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SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS: SEMELHANÇAS E ESPECIFICIDADES NO CONTEXTO

FRANCÓFONO COMO L1 E NO CONTEXTO BRASILEIRO COMO LE

Vera Lúcia Lopes Cristovão


Lidia Stutz

 Comparação entre duas sequências didáticas, uma do contexto francófono para o


ensino de francês como primeira língua e outra do contexto brasileiro para o ensino de
inglês como língua estrangeira.

 Segundo Schneuwly, Língua materna: Língua adquirida no seio familiar. Primeira


língua: Língua escrita aprendida na escola. Língua estrangeira: Um outro idioma
aprendido posteriormente, com mediação da língua materna e uma boa parte do contato
tido pelo aprendiz ocorre em ambiente escolar ou virtual.

 Elas têm como gênero discursivo comum – a entrevista radiofônica. E, baseiam-se na


teoria do Interacionismo sociodiscursivo e na engenharia didática das línguas.

 O ISD (interacionismo sociodiscursivo) é uma teoria que entende a linguagem numa


perspectiva social como atividade de comunicação. Ela destaca a importância da
linguagem com foco nas interações sociais. Os gêneros São portadores de sentido,
materializados e construídos sócio-históricamente. (Influência de nomes como: Bakhtin e
Vygotsky)

 A engenharia didática das línguas: busca desenvolver tecnicamente as tarefas e as


ações dos alunos para aprender, coordenar as intervenções dos professores e elaborar
meios capazes de resolver os problemas de ensino da língua.

 Por mais que as duas sequencias se apoiem nos mesmos fundamentos teóricos, elas
possuem contexto e objetivos diferentes (L1 e LE).

 A sequência didática, segundo Cristóvão, é um “conjunto de atividades organizadas


para realizar a transposição didática de conhecimentos que envolvem o uso de gêneros
textuais, suas esferas de produção e circulação.” Ela pode ser dividida em módulos
compostos por atividades com objetivos específicos voltados para o desenvolvimento das
capacidades de linguagem que são: habilidades necessárias para a compreensão e
produção de um gênero numa situação de interação determinada.
 Para conduzir este estudo, as autoras fizeram uso dessas capacidades de linguagem
como critério para a análise das duas sequências didáticas.

 Capacidade de ação (CA): Busca de informações sobre as características do contexto


de produção do texto, quem produziu, para quem, qual o objetivo da interação, quando,
onde etc.

 Capacidade Discursiva (CD): Organização interna do texto. Reconhecer a organização


do texto, elementos não verbais, procurar informações específicas no texto.

 Capacidade linguístico-discursiva (CLD): Uso de elementos léxicos e sistêmicos que


formam a tessitura do texto ou que contribuem para a organização do texto de cada
gênero específico: conectivos, coesão verbal e nominal, dêiticos, construção de
enunciados (uma frase, por mais simples que seja, só revela seu real significado
dependendo no contexto na qual ela é produzida), escolhas lexicais etc.

 Capacidade de significação (CS): Exploram aspectos mais amplos: compreender a


relação entre textos e a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz, construir
mapas semânticos, posicionar-se sobre a relação entre texto e contexto.

CONCEITOS ESPONTÂNEOS E CIENTÍFICOS E SUAS INTERFACES COM L1 E LE

 De acordo com o pensamento de Vygotsky, o desenvolvimento do ser humano parte de


conhecimentos adquiridos de forma espontânea (sem uma tomada de consciência) e
formal (uma assimilação dos conceitos, de maneira consciente).

 Da mesma forma ocorre o aprendizado da língua materna pela criança (de forma
espontânea) e o da língua estrangeira (de maneira consciente desde o início).

 E, para a construção de conhecimentos científicos, como o da língua estrangeira, é


preciso de uma mediação através dos conhecimentos vindos da primeira língua.

 O ensino escolar da língua oral ocupa um lugar muito limitado. São poucos os estudos a
respeito da aprendizagem de gêneros orais e a busca do desenvolvimento das
habilidades de produção e compreensão oral em língua inglesa com base em uma
abordagem de gêneros.

SEMELHANÇAS E ESPECIFICIDADES

 As semelhanças foram: utilização de atividades que buscam desenvolver as


capacidades de linguagem em torno dos gêneros de textos escolarizados. A
exploração de um texto com circulação mais ampla com o propósito de promover uma
inserção social maior dos alunos. A verificação da progressão dos alunos através da
avaliação somativa. Avaliação diagnóstica através da produção inicial e final. A
apresentação de informações extras e diversificadas para dar apoio ao aluno na
realização das atividades.

 As especificidades da estrutura externa: A SDSEF é uma compilação de fichas e


anexos em preto e branco (promovendo maior flexibilidade e escolha do professor de
acordo com a necessidade do aluno). A SDGU é parte de um livro que não pode ser
retirada ou destacada, mas possui diversos recursos gráficos e colorações (mesmo
tendo um aspecto linear, ela tem as orientações de se trabalhar de acordo com a
necessidade dos alunos e esses recursos gráficos é uma maneira de propiciar maior
envolvimento dos alunos e tornar o material mais atrativo).

 Organização: SDSEF possui 27 atividades. SDGU possui 48 atividades (devido a


necessidade de desenvolver capacidades que ainda precisam ser internalizadas pelos
alunos).

 As especificidades da estrutura interna das atividades: A SDSEF tem uma ocorrência


maior de agrupamentos de três a quatro capacidades de linguagem, enquanto na
SDGU a ocorrência maior é a de atividades sem agrupamento ou com, no máximo,
agrupamento de duas capacidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Essa comparação levou em conta as necessidades dos diferentes contextos, as


condições e objetivos educacionais e os papéis das línguas no processo de ensino-
aprendizagem.
 A língua Inglesa necessita de um ensino sistemático, pois, mesmo que haja uma gama
de situações nas quais a língua Inglesa impera (internet, músicas, filmes etc.), o meio
social não propicia essa interiorização para o aluno. Além disso, o sistema escolar público
não assume a necessidade de propor o ensino de inglês desde as séries iniciais e o
número de aulas é menor que os das aulas de L1.

 O ensino de línguas, tanto de L1 como de LE, precisam fazer parte de um projeto


transdisciplinar voltado para a participação ativa do aluno na sociedade.

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