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TRABALHO - FUNDACENTRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO TRABALHO, SAÚDE E AMBIENTE
São Paulo
2017
ANTONIO MARCOS ZENARO
São Paulo
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Serviço de Documentação e Biblioteca – SDB / Fundacentro
São Paulo – SP
Erika Alves dos Santos CRB-8/7110
É expressamente proibida a comercialização deste documento tanto na sua forma impressa como
eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos,
desde que na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.
AGRADECIMENTOS
Introduction: Aggregate mining is one of the most important sectors in the construction chain
and also the most aggressive the health of the worker. Between the years 2008 to 2012, the
national sector of extractive industries occurred 32.584 accidents and the subclass stone/sand
/clay extraction totalled 8.048 occurrences representing 24% of the accidents recorded in this
period, where the extraction of sand/stone/clay, exceeded in number of accidents all the
country's mineral production industry.
Objectives: Describe mining processes for the production of crushed stone, identifying hazards
inherent in extraction activities, which hamper production activities and evaluate occupational
health and safety management system implemented for the prevention of accidents at work in
nine crushed stone production units owned by two private groups. Contribute to a critical view
of behavioral safety and the challenges of renewing occupational health and safety practices in
companies in the sector.
Method: The assumptions of the Ergonomics and Risk Assessment were used as theoretical
reference and for the accomplishment of this study an unstructured exploratory participant and
individual, with occasional observation, qualitatively decomposing the panorama of accident
prevention with a qualitative focus, verifying the object of study in reality.
Results and discussion: Absence of protection lines in access roads and manoeuvre areas in the
mine, truck with inefficient brake system and numerous inoperative electrical devices.
Management tools like checklist, standard operating procedure, were in deficient formats.
These conditions can contribute to the occurrence of accidents in this sector. The same hazards
and risks, common in the various work activities, are treated in different ways both between the
units of the same group and also of group to group confirming the lack of integration And
interaction between the various sectors of the company - called "production", "maintenance",
"shopping", "safety at work", "human resources" and "direction". As the sole responsible for
the implementation of the prevention program. This is a reductionist, misguided and outdated
view that does not contribute anything to business. The actions implemented by all these
sectors, within the business context, are in a single format, in which each sector operates
thinking only in their area of responsibility, leaving aside a great profit opportunity in the fields
of Safety and health of workers and financiers. A vision and systemic action among all these
sectors, strengthening the management in safety in the work, can reverse this context
1 INTRODUÇÃO ………………………………………………………… 12
1.1 Justificativa ……...…………………………………………………….... 12
1.2 Evolução e importância da produção mineral ...................................... 16
1.3 Processo Produtivo ………….…………………………………………. 19
1.4 Gestão de Risco ……….……………………………………………....... 24
1.4.1 Risco e Perigo ………………………………………………………....... 27
1.4.2 Acidentes – Análise crítica da visão tradicional (culpa da vítima) ...... 27
1.4.3 Avaliação de Risco ……………………………………………………… 29
1.5 Mineração e os acidentes de trabalho .................................................... 31
2 Objetivos …………………………………...…………………..……….. 35
2.1 Objetivo geral ………………………………………………………...… 35
2.2 Objetivos específicos …………………………………………………… 35
3 MATERIAIS E MÉTODOS …………………………………………... 36
4 RESULTADOS E DISCUSÃO ………………………………………... 40
4.1 Lavra ……………………………………………………………………. 41
4.2 Checklist ………………………………………………………………... 47
4.3 Sinalização e plano de trânsito ............................................................... 58
4.4 Britagem ………………………………………………………………... 73
4.5 Procedimento operacional padrão ……………………………………. 91
4.6 Britagem secundária ou rebritagem ………………………………….. 102
4.7 Lubrificação ……………………………………………………………. 115
4.8 Troca de correias de acionamento .......................................................... 123
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………….………………….. 131
REFERÊNCIAS ………………………………………………………... 136
APÊNDICE ……………………………………………………………... 147
12
1. INTRODUÇÃO
1.1 Justificativa
1 A CNAE é uma classificação usada com o objetivo de padronizar os códigos de identificação das unidades produtivas
do país nos cadastros e registros da administração pública nas três esferas de governo, em especial na área tributária,
contribuindo para a melhoria da qualidade dos sistemas de informação que dão suporte às decisões e ações do Estado,
possibilitando, ainda, a maior articulação inter sistemas.
13
classe 07.10-03) que, por sua vez, registrou 1217 acidentes de trabalho (MINISTÉRIO DA
PREVIDENCIA SOCIAL, 2012). Entre os anos de 2008 e 2012, no setor nacional das
indústrias extrativas ocorreram 32.584 acidentes, e a subclasse extração de pedra/areia/argila
totalizou 8.048 ocorrências, representando 24% dos acidentes registrados neste período,
superando os demais setores minerais (MINISTÉRIO DA PREVIDENCIA SOCIAL, 2008,
2009, 2010, 2011 e 2012).
Nas operações de produção de pedra britada verifica-se uma série de exposições aos
riscos operacionais, bem como uma série de danos à saúde dos trabalhadores, à propriedade e
ao meio ambiente, além de inúmeras interrupções na referida atividade causando diversos
prejuízos ao trabalhador e ao empregador, comprometendo toda a cadeia produtiva e
caracterizando-se como uma das principais exposições de perdas enfrentadas pelas empresas
de mineração de brita. Neste ponto de vista, a literatura nacional dá pouca ênfase ao assunto,
mas encontram-se na literatura internacional abordagens direcionadas para o setor.
Muitas normas, leis e procedimentos continuam sendo elaborados no Brasil, conforme
verifica-se com a publicação da Lei 12.334 de 20 de Setembro de 2010 , que criou e estabeleceu
a Política Nacional de Segurança de Barragens destinadas à acumulação de água para quaisquer
usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos industriais — a
qual gerou a criação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens e
alterou a redação do art. 35 da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e do art. 4 da Lei no 9.984,
de 17 de julho de 2000 (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL 2015).
Mesmo assim, acidentes continuam acontecendo como, por exemplo, o episódio que ocorreu
na cidade de Mariana/MG, com o rompimento da barragem de rejeitos (TOMAZELA, 2015).
Ao invés de continuar elaborando normas, é preciso analisar a aplicação dos procedimentos já
existentes, de forma pragmática.
No setor de agregados, a necessidade de se manter uma unidade produtora mineral
encontra, muitas vezes, na opinião pública, o impedimento de extração (WEST; CHO, 2006),
pois este processo possui impactos ambientais significativos. Tais impactos se iniciam com a
retirada de praticamente toda a vegetação natural e com a remoção do solo para se alcançar o
corpo mineral, conduzindo para perda de flora e fauna existente e atingindo ecossistemas
adjacentes ao empreendimento mineral, que são afetados diariamente por ruído, poeira,
poluição e água contaminada (WINFIELD; TAYLOR, 2005).
Langer e Glanzman (1993) afirmam que os moradores do entorno das minerações
"preferem que a extração de pedra não seja nas proximidades", porém a localização das
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minerações de agregados e suas instalações é um fator de ordem econômica, pois quanto mais
próximo da fonte de agregado para o mercado, menor o custo de transporte. Isto é reforçado
por Junior e Ferreira (2012) quando salienta que o valor do frete é um dos principais itens que
onera o segmento de brita, o que obriga o produtor a operar próximo dos centros consumidores,
e dessa forma a atividade mineradora atua em constante conflito com as comunidades do seu
entorno e com órgãos ambientais.
No que diz respeito a danos aos trabalhadores, Ruff et al., (2011) afirmam que, para
diminuir os acidentes, pesquisadores recomendam esforços adicionais no desenvolvimento de
novas tecnologias de controle e materiais de treinamento e na divulgação de informações sobre
as melhores práticas. Nesta direção, Laurence (2005) afirma que não se deve continuar a
produzir mais regulamentos para cobrir todos os aspectos da mineração, pois, geralmente,
quanto mais detalhadas forem as regras, menor será o entendimento destes procedimentos pelos
empregados, e quanto mais procedimentos houver, menor será a conexão da realidade com o
trabalho prescrito. As normas e regulamentos são eficazes quando corretamente aplicadas, mas
não são as únicas soluções para um local de trabalho mais seguro nem a ênfase mais adequada
para prevenção de acidentes.
Ressalta-se que a Gestão da Segurança e Saúde do Trabalhador - GSST
obrigatoriamente envolve desde a alta direção até o trabalhador que está na produção, abarcando
todos os setores da empresa. A GSST envolve o estudo profundo do processo produtivo e de
todas as etapas subsequentes, abordando setores problemáticos para que todos entendam a
importância e as dificuldades de cada setor, desde a manutenção, a sinalização e a capacitação
de trabalhadores, gerentes e de todos os demais que trabalham na empresa. No item “avaliação
de risco” este assunto será mais aprofundado.
Tanto o Programa de Gerenciamento de Riscos - PGR – programa obrigatório por lei,
conforme prevê a Norma Regulamentadora NR-22, item 22.3.7, da portaria 3.214 de 08 de
junho de 1978 (BRASIL, 1978) – como o programa de capacitação recebido por estes
trabalhadores, bem como a criação de normas, programas e procedimentos, serão avaliados. Tal
avaliação pretende buscar o entendimento de como estas informações influenciam no momento
da realização de atividades e consequentemente como podem contribuir para ocorrências de
acidentes e adoecimentos do trabalho e para impactos ambientais.
Com isto, deseja-se realizar uma abordagem com recomendações práticas para
prevenção dos riscos de acidentes e, consequentemente, para melhoria do ambiente de trabalho,
propondo-se facilitar e aperfeiçoar as tarefas realizadas pelos trabalhadores, avaliando o
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A utilização de bens minerais pelo homem é tão antiga quanto a sua história, e o registro
da atividade humana busca suas referências iniciais na dependência do homem em relação aos
recursos minerais (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO,
2003). A mineração é provavelmente a mais antiga atividade “industrial” do homem
(COULSON, 2012), tanto é que as fases de evolução da humanidade são divididas em função
dos tipos de materiais utilizados: idades da Pedra, do Bronze e do Ferro (INSTITUTO DE
PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2003). Apesar da antiguidade da
atividade, o termo “mineração” – ato de extrair substâncias minerais da rocha ou do solo –, que
se origina do latim medieval mineralis – relativo à mina e aos minerais –, surgiu somente a
partir do século XVI (CARVALHO et al., 2009).
A indústria de mineração é uma importante força na economia mundial, ocupando uma
posição primária no início dos recursos da cadeia de suprimentos (THE INTERNATIONAL
COUNCIL ON MINING AND METALS, 2012).
No Brasil, a mineração iniciou-se no período colonial, através da busca do ouro após a
decadência da cana, no centro de Minas Gerais. No final do século XIX a indústria cimenteira
começava a lavrar as ocorrências de calcário nos arredores de São Paulo (MARTINS; BRITO
1989). Já na década de 1950, a lavra de pedreiras urbanas teve grande desenvolvimento para
atender ao crescimento do país, e a partir da segunda metade da década de 1960 (GERMANI,
2002) – e com a crescente industrialização e urbanização do país, até os dias de hoje –, a
produção de agregados para construção civil vem atendendo satisfatoriamente à demanda
(JUNIOR; FERREIRA, 2012). De acordo com Gurmendi (2014), em 2012 o Brasil se consolida
como um dos principais produtores de minerais no mundo, ocupando o quarto lugar na
produção mundial.
No Brasil, o termo “agregados para a construção civil” identifica um segmento do setor
mineral que produz matéria-prima mineral bruta ou beneficiada de emprego imediato na
indústria da construção, basicamente a areia e a rocha britada (VALVERDE, 2001). O termo
“emprego imediato na construção civil”, que consta na legislação mineral para definir uma
classe de substâncias minerais, não é muito exato, já que nem sempre são referidas desta forma.
Muitas vezes entram em misturas, tais como o concreto e a argamassa, antes de serem
empregadas na construção civil (VALVERDE, 2001).
