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Técnicas para compor música


Bruno Grünig
! Técnicas para compor música! 3

Técnicas para compor música


Bruno Grünig

Ano - 2013
Edição 2
Capa - Bruno Grünig

Todos os direitos reservados


Bruno Grünig
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Indice

Apostila 1 - Introdução! 7
Quem é você?! 8
Porque aprender técnicas para compor música?! 10
Música é difícil?! 11
Como estudar! 14
Apostila 2 - Inspiração ! 15
Caçando inspiração! 15
Deixe a sua criatividade trabalhar! 18
O que é "criatividade"! 20
Pontos importantes desta apostila! 21
Apostila 3 - Letra ! 22
Letra ou melodia - quem vem primeiro?! 22
Letra e poesia! 24
Rimas! 26
Linguagem! 29
Clareza! 30
Palavras impronunciáveis! 30
Quando falar de sexo! 30
Falando de cachaça! 30
Ingenuidade! 31
Português! 32
A imagem! 33
Detalhes Irrelevantes! 34
Localização! 34
Emoção! 35
Realidade! 35
Métrica e cadência! 37
Plágio! 37
Compasso! 39
Apostila 4 - Estrutura da música! 42
ESTRUTURA! 42
! Técnicas para compor música! 5

O título! 45
Tipos de estrutura! 46
The cowboy in me (Tim McGraw)! 47
Duração da música! 50
Introdução! 51
Um minuto! 51
Sites de cifras! 53
A estrutura (quase) perfeita! 55
Apostila 5 - Melodia ! 57
O que é melodia! 59
Como você vai fazer suas melodias! 61
O seu instrumento! 62
Apostila 6 - Acompanhamento! 64
Acompanhamento! 64
Tabela de acordes! 65
A numeração da tabela! 66
Os acordes em sua música! 66
Como colocar os acordes em sua música! 70
Ritmo! 73
Arranjo! 75
Apostila 7 - Compondo a sua música! 77
Colocando tudo junto! 77
Nossa nova canção! 77
Chama ela (Bruno Grunig)! 79
A sua primeira tentativa! 82
Apostila 8 - O produto final! 83
Opinião! 83
Gravação! 86
Gravando! 86
Dinamica! 89
Etapas da produção de uma música! 90
Influências! 91
Criando um estilo! 92
Resumindo...! 92
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Itens a considerar! 93
Apostila 9 - Analisando sucessos! 94
Analisando um grande sucesso! 94
É o amor - Zezé Di Camargo! 94
A história! 95
Os acordes! 97
Analisando outro sucesso! 98
Cathedral Song! 98
Canção da Catedral - tradução! 99
Catedral (versão de Zélia Duncan)! 101
Música dos Beatles! 105
I Want to hold your hand! 105
I want to hold your hand - Tradução! 108
"Batizando" uma música! 110
Você é a dona do meu coração - de Zé Henrique e Gabriel! 110
Apostila 10 - O mercado musical! 113
O "segredo" da música sertaneja! 113
Mitos e verdades! 115
Vou fazer sucesso?! 118
Direitos autorais! 120
Divulgando seu trabalho! 121
A música! 121
Fotos! 121
Videos! 122
Textos! 122
Blogs e sites sociais! 122
E-mail! 123
Recomendações Finais! 124
! Técnicas para compor música! 7

Parte 1 - Introdução

Seja benvindo

Parabéns pela sua iniciativa. Quando você deseja fazer algo, deve tomar as devidas
providencias e, uma delas (muito importante) é aprender como fazer.

Neste curso de composição musical, você vai receber ensinamentos práticos para compor
músicas populares, termo que aqui significa "músicas simples", como aquelas que você ouve
todos os dias no rádio.

O curso não se prende a gêneros, como sertanejo, samba, rock ou coisa assim. Os tópicos
abordados servem para qualquer gênero.

A seguir, você verá, nesta apostila, a primeira do curso, algumas noções básicas e algumas
dicas sobre como proceder para obter um alto rendimento em seus estudos.

O livro está dividido em “apostilas”, que foram agrupadas numa só peça. Isso dá a você a
possibilidade de voltar mais facilmente a um determinado tópico.

Em alguns tópicos você verá a menção “curso”. Acontece que as apostilas poderão ser
destinadas a fazer parte de um curso futuro. Entretanto, aqui está toda a informação
necessária para que você tenha uma boa base sobre composição musical.

Leia com muita atenção e boa sorte.


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Quem é você?

Comecemos por "analisar" a sua pessoa. E quem deve fazer isto é você mesmo.

A finalidade desta "análise" é preparar você para abrir a mente e aprender de verdade. É
muito comum ouvir a frase "burro velho não aprende mais nada". Isso não é verdade.

Eu tenho, no momento em que escrevo este livro, cinquenta e quatro anos de idade. E
garanto a você que vivo aprendendo algo todos os dias. Porque aprendi a liberar minha
mente. E é isto que você precisa fazer.

Mas antes de "fazer" isto, você deve analisar a si próprio. Procure observar a si mesmo, as
coisas que faz todos os dias. principalmente as coisas que faz errado.

Se você comete constantemente o mesmo erro, deve observar esta área. Cometer o mesmo
erro vez após vez é bastante significativo. Significa que você não consegue abrir sua mente
para aprender a fazer certo. Você aprendeu errado e sua mente assimilou que aquela
determinada coisa deve ser feita daquela maneira.

Para corrigir este tipo de erro, você precisa fazer um esforço. Para aprender novamente.
Praticamente "esquecer" o método anterior. Para então assimilar o método novo.

Vamos citar um exemplo. Suponhamos que você está aí, já com umas arrraammm...
duzentas "músicas" (letras) cuidadosamente guardadas num arquivo em seu computador.
Você foi escrevendo e escrevendo. Agora já tem um enorme "repertório" de músicas de sua
autoria.

Continuemos supondo que você termine este curso e, mesmo antes de terminar, já perceba
que suas preciosas músicas estão completamente em desacôrdo com o que o curso ensina.

Você pode então fazer duas coisas:

1.Esvaziar a sua mente do método anterior e começar tudo de novo.


2.Jogar fora os ensinamentos do curso e continuar fazendo da mesma maneira.

A decisão é sua. Recentemente conheci uma pessoa que tinha centenas de letras escritas.
Esta pessoa me passou algumas delas, acreditando que eu poderia simplesmente fazer a
melodia e... tcharammm!!! Nasceria um grande sucesso.
Quando eu tive refazer a letra, e modificar a melodia proposta radicalmente, para
transformar aquilo em algo parecido com música, a pessoa fechou-se. Não aceitou nada do
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que propus. Aquela pessoa achava que já sabia fazer música e não aceitaria jamais
modificar nada do que fez.

Eu tenho quase certeza de que você tem - escondidinho aí - algumas letras, algumas
músicas. É claro... todo mundo que deseja compor, fica com o "bichinho" incomodando na
cabeça e precisa fazer alguma coisa. Nada de mal nisso.

Mas pense um pouco... suponhamos que você quisesse fabricar tijolos. Você poderia fazer
uma das coisas abaixo:

1.Pensar: "Bem... tijolos são feitos de barro. Então, vou misturar barro com água, até dar
consistência, colocar numas formas e fabricar mil tijolos.
2.Pensar: "Como é que são feitos tijolos?". E procurar aprender, e só então fazer... um
tijolo, não mil. Porque o primeiro quase nunca sai muito legal, não é verdade?

A segunda atitude é a mais correta. De que adiantaria ter mil "tijolos" que não são tijolos?
Que não servem pra nada?

E qual a diferença entre fabricar tijolos e "fabricar" músicas? No aspecto de aprendizado...


nenhuma. É preciso aprender primeiro, para fazer depois.

E se por acaso você tem algumas letras que já fez, talvez tenha que fazer a mesma coisa que
no caso dos tijolos. Encostar de lado, aprender a fazer e começar de novo.

Por isso você deve pensar e analisar a sua personalidade. Se você está profundamente
apaixonado por aquilo que já fez, se acha que está correto do jeito que fez e não quer mudar
nada... bem... deve perguntar a si mesmo porque comprou este curso.

Abra sua mente, não se prenda a nada. Deixe que os novos ensinamentos entrem em seu
cérebro, sem resistencia. No final, nem sequer consulte seus escritos anteriores. Tente fazer
uma música só, de acôrdo com o curso. Tente, não. Faça. Empenhe-se ao máximo. Eu tenho
quase certeza de que assim fazendo, você talvez nunca mais mexa em suas letras anteriores.
Mas isto não quer dizer que você não possa reaproveitar temas. De repente, você tem ali
algo muito interessante, boas frases, um bom refrão, um tema inédito. Pegue a idéia e
reescreva a música, de acôrdo com seus novos conhecimentos. Use a cabeça!
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Porque aprender técnicas para compor música?

Uma das primeiras coisas que você deve ter em mente, é o seguinte: música não é só
inspiração. É comum as pessoas pensarem que a música simplesmente "aparece" na mente
do compositor. Isso não é verdade.

A inspiração é só o começo, como você verá mais adiante.

Entre a inspiração e o produto final, uma música vendável, que muitos queiram e gostem de
ouvir, há um longo caminho a ser percorrido. Um caminho de trabalho duro, árduo.

Encher uma folha com letras é fácil, não demora nem dez minutos. Fazer uma música
decente demora muito, muito mais.

Por isso, mais uma vez, despoje-se de todo pré-conceito. Ou seja... tudo aquilo que você
pensava, coisa que ouviu por aí, que alguém disse na TV, no rádio. Eu já ouvi coisas assim,
partindo de compositores:

"...esta música me surgiu num dia em que estava dirigindo meu carro..."

Seria mentira? Não, é assim mesmo. Mas o que "surgiu" foi a idéia, não a música toda.
Depois, o compositor foi trabalhar em cima da idéia, para desenvolver a música. E nesta
hora, a do trabalho duro, ele valeu-se de que? Das técnicas que já conhecia. Você verá isso
com detalhes mais adiante.
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Música é difícil?

Vamos colocar assim: se você quer compor música clássica, sinfonias, sei lá o que mais, está
fazendo curso errado. Para entender tudo de música, é preciso fazer uma faculdade,
aprender pelo menos uns quatro instrumentos e mais algumas coisas.

Entretanto, nem só de música complicada vive o mundo. Enquanto que uma música
clássica pode ter centenas de notas, acordes, arranjos para diversos instrumentos e mais um
balaio cheio de coisas, uma música simples, pode ter apenas umas poucas notas e três
acordes. É aqui, nesta área que vamos trabalhar.

Por exemplo, a música "Parabéns a você", tem apenas vinte e sete notas em sua primeira
estrofe. E usa apenas três acordes. Quer algo de maior sucesso? O mundo todo executa estas
notas e estes acordes!!!

E é por aí que você deve começar. Não pelo parabéns a você. Pelas poucas notas e poucos
acordes. Mais para Amado Batista que para Djavan, se é que me entende. O primeiro fez e
faz sucesso com músicas simplérrimas. O segundo compões músicas com duas dezenas de
acordes complicadíssimos. É isso que você quer? Fazer música complicada? Música
"cabeça"? Vai ter que estudar muito.

Portanto, comece pelo mais simples. Aliás, assim como o parabéns a você, existem centenas
de milhares de músicas que fizeram sucesso estrondoso e seguem a mesma fórmula: a da
simplicidade.

E é isto que você vai aprender aqui.


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Princípios básicos para compor


Eu acho engraçado como às vezes as coisas estão diante dos nossos narizes e a gente
simplesmente não vê.

Como no caso da pessoa que faz centenas de "letras de música" e nunca compara o que fez
com as músicas que fazem sucesso.

Se você quer ser compositor, trate de prestar atenção às músicas que ouve. E de preferência,
ouça músicas que fazem sucesso. Ficar ouvindo músicas que ninguém quer ouvir, que só
venderam meia dúzia de cópias, não adianta nada.

As músicas estão aí, para que você aprenda com elas. E para isso, você precisa ouvir com
ouvidos diferentes. Com ouvidos de quem deseja aprender.

A mesma pessoa que mencionei anteriormente, que já tinha centenas de "músicas" escritas,
insistia que as letras das músicas de sucesso não tinham estrutura (você vai ver isto mais
adiante). Dizia que eram feitas de forma aleatória, corrida. Ou seja, mesmo lendo as letras
das músicas, sua mente estava completamente embaçada pela teimosia.

A primeira coisa a fazer: abrir sua mente e analisar com imparcialidade as músicas que
fazem sucesso. Aqui vão alguns princípios básicos para ouvir e aprender:

• Ouça a música acompanhando a letra escrita (Pegue a letra em sites que dividem
corretamente as estrofes).
• Tente perceber como a melodia e o acompanhamento mudam de uma estrofe para
outra e depois para o refrão.
• Tente perceber o vai e vem da melodia, alternando entre as estrofes e o refrão.
• Perceba como a melodia das estrofes conduz ao refrão
• Perceba com a história (na letra) começa a ser contada e como o refrão completa a
história.
• Procure entender porque uma determinada frase da letra lhe chamou mais a atenção,
ou emocionou, fez rir, etc.
• Veja se você consegue localizar na letra uma frase que praticamente resuma a música.
• Escute repetidas vezes e faça algumas anotações sobre o que você conseguiu reparar.
Por exemplo, quantas vezes foi repetido o refrão. Quantas vezes foi repetida uma
determinada estrofe. De que estrofe a música parte para o refrão.

Não se preocupe em aprender nada agora. Apenas faça isto frequentemente. Analise a
música. Tente retirar dali o máximo que puder. Isso vai lhe ajudar muito nas lições que
se seguem.
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Atenção: Você não precisa parar de estudar para analisar músicas. Continue lendo as
apostilas, conforme ensina o próximo tópico.
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Como estudar

Você tem diversas “apostilas” à sua disposição. Cada uma delas tem um título, é claro. E
fala a respeito daquele título. Deixe-me adivinhar o que vai acontecer: você vai ler os
títulos e um deles vai lhe chamar mais a atenção. Aí você vai pensar: "era isso que eu
precisava...". E você vai direto àquela apostila, só pra dar uma "pescoçada". Depois você
olha "o resto", aquilo que você "já sabe". Adivinhei? Eita! Talvez você nem esteja lendo
isso aqui, certo? Está lendo só agora e fazem meses que você só deu uma olhadinha
naquela apostila que "era o que você precisava"? Oh, oh... se lascou. Não faça isso. Siga o
roteiro abaixo:

1. Leia o curso todo, do início ao fim, sem deter-se para entender melhor alguma
coisa e sem fazer anotações. Apenas leia tudo, como se fosse um livro que você
adquiriu para lazer. Quando chegar ao final, você, sem perceber, já assimilou uma
boa parte dos ensinamentos.
2. Aí então, comece a ler tudo novamente, só que desta vez, você vai passar mais
rapidamente pelo que acredita já ter entendido e deter-se, demorar um pouco
mais naquilo que em que ainda tem dúvida. Anote as dúvidas e siga em frente.
3. Se houver exercícios em alguma apostila, não misture o tempo de leitura com os
exercícios. Separe um tempo à parte para fazer exercícios.
4. Ao final desta segunda leitura, e tendo feito os exercícios propostos, consulte suas
anotações e veja se ainda tem dúvidas. Se tiver, repasse a lição referente às
dúvidas.
5. Hora de trabalhar. Compor música!
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Apostila 2 - Inspiração

Caçando inspiração

Uma das primeiras coisas que me ocorre, e que aprendi a duras penas, é "caçar"
inspiração. Imagine você se a gente fosse compor somente sobre aquilo que está sentindo,
ou sobre situações por nós vividas. Assim fosse, o compositor mais famoso em que você
possa pensar, teria feito apenas uma meia dúzia de músicas. Portanto, temos que capturar
coisas, frases, situações, motivos... de outras pessoas.

E como é isso? Observar, escutar. Não com olhos e ouvidos comuns. Com os sentidos já
dirigidos à canção. Por exemplo: um amigo teu brigou com a namorada. Coisa mais chata
ficar escutando as lamúrias do cara, fala sério... mas não pra um compositor. Empreste o
ouvido a ele. Ele vai pensar que é o ouvido de amigo, mas não. Pode até ser malandragem,
mas vai ser o ouvido do compositor. Deixe o sujeito choramingar à vontade. Depois corra
pra casa e anote tudo num papel. Dali pode surgir uma canção.

São mil situações. Você pode prestar atenção a conversas de estranhos, no ônibus, metrô,
restaurante. Casal quebrando o pau é que não falta. Na roda de amigos, no clube... enfim, é
andar por aí com os olhos e ouvidos do compositor bem abertos.

Pessoas têm às vezes um momento de brilhantismo, de inspiração. Já deve ter acontecido


com você. De repente um amigo, colega de trabalho, coisa assim, solta ali numa conversa
uma frase ou expressão brilhante, sobre um determinado assunto. Uma expressão na qual
você desejaria ter pensado. Aí está uma fonte de frases e expressões que você, em alguns
casos, pode usar em sua música. Um dia, vi escrito num muro: "penso tanto em você que às
vezes esqueço de mim" - coisa assim. Anos depois, escutei uma música que dizia assim: "sou
tão você que às vezes sinto saudade de mim". O autor da música aproveitou a frase popular
e colocou na música.

Atenção: Frases e ditos populares, às vezes podem ser usados como títulos ou partes de
refrões, com muita propriedade!

Uma ótima sugestão (aprendi num livro) é andar sempre com um mini-gravador (você
pode usar o celular, é claro). Hoje em dia tem mp3 player que grava voz com uma qualidade
impressionante. Aí, veio a idéia, tome o dedo no botão do bichinho e ficar falando ou
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cantando a idéia nova. Bom, se você for bem desinibido, pode até fazer isso diante dos
outros. Deixem que pensem que você é doido. Eu mesmo confesso ser bastante tímido. Só
gravo escondidinho e baixinho. Ah, sim... serve também a aplicação do celular para gravar
notas.

A outra - óbvio - é papel e caneta. E tome anotação. Tanto o gravador como o papel, são
essenciais. Tem que ser na hora que a idéia vem. Peça licença, vá ao banheiro, faça qualquer
coisa para anotar sua idéia. Não confie na memória. De jeito nenhum. Anote e grave
sempre. Pra não ficar como eu já fiquei, bronqueado comigo mesmo porque a excelente
idéia que tive bem na hora do almoço, esfumaçou-se no caminho para casa. Já era. Nem
adianta tentar lembrar. Tudo bem, talvez não fosse a melhor idéia do mundo, mas talvez
fosse aquela música que você sempre quis compor. E você a jogou fora. Sim, porque - creia-
me - não volta mais.

Lembre-se: não confie na sua memória! Grave e anote!

Na verdade, a grande maioria das idéias vão para o lixo, por diversos motivos. Um deles é
que a idéia que lhe parecia excelente pode mostrar-se não tão boa mais tarde e uma
verdadeira porcaria alguns minutos depois. É normal. A gente se entusiasma na hora, mas
não é bem aquilo. Outro problema pode ser uma coisa que não era realmente uma idéia. Era
algo parecido com alguma outra música que você já escutou, coisa assim. Na maioria das
vezes, é melhor jogar fora. Pensando bem, como hoje os computadores têm tanto espaço
sobrando, crie um arquivo e guarde estes "lixos". Quem sabe, mais adiante possam servir de
alguma coisa. O que não se deve fazer é ficar martelando e perdendo tempo com um tema
que não quer "nascer".

Entretanto, no meio daquela lixaiada toda estão as boas idéias. E delas é que irão nascer
as boas músicas. Bem, talvez nem tão boas assim. Mas, como você verá mais adiante,
nenhum compositor compõe somente grandes sucessos.

Cuidado... no meio do "lixo" pode estar uma canção de sucesso!

Não sei da cabeça de outros compositores, mas a minha só consegue produzir algo quando
estou ocupado. Se estiver em casa, sem fazer nada, num final de semana, por exemplo, não
sai nada. Aproveito estas horas para fazer o trabalho duro. Concluir as músicas. A
inspiração mesmo, vem quando estou trabalhando, ocupado com algo que não exige tanto a
concentração mental. Preste atenção à sua mente. Procure sentir como ela trabalha melhor.

Você precisa também "incentivar" a inspiração. Enquanto está lavando o carro, por
exemplo, ao invés de colocar o rádio no último volume, deixe-o desligado. Vá fazendo seu
trabalho e "cobrando" de sua cabeça uma melodia, um refrão, uma frase. Cantarole a frase,
vá mudando as palavras, a melodia. Assim que achar que tem alguma coisa, já sabe: corra
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pro gravador! Nem que for pra deixar a mangueira soltando água!

Preste atenção nas músicas que fazem sucesso no rádio, na TV, na internet. Analise mais a
fundo os temas. Você vai reparar que as canções mais vendidas falam de temas corriqueiros,
do dia-a-dia. Letras rebuscadas, sobre "viagens interestelares" podem até causar efeito, tipo
mostrar a "cabeça" que o compositor é, mas não tocam o coração do povão.

Aquela imagem do sujeito sentado num aposento fechado (o estúdio), violão na mão,
caneta e papel na mesa, dizendo: "agora vou compor", é realmente apenas imagem, no meu
entender. É claro que chega a hora de fazer isto. Mas esta hora não é a da inspiração, é a
hora do trabalho duro, de estruturação e complementação da música. A inspiração é
diferente. Vem a qualquer hora e em qualquer lugar. A maioria das músicas, pelo menos no
meu caso, nasce de uma simples frase, geralmente um refrão. O restante da música vai
como que "vestindo" esta frase, crescendo em torno dela.

Portanto, a menos que em seu caso seja diferente, não fique sentado esperando a
inspiração chegar. Vá atrás dela, busque-a em todo lugar, ponha o cérebro para funcionar.
Você vai ver que, do nada pode surgir uma excelente idéia. Daí, gravação e anotação!
! Bruno Grünig! 18

Deixe a sua criatividade trabalhar

Não iniba a criatividade com teimosia e ansiedade. Já me aconteceu várias vezes de estar
trabalhando numa determinada música e, do nada, vir outra à cabeça. No começo, pisei na
bola. Continuei fazendo aquela em que estava trabalhando, ignorando a outra que me
incomodava.

Isso nada mais é do que um assassinato. Se algo assim te acontecer, não tenha dúvida:
pare um pouco aquela música em que estava trabalhando. Esta já nasceu, você já escreveu,
gravou. Dê atenção àquela que está querendo nascer. Deixe-a vir. Escreva, grave.

Aquela coisa te incomodando, querendo sair, aparecer, nascer, não vai te dar outra chance
- acredite. A música está lá, de nove meses, quase passando. Está querendo nascer. Se você
não lhe der atenção, será mais um aborto neste mundo de Deus. Você matou a música. Ela
não vai voltar, creia-me.

Depois de escrever, gravar pelo menos as linhas iniciais desta nova canção, aí sim, você
pode - se quiser - retornar àquela que estava fazendo. Em muitos casos, a nova música toma
completamente o espaço. Não te deixa voltar à outra. É verdade. Já me aconteceu várias
vezes. Fazer o quê? Termine aquela que está te deixando doido, depois volte à menos
ansiosa.

Estou falando aqui de canções, como se fossem seres vivos. Tá pensando que já pirei, né?
É claro que uma música não é um ser vivo. Mas têm vida mesmo assim.Principalmente para
quem compõe.

Portanto, atenção... não iniba sua criatividade!

Educando a inspiração

Nesta etapa, aproveite e vá "educando" sua inspiração. Ao contrário do que você possa
pensar, uma música geralmente nasce pelo refrão.

Você talvez tenha uma tendência que muita gente tem: a de começar pelo começo. Na
composição de uma música isso não é bem assim. Vou explicar porque...

Acontece que o refrão da música - e você há de concordar comigo - é a "alma" da música. É


o que todos aprendem a cantar primeiro, porque é a parte que mais chama a atenção. E é
também - acredite - a parte mais difícil de se "encontrar". Praticamente podemos dizer que
! Técnicas para compor música! 19

o refrão é a inspiração. O resto é mais fácil de construir.

