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RELAÇÃO FALA E MÚSICA NA CANÇÃO ERUDITA BRASILEIRA: O CASO

WALDEMAR HENRIQUE.

Por Jessé do Carmo Bueno


INTRODUÇÃO
Waldemar Henrique, artista símbolo do Pará, foi um grande músico brasileiro.
Maestro, pianista, escritor e compositor, tem em sua obra mais de cento e cinquenta canções,
além de peças para coro, orquestra, piano solo, trilhas para novelas, filmes e teatro (fonte).
Suas obras têm como tema o folclore amazônico, indígena, nortista e brasileiro.
O artista buscava com essa temática a simpatia do público comum, ele considerava o
povo muito importante e achava que compondo canções tipicamente eruditas não despertaria
o interesse desse público. Waldemar Henrique gostava das músicas tradicionais e suas
canções costumam agradar a qualquer tipo de ouvido na primeira escuta, por isso é comum
muitos músicos recorrerem à obra do compositor para incrementar seu repertório.
Waldemar Henrique é reconhecido no Pará como músico influência e grande músico,
da produção popular e catalizador das produções populares e eruditas. Compositor que
transita entre os gêneros erudito e popular.
Assim sendo, proponho neste projeto uma pesquisa sobre a forma ideal do cantor
lírico interpretar as canções de Waldemar Henrique levando em conta o ponto de vista do
compositor, que não esteve em momento algum preocupado em qual gênero (lírico ou
popular) suas canções se encaixariam, mas com a forma como seriam interpretadas. A
produção de Waldermar Henrique pode ser considerada música erudita?

OBJETIVOS
Considerando que a pesquisa aqui proposta concentrar-se-a nas principais abordagens
que o par música-texto tem recebido na bibliografia da arte, a fim de desenvolver uma análise
e interpretação dos mesmos apresento agora os principais objetivos da pesquisa:
OBJETIVO GERAL - ​Pesquisar, na produção do compositor Waldemar Henrique, a
relação entre fala e música e o tratamento que esta tem tido na formação do intérprete de
língua portuguesa. Fazer levantamento bibliografico das abordagens estéticas ao longo da
história da Formação em Canto, oferecida pela Escola de Música da UFRJ para depreender
como o tema tem sido tratado
OBJETIVOS ESPECÍFICOS –
Estudar cuidadosamente o processo de composição do compositor
Analisar os elementos, em sua composição, que remetam às demais categorias
analíticas da música brasileira – popular e folclórico
Analisar o tratamento dado pela formação em canto para compreender o significado
da proposta de Waldemar Henrique, quando este valoriza o entendimento da letra da canção,
e como este impacta o mundo da canção contemporâneo e consequentemente a formação em
canto
Demonstrar se o procedimento em contrário contribui para a manutenção do status
quo da arte erudita, como marca de distinção, o lugar ontológico dado a ela, desde platão,
Produzir gravações, sintetizando na prática os resultados das reflexões anteriormente
mencionadas contribuindo para a elucidação desse processo de alienação da fala da canção
erudita – logo da vida real, permitindo assim uma aproximação da canção erudita com o
público de maneira ampla e irrestrita
Identifica o que, na produção de Waldemar Henrique pode ser catalogado como
erudito e como popu

MARCO TEÓRICO
Os critérios de avaliação estética tomados pela música erudita raramente se ajustam
ao estudo da música popular. Essa é também uma das motivações que nos levaram a tentar
compreender a penetração de Waldemar Henrique no mundo erudito, apesar de carregar a
pecha da música popular. Nesse sentido buscamos uma metodologia que possibilite ampliar a
capacidade interpretativa para além dos significantes musicais mais utilizados e
contaminados pelo meio acadêmico.
A questão inicial que se coloca é de delimitacão: música popular em oposição a
música erudita, isto seria música de tradição oral em oposicão à musica de tradicão letrada?
Música para ver (partitura) ou para ouvir (de ouvido)?
A fixação destas normas não implica de forma alguma a fixação definitiva e
irrecorrível da fonética da língua-padrão. Por isso mesmo foram elas chamadas “normas” e
não “leis”. Casos há que, embora definidos pela atenção aguda e cautelosa de filólogos
eminentes, carecem ainda de comprovação experimental. Outros casos há também,
dependentes de mais completa generalização, não só porque as línguas vivas são
manifestações humanas de perpétua evolução... Verificações experimentais ulteriores bem
como fixações novas que porventura apareçam, deverão transformar necessariamente as
normas que com elas colidam. (NORMAS, 1938, p. 35) A abordagem musical e a
consideração da pronúncia do PB Cantado permitem, a partir da referência das tradições do
canto erudito em outros idiomas, o estabelecimento de soluções bastante funcionais quanto a
alguns casos típicos e

METODOLOGIA
Tratando-se de um estudo analítico das principais obras que tratam do objeto da
presente pesquisa, a metodologia consistirá basicamente na pesquisa de catálogo e da
bibliografia sobre a obra do compositor. Inicialmente, e no trabalho de interpretação dessa
composição. Este estudo será apoiado no levantamento bibliográfico aprofundado de
comentadores; de leitura de artigos, suas réplicas e tréplicas, entrevistas, palestras e cursos
sobre os temas, dos autores abordados; leituras de artigos e livros de reconhecidos
especialistas e comentadores dos autores que abordam o tema da presente pesquisa.

