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Análise Psicológica (1993), 2 (XI): 253-266

Heurísticas, Enviesamentos e. Erros lofe-


renciais na Mecânica da Avaliação Psico-
lógica (*)
MARIO 'RODRIGUES SIMÕES (**)

I. INTRODUÇÃO uma síntese e uma integração de dados), dos


mecanismos etiológicos, do prognóstico do
Os psicólogos ocupam uma parte do seu tem- comportamento futuro, da estratégia e técnicas
po em tarefas ou actividades de avaliação psico- de intervenção psicoterapêutica a implementar,
l6gica. A avaliação psicológica consiste num em função da medida da sua eficácia potencial
processo orientado para o conhecimento, com- e dos objectivos a alcançar.
preensão e formulação de um juízo acerca de Uma vez que a actividade de julgamento e de
uma outra pessoa (McReynolds, 1975), ou numa tomada de decisões constitui uma rotina central
actividade orientada para a «identificação das na prática psicológica ela deve, por isso, .ser
características distintivas de cada caso» explicitada. A competência para proceder a ava-
(Achenbach, 1985, pp. 27-28), ou para a aquisi- liações correctas é um pré-requisito para uma
ção de amostras do comportamento psicológico intervenção eficaz, tanto mais que os problemas
(K1einmuntz, 1982) que se realiza a partir do não podem ser modificados de forma apropria-
uso de vários métodos de recolha de dados. Nes- da antes de serem adequadamente diagnostica-
tas actividades de avaliação co-existem, a dife- dos.
rentes níveis, julgamentos e tomadas de decisão. As tarefas de avaliação exigem o uso do ra-
Jul~amentos sobre o tipo de informação a obter ciocfnio na identificação das características
(i.e., que constructos medir e quais os métodos relevantes da situação, dos comportamentos e
e instrumentos de avaliação a utilizar) ou acerca dos sintomas. As estratégias de raciocínio utili-
de quando terminar a pesquisa. Ou ainda, jul- zadas podem conduzir a erros e, consequente-
gamentos acerca da natureza, qlUSas, efeitos mente, comprometerem a qualidade das decisões
secundários, gravidade e significado dos sinto- a tomar. Os conhecimentos especializados são
mas e dos problemas, do diagnóstico (que supõe aqui, por si sós, insuficientes.
Segundo Faust (1986) muitos dos erros come-
(*) Versões preliminares deste trabalho foram apre- tidos não resultam de coisas que se fazem erra-
sentadas no III Simpósio Nacional de Investigação em damente, de hábitos problemáticos do julgamen-
Psicologia (Lisboa, 21 de Outubro de 1992) e nas to (p. ex., confiança em estratégias inadequa-
las Jornadas de Estudo da Sociedade Portuguesa de
das), mas de limitações cognitivas mais funda-
Psicologia (Coimbra, 22 de Novembro de 1992).
(**) Assistente da Faculdade de Psicologia e de mentais associadas à incapacidade para usar e
Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, integrar quantidades adicionais de informação.
Rua do Colégio Novo, 3000 Coimbra. Há aqui um interesse fundamental no conhe-