Por isso, quando estiver buscando uma inspiração, pense em termos de refrão. E - como
você vai ver mais adiante - no refrão vai o título da música.

A grande maioria das minhas músicas começou pelo refrão, sem a menor dúvida. Depois
que você acostuma, fica muito fácil. O refrão praticamente já diz o que você deve escrever
antes.

Por isso, vá treinando sua inspiração. Um título legal, um refrão de qualidade, podem
significar oitenta por cento da música.
! Bruno Grünig! 20

O que é "criatividade"

Eu sei que muita gente pensa que inspiração, criatividade só nasce com uns poucos
privilegiados. Tudo bem... até certo ponto, tem gente que nasce mesmo diferente (para
melhor). Mas isso não significa que nós, simples mortais, não possamos ser criativos,
inspirados. Um cérebro só se torna criativo quando estimulado. Estimule o seu. Preste
atenção nas músicas de sucesso, analise as letras, reescreva as letras. Tente encaixar suas
próprias palavras no refrão. Eu já fiz tanto isso, que palavras diferentes me vêm a toda hora,
para uma determinada música.

Faça este exercício: Com músicas que você conhece bem, crie temas para uma
determinada parte, como o refrão, por exemplo. Pode ser qualquer bestagem. Vamos pegar,
por exemplo, a música "Menino da porteira", de Sérgio Reis. A frase mais cantada por aí é:

Toda vez que eu viajava


Pela estrada de Ouro fino
De longe eu avistava
A figura de um menino

Suponhamos que eu queira fazer uma brincadeira com meu chefe, por exemplo (um
tema):

Toda vez que eu encontrava


O meu chefe no banheiro
Já sabia que era ele
Era só sentir o cheiro

Viu? Rapidamente fiz um tema em cima de uma estrofe da música. E o tema, como já


disse, pode ser qualquer coisa. Para sua namorada, o chefe, o vizinho, etc. Isto estimula
muito sua criatividade.
! Técnicas para compor música! 21

Pontos importantes desta apostila

1. Você não aprende inspiração. Mas pode buscá-la e incentivá-la.


2. O dia-a-dia das pessoas fornece bons temas para músicas. Esteja atento.
3. Anote e grave. Não confie na memória.
4. Confie na sua intuição.
5. O refrão e o título da música são a "alma".
6. Sua criatividade necessita de incentivo. Faça exercícios.
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Apostila 3 - Letra

Letra ou melodia - quem vem primeiro?

Aí está uma coisa meio complicada. Eu poderia dizer de cara como é que faço minhas
músicas, mas talvez estivesse induzindo você a fazer uma coisa que não deve.

Explicando: nem todos os cérebros funcionam da mesma maneira. Um dia, um amigo e


eu devíamos fazer umas contas a respeito de dinheiro - meu e dele - que havíamos gastado.
A coisa era meio complicada, bastante confusa. Tomei a iniciativa e fiz as contas do meu
jeito e mostrei a ele. Com toda a inteligência que possui, meu amigo não conseguiu
compreender o método que utilizei para fazer aquelas contas, apesar de concordar que o
resultado provavelmente era aquele mesmo. Ele fez as contas por si mesmo e... tcharam!
Chegou exatamente ao mesmo resultado.

Na música não é diferente. Acredite, você vai gastar um bocado os neurônios pra botar a
coisa pra funcionar. A boa notícia é que a cada música feita, você vai melhorando e as
coisas se tornam mais fáceis, mais fluentes.
Eu consigo pegar uma melodia pronta e colocar uma letra. Com perfeição. O contrário,
colocar uma melodia numa letra existente é - para mim - uma tortura. Portanto, no meu
caso, é fora de questão escrever uma letra e depois colocar a melodia. O tico e o teco (meus
dois neurônios remanescentes) simplesmente se recusam. Por outro lado, fazer uma
melodia e depois colocar a letra, também não me serve. Como não sou um bom solista na
guitarra ou violão, a melodia já nasceria capenga. Aí, botar letra num negócio já zoado...
não dá. Lembre-se: estamos falando da minha pessoa.

Então, no meu caso, sobrou apenas uma opção. Fazer os dois juntos. Aí, sim, já nasce
uma coisa coerente. A melodia já embalando a letra e vice-versa. É claro que às vezes surge
uma frase apenas, sem nenhuma melodia. mas logo em seguida ela precisa da melodia para
seguir em frente e virar música.

Mas, como disse, nem todos pensam da mesma maneira. Você pode testar uma e outra
maneira e ver qual é o método correto para você. Muitos compositores fazem da mesma
maneira que eu. Tudo junto. Principalmente nas canções mais simples. Nos rocks pesados,
tipo heavy metal e outros, é costume fazer toda a parte instrumental e depois colocar uma
letra. Mas aí, é porque a letra não é a parte mais importante da música. O instrumental é a
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alma deste tipo de música. Pegue lá uma delas e toque no seu violãozinho. Fica sem graça,
no mínimo.

Se você for dos que fazem tudo junto, com o tempo vai reparar que a gente "ouve" a
música na mente. É um pouco difícil de explicar, mas é assim que funciona. É como se a
música estivesse já lá dentro e bastasse pensar nela pra que viesse à tona. Muitas vezes
cheguei a "ouvir" lá no cérebro até mesmo um backing vocal de uma música. Ou mesmo
um coral cantando a música! É mais ou menos como quando você escuta uma música
(escuta mesmo, quero dizer) e depois ela não te sai da cabeça. Preste atenção. Você
"escuta" a música em seu cérebro do jeito que ela é, com a voz do cantor e tudo. Assim é na
composição.

Após algum tempo isto se torna automático. O cérebro vai colocando melodia e letra
juntos e fazendo você "ouvir" a canção. Depois, é só catar o violão (ou piano ou seja lá qual
instrumento você toca) e mandar -lhe os acordes.

Fazendo a letra primeiro, há que se tomar cuidado com as várias partes da música, com a
métrica dos versos e por aí afora. É claro que nada impede que haja correções mais tarde.
Aliás, geralmente elas são necessárias.

Após ler o livro todo, você - com certeza - já saberá qual o método que funciona melhor
em seu caso.
Ah, sim. Quando estiver gravando as idéias (lembra do gravador?), muitas vezes falta
uma frase, uma palavra. Não deixe que isso te interrompa. Simplesmente coloque ali
qualquer besteira, um "lá-lá-lá", só para dar continuidade na melodia. O resto vem depois.
Por exemplo: suponhamos que lhe veio à cabeça a frase "hoje eu acordei..." e você colocou
uma melodia, mas tem mais uma palavra no final que você não sabe ainda. Sem problema.
Grave assim: "hoje eu acordei lara-larala". Você vai reparar que o seu "lara-larala" tem a
mesma métrica da palavra que você está buscando. Ou seja, ele já está encaixado na
melodia. Daí em diante, ficou mais fácil achar a(s) palavra(s) certa(s). Se você quisesse
dizer que acordou alegre, não daria certo. Mas "muito contente" sim. Tente cantarolar
"lara-larala" e "muito-contente" e verá que dá certinho!

Enfim, a pergunta do começo quase não tem resposta. Tudo vem primeiro, depois, no
meio... vem na ordem que sua mente mandar.
! Bruno Grünig! 24

Letra e poesia

Devido a determinadas semelhanças entre uma poesia e uma letra de música, acontecem
algumas confusões. Aqui para nós, vamos separar bem as duas coisas e desfazer qualquer
confusão.

Explicando: letra de música é letra de música. Poesia é poesia. Uma não tem nada a ver
com a outra. Se você pensa diferente, pegue um livro de Carlos Drumond de Andrade e
coloque melodia em algumas poesias. Se bem sei do que falo, você vai ter um trabalho
danado para nada.

É claro que já houve casos de poesias que foram "musicadas". Algumas talvez tenham
feito um relativo sucesso. Mas não é recomendável, porque a poesia possui regras muito
diferentes da letra de música.

Uma letra de música deve fazer "par casado" com a melodia, além de contar uma história
que faça sentido. Tudo bem, tem música cuja letra não faz sentido, mas aqui estamos
falando de música para vender para muitos, não para meia dúzia. A poesia não precisa
necessariamente fazer sentido, nem tampouco "casar" com alguma melodia.

Além do mais, a poesia foge - e muito - da regra de estrutura musical. Estrofes, versos,
são construidos de maneira diferente. Portanto "musicar" uma poesia que seu amigo
escreveu - por melhor poeta que o sujeito seja - é fora de questão. pelo menos em termos
comerciais. Se for para agradar o amigo, vá lá.

Por outro lado, escrever uma letra de música "poética", também é outra grande bobagem.
Letras de músicas não usam linguajar poético, abstrato. Letras de música têm que se
aproximar o máximo possível do jeito de falar das pessoas. É uma comunicação direta, sem
linguagem figurada, rebuscada, nada disso.

Isso não quer dizer que você não possa escrever frases bonitas, inspiradas. Pode sim, é
claro. Apenas não deve transformar a letra da música em poesia. Veja um exemplo... Na
música “Não me perdoei”, de Victor e Léo, O início é assim:

“Eu queria ser um anjo/E não passo apenas do que sou


Te daria um par de estrelas/E o que tenho é o meu amor”

Veja só. O cara diz “queria ser um anjo”. Mas não diz que “é um anjo” e nem tampouco
diz que trouxe um par de estrelas. Esta é a diferença. O autor construiu uma frase bonita,
devaneou um pouco, mas logo voltou à realidade.
! Técnicas para compor música! 25

A única semelhança entre letra de música e poesia é a rima. As duas podem conter rimas.
E só. Se você quer ser poeta e compositor, não há problema nenhum. Mas não junte as
duas coisas. Poesia para um lado e música pro outro.

Provavelmente você poderá encontrar um montão de gente que discorda disso. Peça um
ou mais exemplos de artistas que fizeram sucesso somente com letras "poéticas". Com
sucesso eu quero dizer VENDAS. Não adianta nada ficar famoso sem vender nada. Música
que não vende é luxo. É claro que eu sei que existem músicas muito bonitas, verdadeiras
obras-primas que não venderam muito. Mas aí é que está... podem ser bonitas, mas não
contém todos os ingredientes necessários para vender. E um destes ingredientes é a letra.
Sem poesia.
! Bruno Grünig! 26

Rimas

Os versos de uma canção podem rimar ou não. Às vezes os versos rimam e o refrão não.
Ou vice-versa. Mas o que é melhor? Rimar ou não rimar. Via de regra, rimar é melhor. A
rima faz com que o ouvinte sinta-se mais à vontade ao ouvir a música. Parece que ele "já
sabe" o que vem a seguir. Pra dizer a verdade, muitas vezes sabe mesmo. Um verso que
termina em "paixão", tá que tá pedindo um "coração" pra rimar, é ou não é?

Portanto, vamos falar do que é mais usado. A rima. Há certas regras a serem seguidas
para rimar corretamente. Uma delas é a "falsa rima". A rima é considerada "falsa" quando
a consoante imediatamente anterior à sílaba de rima é igual nas duas palavras. por
exemplo:

Coração e Emoção
Aparecer e Amanhecer

Evite portanto este tipo de rima. Sempre é possível achar outra palavra que se encaixe na
música, sem precisar utilizar uma falsa rima. Abaixo seguem exemplos de rimas
verdadeiras.

Coração e paixão
Aparecer e perder

Outro tipo de rima que se pode usar, sem prejuízo para a canção, é o que vou chamar aqui
de "rima sonora". Apenas o som das palavras é parecido, mas a grafia é diferente. Pode-se
criar frases interessantes com este tipo de rima. Além do mais, é um grande "quebra-galho"
para quando não se consegue achar uma palavra com rima verdadeira. Veja os exemplos:

Ontem - Horizonte
Entrar - Virá

A posição das rimas também é importante. Se você tem uma estrofe de quatro versos, há
várias opções de rima. O primeiro e terceiro versos/segundo e quarto versos rimando. Ou o
primeiro e terceiro versos rimando e os outros dois sem rima. Ou ainda, juntando duas
estrofes, o quarto verso da primeira estrofe rimando com o quarto verso da segunda. Na
realidade, estas rimas, após os primeiros tropeços, aparecem com naturalidade durante o
! Técnicas para compor música! 27

processo de construção da música. Veja os exemplos:

Exemplo I (Música "Acredita sem ver" - Bruno Grunig)

Certa noite eu sonhei que Jesus havia voltado


Acordei assustado
E pensei mas que bom que foi sonho
Tem misericórdia eu não estou preparado

Exemplo II (Música "Mesmo assim")

Sei que eu deveria ter


Meu orgulho e perceber
Que é preciso te esquecer
E tentar seguir em frente

Exemplo III (Música "Quem é aquele")

Quem é aquele que sem falta comparece


Quando a tristeza toma conta do teu ser
Quem é aquele que sempre se compadece
Daquele que perde a vontade de viver

Procure sempre manter um padrão dentro da canção. Suponhamos que a canção tenha
duas estrofes, refrão, mais duas estrofes diferentes. Procure, nas estrofes três e quatro
manter o mesmo padrão de rima das estrofes um e dois. Alguma variação pode até ser
interessante, mas não uma mudança brusca. Atenção: manter o padrão não é copiar. Se,
por exemplo um verso na primeira estrofe termina com a sílaba "ão", não vá usar a mesma
sílaba nas estrofes seguintes. Exemplo:
! Bruno Grünig! 28

Primeira estrofe

Ela maltratou meu coração


Destruiu tudo o que havia
Já nem toco mais meu violão
Não sei se é noite ou se é dia

Segunda estrofe

Ela me deixou aqui no chão


Eu nem percebi o que fazia
Aquilo foi tanta humilhação
Que nem mais pensar eu conseguia

Ficou feio, não foi? Evite isso. Trabalhe as estrofes seguintes com terminologias
diferentes, principalmente as estrofes próximas. primeira e segunda. Terceira e quarta.

Felizmente, para nós brasileiros, a lingua portuguesa é bastante rica. Sinônimos é que
não faltam. Formas diferentes de expressão também não. Rimar no ato de compor música,
provavelmente é a parte mais fácil. para alguns, talvez não. Mas é só começar e, depois de
algum tempo e algumas letras feitas, a coisa vai melhorando. Vale o conselho: como para
todas as outras etapas da composição, observe, escute as músicas de sucesso com ouvidos
de compositor. Preste atenção nas rimas (além das outras partes, é claro). Não pense que
aquelas rimas geniais sairam do nada. pura inspiração... nada disso. Fruto de muito risque
e rabisque e neurônios exaustos, esta é a verdade. Acontece que fica tão bonito, tão
certinho, que parece que nasceu tudo junto, como num passe de mágica. Pois é disso que
iremos tratar aqui. Aprender a fazer a mágica funcionar.
! Técnicas para compor música! 29

Linguagem

A linguagem utilizada na letra da música é muito importante. Nada de exageros, nem pra
cima, nem pra baixo, ou seja, nada de linguagem muito rebuscada nem tampouco de
linguajar vulgar. O ideal é chegar próximo à maneira com que falamos. Veja a frase abaixo:

Exemplo 1: Rebuscado

Ela possui um corpo escultural

Exemplo 2: Vulgar

Ela é gostosa

Exemplo 3: Meio termo

O corpo dela é lindo

A linguagem rebuscada só mostra uma coisa. O autor está querendo mostrar que conhece
o idioma. Ninguém está interessado na sua cultura. Na verdade, pode até doer no ego da
gente, mas as pessoas não estão interessadas em nós. Estão ocupadas lá com sua vida, seus
afazeres, não têm tempo para reparar o quão inteligentes somos. Mas podem interessar-se
no conteúdo de uma canção, desde que façamos nosso trabalho direito.

A linguagem vulgar pode, numa primeira impressão, chamar a atenção, com o uso de
palavrões ou coisas assim, mas demonstra claramente a incompetência do compositor, no
uso das palavras. E mais: canções assim têm vida curta, assim como as que usam termos e
jargões da moda. Passou a moda, acabou-se a canção. Mas isto não é o pior. O problema é
que quando se compõe desta maneira, ao passar a moda, vai-se embora não somente a
canção, como também o compositor, de vez que este fica conhecido como compositor de
músicas daquele "gênero". O "gênero" acabou-se... tchau para o compositor também.

Deve-se evitar também o uso de gírias, que além de ser de mau-gosto também acaba do
jeito acima mencionado. A gíria cai de moda, o compositor vai junto. Pode até não ser
desta maneira tão radical, mas é melhor não correr o risco.
! Bruno Grünig! 30

Clareza

Seja claro no que quer dizer. Não use metáforas, não faça o ouvinte tentar adivinhar fatos
dentro da canção. Se você quer dizer que o personagem é médico, diga que ele é médico e
não "alguém que cura as pessoas". Às vezes você pode sentir-se tentado a escrever coisas
assim, mas não ceda à tentação. É pura perda de tempo. Músicas populares têm, em média
quatro minutos. Não dá para brincar de poeta na primeira estrofe, para depois gastar mais
duas explicando a brincadeira. Seja direto, explique a história de maneira clara.

Cuidado também ao usar termos e expressões regionais. Um ouvinte de outra região do


país pode não entender o que a letra quer dizer ou, pior ainda, entender ao contrário. Se a
expressão que você vai usar é bem conhecida e usada em qualquer região, tudo bem, mas
com raras exceções, expressões e termos populares nada acrescentam à sua letra e,
frequentemente demonstram falta de imaginação.

Palavras impronunciáveis

Não use palavras complicadas, muito compridas, impronunciáveis. Se uma palavra já é


de difícil pronúncia ao falar, imagine quando for cantada. Vai dar um nó na língua do
cantor. Mais uma vez vale o conselho: simplifique.

Quando falar de sexo

Tome muito cuidado ao falar de sexo. Não seja vulgar. Existem no mundo pessoas que
falam e fazem sexo de maneira irresponsável, mas você não precisa ficar fazendo apologia
disso. É claro que existem músicas (até bastante divulgadas) que falam de sexo de maneira
também irresponsável. Mas você já sabe qual o destino de seus artistas e "compositores". O
esquecimento. Nao caia nesta armadilha. Pode até ser mais fácil fazer sucesso escrevendo
besteira, mas é um sucesso artificial e momentâneo.

Falando de cachaça

Há, hoje em dia, músicas e mais músicas falando da malvada pinga. Ficou triste, encheu a
! Técnicas para compor música! 31

cara. Está alegre, enche a cara. A verdade - e você sabe disso - é que não há nada,
absolutamente nada de interessante ou engraçado em cair de tanto beber. Cair sempre é
ruim. Ficar de pé, lúcido e vivo é que é legal. Eu não sou abstêmio, tomo minha cervejinha
e já tomei coisas mais fortes. Felizmente não sou um alcoólatra. Música que faz apologia de
cachaça é um incentivo para bebuns incorrigíveis. E, pior ainda, para os jovens, que podem
achar "bacana" e iniciarem uma infeliz jornada que muitas vezes termina mal. Portanto, se
puder, evite o tema.

Ingenuidade

Ando pesquisando diversos sites que divulgam compositores novos, inéditos, não
famosos (como eu e, talvez, você). Tenho ouvido coisas boas, regulares e, como não podia
deixar de ser, sofríveis. Uma das minhas observações, além do acima mencionado, foi a
ingenuidade mostrada nas letras de alguns compositores. Como já disse, a linguagem
rebuscada é ruim, mas temos que ter cuidado também para não dizer as coisas de maneira
muito simplória, ingênua. Ingenuidade até que não é ruim, mas numa letra de música, o
personagem pode ser ingênuo (por exemplo, o sujeito que pensava que a mulher o amava,
enquanto ela, na verdade, não estava nem aí com ele), mas a letra da música não pode. A
letra está contando a história, ela não é o personagem. Mesmo que seja composta na
primeira pessoa (exemplo: eu mesmo contando a minha história), deve contá-la de
maneira direta, sem expressões tolas.
! Bruno Grünig! 32

Português

Acredito que todos os que lidam, trabalham de alguma maneira com a língua portuguesa
(poetas, escritores, compositores), têm por obrigação conhecê-la. Na música, conforme já
mencionei, devemos procurar escrever as letras aproximando-nos o máximo possível do
"jeito de falar" das pessoas. Porém, sem erros de português. Assassinar a língua em prol de
uma boa rima não é assassinato. É suicídio. Refiro-me, é claro, a erros grosseiros. Algumas
expressões populares, apesar de serem tecnicamente erradas, são passáveis.

Se a música diz, por exemplo: "larga essa mulher", o português está errado. O certo é
"largue...". Mas é passável, de vez que a expressão já é popularmente consagrada, assim
como (esta você pode até estranhar) "ele foi pego". Todos falamos assim, mas a conjugação
do verbo pegar aí, está errada. O correto seria "ele foi pegado". Se não acredita, compare o
verbo pegar com o verbo levar. Como ambos têm a mesma conjugação, poderíamos então
dizer: "ele foi pego e levo". Mas não dizemos assim. Dizemos: "ele foi pego e levado". Mas o
correto seria: "ele foi pegado e levado". Entretanto, a expressão "pego" já é de uso popular,
não se caracterizando como êrro.

Portanto, não contribua, com suas letras, para aumentar a ignorância nacional. Escreva
numa linguagem acessível, mas sem erros grosseiros. Confira sempre também a ortografia.
É claro que a música vai ser cantada, mas ao apresentar para alguém a letra escrita, por
favor, revise tudo direitinho.
! Técnicas para compor música! 33

A imagem

Se você prestar atenção às canções que tocam no rádio, vai reparar que, ao escutá-las,
vêm à nossa cabeça uma imagem, como se fosse um "clip" daquilo que está se passando na
letra da canção. Este é o seu objetivo. Que o ouvinte consiga, ao ouvir a canção, formar
uma "imagem" na cabeça. Que ele consiga "ver" a história, somente escutando a música.
Sim, porque video-clips existem, mas essenciamente a música foi feita para ser ouvida. Não
há nada para se ver no player do carro, por exemplo. Porém a música feita corretamente
precisa transmitir esta "imagem".

É como quando te contam uma história. A pessoa vai contando e dando detalhes. Na
música é um pouco mais complicado. Não temos muito espaço para usar um montão de
palavras. Precisamos explicar as coisas com poucas palavras. Exemplo:

Quando tudo terminou


Você veio e me falou
Que jamais foi por amor
Que foi tudo brincadeira

O meu pobre coração


Se despedaçou então
Você me deixou no chão
Me tratou desta maneira

Com estas duas estrofes, a música já contou uma história, sem usar um montão de
palavras. na primeira estrofe já ficamos sabendo que:

1) é a história de um casal desfeito


2) a mulher não amava o homem
3) a mulher acabou com a relação
4) a mulher é malvada (disse que era só brincadeira)

A segunda estrofe já não conta muito da história. Mas é bastante rica, porque dá o clima
que a música pede. O homem não ficou apenas triste. Ficou muito triste, "no chão".
Quando a estrofe diz, no final "me tratou dessa maneira", consegue transmitir a mágoa do
homem para com a mulher. Ele pensava que ela o amava, e ela o trata "daquela maneira".
Aí, a canção cria uma expectativa. O que o homem vai fazer? Vingar-se dela? Pedir para
que volte? Esta expectativa é boa, de vez que prende o ouvinte. Ele quer saber mais. Todos
! Bruno Grünig! 34

somos curiosos. Uma vez "envolvidos" numa história, queremos saber o final.

Esta é a "imagem" da música. Poucas palavras, bem colocadas criam uma identidade,
uma afinidade com o ouvinte, que consegue então compreender além daquilo que lá está
escrito.

