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1) Floriano, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um

estabelecimento comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após
romper o cadeado da porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A
ação não foi notada por qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material
subtraído, veio a ser abordado por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a
forma como ingressou no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um
mil e trezentos reais), sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local
para confirmar o rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas
sanções penais do Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação
foram os policiais militares, que confirmaram que apenas foram responsáveis pela abordagem
do réu, que confessou a subtração. Disseram não ter comparecido, porém, ao estabelecimento
lesado. Em seu interrogatório, Floriano confirmou apenas que subtraiu os cigarros do
estabelecimento, recusando-se a responder qualquer outra pergunta. O Ministério Público em
sede de alegações finais postulou pela condenação de Floriano em face da prova da
materialidade e da confissão da autoria. A defesa técnica foi intimada no dia 14/11/2018. Com
base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.

A) Qual a peça processual cabível e seu fundamento legal? Qual o último dia do prazo?

B) Diante da confissão da prática do crime de furto por Floriano, qual a principal tese defensiva
em relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica?
A principal tese defensiva a ser apontada pela defesa técnica consiste no pleito para
exclusão da qualificadora relativa ao rompimento de obstáculo (art.155, § 4º, I, do CP), já que cuida-
se de crime não transeunte (que deixa vestígios), sendo imprescindível a realização de perícia para
a constatação daqualificadora, a qual somente poderá ser suprida por prova testemunhal em vista
da impossibilidade de realização de perícia e do desaparecimento dosvestígios (o que não é o caso
do problema). Portanto, nesse quadrante a defesa técnica deverá pedir a exclusão da qualificadora
e a desclassificação dofurto para a sua modalidade simples (CP, art. 155, caput).

C) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Floriano ser, de imediato, condenado


nos termos da manifestação da defesa técnica?
Em caso de acolhimento da tese defensiva relativa a exclusão da qualificadora, o
magistrado deverá converter o feito em diligência e fazer os autos comvista ao Ministério Público
para a análise da concessão do benefício da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
9099/95), eis que a pena mínimanão supera a 1 ano e o réu satisfaz os demais requisitos (subjetivos
e objetivos) previstos em lei (primariedade, bons antecedentes, etc.).

2) Vitória, esposa ciumenta de Jorge, inicia uma discussão com o marido no momento em que
ele chega do trabalho à residência do casal. Durante a discussão, Jorge faz ameaças de morte à
Vitória, que, de imediato comparece à Delegacia, narra os fatos, oferece representação e
solicita medidas protetivas de urgência. Encaminhados os autos para o Ministério Público, este
requer em favor de Vitória a medida protetiva de proibição de aproximação, bem como a
prisão preventiva de Jorge, com base no Art. 313, inciso III, do CPP. O juiz acolhe os pedidos do
Ministério Público e Jorge é preso. Novamente os autos são encaminhados para o Ministério
Público, que oferece denúncia pela prática do crime do Art. 147 do Código Penal. Antes do
recebimento da inicial acusatória, arrependida, Vitória retorna à Delegacia e manifesta seu
interesse em não mais prosseguir com o feito. A família de Jorge o procura em busca de
orientação, esclarecendo que o autor é primário e de bons antecedentes. Considerando
apenas a situação narrada, na condição de advogado(a) de Jorge, esclareça os seguintes
questionamentos formulados pelos familiares:

A) A prisão de Jorge, com fundamento no Art. 313, inciso III, do Código de Processo
Penal, é válida?
Deveria o examinando demonstrar que a prisão preventiva decretada em desfavor de
Jorge, com base no Art. 313, inciso III, do Código de Processo Penal, não é válida no caso
concreto. De início, é possível perceber que os requisitos previstos no Art. 313, incisos I e II, do
CPP não estão presentes, pois a pena máxima para o crime praticado é inferior a 04 anos e
Jorge é primário e de bons antecedentes. Em relação ao inciso III do Art. 313, não basta que o
crime seja praticado em situação de violência doméstica e familiar contra mulher. Para
regularidade da prisão, é preciso que seja aplicada para garantir execução de medida protetiva
de urgência. Dessa forma, somente será cabível caso exista uma medida protetiva
anteriormente aplicada e descumprida ou, ao menos, que, após aplicação da medida protetiva,
exista risco concreto de descumprimento. No caso, de imediato o magistrado, após
requerimento do Ministério Público, decretou a prisão preventiva, sem que houvesse medida
protetiva de urgência previamente aplicada. Assim, não foi válida a prisão.