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cimento acerca do modo como o psicólogo faz a informação acerca de um caso, ou mesmo a
avaliação, Le, no conhecimento do processo de experiência, aumentam a compreensão e conhe-
formulação de juízos e dos factores que influen- cimento acerca desse mesmo caso, e com isso,
ciam aquilo que o psicólogo vê e regista e, dum a confiança na avaliação.
modo particular, nas estratégias de raciocínio No entanto, Oskamp (1982) adverte que os
utilizadas. sentimentos de crescente confiança que se expe-
Neste contexto, a mecânica da avaliação psi- rimentam, à medida que se continua a trabalhar
cológica pode ser caracterizada do seguinte com um caso e que se acumulam informações,
modo: os julgamentos clínicos e a tomada de não constituem um indicador válido da correc-
decisões são sempre arriscados e formulados, ção de um julgamento ou tomada de decisão.
frequente e inevitavelmente, em condições de in- Por outro lado, e não raras vezes, os
certeza, uma vez que não se sabe tudo aquilo psicólogos estão familiarizados apenas com uma
que há para saber acerca do cliente. E existe parcela modesta do conhecimento - cada vez
uma quantidade de erro significativa na avalia- mais amplo mas, também, mais fragmentado -
ção da informação. Sabe-se que a informação que está potencialmente disponível em relação
pode ser omitida porque o paciente tem défices ao problema actual e ao modo como o resolver.
cognitivos e pode não falar com fidelidade E como nota Gambril (1990) a existência de
acerca do seu passado, ou porque ele tenta pro- cada vez mais conhecimentos transforma as
jectar uma certa imagem acerca de si próprio. escolhas pessoais do clínico, acerca do modo
Por outro lado, a incerteza diminui, sobretudo como utilizar esses conhecimentos, numa ques-
subjectivamente, com a acumulação de informa- tão significativa.
ções. Talvez por isso haja tendência para obter Além disso, os psicólogos não procuram
mais dados do que aqueles que são necessários. dados com uma objectividade completa: reinter-
No entanto, mesmo quando umá grande quan- pretam os dados de modo a aumentar a sua
tidade de dados é obtida apenas uma parte re- aparente consistência e desvalorizam a evidência
duzida é, habitualmente, utilizada na tomada que não corresponde às suas expectativas. O que
de decisões. Segundo Corbin (citado por arrasta uma vez mais o problema da confiança
Gambrill, 1990) esta acumulação parece ter uma excessiva nos seus julgamentos baseados em tais
função «auto-reforçante» uma vez que não é dados.
muitas vezes evidente como é que os dados Vemos assim que a avaliação psicológica cor-
adicionais poderão ser úteis na formulação das responde a um processo ou itinerário cujos me-
decisões mais correctas. Gambrill (1990) acres- canismos, regras e linhas de força são, por vezes,
centa: a própria informação em excesso reduz mais «psicológicos» do que lógicos ou racionais.
a consistência dos julgamentos. E Nisbett e Ross Os psicólogos, à semelhança do que acontece
(1980) concluem: a informação inconsistente, com as outras pessoas, não pensam racional-
não redundante é, potencialmente, mais infor- mente porque isso exige um esforço cognitivo
mativa do que a informação consistente mas excessivo, contentando-se com o uso de critérios
redundante. Neste contexto, Thrk e Salovey aceitáveis e de heurísticas ou estratégias de
(1986) referem ainda que a informação forte- simplificação que conduzem a «enviesamentos
mente redundante pode contribuir para a rigidi- cognitivos» (<<cognitivebiases») e, inevitavel-
ficação das expectativas e para o encerramento mente, à existência de erros.
prematuro da pesquisa de informação. Quer isto dizer que em termos de avaliação
Nesta linha, há um outro conjunto de variá- psicológica, não é apenas importante conhecer
veis susceptíveis de interferir nos processos de o funcionamento do cliente nem as característi-
julgamento e de tomada de decisões. Uma delas cas psicométricas dos métodos e instrumentos
é, habitualmente, designada por «confiança de avaliação utilizados na aquisição de dados.
excessiva» (<<overconfidence»).Uma das explica- Torna-se igualmente necessário um melhor con-
ções para o fracasso da avaliação psicológica hecimento acerca do modo como o processa-
reside no facto de não se ter acesso a toda a mento da informação, a mecânica e economia
informação. Existe também a ideia (e o senti- cognitivas (maneira de reduzir e simplificar os
I mento) de que a acumulação progressiva de fluxos de informação) operam, isto é, do modo

II
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- -. -----

como o funcionamento psicológico do clínico simplificadas de redução dessa informação,