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE, esse segmento
é classificado conforme tabela da seção 8 - Indústrias extrativas, Divisão 08 - Extração de
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minerais não metálicos, Grupo 081 - Extração de pedra/areia/argila, Classe 0810-0 - extração
de pedra/areia/argila, Subclasse 0810-0/99 - Extração e britamento de pedras e outros materiais
para construção e beneficiamento associado – comumente conhecido como setor de agregados
para construção. Para fins deste estudo foi utilizado o termo “pedra britada”.
Nos Estados Unidos da América a produção anual no ano de 2008 foi de 2,48 bilhões
de metros cúbicos de agregados, com faturamento aproximado de 21,2 bilhões dólares, sendo
que todo este material foi produzido por 5.400 empresas com mais de 10 mil operações e
aproximadamente 3.900 pedreiras ativas. Os principais estados produtores, por ordem de
tonelagem são: Texas; Califórnia; Pensilvânia; Flórida; Illinois; Missouri; Ohio; Arizona; New
York e Indiana – os quais responderam por 45% da produção total de agregados para construção
(WILLET; BOLEN, 2008).
Na Europa, a Union Européenne des Produtores de Granulats - UEPG, entidade com
sede em Bruxelas que representa a Indústria Europeia de Agregados e que conta com 28 países
associados, estimou no ano de 2013 a produção de 2,6 bilhões de toneladas de agregados,
beneficiadas por aproximadamente 23.257 unidades, com 200.000 trabalhadores empregados e
volume financeiro de mais de 15 bilhões de euros – provando assim a importância econômica
do setor (UEPG, 2015). Ainda segundo esta instituição, a distribuição deste material produzido
é de 15% para construção de portos e pontes; 25% para construção de casas residenciais e
apartamentos; 20% para rodovias; 20% para construções comerciais como fábricas e escritórios
e 20% são destinados para construção de hospitais e escolas.
Segundo dados da ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS ENTIDADES DE
PRODUTORES DE AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO (2015), o mercado brasileiro
destes produtos é atendido por uma ampla e diversificada gama de produtores, envolvendo cerca
de 3.100 empresas: 600 de produção de brita e 2500 de extração de areia, com um total de
75.000 empregos diretos e 250.000 indiretos.
No Brasil, este setor que possui a maior parte das minerações enquadradas como de
médio e de pequeno porte (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL
2013) constitui hoje um setor fundamental para o desenvolvimento urbano e para a economia
nacional, e o estado de São Paulo, segundo o Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra
Britada do Estado de São Paulo (SINDICATO DA INDUSTRIA DE MINERAÇÃO DE
PEDRA BRITADA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013), é o maior produtor de pedra britas
do Brasil, sendo constituído por mais de 160 unidades produtivas em seu território. Segundo a
instituição, somente na região metropolitana de São Paulo são 34 pedreiras ativas, distribuídas
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em 12 municípios produtores que, juntos, totalizaram a produção anual do ano de 2013 em mais
de 38.000.000 toneladas – sendo esta a maior produção já registrada.
O processo de extração mineral também possui impactos ambientais significativos e
existem preocupações como as relativas a mudanças físicas da paisagem e a emissões diárias
de ruídos, poeiras e gases de escapamentos das centenas de caminhões que transportam o
produto agregado – elementos que podem exercer efeitos graves sobre a saúde das pessoas que
vivem nas proximidades dos empreendimentos minerais (UKPONG, 2012). É importante
destacar que a gravidade do problema ambiental depende das características do mineral a ser
extraído e dos métodos de extração (UKPONG, 2012).
Por outro lado, a atividade extrativa do setor de agregados está diretamente ligada à
qualidade de vida da população, o que inclui construção de moradias, saneamento básico,
pavimentação e construção de rodovias, vias públicas, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos,
pontes – entre outros (ALMEIDA et al., 2009). Por ser um dos setores básicos da economia de
um país – setor que contribui de forma decisiva para o bem-estar e a melhoria da qualidade de
vida, a atividade é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade equânime, desde que
seja operada com responsabilidade social, de acordo com os preceitos do desenvolvimento
sustentável (FARIAS, 2002). Entende-se assim que existe uma relação direta entre a qualidade
de vida de uma população e o consumo de agregados.
19
No século XVI, o médico saxão Georgius Agrícola registrou e ilustrou em seu livro De
Re Metálica as operações unitárias da mineração, como a prospecção, o transporte e o
beneficiamento de minérios, descrevendo detalhes das técnicas de beneficiamento mineral e
também abordando as primeiras preocupações com a segurança dos trabalhadores
(AGRICOLA, 1556).
Como todo empreendimento mineral, a mineração a céu aberto para produção de
agregados necessita de um conjunto de operações que permitam retirar a pedra natural da jazida
e reduzi-la a formas e tamanhos compatíveis para o uso e a aplicação – processo este entendido
como “lavra”, conforme descrito no Decreto-Lei 227 de 28 de fevereiro de 1967 (Código de
Mineração). O Código de Mineração, no seu artigo 36, define a atividade de lavras como um
conjunto de operações coordenadas, objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a
extração das substâncias minerais úteis que contiver até o beneficiamento (BRASIL, 1967).
Peele (1957) define a mineração em quatro fases:
a) Prospecção: corresponde às técnicas de procura de minérios;
b) Pesquisa: corresponde à execução do conjunto de trabalhos e estudos
necessários à definição da jazida mineral, seu modelamento e avaliação,
culminando com a demonstração técnica e econômica da viabilidade de seu
aproveitamento;
c) Desenvolvimento: corresponde aos serviços mineiros da preparação da jazida;
d) Lavra: corresponde ao ato, processo ou trabalhos voltados especificamente à
extração do minério de seu local de processamento.
Para Yoshida (2005), as principais atividades de exploração de pedreiras à céu-aberto
são:
a) Decapeamento: retirada das camadas de solo e materiais impróprios para a
britagem, que cobrem o maciço rochoso a ser explorado;
b) Desmonte de rocha: fragmentação do maciço rochoso (figura 1) que consiste
nas etapas de perfuração, aplicação de explosivos e detonação para desmonte e
fragmentação do maciço rochoso para transporte;
c) Fragmentação secundária: redução de dimensões dos blocos de rocha que não
atingiram um tamanho menor que a abertura do britador primário utilizado na
mineração, para que possam ser carregados, transportados e introduzidos no
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A Organização Internacional do Trabalho - OIT é a agência das Nações Unidas que tem
por missão promover oportunidades para que pessoas possam ter acesso a um trabalho decente
e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. A OIT define o
objetivo da Segurança e Saúde no Trabalho como “promover e manter um elevado grau de bem-
estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas suas atividades, impedindo qualquer
dano causado pelas condições do trabalho e proteger contra riscos da presença de agentes
prejudiciais” (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015). O impacto
positivo da introdução da Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho na redução dos perigos e
riscos sobre a produtividade é reconhecido por governos, empregadores e trabalhadores
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2011). É uma ferramenta lógica e
flexível que pode ser adequada a qualquer organização, centra-se no gerenciamento de perigos
e riscos, associados a atividade da empresa (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO
TRABALHO, 2011).
O Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho BS-8800, publicado em maio
de 1996, estruturado e de responsabilidade do órgão britânico de normas técnicas British
Standards Institution – cuja base é a forma de implantação de um sistema de gerenciamento
relativo à Segurança do Trabalho, define sistema de gestão como “um conjunto, em qualquer
nível de complexidade, de pessoas, recursos, políticas e procedimentos, componentes esses que
interagem de um modo organizado para assegurar que uma tarefa seja realizada, ou para
alcançar ou manter resultado específico” (BRITISH STANDARDS INSTITUTION, 1996, p.4).
O Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho é um conjunto de iniciativas
que englobam políticas, procedimentos, programas e processos integrados ao negócio da
organização para manter a conformidade com as exigências legais e com as demais partes
interessadas no que diz respeito à Saúde e Segurança no Trabalho (BARREIROS, 2002).
O governo australiano, através do seu órgão de regulamentação da mineração, Mines
Occupational Safety and Health Advisory Board – MOSHAB-, elaborou um guia para
prevenção de acidentes, onde enfatiza que quanto mais os empregadores e empregados
conhecerem o processo de produção mineral, maior será a garantia de que as pessoas não
estejam expostas a riscos no ambiente de trabalho (MINES OCCUPATIONAL SAFETY AND
HEALTH ADVISORY BOARD, 1999). Ainda segundo este órgão do governo australiano, a
gestão de risco pode ter lugar em uma série de diferentes cenários, como:
25
trabalho – não com mais regulamentos ou procedimentos, mas com métodos de trabalho
adequados e modificações no processo de produção.
compreensão de que o acidente é um evento simples, com origens em uma ou poucas causas,
encadeadas de modo linear e determinístico, onde sua abordagem privilegia a ideia de que os
acidentes decorrem de falhas dos operadores (através de ações ou omissões), de intervenções
em que ocorre em desrespeito às normas ou prescrição de segurança, enfatizando o ato inseguro,
que originado em aspetos psicológicos dos trabalhadores onde os comportamentos
considerados como frutos de escolhas livres e conscientes por parte dos operadores, ensejando
assim a responsabilidade do indivíduo. Neste sentido, Almeida (2006) descreve que essa
abordagem tradicional de acidentes pressupõe que a obediência a procedimentos e normas
protege o sistema contra acidentes, e que esses eventos decorrem de comportamentos faltosos
dos trabalhadores, originados, em parte, de aspectos de suas personalidades. Segundo este
mesmo autor, nas últimas décadas, surgem visões alternativas à abordagem tradicional,
ampliando o perímetro das análises de acidentes e abrindo caminho para questionamentos de
seus pressupostos relativos às concepções de ser humano e de trabalho, onde os novos enfoques
ajudam a evidenciar os resultados estéreis das práticas tradicionais: culpar e punir as vítimas,
recomendar treinamentos e normas, mantendo inalterados os sistemas em que ocorreram os
acidentes. Este mesmo autor afirma que estas novas abordagens sugerem o esgotamento do
enfoque tradicional e ressaltam a importância da contribuição dos operadores para a segurança
dos sistemas.
Vilela et al., (2007) afirmam que o campo das análises de acidentes do trabalho tem se
desenvolvido nos últimos anos em direção à sua ampliação conceitual, pois esse
desenvolvimento apoia-se nos diferentes entendimentos acerca do que seja um acidente e dos
fatores relacionados com sua origem. Este mesmo autor afirma que a concepção mais
tradicional sobre acidente do trabalho é a que teoriza sobre o erro humano ou atos inseguros.
Essa corrente teórica caracteriza-se por apresentar um modelo unicausal, em que o ser humano
é o elo fraco do sistema e por isso deve ter seu comportamento controlado por mecanismos de
estímulos e respostas, com premiações e punições.
Almeida e Filho (2007) afirmam que para eventos complexos não têm respostas simples.
Não há um remédio ou solução mágica para a situação da segurança no trabalho no país hoje.
É hora de iniciar a caminhada necessária no rumo da construção do sistema que rompa de vez
com o paradigma tradicional, com seus prejuízos em termos de inibição da prevenção, e
estabeleça as bases necessárias à construção de novos olhares sobre os acidentes.
29
Para Rantanem (2009), a avaliação dos riscos no local de trabalho exige um bom
conhecimento dos processos e métodos de trabalho, além do conhecimento acerca de perigos
típicos e dos riscos associados ao setor. Sendo assim, diante de uma avaliação na qual se
constate a probabilidade de um problema ocorrer – e de danos serem causados – é possível
adequar e preparar a gestão de segurança e saúde no trabalho considerando assim todos e
possíveis perigos e riscos que podem causar problemas.
Joy (2004) afirma que o papel da avaliação de risco em atividades de gestão é bem
aceito, e que a abordagem é caracterizada pelo processo de quatro estágios do gerenciamento
de riscos:
a) Identificação do Risco – Identificar riscos e situações que têm o potencial de causar
danos ou perdas (eventos indesejáveis);
b) Análise do Risco – Analisar a magnitude de risco que pode surgir a partir dos eventos
indesejados;
c) Controle do Risco – Decidir sobre as medidas adequadas para reduzir ou controlar o
risco inaceitável; Implementação e manutenção de medidas de controle;
d) Implementar controles e assegurar que sejam efetivos.
