Você está na página 1de 9

17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.

br

Poetas de A - Z Poesia Brasil Sempre Poesia dos Brasis Poetas de Brasília Poesía Ibero-americana
Poesia Visual
Ordem alfabética
Obras Publicadas Sobre o Autor Currículo Lattes Da Nirham Eros Ensaios, etc Terra Brasilis Poemas do Barão

Pesquisa personalizada

POESIA ALAGOANA
Coordenação de Cármen Lúcia Dantas

MAURÍCIO DE MACEDO

Poeta, médico-auditor e professor universitário, nasceu em Maceió, Alagoas, em 1954.

Bibliografia: Cinzel da Língua (1996), Sínteses da sombra (1997), Aventuras da Negra


Fulô (1998), Esfinge Caeté (1999), Onde a vida fere mais fundo (1999), A palavra feito
brasa (2000), Canção dos Orixás (2001), A poesia no cordão seguido de Pastoril (2002),
A ostra e a pérola (2003), Das Alagoas seguido de Guerreiro (2003), Tear da palavra
(2004), Escorial de açúcar (2004), À beira do silêncio (2005), A água e a pedra (2005),
Epifania (2006) e À sombra das palavras (2006).

on-line - visitor map

Click

De
Mauricio de Macedo
Lume
Rio de Janeiro: 7Letras, 2011, 96 p.
ISBN 978-85-7577-748-0

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 1/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

AMOR
A palavra obsessivo-compulsiva.
A palavra insone.
A palavra tiquetaqueando
nas têmporas,

nos pulsos.
A palavra injetando-se
nos vasos dos olhos.
A palavra dervixe
dançando em torno
de si mesma.

E os poemas rodopiando,
rodopiando,
arrastados pela força
do sorvedouro.

CARUNCHO
Algo se desfazia
entre mim e você
feito a madeira da ponte
que apodrece.

De mim para você,


de você para mim,
a desconfiança se infiltrava
na palavra
feito caruncho no lenho.

Perigoso querer atravessar


a ponte agora.

MACEDO, Mauricio de. Sussurro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. 148 p.


14x21 cm ISBN 978-85-421-0016-7 Capa dura

Do que falta

Nenhuma busca
de tempo perdido.
Nada do que foi
quando as horas pingavam
em círculos
e carregava pedras
como Sísifo.

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 2/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

Na lembrança,
a poesia do que falta.
E do silêncio
em que a memória o encara,
vez por outra de uma sombra
releva a palavra
que recolhe e lavra.

Língua

Sentou-se à mesa,
o livro e um dicionário.
Não esqueceria.
Como um desbravador
- a pé, descalço,
com um macheie na mão,
abrindo caminho mata adentro
no Eldorado -,
conquistaria.
O sonho sobrepunha-se
à memória
feito um mapa.

Rede

A vida inteira debatendo-se


naquela teia de palavras

- animalzinho aprisionado
na rede do caçador.

A vida inteira debatendo-se,


enredando-se cada vez mais,
enredando-se cada vez mais

- braços, pernas, tronco...


a malha apertando-lhe o pescoço.

Ah, as palavras
que u'a mãe pronuncia...

==================================================================================

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 3/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

De
PALAVRAS TORTAS
Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009

Valhacouto

Madrugada.
Você acha bonito a sonata.
(Você não entende de música clássica,
mas acha bonito a sonata.
E lhe agrada escutar - violoncelo e piano
no CD player.)
Sobre a mesa, a biografia
do poeta romântico inglês.

Madrugada.
O tempo urge.
Lá fora urna matilha de cães farejadores
aguardam agitados
para se lançarem no seu encalço.

Flash-back

Os fantasmas que a gente foi


entrevistos no claro-escuro,
(Todos tão estranhos agora.)
Como acreditar que a gente esteve
no sono deles,
que desejou os seus desejos?

Um mentiroso diz que foram nossos


os mistérios deles.
A gente acredita
e o mentiroso também.

Palavras tortas

O fogo de monturo dos dramas domésticos,


a amargura de urna cidade provinciana,
o ar rarefeito de urna repartição pública
e a pequena poesia que se recolhe
de um mundo tão acanhado,
a pequena poesia que mal expressa

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 4/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br
o que se contorce no vácuo
e num enredo de nos cegos.

Não deve ter filosofia,


nem sabedoria, ao menos,
mas é com essas palavras tortas
que a gente caminha
como quem se apoia em muletas.

==========================================================================

De
DISPNÉIA
Maceió: Editora Catavento, 2008.
ISBN 978 85 7545 –166-3

GRANDES E PEQUENOS

Há os poemas grandes e belos,


polissêmicos,
configurando sinfonias do pensamento.
Há os pequenos poemas,
nervosos,
oligossêmicos,
chocando-se desesperados
contra as grades do prosaico.

Se cantam em liberdade os pássaros,


pousados nos galhos mais altos
ou tecendo guirlandas no ar,
também canta o passarinho
aprisionado na gaiola do alpendres.

DÁDIVA

Trazia palavras do mundo


quando voltava para casa
como trazia o gatinho abandonado
ou a mangueira brotando no caroço.

E as palavras que trazia


instalavam-se no repertório
do meu silêncio
feito o gatinho dentro de casa
ou a mangueira no quintal.