afecta a avaliação psicológica. Como escreve habitualmente referidas como heurísticas. As
Holt (1970), «há mais para saber do que aquilo heurísticas são regras, princípios organizadores,
que é conhecido acerca dos métodos para aper- estratégias rápidas de julgamento inferencial e
feiçoar o julgamento.» de descoberta. Procuram uma economia de pro-
cessamento alcançando uma racionalidade sufi-
Este trabalho procura chamar a atenção para ciente com um mínimo de tratamento da infor-
a necessidade do psicólogo possuir um conhe- mação. São utilizadas em processos de julga-
cimento relativo a si mesmo: capacidades pesso- mento e tomadas de decisões, para resolver
ais, limitações na aquisição e no processamento, problemas em situações de incerteza ou de
muitas vezes mecanicistas, da informação. Mais ausência de informação importante. Ajudam-
especificamente, este trabalho procura identifi- -nos a organizar e a simplificar a informação
car e explicar, dum ponto de vista cognitivo e disponível, a formular inferências e a predizer
a partir da literatura publicada nos últimos tendo por base informação escassa e pouco
anos, alguns dos factores relevantes que interfe- fidedigna e, neste sentido, são susceptíveis de
rem na actividade de avaliação psicológica, ao enviesar ou distorcer o nosso julgamento e de
nível do funcionamento, dos processos mentais conduzir a erros (Kahneman & 1\rersky, 1982a
(sempre difíceis de explicitar ou de reconstituir), e 1982b; Sarbin, 1986; Thylor, 1982; Vasco &
dos comportamentos problemáticos e dos erros Garcia-Marques, 1992).
mais comuns associados às tarefas de julgamen- Kruglansky e Ajzen (1983) definem «enviesa-
to e tomada de decisão e, ainda, indicar algu- mento» (<<bias»)como «uma tendência para o
mas das soluções (regras de decisão) habitual- julgamento se desviar sistematicamente de um
mente propostas e orientadas para o aperfei- critério aceite de validade» (p. 18), «uma
çoamento do comportamento de avaliação psi- preferência subjectivamente fundamentada por
cológica. uma dada conclusão ou inferência em detrimen-
to de conclusões alternativas possíveis» (p. 19).
outra definição remete para um desvio a partir
11. DAS HEURfSTICAS E «ENVIESAMENTOS» de uma resposta normativa correcta (Gigerenzer,
AOS ERROS DE AVALIAÇÃO Swijtink, Porter, Daston, Beatty &. Kruger,
1989). Os «enviesamentos cognitivos» são defi-
Os psicólogos desenvolvem e mantêm um re- nidos como «erros sistemáticos, Le.,julgamentos
portório de estratégias de processamento da in- que se desviam sistematicamente duma norma
formação (heurfsticas, esquemas de conhecimen- ou critério aceite de validade» (Kruglansky &
to, representações cognitivas) que os ajuda a fIl- Ajzen, 1983) e podem funcionar como «tendên-
trar a informação que é observada, a organizar cias a distorcer». Por «tendências a distorcer»
a que fica registada na memória ou é susceptível entendem-se os processos ou estratégias cogniti-
de ser evocada e a elaborar as apreciações e vas subjacentes aos erros iriferenciais que os psi-
inferências que vão servir de suporte aos proces- cólogos cometem, devido ao uso incorrecto da
sos de avaliação, diagnóstico, prognóstico e informação disponível. São persistentes (daí a
intervenção psicoterapêutica. Estas estratégias possibilidade do seu estudo) e difusas, susceptí-
são usadas, muitas vezes, inconscientemente. veis de conduzir a graves erros inferenciais que
. Deste modo, os processos cognitivos do psicó- se reflectem nos processos de avaliação e inter-
logo constituem um elemento crítico de enorme venção terapêutica.
impacto na avaliação psicológica (e na interven- O erro pode ser definido a partir da «incon-
ção psicoterapêutica). Para Garb (1992) os pro- sistência entre uma dada hipótese, conclusão ou
cessos cognitivos do psicólogo e a caracterização inferência e uma crença solidamente sustentada»
do modo c~mo formula juízos podem ser des- (Kruglansky & Ajzen, 1983, p. 19), ou a partir
critos através de heurfsticas e enviesamentos. da contradição com aquilo que é prescrito por
Os instrumentos cognitivos através dos quais um modelo de desempenho optimal, ou a partir
analisamos e processamos a informação im- da existência de consequências indesejadas
põem, frequentemente, o uso de estratégias (Vasco & Garcia-Marques, 1992).

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- --
.. - - .-.

Os problemas que se podem levantar a estas veis. Por isso, é fundamental fazer a aprendiza-
definições são, por um lado, a ausência de um gem acerca das fontes de erro que afectam a
critério universal aceitável a partir do qual uma qualidade da avaliação e considerar formas de i
os minimizar. I
única solução ou decisão «correcta» p~de ser
derivada com certeza, de modo a tornar possível Poder-se-á extrair daqui uma outra lição: a I
I

a identificação de enviesamentos e erros natureza sistemática das heurísticas, das tendên- I

