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ECONOMIA POLÍTICA

AULA 6

Prof. Felipe Calabrez


POLÍTICA E ECONOMIA: ELEMENTOS DE DEBATE

CONVERSA INICIAL

Nesta aula, será apresentada uma discussão sobre o lugar dos valores no
fazer científico, o que nos permitirá uma reflexão sobre as abordagens tratadas
ao longo do curso, seu “modo de fazer ciência” e captar a realidade. Em seguida,
será apresentada uma crítica ao modo como a Economia Política clássica
(liberal) concebeu a sociedade de mercado, tomando por natural uma lógica de
organização social que fora na verdade fruto de um processo histórico e cuja
construção e manutenção não está livre de conflitos.
A seguir, uma discussão sobre o papel da política e da técnica diante das
tensões entre mercados e democracia será apresentada para balizar reflexões
e debates em torno de uma questão que é central nas democracias
contemporâneas: Até que ponto as questões “econômicas” devem se submeter
ao crivo democrático, ou, de outro modo, permanecerem restritas aos técnicos e
especialistas? Existe uma “racionalidade econômica” à qual toda a sociedade
deve se submeter, sob o risco de enfrentar problemas graves caso não o faça?
Qual o papel da ciência econômica e da política?
Veremos algumas abordagens que nos incitem a refletir sobre essas
questões.

TEMA 1 – O LUGAR DOS VALORES NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Como vimos no início do curso, a Economia Política surge como área


específica do conhecimento, buscando construir procedimentos que legitimam
determinado corpo de saberes e conhecimentos como científicos. Nesse
aspecto, notável esforço foi feito parte dos fisiocratas e economistas clássicos.
Hoje, como sabemos, esses procedimentos elementares que constituíram
o modo de fazer ciência produziram muitos avanços. O isolamento dos
fenômenos para análise, a observação de regularidades e a possibilidade de
enunciação de leis e produção de explicações mais ou menos generalizáveis são
tópicos do primeiro capítulo dos manuais sobre o fazer científico. O que ocorre,
no entanto, é que tais procedimentos, ainda que válidos, precisam ser aplicados
com muita vigilância e cuidado quando se trata do mundo social ou daquilo a que
Max Weber chamou de “ciências da cultura” (Weber, 2010). Isso não significa
que não haja – seguindo a visão de Weber – possibilidade de construção de
saber científico para essa área do conhecimento, a que chamamos hoje de
Ciências Humanas. Significa, de outro modo, que é impossível separar esse
fazer científico dos valores do cientista ou pesquisador. O que Weber quer dizer
é que a própria construção do objeto de estudo, a separação entre aquilo que
parece ou não relevante, o “isolamento do fenômeno”, já implica uma escolha
imbuída de valores.
Nesta seção da aula, buscaremos quais as implicações disso para as
abordagens da Economia Política vistas ao longo do curso, resgatando também
a crítica marxista à “economia política burguesa”.

TEMA 2 – CRÍTICA À VISÃO CLÁSSICA DE SOCIEDADE DE MERCADO

Nesta seção apresentaremos a crítica de Karl Polanyi ao caráter de


mercantilização generalizada que o capitalismo produz ao converter a terra e o
trabalho humanos em mercadoria. Na sua visão, não há nada mais antinatural
do que essa conversão do trabalho em mercadoria, e, portanto, a visão liberal
clássica estaria equivocada ao tomar a sociedade como um corpo organizado
inteiramente pelas leis de mercado.
Polanyi chama esse procedimento liberal de “falácia economicista”,
porque reduz o âmbito econômico especificamente ao fenômeno do mercado,
uma instituição relativamente moderna e que possui uma estrutura específica e
que não se estabelece natural e automaticamente nas sociedades, nem é de
fácil manutenção.
A crítica de Polanyi é aqui trazida por nos ajudar a pensar os conflitos
contemporâneos que surgem em diversos países a opor à vontade popular as
exigências dos “mercados” e de uma racionalidade econômica que parece
funcionar sob leis próprias. A coexistência entre democracia e capitalismo ainda
é, pretendemos demonstrar aqui, uma construção permanente.