Para o autor, o processo de quatro estágios constitui a base para que os perigos sejam
identificados e avaliados em termos do risco para as pessoas; bem como para a produção, o
ambiente, a comunidade e outras áreas de potencial consequência. A identificação é o primeiro
passo do gerenciamento de risco e deve envolver uma avaliação crítica de todos os eventos
indesejáveis que possam afetar empregados e outros atingidos pela atividade da organização
(JOY, 2004).
Rantanem (2009) afirma que depois de um período adequado (dependendo da gravidade
dos problemas detectados, após alguns meses ou um ano) os impactos das ações de gestão de
riscos devem ser reavaliados e as correções necessárias devem ser propostas.
Os riscos devem ser reconhecidos e compreendidos para que potenciais acontecimentos
indesejáveis relacionados com os perigos possam ser controlados ou mesmo eliminados (JOY,
2004). A avaliação fornece informações importantes sobre a necessidade de ações de gestão de
risco e controle, sendo responsabilidade do empregador garantir que tais ações sejam
concretizadas (RANTANEM, 2009). Sendo assim, a gestão de riscos é essencial e primordial
para a prevenção de lesões e doenças – e para minimizá-las ou eliminá-las, é necessário
30
através das ações preventivas no processo de produção – para melhorar, assim, as condições e
o ambiente de trabalho (GOELZER, 2003).
O gráfico 1 demonstra o comparativo entre o total anual de óbitos ocorrido nas
minerações a céu aberto de argila/pedra/areia, no período de 2006 a 2014, nos Estados Unidos
e no Brasil.
30
28 27
25 24 25 25
22 22 21
20 19
18
15 14
12 13 12
10 9 9
7
5
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
ano
USA BRASIL
KERKERING, 2007). Analisando os dados disponíveis, estes autores afirmam que reduções
significativas estão ocorrendo, porém não estudaram os fatores responsáveis pelas tendências.
No Brasil, entre os anos de 2008 e 2012, o setor nacional das indústrias extrativas
registrou o total de 32.584 acidentes e a subclasse extração de pedra/areia/argila (objetivo deste
estudo) registrou 8048 acidentes de trabalho, representando 24% dos acidentes registrados neste
período (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2012).
Em 2012 as indústrias extrativas descritas na Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE 2.0), seção B, registraram 7.293 acidentes de trabalho, que correspondem
a 1,03% do total de acidentes registrados no Brasil – país que atingiu a marca de 705.239
acidentes no trabalho (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2012).
Se particularizarmos esses dados em relação à extração de minerais não metálicos,
(Seção B, divisão 08, grupo 01, classe 08.10-01) observaremos que o setor de extração de
pedra/areia/argila foi responsável por 1.334 acidentes de trabalho, que correspondem a 18% de
todos os acidentes de trabalho ocorridos nas indústrias extrativas (MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2012). Esse número é significativo, pois a extração de minerais não
metálicos superou em número de acidentes a indústria extrativa de minério de ferro (divisão 07,
grupo 07.1, classe 07.10-03) – que registrou 1217 acidentes de trabalho (MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2012). Neste mesmo período a subclasse extração de
pedra/areia/argila registrou 280 casos de doenças ocupacionais e um número expressivo de
acidentes de trajeto, que chegou a 870 casos – sendo que de 96 casos registrados em 2006,
quase que dobrou em ocorrências em 2012 chegando a 178 casos.
No gráfico 2 estão ilustradas por ordem crescente as quatro atividades extrativas que
mais registraram acidentes no período compreendido entre os anos de 2008 e 2012, segundo os
Anuários Estatísticos da Previdência Social deste período.
34
9000 8048
8000
7000
6000
4844
5000
4000
3000 2148
2000
1000
637
0
Pedra areia argila Minerio de ferro Metais preciosos Minério de
aluminio
Atividade Extrativa
2. OBJETIVO
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo foi realizado em nove minerações produtoras de pedra britada, propriedades
de dois grupos empresariais privados do estado de São Paulo, denominados aqui de grupo A e
grupo B. O grupo A possui 5 unidades mineradoras e o grupo B possui 4 unidades mineradoras,
demonstrados na tabela 1.
No ano de 2015, a produção anual das unidades do grupo A atingiu 4.300.000 toneladas
de pedra britada e as unidades do grupo B produziram 3.040.000 toneladas de pedra britada.
As cinco unidades do grupo A possuem um total de 250 trabalhadores e as quatro
unidades do grupo B possuem um total de 200 trabalhadores todos em regime de trabalho
regidos pela CLT e que não contempla nenhuma bonificação ou regime de metas para o
trabalhador, para desempenho de produção. A jornada de trabalho é de horário comercial de 44
horas semanais e a média de trabalhadores por unidade produtiva está em torno de 50
trabalhadores. Em alguns períodos do ano para atender a demanda de produção, as unidades 1
e 2 do grupo A e a unidade 2 do grupo B, esporadicamente trabalhavam no regime noturno, e
este regime noturno ficou fora da pesquisa.
As estruturas do SESMT dos dois grupos são muito semelhantes, onde um engenheiro
de segurança no trabalho está centralizado na matriz para atender todas as unidades, e em média
dois técnicos de segurança no trabalho que alternam o atendimento das unidades, com visitas
periódicas para atendimento das demandas necessárias de atribuição da função.
Para que as observações fossem realizadas foi solicitada, através de Ofício (Apêndice),
a permissão de acesso às unidades e uma das principais cláusulas para permissão deste trabalho
foi o sigilo absoluto das empresas cedentes e uma devolutiva com propostas de melhoria no
processo de produção abordando a otimização de processos e a prevenção de acidentes. Após a
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permissão ser concedida pela direção das empresas, os dados foram coletados dentro do
contexto real das pedreiras, em horários normais de produção.
Para o enriquecimento deste trabalho, a intenção inicial era completar as observações
com entrevistas aos trabalhadores deste setor mineral. Porém devido a exigência do Comitê de
Ética de Universidade Federal de Viçosa de documentos padronizados e específicos para
atender os requisitos daquela instituição e que estes documentos eram divergentes no conteúdo
e formato dos elaborados e fornecidos pela instituição FUNDACENTRO (que já estavam
assinados e autorizados pelas empresas cedentes), não foi possível contemplar esta pesquisa
com as entrevistas.
Foram realizadas 22 visitas, com seis horas diárias em horário comercial, totalizando
132 horas de observações nos meses de setembro, outubro e dezembro do ano de 2015 e as
situações observadas foram o processo de produção, a execução das atividades rotineiras e não
rotineiras, as tarefas de trabalho e as condições do ambiente de trabalho. Verificou-se a
observância das Normas Regulamentadoras (NR), que são relativas à segurança e saúde no
trabalho, de caráter obrigatório pelas empresas privadas, com ênfase na NR-22, que trata da
questão especifica da mineração. Assim, as condições encontradas ou sugestões propostas
estarão sempre alinhadas com esta importante legislação.
Avaliou-se as dificuldades encontradas pelos trabalhadores na realização de suas
atribuições, os obstáculos enfrentados para conclusão satisfatória de seu trabalho e como os
trabalhadores articulam suas tarefas para realizar com segurança suas atividades – as quais
foram analisadas com o objetivo de propor medidas que possam eliminar ou minimizar esses
riscos.
O meio para a realização deste estudo foi a análise exploratória não estruturada, não
participante e individual, com frequência de observação ocasional, decompondo
qualitativamente o panorama da prevenção de acidentes nas atividades de mineração de
agregados a céu aberto. A pesquisa teve enfoque qualitativo e verificou o objeto de estudo na
realidade, para obter inúmeras interpretações por parte do pesquisador.
Esta pesquisa é um estudo de caso. Conforme Yin (2015), como outras estratégias de
pesquisa, esta representa uma maneira de investigar um tópico empírico através de um conjunto
de procedimentos pré-especificados. Quando tratado como explanatório, o estudo de caso é
utilizado para seguir um propósito, com o objetivo de propor explanações para o mesmo
conjunto de eventos, indicando como podem ser aplicadas a outras situações.
38
Para Yin (2015), são seis as evidências para o estudo de caso: documentação; registros
em arquivos; entrevistas; observações diretas; observação participante; artefatos físicos.
Sendo assim, é possível relacionar as evidências de documentação, tais como
documentos de capacitação ou treinamento, formulários de checklist dos equipamentos de
produção, emissão e arquivo de ordens de serviços de manutenção, relatórios de intervenção
mecânica, entre outros. Foi realizada assim uma análise documental nos setores de manutenção,
produção, recursos humanos e segurança no trabalho, com o propósito de verificar:
procedimentos de trabalho, atendimento às legislações pertinentes e específicas para a área de
mineração, listas de checagem de equipamentos, listas de capacitação, instruções de trabalho,
programa de capacitação da força de trabalho e o Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR
(documento base conforme prevê a Norma Regulamentadora NR-22 item 22.3.7 (BRASIL,
1978)).
A evidência de registros em arquivos pode ser entendida como: documentos gerenciais
de manutenção, históricos de documentos de produção, recursos humanos – entre outros.
A evidência de observação direta pode ser constatada como a presença do pesquisador
como espectador nas unidades visitadas.
A evidência dos artefatos físicos pode ser constatada através da experiência do
pesquisador em relação às operações técnicas da mineração a céu aberto de agregados.
As evidências de entrevistas e observação participante não foram realizadas pelo
pesquisador, pois não estão no escopo desta pesquisa.
Durante as visitas, encontrou-se uma grande semelhança nos processos e atividades de
uma unidade para outra, além de constatar-se que todo o processo de mineração a céu aberto de
pedra brita possui características operacionais e de produção semelhantes.
Também foram realizados registros em vídeos e fotografias, através de equipamento
fotográfico; os quais, conforme Tesch (1990), são informações não expressas em palavras,
trazendo melhoras significativas para o resultado da pesquisa. Como afirma Loizos (2000), a
imagem é um registro restrito – porém poderoso – das ações temporais e dos acontecimentos
reais.
Para a realização das análises fotográficas, procurou-se entender a estratégia das
empresas, as regras da organização, o tempo necessário para realizar uma operação. Contudo,
estes aspectos influenciam não só a atividade do operador como também os lados visíveis da
imagem, pois se queremos compreender por que a atividade dos operadores tem certas
39
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para os tópicos apresentados, uma abordagem sistêmica foi realizada; pois, segundo
Chiavenato (2005), esta é uma nova maneira de visualizar as organizações sob um ponto de
vista macro e envolvente, permitindo enxergar certos efeitos sistêmicos das organizações, como
o fato de que o todo é diferente de suas partes constituintes.
Sendo assim, assuntos abordados em um tópico podem ser tratados em outro. A
abordagem sistêmica é dinâmica, abrangente e todo profissional da área de prevenção de
acidentes deve percebê-la, exercitá-la e desenvolvê-la. Desta forma, através da
interdependência existente dentro da organização, pode ser alcançado o sucesso da
implementação de ações efetivas de prevenção; abrangendo o todo, modificando a cultura de
segurança a partir de uma análise global de todas as áreas da empresa e da interação entre elas.
41
4.1 Lavra
Verificou-se nas visitas realizadas para elaboração desta pesquisa a ausência das ações
preventivas antecipadas, contribuindo para inúmeras condições inseguras – verdadeiras
armadilhas para os trabalhadores. Como exemplo, é possível citar caminhões sem freio ou sem
marcadores de combustível, transportadores contínuos sem os sistemas de desligamento em
toda sua extensão, acionamentos de motores sem proteção, sistemas de lubrificação em locais
com risco de queda de diferença de nível, pistas de tráfego de caminhões e áreas de manobras
estreitas. Tais condições poderiam ser suprimidas na concepção do projeto, minimizando os
riscos e contribuindo para a prevenção de acidentes – e, consequentemente, melhorando o
desempenho operacional da empresa. Pode ainda ser mencionada como exemplo uma área de
manobra do caminhão fora de estrada, que, quando estreita, dificulta a manobra; o caminhão
demora mais tempo para ser manobrado, causando impacto negativo no desempenho
operacional.