B) É possível a retratação do direito de representação por parte de Vitória? Em caso


negativo, explicite as razões; em caso positivo, esclareça os requisitos.
Deveria o examinando esclarecer que o crime de ameaça é de ação penal pública
condicionada à representação, nos termos do Art. 147, parágrafo único, do Código Penal, de
modo que é possível a retratação do direito de representação. Como o crime foi praticado em
situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, contudo, alguns requisitos são
trazidos pela lei de modo a garantir que essa manifestação foi livre de pressões. Tais requisitos
são trazidos pelo Art. 16 da Lei 11.340/06, que admite a retratação antes do recebimento da
denúncia, desde que realizada em audiência especial, na presença do magistrado, após
manifestação do Ministério Público.

C) Qual ou quais a(s) medida(s) processual(is) cabível(is) e o fundamento legal? Qual o


prazo final? E qual o juízo competente?

3) Joaquina trabalha em uma padaria na cidade de Curitiba. Em um domingo pela manhã,


Patrícia, freguesa da padaria, acreditando não estar sendo bem atendida por Joaquina, após
com ela discutir, a chama de “macaca” em razão da cor de sua pele. Inconformados com o
ocorrido, outros fregueses acionam policiais que efetuam a prisão em flagrante de Patrícia por
crime de racismo (Lei nº 7.716/89 – Lei do Preconceito Racial), apesar de Joaquina dizer que
não queria que fosse tomada qualquer providência em desfavor da pessoa detida. A
autoridade policial lavra o flagrante respectivo, independente da vontade da ofendida,
asseverando que os crimes da Lei nº 7.716/89 são de ação penal pública incondicionada. O
Ministério Público opina pela liberdade de Patrícia porque ainda existiam diligências a serem
cumpridas em sede policial. Patrícia, sete meses após o ocorrido, procura seu advogado para
obter esclarecimentos, informando que a vítima foi ouvida em sede policial e confirmou o
ocorrido, bem como o desinteresse em ver a autora dos fatos responsabilizada criminalmente.
Na condição de advogado de Patrícia, esclareça:

A) Agiu corretamente a autoridade policial ao indiciar Patrícia pela prática do crime de


racismo?
Não agiu corretamente a autoridade policial ao indiciar Patrícia pela prática do crime de
racismo, tendo em vista que o delito praticado foi de injúria racial, previsto no Art. 140, § 3º,
do Código Penal. Enquanto a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se
de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo atinge uma
coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça,
ainda que a discriminação tenha sido praticada em determinado momento contra apenas uma
pessoa. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. No
caso, não houve discriminação de Joana em razão de sua cor. Não foi, em razão de sua cor,
Joana proibida de frequentar determinado local ou adotar determinada conduta. Ocorre, por
parte de Patrícia, uma ofensa à honra subjetiva de Joana, para tanto valendo-se de elementos
referentes à sua cor, de modo que o delito praticado foi de injúria racial.

B) Existe algum argumento defensivo para garantir, de imediato, o arquivamento do


inquérito policial?
     O argumento defensivo é que o crime de injúria racial é de ação penal pública
condicionada à representação e que, passados mais de 06 meses desde a data do fato e
conhecimento da autoria, a vítima não teve interesse em ver a autora criminalizada, de modo
que deve ser reconhecida a decadência e, consequentemente, o inquérito ser arquivado.