TEMA 3 – POLÍTICA E CIÊNCIA

Do ponto de vista da política econômica, parece ter ocorrido um fenômeno


paradoxal: Ao mesmo tempo em que o Estado, ao ter que agir sobre o “ambiente
econômico”, necessitou de um amplo respaldo científico – naturalmente, o
desenvolvimento da “ciência econômica” acompanhou esse processo,
desenvolvendo novos métodos, modelo, técnicas e teorias –, a gestão da

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economia se politizou. Assim, a gestão (política) da economia se “complexificou”
em suas técnicas, tornando-se assunto de difícil compreensão para os “não
técnicos” ao mesmo tempo em que se tornou assunto necessário ao debate
democrático.
Tendo esse fenômeno como preocupação, discutiremos o papel da
ciência econômica nas decisões políticas, seus limites e contradições diante de
regimes democráticos. Para isso veremos as contribuições de Weber – e sua
distinção entre ciência e política.

TEMA 4 – CIÊNCIA ECONÔMICA E DEMOCRACIA HOJE: POR UM RETORNO


À ECONOMIA POLÍTICA

Podemos dizer que o coroamento da visão segundo a qual a racionalidade


econômica não pode sofrer intervenções da política se dá dentro da própria
ciência econômica – na sua vertente mainstream – com a hipótese das
expectativas racionais. Esse movimento teórico, chamado de “novo consenso
teórico”, começou a ser gestado nos anos 1970 no fim dos chamados anos
gloriosos do capitalismo, quando começa a longa retração, momento
acompanhado também por uma virada conservadora na política.
Sob o paradigma das expectativas racionais, a discricionariedade da
política econômica é posta em xeque, pois qualquer movimento operado pelo
governo pode interferir negativamente no comportamento dos agentes racionais,
causando distúrbios e imprevisibilidade ou incerteza. Esse pressuposto teórico
elimina a visão positiva que a teoria de Keynes atribuía à ação pública que, por
meio da política fiscal, poderia manejar a demanda agregada em momento de
depressão econômica. Agora, ao contrário, a boa política econômica é aquela
que se restringe ao cumprimento das “regras do jogo”. A literatura cunhou o
termo “regime de política econômica” e apontou para os problemas de
“inconsistência intertemporal”. Sob essa visão, rupturas e mudanças de direção
são inerentemente ruins.

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TEMA 5 – REFLEXÕES EM ECONOMIA POLÍTICA E UM BALANÇO DO CURSO

Nesta seção buscaremos organizar as reflexões propostas anteriormente:


 Os limites da democracia diante das exigências do sistema econômico e
sua racionalidade própria
 O papel da ciência econômica
 O papel da política como mediadora de conflitos
O objetivo aqui é provocar o aluno a pensar essas questões à luz das
abordagens tratadas ao longo do curso, mobilizando o repertório aprendido de
maneira crítica.

NA PRÁTICA

Pesquise sobre a relação entre “mercados” e eleições nos países


chamados de “mercados emergentes”. Em específico, pesquise o que foi o
“Lulômetro” (Lulameter), criado em 2002, no contexto das eleições presidenciais.
Procure refletir sobre as relações entre democracia, política e mercados
com base nas discussões apresentadas nesta aula.
FINALIZANDO
Esta aula propôs um conjunto de reflexões com base em alguns clássicos
das ciências sociais. As reflexões giraram em torno das grandes questões
abordadas pela Economia Política que viemos tratando ao longo do curso, tais
como:
 Como abordar a realidade econômica e construir um conhecimento
científico sobre ela.
 O que se entende por mercado e qual seu “lugar” no funcionamento da
sociedade e do sistema econômico.
 Qual o papel da política e da democracia.
Essas reflexões, já propostas na seção anterior, serão aqui brevemente
retomadas com alguns exemplos concretos que permitam ao aluno refletir com
base nas abordagens tratadas ao longo do curso.
Como as análises de viés liberal, mercantilista, marxista e keynesiano
responderiam às perguntas acima? Espera-se que o aluno se sinta seguro ao
circular entre essas diferentes abordagens.

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REFERÊNCIAS

LOPREATO, F. L. C. Caminhos da política fiscal do Brasil. São Paulo: Editora


UNESP, 2013.

MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Editora


WMF Martins Fontes, 2011.

______. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

SANTISO, J.; MARTÍNEZ, J. Emerging Economies. International Political


Science Review, v. 24, n. 3, p. 363-395, 2003.

SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro:


Editora Fundo de Cultura, 1961.

WEBER, M. Conceitos sociológicos fundamentais. Tradução de Artur Morão.


Universidade da Beira Interior Covilhã, 2010. Disponível em:
http://www.lusosofia.net/textos/weber_max_conceitos_sociologicos_fundament
ais.pdf. Acesso em: 10 dez. 2018.

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