Para que o trânsito nas minerações seja realizado com segurança é importante ressaltar
que os limites externos das bancadas utilizadas como estradas devem ser demarcados e
sinalizados, de forma visível, durante o dia e a noite. Segundo a NR-22 item 22.7.6 (BRASIL,
1978), as pistas de rolamento devem ser duas vezes maiores que a largura do maior veículo
utilizado na mineração quando pista simples e três vezes quando pistas duplas – situações não
encontradas nesta pesquisa, o que demonstra o descumprimento deste item em todas as unidades
visitadas.
Conforme a NR-22 item 22.7.6, letra C (BRASIL, 1978) é requisito mínimo de
segurança na mineração a céu aberto que nas laterais das bancadas ou estradas – onde houver
riscos de quedas de veículos – sejam construídas leiras de proteção; as quais atuam como
proteção física, com altura mínima correspondente à metade do diâmetro do maior pneu de
veículo que por elas trafegue. Em todas as unidades visitadas foram identificadas condições
inadequadas das leiras de proteção, deixando claro ao pesquisador a inobservância destes itens
essenciais à garantia da segurança na operação de uma mineração a céu aberto de agregados
para construção.
Constatou-se, em grande parte do trajeto de tráfego de máquinas e caminhões e também
nos locais de manobra, a falta de leiras de segurança (figuras 7 e 8) – proteção física que tem
como objetivo garantir a segurança do motorista ou operador, além de preservar o patrimônio
da empresa. É sensato que em todas as áreas de manobra, carregamento, basculamento e
transporte de pedra brita na mineração sejam instaladas as leiras de proteção, evitando assim a
43
possibilidade de acidentes com queda de diferença de nível dos caminhões, máquinas e veículos
que trafegam na mineração.
Figura 7 - Ausência de leira de proteção área de manobra dos caminhões que pode ser
construída com material desmontado, matacões ou mesmo material acabado. Em caso de pane
no equipamento ou falha operacional, a leira que é uma barreira física impede que o
equipamento caia no nível inferior - representada pelas linhas amarelas.
Figura 9 - Ausência de leiras de proteção nas áreas de manobra da britagem o que pode
ocorrer acidente com tombamento da pá carregadeira
pedras que podem atingi-los. Porém, nesta pesquisa ficou constatado que é extremamente
comum os motoristas descerem do caminhão no momento do carregamento, principalmente nas
unidades do grupo B (figura 10). Também não foi observada a interrupção do trabalho
executado pelo operador da escavadeira no momento em que o motorista desce do caminhão.
Além do mais, não há nenhuma instrução em relação a este perigo, relatado no Programa de
Gerenciamento de Riscos – PGR; algo que pode atingir o motorista do caminhão.
Para esta situação, todos os envolvidos no processo produtivo devem ter ciência da
existência do perigo de que a pedra poder cair da caçamba da escavadeira hidráulica. O operador
de escavadeira, ao perceber a saída do motorista da cabine do caminhão, deve interromper
imediatamente o carregamento. É imprescindível que todos os motoristas de caminhão sejam
orientados sobre o perigo que correm, de maneira a ficar claro que não se deve sair da cabine
de operação, em hipótese alguma, quando o caminhão estiver posicionado para carregamento.
Inclusive esta regra deve ser estendida ao carregamento realizado também por outros
equipamentos, como as pás carregadeiras.
47
A recomendação da distância mínima, que pode variar de 40 a 100 metros, deve levar
em conta o tamanho dos veículos, a velocidade máxima permitida de deslocamento e a largura
das vias de trânsito. Recomenda-se, para esta situação, que seja estabelecida uma regra de
distância mínima segura de um equipamento para outro – e que esta regra seja incluída no plano
de trânsito. Além da inclusão no plano de trânsito, estas regras podem também ser disseminadas
entre todos os motoristas e operadores da mineração, inclusive fazendo parte do conteúdo da
integração e servindo de base para a elaboração de placas de sinalização.
4.2 Checklist
verificação pode tornar-se a chave de prevenção, pois uma possível falha, ao ser identificada,
pode ser tratada, impedindo um desastre. Os itens a serem verificados pelo condutor ou
motorista dos equipamentos tornam-se assim um roteiro para identificar, listar e documentar
possíveis falhas mecânicas ou elétricas, superaquecimentos – falhas diversas, como mangueiras
hidráulicas com desgaste, vazamentos de ar, entre outras. Ainda segundo Gawande (2009) há o
checklist bem elaborado e o mal elaborado. Este último em geral é um checklist vago,
impreciso, difícil de usar e pouco prático, normalmente confeccionado por burocratas que não
têm ideia das situações na quais será usado.
A lista de checagem, quando bem elaborada, estabelecida e gerida, pode contribuir para
a melhoria contínua do processo. No entanto, ao contrário do que afirma Gawande (2009) – que
o checklist “não visa produzir registros” e que o propósito é que haja verificações corretas e
diálogo entre todos os membros da equipe cirúrgica –, o checklist aplicado na mineração, além
de garantir que as tarefas sejam executadas e que todos façam o necessário para a obtenção do
melhor resultado possível, pode também contribuir à prevenção de acidentes, produzindo
registros que alimentem o programa de manutenção preventiva e corretiva da empresa. Com
todo este histórico e estas informações, a ferramenta pode contribuir para tomadas de decisões
para aquisições de peças, para melhorar o planejamento de produção e manutenção e,
consequentemente, para gerar ganhos na produtividade do empreendimento.
No entanto, quando as informações são relatadas no checklist e não são geridas e
aproveitadas, esta sistemática pode cair em descrédito, uma vez que, ao serem identificados
problemas ou avarias, tais apontamentos precisam ser tratados.
Para os equipamentos móveis de produção os itens de checagem podem ser divididos
em duas situações: os impeditivos de condução e os não impeditivos de condução. Por exemplo,
o ar condicionado do caminhão pode estar com falha, mas mesmo assim o veículo pode ser
conduzido normalmente e com segurança até que o problema seja solucionado. Já uma falha
identificada no sistema de freio deve ser entendida como condição impeditiva de condução, ou
seja, o equipamento não deve ser utilizado em hipótese alguma até que seja sanado em
definitivo o problema.
Ao confrontar a lista de checagem estabelecida no grupo A, com os manuais de
manutenção e operação das máquinas de carregamento e transporte, conclui-se nesta pesquisa
que a lista de checagem foi elaborada sem a devida consulta aos manuais de operação do
fabricante, pois itens como sensor de nivelamento e de elevação de caçamba não estavam
descritos na lista produzida. O preenchimento do checklist, em alguns casos, apontava para
49
Figura 12 - Luz de freio estacionário acesa (apontado pela seta amarela), indicando o
acionamento no painel do caminhão, mesmo sem o acionamento do referido freio o que deixa
claro o sinal de avaria.
Outro ponto falho na elaboração do checklist do caminhão que ficou constatado diz
respeito à ausência do item conhecido como “sensor de elevação da caçamba” (cigarrinha), que
funciona como alerta para que o motorista seja avisado toda vez que o pistão de elevação da
50
caçamba estiver em curso para báscula e até o retorno final. Sem este sensor em funcionamento,
há o risco de se atingir redes elétricas (inclusive de alta tensão) caso o motorista movimente o
caminhão com a caçamba elevada. Além disso, também há a possibilidade de se realizar uma
curva com a caçamba levantada e tombar o caminhão. Na lista de checagem diária das
condições operacionais e de segurança do equipamento não há a citação do sensor de caçamba.
Ainda sobre a movimentação do caminhão com a caçamba erguida, ficou constatada uma
prática comum entre todas as unidades de produção visitadas e que pode contribuir para um
acidente: os motoristas não esperam o retorno total da caçamba ao curso inicial; ou seja, quando
esta se encontra em descida após o basculamento, o motorista já inicia um novo ciclo para
ganhar tempo, partindo ela erguida – o que pode acarretar danos no conjunto do pistão e no
sistema hidráulico do veículo. É recomendável que sejam instalados os sensores de caçamba e,
nesta situação, que os motoristas sejam orientados a partir com o caminhão para o novo ciclo
apenas quando a caçamba baixar totalmente e o seu sensor parar de apitar.
No histórico de acidentes de trabalho, no grupo A ficou constatada a ocorrência de um
acidente, no qual o motorista partiu com a caçamba elevada, atingindo o cabo de fibra ótica da
expedição – o que acarretou em um dia inteiro sem atender os clientes (venda de material), pois
o setor ficou sem sistema de emissão de nota fiscal.
Ainda sobre as falhas no sistema de checagem, observou-se que ao dar a partida num
caminhão, o motorista aguardou pelo menos 15 (quinze) minutos para iniciar os trabalhos de
movimentação e produção. Ao aproximar-se deste caminhão, o pesquisador percebeu um
vazamento no sistema de ar do caminhão (sistema este responsável pelo freio estacionário, pelo
freio de serviço e também pelo sistema de troca de marchas), que precisava ser carregado.
Constatou-se que o motivo para deixar o caminhão parado tanto tempo era um vazamento na
válvula de ar principal que faz o carregamento. Por isso, demorava muito mais tempo que o
normal para o caminhão ter condições operacionais.
51
condições operacionais adequadas. Segundo a revisão realizada por Simonelli et al., (2016), as
abordagens comportamentais para a segurança do trabalho e dos sistemas ainda possuem ampla
influência no meio acadêmico e no campo da produção industrial e de serviços. Desta forma,
muitos trabalhadores que sofrem acidentes são ou serão considerados culpados e/ou
responsabilizados por tais eventos e por suas consequências
Um caminhão com qualquer avaria no sistema de freio – sistema fundamental para uma
condição operacional adequada – deve ser imediatamente parado para manutenção.
Legitimando com esta afirmação Kecojevic et al., (2004) afirmam que a falha de componentes
mecânicos, particularmente do sistema de freio, é a causa principal das fatalidades relacionadas
a pás carregadeiras e caminhões nas minerações a céu aberto nos Estados Unidos.
Ao contrário do que afirma Gawande (2009), a lista de checagem também pode registrar
as irregularidades e fornecer informações importantes, inclusive para alimentar o programa de
gerenciamento da manutenção de máquinas e consequentemente contribuir para a prevenção de
acidentes. Os itens proibitivos são importantes, pois tiram do trabalhador a responsabilidade
de “assumir o risco”.
Porém, fica claro que esta ferramenta é negligenciada por todos os setores envolvidos,
como os de manutenção, produção, recursos humanos e o próprio setor responsável pela
segurança no trabalho, que não atentou às informações fornecidas pelos trabalhadores ou pela
ferramenta checklist.
Toda esta situação traz à tona a falta de integração entre todos os setores envolvidos,
que têm como objetivo comum o bom funcionamento da empresa.
A ausência do documento checklist nas atividades está diretamente ligada à falta de
integração entre os setores da empresa, pois um dos objetivos da ferramenta é garantir o bom
funcionamento do equipamento com segurança, máxima disponibilidade operacional e baixo
custo.
O mau preenchimento do checklist está relacionado com a ausência da capacitação
adequada do motorista em relação à atividade, além de estar ligado à falta de elaboração de
procedimentos operacionais. O mau preenchimento ou a ausência deste pode também refletir
um descontentamento do trabalhador com a organização, no caso de o checklist estar
implantado e os problemas relatados não serem tratados. Neste caso, o trabalhador não recebe
o devido retorno – não ocorre a solução dos apontamentos – e, consequentemente, o
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Arlicot et al., (2009) afirmam que os sinais de trânsito são importantes, pois estabelecem
as regras de tráfego pelas vias – motivo pelo qual suas propriedades visuais são projetadas para
serem identificadas facilmente. A sinalização de trânsito é uma ferramenta importantíssima
para informar os trabalhadores dos riscos inerentes a suas atividades, contribuindo para a
redução de acidentes. Baró et al., (2009) descrevem que o motorista pode ser avisado sobre
ações impróprias e situações potencialmente perigosas.
