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Próteses Fixas Provisórias

Lívia Sales P. Fiamengui


Luiz Fernando Pegoraro

1. Considerações Gerais
O objetivo deste capítulo é descrever as técnicas mais utilizadas,
mostrar as vantagens e desvantagens de cada uma, ressaltando que a
melhor técnica é aquela que melhor se aplica para uma determinada situação
clínica e que seja de domínio do cirurgião dentista (CD).
As coroas provisórias devem preencher alguns requisitos:
- proteger e recuperar o complexo dentino-pulpar traumatizado durante o
preparo dentário, impedindo que o dente preparado sofra agressões
térmicas, químicas e mecânicas provenientes do meio bucal;
- apresentar adaptação cervical adequada para evitar infiltração de saliva e
proliferação bacteriana em torno do dente preparado;
-não devem apresentar sub ou sobre-contorno, fornecendo condições para a
manutenção da gengiva marginal sadia durante todas as fases do tratamento;
- devem restabelecer a oclusão e os contatos proximais corretos para evitar
migrações e extrusões e impacção alimentar;
-restabelecer a estética e a fonética, dando as coroas provisórias cor, forma,
contorno e posicionamento vertical e horizontal corretos para que também
possam servir como protótipos da prótese fixa (PPF)

3. Técnicas de confecção
O material mais utilizado para confecção de coroas provisórias é a
resina acrílica autopolimerizável por ser um material de fácil manipulação,
pode ser modificado facilmente e diretamente na boca, pode ser reembasado
na região cervical, é relativamente barato, apresenta boa resistente à fratura,
tem estabilidade de cor razoável e apresenta várias cores.
As resinas acrílicas podem ser divididas em termopolimerizáveis
eautopolimerizáveis e sua seleção está diretamente relacionado com a
extensão da PPF e/ou do tempo que a prótese provisória vai permanecer em
função. As termopolimerizáveis são utilizadas para confecção de coroas
provisorias pela técnica indireta e apresentam maior resistência e
estabilidade de cor. As resinas autopolimerizáveissão são utilizadas mais
com as técnicas diretas, ou seja, são fabricadas diretamente na boca. Estas
apresentam propriedades inferiores às termopolimerizáveis, apresentando
menor resistência, maior porosidade e menor estabilidade de cor. Apesar da
qualidade inferior, ainda são consideradas satisfatórias, sendo o material
mais comumente utilizado.

Técnica direta
A técnica direta mais utilizada é feita por meio de moldagem com
alginato ou silicona dos dentes que farão parte da PPF. Para essa técnica a
moldagem pode ser feita diretamente do(s) dente(s) pilare(s) se estiverem
bem posicionados e com anatomia coronal que possa ser reproduzida ou de
um enceramento diagnóstico feito em modelo de gesso fixado em articulador.
Na primeira situação e para os casos de prótese fixa, após a confecção das
coroas provisórias dos dentes pilares, fixa-se um dente de estoque na área
edêntula (pôntico) nas faces proximais com resina acrílica. Pode-se
também usar facetas de dentes de estoque que são adaptadas e
reembasadas diretamente sobre os dentes preparados ou em dentes
desgastados em modelo de gesso.
Em qualquer técnica o uso de grande quantidade de resina. o calor
proveniente da reação exotérmica da resina é intensa e pode ser danosa à
polpa e ao tecido gengival. Para que isso não ocorra, deve-se irrigar
abundantemente a região durante o processo de polimerização da resina.
Essas técnicas serão descritas a seguir

3.1.1.Matriz de alginato

Fig.1. Foto Inicial de duas coroas metalocerâmicas que serão trocadas por
razões estéticas.
Fig.2. Molde da área com alginato

Fig.3. Após a remoção da coroa o preparo dentário é lubrificado.

Fig.4. O molde é preenchido com resina acrílica da cor selecionada.


Fig.5. O molde é posicionado sobre o dente preparado após resina atingir a
fase arenosa.

Fig.6. Remoção da coroa provisória de dentro do molde após completa


polimerização e remoção de excessos e reembasamento da porção cervical
do provisório com resina cremosa pela técnica do pincel

Fig.7. Foto final após polimento e acabamento


3.1.2.Adaptação de facetas pré-fabricadas

Fig.8 a e b. Vista do preparo concluído.

Fig. 9. O desgaste da face palatina do dente de estoque é feito com broca


maxicut. A quantidade de desgaste é determinada em função do
posicionamento correto da faceta sobre o dente preparado, sem
sobrecontorno.