Detalhes Irrelevantes

Não desperdice espaço com detalhes irrelevantes. Por exemplo, na música acima, não
interessa se os dois são adolescentes, se estão na praia, no carro, em casa, que roupa estão
usando, se ele é alto e ela baixa, etc. O que interessa já foi dito: estavam juntos, ela o
deixou, ele ficou triste. Quando você começa uma estrofe com detalhes irrelevantes, fica
preso numa armadilha. Por exemplo, se eu tivesse escrito esta música assim:

Numa bela tarde de domingo


Passeávamos no parque
E você veio e me falou
Que ali tudo terminou

Pense: não sobrou espaço para que ela o magoasse, dizendo que não foi por amor e foi
tudo brincadeira. Se eu estivesse pensando em dizer isto, já estaria na armadilha:
reescrever tudo, gastar mais uma estrofe (falha mortal)... fazer o quê? A coisa poderia ficar
muito complicada e eu até desistir da música. Olhando agora, parece fácil corrigir, mas não
é, acredite. Portanto, tente ir direto ao que interessa, para não sofrer mais tarde. além de
perder tempo, é claro.

Localização

Não faça seu personagem andar pra cá e pra lá. Se o sujeito estava no parque, é preferível
deixá-lo por lá mesmo. Explicando: se você tentar tirar o cara de lá, vai ter de gastar mais
palavras para explicar que ele já não está no parque e sim, em casa. Isto vai acabar
! Técnicas para compor música! 35

roubando o espaço necessário para contar o que aconteceu. Além de, na maioria dos casos,
ser irrelevante. O que importa é o que aconteceu, não como, quando e onde. Fatos, não
detalhes. Na verdade, os detalhes estarão embutidos na canção como um todo, na
imaginação do ouvinte.

Emoção

Faz parte da "imagem", as emoções sofridas pelos personagens da música. Veja só um


exemplo em que o compositor conseguiu trasmitir com maestria a tristeza de uma pessoa,
nesta música de Gian e Giovani:

"...eu a vi se aconchegar em outros braços / e saí contando os passos / me sentindo tão


sozinho..."

Três pequenas frases e a gente consegue imaginar a tristeza do sujeito. Viu a mulher
amada com outro, saiu cabisbaixo (contando os passos), sentindo-se só. Se o compositor
não colocasse a frase "e saí contando os passos", a imagem não seria tão forte.

Portanto, utilize sempre que puder, elementos que demonstrem as emoções dos
personagens. Um sujeito meio triste não impressiona muito. Você precisa é arrasar com
ele, deixá-lo pra baixo mesmo. Fazer com que o ouvinte fique com pena do pobre coitado.
E bronqueado com aquela malvada que não correspondeu o seu amor! A mesma coisa vale
para o contrário. Se o personagem está alegre, tome alegria! Nada de meio alegre.

Realidade

Vamos falar a verdade. A realidade é meio chata. O dia-a-dia da gente é rotineiro. As


pessoas acordam cedo, vão para o trabalho, voltam para casa, tomam banho, jantam,
assistem à novela das oito e mais algum filminho ou programa chato e repetitivo, depois
vão dormir, para acordarem na manhã seguinte e repetirem a mesma ladainha.

Se você fizer a letra da sua música desta maneira, ninguém vai querer ouvir. De chato já
basta a rotina em nossas vidas. A música, seja triste ou alegre, tem que sair fora desta
rotina. Nada de novela das oito, filminho chato, emprego de oito horas por dia mal-
! Bruno Grünig! 36

remunerado e o escambau. Músicas falam de situações especiais, fora da rotina. Música


não fala de "um amor". Fala do grande amor, aquele que marcou, aquele impossível de
esquecer. Música não fala de uma alegriazinha qualquer. Fala de uma grande alegria, uma
alegria contagiante!

Mas também não vá exagerar, fazendo o sujeito dar trinta e cinco facadas na mulher que
o abandonou! Ele está triste, mas não é um louco furioso. Nem tampouco faça seu
personagem ficar "tão alegre que ficou duas semanas enchendo a cara de cachaça e
festejando". Ou seja, tudo tem a sua medida, seus limites.
! Técnicas para compor música! 37

Métrica e cadência

Métrica, em poesia, é um quesito bastante complexo, cheio de regras. E na música, é a


divisão da linha musical em compassos. A métrica a que me refiro ao compor canções é a
extensão das frases(melodia) em relação à harmonia e tempo. Isto envolve a escolha das
palavras utilizadas em cada linha. A cadência, é a relação das palavras com a melodia e os
tempos do compasso. Repare que estou utilizando estes dois termos - métrica e cadência -
de uma forma particularizada. Você vai encontrar definições técnicas para métrica e
cadência bastante diferentes por aí. Porque se referem exclusivamente à notação musical e
não a letras de músicas. O que tento fazer, é simplificar a coisa, unindo as notas musicais à
letra da música.

Normalmente, após algum treino, métrica e cadência acontecem naturalmente. Mesmo


assim pode surgir algum problema numa ou mais linhas e a solução é buscar as palavras
corretas para substituir as que estão atrapalhando.

Um bom treino para desenvolver a capacidade de compor dentro da métrica correta, é a


paródia. Ou seja, utilizar uma música conhecida, colocando-lhe outra letra. Você verá que
este procedimento é bastante fácil, principalmente se não houver preocupação com o tema.

Entretanto, é bom aproveitar este treino para ir além da métrica. É interessante colocar
uma nova letra na canção, porém tentando contar a mesma história da letra original. Isto
desenvolve o mecanismo de criação objetiva.

Numa terceira etapa, pode-se tentar modificar a melodia da canção. Com nova letra e
nova melodia, você terá aí uma música completamente diferente da original. Só não vá
assumir que aquilo é uma "música tua", porque não é, na verdade. Um bom músico ou
compositor que conheça bem aquela música, pode facilmente detectar o que aconteceu ali.
Resumindo: este procedimento serve apenas como treino. Você será capaz, após algum
treino, de compor suas próprias canções.

Plágio

Vale lembrar aqui o que vem a ser um plágio. Plagiar é copiar uma canção existente toda
ou em parte. Tanto na letra como na melodia. O plágio mais comum ocorre na melodia. É
mais ou menos como fazer uma paródia e chamá-la de canção "original". Às vezes surgem
canções parecidas com outras, com refrões similares. Porém o plágio só é caracterizado
quando há oito compassos exatamente iguais. Portanto, se você compõe uma música e uma
! Bruno Grünig! 38

parte ficou meio parecida com alguma que você já ouviu, não se preocupe. Se estiver igual à
outra canção, analise o trecho que está igual. Você já sabe: oito compassos iguais = plágio.
Porém, se a canção tiver pelo menos quatro compassos iguais, considere modificar esta
parte. Não vale a pena ser chamado de plagiador por causa de meia duzia de notas.
Modifique um pouco aqui e ali e pronto! Canção original.
! Técnicas para compor música! 39

Compasso

A título de informação, vamos falar rapidamente de compasso. É o método utilizado para


dividir em grupos os sons de uma música. Existem diversos tipos de compasso, que
determinam diferentes ritmos. Os compassos são conhecidos através de frações. Por
exemplo: 3/4, 4/4. O número de cima (numerador) indica a quantidade de tempos do
compasso, enquanto o de baixo (denominador) indica em quantas partes será dividida uma
nota semibreve, para que se obtenha uma unidade de tempo. Portanto, o compasso 4/4,
possui 4 tempos e cada tempo será representado por uma semínima (que é igual a 1/4 de
uma semibreve).

O compasso mais utilizado em músicas populares (brasileiras e estrangeiras) é, sem


dúvida o 4/4.

Continuando em nossa métrica, vamos analisar alguns exemplos, para compreender isto.

Exemplo - Chama ela (BG)

Verso 1
1 3 1
Ele estava ali sentado junto a mim
1 3 1
O seu copo de bebida quase já no fim
1 3 1
Me olhou com olhos tristes e falou
1 3 1
Da mulher que ele amava e que o abandonou

Suponhamos que ao começar a escrever a canção, eu tivesse feito esta estrofe assim:

1 3 1
Ele estava sentado perto de mim
1 3 1
O seu copo de de bebida estava quase no fim
! Bruno Grünig! 40

1 3 1
Olhou para mim com olhos tristonhos e falou
1 3 1
Da mulher amada que um dia o deixou

Como se vê, a métrica e a cadência estão prejudicadas. Na estrofe correta, repare como os
tempos 1 e 3 (mais acentuados na canção) casam exatamente com as sílabas mais fortes
das palavras. Além disto, as frases terminam no tempo correto, proporcionando pausa
suficiente para o início da próxima linha.

O exemplo incorreto já começa com problemas logo na primeira linha. O tempo 3 não cai
na sílaba forte da palavra "sentado". Na segunda linha a palavra "estava" é comprida
demais, quebrando completamente a cadência e a métrica. Mesma coisa na próxima linha,
quase impossível de se cantar sem engolir sílabas. A última linha talvez até pudesse ser
cantada deste jeito, mas a melodia ficaria bastante infantil.

Felizmente, como no exemplo acima, a lingua portuguesa oferece muitas maneiras


diferentes de se dizer a mesma coisa. E mesmo que a coisa complicar, a música é nossa
mesmo e podemos fazer dela o que quisermos. Por exemplo, suponhamos que eu não
conseguisse de jeito nenhum fazer com que a frase "o seu copo de bebida quase já no fim"
desse certo na estrofe. Eu poderia simplesmente omitir isto e dizer outra coisa. Que suas
roupas estavam amassadas, por exemplo. Ou seus cabelos desgrenhados. O importante é
dizer algo que tenha a ver com a imagem que se quer passar. No caso, "o seu copo de
bebida quase já no fim", pode passar a imagem de que ele já estava meio "alto". A roupa
amassada ou cabelos desgrenhados passariam a imagem de uma pessoa que está pouco
ligando para a aparência, servindo bem ao tema da música.

Via de regra, deve-se "casar" as sílabas tônicas com os tempos 1 e 3 (num compasso
quaternário). É claro que depois da música pronta, é possível fazer pequenas variações
para "quebrar" um pouco aquela coisa mecânica. Na hora de cantar a música é que a
mágica acontece, fazendo com que desapareça qualquer vestígio de "mecanização".

Exemplo:

Você não canta assim: "Ele esta-va ali senta-do junto a mi-m
Você canta assim: "Ele'staavalisentado juntoamim

Portanto, temos nesta frase:


! Técnicas para compor música! 41

Compasso 1
1 2 3 4
Ele's

Compasso 2
1 2 3 4
tavalisentado junto a

Compasso 3
1 2 3 4
mim

Ou seja, a voz transforma-se num instrumento e já não está "falando" as palavras. Por
isto, o acompanhamento cai nos lugares certos, mas a voz flui sem quebras de sílabas e até
mesmo "emendando" palavras.

Evidentemente, com o tempo e experiência, mais a criatividade de cada um, surgem


novas formas de casar letra, melodia e harmonia. Mas tudo começa com o primeiro passo.
O primeiro passo para se escrever um livro de seiscentas páginas não é escrever o prefácio.
É aprender a escrever.
! Bruno Grünig! 42

Apostila 4 - Estrutura da música

ESTRUTURA
A uns e outros, pode não parecer, mas esta é talvez a parte mais importante da
composição. A estrutura. Uma canção sem estrutura não "pega" o ouvinte. Já falamos
sobre rima. A canção, eventualmente pode não ter uma rima. Mas deve ter estrutura. Pode
não ter um arranjo com inúmeros instrumentos (ser tocada somente com violão, piano,
etc), mas mesmo assim precisa da estrutura.

Mas o que vem a ser estrutura? O nome já está dizendo: é o esqueleto da música, o corpo
se assim preferirmos. Um corpo (humano) é composto por cabeça tronco e membros (se é
que eu não faltei a esta aula). O corpo da música (estrutura) é composto por estrofes, refrão
e o que chamaremos aqui de "ponte". Estes elementos apresentam-se na estrutura da
música em posicionamentos diferentes, dependendo do gênero, estilo e outros fatores mas,
principalmente da "vida própria" que a música adquire no processo de composição. Ficou
claro? Não, eu sei disso. Mas vamos em frente. Vou dar um exemplo prático, com a letra de
uma música de minha autoria.

Música: Mesmo Assim

Quando tudo terminou


Você veio e me falou
Que jamais foi por amor
Que foi tudo brincadeira

O meu pobre coração


Se despedaçou então
Você me deixou no chão
me tratou dessa maneira
! Técnicas para compor música! 43

Mesmo assim, eu só penso em você


Mesmo assim, não consigo te esquecer
Mesmo assim

Tudo o que eu quero é ter você de volta


Ver você bater de novo em minha porta
Dizer que me ama e nunca mais vai me deixar

Você ainda é tudo, é o que eu mais preciso


Longe de você eu perco até o juizo
Volta por favor porque eu só quero é te amar
Mesmo assim

Sei que eu deveria ter


meu orgulho e perceber
Que é preciso te esquecer
E tentar seguir em frente

Sinto que você não vai voltar


Que é melhor eu parar de pensar em você desse jeito

Mesmo assim, eu só penso em você


Mesmo assim, não consigo te esquecer
Mesmo assim

Tudo o que eu quero é ter você de volta


Ver você bater de novo em minha porta
Dizer que me ama e nunca mais vai me deixar

Você ainda é tudo, é o que eu mais preciso


Longe de você eu perco até o juizo
Volta por favor porque eu só quero é te amar
Mesmo assim

Esta música tem todos os elementos acima mencionados. Estrofes, Refrão e Ponte.
Muitas canções não possuem a ponte e sim, somente estrofes e refrão. E umas poucas só
tem estrofes, mas são exceções.

Vamos então à análise destes elementos e suas funções. As estrofes geralmente contam a
história da música, o que aconteceu com o personagem. No caso acima, o pobre infeliz foi
abandonado pela companheira que, além disso ainda disse que nunca o amou, certo? As
! Bruno Grünig! 44

duas primeiras estrofes estão contando isto. O refrão conta como o pobre coitado está se
sentindo e o que ele quer. É parte forte e repetitiva da música. Ele pede que ela volte. No
terceiro verso, o sujeito mostra um pouco de lucidez. Ele consegue pensar no que deveria
fazer. Esquecer a malvada. A ponte reforça este ponto de vista. Mas logo vem o refrão de
novo, dizendo que mesmo sabendo disso tudo, ele continua sentindo-se da mesma maneira
e querendo que ela volte.
! Técnicas para compor música! 45

O título

Outra parte sumamente importante é o título. Jamais faça uma música sem saber antes o
título. Ele deve ser marcante e deve estar no refrão. Ponto final. Não há discussão possível
sobre isto. Pense bem: se você escutar uma música no rádio e o sujeito disser várias vezes
no refrão "Ela se foi", seria a coisa mais lógica do mundo que a música se chamasse "Ela se
foi"!!!! É óbvio. mas tem gente por aí que acha que o óbvio é vulgar, não pega bem ou sei lá
o que. O óbvio, neste caso, vem a ser o grande vendedor da música. O refrão, o título. Tudo
a ver. Escutou, já sabe o nome. Que sentido faria, na música acima "batizá-la" de "Quero
que você volte" ou qualquer outra bobagem assim? Nenhum. O título é "Mesmo assim"
porque já nasceu junto com a música, está no refrão e é repetido diversas vezes. Caso você
escute músicas brasileiras de sucesso com um título que não tem nada a ver com o refrão,
saiba que o compositor, ou seja lá quem for que "batizou" a música, perdeu uma grande
oportunidade de identificar positivamente a canção. Isto não quer dizer que a música não
seja boa, mas ficou, em termos de marketing musical, meio capenga.

Muito bem. Titulo no refrão. Em que lugar? Depende da música. O título pode estar no
começo do refrão. Pode estar no final do refrão. Ou no começo e também no final, como no
exemplo acima (o refrão começa e termina com "mesmo assim"). No meio do refrão, não.
Título no meio do refrão é título (quase) jogado fora.

O título, de preferência deve ser uma palavra ou frase que faça sentido por si mesma. No
caso acima, este objetivo não foi alcançado. "Mesmo assim" não é uma frase que faça
sentido desligada do restante da letra. Não é uma falha grave, mas seria melhor que a frase
fizesse sentido sozinha.

Outra característica que o título deveria ter é a de ser, por si só, uma frase ou palavra
marcante, memorável. Você já deve ter percebido a importância do título. Ele é o vendedor
da música. As estrofes e o refrão são seus complementos. Não é verdade que todos quase
sempre se lembram só do refrão de uma canção? Então, não é muito mais fácil lembra-se
somente de uma frase ao invés do refrão inteiro. Ou seja, o título!

Na música americana, o título é tão importante que músicas chegam a ser rejeitadas,
mesmo que sejam boas, somente devido ao título. Simplesmente não gravam a canção,
porque o título está fora de lugar, não é marcante, ou não está no refrão. Jogam a música
fora e mandam o compositor fazer outra, Ou corrigir aquela, o que às vezes é quase
impossível, devido à forma com que foi escrita.
! Bruno Grünig! 46

Tipos de estrutura

Bem, chega de título. Vamos às diferentes formas de estruturar uma música. A posição
ocupada pelas estrofes, refrão e ponte podem variar bastante. Além do que, conforme já foi
dito, a música pode até não ter ponte. os americanos, por exemplo, pegaram um vício tão
forte com essa tal de ponte, que chegam a forçar a barra em várias músicas, para "enfiar"
uma ponte, quase estragando a canção. Portanto, se você fizer uma música e ficar boa sem
ponte ou a tal não couber, não force a barra.
Para facilitar, vamos "batizar" os diversos elementos com letras. Então, fica assim:

VERSO UM = A
VERSO DOIS = B
VERSO TRÊS = C
REFRÃO = R
PONTE = P

A música "Mesmo assim", teria então a seguinte estrutura:

A, B, R, C, P, R (DUAS ESTROFES, REFRÃO, UMA ESTROFE, PONTE, REFRÃO)

Outra forma poderia ser:

A, B, R, B, R, P, R (DUAS ESTROFES, REFRÃO, UMA ESTROFE, REFRÃO, PONTE,


REFRÃO) - O verso B é repetido

Ou ainda:

A, B, R, B, R (DUAS ESTROFES, REFRÃO, UMA ESTROFE, REFRÃO) - Esta estrutura é


bastante usada na música sertaneja atual.

As combinações são diversas. O importante é que a música seja coerente em suas idas e
vindas. No caso de repetição de uma estrofe, a mesma deve fazer sentido isolada da
primeira.
Há ainda uma estrutura muito interessante, em que o refrão é apenas uma frase,
repetida, por exemplo, ao final de cada verso, ou cada segundo verso e também ao final do
refrão. Exemplo:
! Técnicas para compor música! 47

The cowboy in me (Tim McGraw)

I don't know why I act the way I do


Like I ain't got a single thing to lose
Sometimes Im my own worst enemy
I guess thats just the cowboy in me

I got a life that most would love to have


But sometimes I still wake up fightin mad
At where this road Im heading down might lead
I guess thats just the cowboy in me

The urge to run, the restlessness


The heart of stone I sometimes get
The things I've done for foolish pride
The me thats never satisfied
The face thats in the mirror when I dont like what I see
I guess thats just the cowboy in me

The urge to run, the restlessness


The heart of stone I sometimes get
The things Ive done for foolish pride
The me thats never satisfied
The face thats in the mirror when I dont like what I see
I guess thats just the cowboy in me

Girl I know theres times you must have thought


There ain't a line you've drawn I havent crossed
But you set your mind to see this love on through
I guess thats just the cowboy in you

We ride and never worry about the fall


I guess thats just the cowboy in us all

Repare que o título está no final de cada estrofe, incluindo o refrão. No final, o
compositor resolve mudar um pouquinho, dizendo que há um cowboy "em você" e "em
todos nós", porém esta variação não é necessária. Foi uma opção do compositor. Aliás, via
de regra, não se deve trocar palavras do título ao longo da música. No caso acima, não
! Bruno Grünig! 48

houve prejuízo, porque foi somente no final e o título já havia sido repetido cinco vezes.

Existe ainda uma outr estrutura, chamada pelos americanos de VERSE/BRIDGE. É


quase como Cowboy in me acima, com a diferença de não se repetir o título da música no
refrão. Aqui vai uma brincadeirinha para ilustrar:

Falar de amor

Estrofe 1

Estou aqui escrevendo pra você


Espero que você possa aprender
Você pode virar compositor
Fazer canções e assim falar de amor

Estrofe 2

Espero vender muitos cursos


Inspirando as canções que um outro faz
E você vai então saber compor
Usar seu dom e então falar de amor

Refrão

A música que a gente faz


Atinge sempre o coração
Espanta os males e afasta a dor
A gente segue em frente sem pensar
Usa a canção para falar de amor

Como você deve ter reparado, o título está no final de cada estrofe e também no final do
refrão. Esta é a estrutura VERSE-BRIDGE, ou ESTROFE-PONTE.

Enfim, as possibilidades de estrutura são muitas. Ao escrever suas músicas, procure


sempre estruturá-las de acordo com o que anda fazendo mais sucesso nas rádios. É um
bom começo. Porém, se você está fazendo uma canção e não consegue de jeito nenhum
estruturá-la como planejou, não a mate antes do tempo. Dê uma chance a ela. Pode ser que
saia apenas uma musiquinha sem graça. Mas também pode ser que você tenha tirado lá do
fundo uma obra-prima que, sem obedecer a regras e tabus, veio à vida para fazer sucesso.
Existem músicas assim. Tipo patinho feio. Mas não é pato, é cisne!
! Técnicas para compor música! 49

Então a gente pode compor sem seguir regras? Pode, mas primeiro vamos seguir a regra,
para ter domínio dos limites, para depois ultrapassá-los. É como construir uma casa. Se
você não sabe nem fazer uma parede, como é que já quer modificar o telhado?

Há um caso, numa empresa musical em que um dos funcionários encarregados de


escutar as músicas que os compositores enviam à empresa, chegou para o dono da empresa
com uma música que, na opinião dele seria um sucesso. O dono da empresa escutou, achou
bonita, mas disse ao funcionário que não servia, devido à falta de estrutura. O funcionário
insistiu e o chefe resolveu então chamar o produtor que havia sido seu professor. O terceiro
homem - experiente - escutou a música e disse: "pronta para gravar... uma obra-prima".
Mas - retrucou o dono da empresa - e a estrutura? O velho homem - que havia ensinado ao
outro o princípio da estrutura - não se abalou. "Neste caso - disse ele - a música está tão
bem feita, tão bonita que, se mexermos sequer uma letra, estraga". O dono acabou
concordando, mas frisou - com muita razão - "que fique claro que isto é uma exceção, não
regra".

Utilizei esta história para reforçar a importância da estrutura. Primeiro a regra, depois - e
eventualmente - as exceções.
! Bruno Grünig! 50

Duração da música

Sem qualquer sobra de dúvida, podemos dizer que quatro minutos (pouco menos, pouco
mais) é praticamente um "tamanho" pré-estabelecido para canções populares.
Evidentemente, não é uma regra rígida, porém há algumas razões lógicas para isto.

Primeira: Rádio. Se você fizer uma música com dez minutos, nenhuma rádio vai querer
tocá-la. Tempo é dinheiro. Há outras milhares de canções a serem tocadas, além dos
comentários do locutor, notícias e o mais importante: o anunciante que, afinal de contas, é
quem banca tudo.

Segunda: Devido à própria estrutura das canções, seria tremendamente enfadonho


escutar a mesma história por mais tempo e o mesmo refrão repetido "n" vezes.

Terceira: Três a quatro minutos são suficientes para contar uma história, sem que o
ouvinte perca o fio da meada. Se a canção tivesse dez minutos, no final (se é que o ouvinte
conseguiria chegar ao final) o ouvinte não se lembraria de como começou aquela ladainha.

Quarta: Tudo que demora demais é monótono.

E por aí afora. Nada impede que sua música passe dos quatro minutos. Muitas músicas
passam. Mas é melhor não. Tente manter-se entre os três minutos e meio a quatro e estará
numa posição confortável.