No entanto, em circunstâncias nas quais a sinalização de segurança é mal elaborada e a
isto se soma a inexistência do plano de trânsito, o resultado é um programa de sinalização mal
desenvolvido e de baixa qualidade, podendo ocasionar confusão nos procedimentos existentes
dentro da empresa – o que pode gerar acidentes de trabalho. Portanto, a sinalização da empresa
deve ser contemplada com as determinações do plano de trânsito.
Nas condições em que as informações para a prevenção de acidentes estão falhas, os
procedimentos são mal elaborados e o trabalhador acaba recebendo uma capacitação
inadequada. Neste caso, na infelicidade da ocorrência de um acidente de trabalho, durante a
investigação – na abordagem tradicional – o trabalhador é considerado culpado, passível ainda
de punição. Concordando com esta condição, Vilella et al., (2004) afirmam que os acidentes
podem ser considerados pelo analista da investigação como frutos de escolhas livres e
conscientes por parte dos operadores – o que acaba ensejando a responsabilidade do indivíduo
no acidente. Desta forma a empresa acaba atribuindo a culpa do acidente ao trabalhador que
não cumpriu a regra, a qual foi mal determinada – se é que foi definida em algum grau.
Assim, ao afirmar que a causa do acidente de trabalho foi decorrente do ato inseguro, a
oportunidade de identificar as verdadeiras falhas do processo fica em segundo plano, assim
como a possibilidade da ocorrência tornar-se um aprendizado – o que geraria de imediato a
melhoria do processo, assim como a possibilidade de aumento na produtividade e de
minimização de custos. Caso a investigação tenha a abordagem reducionista, restrita ao ato
inseguro, certamente em outra oportunidade haverá a recorrência do acidente.
A indústria extrativa mineral de agregados para construção é regulamentada pela Norma
Regulamentadora NR-22 e a abordagem da sinalização de segurança é tratada quase em todo o
seu texto. As pedreiras e todo o seu processo produtivo devem possuir sinalização com
aderência à realidade física da empresa e alinhada ao que determina a NR-22, pois vários de
seus itens (22.7.6.1, 22.7.7.1, 22.7.14.1, 22.11.4, 22.19), abordam de forma clara como fazer
sinalizações de áreas de trabalho, trânsito, circulação de pessoas e de acessos na mineração,
para garantir informações adequadas aos trabalhadores.
60
Analisando a figura 17, entre as placas de entrada da mina, aquela que representa o
limite de 20km/h de velocidade está direcionada para qual tipo de equipamento? E, indo mais
além, esta sinalização se destina a veículos que estejam em subida ou descida na mineração?
Embora não seja necessário elaborar uma placa de velocidade para cada equipamento que
transita na mineração, é importante que os setores envolvidos entendam que a velocidade não
é a mesma entre as diversas máquinas e equipamentos existentes na empresa. Inclusive, há
diferença se estes estão em movimento – tanto na subida quanto na descida – e se estão vazios
ou carregados de pedra ou água (caso do caminhão pipa). Muito mais que placas de sinalização,
devem ser estabelecidas regras de preferência de movimentação, bloqueios físicos,
ultrapassagem e distâncias mínimas entre máquinas quando em deslocamento.
Para garantir que os equipamentos e veículos trafeguem em velocidades compatíveis
com a segurança e de acordo com as condições das pistas de rolamento e a capacidade, as regras
devem ser tratadas com todos os setores envolvidos, de forma sistêmica. É de suma importância
que, para a determinação destas velocidades, os setores de manutenção e de produção sejam
ouvidos pelo setor de segurança no trabalho, para que as condições de operação e capacidade
de cada equipamento nas diversas condições e regimes de trabalho sejam entendidas,
possibilitando a determinação do planejamento e da execução do sistema de sinalização. Nas
empresas estudadas conclui-se que a sinalização foi instituída unilateralmente. Se foram
estabelecidas apenas por um setor que desconheça a operação e manutenção das máquinas de
produção, estas regras podem ser mal estabelecidas; e, caso estas não sejam cumpridas, o
trabalhador pode se tornar um transgressor, o que pode acarretar nas famigeradas advertências.
62
Outra avaliação que deve ser feita para determinar limite de velocidade é levar em conta
os dispositivos de segurança e tecnologia embarcada nos equipamentos. Um exemplo: se o
caminhão que transporta pedra tem capacidade suficiente e dispositivos de frenagem para
manter uma velocidade média acima de 20km/h, esta deverá ser levada em conta na hora de se
realizar o plano de trânsito. Caso isto não seja observado, se o limite estabelecido pelo setor de
segurança no trabalho for como o da placa apresentada na figura 17, (20km/h), toda vez que o
motorista ultrapassar a velocidade estabelecida unilateralmente ele poderá tornar-se infrator.
Caso ocorra um acidente de trabalho acima dos 20 km/h instituídos, pode ocorrer a punição do
trabalhador.
Além disso, será iniciado um conflito entre setores, pois o caminhão possui todas as
condições técnicas para trafegar a mais de 20km/h, além de as pistas de rolamento poderem
contribuir com segurança – o que traria ganhos de volume em produção; no entanto, devido ao
desconhecimento destas condições o setor de segurança no trabalho estabelece e exige o limite
de velocidade citado, ocasionando assim perdas de produção – e no meio do conflito fica o
motorista, que pode ser cobrado pela produção e ao mesmo tempo pelo limite estabelecido.
O limite de velocidade dentro da mineração não deve ser o único controle de prevenção
de acidentes com equipamentos. Outros controles são mais importantes e devem ter prioridades,
tais como pistas largas; rampas menos inclinadas; leiras de proteção; sinalização adequada;
controle de pessoas. Todas estas ferramentas devem ser levadas em conta para garantir uma
mineração mais segura.
Nas minerações visitadas, poucos motoristas utilizavam o cinto de segurança, mas
inúmeras placas foram encontradas nas unidades beneficiadoras, com os seguintes dizeres:
“Obrigatório o uso do cinto de segurança”. Essas placas demostram nitidamente a cultura de
segurança instalada nas minerações de pedra brita, onde o “ato inseguro” da não utilização do
cinto de segurança confronta-se com a falta deste item de segurança em inúmeros
equipamentos, como caminhões e pás carregadeiras. Indo mais além, pistas estreitas; ausência
de leiras de proteção; rampas inclinadas; equipamentos com sistema elétrico inoperante e falta
de sinalização noturna fazem parte do dia a dia dos trabalhadores do setor mineral de agregados.
No entanto, os profissionais de Segurança e Saúde do Trabalhador se veem aplicando
advertências por falta do uso do cinto de segurança.
Ficou constatado que alguns caminhões não possuem o ponto de fixação do cinto de
segurança, impossibilitando a fixação dos cintos três pontos – o que já tornaria o equipamento
inseguro para trabalho. Esta condição gera uma contradição em relação à placa disponibilizada;
63
vestuário, que nesta situação, não seria o maior fator de risco, conforme mencionado por Lucas
et al. (2008) – quando, na verdade, existem inúmeros outros fatores de risco para os quais
deveria ser alertado o trabalhador. Placas importantes poderiam ser utilizadas, porém não foram
encontradas em toda a área da britagem; como, por exemplo, a indicação de que caso seja
percebida a sirene audível (que indique o acionamento dos transportadores), os trabalhadores
se afastem imediatamente dos equipamentos. Outra placa que pode contribuir para a prevenção
de acidentes é a de proibição da transposição (pular, passar por cima) dos transportadores
contínuos. A placa de sinalização de segurança deve contribuir para a prevenção de acidentes,
porém apenas a presença desta sinalização não basta, devem existir outras ações: capacitação
dos trabalhadores através da identificação dos ricos; recomendações – por exemplo, sobre a
orientação aos trabalhadores de transitar somente nas passarelas, quando necessário,
minimizando assim a exposição ao risco. Na condição em que se encontra, a placa da figura 18
serve mais para confundir o trabalhador do que para esclarecer.
Em todas as unidades visitadas, os veículos de pequeno porte que transitam nas áreas de
mineração a céu aberto não possuíam sinalização através de antena com bandeira e ficou
constatado a não utilização dos faróis ligados e acesos, mesmo durante o dia. Estas ferramentas
de segurança são obrigatórias conforme prevê a NR-22 item 22.7.7 (BRASIL, 1978) - Os
veículos de pequeno porte que transitam em áreas de mineração a céu aberto devem possuir
sinalização através de antena telescópica com bandeira, de sinalização e manter os faróis
ligados, mesmo durante o dia, de forma a facilitar sua visualização pelos operadores de
equipamentos de grande porte. Estas sinalizações durante o dia têm como objetivo facilitar a
visualização de veículos de pequeno porte pelos operadores dos equipamentos de grande porte.
Todos os veículos utilizados na mineração, sem exceção (terceiros, setor comercial, produção,
diretoria) devem ser sinalizados com antena com bandeira e manter o farol aceso, mesmo
durante o dia.
O plano de trânsito também deve contemplar quais áreas estão interditadas e estas
devem estar bem sinalizadas, para que sejam prevenidos acidentes nestes locais. Segundo a
Norma Regulamentadora NR-22 item 22.19.9 (BRASIL, 1978), as áreas de superfície
mineradas ou desativadas que ofereçam perigo devido a sua condição ou profundidade devem
ser cercadas e sinalizadas, ou vigiadas contra o acesso inadvertido. Fica claro também que o a
NR-22 item 22.19.13 (BRASIL, 1978) exige que os acessos às bancadas sejam identificados e
sinalizados. Em todas as unidades visitadas, foram encontradas áreas desativadas que ofereciam
perigo, pois não eram suficientemente sinalizadas.
66
Um dos motivos que levam à falta de instalação de bloqueios físicos (leira de proteção),
de cavaletes, ou ainda de outro tipo de sinalização, podem estar diretamente relacionadas com
à dinâmica do desenvolvimento da mineração. Com isso, as áreas ficam sem sinalização,
proporcionando condições para que o acidente aconteça. Estas situações devem ser passadas,
principalmente, nas orientações aos visitantes da mineração, que por um descuido e
desconhecimento, podem acessar as rampas, ocasionando acidentes.
Na figura 19 verifica-se um acesso à mineração que devido a dinâmica de produção a
foi retirado abruptamente e não foi interditado. Qualquer veículo que transite por este acesso,
corre risco de cair de uma altura de aproximadamente 15 metros. O correto seria impedir
imediatamente o transito neste acesso.
Figura 19 - Acesso à mineração eliminado, mas sem a devida sinalização e bloqueio físico.
Perigo de queda de uma altura de 15 metros, caso algum carro entre neste acesso
Figura 20 - Área de manobra estreita e sem leira de proteção, perigo aumentado no período
noturno. A seta vermelha indica a marca do pneu do caminhão que fez manobra no limite da
praça de manobra.
Esta placa (figura 23) suscita dúvidas: Já que não está determinada a área de risco, os
trabalhadores que estão em horário de almoço, por exemplo, e dentro do restaurante, ao ouvir
a sirene tocar, devem abandonar seus pratos de refeição e deslocar-se até a portaria? Se sim, o
tempo de deslocamento é hábil para garantir que todos cheguem à portaria com segurança?
Placas nestes padrões, além de não contribuírem em nada para o entendimento da
mensagem, tornam-se gastos desnecessários, com tempo de elaboração, confecção e instalação.
Placas de sinalização mal elaboradas propiciam um ambiente de descrédito para o setor de
segurança no trabalho, já que as placas estão instaladas e não atendem à realidade da empresa.
Falando em abrigos, a NR-22 item 22.21.23 (BRASIL, 1978), dispõe sobre a
obrigatoriedade da disposição de abrigos para uso eventual daqueles que acionam a detonação.