(Funder, 1987). Por outro lado, «o fracasso ou cias a distorcer e dos erros consequentes contra- I
I
mesmo a impossibilidade de especificar, de uma ria, aparentemente, a ideia ou a convicção de I
I
que para os psicólogos cada caso é único. I
forma não ambígua, o espaço do problema e os
Consideremos, então, num primeiro momen-
objectivos a alcançar. Ou seja, é difícil determi-
to, algumas fontes de erro no processo de
nar o que é um erro quando estão envolvidos julgamento e na tomada de decisão. Encontram- I

problemas mal-definidos (Keren, 1990, p. 527). i


-se neste caso, as «tendências confirmatórias»,
Segundo Faust (1986) «os erros ocorrem por- a «correlação ilusória», a «heurística da repre-
que as estratégias não são adequadas para os sentatividade», a «heprística da disponibilida- I

problemas sob consideração ou porque a com- de», o «erro atribucional fundamental», a «heu- I
plexidade da informação excede a nossa capaci- rística do carácter único», o «enviesamento da
dade cognitiva» (p. 421). Ou ainda, devido a previsão a posteriori» e o «efeito da regressão
défices de competência inferencial ou a «lapsos» estatística para a média». I

de desempenho inferencial (conhecimentos que Embora estas questões não sejam novas, elas I
estão disponíveis ma& não são utilizados). têm sido fortemente ignoradas encontrando-se
Os erros podem ocorrer em qualquer fase: sistematicamente ausentes dos manuais de ava-
na avaliação (na estruturação dos problemas, liação psicológica. Como se estas questões
no desenho das inferências; situar-se ao nível fossem informuláveis ou não importantes. Thrk
da descrição, do assumir de relações causais; e Salovey (1985) lembram que os dados que
resultam destes problemas são ameaçadores e
na classificação incorrecta do problema pacien-
que talvez por isso este esquecimento poderia
te), na intervenção (selecção de métodos de
traduzir uma resposta defensiva.
intervenção ineficazes) e no prognóstico (pressu-
por que os ganhos se vão manter, sugerir incor- 1. «Os enviesamentos confirmatórios»
rectamente a necessidade de terapia, a possibili- (<<confirmation bias») referem-se à «tendência
dade de suicídio ou da recorrência de compor- geral para codificar, processar e recuperar a
tamentos violentos). informação que é consistente com um esquema»
Para Nisbett e Ross (1980)os erros inferenciais (Thrk & Salovey, 1985, p. 7). Estão associados
sistemáticos podem corresponder ou a uma uti- a um trabalho quase instantâneo de elaboração
lização excessiva de certas estratégias inferenci- inicial das conceptualizações ou categorizações
ais, intuitivas e geralmente válidas (encontram- acerca dos clientes, tendo por base uma quanti-
-se neste caso as «tendências confirmatórias», a dade mínima de informação.
«heurística da disponibilidade» e alguns tipos Neste contexto, as primeiras impressões são
de «correlação ilusória» que à frente definire- extraordinariamente prevalecentes. Winnicot
mos) ou a um emprego mínimo de certas estra- (citado por Brusset, 1979) reconhece a impor-
tégias formais, lógicas e estatísticas (encontram- tância decisiva que a primeira entrevista tem,
uma vez que é aí que se formam as primeiras
-se a este nível, a «heurística da representativi-
impressões e as primeiras modalidades de com-
dade» e, por vezes, as «correlações ilusórias»
preensão de uma nova criança e de uma nova
conceitos definidos adiante).
família. Meehl (1960) p. ex., observa que «a
Pressupõe-se que o reconhecimento da exis- imagem do cliente», que os terapeutas arquitec-
tência destas heurísticas e enviesamentos, é tam nas primeiras quatro horas de terapia e,
susceptível de facilitar a aceitação e a de um modo particular, entre a segunda e quar-
compreensão dos erros e conduzir à sua dimi- ta sessão, se mantém praticamente inalterada
nuição. De qualquer modo, os erros são inevitá- ao fim de 24 sessões. E, num exemplo extremo