4) Pedro vê-se denunciado porque teria, juntamente com outros tantos rapazes, danificado um
telefone público que existe na rua em que vivem. A denúncia, embora alcance outro rapaz e
faça menção a vários outros que estavam no local participando da mesma conduta, é lacônica,
pois foi baseada em fatos indefinidos tais como: “eles fizeram” ou “eles agiram dolosamente
contra o bem público”. A denúncia reporta-se ao art.163, parágrafo único, I, do CP, e Pedro foi
citado do seu inteiro teor no dia 22/11/2018. Os demais rapazes foram excluídos da peça
vestibular sem qualquer razão justificada. Responda:

A) Qual a peça processual cabível e seu fundamento legal? Qual o último dia do prazo?
RESPOSTA À ACUSAÇÃO 03/12/2018

B) Qual a tese ou teses que podem ser arguidas em favor de Pedro? a denúncia é lacônica,
tendo sido baseada em fatos indefinidos, tais como: "eles fizeram" e "eles agiram dolosamente
contra o bem público", contrariando o dispositivo constante do art. 41 do CPP, em que diz que:
"a denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunha.

5) Diana, primária e de bons antecedentes, em dificuldades financeiras, com inveja das amigas
que exibiam seus automóveis recém-adquiridos, resolve comprar joias em loja localizada no
Município de Campinas, para usar em uma festa de comemoração de 10 anos de formatura da
faculdade. Em razão de sua situação, todavia, no momento do pagamento, entrega no
estabelecimento um cheque sem provisão de fundos. Quando a proprietária da loja deposita o
cheque, é informada, na cidade de Santos, pelo banco sacado, que inexistiam fundos
suficientes, havendo recusa de pagamento, razão pela qual comparece em sede policial na
localidade de sua residência, uma cidade do Estado de São Paulo, para narrar o ocorrido.
Convidada a comparecer em sede policial para esclarecer o ocorrido, Diana confirma a emissão
do cheque sem provisão de fundos, mas efetua, de imediato, o pagamento do valor devido à
proprietária do estabelecimento comercial. Posteriormente, a autoridade policial elabora
relatório conclusivo e encaminha o inquérito ao Ministério Público, que oferece denúncia em
face de Diana como incursa nas sanções do Art. 171, § 2º, inciso IV, do Código Penal. Diana foi
citada em 23/11/2018. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de
Diana, responda aos itens a seguir.

A) Qual a peça processual cabível e seu fundamento legal? Qual o último dia do prazo?

C) Existe argumento a ser apresentado em favor de Diana para evitar, de imediato, o


prosseguimento da ação penal? Em caso positivo, indique; em caso negativo,
justifique.
  Sim, existem argumentos a serem apresentados pelo(a) advogado(a) de Diana para evitar
o prosseguimento da ação penal. De fato, em princípio, a conduta de Diana se adequa
perfeitamente ao previsto no Art. 171, § 2º, inciso VI, do Código Penal, tendo em vista que
emitiu cheque sem provisão de fundos. O Supremo Tribunal Federal pacificou o
entendimento, através do Enunciado 554 da Súmula de Jurisprudências, de que o
pagamento dos valores após o recebimento da denúncia não obsta o prosseguimento da
ação penal; todavia, a contrario sensu, pacificaram a jurisprudência e a doutrina a posição
de que, se o pagamento do cheque for realizado antes do recebimento da denúncia,
haverá obstáculo ao prosseguimento da ação. Alguns foram os fundamentos que
justificaram tal posição jurisprudencial, mas trata-se, principalmente, do princípio da
intervenção mínima, característica do Direito Penal, e da ideia de que aquele que efetua o
pagamento antes do recebimento da denúncia indica a inexistência de dolo de enganar e
de obter vantagem ilícita em detrimento alheio. No caso apresentado, Diana efetuou o
pagamento do cheque antes de o inquérito ser encaminhado ao Ministério Público com
relatório final, logo antes do recebimento da denúncia, de modo que pode ser buscado,
inclusive por meio de habeas corpus, o imediato trancamento da ação penal.