Nenhuma das unidades visitadas possuíam tal abrigo; ou seja, caso o veículo do trabalhador
que aciona a espoleta pirotécnica, ao se deslocar, pare de funcionar por eventual falha, não
haverá local que possa proteger o trabalhador – que ficará pela sua sorte e condicionamento
físico para correr, e mesmo assim: para onde? É de suma importância a instalação de abrigos
ao longo do trajeto de deslocamento da jazida. Estes abrigos podem ser confeccionados em
estruturas de concreto e, envolvidos com pedras quando posicionados na mineração, formando
uma barreira, que pode garantir proteção extra aos envolvidos (tipo casamata). Os abrigos
também podem possuir um gancho metálico para transporte, para serem posicionados conforme
demandas da produção.
72
4.4 Britagem
As operações da britagem primária são realizadas pelo operador dentro e fora da cabine
primária, dependendo da tarefa. A operação de produção é realizada dentro das cabines e,
quando é necessário atender às paradas da produção – como engaiolamento no alimentador ou
no britador primário, pequenos reparos ou inspeções –, as atividades são realizadas fora das
cabines. As cabines possuem particularidades físicas diversas e foram encontradas, por um lado,
algumas com bancos confortáveis e ar condicionado e, por outro, cabines a céu aberto (figura
29), com bancos de metal (figura 30), sem conforto nenhum. Esta disparidade de ambiente de
trabalho foi encontrada em unidades do mesmo grupo, demonstrando assim a falta de
padronização nas atividades das empresas, inclusive no planejamento de produção mineral de
agregados para construção. Apenas uma das nove unidades visitadas possuía um procedimento
formal de execução de atividades nas operações do britador primário.
Não há definição de qual “luz” é a que autoriza o basculamento da carga de pedra que
se encontra na caçamba do caminhão (figura 31) onde existe a sinalização visual. O que se viu
foi o basculamento com luz amarela; com luz vermelha; sem luz – perigo iminente. É de suma
importância que exista um procedimento bem elaborado, um sistema visual prático, precedido
de alarme sonoro autorizando o basculamento.
dentro do alimentador, após a instalação dos cabos – e para iniciar a operação de puxar a pedra
enroscada –, o operador de britagem desce caminhando até o pátio de manobra das máquinas,
enquanto a produção já está parada. O operador então se aproxima das máquinas em operação
e solicita apoio para o operador da pá carregadeira. No momento em que o operador se aproxima
da máquina, o risco de ser atropelado pela máquina existe; sendo assim, é de suma importância
que antes da aproximação ocorra o contato visual seguido de sinais entre o operador da britagem
e o operador da pá carregadeira. Acontece que nem sempre as máquinas pás carregadeiras estão
disponíveis, ficando a critério do operador aguardar a pá carregadeira que está em outras
atividades – carregando material para clientes, por exemplo. Enquanto isso a produção continua
parada, causando prejuízos para empresa. Após a chegada da pá carregadeira, a pedra é puxada
para fora e dá-se então a continuidade à produção.
O engaiolamento no britador primário (figura 34) é outro problema, pois a pedra cai,
ficando apoiada e posicionada entre as cunhas superiores – às vezes também sobre a parte
superior da câmara de britagem. Nas duas situações não ocorre a compressão entre as
mandíbulas fixas e móveis do britador com a pedra; com isso, o britador primário fica batendo
vazio, ou seja: produção parada, com a pedra pendurada na entrada, de alguma forma
precisando ser removida para que se dê continuidade ao processo produtivo. O engaiolamento
do britador primário paralisa toda a produção, tanto da mineração que abastece o britador
primário quanto da britagem secundária, que é abastecida com a pedra fragmentada no britador
primário. Entende-se, assim, que a britagem primária é um setor “gargalo” de produção.
83
Observou-se que, antes de realizar a parada total do britador primário, o operador desliga
o alimentador vibratório e tenta liberar o britador primário engaiolado, utilizando uma cunha
metálica. A cunha nada mais é que um pedaço de material metálico em forma de “v”, com um
olhal, onde é amarrada por diversos materiais, como tiras de correia transportadora, cordas,
restos correias de acionamento. É, desta forma, é posicionada manualmente no vão entre a pedra
e a mandíbula fixa. Caso ocorra o contato entre mandíbula, a cunha e a pedra, há grandes
chances da pedra enroscada ser quebrada, caindo dentro do britador e, consequentemente,
liberando a produção normalmente, sem necessidade de parada total do processo de produção.
Nesta tarefa o perigo está na fragmentação da pedra por compressão; neste caso, quando
há o atrito entre a pedra, a mandíbula e a cunha, ocorre a quebra da pedra, podendo haver
projeção de fragmentos em direção ao operador de britagem – havendo a possibilidade de
atingir os olhos. Em nenhum momento, em qualquer uma das unidades visitadas, algum
operador utilizava óculos de segurança durante esta tarefa de utilização da cunha – e estes riscos
nem foram mencionados nos programas de gerenciamento do risco - PGR. Outro ponto a ser
destacado é que cada empresa e unidade trata os riscos e perigos de forma diferenciada. No
grupo A, as unidades se preocupavam com a projeção da cunha para cima, com risco de atingir
o operador, e com isso construíram um alçapão na altura do guarda corpo, sobre a câmara do
britador, para proteção.
Já no grupo B, a hipótese de projeção da cunha não foi levantada e as atividades de
calçar as pedras engaioladas com a cunha eram executadas sem óculos de segurança e sem a
proteção do alçapão. Nesta situação, o operador fica apoiado sobre o guarda corpo, e solta a
corda com a cunha.
Recomenda-se, no caso da realização da tarefa com cunha, a utilização dos óculos de
segurança por todos os trabalhadores envolvidos nas atividades de desengaiolamento. Além
disso, o uso do alçapão para proteger o trabalhador contra o ultra lançamento da cunha deve ser
considerado. Caso a desobstrução do engaiolamento não aconteça com a utilização da cunha, é
necessário desligar todos os equipamentos e começar imediatamente a liberação da produção.
Nas cabines de operação do britador primário, não há nenhum sistema para avisar os
motoristas de que a produção está parada. Não há semáforos instalados nas pedreiras visitadas
e as que possuem os sistemas de iluminação instalados não indicam quando se pode ou não
bascular, o que potencializa o perigo do basculamento de pedras. Também não há
procedimentos de instrução dos motoristas de caminhões ou dos operadores de britagem. Antes
de iniciar qualquer atividade de desengaiolamento, o operador de britagem deve sinalizar a área
85
transportador só está desligado no botão do comando central (posição desliga) e não está
bloqueado, conforme preconiza a NR-10 item 10.5 (BRASIL, 1978). Caso ocorra um curto
circuito ou falha no sistema elétrico, a possibilidade do transportador contínuo acionar existe.
Importante ressaltar também que não há nenhuma placa de sinalização para bloquear os botões
de acionamento dos britadores e alimentadores. Todas estas tarefas o operador de britagem faz
sozinho, sem nenhum outro funcionário o auxiliando na atividade.
Após realizar todas estas tarefas, a pedra está laçada. Agora é necessária uma máquina
para puxar o cabo de aço. Por não possuir rádio comunicador, para chamar a máquina que vai
puxar o cabo de aço que está amarrado na pedra, o operador da britagem precisa pedir ao
motorista do caminhão – que está parado, aguardando para bascular – para descer na mina ou
no pátio para trazer uma pá carregadeira. Também foi observado um operador abandonar o
local de trabalho, andar alguns minutos e solicitar verbalmente que o operador da pá
carregadeira se dirigisse até o britador primário, para puxar o cabo. Tudo isto acontecendo e a
87
produção, parada. A demora nesta operação “custa”, e é uma perda que nenhuma empresa
estudada mensurava.
Depois de inúmeros minutos de espera, a pá carregadeira chega para que seja acoplado
o cabo de aço na caçamba para puxar a pedra. Porém a surpresa: nesta caçamba da pá
carregadeira não há um olhal de fixação do cabo de aço (figura 37) e, com esta situação, não há
como fixar o cabo. Assim, para fixação do cabo, o operador de britagem precisa arranjar um
pedaço de metal (pequena alavanca) subir na caçamba da máquina para travar o cabo entre as
bordas da caçamba, o que dificulta a atividade do operador (figura 38) e na figura 39 pode-se
verificar a adaptação feita pelo operador, para fixar o cabo na caçamba da máquina.. Enquanto
isso, a produção continua parada.
Figura 37 - Caçamba sem olhal de fixação do cabo de aço, dificultando o “içamento” do cabo.
Produção parada
Máquina posicionada, cabo fixado, operador da britagem sem rádio e nesse momento
começa uma coreografia dos membros superiores e de mímicas (figura 40), pois é necessário
89
Esta última ação é a mais importantes de todas, pois além de ser minimizada a exposição
desnecessária do trabalhador ao risco, há ganho de produtividade por parte da empresa.
91
Para Guérin et al., (2001) a atividade é o elo que organiza e estrutura os elementos da
situação de trabalho. Neste entendimento, Trierweiller et al., (2008) coloca que o trabalhador
desenvolve uma série de estratégias operatórias que usualmente são caracterizadas pelo perfil
individual, pela competência profissional, pelo seu estado de saúde e pela forma como o
trabalho está organizado. Diante destas situações, colocar em um papel prescrições de como o
trabalhador deve executar sua atividade, exigindo total aderência para garantir o atingir das
metas, deixando de lado o perfil do indivíduo e da organização do trabalho, pode ser
considerado um grande erro – que será pago pelo próprio trabalhador.
Araújo (2016) afirma que realizar um trabalho é muito mais do que apenas seguir regras
e procedimentos operatórios, por mais precisa que seja a descrição da tarefa, porque existe
sempre algo que não pode ser colocado em forma de regras claras, o que obriga o trabalhador
a inventar algo para conseguir realizar seu trabalho. Assim sendo, Almeida (2006) alega que:
A abordagem tradicional de acidentes pressupõe que a obediência a
procedimentos e normas, protege o sistema contra acidentes e que esses
eventos decorrem de comportamento faltosos dos trabalhadores, originados,
em parte, de aspectos de suas personalidades. A identificação desses
comportamentos baseia-se em comparação com o padrão que toma por base o
“jeito seguro de fazer”, conhecido por antecipação pelos especialistas em
segurança.
Daniellou et al., (2010) mostram que a evolução da abordagem industrial ainda se
focaliza, muitas vezes, no comportamento dos operadores, no erro humano e no respeito aos
procedimentos, negligenciando a contribuição positiva do homem e limitando a apreensão das
causas mais profundas – mas ao mesmo tempo mais importantes. Quando estes autores afirmam
que os trabalhadores devem respeitar e cumprir os procedimentos e que as empresas
negligenciam a contribuição do trabalhador, os procedimentos podem ser mal elaborados; e,
assim, por imposição do procedimento, pode ser reduzida a autonomia dos trabalhadores na
tomada de decisão. Cru e Dejours (1987) também asseguram que pedir mais aos trabalhadores
em matéria de segurança, ao mesmo tempo em que se retira deles o domínio sobre seu trabalho,
é bem contraditório.
Diante do exposto, tem-se como objetivo deste tópico avaliar o procedimento elaborado,
permitindo a compreensão do formato de elaboração do procedimento de trabalho, de forma a
tentar contribuir para que esta sistemática seja melhorada.
92
Sem esse entendimento, não estará claro para o operador o que é uma situação anormal
ou normal de trabalho; assim, não há como serem solicitados os reparos necessários. Por isso,
é de suma importância um programa de capacitação do trabalhador; e mais, este programa deve
ser coerente com as atividades exercidas pelo trabalhador. O programa de capacitação deve
envolver os setores interessados para o bom funcionamento da empresa; pois, conforme
afirmam Ruff et al., (2011), no que se refere às máquinas estacionárias, a ênfase adicional nas
intervenções de segurança e no treinamento deve ser direcionada para sistemas de transporte,
especialmente para tarefas relacionadas com manutenção, reparo ou limpeza da máquina.
