[Livro: Dutra, Luiz Henrique de A. Filosofia da linguagem: introdução
crítica à semântica filosófica. 2ª Ed. Florianópolis: Editora Ufsc, 2017.]
1. Qual é a finalidade que o filósofo vê em uma possível
linguagem perfeitamente clara? A formulação dos problemas filosóficos numa linguagem perfeitamente clara teria por finalidade reduzir a ambiguidade, imprecisão ou caráter vago das línguas naturais. Assim, o uso de uma linguagem clara permitiria ao filósofo dissolver problemas, uma vez que muitos deles poderiam ser meramente pseudoproblemas decorrentes do mau uso ou ambigüidade da linguagem. Por outro lado, os verdadeiros problemas poderiam ser mais bem resolvidos se a discussão não se ativesse a disputas meramente verbais.
2. Descreva de maneira geral e breve os aspectos da
linguagem ligados à sintaxe, à semântica e à pragmática. Essa classificação dos aspectos da linguagem nos domínios da sintaxe, semântica e pragmática se deve a Charles Morris. Os aspectos ligados à sintaxe são os que relacionam à organização estrutural da linguagem e dizem respeito às regras e convenções que organizam essa estruturação. Como as marcas ou signos que constituem a linguagem são utilizados de acordo com determinadas convenções sociais ou regras aceitas por um grupo de usuários ou falantes, a sintaxe visa saber se essas regras fazem parte de uma gramática particular ou mesmo de uma gramática geral que expressa princípios mais gerais do nosso uso dos signos verbais. Os aspectos ligados à semântica, por sua vez, são aqueles ligados à relação que existe entre os símbolos de uma linguagem e as demais coisas que supostamente esses símbolos representam ou significam para nós. Os aspectos ligados pragmática os ligados ao contexto de comunicação e ao uso que os falantes pretendem fazer ou fazem dos símbolos, e às implicações que o contexto de comunicação e de uso tem em relação ao significado, ou seja, em relação aquilo que os falantes querem dizer uns aos outros.
3. Por que podemos dizer que, na grande maioria dos casos,
as filosofias da linguagem conhecidas são semânticas filosóficas? Porque elas se concentram essencialmente em discussões teóricas relacionadas às concepções de significado e referência, ou, seja, porque o objeto de estudo das semânticas filosóficas é basicamente a significação das expressões de uma língua, o que a conecta também com a pragmática, uma vez que os contextos de comunicação e o uso são relevantes para elucidação do significado.
4. Explique o que são, segundo Austin, os atos elocutórios.
Para Austin os atos elocutórios são os simples atos de um falante dizer alguma coisa, ao proferir determinadas palavras. São os enunciados com pretensão de sentido ou referência. Mas, segundo Austin, dizer algo não é a única coisa que o falante faz por meio de palavras. Na mesma ação do falante, pode-se distinguir o que o falante diz do que ele faz ao dizer, além de dizer.
5. Explique o que são, segundo Austin, os atos ilocutórios.
Os atos ilocucionários estão relacionados àquilo que pode ser implicado a partir do ato elocutório e deriva de sua relação com o contexto. São os enunciados em que o falante atribui ao conteúdo proposicional uma determinada força, de realização de uma afirmação, de oferecimento, de promessa, de ordem, etc. Assim, são atos ilocucionários os ques fazemos com a linguagem ao ordenar, pedir, prometer etc.
6. Explique o que são, segundo Austin, os atos perlocutórios.
Os atos perlocucionários acompanham os atos elucutórios do falante e se referem àquilo que os atos ilocucionários despertam no ouvinte, como por exemplo: obedecer a uma ordem, atender a um pedido etc. São os enunciados por meio dos quais o falante exerce certos efeitos sobre o ouvinte.
7. Dê exemplos relativos à tipologia alternativa de Searle dos
atos ilocutórios. Searle distinguiu os atos de fala em: (1) assertivos; (2) diretivos; (3) comissivos; (4) expressivos e, (5) declarações. Assertivos: “Estou ouvindo a nona sinfonia de Mahler”. Diretivos: “Ande rápido!” Comissivos: “Prometo terminar a leitura do Dom Quixote.” Expressivos: “Desculpe-me pelo comentário infeliz.” Declarações: “José, você será o novo chefe.”
8. O que, segundo Searle, haveria de comum entre diferentes
atos ilocutórios e o que os diferenciaria? O que haveria de comum entre diferentes atos ilocutórios seria seu conteúdo proposicional. Por outro lado, os atos ilocutórios se diferenciariam, segundo Searle, quanto ao modo ou força, mas não quanto ao conteúdo proposicional, a saber, quanto a aquilo que seria expresso por uma sentença declarativa.
9. Qual é o objetivo principal de uma teoria da referência ou
denotação? Visa demonstrar que a maneira como se chama determinado referente, ou seja, a descrição definida, não pode se confundir com o referente, nem se trata de um mero nominalismo. A teoria da referência ou denotação mostra que a representação verbal de determinado referente não se confunde com o referente. 10. Qual é o objetivo principal de uma teoria do significado? Compreender como se dá a significação e a interpretação de nossas expressões linguísticas, não apenas levando em conta o que ocorre em nosso intelecto, mas levando em conta também o contexto de uso das expressões (os aspectos pragmáticos). Uma teoria do significado enfrenta também questões relativas ao significado de classes abstratas de seres, de seres fictícios e outras questões de significação.
11. Dê exemplos de problemas ontológicos para cuja solução
a filosofia da linguagem poderia ajudar. A filosofia da linguagem parece poder auxiliar na discussão sobre a utilização de termos empregados para falar sobre coisas que não se referem a coisas reais.
12. Dê exemplos de problemas que provêm da matemática e
da lógica para cuja solução a filosofia da linguagem poderia ajudar. Um exemplo de problema que provém da matemática e da lógica diz respeito às sentenças para nomeações de classes e conjuntos, das sentenças que procuram nomear e descrever entidades abstratas como figuras geométricas, números, etc.
13. Dê exemplos de problemas epistemológicos para cuja
solução a filosofia da linguagem poderia ajudar. A filosofia da linguagem poderia auxiliar na discussão acerca da legitimidade ou não de alguns problemas filosóficos tradicionais, dissolvendo eventuais pseudo-problemas decorrentes de disputas verbais, e acerca de alguns problemas levantados pelas ciências modernas. A ausência de uma linguagem absolutamente clara poderia levar a falsas questões, sem relevância cognitiva.
14. Por que a filosofia da linguagem possui certa relação com
a filosofia da mente? Porque a linguagem (e sua significação) é vista como vinculada ao domínio dos eventos mentais, eventos voltados para os outros (intensionais), o que introduz o problema da interpretação das expressões que dizem respeito a tais eventos.
15. Por que a linguagem verbal da qual se ocupam as
filosofias da linguagem deve ser compreendida em primeiro lugar como um fenômeno de comunicação? Deve ser compreendida como um fenômeno de comunicação porque a linguagem verbal é interpretada de acordo com convenções específicas estabelecidas socialmente, que ocorre em contextos e cuja significação é marcada por ou dependente desses contextos.