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 5/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

EQUUS

Exame físico num recrutamento militar.


Um rapaz encolhendo-se num canto da parede
— nu entre outros jovens nus.
Ah, pudesse o rapaz ter arrancado os olhos
do potro selvagem.
Pudesse ter esfaqueado o potro
e não jazer ali,
pisoteado pelo animal indomável
— pétalas alvas de jasmim nas coxas,
Pétalas de cravo rubro no coração.

FELICIDADE

Uma casa modesta alugada,


os móveis da cozinha
feitos de caixão.
No fim da tarde, as cigarras cantam
enquanto espero por ele no portão.
Desce pelo outro lado do bonde
às vezes
e me surpreende com um beijo.
É tênue o canto das cigarras...

==================

Textos de
FRAGMENTO
(2007)
“Escolho alguns poemas de Fragmento por serem metapoéticos, uma seara muito
trilhada mas que Maurício de Macedo revive e reaviva com maestria e emoção; sou um
admirador entusiasmado de sua criação inquieta e, paradoxalmente,também quieta e
sublime.” Antonio Miranda

olhos d´água

O que tenho a dizer


direi aos poucos
feito um gago
tartamudendo palavras de pedra.
Mas direi todo nos pedaços
— reflexo da luz
nas poças das calçadas.

Direi aos poucos e sempre


palavras de sístole,
jatos de sangue na artéria.
Direi feito estilhaços
— petardo da poesia
no cerne da vida.
www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 6/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

Não direi rios


que não sei dizê-los.
Direi olhos d´água,
de vez em quando e sempre.

ao leitor

Sou o poema náufrago.


E peço ao leitor
a respiração boca a boca
que me faça sobreviver.

Sou o poema inacabado.


E peço-lhe
que arremate meus versos,
sendo meu co-autor.

Sou o poema cego.


E peço-lhe
que me empreste seus olhos
para que eu possa ver.

Sou o poema náufrago,


inacabado,
cego,
como todos os poemas
o são.

trincheiras

Não serás convidado a freqüentar os palácios.


Não terás acesso aos gabinetes do poder.
Não lembrarão que existes
na tua estranheza, na tua solidão,
no teu fracasso.
Não terás nenhuma importância
e nenhuma utilidade.
Mas as palavras que escreves
no silêncio da madrugada,
numa folha qualquer,
serão trincheiras inexpugnáveis.

por trás do poema

As palavras por trás do poema


não voltam o rosto para mim.
Magnetizados pelos olhos
de quem as decifrou,
aguardando o olhar
de quem vai decifrá-las,
as palavras já não olham
para trás.

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 7/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

POEMAS
extraídos de
À SOMBRA DAS PALAVRAS
Maceió: Edições Catavento, 2006

DESASSOSSEGO

Há uma palavra radiotiva


no fundo da noite
Há vozes de estrelas
cintilando no silêncio
Há verbos mexendo-se no quarto
feito caranguejos
Há sílabas feito pétalas
espalhadas na sala e no corredor
Há um barco extasiado e uma sereia muda
Na maré dos olhos
Há ouriços do mar
tocando a pele do sono
e uma língua desconhecida ainda
que chama não sei de onde,
não sei de onde.

LAPSO

O mote esquecido bate na minha testa,


puxa as minhas pálpebras.
Aquele mote que veio me visitar ontem
vinga-se agora
de minha preguiça e
do meu cansaço.
O mote me cortejou
durante horas,
com um sorriso sedutor.

Algo não sossega no esquecimento recente


feito batidas misteriosas na porta do sono.
No silêncio se debatem aflitas
palavras irreconhecíveis.

O CERCO

Aqueles dias em que uma draga


puxa o velho navio naufragado
com uma penca de quinquilharias
grudadas no casco.

O cerco vitorioso das sombras


à cidadela das metáforas.
A palavra recolhe-se num canto
Arrastando as asas quebradas.

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 8/9
17/07/2019 MAURÍCIO DE MACEDO - POESIA DOS BRASIS – ALAGOAS - www.antoniomiranda.com.br

PECADO

Sentado no trono dourado,


no palácio suntuoso,
faz solene declaração sobre o que é vício,
transgressão dos preceitos da religião.

Em sua boca a palavra pecado prolifera


Feito bactéria do mau-hálito.

OS VIRTUOSOS

“aqueles que se preocupam demais


com o destino do homem acabam mais
cedo ou mais tarde ficando cruéis.”
(Isaac B. Singer, tradução de
Rubens Siqueira)

Os virtuosos não sentem culpa.


Os virtuosos não têm dúvidas.
Os virtuosos não sentem medo.
Os virtuosos só têm virtudes.

Os virtuosos erguem guilhotina


em nome da virtude.

POEMA N* 4
(de Canções da Maré)

Agora não é mais o silêncio


do cemitério violado
— ossário de coral exposto ao sol.
Agora já não existe o espanto
— hiato árido —
entre terra e água.
Agora é sim e não,
sim e não...
— murmúrio de galanteio do mar
Depositando o colar de espumas
no regaço da areia.

(Página publicada em agosto 2007.)

Palavra-chave: Metapoesia
Página republicada em junho 2008; ampliada e republicada em junho 2009

Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato


Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda

www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html 9/9

Você também pode gostar