Você pode valer-se de alguns truques. Por exemplo, uma canção está pedindo mais uma
estrofe, ou um solo e ficaria muito comprida, tente aumentar o tempo um pouco. Numa
batida mais rápida ela ocupará (evidentemente) menos tempo. Nem sempre isto funciona,
pois o ritmo pode não admitir uma batida mais rápida. Tente mudar o ritmo. Se nada disto
funcionar, só há duas opções: encurtar a letra ou deixar a canção mais longa mesmo. Se a
parte que você acha que está faltando é imprescindível, deixe a canção longa (máximo
cinco minutos). Se puder cortar algo, melhor.
! Técnicas para compor música! 51

Introdução

A introdução deve ser o mais curta possível. Nada de solos longos e rebuscados, nem
aqueles ahn, ahn ahn que não levam a nada. Introdução muito comprida é um convite ao
"clique" por parte do ouvinte. Ele te corta mesmo. O ouvinte não está interessado nos teus
magníficos solos de guitarra ou lá o que seja que você quer colocar na introdução. Ele quer
saber da história que você vai contar. Ou você começa logo a desembuchar a história ou ele
vai procurar coisa melhor pra fazer. Portanto, introdução curta, com uns cinco compassos
ou no máximo oito, se a música for mais rápida. Tudo bem, eu sei que tem cantores de
sucesso que ficam fazendo um montão de firula na introdução, mas isso é só depois que
fazem sucesso. E só fazem isso ao vivo, não na gravação de estúdio.

Um minuto

O que acontece no primeiro minuto da música? Um minuto (ou pouco mais) é o tempo
que você tem para ganhar a atenção do ouvinte, interessá-lo em ouvir o restante da música.
Ao final deste minuto ou pouco mais, deve entrar o refrão. Repito: DEVE entrar o refrão.
Nada de colocar mais uma estrofezinha, blá, blá, blá... um minuto e pouquinho e dá-lhe o
refrão. Ah, mas tem música por aí que demora mais - poderia você me dizer. Tem mesmo.
Mas ficariam mais interessantes caso seguissem esta regra. Por isto a introdução deve ser
curta. Para deixar espaço para as necessárias estrofes que vêm antes do refrão. Não vá
também levar tudo a ferro e fogo. Se a primeira parte da música for bem interessante, use
um pouco mais de tempo, mas nada mais do que um minuto e meio. Pense bem, se a
música tiver quatro minutos e só a primeira parte tiver dois minutos, como é que você vai
repetir o refrão três vezes? Sim, porque é necessário repetir o refrão. Portanto, divida bem
as diversas partes da música, sempre pensando no ouvinte. Para testar este tópico, tente
fazer isto. Quando estiver com amigos, ou com o pessoal da banda, familia, etc., diga que
vai tocar uma música e - de propósito - demore-se bastante na introdução (com violão,
piano, etc). Se eu sei bem do que falo, não demora nada para alguém dizer: "vai cantar ou
não?".

Não vá você também fazer todas as músicas "cronometradas", mecânicas. Com o tempo,
você vai sentir o que está certo ou errado. É claro que não custa checar. Pessoalmente,
verifico todas as músicas no programa de gravação. E muitas vezes tenho de encurtar uma
introdução ou mesmo modificar e até eliminar uma estrofe.
! Bruno Grünig! 52

Uma história

O melhor... duas. Algumas vezes, no passado, fui procurado para fazer


parceria em músicas. Geralmente por pessoas que só faziam letras. Em
nenhuma delas a coisa funcionou. Em dois casos que me lembro, devido à
teimosia. De ambos os lados. É... eu sou teimoso.

Nestes dois casos, as pessoas queriam que eu me limitasse a colocar


melodia em suas letras. Logo de cara percebi que as letras haviam sido
feitas de maneira aleatória, ou seja, sem estrutura. Em algumas letras havia
diferentes estrofes. Em outras, nem isso.

Eu jamais faria uma coisa dessas. Colocar melodia numa letra sem
estrutura. E não fiz. Expliquei às pessoas que aquilo não daria certo. Mas
não quiseram me ouvir. Acharam que eu deveria limitar-me a colocar a
melodia e pronto.

Então... a minha teimosia falou mais alto. Se eu vou ser parceiro de alguém,
meu nome vai figurar como compositor. E eu é que não quero ser
compositor de uma música sem pé nem cabeça.

O problema é que a pessoa se tranca em seu “mundo privativo”, e não


consegue enxergar à sua volta.

Nestes dois casos, as pessoas envolvidas recusavam-se a estudar. Sequer


paravam para analisar as músicas que fazem sucesso. Isso é um grande
erro. Pensar que os caras simplesmente “deixam a inspiração chegar” é
ingenuidade.
! Técnicas para compor música! 53

Sites de cifras

Uma boa pedida, para comprovar estruturas de músicas, são os sites de cifras para violão.
As letras das músicas, nestes sites, são divididas em estrofes e refrões. É muito fácil ver a
estrutura ali.
Além disso, dá para reparar também as alterações nas sequencias de acordes. Mesmo que
você não conheça acordes, pode notar facimente que as letrinhas em negrito acima das
letras têm uma certa sequencia. E que esta sequencia nem sempre é a mesma.

Veja só a música abaixo:

G
Existem momentos na vida
D
Que lembramos até morrer

Passados tão tristes no amor


G D
Que ninguém consegue esquecer
G
Carrego uma triste lembrança
D
De um bem que jurou me amar

Está presa em meu pensamento


G G7
E o tempo não vai apagar

Refrão

C
Fui seresteiro das noites
G
Cantei vendo o alvorecer
D
Molhado com os pingos da chuva
G G7
Com flores pra lhe oferecer
C
Fui seresteiro das noites
G
Cantei vendo o alvorecer
! Bruno Grünig! 54

D
Molhado com os pingos da chuva
G DGDGD
Com flores pra lhe oferecer

Eu peguei uma música com acordes básicos. E poucos acordes, para não embananar a
cabeça de ninguém.

No trecho, apenas uma das estrofes e o refrão. Repare como existem duas sequencias
diferentes de acordes:

Na estrofe: G, D, G, D, G, D, G, G7

No refrão: C, G, D, G, G7, C, G, D, G (Os demais acordes já pertencem à introdução, que é


repetida após o refrão).

A título de informação: as letras em negrito acima


da letra da música chamam-se Cifras. Cada cifra
nomeia um acorde. Por exemplo:

G = Acorde Sol maior


D = Acorde Ré maior

E assim por diante.

Portanto, mesmo que você não conheça acordes, consulte os sites de cifras para aprender
mais sobre estrutura. Aí vai o link de um site de cifras:

http://www.cifraclub.com.br
! Técnicas para compor música! 55

A estrutura (quase) perfeita


A música a seguir tem uma estrutura que só não se pode chamar de perfeita, porque sempre
surge algo um pouco mais aperfeiçoado. O compositor conseguiu usar interessantes
sequencias de acordes, fazer duas estrofes com estrutura e melodia diferentes, incluir uma
ponte, e ainda aumentar a tonalidade no final. Isso é difícil? Nem tanto. Mas pode
acontecer da música “se perder” no meio de tanta coisa. Esta não. A música prende a
atenção do começo ao fim.

Além disso, esta música serve também de exemplo na parte de solo, acompanhamento,
dinâmica. Tem todos os elementos que uma grande música precisa ter.

Please forgive me - Bryan Adams

E A A5 A
It still feels like our first night together
E F#m
Feels like the first kiss and it's getting better, baby
E D
No one can better this
A E A
You're still holding on, you're still the one

Db F#m
Estrofe 2
The first time our eyes met, same feeling I get
Melodia e acordes
Db A diferentes da estrofe 1.
Only it feels much stronger, I wanna love you longer Uma estrofe menor, que
E parece continuação da
You still turn the fire on primeira.

Ponte

A F#m A D
So if you're feeling lonely, don't
Ponte
E A
You're the only one I ever want Ponte com melodia e
F#m A D arranjo fortes,
I only wanna make it go indicando que aí vem o
E F#m D refrão.
So if I love you a little more than I should...

Refrão
! Bruno Grünig! 56

A A5 A
Please forgive me, I know not what I do
F#m
Please forgive me, I can't stop loving you
Refrão
D D5 D
Um dos refrões mais
Don't deny me this pain I'm going through inteligentes que já vi.
A A5 A Repete o título da
Please forgive me, if I need you like I do música 4 vezes, sem
E ser cansativo.
Please believe me, for what I say is true
D A E
Please forgive me, I can't stop loving you
! Técnicas para compor música! 57

Apostila 5 - Melodia

Confesso ser (quase) completamente leigo no que se refere a uma formação musical
tradicional. Uma partitura para mim não chega a ser um segredo de estado, conheço as
notas musicais, algumas daquelas cobrinhas chamadas pausas, compasso, escalas, claves,
coisa e tal. Mas a coisa pára por aí. Não me peça para ler ou (pior) escrever uma partitura.
O resultado com certeza vai ser desastroso.

Portanto, minhas melodias ganham vida somente com a voz. E um violãozinho também,
é claro. É dentro da cabeça que nascem as melodias. Se tivesse tido a chance para estudar
música mais profundamente, com certeza faria melodias melhores. Aí vai portanto um
conselho. Estude o mais que puder. Saber não ocupa espaço.

Se você também chama as partituras de vossa excelência, ou seja, não tem intimidade,
não se desespere. Use a imaginação, a voz e o teu instrumento. Escute muitas músicas, de
gêneros diferentes. Preste atenção nas diversas partes da melodia. Tente reproduzir a
melodia no instrumento para ter noção de onde começa, para onde vai onde termina. qual
a relação das notas com os acordes. Você pode até não entender direito o que está fazendo,
mas alguma coisa lá no fundo da cabeça vai tomando forma.

Um bom exercício é pegar uma sequencia de acordes e ir colocando, com a voz, uma
melodia qualquer. Com o tempo você vai descobrindo novos caminhos para a melodia.

Se você faz letra e melodia juntos, tanto melhor. Uma vai guiando a outra. Lembre-se
também que quando o rascunho da música (letra e melodia) estiver pronto, você pode
ainda modificar alguma coisa. Já me aconteceu de modificar completamente um melodia
na parte das estrofes, mas isso é raro. Geralmente acontecem pequenas modificações. Uma
nota mais aguda aqui, outra mais grave ali, conforme você vai cantando a canção.

Ter conhecimento de escalas é importante. Pode acontecer de você cantar a música e ter a
impressão de que uma ou mais notas estão destoando. É hora de conferir no instrumento
se todas as notas estão na escala que dá tonalidade à música. Se alguma nota estiver fora,
evidentemente há uma variação ali (ou mesmo um êrro) e você não poderá tocar aquela
parte com os acordes naturais da escala. A solução mais fácil (pelo menos para este que vos
escreve), é colocar as notas dentro da escala. Eu é que não vou ficar procurando escalas e
acordes rebuscados pra complicar a minha vida. Já você, meu amigo se tem mais
conhecimento musical do que eu, vá em frente. Mas lembre-se: quanto mais complicada
for sua música, menos gente vai querer ouvi-la ou tocá-la.
! Bruno Grünig! 58

Por outro lado, se você nem sequer toca instrumento algum, não precisa desistir de ser
compositor. A melodia você faz com a voz. A letra com a caneta. Aí está tua música. Basta
então chamar teu amigo que toca violão, botar os acordes e ponto final. Melhor mesmo é
arrumar um parceiro(a) que toque algum instrumento. Ah, e se for este o caso, aproveite e
arrume um que toque muito bem, que domine o instrumento. Você sairá ganhando e suas
músicas também.
! Técnicas para compor música! 59

O que é melodia

Ouça uma música qualquer, que tenha letra (não instrumental). Aquilo que o cantor está
fazendo, é a melodia. É a música em si, que pode ser cantada ou tocada separadamente do
restante da música.

Por exemplo, quando você lembra de um música e sai cantarolando, ou assoviando, isso é
a melodia.

Pegue uma música qualquer e cante a letra sem o acompanhamento. Isso é a melodia.

Não vamos aqui ficar entrando em definições técnicas, nada que complique a sua vida.
Basta compreender que a música tem diversas partes.

As partes que competem a você, como compositor, em primeiro lugar, são estas: a letra e
a melodia. Feitas dentro daquilo que foi abordado na apostila anterior: a estrutura. Com
isso, você já tem o que? Uma música. Porque a música em si é a melodia. A letra canta
transforma a melodia em palavras. Cada sílaba ou palavra então toma forma de nota
musical. Por exemplo:

Veja este trecho da música "Pra você", de Paula Fernandes:

Eu quero ser pra você

Acima, temos a letra. Vamos ver em quantas notas musicais esta letra se transforma,
cantando a melodia:

Nota 1 = Eu
Notas 2 e 3 = quero
Nota 4 = ser
Nota 5 = pra
Notas 6 e 7 = você

Portanto, temos na primeira frase, sete notas musicais, que se constituem na melodia
deste trecho da música.

E como é cantada esta melodia?

Muitas vezes parece difícil distinguir uma nota da outra, porque são cantadas em
sequencia, sem intervalo. Quando há intervalo, percebemos mais facilmente. No caso deste
! Bruno Grünig! 60

exemplo, o trecho é cantado assim:

Notas = 1 2 3 4 5 6 7
Letra = Eu quero ser pra você

Não há pausa entre as notas. A frase é cantada de um só fôlego.

Do primeiro para o segundo verso, há uma pausa, assim:

Notas = 1 2 3 4 5 6 7 - - - 8 9101112
Letra = Eu quero ser pra você - - - a alegria...

Repare que existe uma pausa entre "você" e " a alegria". Nesta pausa, não há melodia. Se
alguém fosse cantar esta música sem acompanhamento algum (à capela), durante esta
pausa haveria silencio completo.

Na música original, o acompanhamento continua, enquanto a melodia faz esta pausa.

Repare em diversas músicas, como se comporta a melodia. Às vezes é cantada direto, como
no exemplo da primeira frase mostrada. Às vezes tem pausas entre palavras e até mesmo
entre sílabas. Outras vezes, tem notas prolongadas, em que a mesma nota ocupa uma
palavra inteira.
! Técnicas para compor música! 61

Como você vai fazer suas melodias

Como já mencionado anteriormente, se você não tem formação musical formal, vai ter que
confiar em sua voz ou instrumento.

Como você já viu na apostila sobre a letra da música, é possível fazer a letra e depois colocar
a melodia.

Mas o meu conselho é que você pelo menos tente fazer com que os dois "nasçam" juntos. E
a melhor maneira de fazer isto, é dar melodia à primeira frase, àquela que nasceu da
inspiração.

A boa notícia aí, é que a melodia sempre é repetitiva. E uma vez achando a linha melódica
de uma frase, você já tem meio caminho andado.

Peguemos o exemplo da música mencionada, "Pra você". Eu não tenho a mínima idéia de
como ela nasceu, mas pode ser que ( e é provável que assim tenha sido) tenha começado
com a frase: "Eu quero ser pra você".

Escute o refrão da música, e tente perceber que se você tem a frase acima e coloca a melodia
nela, o que vem depois parece óbvio, parece uma continuação. É isso.

Pode ser que o compositor cantarolou a frase com a melodia que lhe vinha à cabeça, até
achar a melodia que mais lhe agradava. Daí em diante, continuar o refrão é infinitamente
mais fácil.

Assim como a letra, a melodia tem sua dose de inspiração. Use a sua primeira frase vinda da
inspiração e associe a uma melodia, cantarolando, até que perceba que a coisa está
encaixando.

Acredite... Uma frase perfeitamente "encaixada" numa melodia, é quase a música inteira.
Depois que você se acostumar... é uma brisa.
! Bruno Grünig! 62

O seu instrumento

Talvez esta parte seja a mais difícil para você, se não toca nenhum instrumento e não sabe
cantar. Se sabe um ou outro (voz ou instrumento, ou os dois), use um deles para fazer suas
melodias.

Se você não sabe nada, nenhum instrumento e tampouco cantar, não se desespere. Você
tem duas opções:

1. Ser apenas um letrista - neste caso, assim mesmo terá que aprofundar-se um pouco
em música, para fazer as letras corretamente, de forma que alguém possa colocar a
melodia.
2. Aprender um instrumento ou aprender a cantar.

Fica por sua conta o que você vai fazer, mas vai aqui a minha dica... seria melhor você
aprender um dos dois: cantar ou tocar um instrumento. E vou explicar porque.
Quando você compõe uma música, você quer - é claro - que ela seja bonita, chamativa. você
quer que os outros gostem, que ouçam a música e tenham algum tipo de reação (boa, de
preferência).

E tem mais uma coisa que você vai querer: que aquela música tenha a sua personalidade. Se
a sua personalidade aparecer somente na letra, tudo bem. Mas se aparecer na letra e na
melodia, uau! Um conjunto perfeito. Ou quase perfeito...

A música fica mais coerente quando você a compõe por completo.

Arrumar um parceiro que acompanhe as suas idéias, é algo bastante complicado.


Principalmente se você não conseguir "traduzir" para ele como você imagina que deva ser a
melodia.

Por isso, creio que a melhor solução é você aprender um pouco mais. Se você consegue
cantar razoavelmente, sem desafinar e com bom ritmo (no tempo certo), talvez este seja o
caminho. Procure aprimorar o canto e use sua voz para fazer suas melodias.

Caso não tenha mesmo jeito para o canto, seja desafinado, algo assim, resta o caminho de
aprender um instrumento.

Um dos mais populares - sem dúvida - é o violão. Com dedicação, você pode aprender o
básico em menos de um ano. E estará fazendo um sério investimento em sua carreira de
compositor.
! Técnicas para compor música! 63

Mas nem todos gostam das mesmas coisas. Procure um instrumento que lhe agrade. Talvez
teclado.

Um instrumento bem simples é o ukulele. Parecido com um cavaquinho, mas com afinação
diferente. Os primeiros acordes são bem fáceis e já ajudam na composição musical.

Não se preocupe com o tempo. Nem em querer que tudo saia de uma hora para outra. É
melhor fazer uma música boa daqui a um ano, do que ficar a vida inteira fazendo algo que
não serve para nada. Pense nisso e tome sua decisão.
! Bruno Grünig! 64

Apostila 6 - Acompanhamento

Acompanhamento

Muito bem, sua música precisa de acompanhamento. E você deve tratar disso logo no
começo, porque amontoar frases e estrofes para depois colocar uns acordezinhos aqui e
ali... fica mais difícil.

Tudo bem... se você é só o letrista e nem quer saber de melodia, acordes, essas coisas, vá lá.
Mas com um pouco de esforço, mesmo não sendo um grande músico, dá para trabalhar com
acordes.

Se você já sabe tocar algum instrumento, tanto melhor.

Em todo caso, vou explicar as coisas por aqui para os dois casos.

Acompanhamento, é tudo o que "veste" a melodia, por assim dizer. Numa banda, teríamos
baixo, bateria, guitarra, violão, etc...

Este acompanhamento, precisa de acordes. Enquanto uma melodia é composta por notas
isoladas, um acorde é feito com três ou mais notas.

Algo muito importante para você saber, é que os acordes não são colocados na música
aleatoriamente. Isso não é algo que alguém simplesmente decida: "vão ser estes acordes".
Acordes praticamente nascem com a melodia. Dependendo da linha melódica da música,
ela requer determinados acordes.

Vamos então ver como é que você irá "descobrir" quais acordes cabem em sua música.
! Técnicas para compor música! 65

Tabela de acordes

Para simplificar as coisas, vamos trabalhar com apenas uma tonalidade. Explico porque...
Teoricamente, qualquer música pode ser tocada em qualquer tonalidade. Portanto, basta
que você entenda, numa determinada tonalidade, como usar os acordes e saberá em todas
as outras.

E mais: você pode começar sua música usando a tonalidade proposta aqui. Mais tarde, se
for necessário tocar a música em outra tonalidade, é só transportar para a nova tonalidade.

Na tabela abaixo, vemos os acordes naturais pertencentes à tonalidade de lá maior (A), que
é a tonalidade com a qual vamos trabalhar.

Ordem 1 2 3 4 5 6 7
Acordes A Bm C#m D E F#m G#°

Não vou transformar isso num curso de música, mas explico rapidamente:

As letras (A, B, C, etc.) são as cifras que representam os acordes. A = lá maior, Bm = si


menor e assim por diante.

A letra minúscula "m" após o acorde indica um acorde menor.

O símbolo # significa "sustenido", que é um aumento de meio tom no acorde.

O símbolo ° significa que o acorde é diminuto.

Mesmo que você, não sendo músico, esteja meio perdido, não se preocupe. É mais fácil do
que você pensa.

Muito bem. Então temos aí os possíveis acordes que podem acompanhar uma música
simples. Porque sim... existem milhares de outros acordes, mas não vêm ao caso no
momento. Você precisa começar com músicas, melodias e harmonias simples. Aliás...
harmonia é o acompanhamento.

Saiba ainda um pouco mais... com estes acordes, é possível tocar milhões de músicas. É
sério, não estou brincando. Portanto, você não está aprendendo um "brinquedinho".
! Bruno Grünig! 66

A numeração da tabela

E porque esta tabela é numerada? Cada acorde tem seu número, para que você possa depois
transportar para qualquer outra tonalidade, sem o menor problema. Por exemplo:

Suponhamos que sua música tenha os acordes: A, D, Bm e E, que são os acordes 1, 4, 2 e 5.

Colocando os acordes de outra tonalidade abaixo desta numeração, basta usar os números
para transportar a música. Mas isso é coisa para depois.

Por outro lado, vamos usar os números para definir algumas sequencias que podem
aparecer numa música.

Os acordes em sua música

E agora José? Quais acordes vão em sua música. Anote aí umas "regrinhas":

1. Se a tonalidade é A (lá maior) este acorde sempre vai aparecer. O número 1. E a


música geralmente começa com ele.
2. Os acordes 4 e 5 aparecem em muitas músicas.
3. Depois deles, mais comuns são os acordes 2 e 6.
4. Depois destes o acorde 3.
5. O acorde 7 é o mais "desprezado" nas músicas mais simples. Aparece raramente.

Eu coloquei "regrinhas" entre aspas, porque na verdade não há regras. Calma lá, não entre
em pânico. Não há regras estabelecidas para sequencias de acordes, mas há sequencias de
acordes bastante populares, muito usadas. Que aparecem em muitas músicas.

Uma destas sequencias é 1, 4, 5. Muitas, muitas e muitas músicas usam esta sequencia de
acordes. Que na tonalidade A, seriam: A, D e E.

Porque as sequencias mudam

As sequencias de acordes mudam, porque a melodia mudou. Escute uma música qualquer,
e veja como a melodia muda entre as estrofes e o refrão. Quando a melodia muda... os
acordes vão junto.
! Técnicas para compor música! 67

Numa música bem simples, poderíamos ter nas estrofes a sequencia A, D,E (1,4,5). E os
mesmos acordes no refrão, mas em outra ordem: D, A, E, A (4,1,5,1). Porque a melodia
assim o exigiu.

Você deve estar aí pensando: "A combinação matemática destes sete números... dá um
zilhão de sequencias". E dá mesmo. Mas nem todas as sequencias possíveis cabem numa
música. Boa notícia. Existe uma certa lógica na coisa. É uma lógica que só tem lógica para
quem se mete a mexer com música. Um músico profissional, com bom ouvido, sabe
intuitivamente no decorrer da melodia, qual é o próximo acorde. E porque? Porque a
melodia está "pedindo" aquele acorde. Aí está a "lógica". O segredo está na melodia.

Se você não percebeu ainda... quem vai determinar as sequencias de acordes da sua
música... é você mesmo. Ao fazer a melodia, esta já estará "pedindo" determinados acordes.
Êba!!! Não é legal? Menos trabalho pra você.

