financia o tráfico de drogas, tanto nas hipóteses
do art. 33, “caput” e § 1º, quanto na do art. 34. Financiar é o mesmo que bancar, sustentar
despesas da traficância. Custear apresenta conceito próximo, e transmite a mesma ideia de
suporte material à prática do tráfico. Apesar de polêmico o tema, prevalece o entendimento de
que se trata de crime instantâneo, e não habitual, pois o art. 36 não exige a reiteração da prática,
38
bastando que seja praticada uma única vez. Ademais, como se trata de crime formal, a
consumação se dá no momento do financiamento ou custeio para fins de tráfico, sendo a efetiva
prática dos crimes previstos no art. 33, “caput” e § 1º”, e 34 mero exaurimento da conduta.
• Vimos que a associação criminosa para fins de tráfico é punida no art. 35 da Lei
11.343/06. O legislador foi além, e não se limitou a punir somente os integrantes da associação,
mas também seus informantes. Quando o assunto é cobrado em prova, as bancas utilizam o
exemplo do “fogueteiro”: “Não há diferença ontológica entre as expressões centrais de
contribuir de qualquer forma (Lei n. 6.368/1976) e colaborar como informante (contida no artigo
37 da Lei n. 11.343/2006). Isso porque o ‘fogueteiro’ é, sem dúvidas, um informante.” (HC
156656/RJ). Para a caracterização do crime, é essencial que a informação prestada pelo
informante seja relevante para a prática do tráfico de drogas. Caso contrário, o fato será atípico
por ausência de nexo de causalidade. Além disso, caso ele pertença à associação, ainda que a
sua função seja somente a de informar, o crime será o do art. 35. Por fim, O crime se consuma
no momento em que a informação chega ao destinatário. A tentativa é viável quando a
transmissão da informação se der por escrito, e houver a sua interceptação durante a
transmissão ao destinatário.
• A Lei 11.343/06 traz uma única hipótese de crime culposo, em seu art. 38, que possui a
seguinte redação: “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o
paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”. São três as formas de se praticar o crime: a) prescrever ou ministrar,
culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente; b) prescrever ou ministrar,
culposamente, drogas, em doses excessivas; c) prescrever ou ministrar, culposamente, drogas,
em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Trata-se de crime próprio, praticado
por quem, em razão de sua profissão, possa prescrever ou ministrar drogas (ex.: médicos).
Perceba que o que o delito pune é a prescrição equivocada da droga, e não a prescrição, em si,
que, se feita dentro da legalidade, configura fato atípico. E, para que não exista dúvida de que
se trata de crime próprio, o art. 38, em seu parágrafo único, prevê: “O juiz comunicará a
condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente.”.
• Por fim, um último delito, previsto no art. 39: “Conduzir embarcação ou aeronave após
o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”. Como o dispositivo
trata somente de embarcação e aeronave, e sendo vedada a analogia “in malam partem”,
aquele que conduz veículo automotor sob o efeito de drogas não pratica o crime do artigo em
estudo. Entretanto, a conduta não fica impune, devendo ser aplicado o que dispõe o art. 306 do
CTB: “Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência
de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência”. Como se trata de
crime de perigo concreto, para a sua configuração, é essencial a demonstração de efetivo perigo
oferecido pela conduta. Logo, se demonstrado que, apesar do uso de droga, o condutor da
embarcação ou aeronave não sofreu qualquer perturbação em sua capacidade de guiar o meio
de transporte, o fato deve ser considerado atípico.
• Na hipótese de prática dos crimes previstos nos artigos 33 a 37, a pena será aumentada
de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços) se: a) a natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; b)
o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de
educação, poder familiar, guarda ou vigilância; c) a infração tiver sido cometida nas
39
• Assim como ocorre na Lei 12.850/13, que trata das organizações criminosas, a Lei de
Drogas também prevê a ação controlada e a infiltração de agente, nos seguintes termos: “art.
53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são
permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério
Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em
tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; II - a não-atuação
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policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados
em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem
prejuízo da ação penal cabível.”.