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conhecido, a partir de uma entrevista nImada, ções de correlação ou mesmo de causalidade
os terapeutas constroem, com frequência, im- entre duas classes de acontecimentos que não
pressões diagnósticas entre os primeiros 30 e estão correlacionados, ou estão correlacionados
60 segundos (Gauron & Dickinson, citados por numa extensão muito reduzida, ou estão corre-
Garb, 1989). lacionados na direcção oposta à comunicada
Os clínicos formulam hipóteses e categoriza-ou a sua correlação é acidental (Chapman,
ções muito rapidamente. Estas hipóteses inf- citado por Rock & cols., 1987; Chapman &
luenciam as suas expectativas depois da cate- Chapman, 1982; lVersky & Kahneman, citados
gorização inicial. E manifestam-se através de por Thrk & Salovey, 1986).
duas tendências complementares. Um exemplo conhecido destas covariações fic-
Por um lado, procuram e retêm de uma forma tícias é dado a partir de testes como o Desenho
selectiva e sistemática a informação ou dados da Figura Humana (ou o Rorschach), através da
adicionais consistentes que confirmem as suas associação entre sintomas clínicos, característi-
perspectivas, suposições, crenças, expectativascas da personalidade ou mesmo diagnósticos
e hipóteses iniciais, atribuindo-lhes, não raras
que seriam acompanhados por características
vezes, um peso excessivo, em detrimento da particulares do desenho elaborado pelo cliente
produção de novas formulações; neste contexto, (ou por respostas específicas). É neste contexto,
seleccionam questões e comportamentos que que à paranóia corresponderia o desenho de
oferecem evidência confirmatória para as suas uma figura humana com olhos grandes e es-
suposições. Por isso, as primeiras hipóteses são
tranhos, que a preocupação com a inteligência
mantidas à medida que os dados aumentam. estaria traduzida num desenho com. uma cabeça
Por outro lado, as crenças iniciais são resisten-
grande ou pequena, tendências masturbatórias
tes a informações posteriores, a novas evidências
seriam representadas por figuras com maõs atrás
e a alterações da evidência que conduziu a essas
das costas, preocupações quanto à masculinida-
crenças. Neste contexto, os clínicos mostram de seriam sugeridas pelo desenho de figuras
uma grande persistência diagnóstica (Rubin & musculadas; no caso das respostas ao Rorschach
Shoutz, 1960), ignoram, não prestam atenção, a observação de órgãos genitais acentuados nas
relativizam, desacreditam ou re-interpretam os manchas das lâminas corresponderia ao sintoma
exemplos negativos, a evidência conflitual e asde angústia em relação à impotência.
informações que contrariam as hipóteses que Paradoxalmente, Kurt e Garfield (citados por
defendem, incluindo aquelas que apresentam Achenbach, 1985).referem que este tipo de infe-
um potencial valor diagnóstico (Arkes, 1981) rências chega a ser formulado por psicólogos
e são incapazes de modificar estas hipóteses que manifestam cepticismo em relação ao valor
quando confrontados com dados contraditórios dos testes.
(Rock, Bransford & Maisto, 1987). Ou seja, na Fischohoff (1988) aponta possíveis razões para
recolha de dados parece haver mais interesse esta tendência para distorcer. Quando estes sin-
em confirmar suposições iniciais do que em tomas e características ocorrem conjuntamente,
explorar a exactidão dessas suposições. criam um «package» fortemente coerente na
Uma vez formulado, o julgamento inicial memória.
acerca da pessoa tende a ser usado como base Digamos que também aqui, se sobrestima a
para inferências posteriores, independentes da frequência das co-ocorrências ou o tamanho das
informação onde se baseou esse julgamento ini- correlações entre factores que se pensa estarem
associados e se subestima, potencialmente, o
cial (Carlston citado por Thrk & Salovey, 1985).
E como escrevem Houts e Galante (1985)o valor grau de covariação quando não se dispõe de
nenhuma ideia prévia acerca da relação entre
destes juízos iniciais é questionável uma vez que
diferentes terapeutas podem formar impressões dois ou mais factores. O que aqui se passa
muito diferentes acerca do mesmo cliente. frequentemente são fenómenos de covariação
aparente (e não verdadeiras covariações ou
2. Nas «correlações ilus6rias» (<<illusory correlações). Estes julgamentos reflectem aquilo
correlations»)encontram-seas situaçõesem que que deveria passar-se de acordo com os modelos
os psicólogos fazem interpretações ou atribui- e preconceitos teóricos ou semânticos, implícitos