O problema é que melodia não fala. Senão ela podia "dedar" pra você quais são os acordes.
Mas isso ela não faz. Portanto, você vai ter que descobrir por si mesmo.

A seguir, relaciono algumas sequencias de acordes, que são mais comumente usadas. Mas
jamais se prenda a estas sequencias. Há chances (pequenas, mas há) de que nenhuma delas
"vista" corretamente sua música.

Sequencias mais comuns

• 1,4,5
• 1,6,4,5
• 1,5,1
• 1,5,4,5
• 1,5,4,
• 4,1,5
• 1, 3, 2, 5

Lembrando sempre que quase invariavelmente as sequencias "voltam para casa", ou seja,
voltam ao acorde 1. Ou seja, sequencias vão e vêm. Elas não seguem simplesmente em
frente (como 1,4,5,3,6,7...).

Veja o exemplo abaixo. A música "Seresteiro das noites", de Amado Batista.

Esta música utiliza apenas o básico do básico em termos de acordes. E mesmo assim fez um
sucesso estrondoso. Aqui vai mais uma dica para você: a quantidade de acordes numa
música não tem relação alguma com sua qualidade. Traduzindo: Uma música não é boa
porque tem muitos acordes. Ela é boa porque é boa, porque foi bem feita.
! Bruno Grünig! 68

A
Existem momentos na vida
E
Que lembramos até morrer

Passados tão tristes no amor


A E
Que ninguém consegue esquecer
A
Carrego uma triste lembrança
E
De um bem que jurou me amar

Está presa em meu pensamento


A A7
E o tempo não vai apagar

D
Fui seresteiro das noites
A
Cantei vendo o alvorecer
E
Molhado com os pingos da chuva
A A7
Com flores pra lhe oferecer

Esta música utiliza, nas estrofes, apenas dois acordes. A e E. Uma "sequencia" 1,5 portanto.
Como já disse antes, a sequencia vai e volta. 1,5,1,5,1.

Uma pequena observação. Veja que no final da segunda estrofe, antes do refrão, há um
acorde A7, que é um lá maior alterado com uma sétima menor. Mas continua sendo um
acorde A, ou seja, em numeração = 1.

No refrão, entra um terceiro acorde, e o refrão começa com D (4). A sequencia então é = 4,
1, 5,1.
! Técnicas para compor música! 69

E como é que estes acordes foram parar aí? Conforme já explicado, a melodia é que os
determinou. Escute esta música e tente perceber como as mudanças de acorde são
determinadas pela melodia. Apurando bem o ouvido, você verá que bem na hora da
mudança, fica evidente que ela é necessária.
! Bruno Grünig! 70

Como colocar os acordes em sua música

Então... você já tem a melodia, mas não sabe quais acordes vão aqui e ali.

Como estamos trabalhando com a tonalidade A, o mais lógico é começar com o acorde A.
Veja bem, se você já toca algum instrumento e quer trabalhar com outra tonalidade, sem
problema.

A primeira coisa a fazer é separar as partes da música com melodia diferente. Na música do
exemplo anterior, só há duas melodias diferentes. Mas pode haver três ou quatro linhas
melódicas diferentes na música. É comum haver músicas com uma linha melódica na
primeira estrofe, outra na segunda estrofe e outra no refrão.

Uma vez que você tenha sua linhas melódicas, vai trabalhar com cada uma isoladamente,
para localizar os acordes.

Um bom começo é pegar a primeira estrofe, tocar um acorde A e começar a cantar na


tonalidade, procurando sentir em que momento a melodia parece exigir outro acorde.
Quando sentir que é hora de mudar de acorde, vá pelo caminho mais lógico primeiro.

• Comece em A e vá para D
• Se deu certo, continue em D e na próxima mudança tente E. Se der certo, é quase
certeza que a sequencia vai terminar em A. Ou pode voltar para D, ir para E e depois
A.
• Se você começou em A, foi para D e não deu certo, tente E.
• Se E deu certo, tente, na próxima mudança, D. Se não der certo, tente A.

A sugestão acima é um exemplo, um bom lugar para começar. Como o acompanhamento


depende da melodia, seria inútil tentar sugerir todas as possíveis sequencias de acordes.

O que você deve fazer então, é trabalhar com os acordes dentro da tonalidade proposta (ou
outra, se tiver conhecimento e se toca um instrumento), procurando inserir os acordes
dentro das sequencias propostas e alterando conforme a necessidade.

Um aplicativo online que pode ajudar está no link abaixo:

http://www.jamstudio.com/Studio/index.htm

Neste site, você escolhe os acordes que deseja, o ritmo e até o instrumento. Ótimo para
descobrir quais acordes sua música necessita.
! Técnicas para compor música! 71

Ao utilizar o site, não tente ir fazendo a música inteira. Trabalhe com pequenos pedaços.
Uma estrofe, o refrão, etc. Assim você ganha tempo, pois não ficará perdido entre um
montão de acordes.

Vejamos agora um outro exemplo. A música "Pra você", de Paula Fernandes.

A (1)
Eu quero ser pra você
D (4)
A alegria de uma chegada
F#m (6)
Clarão trazendo o dia
D (4)
Iluminando a sacada

F#m (6) E (5)


Eu quero estar do seu lado
D (4)
Encontro inesperado
A (1)
O arrepio de um beijo bom
F#m (6) E (5) D (4)
Eu quero ser tua paz a melodia capaz
E (5)
De fazer você dançar

Refrão:
A (1)
Eu quero ser pra você
D (4)
A lua iluminando o sol
F#m (6)
Quero acordar todo dia
E (5)
Pra te fazer todo o meu amor

Eu transportei a música para a tonalidade A, e retirei as alterações de acordes, porque não


vêm ao caso aqui e atrapalhariam você. Ao lado de cada acorde, coloquei o número
correspondente ao mesmo, dentro da tonalidade A.

Temos então três sequencias diferentes de acordes:


! Bruno Grünig! 72

Estrofe 1 = 1,4,6,4
Estrofe 2 = 6, 5, 4, 1,6,5,4,5
Refrão = 1,4,6,5

Esta música serve para você compreender algumas coisas:

1. O acorde 5, quase sempre indica que vem o acorde 1 a seguir, quando está no final de
uma estrofe ou no final do refrão.
2. Pequenas alterações na mesma sequencia podem acontecer, dependendo da melodia.
Veja o caso da segunda estrofe. A mesma sequencia se repete, mas o último acorde é
diferente. Porque a melodia só muda no final da estrofe.
3. À primeira vista, há muitos acordes na música. Mas são apenas quatro! A, D, E, F#m .
Somente quatro acordes, em sequencias diferentes.

Se você visitar um site de cifras, como cifraclub, por exemplo, poderá verificar o que estou
dizendo aqui. Você olha aquele montão de letras e parece mais um borrão que outra coisa.
Mas você viu, no exemplo acima, que não é tão complicado assim.

Se você olhar esta mesma música no site de cifras, transportando para a tonalidade A, verá
algo um pouco diferente. Porque os acordes têm alterações. Estas alterações confundem o
visual um bocado, dando a impressão que a coisa é mais complicada. por isto as retirei. E se
você está curioso... sim. Esta música pode ser tocada sem as alterações nos acordes.

Portanto, basicamente você tem seis acordes dentro da tonalidade A para trabalhar. Porque
o sétimo, diminuto, raramente aparece.

As combinações podem ser muitas, mas como você pode ver, no exemplo acima, não fogem
muito da "regra".
! Técnicas para compor música! 73

Ritmo

Algumas vezes, acontece de se fazer uma música e ficar na dúvida quanto ao ritmo. Eu
mesmo já me enganei algumas vezes. Com a prática, a gente sabe automaticamente qual o
ritmo, mas mesmo assim um engano pode acontecer.

Por isso, teste sempre a música com ritmos parecidos ao que você inicialmente achou que
seria o certo. Teste também o andamento. Um pouco mais rápido, um pouco mais devagar.
Acredite, faz uma diferença muito grande. Uma canção com ritmo e andamento errados
fica, no mínimo, esquisita.

Uma boa dica, é escutar músicas de sucesso parecidas com a sua. Preste atenção no
ritmo, no andamento. Você já deve ter ouvido alguma regravação em que o artista resolveu
mudar o ritmo ou o andamento de uma música. Em geral, fica estranho. E não é porque
estamos acostumados a escutar a música original. É porque a música foi feita com aquele
ritmo, aquele andamento. A letra, a melodia, tudo se encaixa.

Um bom exemplo é a música "É proibido fumar" de Roberto Carlos. A banda Skank
regravou a música, mas teve suficiente sabedoria para não modificar o ritmo, nem o
andamento. E fez sucesso. Faça um teste com esta música. Tente tocá-la mais depressa,
mais devagar, com outro ritmo. Não adianta. O ritmo é este e o andamento também. Fim
de papo.

Então, na hora do ritmo, não tente ser moderninho, nem "cabeça", nem diferente. Se o
ritmo de sua música é balada, que seja balada. Se é bossa-nova que seja bossa-nova. Não
invente. Geralmente o compositor tem aquele "feeling". Sabe que o ritmo é aquele. Mas
quer porque quer colocar algo "diferente" na música. Se for este o caso, mexa com outra
parte. Coloque algo diferente no arranjo, por exemplo. Mas não estrague a música forçando
um ritmo que não é para ela.
Ganchos

Chamamos de ganchos as partes da canção que levam às demais partes. Ou que ligam
uma parte à outra. Ganchos podem ser vocais ou instrumentais, com letra ou sem letra. O
tipo de gancho mais comum é aquele "solinho" entre uma frase e outra. Pode ser uma
pequena frase de guitarra, teclado, piano, bateria. Ou um backing vocal (hey, hey... ou,ou).

O importante é "sentir" onde os ganchos devem ser colocados. Não se deve "rechear" a
música com quilos de ganchos, nem tampouco deixá-la desprovida dos mesmos. Nem
tampouco repetir quinhentas vezes o mesmo gancho.
! Bruno Grünig! 74

É claro que boa parte destes ganchos serão introduzidos quando do arranjo da música.
Mas alguns deles - como você verá - praticamente nascem com a música. Estão "pedindo"
para serem colocados naquela determinada parte da canção. Não os despreze. Os ganchos
servem para ligar uma parte da música à próxima, e também para incentivar o ouvinte a
continuar a audição. A falha em colocar os ganchos em seus devidos lugares, pode tornar a
música inexpressiva, desinteressante.

Preste atenção em algumas músicas conhecidas. repare como você sabe que depois de um
determinado solo de guitarra vai entrar a próxima estrofe. Ou como antes do refrão entra
um backing vocal. Entre uma estrofe e outra tem uma virada de bateria. De uma frase para
outra um solo de violino. E assim por diante. Estes são os ganchos, que conduzem a
música. Além disso, "dizem" ao ouvinte quando é que vai voltar uma determinada estrofe,
quando é que vai entrar o refrão, etc.

Repare também como numa repetição da mesma estrofe da música, o gancho não se
repete exatamente igual à primeira vez. É o mesmo gancho tocado uma oitava acima ou
abaixo. Ou tocado por outro instrumento. Ou apenas "insinuado". O instrumentista pode
apenas iniciar o gancho e depois abafá-lo um pouco. Mas o ouvinte "percebe" o gancho e já
sabe onde vai dar. São pequenos truques que tornam a canção mais rica, mais interessante.
! Técnicas para compor música! 75

Arranjo

Se você pensa que o arranjo não faz parte de compôr a música, que vem só depois, coisa e
tal, está enganado. Após algumas tentativas, algumas músicas compostas, outras pela
metade e outras jogadas fora - ou até mesmo antes disto - você vai perceber que, enquanto
vai pensando nos versos, no refrão e colocando as partes da música no papel e na gravação,
o arranjo vai como que tomando forma em sua mente. Ele faz parte da canção. Ele nasce
praticamente junto com ela. E vai dando vida, colorido ao que era um punhado de frases
com uma melodia e três acordes.

Quando você está pensando em sua canção, cantarolando-a em sua mente, preste
atenção. Naquele trechinho, "aparece" uma virada de bateria, nítida, com detalhes. Aquela
frase de violino bem naquela partezinha, um backing vocal, uma segunda voz, um solo após
a repetição do refrão.

A pior besteira que você pode fazer é ignorar estes sinais. Eles são parte da sua música.
Coloque-os na sua gravação, da maneira que puder. Se você não sabe como fazer aquele
solinho de violino usando um teclado (ou nem tem o teclado), não tem problema. Faça com
a guitarra, com o violão, com a voz. Não deixe que aquela parte importante da música vá
para a lata do lixo.

Alguns pensam: que nada, depois entrego a música para aquele maestro amigo do meu
amigo e ele faz o arranjo. Ele faz mesmo, é verdade. Porém com outra personalidade, outra
visão. Mas se a música chegar para o maestro já com um "esboço" dos arranjos, ele vai
apenas reproduzir o que você fez com os instrumentos corretos nos lugares certos. Mas a
personalidade da música manterá sua integridade.

Se você negligenciar esta parte da sua canção, poderá ter uma grande decepção. Ao ouvir
a canção com um arranjo completamente diferente daquilo que você "ouviu" em sua
mente, você dirá "destruiram minha música". Pode até ser que fique melhor, mas é
duvidoso.

O que pode ser feito, é trabalhar com um parceiro que acompanhe o desenvolvimento da
música e - sendo mais experiente nesta parte - vá desenvolvendo o arranjo da canção, ou
pelo menos o esboço.

Pessoalmente, não me considero um bom arranjador. Sou muito preguiçoso. Mas sei o
que é um bom arranjo. Em primeiro lugar, nada de "todo mundo começa e termina junto".
Ou seja, todos os instrumentos tocando juntos do começo ao fim da música. Isso não é
arranjo. É bagunça.
! Bruno Grünig! 76

Um bom começo é ir trazendo os elementos novos (ganchos, solos, backing vocais, teclados)
conforme a música vai evoluindo. Sempre procurando um relacionamento harmônico entre
os diversos instrumentos e vozes. Nada de solos intermináveis. Instrumentos mais baixos
que a voz. Pausas onde forem necessárias. Mais peso instrumental no refrão do que nas
estrofes.
! Técnicas para compor música! 77

Apostila 7 - Compondo a sua música

Colocando tudo junto

Nas apostilas anteriores, você aprendeu as diversas partes que compõe a música, os
conceitos básicos. Agora é hora de colocar tudo isso num mesmo "pacote".

Se você já tem por aí um balaio cheio de letras, músicas, tentativas e tudo o mais, pode até
querer usar uma delas para começar. Mas eu creio que seria mais difícil adaptar algo já
escrito do que começar do zero. Neste caso, minha sugestão é que você use apenas o tema
central, não o trabalho anterior todo. Ficar tentando modificar rimas, métrica, refrão,
estrofes... vai deixar você estressado.

Nesta apostila vou guiar você com um exemplo, que poderá usar depois num tema seu.

Nossa nova canção

Como foi que começou o curso? Inspiração, certo? Vou então usar uma de minhas músicas e
descrever seu processo de criação. A música tem o título de "Chama ela".

Quando criei esta música, fui influenciado por uma música americana, que conta a história
de um sujeito que estava num bar, afogando suas mágoas na cachaça, porque a mulher o
deixou. Eu fiz então um tema parecido, só que com o final mais feliz. E, é claro, tudo na
minha música é completamente diferente da música americana. Letra, estrutura, melodia,
acompanhamento. A outra música apenas me deu a idéia.

Eu pensei então em dois sujeitos sentados num bar, desconhecidos até então. E me veio a
idéia de que um poderia ajudar o outro. Um poderia dizer ao outro: "chama ela". Na
verdade, a frase que me veio à mente foi: "chama ela de uma vez", que poderia muito bem
ser o título da música.
! Bruno Grünig! 78

Até então, eu só sabia que um sujeito iria dizer ao outro, no refrão, esta frase, para
incentivar o outro a ligar para a mulher que o estava abandonando.

Aí está a inspiração. Eu já tinha uma frase e um começo de história.

Comecei então a montar meu refrão. Como é que o sujeito diria ao outro para ligar para sua
amada? Depois de alguns (muitos) risque, rabisque, me saí com esta parte do refrão:

Deixa, deixa de tanta conversa


Pega nesse telefone, chama ela de uma vez

Eu fui escrevendo e tocando a frase no violão. Assim, já tinha um esboço de letra, melodia e
acompanhamento.

Bem, o refrão já tinha nascido. Não estava pronto, mas já tinha uma "cara". Aí então parti
para as estrofes. Eu precisava saber como a conversa entre os dois sujeitos se desenrolaria,
para desembocar no refrão. Então, comecei pelo começo. A primeira estrofe (muito risque
rabisque de novo...), ficou assim:

Ele estava ali sentado junto a mim


O seu copo de bebida quase já no fim
Me olhou com olhos tristes e falou
Da mulher que ele amava e que o abandonou

Repare como numa só estrofe já há um "quadro". Ao ouvir a música, o ouvinte


imediatamente deduz que são dois sujeitos (pois é um homem que está cantando) e que
pelo menos um está bebendo e foi abandonado pela mulher ou namorada.

Mas até aí, ainda era muito cedo para entrar no refrão. A conversa precisava aprofundar-se
um pouco mais. Então fiz a segunda estrofe assim:

Me contou muitas passagens desse amor


Tão bonito mas enfim se transformou em dor
Sem querer as suas dores eu tomei
Num impulso olhei pra ele e então falei

Pronto. Eu já havia dirigido a música para o refrão. E o fato do primeiro sujeito ter falado de
sua história de amor, me deu a dica para terminar meu refrão, que acabou ficando assim:

Deixa, deixa de tanta conversa


Pega nesse telefone, chama ela de uma vez
Se ela soubesse de tudo que eu sei agora
! Técnicas para compor música! 79

Jamais teria ido embora


Chama ela de uma vez

Mas a minha história precisava continuar. Imagine você como ficaria o ouvinte se não
soubesse que foi que o sujeito fez. Ele ligou ou não? Então continuei, com mais duas
estrofes. A esta altura, já estava até fácil demais. Eu já tinha as duas linhas melódicas, a
estrutura das estrofes e do refrão, o acompanhamento. O resto seria tudo igual, apenas com
a letra diferente.

A música acabou ficando um pouco mais longa do que o normal, porque eu decidi contar ao
ouvinte também o que é que o outro sujeito estava fazendo num boteco. A letra toda então
ficou assim:

Chama ela (Bruno Grunig)


Ele estava ali sentado junto a mim
O seu copo de bebida quase já no fim
Me olhou com olhos tristes e falou
Da mulher que ele amava e que o abandonou

Me contou muitas passagens desse amor


Tão bonito mas enfim se transformou em dor
Sem querer as suas dores eu tomei
Num impulso ohei pra ele e então falei

Deixa, deixa de tanta conversa


Pega nesse telefone, chama ela de uma vez
Se ela soubesse de tudo que eu sei agora
Jamais teria ido embora
Chama ela de uma vez

Num instante o telefone ele pegou


Dez minutos de conversa e tudo então mudou
Meia hora ela chegava por ali
Prometendo a ele nunca, nunca mais partir

Ela quis então saber que foi que eu fiz


Porque foi que ele ligou e lhe fez tão feliz
Expliquei que foi questão de escutar
Sua história de amor para depois falar

Deixa, deixa de tanta conversa


! Bruno Grünig! 80

Pega nesse telefone, chama ela de uma vez


Se ela soubesse de tudo que eu sei agora
Jamais teria ido embora
Chama ela de uma vez

A conversa então virou-se para mim


O meu copo de bebida quase já no fim
Respondi hoje eu briguei com meu amor
Vim pra este lugar afogar a minha dor

Minha história então contei naquele bar


Os dois juntos me escutaram quase sem falar
Me disseram olha só o que você fez
Ajuntou nós dois e agora é a sua vez

Deixa, deixa de tanta conversa


Pega nesse telefone, chama ela de uma vez
Vai liga logo, resolve tudo isso agora
Não deixe que ela vá embora
Chama ela de uma vez

Repare em algumas coisas:

• O último refrão tem duas frases diferentes, mas com as mesmas palavras e a mesma
rima no final.
• A parte principal do refrão não foi modificada. Isto é muito importante. Jamais
modifique o coração do refrão, que é o título da música, ou contém o título.
• Há uma surpresa no final. Aquele que era o bonitinho, que ajudou ao outro, também
estava ali pelo mesmo motivo, ou quase.
• Na penúltima estrofe, usei a mesma imagem da primeira: 1- "O seu copo de bebida
quase já no fim" 2 - "O meu copo de bebida quase já no fim". Isso faz com que o
ouvinte sinta que "já conhece" a música.

Agora pense... quando você olha uma letra como esta e ouve a música... parece muita coisa.
Quando na verdade, você viu que não é. Pelo menos no início não é. Apenas uma frase, uma
idéia.

Assim nascem as músicas.

Evidentemente, você não precisa necessariamente "contar uma história" com sua música.
Mas é bom que a música tenha lógica, que o ouvinte compreenda o que você quer dizer.
! Técnicas para compor música! 81

No caso do exemplo mencionado, eu comecei com uma frase, que acabou no refrão e me
deu o título da música. Esta é uma boa maneira para começar. Eu gosto de começar assim,
porque o refrão e o título da música são a parte mais importante. E seria desperdício de
tempo escrever duas, três estrofes, só para descobrir que não se consegue fazer um refrão
decente para elas.

Se você quiser adotar este método, tenho certeza que pode chegar a um bom resultado com
maior segurança.
! Bruno Grünig! 82

A sua primeira tentativa

"Ah... eu tentei e não dá certo... não adianta...". É comum alguém pensar assim.
Recentemente alguém queixou-se desta maneira:

"... nunca vou aprender a tocar violão... comecei hoje de manhã e até agora não consegui
nada..."

Uma pessoa assim precisa de muita ajuda. Violão não é algo que se aprenda em um dia.
Nem em um mês. Aí o sujeito pega no violão, tenta tocar de qualquer jeito por uma hora e
desiste. Alguém assim jamais vai aprender nada. As coisas levam tempo para acontecer.

E assim também é com a composição. Você precisa estudar, treinar. Tentar e continuar
tentando.

A primeira tentativa geralmente não é a melhor. Não saiu? Que problema tem
você? Alguém vai te matar, ou coisa assim? Se for o caso, prepare-se para morrer, porque
não vai acontecer nada em um dia, dois. Mas em um mês, trabalhando duro, vai melhorar.
Em seis meses, mais... e assim por diante.

E se demorar dois anos para que você finalmente faça um música "do caramba"? Eu não
vejo problema algum. Eu comecei a estudar música com dezesseis anos. Tenho cinquenta e
quatro e ainda não sei tudo. Aliás, estou muito longe de saber tudo. E não estou arrancando
meus cabelos de raiva. Nem tampouco desistindo de nada.

Tente outra vez...


! Técnicas para compor música! 83

Apostila 8 - O produto final

Opinião

Não considere uma música "pronta" sem ouvir a opinião de outros. Críticas podem ser
doloridas, mas são necessárias. Ao longo dos anos, criei um mecanismo para detectar a
verdade por trás das críticas. A crítica ideal seria aquela que é totalmente imparcial. De
preferência alguém que conheça música e não conheça você. E que nem saiba que você vai
tomar conhecimento da crítica. Estas, geralmente são de lascar. Se a pessoa não tem receio
de te magoar, pode falar qualquer coisa. Daí podem sair coisas como: "isso é uma música?"
ou "isso aí não tem nem pé nem cabeça". Ou por outro lado "muito boa... quem fez?". Pode
ser dolorido ou gostoso. Porém não nos devemos deixar afetar por nenhum lado. Se está
ruim, tentaremos melhorar. Se está bom, ótimo. Tentaremos melhorar ainda mais.