O setor de manutenção deve relacionar diretrizes e uma formação mínima para o
operador de britagem, para que ele entenda os princípios de funcionamento e quais são os
componentes dos equipamentos – que ele compreenda o funcionamento normal dos
componentes, conhecendo por exemplo a tensão das correias de acionamento e a temperatura
adequada dos rolamentos. O setor de produção deve demonstrar ao operador de britagem como
deve ser operado e conduzido o processo de produção: alimentação do alimentador vibratório;
capacidade de produção instalada; a maneira de anotar a falta de alimentação no relatório de
produção; quantas viagens podem ser realizadas por hora; o que fazer em caso de demora na
chegada de caminhões; entre outras ações de interesse da produção.
A segurança no trabalho deve demonstrar quais são os momentos mais críticos na
execução das tarefas; ouvir o trabalhador; disponibilizar ferramentas adequadas de segurança
para boa execução da tarefa; orientar sobre o que fazer em caso de emergência; entre outros
assuntos de interesse da segurança no trabalho.
Os setores tratam cada parte de seu conhecimento, mas no momento da elaboração do
procedimento, cada parte deve-se tornar o todo, garantindo assim o suporte necessário para que
o trabalhador receba as melhores informações para a execução da sua atividade. Muito mais do
que impor ao trabalhador, é importante entender que:
O saber dos operários é maior do que frequentemente se crê. Nesta
perspectiva, formulamos a hipótese, radicalmente oposta aos discursos
habituais sobre a prevenção, segundo a qual os trabalhadores conhecem
implicitamente, e em profundidade, os perigos de seu trabalho e que
provavelmente se defendem espontaneamente (isto é, de um modo não
perceptível pela organização do trabalho) não somente contra o medo (papel
das ideologias defensivas da profissão), mas também contra os próprios riscos;
e defendem-se concretamente, com a ajuda de procedimentos específicos
eficazes, no decorrer do trabalho. Estes procedimentos, estas estratégias, estes
94
Dando suporte a todos estes setores detentores do conhecimento está o setor de Recursos
Humanos, que deve capacitar os envolvidos e os formadores do conhecimento, direcionando os
trabalhos. Desta maneira, é passada a informação que se deseja e o objetivo é alcançado pelo
trabalho (produção com segurança, menor custo e boa disponibilidade operacional) – o que
contribui para que se minimize a chance dos acidentes de trabalho que ocorrem no interstício
entre o prescrito e o real da tarefa, sendo que a sua ocorrência não é pensada pela organização
do trabalho e nem pelo próprio operário (ARAÚJO, 2016).
Este item nem deveria estar anotado neste procedimento; pois, se relacionado com a
operação do equipamento, serve apenas para atrapalhar. A descrição na Figura 42 despreza
qualquer problema que possa ocorrer no sistema de produção – falta de energia elétrica, relógio
ponto danificado, atraso no ônibus –, o que pode acabar atrasando o início dos trabalhos, além
de fornecer informações incompletas: não está claro o local onde o trabalhador deve chegar,
não há como ter certeza sobre a realização deste passo.
Para a descrição contida na Figura 43, quais são as condições que devem ser verificadas?
Deve ser assegurada uma lista mínima (checklist) com todos os itens a serem verificados. Estes
itens devem ser elucidados um a um em capacitações, levando em conta a assimilação do
trabalhador, para que este compreenda melhor e realize a vistoria no equipamento com maior
95
clareza. Vale ressaltar também que o substantivo feminino “atenção”, nunca foi e jamais será
um controle individual ou coletivo para prevenção de acidentes. A restrição de acesso “se há
pessoas no local” deve ser assegurada através de sinalização adequada – procedimento
estabelecido pela organização do trabalho e não pelo trabalhador.
Da forma como está escrito, se existir alguém não autorizado no setor, a
responsabilidade é toda do operador de britagem. Para que não haja pessoas não autorizadas no
local deve ser implantado um programa de restrição de acesso, com sinalização, orientações e
bloqueios físicos práticos, de responsabilidade da organização do trabalho.
Este item está de acordo com a boa prática operacional conforme prevê a NR-22 item
22.21.23 (BRASIL, 1978), porém deve ficar claro que o acionamento só pode ser realizado por
pessoa autorizada. Para tanto deve existir um controle das pessoas que podem ou não iniciar as
atividades, além de haver um sistema ou procedimento adequado de comando de partida que
impeça a ligação acidental. Também, pela norma NR-22 item 22.8.6 (BRASIL, 1978), deve
existir um sinal audível por todos os trabalhadores envolvidos ou afetados pela operação pelo
menos vinte segundos antes da partida. Deve-se contemplar neste procedimento a possível falha
da sirene em determinado momento e, neste caso, como o acionamento será informado os
trabalhadores.
Este item deixou uma grande dúvida, pois se contrapõe à NR-35, item 35.1.2 (BRASIL,
1978), que define “trabalho em altura” como toda atividade executada acima de 2,00 m (dois
metros) do nível inferior e onde haja risco de queda. Se o operador da britagem está dentro da
cabine de operação, não há risco de queda. Por que tornar obrigatório, então, o uso do cinto
durante toda a jornada de trabalho? Em Ergonomia, isto se define como diferença entre trabalho
prescrito e trabalho real (ASSUNÇÃO; LIMA, 2003). Estes mesmos autores afirmam que esta
diferença pode ferir o senso comum dos engenheiros, que sempre acreditam que a obediência a
um padrão qualquer é a melhor forma de se conseguir qualidade e eficiência.
Na foto da figura 49 aparecem duas lâmpadas. Qual luz deveria estar apagada? No
procedimento elaborado não é possível identificar tal condição e com isso pode confundir o
operador de britagem. Seria um item de proteção ao operador de britagem, mas apenas observar
se a luz está apagada não irá impedir o basculamento do caminhão. O bloqueio não ocorre
quando a lâmpada é ou está apagada e sim, pelo acionamento manual do motorista do caminhão.
Daniellou et al., (1989) afirmam que estas dificuldades encontradas pelos operadores para
diminuir a diferença entre o trabalho teórico e a realidade, além das consequências
mencionadas, resultam, para a empresa e para a coletividade, em custo econômico elevado –
além da famosa culpabilidade do trabalhador em caso de acidentes.
O correto, para evitar o basculamento acidental, é seguir o item 9 (nove) na íntegra. Este
procedimento deve ser adotado toda vez que for necessário o acesso ao alimentador ou mesmo
ao britador.
99
segurança? Será que foi planejado o acesso dos trabalhadores a este local de trabalho, através
do sistema de segurança para trabalho em altura? Qual a distância percorrida pelo trabalhador
neste local de trabalho; o talabarte atende as necessidades do trabalhador para executar suas
tarefas com segurança? Na foto utilizada para elaboração do procedimento está claro que a
utilização do cinto está incorreta (ponto de fixação do talabarte indicado pela seta vermelha).
Nesta situação, entre o prescrito e o real, de nada adiantaria uma capacitação de 08 horas,
conforme prevê a NR-35 item 35.3 (BRASIL, 1978).
Na figura pode-se observar que o trabalhador, mesmo utilizando o cinto de segurança,
irá para dentro da câmara de britagem do britador primário caso caia, sendo esta queda sua
sentença de morte.
No procedimento determinado na Figura 52, item 11, fica clara a inoperância do sistema
da organização do trabalho, na qual aumentam as atribuições e é transferida toda a
responsabilidade da prevenção de acidentes para o trabalhador. Porque um trabalhador iria
abandonar o posto de operação? Talvez numa real necessidade de ir ao banheiro? Uma pessoa
sem treinamento deveria estar dentro da organização da empresa? Situações com as quais a
organização de trabalho deveria se preocupar, não o trabalhador.
Conclui-se que o procedimento elaborado é vago, sem objetivo e deixa de gerar
conhecimento para a prevenção de acidentes; consequentemente, deixa de gerar o aumento da
produtividade.
Para Cru e Dejours (1987) demonstra-se que a improvisação ocupa sempre um papel
importante e que a prevenção idealmente decidida é substituída, então, por uma segurança feita
de “qualquer jeito”.
A organização de trabalho precisa entender que não devem ser gerados mais papéis com
o objetivo de apenas cumprir a legislação. O importante mesmo é produzir material de
qualidade, ou seja, procedimentos operacionais que possam ajudar os trabalhadores no
momento de tomada de decisões e perpetuar o conhecimento da organização.
101
Essa afirmação está baseada na observação de inúmeras placas implantadas nas empresas, com
os seguintes dizeres: “obrigatório o uso do Equipamento de Proteção Individual”; ou: “a
segurança começa por você” (figura 53). Baseia-se também na ausência de melhorias no
processo de produção que garantam a prevenção de acidentes.
sinalização, ele autoriza o operador da rebritagem a retomar a produção. Apenas nas unidades
do grupo B havia esta chave de bloqueio, em alguns transportadores. Este dispositivo de
bloqueio não está preconizado na Norma Regulamentadora NR-22.
Outra atividade a ser destacada na operação da britagem secundária é a desobstrução do
britador secundário, na qual as condições para a realização desta atividade são extremamente
dramáticas e perigosas para o ajudante de rebritagem (figura 55). Um dos motivos de
engaiolamento dos britadores secundários está ligado diretamente à abertura das mandíbulas
com que se trabalha no britador primário. Ou seja, caso o britador primário esteja com uma
abertura excessiva (geralmente utilizada para aumentar a produção) a pedra de maior tamanho
será recebida no britador secundário e ficará presa, sendo necessária a retirada manual deste
material engaiolado. Alguns britadores possuem um comando de abertura de dentro da cabine
de operação, de forma automática; no entanto, se a pedra for muito grande, será necessário que
o ajudante de rebritagem retire a pedra de forma manual. É o mesmo processo do britador
primário, porém em outra condição, pois o trabalhador tem que ficar em pé numa plataforma
mínima e apoiado com o pé na caixa do britador secundário, que está em movimento. Isto pode
induzir o trabalhador a se desequilibrar e cair de uma altura de aproximadamente 4 metros – ou
mesmo dentro do equipamento em funcionamento. Esta situação pode ser entendida como de
Risco Grave e Iminente que deveria suscitar a interdição do equipamento pelo SESMT da
empresa, até que seja resolvida. Nesta atividade deveria existir uma plataforma com sistema de
guarda corpo, com o objetivo de preservar a integridade física do trabalhador. Em nenhuma das
unidades visitadas havia passarelas com guarda corpo e rodapé disponíveis para facilitar as
condições desta atividade. A ação mais eficaz para diminuir ou neutralizar o engaiolamento no
britador secundário é a manutenção da regulagem da abertura das mandíbulas do britador
primário muito próxima da capacidade do regime de trabalho do britador secundário.
105
acionamento e polias sem a devida proteção (figura 56); passarelas em desacordo com a
legislação trabalhista; ausência de guarda corpo; ausência de procedimento de bloqueio elétrico.
passarela contínua do lado direito e do lado esquerdo, apenas um pedaço de passarela. Pedaço
este, que pode ser utilizado pelos trabalhadores para serviços de manutenção e lubrificação dos
rolos do transportador contínuo. Para acessar este pequeno pedaço da passarela, o trabalhador
precisa passar por cima da correia (indicado pela seta amarela), o que não é permitido conforme
prevê a NR-22 item 22.8.4 (BRASIL, 1978). Vale ressaltar também que quando o trabalhador
sobe na correia para passar para o outro lado da passarela, o risco de queda acima de dois metros
existe e assim o trabalhador deveria utilizar o cinto de segurança tipo paraquedista.
aguardando sua vez para carregamento; pois, conforme observado nesta pesquisa, motoristas
terceiros transitavam nas áreas produtivas da britagem sem a devida proteção (figura 59).
Além disso, a passagem por debaixo de transportadores contínuos só deve ser permitida
em locais protegidos contra queda de materiais conforme prevê a NR-22 item 22.8.5 (BRASIL,
1978) - O trânsito por baixo de transportadores contínuos só será permitido em locais protegidos
contra queda de materiais. Contudo, esta condição de locais protegidos não foi encontrada em
nenhuma pedreira. Apenas em uma unidade do grupo B encontrou-se uma placa indicando o
perigo de queda de pedras, porém o local não era bloqueado, permitindo assim que máquinas e
pessoas transitassem por debaixo do transportador – conforme pode ser verificado na Figura
60.