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ou explícitos, ou com as expectativas subjectivas numa dada ocasião pode não ser representativo
dos psicólogos. As correlações aparentemente do seu comportamento em geral ou do seu esta-
observadas baseiam-se em simples associações do ou «performance» futuros. Podemos tam-
de ideias, muitas vezes semelhantes ao senso bém deparar com alguma indiferença em relação
comum, sem suporte empírico. Dito de outro aos dados normativos e às linhas de base, facto
modo: os psicólogos aprendem a ver aquilo que que habitualmente aumenta a possibilidade da
esperam ver. formulação de juízos clínicos que vão no senti-
O fenómeno da correlação ilusória parece do da patologização das observações acerca do
tornar-se mais pronunciado quando há mais sujeito.
informação a ser objecto de tratamento.
4. Os acontecimentos que ocorrem mais fre-
3. Fala-se de «heurística da representativida-
quentemente encontram-se mais disponíveis na
de» (<<representativenessheuristic») quando nos
memória de cada um. No entanto, a sua dispo-
referimos a apreciações relativas à probabilidade
nibilidade (facilidade de evocação a partir da
de determinada pessoa pertencer a uma deter-
memória) pode ser afectada por factores não
minada classe (p. ex., categoria nosológica) ou
relacionados com a frequência ou a probabili-
de determinado acontecimento poder ser pro- dade de ocorrência desses acontecimentos. A
gnosticado a partir de determinada sequência
de antecedentes. «heurística da disponibilidade» (<<availability
heuristic») entra em jogo quando as inferências
De acordo com Achenbach (1985) a heurística
formuladas - acerca da frequência ou probabi-
da representatividade pode afectar vários tipos lidade de um acontecimento ou resultado - são
de juízos clínicos: p. ex., é possível que a criança
excessivamente influenciadas por outros factores
A tenha um distúrbio X?, ou que o comporta-
. como a recordação selectiva de acontecimentos
mento A seja provocado pela condição X?, ou
anteriores (p. ex., casos clínicos com característi-
que o processo X possa ter como consequência
cas patológicas muito raras ou únicas, sucessos
o resultado A? Quando respondem a tais ques-
inesperados, fracassos). Esta recordação selecti-
tões os técnicos avaliam frequentemente a
va deve-se a características como a proximidade
probabilidade de acordo com o grau com que
sensorial, espacial ou temporal, a saliência
percebem A como sendo representativo de X.
perceptiva, a importância ou intensidade do
Nesta linha, a hiperactividade, p. ex., pode ser envolvimento emocional com o caso ou semel-
considerada como sendo um problema habitual
hanças na aparência física, maneirismos, etc.
ou um sinal verdadeiro de crianças com disfun-
Estas características estão assim mais disponíveis
ção cerebral mínima? O diagnóstico de depres-
e, por isso, exercem uma influência dispropor-
são pode ser prognosticado, isoladamente, a
cionada no processo de julgamento.
partir de um único indicador, como p. ex., um
resultado elevado na escala D (depressão) do Neste contexto, um exemplo: os dados abs-
M.M.P.I.? Note-se que estas inferências prediti- tractos (apresentados em relatórios de pesquisa
vas não são necessariamente correctas. empírica ou nas estatísticas das linhas-base)
Neste tipo de heurística confunde-se a amos- podem ser menos valorizados do que a expe-
tra (p. ex., o cliente) com a população e o efeito. riência isolada, concreta e particular com casos
com causa (entre várias causas alternativas opta- clínicos bizarros aos quais é prestada uma
-se pela mais semelhante ao efeito). Assim, sub- atenção excessiva. A sua frequência e importân-
jacente ao emprego desta heurística podemos cia podem, por isso, ser sobrestimadas e a
encontrar várias situações. Por exemplo, a insen- informação estatística relevante que contradiz
sibilidade ao tamanho das amostras que resulta um exemplo único conhecido pode ser ignorada.
do fracasso em reconhecer os limites da genera- O que aumenta a possibilidade de inferências
lização das observações formuladas a partir de clínicas inexactas.
amostras reduzidas, frequentemente não repre- Confunde-se aqui a frequência ou probabili-
sentativas de uma pessoa com base numa única dade real (p. ex., prognosticar a probabilidade
entrevista ou fonte de dados. Neste caso, o de um cliente se tornar perigoso ou cometer
comportamento ou desempenho duma pessoa suicídio) com a facilidade de acesso cognitivo