O importante é saber como lidar e interpretar as críticas. Separar uma crítica sincera de
uma destrutiva. Não levar em consideração qualquer besteira. Algum amigo ou parente
pode fazer uma observação sobre a canção, que não tem absolutamente nenhum
fundamento. Vou dizer porque. É que se você (um pobre mortal) pode compor uma canção,
todos em sua volta se acham um pouco "compositores" também e com conhecimento
"suficiente" para dar palpites "relevantes" e modificar a canção.

Outro tipo é aquele que abertamente diz que tudo o que você faz não tem nada a ver. Este
não deve ser levado em consideração de maneira nenhuma. Provavelmente não consegue
fazer nada direito e só baixa a ripa em quem faz.

Aqueles que te amam (mãe, pai, irmãos, esposa, filhos, amigos) não querem te magoar.
Dificilmente dirão que o que você está fazendo é uma grande porcaria. Alguns até "puxam
o saco" dizendo que você deveria estar ganhando um dinheirão com aquilo e tal. Sendo que
nem prestaram muita atenção às canções. Uma vez uma pessoa me disse isso, que deveria
estar ganhando dinheiro com minha música. E eu apenas havia lhe dito que componho. Ela
não havia ouvido sequer uma das canções!!!

Já reparei, em se tratando de parentes e amigos, a maioria deles quando não gosta muito
do que você fez, para não correrem o risco de te magoar, ficam calados. Não fazem
comentário algum ou, no máximo dizem "é... legal". Pode acreditar: não gostaram.

Outro caso é quando ouvem superficialmente algumas músicas e dizem: "legal! grava um
! Bruno Grünig! 84

cd pra mim!". A probabilidade maior é de que estejam apenas sendo educados. Talvez, de
posse do tal cd, façam uma análise mais apurada e apareçam com uma crítica mais sincera.

Um retorno bastante interessante é conseguir que a música seja executada ao vivo, para
uma platéia razoável. Uma platéia de gente que não dá a mínima para você, de preferência.
A espontaneidade, quantidade e intensidade dos aplausos é que vai dar a tônica da crítica.
Aquilo que ninguém ousa falar em particular para você, coletivamente toma outro aspecto.
Não foi aquela pessoa específica que te aplaudiu ou vaiou. Fica mais fácil. E - vou ser bem
sincero - enche a bola da gente quando o público nem espera entrar o refrão pela primeira
vez e já começa a aplaudir! Não adianta tentar esconder. A gente quer que os outros
gostem. Por isso, as opiniões de terceiros são importantes.

Aprendi um truquezinho legal com um amigo. Estávamos os dois no carro dele, voltando
do trabalho e ele colocou um cd para tocar. Alguém ali cantava canções de cantores
diferentes. Uma voz muito bonita, me impressionou. Aí perguntei se era um cantor famoso,
pois a voz era muito parecida. Ele respondeu: "muito obrigado... não não é este cara não...
sou eu mesmo...". E eu nem sabia que o cara era cantor. E que cantor! Já usei este truque,
com resultados os mais diversos. Às vezes a pessoa fica indiferente. Outras pergunta quem
é o cantor, mas sem muito interesse. Mas quando pedem pra aumentar o volume, a bola
fica cheeeeeia!

É difícil lidar com crítica, isto é certo. Mas com o tempo, a gente vai se acostumando. Mas
as críticas são necessárias, para que orientemos melhor nosso trabalho. E precisamos
aprender como separar o sincero do destrutivo, do indiferente, do interessado, do puxa-
saco e por aí afora. E não "encucar" com críticas negativas (não se pode agradar a todos).
Precisamos, como em qualquer outra área, lidar positivamente com a rejeição. Não te
querem aqui, mas lá na frente sempre haverá quem queira.

Uma coisa é certa: não confie em você mesmo. É a mesma coisa que pedir para um pai
julgar sinceramente o seu filho. Você já deve ter presenciado aquelas cenas
constrangedoras. O moleque é ruim de bola, um verdadeiro cabeça-de-bagre jogando
futebol. E o pai ali: "esse garoto vai longe....". Ele é pai. jamais vai admitir que seu filho é
atrapalhado. Mesma coisa para um compositor. As músicas são seus "filhos". No máximo a
gente pode achar um "filho" mais bacaninha que o outro. Mas achar que não vale nada, é
quase impossível.

Você pode também buscar ajuda profissional. Alguém do ramo musical que possa
analisar as músicas e dar sua opinião. Eu já fiz isto e deu um excelente resultado. Digo... as
críticas - a maioria - não foram boas. Mas serviram para que eu estudasse e pesquisasse
mais.

É muito importante aprender a usar as opiniões dos outros para o crescimento. Não
! Técnicas para compor música! 85

podemos ficar estagnados. Devemos sempre tentar melhorar o trabalho. E a melhora pode
ser medida. Mudar uma crítica de negativa para positiva melhorando o trabalho é uma
forma de medir nosso próprio progresso.
! Bruno Grünig! 86

Gravação

Assumindo que você vá gravar sua música em seu próprio estúdio "caseiro", com um
amigo ou mesmo um estúdio contratado, aqui vão algumas dicas. Se você não entende
absolutamente nada de gravação, estúdio, procure aprender pelo menos o básico. Há livros
e artigos na internet que ensinam. Acredite, deixar tudo por conta dos outros pode ser uma
dor-de-cabeça. Principalmente se o seu orçamento não é dos melhores. É claro que se você
contrata um bom estúdio, um bom produtor e um bom engenheiro de som, provavelmente
não vai ter que fazer mais do que gastar seu dinheiro. Mas se a grana for curta, você mesmo
terá que fazer ou pelo menos comandar a brincadeira. E neste caso, é melhor aprender,
para fazer o melhor possível.

Prepare tudo antes - O jeito mais fácil de estragar tudo, é deixar detalhes ao acaso. Você
está animado, com a cabeça concentrada em gravar e chega na hora "H", cadê a folha com
a letra? O violão está com as cordas velhas, oxidadas. O som vai sair ruim. O cabo da
guitarra está em curto. Você esqueceu de trazer o microfone!!! Alguns dias antes você deve
fazer uma lista completa de tudo e providenciar o que falta, o que necessita de reparo e por
aí afora.

A noite anterior - Nada de gandaia na noite anterior. Uma boa noite de sono, mesmo que
você não vá tocar ou cantar na gravação (só produzir) garante um bom desempenho. Isto
vale para os demais envolvidos também.

A música - Antes de sequer pisar no estúdio, você deve saber exatamente o que vai fazer
na música. Desde a introdução, arranjo, backing vocais, instrumentos, andamento,
acordes, tudo. Esquematizado e por escrito. Nada de chegar na hora e ficar improvisando,
principalmente se a gravação não é na tua casa e mais ainda se estiver pagando!

Gravando

Se você mesmo vai ser o engenheiro de som e não tem muita experiência, não se
preocupe. Da mesma maneira que na composição, procure manter a simplicidade. É
melhor ter uma música bem gravada só com quatro, cinco instrumentos do que uma
música cheia de salamaleques e firulas mal gravada.

Via de regra, é interessante obter primeiro boas pistas de bateria e contrabaixo,


para depois inserir os demais elementos. Nesta primeira etapa, é bom já gravar uma voz
guia que depois será substituída pela voz definitiva.
! Técnicas para compor música! 87

Mantenha os níveis (volume) dos instrumentos perto do máximo que puder, sem
causar clips (distorção). Isto lhe garantirá um áudio consistente para a mixagem.
Se algum músico estiver errando constantemente a sua parte, mantenha a calma.
Faça uma pausa, tome um refrigerante, converse, descontraia. Nada de brigar, ficar
nervoso, ofender. Só vai piorar a situação.

Álcool, nem pensar. Esse negócio de que "músico é tudo doidão" é só conversa
fiada. Qualquer trabalho feito sob o efeito de álcool, fica bom só para a lata de lixo. Drogas
então, nem é preciso falar. Se alguém envolvido na gravação estiver brincando de "chapar o
côco", mande parar - se ainda for tempo. Se já passou da medida, mande pra casa.

Não permita que a seção de gravação se desvie do objetivo. Se tudo estiver bem
planejado, apenas execute o plano, sem aceitar palpites e sugestões de última hora. Você
pode sair da seção de gravação com uma coisa completamente diferente do que imaginou.

Nem todos os erros que ocorrerem na gravação podem ser deixados para corrigir
depois. Corrija tudo o que puder na hora da gravação. Principalmente se for um terceiro
que executou aquela determinada parte. O sujeito vai-se embora com seu equipamento,
seu instrumento e você fica com uma bananosa na mão. Mas também não fique
interrompendo a gravação a cada dez segundos. Anote os erros e corrija no final de cada
parte. Se a coisa for feia, talvez seja necessário repetir aquela parte.

Obedeça a sequencia de gravação. Geralmente vêm primeiro bateria e baixo


(mais uma voz guia), depois violão, guitarra ritmica, piano, teclados, depois os solos/
ganchos e por final as vozes. Lembre-se: nada de performances "ao vivo" no estúdio. Por
exemplo: o guitarrista quer fazer tudo de uma vez, o ritmo e os solos, porque ele é "bom".
Nada disso. Ritmo numa pista e solos/ganchos cada qual gravado individualmente em sua
pista. Se estiver tudo junto, quem fizer a mixagem vai sofrer feito cachorro de rua com
fome em noite de chuva. E não vai conseguir um bom resultado.

Instrumento limpo/sujo. Quero dizer em relação ao áudio. Caso não tenha


certeza do uso de um determinado efeito num instrumento (guitarra com distorção, por
exemplo), é melhor gravar "limpo" ou seja, sem o efeito. Um efeito pode ser colocado mais
tarde, na mixagem. Mas se for gravado na hora, não pode mais ser retirado, a menos que
seja apenas um plug-in. Se for um efeito que vem do amplificador da guitarra, por
exemplo, será gravado juntamente com o som limpo, sendo impossível retirá-lo mais tarde.
Caso o efeito venha do amplificador, tente fazer duas gravações. Se a pista com o efeito não
ficar boa na mixagem, você tem a outra para substituir.

Antes de dar a gravação por encerrada, escute a música toda, completa e cada
pista individualmente, certificando-se de que não há erros que não possam ser corrigidos
! Bruno Grünig! 88

mais tarde.

Não apague pistas já gravadas. Por exemplo: o pianista gravou três vezes a sua
parte, por algum motivo. Conserve as três pistas. Desta maneira, é possível fazer uma
montagem com as melhores partes tocadas, obtendo o melhor resultado possível. O mesmo
princípio aplica-se à voz que, aliás DEVE ser gravada mais vezes, para que se possa
escolher/montar a melhor performance na mixagem.

Procure manter a espontaneidade em todas as partes da música. Uma coisa


muito certinha, quadradinha, limpinha, mecânica não é o que você quer. Você quer tudo
tocado e cantado corretamente, mas com coração, emoção. Dê a necessária liberdade a
cada um para criar, para expressar-se, para dar o melhor de si, sem sair do plano da
canção. Não considere qualquer coisinha como um êrro. Por exemplo, uma palhetada mais
forte do guitarrista, uma nota a mais no piano ou coisas assim. Além do seu ouvinte nem
reparar nestas coisas, elas traduzem para a gravação que aquilo foi tocado por um ser
humano e não por uma máquina.

Não fique eternamente apaixonado por uma só canção. Você tem muitas outras
em sua cabeça. Faça tudo o que puder para que a música fique bem-feita, audível, bonita.
Mas não fique eternamente modificando tudo, achando que vai ficar melhor. Uma vez
gravada, sem erros e de acordo com o que você imaginava, tchau. Está pronta. Hora de
divulgar, dar à música o destino planejado e partir pra outra.
! Técnicas para compor música! 89

Dinamica

Dinamica é a relação entre as partes mais altas e mais baixas da música. Aquele negócio:
mais "calmo" nas estrofes e mais "nervoso" no refrão. Por exemplo: a música começa
somente com um violão, entra depois um piano, o baixo e no refrão a bateria e uma
guitarra. A voz do cantor está mais forte no refrão, possivelmente mais aguda e há uma
segunda voz (ou backing vocal). Ou seja, no refrão a música está "a toda". Acabou-se o
refrão, volta a calmaria, pelo menos em parte. Sai aquela guitarra distorcida, fica só a
bateria, baixo e o violão. A voz do cantor está mais baixa. Isso é dinamica.
Atualmente, tanto no Brasil como nos Estados Unidos (talvez em outros lugares
também), há uma tendência em se "nivelar" demais as partes da música. Isto é feito nos
estúdios, com softwares e aparelhos denominados compressores. Eles fazem isto mesmo.
Comprimem a música de tal forma que as partes mais baixas "aproximam-se"em volume
das partes mais altas.

O uso de compressores não é maléfico em si. Há diversas fases da gravação, mixagem e


masterização da música, em que os mesmo são muito úteis. O problema é o excesso. Uma
música excessivamente comprimida se torna mais alta em volume. É uma linha de
pensamento errônea. Simplesmente achar que, por estar mais alta a música vai ser mais
ouvida, é besteira. Mas os estúdios (pelo menos a maioria deles) andam fazendo isto.

Para ouvir esta diferença, pegue um cd antigo, de mais de seis, sete anos e compare com
um atual em qualquer aparelho, mantendo o mesmo volume. O antigo geralmente estará
mais baixo.

O problema é que a música excessivamente comprimida pode ficar distorcida. Além


disso, uma música sem dinamica (altos e baixos) cansa o ouvido. O resultado é um só: o
ouvinte não conhece as tecnicalidades da gravação e põe a culpa em quem? No artista.
Pior, não vai querer mais escutar aquela música, aquele cd.

Portanto, não fique buscando um volume bem alto para sua música. O ideal é o mais alto
possível, mantendo a dinamica e sem distorção. É só ouvir a música (após masterizada)
com ouvidos críticos. Aquele violãozinho do começo está do mesmo "tamanho" da bateria
que vem depois? Há casos em que a compressão foi tanta, que a música chega parecer que
"muda de rotação", num quase imperceptível vai e vem de volume que irrita até o mais
paciente dos mortais.

Se você puder observar na tela do computador o gráfico do áudio de sua música, faça isto.
Se o gráfico parecer uma "parede" a música estará muito comprimida. Segue abaixo um
exemplo de um gráfico. Quanto mais comprimida a música, mais cheia ficará a parte
central do gráfico, percebendo-se menos os altos e baixos.
! Bruno Grünig! 90

Etapas da produção de uma música

Basicamente, temos três etapas na produção de uma música, a saber:

1) Gravação - Onde se grava todos os instrumentos e vozes.

2) Mixagem - Importantíssima etapa, em que são ajustados os volumes de cada parte da


música, corrigidos pequenos erros de gravação, apagados ruídos e partes indesejáveis,
colocados efeitos (como reverberação e outros), além do balanço de cada parte (canal
esquerdo, canal direito).

3) Masterização - Até a mixagem, a música encontra-se em várias pistas diferentes. É


feita então uma segunda gravação, em apenas duas pistas stereo. É assim que ouvimos a
música, em stereo, ou seja, dois canais, esquerdo e direito. Esta é uma etapa crítica,
principalmente na gravação de um Cd com várias canções. Entre outras coisas, a
masterização cuida de nivelar a tonalidade e o volume das músicas. Isto é necessário, para
que não se tenha, no mesmo trabalho, algumas músicas mais baixas que outras. E também
para que o nível tonal das músicas seja coerente, que não haja algumas músicas muito
agudas e outras muito graves. Uma boa masterização pode dar mais vida a uma música.
Com aparelhos e softwares de altíssima precisão, consegue-se até mesmo realçar alguma
parte da música. Entretanto, o que a masterização não consegue, é salvar uma gravação
mal-feita seguida de uma mixagem ruim. Muitos pensam que a masterização é algo
"mágico", que pode tudo. Não é. Pode-se fazer muita coisa na masterização, desde que se
tenha uma gravação e mixagem decentes. Ou seja, as três etapas são importantes.
! Técnicas para compor música! 91

Influências

Creio que todo cantor, compositor, músico, tem suas influências. Os cantores e bandas
que a gente mais gosta, mais escuta, acabam influenciando nossa criação. Alguns mais,
outros menos.

Influência em si, não é ruim. Afinal, precisamos começar por algum lugar. Porém, é
preciso saber separar influência de imitação.

No meu caso, foi fácil. Minha personalidade não permite de forma alguma nenhum tipo
de imitação. Mesmo quando canto músicas de outros autores/cantores, é natural em mim
não imitar.

Se você adquiriu uma tendência para tocar, escrever ou cantar parecido (ou igual) a um
artista conhecido, não deixe que isto tome muito espaço na sua obra. Sua música tem que
ter a sua personalidade, o seu estilo. Se ficar muito parecida à de outro, vai perder a
identidade, a originalidade.

Não há receita para se fugir disso, creio. Acho que seria algo como relaxar, fixar a mente
só no trabalho. Quando estiver compondo (em qualquer lugar), abstenha-se de escutar
rádio, cds, etc..

Por exemplo: você está no trabalho e tem na mente um refrão de uma música. Sua cabeça
está sintonizada, querendo achar aquela partezinha que ainda não saiu. No caminho para
casa, você liga o rádio do carro. Alguma canção ali pode acabar com o que já ia nascendo
em sua cabeça, ou pior ainda, influenciar a sua canção, dando-lhe outra identidade. Isto, é
claro, não é uma influência adquirida ao longo do tempo, é uma influência imediata, mais
fácil de se combater.

A influência adquirida ao longo do tempo, com bandas e cantores de sua preferência é


boa, quando utilizada corretamente. Tente sempre identificar em que parte da música está
esta influência (melodia, letra, acordes, voz) e vá modificando uma coisinha aqui e ali,
conforme seu gosto.

Influências devem traduzir-se em sua música na forma de "semelhança". Sua música


"lembra" o estilo de alguma banda, cantor. Semelhante não é igual. Igual é imitação. E
niguém gosta de imitação.
! Bruno Grünig! 92

Criando um estilo

Isso aí é meio complicado. Como se cria um estilo? Não tenho a mínima idéia. Só sei que
não é nada que se compre no supermercado. Para um cantor creio ser um pouco mais fácil.
O timbre de voz, a expressão corporal, o modo de vestir, já ajudam na "criação" do estilo.
Mas um compositor... bem complicado.

Além do acima mencionado (não deixar que as influências tomem muito espaço), creio
que você deve buscar dentro de si mesmo uma particularidade, alguma qualidade que só
você tem. E então tentar colocar isto nas letras, melodias e sequências de acordes das
músicas. Uma mania, por exemplo. Até mesmo uma dificuldade por traduzir-se em estilo.

Busque algo em comum nas suas músicas. Uma determinada maneira de dizer as coisas,
a linguagem, a extensão das frases em cada estrofe.

Por exemplo: Bruno, da dupla Bruno e Marrone quase sempre coloca nas letras de suas
músicas expressões típicas, como "na hora H", "tomar juizo", "sorri pra não chorar", "beco
sem saída" e outras. Coisas do estilo dele. Talvez ele tenha reparado nisso e passou a fazer
propositadamente, transformando a coisa em "marca registrada".

Tente achar a sua "marca". Você, mais do que ninguém, quer que identifiquem suas
composições imediatamente. Se conseguir isto, ponto pra você.

Resumindo...
Se você já tem músicas prontas, faça uma análise das mesmas, seguindo o esquema
abaixo. Observe cuidadosamente cada parte da música e veja se tudo se encaixa. Anote os
itens que não estão de acordo e deverão sofrer modificações. Não seja muito rígido consigo
mesmo. Caso haja uma coisinha aqui e ali que não prejudique a canção, passe batido. Mas
se o problema for grande, comprometendo o todo, considere modificar, reescrever. Caso
isto não seja possível, talvez seja necessário "matar" a música. Mas só faça isto se tiver
absoluta certeza de que não há outra solução. O mesmo esquema pode ser usado durante o
processo de composição.
! Técnicas para compor música! 93

Itens a considerar

1) Refrão - O refrão deve ser forte e conter o título da música, além de precisar fazer
sentido sozinho, separado do resto da música.
2) Estrutura - A música precisa ter uma estrutura. Se não se encaixa de modo algum em
nenhum tipo de estrutura, precisa ser corrigida.

3) Rimas - Verifique se há falsas rimas e se o esquema utilizado é obedecido durante toda


a música.

4) Duração - Verifique se o refrão está entrando pela primeira vez por volta de um
minuto. Veja também que a música tenha por volta de quatro minutos.

5) Ganchos - Verifique se há ganchos entre as partes da música e se estão executados


corretamente. E se não estão repetitivos, monótonos.

6) Tema - O tema é compreensível? Dá para entender a história? Há frases ou estrofes


sem sentido?

7) Acordes - Verifique a sequencia de acordes e também se há necessidade de alguma


variação.

8) Melodia - A melodia está servindo bem à letra e vice-versa?

9) Métrica - Verifique se não há partes da música difíceis de cantar, com a letra mais
extensa que a melodia.

10) Ritmo e andamento - O ritmo deve servir ao tema (Ex: música alegre = ritmo mais
rápido). O andamento (tempo) também.

11)Arranjo - Instrumentos certos nos lugares certos, sem muitos floreios nem um
amontoado de instrumentos diferentes ao mesmo tempo.

12)Linguagem - Sem vulgaridades, muito menos obscenidades. Nem tampouco


linguagem rebuscada.
! Bruno Grünig! 94

Apostila 9 - Analisando sucessos

Analisando um grande sucesso


Nesta parte, vamos olhar um pouco mais de perto o que foi que Zezé di Camargo fez de
tão especial na música "É o amor". A canção praticamente tirou a dupla Zezé di Camargo e
Luciano do anonimato, enviando-os diretamente ao sucesso. É claro que depois disto
houve muito trabalho, mas o mérito desta música é indiscutível.

É o amor - Zezé Di Camargo

Eu não vou negar que sou louco por você


Tou maluco pra te ver
Eu não vou negar

Eu não vou negar sem você tudo é saudade


Você traz felicidade
Eu não vou negar

Eu não vou negar você é meu doce mel


Meu pedacinho de céu
Eu não vou negar

Você é minha doce amada minha alegria


Meu conto de fadas minha fantasia
A paz que eu preciso pra sobreviver

Eu sou o seu apaixonado de alma transparente


Um louco alucinado meio inconsequente
Um caso complicado de se entender

É o amor
Que mexe com minha cabeça e me deixa assim
Que faz eu pensar em você e esquecer de mim
Que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver
! Técnicas para compor música! 95

É o amor
Que veio como um tiro certo no meu coração
Que derrubou a base forte da minha paixão
Que fez eu entender que a vida é nada sem você

Eu não vou negar você é meu doce mel...

A estrutura da música neste caso é um pouco diferente. Algo como "A, B, C, P, P, R, C, P,


P, R". Não tenho a mínima idéia sobre a intenção de Zezé em contruir a música assim ou
não. Veja as três primeiras estrofes. Dificilmente ele poderia sair de uma delas e ir direto
para o refrão. Talvez ele tenha feito o refrão primeiro (É o amor...) e então partido para as
estrofes. As três primeiras estrofes abriram bem a música, mas não deram resolução para
chegar ao refrão. Foi necessário então construir uma estrofe diferente que fizesse a ligação.
Zezé usou duas, mas poderia ter sido uma só, com certeza. Estas duas estrofes levaram a
música ao climax que o refrão exigia. A coisa foi crescendo, crescendo e explodiu no refrão
que por sua vez explodiu no Brasil.

Por outro lado, pode ser que Zezé tenha começado pelo começo. Ou seja pelas três
primeiras estrofes. E seguido em frente até chegar no refrão. Mas eu duvido. Creio que ele
fez o refrão primeiro.

Repare que ele também não "batizou" a música. Dar outro título a esta canção seria puro
suicídio. O título está no começo do refrão. Mais uma dentro. Pode até ser que ele tenha
tido a tentação de "batizar" a música de "Eu não vou negar", sei lá. Mas se teve, ainda bem
que largou mão disso. Seria uma grande besteira.