Fig. 10.Desgaste da borda cervical para que a faceta seja posicionado


corretamente no sentido gêngivo/incisal e não alterar a estética da faceta.
Fig. 11 a e b. Lubrificação do preparo dentário com vaselina sólida

Fig. 12. Colocação da resina acrílica da cor da faceta na sua face interna.
faceta.

Fig. 13 a e b. Posicionamento da faceta sobre o dente preparado.

Fig. 14 a e b. Complementação da face palatina com resina com pincel.


Fig. 15 a e b. Após a polimerização da resina a faceta é removida e procede-
se ao reembasamento da porção gengival do provisório. Para isso, leva-se
resina na consistência cremosa na região do término do preparo com pincel
ou espátula de inserção.

Fig. 16. Após a demarcação do término com grafite os excessos laterais são
removidos com broca maxicut.

Fig. 17 Vista após acabamento e polimento da coroa provisória.

3.2. Técnicas indiretas


As coroas provisórias obtidas pela técnica indireta apresentam várias
vantagens sobre as demais técnicas, como maior durabilidade, maior
resistência, melhor integridade marginal e melhor estabilidade de cor. Para o
profissional essa técnica é prática, pois o profissional tem a prótese provisória
praticamente concluída antes do preparo dos dentes, visto que foi
confeccionada em laboratório. Assim, após a realização dos preparos, a
prótese provisória tem que ser reembasada internamente e na região do
término do preparo e ajustada na face oclusal. Estas técnicas são indicadas
para qualquer tipo de prótese fixa anterior ou posterior.

3.2.1. Técnica com matriz de silicona

Fig 18. Vista dos dentes preparados no modelo de estudo. O preparo deve
ser feito desgastando-se superficialmente todas as faces com broca
diamantada em baixa rotação.

Fig. 18 a e b. Com os modelos montados em articulador faz-se o


enceramento com cera branca, pois ceras coloridas podem deixar resíduos
sobre o gesso e alterar a coloração da resina. O enceramento pode também
ser feito sem preparar os dentes. Nesses casos os dentes pilares tem que
estar bem posicionados nos sentidos vestíbulo/lingual, mesio/distal e
gêngivo/oclusal. Faz-se somente o enceramento correspondente à área do
pôntico..
Fig. 19. Molde de alginato para duplicação do enceramento diagnóstico

Fig. 20. Modelo em gesso do enceramento diagnóstico.

Fig. 21. Confecção de matriz de silicona.

Fig. 22. Vista do preparo dos dentes no modelo duplicado


Fig. 23. A área do modelo que vai entrar em contato com a resina deve ser
lubrificado

Fig. 24. Após a mistura do líquido com o pó na cor previamente determinada,


a resina acrílica na fase fluída é introduzida no molde.

Fig. 25 a e b. Quando a resina perder o brilho, a matriz é posicionada sobre o


modelo duplicado e deve ser mantida em posição com elástico.
Fig. 27. Após 15 minutos, o modelo deve ser removido da polimerizadora e a
prótese provisória desincluída do modelo,.

Fig. 28. Vista mostrando a remoção dos excessos de resina acrílica

Fig. 29. Vista da prótese provisória em posição, mostrando desadaptação


cervical. Antes de se fazer o reembasamento é interessante realizar o ajuste
da oclusão.

Fig. 30. Antes de se fazer o reembasamento da região cervical o preparo


deve ser isolado com vaselina.
Fig. 31 a e b. Após misturar o pó e o líquido, a resina no estágio cremosos
deve ser levado sobre os términos dos preparos com uma espátula de
inserção. Esse procedimento também pode ser feito com a técnica do pincel.

Fig.32 a e b. O excesso de resina deve se acomodao em volta do próvisório


usando-se a espátuila de inserção. Quando a resina atingir a fase plástica
deve-se fazer pequenos movimentos de remoção e inserção para que
eventuais retenções não dificultem a remoção do provisório após a
polimerização da resina.

Fig. 33. Após a polimerização da resina faz-se a demarcação do término com


grafite para orientar corretamente a remoção dos excessos
Fig. 34. Vista da avaliação do ponto de contato comr fio dental.. Observe que
o ponto de contato está insatisfatório.

Fig.35 a e b. Para a correção do ponto de contato a face proximal do dente


vizinho deve ser isolada. Acrescenta-se resina na face proximal do provisório
e quando a resina perder o brilho a prótese provisória é introduzida em boca.