• Na lavratura do auto de prisão em flagrante, a Lei de Drogas (art. 50, § 1º) exige a
realização de laudo de constatação da droga para que se demonstre a materialidade do delito.
Quanto ao inquérito policial, o prazo para conclusão é diferenciado: nos crimes comuns, o prazo
é de 10 (dez) dias, se preso o indiciado, ou 30 (trinta), se solto. Para a investigação dos crimes
da Lei 11.343/06, no entanto, o inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se
o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Este assunto é tema frequente
em provas.
• Crime previsto no art. 12 da lei em estudo, que possui a seguinte redação: “Possuir ou
manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo
com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta,
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ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa”. A pena é de detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
• Há duas formas de se praticar o delito: possuir (ter a posse, deter) e manter sob sua
guarda (conservar sob vigilância). Somente ocorrerá o crime se se tratar de arma de fogo,
munição ou acessório de uso permitido, conceito não descrito no dispositivo, sendo necessário
o seu complemento (norma penal em branco, portanto). O crime é comum, podendo ser
praticado por qualquer pessoa.
• O crime também pode ser praticado quando a arma de fogo, munição ou acessório são
mantidos no local de trabalho (ex.: o advogado que mantém um revólver calibre .38 em seu
escritório). Contudo, atenção para a ressalva: só estará configurado o crime do art. 12 se o
agente for o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. No exemplo do
advogado, caso a arma seja mantida pela secretária, o crime será o de porte, do art. 14.
• É o crime do art. 13, que possui a seguinte redação: “Deixar de observar as cautelas
necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência
mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade”.
Trata-se de crime omissivo próprio, consistente em deixar de fazer algo quando a lei exige uma
conduta ativa do agente. O sujeito ativo é o possuidor ou o proprietário da arma de fogo, pouco
importando se legalmente ou não. Portanto, crime próprio. Para a sua consumação, não se exige
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que algum mal venha a ser causado pela arma de fogo, como o disparo, a lesão corporal ou a
morte de alguém.
• Delito previsto no art. 14, consiste em portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter
sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, e multa. Assim como o art. 12, trata-se de norma penal em branco, pois o
dispositivo não elenca quais armas de fogo, munições e acessórios são de uso permitido.
• Em seu parágrafo único, o art. 14 prevê que “O crime previsto neste artigo é inafiançável,
salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.”. Por mais que o dispositivo
vede a fiança, não há o que se falar em inviabilidade de liberdade provisória. Como já vimos em
outros momentos, no estudo dos crimes hediondos e do tráfico de drogas, a vedação à
concessão de liberdade provisória é de inegável inconstitucionalidade, pois afronta o princípio
da presunção de não culpabilidade ou de inocência.
• Caso o leitor não tenha entendido o que difere o crime do art. 16 para aqueles dos
artigos 12 e 14, a explicação é simples: se a arma for de USO PERMITIDO, o agente pratica o
crime de posse ilegal de arma de fogo, quando mantida a arma em sua residência ou local de
trabalho, ou de porte ilegal, quando a arma estiver em qualquer outro lugar. No art. 16, o agente
tem a posse ou o porte de arma de fogo de USO RESTRITO. Novamente, estamos diante de
norma penal em branco, pois o art. 16 não diz quais armas são de uso restrito, devendo o
operador do Direto buscar o complemento em norma própria sobre o assunto. Assim dispõe o
art. 16: “Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar
arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar”. A pena, evidentemente, é mais alta do
que a dos crimes dos artigos 12 e 14, visto que se trata de delito mais grave – a pena é de
reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
• O crime, previsto no art. 18, consiste em adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial
ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar. Como se trata de tipo penal misto alternativo, se, em um
mesmo contexto fático, o agente pratica mais de um dos verbos, apenas um crime será
praticado, e não vários, em concurso. Trata-se de crime próprio, que só pode ser praticado pelo
comerciante ou industrial. Como o dispositivo não traz as normas a serem seguidas para o
exercício do comércio e da indústria de armas de fogo, é necessária a consulta à legislação
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própria sobre o assunto. Por fim, equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito do
art. 17, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercido em residência.