O fato da canção ter cinco estrofes antes do refrão em nada prejudicou a duração da
mesma. Como as estrofes são pequenas, tudo casou certinho e o refrão, na gravação
original aparece com um minuto e vinte segundos. Perfeito!

A terceira estrofe é um pouco diferente no final, "chamando" a quarta e a quinta, que são
diferentes, constituindo-se numa "ponte" ou "pré-refrão". Na verdade, Zezé poderia ter
usado somente uma delas (a quarta ou a quinta), mas havia espaço de sobra e ele pôde
complementar o que desejava dizer antes do refrão.

A história
Tomara que Zezé não leia isto, mas ele poderia ter aclarado um pouco mais as coisas. Por
exemplo: se ele diz "eu não vou negar..." provavelmente estava sendo desafiado pela sua
amada, tipo "negue que me ama..." ou coisa assim. No restante da música, ele se abre de
! Bruno Grünig! 96

tal maneira, que é difícil acreditar que tal desafio tenha ocorrido.

Na segunda parte do refrão ele diz: "que derrubou a base forte da minha paixão". Ou seja:
o amor derrubou a base forte da minha paixão. Com perdão pela expressão, sou obrigado a
dizer: que catso quer dizer isto? Ele é louco por ela, baba na gravata por ela e o amor
derruba a base forte da paixão???? Essa não colou. Mas tudo bem, passa batido porque a
música como um todo é boa. E fazer uma música perfeita - creia-me - é muito difícil. Talvez
ele tenha dito isso porque o amor superou a paixão, mas neste caso o sujeito não estaria
"louco, alucinado, meio inconsequente". Isso é sintoma de paixão.

Outra coisa que não fica muito clara na música é se os dois estão juntos ou não. O cara
está dizendo tudo aquilo para alguém que ainda está em sua vida, ou para alguém que foi
embora? Isto, por incrível que possa parecer, talvez tenha ajudado a música, de vez que
serve para ambos os casos. Para quem ainda está junto ou para quem está separado!
Inteligente esse Zezé!!!

Por outro lado, as frases "que faz eu pensar em você e esquecer de mim" e "que veio como
um tiro certo no meu coração" deram uma boa contribuição para levantar a música.
Realmente, quem ama pensa mais na pessoa amada do que em si próprio.

Enfim, a própria letra diz que é "um caso complicado de se entender", ou seja, o sujeito
ama tanto que já nem sabe se é paixão, amor. Ele sabe que aquela é a mulher da sua vida e
pronto!

Aí você diria: "mas com tanta controvérsia, tema não muito claro... como foi que a música
fez tanto sucesso". Não tenho dúvida nenhuma a respeito. Foi o refrão com o título. A
maneira como o refrão entra e depois se repete, é uma verdadeira bomba. Lembro-me de
ter escutado no rádio (bons tempos...) "é o amor...". Não teve quem não quisesse aumentar
o volume! Ah, tem mais: foi o refrão, tá certo. Mas se fosse cantado por outro cantor, talvez
não tivesse o mesmo impacto. Convenhamos: a voz de Zezé é uma coisa quase inexplicável.
Com raras exceções, outros cantores teriam que abaixar a tonalidade pelo menos em três
semitons. O mesmo refrão cantado desta maneira, perde muito de sua força. Quando me
atrevo a cantar músicas de Zezé di Camargo tenho que abaixar a tonalidade em cinco
semitons. Algumas músicas ficam mais ou menos. Esta, por exemplo, fica bastante sofrível.

Resumindo: houve um casamento feliz de uma boa canção com um forte refrão e uma voz
única, de timbre e tonalidade inigualáveis.
! Técnicas para compor música! 97

Os acordes

A tonalidade original da música é B (si maior). Acabo de ver a cifra num site e colocaram
em C (dó maior). Como se não bastasse a tonalidade altíssima de Zezé e ainda colocam um
pouquinho mais. Tudo bem, é só cantar oitava abaixo, rerere!

Os acordes desta música vêm de encontro àquilo de que falo o tempo todo. Simplicidade.
Apenas quatro acordes são utilizados na música. Cinco, se contarmos o B7. São eles:

Primeiro verso: 1 (B) 5 (F#7)


Segundo verso: 2 (C#m) 5(F#7) 1(B) 2 (C#m) 5(F#7)
Terceiro verso: 1 (B) 1 (B7) 4 (E)
Quarto e quinto versos: 5 (E) 1 (B) 2 (C#m) 5 (F#7) 1 (B)
Refrão: 4 (E) 1 (B) 5 (F#7) 2 (C#m) 2 (F#7) 1 (B)

* Lembre-se que o que vem depois do acorde é alteração. Em termos de numeração


dentro da tonalidade, o que vale é só o acorde, sem as alterações. Assim, F#7 é o acorde 5,
como se fosse F#.

A única e solitária variação na música foi C#m, relativa de E. Já falei disto antes e vou
insistir: o segredo é a simplicidade. Zezé, tenho certeza, tem conhecimento musical
suficiente para colocar pelo menos mais uma boa meia dúzia de acordes nesta música. Mas
ele sabe que não é necessário, não ajuda em nada. Escute a música e perceberá nitidamente
do que falo. O acompanhamento deixa que a voz do cantor flua naturalmente ao longo da
música, não há quebras de acordes em meio às frases e o ritmo é bem marcado. Simples e
eficiente.

Pois é. Comecei dizendo "o que Zezé fez de tão especial nesta música...". Foi isto: uma
canção simples, sem rebuscamentos nem na letra nem no acompanhamento. Letra que se
identifica com a maior parte das pessoas, sem dizer obscenidades nem tampouco
vulgaridades. Refrão perfeito. Experimente, num grupo de amigos, cantar só isso: "é o
amor...) e vai ver do que falo. Com certeza, alguém vai continuar "...que mexe com minha
cabeça...". Aí, o toque de Midas: a voz do homem! Esta música tem, pelo menos, oitenta
por cento dos ingredientes necessários para fazer sucesso. Foi isso que Zezé fez. E espero
que continue fazendo por muito tempo.

Nota: Faça como Zezé: não fique procurando a "mosca branca". A beleza está na
simplicidade e na espontaneidade.
! Bruno Grünig! 98

Analisando outro sucesso

Para efeito de compreensão dos temas abordados no manual, vamos analisar outra
música. "Catedral" de Zélia Duncan. Minha intenção aqui, não é comparar a música de
Zélia com a de Zezé di Camargo. São generos diferentes. Apenas tento demonstrar as
diferenças nas técnicas de composição. E se Zélia não utilizou os ingredientes necessários
para que a música atingisse um público maior, provavelmente foi porque assim o quis.
Seguem abaixo: a letra original em inglês, a tradução e por fim a versão de Zélia Duncan.

Cathedral Song

I saw you from the cathedral


You were watching me
And I saw from the cathedral
What I should be

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

And I watch you with an intent, basic


It's the same for you
You hold your hand
And it's all fine - laced and
What would you make me do?

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

Serious for the winter time


To wrench my soul
whole cotton, whole cotton ears
But I know there must be
There must be, yes, I know there must be a place to go
! Técnicas para compor música! 99

You saw me from the cathedral


Well I'm an ancient heart
Yes, you saw me from the cathedral
Well here we are just falling apart

You catch me
I am tired
I want all that you are

I saw you from the cathedral


You were leaving me
And I saw from the cathedral
You could not see to see

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

Canção da Catedral - tradução

Eu te vi da catedral
Você estava me olhando
E eu vi da catedral
O que eu era

Então, fique com minhas mentiras


E fique com meu tempo
Porque todos eles querem ficar com a minha vida

E eu vejo você com um objetivo, básico


É o mesmo que ocorre com você
Você segura sua mão
E ela é tão fina - aperta e
O que você iria fazer comigo?

Então, fique com minhas mentiras


E fique com meu tempo
Porque todos eles querem ficar com a minha vida

Sério no inverno
! Bruno Grünig! 100

Para animar minha alma


Todo algodão, todo algodão colher
Mas eu sei que vai existir
Eu sei vai ter que existir, sim, eu sei
Vai existir um lugar para se seguir

Você me viu da catedral


Felizmente eu tenho um coração secular
Sim, você me viu da catedral
Bem aqui onde nós estamos nos despedindo

Você me pega
Eu estou cansada
Eu quero tudo o que você é

Eu te vi da catedral
Você estava me deixando
E eu vi da catedral
O que você não poderia ver

Então, fique com minhas mentiras


E fique com meu tempo
Porque todos eles querem ficar com a minha vida
! Técnicas para compor música! 101

Catedral (versão de Zélia Duncan)

A D
O deserto que atravessei
Bm E
Ninguem me viu passar
A
Estranha e só
D
Nem pude ver
Bm E
Que o céu é maior
D A
Tentei dizer, mas vi você
E
Tão longe de chegar,
D A
mas perto de algum lugar
A D
É deserto onde eu te encontrei
Bm E
Você me viu passar
A D
Correndo só, nem pude ver
Bm E
Que o tempo é maior
D A
Olhei pra mim, me vi assim
E D
Tão perto de chegar onde
A
Você não está
E A
No silêncio uma catedral
E A
Um templo em mim
E A
Onde possa ser imortal
D
Mas vai existir eu sei vai
! Bruno Grünig! 102

Bm
Ter que existir
E E4/7
Vai resistir nosso lugar
A D
Solidão quem pode evitar
Bm E
Te encontro enfim
A D
Meu coração, é secular
Bm E
Sonha e deságua dentro de mim
D Bm E
Amanhã devagar me diz como
(SOLO A D Bm E)
Voltar
A
Se eu disser
D
Que foi por amor
Bm
Não vou mentir
E
Pra mim
A
Se eu disser
D
Deixa pra depois
Bm E
Não foi sempre assim
D
Tentei dizer
A
Mas vi você
E D
Tão longe de chegar, mas perto
A
de algum lugar

A primeira coisa que me ocorre dizer é que a falta de sentido verificada na versão de
Zélia, já existia no original. A letra sai do nada e vai pra lugar nenhum. No original, o
! Técnicas para compor música! 103

refrão é respeitado à risca. Zélia modifica o refrão no meio da música. Além disso, o refrão
original tem uma certa força: "So take my lies, and take my time, cause all the others, they
want to take my life". Traduzindo fica mais ou menos assim: "então tome minhas mentiras
e tome meu tempo, porque todos os outros querem tomar a minha vida".

O problema do refrão original é óbvio. Não faz sentido. Talvez faça algum sentido para
um pequeno grupo que saiba da história do compositor ou coisa assim, mas sozinho não
faz sentido. Refrão que não quer dizer nada é um passo para o fracasso. Já o refrão de Zélia
poderia até chegar em algum lugar mas, como ela mesma disse, ficou longe de chegar.
Veja: "tentei dizer, mas vi você, tão longe de chegar, mais perto de algum lugar". Isto quer
dizer o que? Tentou dizer o que? "Longe de chegar mais perto de algum lugar" é uma frase
muito mais do que vaga. Para piorar as coisas, como já disse, Zélia modifica o refrão no
meio da música, confundindo ainda mais a cabeça de quem se aventurasse a entender a
canção.

Bem, fica parecendo que meus primeiros comentários "destruiram" tanto o original como
a versão. Então, se a letra é tão ruim, como foi que a música fez sucesso (pelo menos algum
sucesso). Fácil. A música contém alguns dos ingredientes necessários ao sucesso. São eles:

Ritmo - é pulsante, gostoso


Melodia - Indiscutivelmente bonita
Acordes - simples, sem rebuscamento
Estrutura - A estrutura é perfeita. Estrofe - refrão - estrofe - refrão - ponte - estrofe -
refrão (original)
Arranjo - muito bonito, bem feito mesmo

Resumindo: tanto o compositor original como Zélia Duncan perderam uma excelente
oportunidade de fazer desta canção um sucesso maior do que foi. A letra simplesmente
acabou com qualquer chance que a música teria de simplesmente estourar nas paradas.
Pessoalmente, toquei várias e várias vezes esta canção e tenho o CD original de Zélia, uma
grande cantora, em minha opinião. Mas a letra... simplesmente não atinge o grande
público que - repito - não está interessado em mim, em você ou em Zélia. O público quer
ouvir algo que tenha a ver com sua vida, seu cotidiano, seus amores, suas paixões. Se você
falha em comunicar isto, até logo para o sucesso!

Se quiser fazer um teste, tente escutar a música algumas vezes e depois cantar. É dificil
decorar sequer o refrão, que é modificado no meio da canção. Que diriamos do restante da
musica. Já os acordes, sem problema.

Aí está um bom exemplo do problema que é se fazer música para mostrar como a gente é
! Bruno Grünig! 104

"cabeça". Uns e outros prestam um pouco de atenção e comentam: pô... o cara é "cabeça"!
Comentário que, de resto, também não faz sentido. Se para ser "cabeça" preciso dizer
coisas sem sentido, prefiro ser brega.

E nem adianta alguns dizerem que sabem o que quer dizer a letra. A canção tem que ser
compreendida de imediato, na primeira audição. Quem você conhece que fica
desperdiçando horas tentando decifrar uma letra de música?

Finalizando: você pode errar ao fazer uma música. Um pequeno problema na letra (não
no refrão, por favor!), como no caso de Zezé di Camargo, ou em outra parte, não vai
destruir a canção. Mas desprezar toda e qualquer regra em algum dos quesitos (letra,
refrão, estrutura, acordes, arranjo), fazendo tudo diferente de cabo a rabo, é suicídio. Fazer
uma letra sem sentido equivale colocar os acordes aleatoriamente ao longo da música, ou
pior, utilizar qualquer acorde, de qualquer tonalidade. Ninguém faz isto, faz? É claro que
não. Então porque fazer com a letra?

Conclusão: então basta fazer tudo certinho e a canção é sucesso? Infelizmente não.
Existem milhões de canções com a letra certinha, estrutura correta, arranjo impecável e
tudo o mais, que simplesmente não fizeram sucesso. O motivo? Não sei, mas me parece
que a canção precisa ir lá no fundo das pessoas, mexer por dentro, revirar sentimentos e às
vezes o tema ou a melodia (ou os dois) não cumpram a sua parte, por mais que a parte
técnica esteja certa. Um grande sucesso, daqueles que vendem milhões de cópias e rendem
milhões em dinheiro é, sem dúvida, uma raridade, um momento talvez único na vida de
um compositor. Mas nem só de sucessos estrondosos vive a música e aí entramos nós,
pobres mortais. Quem sabe, um belo dia destes, você não acorda para fazer uma das
músicas que vai entrar para a história?
! Técnicas para compor música! 105

Música dos Beatles

Na esteira das outras duas análises, aproveitei para colocar mais esta, que é uma prova
viva (a música, dois dos nossos amigos aí já se foram para o andar de cima) de muitos
conceitos contidos neste manual. Um deles é a simplicidade. Se houver algo no mundo da
música mais simples do que as músicas dos Beatles, eu não conheço. Simples e de um
sucesso jamais igualado na história da música popular no mundo.

Segue abaixo a letra da canção "I want to hold your hand", um dos inúmeros sucessos dos
Beatles. Repare nos acordes. Simplicidade total. A estrutura, de acordo com as regras. A
letra, também de uma simplicidade sem par. Sucesso. Pense nisto...

I Want to hold your hand

C D C D C D

G D D C# D D#
Oh yeah I'll tell you something
Em B
I think you'll understand
G D D C# D D#
When I say that something
Em B
I wannna hold your hand

Refrão I

C D G Em
I wanna hold your hand
C D G
I wanna hold your hand
! Bruno Grünig! 106

G D D C# D D#
Oh please say to me
Em B7
You'll let me be your man
G D D C# D D#
And please say to me
Em B7
You'll let me hold your hand

C D G Em
You'll let me hold your hand
C D G
You'll let me hold your hand

Ponte

Dm G7
And when I touch you
C Am
I feel happy inside.
Dm G7 C
It's such a feeling that my love,

C D C D C D
I can't hide, I can't hide, I can't hide!

G D D C# D D#
Yeah you got that somethin'
Em B7
I think you'll understand
G D D C# D D#
When I say that something
Em B7
I wanna hold your hand

C D G Em
I want to hold your hand
C D G
I want to hold your hand

Ponte
! Técnicas para compor música! 107

G D D C# D D#
Yeah, you say that something
Em B7
I think you'll understand
G D D C# D D#
When I got that something
Em B7
I want to hold your hand

C D G Em
I wanna hold your hand
C D B7
I wanna hold your hand
C D C G
I wanna hold your hand
! Bruno Grünig! 108

I want to hold your hand - Tradução


(Quero segurar sua mão)

Estrofe 1

Oh, sim eu vou te dizer algo


Acho que você vai entender
Quando eu disser isto
Eu quero segurar tua mão

Refrão 1

Eu quero segurar tua mão


Eu quero segurar tua mão

Estrofe 2

Oh, por favor me diga


Que vai me deixar ser teu homem
E por favor me diga
Você vai me deixar segurar tua mão

Refrão 2

Você vai me deixar segurar tua mão


Você vai me deixar segurar tua mão

Ponte

E quando eu te toco
Me sinto feliz por dentro
É um sentimento, meu amor
Que eu não posso esconder

Estrofe 3

Sim você tem aquele algo


Eu acho que você entende
Quando eu eu digo este algo
! Técnicas para compor música! 109

Eu quero segurar tua mão

Refrão 3

Eu quero segurar tua mão


Eu quero segurar tua mão

Ponte (repete)
Estrofe (repete)
Refrão (repete)

Repare que logo no final da primeira estrofe já aparece o título da música. Em seguida
vem o refrão. Conforme você pode reparar, a estrutura A,R,B,R,P,C,R vem exatamente de
encontro ao ensinado anteriormente. E esta música dos Beatles tem mais de quarenta
anos! Ou seja, eles já sabiam, naquela época, o que muita gente ainda está apanhando sem
aprender!

E tem mais: não havia nenhum grande músico na banda. Nenhum deles era exímio
instrumentista. Escute algumas músicas e perceberá isto claramente. Os arranjos eram de
uma simplicidade quase ingênua. As letras das músicas também. E ainda por cima eles
gravavam as músicas num gravadorzinho de quatro pistas. Tinham que gravar várias
partes ao mesmo tempo. Hoje temos estúdios com quantidades estúpidas de pistas, mil e
um recursos.

Conclusão: não adianta ficar procurando mosca branca. Simplicidade é o nome do jogo. É
claro que vamos aproveitar a tecnologia. Ninguém hoje em dia vai ficar sofrendo para
gravar uma música em quatro pistas. Mas se conseguirmos aliar a tecnologia à
simplicidade, acharemos o caminho certo.
! Bruno Grünig! 110

"Batizando" uma música

Para enfatizar a importância do título, segue um exemplo de uma música "batizada", que
poderia ter o título correto para melhor identificá-la. A música chama-se

Você é a dona do meu coração - de Zé Henrique e Gabriel

Olhe nos meus olhos


Tanto sentimento
Tanto que sufoca
E dói aqui dentro

Juro eu não pensava


Que fosse ficar tão forte assim
Foi só uma noite
E marcou de mais pra mim

É que no meu corpo ainda tem seu cheiro


E esse desejo que me toma inteiro
Eu queria tanto ter você aqui
Beijar sua boca e sentir de novo
O sabor mais doce desse amor gostoso
Que só com você, só com você, eu senti.

Olha pra mim você vai ver


Que todo meu amor é por você
E nada vai mudar a direção
Dessa louca paixão.

Olha pra mim você vai ver


Que todo meu amor é por você
E nada vai mudar a direção
Você já é a dona do meu coração.

É que no meu corpo ainda tem seu cheiro


E esse desejo que me toma inteiro
Eu queria tanto ter você aqui
Beijar sua boca e sentir de novo
! Técnicas para compor música! 111

O sabor mais doce desse amor gostoso


Que só com você, só com você, eu senti.

Olha pra mim você vai ver que todo meu amor é por você
E nada vai mudar a direção dessa louca paixão.
Olha pra mim você vai ver que todo meu amor é por você
E nada vai mudar a direção você já é a dona do meu coração.
Você já é a dona do meu coração

Coloquei em negrito a frase inicial e que é repetida nas duas partes do refrão. Pense bem:
se alguém quisesse falar para outra pessoa sobre esta música, qual parte iria cantarolar? É
óbvio: "...olha pra mim e você vai ver...". Você acha que a outra pessoa imediatamente
diria: "ah!!! esta é a música você é a dona do meu coração"? É pouco provável. Tenho quase
certeza de que muita gente pensa que o título da música é "Olha pra mim", como realmente
deveria ser! Não importa quantas vezes ele repita "você já é a dona do meu coração" no
final da música. O refrão veio primeiro e o "olha pra mim" veio primeiro também.

Além do mais, na canção eles cantam "você já é a dona do meu coração" e o título não tem
a palavra "já", o que confunde ainda mais as coisas.

A música é boa, bem estruturada, a letra é bastante competente em contar a história. O


ritmo é adequado, pulsante e a melodia e acordes simples e objetivos. Uma música boa, em
minha opinião. Gostei tanto que já escutei e toquei várias vezes. Zé Henrique conseguiu
colocar na música a maior parte dos ingredientes necessários. Mas falhou - em minha
opinião - no título.

Assim como esta, existem centenas de milhares de músicas no cenário brasileiro, com a
mesma falha. Não sei se a coisa é cultural ou lá o que seja. Parece-me que há um desejo de
não parecer "óbvio", como se isto fosse prejudicar o artista. Ora, no caso do título da
música, o óbvio é que é bom. A música seria mais facilmente identificada e divulgada! De
mais a mais, a história em si já é óbvia, batida.

Reforçando: ao compor, faça com que o título da música seja claro e evidente. Óbvio.

Aliás, falando de óbvio, procure na internet a história de "Adams óbvio". Não tem nada a
ver com música, mas ilustra bem como devemos utilizar os elementos que nos parecem
mais óbvios em nossa vida, para nosso próprio benefício.

Aproveitando a mesma música, repare como Zé Henrique usa com desenvoltura as


"rimas sonoras" que já descrevi anteriormente. "Sentimento rimando com dentro" e "de
novo rimando com gostoso". Só no final ele acabou usando uma "falsa rima": coração com
! Bruno Grünig! 112

direção.

A estrutura é bastante usada na música sertaneja atual. Eu diria que é A P R P R (Estrofe,


ponte, refrão, ponte, refrão), sendo que tanto estrofe como ponte e refrão são repetidos,
apenas com a letra diferente. A entrada do refrão a um minuto e vinte segundos é bastante
adequada. Por isto foi um desperdício não ter colocado o titulo "Olha pra mim". Um
minuto e pouquinho e o ouvinte já saberia o título que, no entanto, ficou no final da
segunda parte do refrão.
Entenda que a falha com relação ao título não prejudica a música em si. Como você viu, o
título que considero correto está na música. O que fica prejudicada é a divulgação da
música. Outra solução seria colocar "você já é a dona do meu coração" no final da primeira
estrofe do refrão.

Ah, restou dizer: mais uma vez, o motivo do sucesso deve-se à presença dos ingredientes
necessários: boa estrutura, boa melodia, acordes adequados e simples. Além do que, Zé
Henrique e Gabriel formam uma boa dupla. Cantam bem, na minha opinião. Como você
pode ver, nem só de falar mal vivo eu, rerere!
! Técnicas para compor música! 113

Apostila 10 - O mercado musical

O "segredo" da música sertaneja

Já houve muita controvérsia a respeito do sucesso que a música sertaneja faz no Brasil.
Atualmente (2009) duplas e mais duplas surgem. Os melhores permanecem. E este gênero,
que na verdade é um sertanejo meio "pop", meio "romântico", vende e vende e vende. Por
quê?

Modismo? Creio que não. Modismos, como a lambada, a disco e outros, têm vida curta.
No Brasil já tivemos muitos modismos e todos eles estão mortos e enterrados. O problema
é que os artistas vão embora juntamente com a moda. Ficam conhecidos por cantar/
compôr aquele "gênero".