CRONOGRAMA DO TRABALHO
A pesquisa deverá abranger, em todas as suas fase, um período de dois anos. Serão
redigidos relatórios semestrais apresentando os resultados parciais da pesquisa. Ao final se
terá um conjunto mínimo de 4 ensaios para publicação conjunta. Segue o cronograma de
execução:
ANO I
Semestre I ​– levantamento da catalogação básica, a partir da bibliografia
Semestre II: feito o primeiro levantamento, definir as obras, dentro dos critérios, que
abordam a questão de maneira mais central
ANO II
Semestre I – ​análise das obras a partir das categorias definidas no marco teórico
Semestre II – gravação das obras, acompanhada de ensaios explicitando as escolhas
artísticas e estéticas, de acordo com a análise precedente e arcabouço teórico.

JUSTIFICATIVA
Waldemar Henrique em seus depoimentos demonstrava preocupação com a relação
do texto com a música. Ao compor suas canções o autor optou por não abusar dos agudos ou
grandes extensões, sua proposta foi escrever em regiões de conforto para que o intérprete
pudesse dar mais clareza ao texto.
“A intérprete que eu considero ideal para as minhas músicas é a intérprete que põe seu
primeiro cuidado na interpretação do texto; seria uma declamadora que cantasse, porque a
cantora lírica habituada a cantar textos para os quais ela dá pouca importância... ela se
preocupa com a emissão vocal privilegiada, de respiração, de afinação; há mesmo cantoras
que desenham toda a melodia belissimamente, mas não se percebe o texto que ela cantou...
Todas as minhas canções mereceram um respeito ao texto; esse texto, para mim, é que tem
valor...”( FULANO, XXXX, p. Xx)
“Não... respeitando o tipo de trabalho que nós tínhamos, que era de estar mais em
contato com o povo, eu sempre achei que o povo era muito importante, eu achava que fazer
canções tipicamente eruditas, eu não lograva o interesse popular. Eu podia não fazer a música
de sabor bem folclórico, bem popular, ficasse no meio termo...” (FULANO, XXXX, p. Xx)
“As minhas composições não tinham a preocupação de serem eruditas, portanto elas
se destinavam a serem cantadas de acordo com aquele conselho que me deu Mário de
Andrade, que a canção é para ser cantada e não trabalhada pianisticamente no
acompanhamento; ou por outra, que a expressão do piano dominasse a canção. Porém tem
outra lição. Villa-Lobos dizia: ‘A gente não deve harmonizar um tema folclórico; a gente
deve ambientá-lo harmonicamente’. Portanto, não era só harmonizar, era ambientar.”
(FULANO, XXXX, p. Xx)
A pesquisa proposta nesse projeto através do ponto de vista e da obra de Waldemar
Henrique se estende as demais Canções brasileiras de outros compositores, e até mesmo do
repertório de canção estrangeira e operistico, pois o objetivo do projeto é encontrar a
adequação vocal entre a voz lírica e a clareza do texto.
Neste caso, o trabalho foi focado na obra do compositor porque o mesmo teve tal
preocupação na escrita de suas canções vizando essa clareza do texto na interpretação do
cantor com o objetivo final de uma identificação com o público, não só pela temática
folclórica, mas pela compreensão do texto dessas histórias no canto do artista.
Logo, a obra de Waldemar Henrique é um excelente material de estudo para a
formação do cantor lírico na busca de um elemento muito muito importante a qualquer bom
cantor lírico, quer na canção brasileira, estrangeira ou no repertório operistico, a clareza do
texto.
“Componho preferencialmente canções, gênero universal, genuíno, que se nutre em
versos, poemas e quadras, capazes de revelar música e ritmo que já trazem em si. Meu
trabalho começa pela escolha da tonalidade adequada, passando pela ambientação melódica,
ritmicamente subordinada às expressões do verso, o qual me indica as modulações
necessárias, intervalos e acordes. Comentários e detalhes de harmonização depois
complementam a missão do compositor. No meu caso, sou mais preocupado com o texto em
função do cantor. Enfim, desejo escrever canções para serem cantadas, não arquivadas.”
(FULANO, XXXX, p. Xx)

Referências Bibliográficas
NORMAS para a boa pronúncia da língua nacional no canto erudito, ditadas pelo Primeiro
Congresso da Língua Nacional Cantada, realizado em São Paulo, em 1937. In: MARIZ, V. A
canção brasileira: erudita, folclórica e popular. 4a edição. Rio de Janeiro: Livraria Editora
Cátedra, 1980.

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