110
Figura 61 - Pedra que caiu do transportador contínuo de correia e parou na passarela. O capacete
foi colocado sobre a pedra para questões de referência. Se não houvesse a passarela, a pedra
cairia no nível inferior que poderia atingir máquinas ou pessoas.
4.7 Lubrificação
Figura 67 - Britador primário de mandíbula e seus pontos de lubrificação indicados pelas setas
amarelas. Para lubrificar este equipamento, o trabalhador precisa subir no britador para ter
acesso aos pontos de lubrificação.
Figura 71 - Localização da base do britador, mostrada de outro ponto, para demonstrar a altura
que o trabalhador estava exposto no momento que subia na mureta. Atividade de risco grave
iminente.
A sugestão pode ser para os britadores primários, mas também pode-se ampliar a
aplicação deste mesmo sistema para os demais setores da empresa, caso possa ser usado sem
restrições técnicas dos equipamentos como peneiras vibratórias, grelhas e demais
equipamentos.
Após a instalação deste sistema centralizado de lubrificação, é recomendável a medição
diária da temperatura do regime de trabalho dos rolamentos, e também que esta mediação seja
comparada com o histórico do plano de manutenção, até que seja confirmado o efetivo
funcionamento do sistema proposto.
123
Ainda sobre britadores primários, quando necessária a troca das correias de acionamento
do britador primário, sejam elas por desgastes normais ou avarias, são necessárias inúmeras
tarefas e atividades realizadas pelos trabalhadores para realizar a substituição. Para acionamento
dos britadores primários é necessário um motor com uma polia de acionamento e nesta polia
vai um conjunto de correias que são posicionadas no volante do britador (figura 75) e quando
é acionado o motor elétrico, inicia-se a movimentação do britador primário. Geralmente, além
do eixo do britador ser excêntrico, o volante do britador possui um contrapeso, que quando o
volante ficar livre da tensão das correias de acionamento, inicia uma movimentação
involuntária de balanço para frente e para trás no seu próprio eixo, até parar de movimentar.
Uma das principais regras para iniciar a troca das correias é deixar sempre o contrapeso
do volante na posição neutra, ou seja, na posição de repouso ou ponto zero. Se esta situação não
for observada, podem ocorrer acidentes como pensamento e esmagamento de mãos. Para que
seja realizada a troca das correias ainda é preciso soltar o motor elétrico, aliviar a polia de
acionamento.
Figura 75 - Britador primário e seu conjunto de correias de acionamento (indicadas pela seta
vermelha)
Figura 77– Esforço físico dos trabalhadores (mecânico de manutenção e eletricista, com
exigência de posturas inadequadas e trabalhos pesados com alavancas e inúmeras chaves para
troca ou tensionamento do conjunto de correias de acionamento do britador primário da unidade
1 do grupo A.
Figura 79 - Motor de 200cv sendo movimentado com macacos hidráulicos com o objetivo de
afrouxar as correias velhas para substituição por correias novas.
Figura 80– Modelo de uma mesa articulada, já com o motor fixado. Perspectiva.
Figura 81 – Modelo de uma mesa articulada, já com o motor fixado. Vista lateral.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por tudo que foi observado, fica claro que é deficiente a interação entre os vários setores
da empresa – denominados “produção”, “manutenção”, “compras”, “segurança no trabalho”,
“recursos humanos” e “direção” –, ficando assim o setor de segurança no trabalho como o único
responsável pela implantação do programa de prevenção. Esta é uma visão reducionista,
equivocada e antiquada, que não contribui em nada para as empresas.
As ações implantadas por todos estes setores, dentro do contexto empresarial, estão em
um formato individual, no qual cada setor atua pensando apenas na sua área de
responsabilidade, deixando de lado uma grande oportunidade de ganho nos campos da
segurança e saúde do trabalhador e financeiro. Por exemplo, quando é realizado um pedido de
aquisição de peças para determinado equipamento, o setor de compras só pensa na peça “mais
barata”, atingindo o objetivo do seu setor: gastar menos. Contudo, não são levados em
consideração a durabilidade, a qualidade e, principalmente, os riscos envolvidos por comprar a
peça mais barata. Neste caso, através de uma visão sistêmica e da atuação conjunta pode-se
reverter este contexto, conforme afirmam Daniellou et al., (1989):
a produção insuficiente, o baixo rendimento das máquinas, atrasos na
produção, o grande volume de refugos, são, frequentemente, a sanção das
dificuldades encontradas pelos operadores. Mas estes custos são em geral
encobertos, na medida em que os recursos contábeis raramente as deixam
aparecer.
Esta carência gerencial deixa em segundo plano a prevenção de acidentes, que acaba
impactando de forma negativa – inclusive financeiramente – em todo o processo produtivo,
expondo desnecessariamente o trabalhador a perigos e riscos de diversas gravidades, inclusive
de morte. Este cenário deixa a organização do trabalho vulnerável a perdas em todas as esferas,
seja segurança e saúde do trabalhador seja produção e disponibilidade operacional. Neste
mesmo sentido, Daniellou et al., (1989) afirmam que as dificuldades encontradas pelos
operadores em diminuir a diferença entre o trabalho teórico e a realidade – além das
consequências mencionadas – resultam, para a empresa e para a coletividade, em custo
econômico elevado e na famosa culpabilidade do trabalhador em caso de acidentes.
Os setores de produção e manutenção entendem que a responsabilidade da arte de
prevenir acidentes é exclusiva do setor de segurança e medicina no trabalho; com isso, por falta
de conhecimento, deixam de colaborar para o bom andamento dos trabalhos. Exemplo dado é
o checklist de um caminhão, que apontava falha no sistema de freio, diariamente e repetidas
132
vezes. Nada foi feito para sanar o problema em questão, tanto pelo setor da produção como pelo
de manutenção, expondo diária e rotineiramente o trabalhador ao risco desnecessário. Para que
haja um entendimento e um atendimento das ações voltadas para garantir a aplicação dos
requisitos básicos de segurança e saúde no trabalho – que contribuem diretamente pelo bom
andamento do processo de produção, manutenção e a garantia da integridade física e saúde dos
trabalhadores –, os setores de produção, manutenção e segurança no trabalho devem ter uma
ligação de interdependência, atuando de forma conjunta. Assim, inúmeras situações de risco
podem ser neutralizadas, garantindo um ambiente de trabalho mais seguro, com maior
produtividade.
Os profissionais dos setores de segurança e saúde no trabalho talvez não possuam o
devido conhecimento do processo produtivo, ou conforme concluem Inoue e Vilela (2012), a
categoria de Técnico de Segurança possui inserção frágil na política de segurança das empresas
e seu cotidiano de trabalho é fortemente marcado por um “poder de agir” limitado ou mesmo
impedido. Assim o SESMT não trabalha em consonância com os demais setores, gerando ações
voltadas para atender programas de segurança no trabalho apenas no papel, com o objetivo de
atender itens da legislação específica.
Os procedimentos, quando elaborados, são unilaterais (não interagem com os demais
setores) e enfocam apenas na implantação de regras proibitivas, que pouco contribuem para a
execução da tarefa do trabalhador. Assim, acontece com muita intensidade a cobrança da
utilização de Equipamentos de Proteção Individual não relacionados a atividade em questão,
gerando, por conseguinte, a aplicação de advertências pelo não uso do EPI.
Os Programas de Gerenciamento de Riscos estudados estão totalmente direcionados
para a quantificação dos agentes químicos, físicos e biológicos (poeira, ruído e vibração) –
apenas isso. A quantificação através de técnicas de Higiene Ocupacional é de suma importância
para evitar doenças ocupacionais; entretanto, quando usados de forma inadequada, os
programas contribuem para a cultura do “epeismo”, na qual a solução é fornecer EPI ao
trabalhador. Apenas realizar medições, em condições de trabalho que por si só já se
caracterizam como insalubres, pode não ser a melhor estratégia. Ao invés de apenas investir o
recurso financeiro, sucessivamente, para a realização da quantificação do agente já presente,
pode-se priorizar o investimento na aquisição de Equipamentos de Proteção Coletiva –
garantindo desta forma um ambiente de trabalho saudável para o trabalhador.
Conclui-se que a Norma Regulamentadora NR-22 (BRASIL, 1978) é uma
regulamentação ousada, tangível, aplicável e factível em qualquer mineração de agregados para
133
Das atividades observadas, nota-se que uma das mais perigosas é a de desengaiolamento
dos britadores primários, e que estas tarefas são realizadas com o equipamento em movimento
e geralmente em ambientes sem apoio ou estrutura suficientes. Apenas um trabalhador está
envolvido, o qual tem como função movimentar pedras enormes (com diversas dimensões),
utilizando alavancas, cabos de aço e cunhas metálicas. Dos nove (9) britadores primários
observados, apenas um deles possuía pinça hidráulica com comando dentro da cabine de
operação para remoção das pedras enroscadas. Dos demais, quatro britadores possuíam
estruturas como talhas móveis para, através de um gancho, apenas para aliviar a pedra
enroscada. Havia, portanto, a exposição do trabalhador ao risco de queda de diferença de nível
dentro do equipamento em movimento, pois em algum momento ele precisa se apoiar em
guarda corpos ou ficar próximo da máquina em movimento sem nenhuma proteção.
A prevenção de acidentes padece do “Epeísmo”, cultura adotada apenas para
distribuição, controle, fiscalização e entrega de EPI´s. O setor de segurança no trabalho, ao
fazer cumprir a utilização destes equipamentos, utiliza a advertência e a fiscalização como eixo
principal. Culpa e sacrifica o trabalhador pelas más condições do ambiente e pela inaptidão da
organização no trabalho em gerir as falhas de projeto – atuando de forma simplista e
reducionista e gerando “custos” para a empresa, pois os recursos investidos para prevenir
doenças e acidentes não dão o retorno esperado.
A segurança no trabalho deve ser factível, consistente e pragmática – e assim garantir
melhores condições do ambiente de trabalho. No formato em que se encontra, parece que o
trabalhador é visto como um inconsequente, um imprudente e – que deve a todo instante ser
monitorado para cumprir as regras de segurança determinadas.
Todos os profissionais envolvidos na elaboração de projetos de plantas de
beneficiamento e de desenvolvimento mineral devem consultar as Normas Regulamentadoras
para que os projetos sejam elaborados em conformidade com os requisitos dos itens.
As condições dos ambientes no trabalho das minerações a céu aberto são verdadeiras
armadilhas para os trabalhadores. Prioritariamente, as modificações nas condições do ambiente
de trabalho com o objetivo de minimizar a exposição a situações de riscos são transformações
necessárias para prevenção de acidentes de trabalho no trabalhador da mineração de agregados.
Simonelli et al., (2016) enfatizam que estudos sobre a temática dos acidentes de
trabalho, fundados na Economia Política, parecem essenciais quando se aborda uma questão
central que envolve a saúde dos trabalhadores; ou seja, que envolve a saúde e a sociedade.
Conclui-se assim que o investimento em segurança no trabalho aplicado de forma adequada,
135
com o objetivo de minimizar os custos decorrentes das falhas no sistema de gestão de riscos da
empresa, aplicado à realidade do empreendimento mineral, garante ao empregador o bom
andamento de sua empresa, gerando assim melhores condições do ambiente de trabalho e,
consequentemente, maior produtividade.
136
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APÊNDICE
Senhor ....................
O Sr. Antonio Marcos Zenaro, aluno regularmente matriculado no curso de mestrado “Trabalho,
Saúde e Ambiente”, da Fundacentro, desenvolve dissertação de mestrado intitulada Prevenção dos
Declaramos que os dados fornecidos serão utilizados única e exclusivamente para a pesquisa
e será mantido sigilo do nome da empresa e dos participantes do estudo, neste sentido
solicitamos o seu consentimento neste documento.
Desde já agradecemos
_________________________ __________________________
Prof. Dr. Carlos Sérgio da Silva Antonio Marcos Zenaro
Orientador Discente Mestrado
_______________
Diretor Mineração