A atual música sertaneja não pode ser qualificada como modismo. Não é passageira, hava
visto que já está por aí há muitos anos. Foi algo construido devagar, com solidez. Lembro-
me de ter visto, há mais de vinte anos, Chitãozinho e Chororó num programa de TV. Assim
como muita gente, não liguei muito. Mas ali, algo já "cutucava" as pessoas. Algo estava já
acontecendo.

Não vou ficar aqui enchendo páginas com "História da música sertaneja". Vamos direto
ao "segrêdo". O segrêdo é que não há segrêdo. É simplicidade. Tenho certeza de que os
produtores e as gravadoras sabem exatamente o motivo de tanto sucesso. Não é
simplesmente promoção, propaganda. Ninguém aguenta ficar investindo rios de dinheiro
em algo que o povo não gosta, não compra e não quer.

Em primeiro lugar, vem o tipo de música. Canções simples, sem melodias ou harmonias
complicadas. Letras diretas, compreensíveis, com temas que criam imediata identificação
com qualquer pessoa. Você compra aquilo que gosta. Tudo bem, tem gente que não gosta
de sertanejo. Mas são minoria. E mesmo esta minoria, já ouviu "sem querer, passando pelo
quarto da empregada que estava com o rádio ligado" este tipo de música.

Em segundo lugar, os artistas. Não são fabricados da noite para o dia. A grande maioria
tem um histórico, uma experiência anterior. Muitos são bons instrumentistas. Muitos
cantavam em bares noturnos em sua região de origem. E os melhores acabam
sobressaindo-se aqui e ali, virando sucesso eventualmente.
! Bruno Grünig! 114

Então, qual é o segrêdo? Simplicidade e trabalho sério. É claro que há outros gêneros que
conseguem atingir o objetivo também. O rock brasileiro sempre teve seus altos e baixos.
Mesmo com bons artistas, compositores e temas. Creio que a diferença está na
consistência. Não há uma base consistente que possa sustentar o gênero, que fica então à
espera do surgimento de algum "gênio do rock", que então é divulgado massivamente.
Novas bandas surgem em sua esteira. Desta maneira, quando o "gênio" cai, cai todo
mundo.

Creio ser por estas e outras, que dedico-me mais ao gênero sertanejo, apesar de ter uma
cultura rockeira. E no final das contas, lá no fundo, todo brasileiro tem um pouco de
caipira. Ou não?
! Técnicas para compor música! 115

Mitos e verdades

É só tocar na rádio que faz sucesso - Isso é conversa fiada. Assim fosse e estaríamos
taxando as gravadoras, os produtores musicais e todos envolvidos com a produção musical,
incluindo os próprios artistas de idiotas. Antes de uma música ser tocada na rádio, tanto a
gravadora, como os produtores, compositores e artistas, sabem muito bem que aquela
canção vai ser sucesso. Repare que na maioria dos CDs há duas ou três músicas de sucesso.
As músicas restantes são ali colocadas para complementar o album. Eventualmente uma
delas pode fazer algum sucesso. Mas aquelas duas, três - já sabem os produtores - serão
sucesso com certeza. Sabe o que aconteceria se as rádios tocassem músicas ruins
repetitivamente para que "virassem sucesso"? Iriam à falência, pois todos trocariam de
estação.

É só promover e o cantor faz sucesso - Outra besteira. É claro que muitos têm tentado
fazer isto. Mas não funciona. Talvez durante algum tempo, como por exemplo com aquelas
bandinhas de meninos bonitinhos que "cantam" e dançam. Após algum tempo são
devidamente esquecidos. Mortos e enterrados. Uns poucos conseguem manter a cabeça
fora d'água, mas aí já é porque têm talento e resolveram trabalhar duro como todos os
outros. É claro que mesmo os que têm talento necessitam de investimento e muito trabalho
para chegar lá, mas então é um trabalho consistente, um investimento bom. Pegar
qualquer caraminguela bonitinho que rebola bem e transformar em cantor é furada. Se o
sujeito não tem voz, não sabe cantar, até logo e um abraço.

As rádios são "compradas" pelas gravadoras - Confesso que não sei nada dos bastidores
das rádios, mas vou dar minha opinião. Imagine a seguinte situação: eu, um João
Ninguém, gravo um cedezinho com meia dúzia de músicas sofríveis e, completamente
despreparado, sem um esquema de divulgação, sem contrato com gravadora, sem nada,
bato na porta da rádio e peço para tocarem minhas músicas. Você é o dono da rádio. Como
homem de negócios, você precisa ser responsável. Você tem contas a pagar. Funcionários,
aluguel, impostos e por aí afora. Além de precisar ter lucro, é claro. Negócio que não dá
lucro não serve pra nada. Quem é que paga as suas contas? Os patrocinadores, a princípio.
Aquelas empresas que fazem publicidade na rádio. Você, como tem bom coração, resolve
dar uma de pioneiro e toca minhas músicas, tentando ser o que "lançou" um (discutível)
artista de sucesso. Suponhamos que as canções sejam fracas, ruins mesmo e você não se
deu conta, achou que "promovendo" a coisa iria em frente. O público não gostou, sua
audiência caiu. Os patrocinadores ficam na bronca e retiram a conta da sua rádio. As
gravadoras ficam na bronca também, porque aquelas músicas de um ilustre desconhecido
tomaram o lugar das músicas de seus artistas. Tenho certeza de que rapidamente voce
voltaria a ter um bom relacionamento com as gravadoras. Creio que se rola alguma coisa
extra, a disputa não é das gravadoras com os artistas menos favorecidos. A disputa seria
! Bruno Grünig! 116

entre as gravadoras. Caso em que, mesmo que eu chegasse na rádio oferecendo uma
graninha pra tocarem meu CD, não funcionaria.

O que a canção precisa é de um bom intérprete - Verdade, no caso de uma boa canção.
Uma música de boa qualidade cantada por um mau cantor, perde quase que
completamente sua força, quando não a identidade. Entretanto, no caso de uma canção
ruim, nem o melhor intérprete do mundo pode transformá-la, dar-lhe identidade, fazer
com "vire" uma boa música. Música ruim é música ruim, não tem jeito. Portanto, música
boa, cantor bom = sucesso. Música boa, cantor ruim = fracasso (pelo menos até uma nova
tentativa com um cantor bom, se a música ainda não estiver "queimada"). Música ruim,
cantor bom = dar murro em ponta de faca, além de prejudicar o cantor. Por último (nem
precisava falar), música ruim, cantor ruim, aí não tem ouvido que aguente!

Compor é pura inspiração - Não é. Compor exige inspiração, mas a inspiração não é tudo,
conforme você já viu nas páginas deste manual. A inspiração traz um tema, uma idéia, uma
história. Depois disso vem muito trabalho.

Compor sucessos é coisa para profissionais - Nada disso. Um compositor profissional


pode fazer alguns sucessos (ou muitos), devido à sua experiência, mas ele também já
compôs e continua compondo músicas que jamais chegarão sequer às rádios. Quase
ninguém consegue emplacar um sucesso atrás do outro, em termos de composição musical.
Por outro lado, um amador persistente (como você, talvez) pode - mesmo sem ter
consciência disso - fazer uma canção daquelas como se diz, é "bateu, valeu". Daí em
diante, se continuar, pode emplacar uma aqui, outra ali, dependendo de seu empenho e
talento.

Qualquer um pode tornar-se um bom compositor - Não. Por mais que estude e se
empenhe, há que se juntar a parte técnica ao talento. Se a pessoa não tem o talento, o
"jeito" para a coisa, provavelmente não vai passar de uma meia dúzia de musiquinhas
medíocres. E o problema é que talento, dom, não se compra nem se aprende. Já vem
embutido na gente. Ou não.

Nem todo bom compositor faz sucesso - Verdade. Olha eu aqui... (brincadeira, não me
considero muito bom, "só dá pro gasto" - como se diz). Mas é verdade. Há bons
compositores por aí que, por motivos os mais diversos, não conseguem alcançar o sucesso.
Falta de oportunidade poderia ser um motivo, mas creio que talvez a falta de buscar a
oportunidade também. Há que se bater em muitas portas e escutar muito não, antes de um
remoto sim. E simplesmente creio que existe muita gente igual a mim. Não é da minha
personalidade ser muito persistente. E isto, em qualquer campo, é ruim. É necessário
perseverar, insistir, procurar novos caminhos. Se você for igual a mim, trate de mudar,
aprenda a lidar com pessoas, aprenda a conviver com a rejeição. Nem todos os "não" do
mundo chegam sequer a tirar uma casquinha, remover o brilho e a satisfação de um
! Técnicas para compor música! 117

simples sim. O sim é a recompensa, é o alvo. O não é apenas uma pedra no caminho. Da
qual se pode desviar, ou mesmo passar por cima.
! Bruno Grünig! 118

Vou fazer sucesso?

Então quer dizer que, aplicando todos os princípios, regras e técnicas você vai fazer
sucesso como compositor? A resposta, para a maioria de nós (estou incluindo-me, é claro,
pois também sou compositor) é não. É, amigão... a vida é dura!

Fazer sucesso, conseguir que sua música seja gravada por algum artista famoso, envolve
uma série de fatores. Vou enumerar alguns que me ocorrem agora. Tenho certeza de que
você poderá pensar em outros.

Em primeiro lugar, vamos dar uma espiada nas outras profissões. Um engenheiro, por
exemplo. Há centenas de milhares deles por aí, pois não? Todos eles estudaram,
aprenderam as matérias necessárias para construir casas, prédios. Todos eles sabem
contruir. Mas alguns deles destacam-se. Uns poucos chegam a ficar famosos. Outros - a
grande maioria - trabalham a vida inteira no anonimato. Os que ficam famosos, talvez
tenham mais talento. Com certeza buscaram a fama. Bateram nas portas certas. Lutaram
para chegar lá, com unhas e dentes. Eles queriam ficar famosos, queriam ganhar muito
dinheiro. Souberam buscar suas oportunidades e aproveitá-las. Fizeram contatos com as
pessoas certas. Não vá pensar você que a fama foi bater às suas portas de graça. Eles
suaram a camisa para encontrar o caminho da fama.

Em outras profissões é a mesma coisa. Jogador de futebol, por exemplo. Aqueles vinte e
dois sujeitos no campo sabem jogar, todos eles aprenderam as técnicas e regras do jogo.
Quantos são famosos? Um aqui, outro ali.

Na música não é diferente. Alguns têm mais talento, mais naturalidade. Outros, além do
talento têm garra para buscar suas oportunidades. São persistentes, tenazes. Outros ainda
além de talentosos e persistentes, são inteligentes, compreendem melhor o mercado de
trabalho. E, claro, há uns e outros que têm o Q.I. (Quem Indica). Conhecem gente do ramo
que lhes dão aquele empurrãozinho que, de resto, não vale nada se o sujeito não souber
fazer bem o seu trabalho.

Conclusão: não basta apenas compor direitinho. É preciso compor músicas que se
destaquem, que estejam acima da média. E isto também não é suficiente. Há que se buscar
oportunidades. Bater nas portas. Oferecer seu produto. Mostrar para as pessoas certas.
Divulgar.

Hoje em dia, tudo isto é um pouco facilitado pela internet. Há diversos sites para
compositores, diversos sites onde você pode colocar a sua música. Mas não fique atirando
pra tudo quanto é lado. Tente acertar no alvo com poucas balas. Por exemplo, se você
compõe no estilo de um determinado cantor, dupla ou banda, capriche em duas ou três
! Técnicas para compor música! 119

músicas e tente fazer com que as mesmas cheguem a este artista, ou a sua gravadora. É
muito melhor do que ficar gastando tempo enviando músicas a êsmo por aí.

Ah, acabo de lembrar: não seja turrão. Não fique aí cheio de orgulho, e querendo vender
sua música de qualquer jeito. Coloque sua música à disposição de quem quiser baixar pela
internet. Deixe que as pessoas te conheçam, vá formando um público cativo. Tente fazer
contato com as pessoas que gostam de suas músicas. Elas podem divulgar muito mais que
qualquer anúncio na internet ou lá onde seja. Não mais que de repente uma destas pessoas
mostra sua música para alguém importante. Aí, só felicidade...

O que é certo mesmo, é que nós todos (compositores, famosos ou não) fazemos nossas
canções porque gostamos de fazer. Nos dá prazer. É um bichinho que tem lá dentro da
gente que nos obriga a compor mais e mais. Mesmo que só meia dúzia de pessoas ouvir e
gostar, já dá aquela massagem no ego. E mais: quando um compositor se vai deste mundo,
deixa para trás uma lembrança diferente, em forma de canção.

Enfim, resta dizer que aprender a utilizar as técnicas corretas não significa que vamos só
músicas boas. Vamos compor músicas tecnicamente corretas. Porém, quando "aquela"
música pintar, além de ser boa, estará tecnicamente correta.
! Bruno Grünig! 120

Direitos autorais

Para proteger completamente os direitos autorais de uma música, é preciso registrá-la.


Para tanto, consulte a Fundação Biblioteca Nacional (www.bn.br/portal/). É fácil e barato
registrar letras de músicas. Somente R$ 20,00 por pasta com varias letras. Com partitura
tambem é barato, mas tem o problema de fazer a partitura. Se você não sabe fazer a
partitura deve pagar a alguém para faze-la e aí a coisa engrossa, ou seja, isso encarece
bastante o processo. A outra opção é registrar somente a letra mesmo, caso em que a
melodia ficaria desprotegida.

De qualquer maneira, a publicação da música na internet, por si só, já constitui uma


prova de autoria. Porém - até onde sei - não tem validade na justiça. Isto significa que se
alguém, além de gravar sua música, registrá-la em seu nome (a melodia, pelo menos), no
mínimo será bem difícil provar que a música é sua.

Na minha opinião, a possibilidade de alguém apossar-se de uma música já publicada, é


bastante improvável. Principalmente em se tratando de artista conhecido. Seria uma
grande vergonha ter que ir à justiça explicar-se e passar por todo um processo só por causa
de uma música. Mas como seguro morreu de velho, convém registrar pelo menos a letra da
música. Como a FBN cobra por pasta, você pode ir compondo e, quando tiver uma
quantidade boa, registrar tudo de uma vez. Se puder fazer a partitura, melhor.

Alguns utilizam um método bastante discutível e também não aceito pela justiça. Colocar
letra e gravação num envelope, endereça-lo para si mesmo e colocar no correio, guardando
o envelope fechado para uma eventual disputa. Não creio que isto ajude muito. É muito
melhor registrar pelo menos a letra.

Quanto a partituras, alguns maestros alegam que uma partitura mal feita pode também
causar controvérsias, dar problemas numa eventual disputa. Existem programas que fazem
partituras a partir de um teclado midi. Já tentei utilizar e não me dei muito bem. Consegui
fazer - com muito esforço - uma partitura bastante ruim. Desisti. Tenho coisas melhores a
fazer.

Ah, claro. Você quer saber o que eu faço, então. Simplesmente registro as letras das
músicas e um abraço. Se alguém passar a mão numa música minha, simplesmente espero o
sujeito fazer bastante sucesso e depois faço tanto barulho que o pobre infeliz nunca mais
vai querer nem ouvir falar daquela música, rerere! De mais a mais, pense bem. Para um
compositor desconhecido, ter uma música roubada é um privilégio. Uma boa chance de
entrar para o cenário artístico sem pagar nada! Ou seja, não me preocupo tanto com isto. É
claro que o ego da gente fica achando que todo mundo está de olho no que a gente faz, mas
a verdade é que só o ego mesmo é que acha isso. Tá cheio de gente por aí fazendo coisas
! Técnicas para compor música! 121

melhores do que nós.

Divulgando seu trabalho

Na hora de divulgar, seja o mais profissional possível, sem exagerar. Suponhamos que
você vai colocar suas músicas num site. Provavelmente você poderá colocar fotos, textos
explicativos, videos, além, é claro, das músicas.

A música

Em primeiro lugar, a música deve ser bem gravada. Não é preciso gastar tufos de
dinheiro com o melhor estúdio, músicos, coisas assim. Mas também nada de gravar
naquele mini-cassete com um violãozinho de cordas enferrujadas. Como já foi dito
anteriormente, procure alguém que tenha um estúdio, mesmo caseiro, onde se possa fazer
um trabalho decente. Faça uma gravação de boa qualidade, uma boa mixagem e masterize
a música. Você não quer que sua música seja encostada de lado devido a um áudio ruim.
Vale lembrar: seja auto-crítico. Se você não é um bom cantor, procure um para gravar suas
músicas. E já que vai procurar, não se contente com qualquer um. Procure um bom de
verdade. Música boa, cantor bom = sucesso.

Fotos

As fotos. Não é necessário ir a um estúdio fotográfico profissional. Nem maquiagem ou


"roupa de artista". Nem poses ou lugares especiais. Mas não vá me divulgar aquela foto sua
tocando violão, sentado numa cadeira de plástico, rodeado de amigos comendo e enchendo
a cara no churrasco do Zé. Percebeu a coisa? Na primeira situação, há excesso de produção,
ninguém vai acreditar. Na segunda, a do churrasco, nem é preciso falar. Desastre total.
Utilize fotos de boa qualidade, onde você aparece sozinho. Pode ser com um instrumento,
coisa assim. Mas a foto deve ser tirada propositalmente para o site. Nem precisaria falar,
mas coloque um roupa decente, barbeie-se (ou apare a barba, se você a usa), corte ou ajeite
bem seus cabelos. Tome cuidado com o fundo da foto. Um varal cheio de roupas
penduradas não é exatamente um fundo "artístico". De preferência, um fundo neutro, sem
nada para estragar o primeiro plano, que é você.
! Bruno Grünig! 122

Videos

Videos são armas poderosas de promoção. Tudo o que foi mencionado acima sobre as
fotos, vale para os videos também. Se você tem um bom vídeo onde aparece tocando em
algum lugar (um bar, clube) pode utilizá-lo, se for de boa qualidade, tanto na imagem
como no som. Um video fora de foco, com áudio ruim, cheio de barulhos e gente passando
na frente toda hora, não serve para nada além de irritar quem tenta assisti-lo. O melhor
mesmo é fazer um video especial, com uma música ou trechos de duas, três músicas. Além
de cantar, talvez você possa dizer algo no video, um texto promocional, coisa assim. Mas
veja lá: você não precisa ser um grande ator, mas deve mostrar uma postura agradável,
tanto cantando como falando. Se esta não é sua praia, deixe pra lá. De posse de um bom
video, utilize-o da melhor maneira possível. Coloque em sites como youtube e forneça
informaçoes para contato, links para o site onde você está.

Textos

Os textos promocionais são importantes. Não deixe que outros digam as coisas por você.
Alguns sites têm um texto padrão para colocar junto às fotos dos compositores. O texto
pode até não ser ruim, mas fica quase igual ao dos outros. E você não é igual a ninguém.
Você é você. Quem sabe de você é você mesmo. Coloque no seu texto itens relevantes,
importantes. Dizer que você sonhava desde menino em ser compositor é perda de tempo.
Seja objetivo. Procure vender sua imagem, sua música. Peça para as pessoas entrarem em
contato, darem sua opinião sobre sua música. Ofereça seu serviço de compositor. Enfim,
aproveite o melhor que puder o espaço. E se não for muito bom com textos, procure
alguém que seja e peça-lhe para colocar suas idéias no papel. Um texto mal escrito, com
erros, é um desastre.

Blogs e sites sociais

Participe de sites sociais e blogs que têm a ver com música. Procure ser o mais específico
possível. Um site ou blog onde se discute matemática quântica não é um bom lugar para
um compositor. Procure sites onde você possa dar sua opinião e mostrar seu trabalho.
Mantenha-se no nível profissional. Explico: não exponha sua vida particular, família,
telefones, endereço, coisa assim. Um e-mail é suficiente para entrarem em contato com
você. No máximo, divulgue sua cidade e estado. Infelizmente, há pessoas mal
! Técnicas para compor música! 123

intencionadas, que podem utilizar suas informações para lhe fazer mal.

E-mail

Mandar email não solicitado é SPAM. Mas você pode, através de um site, colher emails de
pessoas interessadas em seu trabalho e que o autorizem a mandar email, para divulgar seu
trabalho. Isso se chama Email marketing.
! Bruno Grünig! 124

Recomendações Finais
1) Estude o mais que puder - Saber não ocupa espaço. Se em minha época de garoto
tivesse à minha disposição tanta informação como hoje temos na internet, com certeza
seria bem melhor nas coisas que faço. Aproveite você e aprenda. Estude. Um compositor de
músicas populares com conhecimento musical de alto nível, com certeza será um
compositor mais completo. Estude a lingua portuguesa. E outras também, inglês
principalmente. Leia muito e escute muita música (é claro...).

2) Não desista - A maioria das coisas que se consegue facilmente não valem a pena.
Obstáculos aparecem a cada minuto em nossas vidas. Busque a sabedoria para saber
ultrapassá-los. Não se deixe intimidar por um fracasso. Pelo contrário, aprenda uma lição
em cada erro, cada fracasso. E saiba que muitos desistem sem saber que estavam bem
perto da vitória, do sucesso. Desistiram antes da hora. Mais um pouquinho e estariam lá
onde sempre sonharam estar. Tenha paciência.

3) Objetivos - Você deve ter objetivos. Mas não estabeleça para si mesmo objetivos
estratosféricos, inalcançáveis. Por exemplo: se você estabelecer de cara o objetivo de
caminhar diariamente 20 quilometros e não conseguir (o que é bem provável) na primeira
tentativa, a única coisa que você conseguiu foi frustrar-se e arranjar um bom motivo para
desistir. Ao invés disso, estabeleça, para o primeiro dia, um quilometro. Ou menos.
Quando você atingir este primeiro objetivo, o que terá obtido? Uma vitória! Ficará
satisfeito com o objetivo alcançado e aí sim, poderá estabelecer objetivos maiores,
gradualmente. Por exemplo, você não deve estabelecer para si que, em um ano deverá
compor vinte músicas. Se ao final de um ano tiver somente meia dúzia... lascou. Você
fracassou. Mas pode estabelecer, por exemplo, que deve dedicar-se às suas composições
pelo menos quinze minutos por dia, durante um mês. Alcançado este objetivo, pode ir
aumentando o tempo. Quando se der conta, talvez já tenha suas vinte músicas em menos
de um ano! Aproveite este método em tudo na sua vida. Funciona!

4) Olho na evolução - Fique atento. A internet, em poucos anos, mudou radicalmente a


maneira das pessoas obterem música. Mudou muitas outras coisas também, na área de
negócios, informação e por aí afora. Muita gente já não vai a uma loja para comprar um
CD. Simplesmente baixa da internet o que puder. Pirateando ou não. Esta, provavelmente
vai ser a maneira de se comercializar música num futuro próximo. E o usuário não vai nem
pagar diretamente pelas músicas que baixou. Vai pagar uma taxa mensal para poder baixar
tudo o que estiver disponível. Algo assim. Portanto, fique antenado nas mudanças e
procure integrar-se ao sistema, tão logo haja oportunidade.
! Técnicas para compor música! 125

Sobre o autor
Bruno Grünig, brasileiro, nascido em São Paulo em 1957. Músico, compositor e escritor.
Autodidata.

O gosto por música veio já na infância, influenciado principalmente pela famosa banda inglesa The
Beatles. Aos quinze, dezesseis anos, os primeiros acordes no violão.

Lá pelos vinte e três anos de idade, a primeira composição.

Hoje (2013) fazendo a revisão deste livro, a paixão por música permanece. E maior ainda é o
prazer em passar adiante a bagagem adquirida nestes anos.

Mais sobre Bruno em http://brunogrunig.com.br

Outras obras - outros assuntos

Confira estes e outros títulos em http://livrosempdf.com.br

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