Fig.36. Vista da prótese em posição, mostrando a resina acrescentada na


face proximal.
Fig.37. Após a polimerização da resina a prótese é removida e faz-se a
demarcação da área do ponto de contato com grafite para orientar a remoção
dos excessos com ponta Maxicut em torno do ponto demarcado

Fig. 38. Em seguida, faz-se a confirmação do ponto de contato com fio


dental. A área de contato deve ocupar corretamente a face proximal, ou seja,
permanecer no terço médio oclusal, com a meia lingual/palatina mais aberta
que a vestibular e não invadir o espaço da papila gengival. O ponto de
contato deve causar resistência à passagem do fio dental, mas não deve
esgarçar e/ou causar a sensação de pressão ao dente vizinho.

Fig. 39. Utilização de papel de carbono para avaliação dos contatos oclusais

Fig.40 a e b. Demarcação dos pontos de contato antes e após ajuste oclusal.


Nessa fase é importante também fazer o ajuste em lateralidade e protrusão,
sendo que possíveis contatos obtidos nesses movimentos devem ser
eliminados.
3.3 Acabamento e Polimento
A obtenção de coroas provisórias lisas e polidas são de extrema
importância para manutenção da saúde periodontal e estética. Superfícies
rugosas facilitam a adesão da placa bacteriana, gerando inflamação da
gengiva marginal e manchamento da resina acrílica.
Várias técnicas de polimento são encontradas na literatura e todas
apresentam resultados clínicos semelhantes. A técnica mais comumente
empregada em consultório utiliza pontas abrasivas.

Fig. 42. Polimento com roda polidora cinza para desgaste grosseiro
(Exacerapol). Utilizar em baixa rotação, evitando-se desgaste excessivo da
resina acrílica.

Fig. 43. Polimento com roda polidora rosa para desgaste médio (Exacerapol)
em baixa rotação.
Fig. 44. Utilização de escova Scotch Brite Média para remoção de riscos

Fig. 45. Utilização de roda de brilho final

Fig. 46. Utilização de mini escova camurça. Pode ser utilizada com pasta
polidora ou bastão para brilho

4.Cimentação Provisória
A seleção do agente cimentante deve considerar vários fatores, como
grau de retenção dos dentes pilares, tempo de permanência na boca, grau de
mobilidade dos dentes pilares, extensão da prótese, técnica de confecção da
coroa provisória e necessidade de ação medicamentosa sobre a polpa.
O quadro abaixo apresenta os cimentos provisórios mais utilizados e suas
indicações:

Cimento Indicação Atenção!

Cimento de hidróxido de Necessidade de ação Em caso de pilares


cálcio medicamentosa??? múltiplos, aplicar vaselina
sólida nos pilares devido a
sua maior capacidade
retentiva
Cimentos de óxido de zinco Pilares com O eugenol presente em sua
e eugenol hipersensibilidade composição pode alterar
dentinária; necessidade de polimerização de algumas
maior retenção; resinas para restaurações
mobilidade dos pilares provisórias e materiais
para núcleo de
preenchimento. Em casos
mais extensos, também
incorporar vaselina solida
Pasta zincoenólica Casos de retenção
excessiva e múltiplos
retentores
Tabela 1. Cimentos provisórios mais utilizados e suas indicações

Fig. 47. Para a cimentação provisória os dentes e a prótese provisória devem


estar secos. As faces externas correspondentes ao terço cervical devem ser
isoladas para facilitar a remoção do excesso de cimento, especialmente
dentro do sulco gengival.
Fig. 48. Deve-se colocar fio dental envolvendo completamente uma das faces
proximais para facilitar aa remoção dos excessos de cimento da região
proximal sob o pôntico.

Fig. 49. Manipular cimento provisório e aplicar uma fina camada nas
superfícies axiais das coroas provisórias. Grande quantidade de cimento
colocado no interior da coroa causará desajuste cervical!!!

Fig. 50. A prótese é levada em posição e mantida sob pressão até a presa
inicial do cimento.

Fig.51 a e b. Após presa total do cimento os excessos de cimento são


removidos com sonda exploradora e fio dental
Fig. 52 a e b. Vistas da prótese cimentada.

Literatura Sugerida
1- Neppelenbroek KH, Lopes JFS, Silva RHBT, Segalla JCM. A importância
das próteses provisórias. RGO, n.51, v.1, p.50-53, jan/fev/mar., 2003
2- Brannstrom M. Reducing the risk of sensitivity and pulpar complication after
the placement of crowns and fixed partial dentures. Quintessence Int, v.27,
n.10, p.673-8, Oct 1996.
3- Pegoraro, L.F. Coroas provisórias. In: Pegoraro, L.F. Prótese Fixa. São
Paulo: Artes Medicas, 2013. Cap.6, p.111-148.

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