D) De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, qual será o foro


competente para julgamento do crime imputado a Diana? Justifique.
Entende o Supremo Tribunal Federal que o crime de estelionato é delito de natureza material,
de modo que estará consumado no momento da recusa de pagamento do cheque sem
provisão de fundos pelo sacado. Nos termos do Art. 70 do Código de Processo Penal, será
competente para processamento e julgamento o foro da comarca onde ocorreu o resultado do
crime (Comarca de Santos). Assim, nos termos do Enunciado 521 da Súmula de Jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, “o foro competente para processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade de emissão dolosa de cheques sem provisão de fundos, é o do
local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado”.

6) Fausto, ao completar 18 anos de idade, mesmo sem ser habilitado legalmente, resolveu sair
com o carro do seu genitor sem o conhecimento do mesmo. No cruzamento de uma avenida
de intenso movimento, não tendo atentado para a sinalização existente, veio a atropelar Lídia
e suas 05 filhas adolescentes, que estavam na calçada, causando-lhes diversas lesões que
acarretaram a morte das seis. Denunciado pela prática de seis crimes do Art. 302, § 1º, incisos I
e II, da Lei nº 9503/97, foi condenado nos termos do pedido inicial, ficando a pena final
acomodada em 04 anos e 06 meses de detenção em regime semi aberto, além de ficar
impedido de obter habilitação para dirigir veículo pelo prazo de 02 anos. A pena privativa de
liberdade não foi substituída por restritivas de direitos sob o fundamento exclusivo de que o
seu quantum ultrapassava o limite de 04 anos. No momento da sentença, unicamente com o
fundamento de que o acusado, devidamente intimado, deixou de comparecer
espontaneamente a última audiência designada, que seria exclusivamente para o seu
interrogatório, o juiz decretou a prisão cautelar e não permitiu o apelo em liberdade, por força
da revelia, tendo intimado Fausto da decisão em 20/11/2018. Apesar de Fausto estar sendo
assistido pela Defensoria Pública, seu genitor o procura, para que você, na condição de
advogado(a), preste assistência jurídica. Diante da situação narrada, como advogado(a),
responda aos seguintes questionamentos formulados pela família de Fausto:

A) Qual a peça processual cabível e seu fundamento legal? Qual o último dia do prazo?

B) Mantida a pena aplicada, é possível a substituição da pena privativa de liberdade por


restritiva de direitos? Justifique.
     Tratando-se de crime culposo, o fato de a pena ter ficado acomodada em mais de 04 anos,
por si só, não impede a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
sendo certo que o encarceramento deve ser deixado para casos especiais, quando se
manifestar extremamente necessário.O Art. 44, inciso I, do Código Penal, afirma
expressamente que caberá substituição, independente da pena aplicada, se o crime for
culposo. No caso, como o fundamento exclusivo do magistrado foi a pena aplicada, é possível
afastá-lo e, consequentemente, buscar a substituição em sede de recurso.

C) Em caso de sua contratação para atuar no processo, o que poderá ser alegado para
combater, especificamente, o fundamento da decisão que decretou a prisão cautelar?
O fato de o acusado não ter comparecido ao interrogatório, por si só, não justifica o
decreto prisional, devendo ser entendida a sua ausência como extensão do direito ao silêncio.
Hoje, o interrogatório é tratado pela doutrina e pela jurisprudência não somente como meio
de prova, mas também como meio de defesa. Por sua vez, o direito à ampla defesa inclui a
defesa técnica e a autodefesa. No exercício da autodefesa, pode o acusado permanecer em
silêncio durante seu interrogatório. Da mesma forma, poderá deixar de comparecer ao ato
como extensão desse direito, sendo certo que no caso não haveria qualquer prejuízo para a
instrução nesta ausência, já que a audiência seria apenas para interrogatório. A prisão, antes
do trânsito em julgado da decisão condenatória, reclama fundamentação concreta da
necessidade da medida, não podendo ser aplicada como forma de antecipação de pena.

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