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__ _.u _ _ _._ ___ __ _

(p. ex., um caso anterior que selectivamente se deve igualmente ser considerada: p. ex., dados
recorda). relativos a grupos ou amostras mais amplas e
A heurística da disponibilidade pode conduzir representativas da população à qual o sujeito
a alguns erros sistemáticos de julgamento como pertence.
deixar escapar aspectos dos novos casos que di-
ferem dos casos anteriores em troca de semel-
7. O «enviesamento da previsão a posteriori»
hanças superficiais, ou não conseguir ver (<<hindsight bias») descreve a tendência para
semelhanças com casos menos disponíveis e, assumir depois do conhecimento de um aconte-
ainda, enviesar as estimàtivas e predições com cimento ou dos seus resultados, que estes são
base em acontecimentos mais intensos mas não
inevitáveis e poderiam ter sido facilmente
mais representativos. prognosticados: «verificar que um resultado
Resta acrescentar que quanto mais ambíguos ocorreu aumenta a percepção da sua possibili-
são os dados, mais as descrições são influencia- dade» (Fischhoff citado por Garb, 1989). Por
das por ideias preconcebidas porque são estas isso, esta tendência serve para explicar qualquer
que estão mais facilmente disponíveis. comportamento do paciente. E corresponde
muitas vezes a uma racionalização de argumen-
S. Num outro erro comum, designado por tos e ao interesse em «construir um caso», mais
«erro atribucional fundamental» (<<fundamental do que em avaliar todas as possibilidades e, em
error of attribution»/«dispositional bias») os particular, a evidência contra e a favor de um
psicólogos manifestam tendência para esquecer argumento.
(ou subestimar) a influência das variáveis situa-
cionais na determinação do comportamento do 8. É também necessário considerar a possibi-
cliente (mesmo quando ele faculta essa informa- lidade de artefactos estatísticos constituirem a
ção) e para valorizar excessivamente determinan-
explicação mais plausível para os dados. Neste
tes internas, disposições ou características contexto, o «efeito da regressão estatfstica para a
pessoais como p. ex., atitudes, capacidades, média» é muitas vezes ignorado. Refere-se à
traç~s de personalidade, necessidades incons- «tendência» para desempenhos ou acontecimen-
cientes, mecanismos de defesa, fantasias, confli-
tos extremos serem seguidos por desempenhos
tos, identificações, tendências patológicas, etc. ou acontecimentos menos extremos. Por exem-
Os próprios diagnósticos encorajam atribui- plo, num reteste, os resultados mais elevados
ções relativas a características pessoais. O tendem a diminuir e os resultados mais reduzi-
comportamento do sujeito encontra-se mais fa- dos tendem a subir. Ou seja, quanto mais ex-
cilmente disponível ou visível quando se pensa tremos são os comportamentos de um indiví-
acerca de causas. A causa e o «locus» dos duo, maior a probabilidade deles serem seguidos
problemas são atribuídos ao cliente (e não a por comportamentos mais «típicos» ou «mé-
acontecimentos ambientais ou à interação entre dios». Assim, podemos concluir, erradamente,
factores pessoais e ambientais). que a intervenção ajuda os que obtêm resultados
mais baixos (mas não os que obtêm resultados
6. A «heurfstica do carácter único» (<<unique- mais elevados). Por outras palavras: os prognós-
ness or preciousness heuristic») caracteriza-se ticos baseados em comportamentos extremos
pelo acentuar da confiança no carácter único são susceptíveis de serem errados.
e singular dos casos individuais: «Nós não O efeito da regressão estatística para a média
lidamos com grupos mas com casos únicos» pode constituir uma explicação para muitos dos
(Meehl, 1982). E a neglicenciar os dados relati- casos que desistem das sessões psicoterapêuticas
vos às distribuições, aos elementos comuns. Para ou não aparecem para entrevistas que inicial-
Thrk e Salovey (1986) o pressuposto errado nesta mente marcaram; além disso, é possível que os
heurística reside na ideia de que a probabilidade casos onde os pedidos de ajuda são formulados
lógica não se aplica a casos individuais. Embora pelo próprio sujeito corres podam a situações
cada cliente seja único em muitas características, onde os sintomas são mais severos (1brk &
há sempre alguma informação estatística que Salovey, 1986).

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ir
m. SOWÇÕES que os técnicos com mais experiência concen-
tram-se nas características patológicas do cliente
Não é aceitável apontar problemas sem re- e evidenciam as limitações deste para a mudan-
conhecer as alternativas disponíveis. Por isso, ça. Por outras palavras: a experiência não cons-
impõe-se agora, tendo em conta os limites e a titui um critério seguro para avaliar a «capaci-
natureza incontornável da actividade de avalia- dade para formular bons juízos». Esta não é
ção psicológica e dos processos de julgamento uma «capacidade geral», ou um «traço», que
e de tomada de decisão, esboçar algumas das os psicólogos tenham ou não. Thl capacidade,
propostas orientadas para o seu desenvolvimen- considera-se, depende dos conhecimentos pre-
to e aperfeiçoamento (cf. Arkes, 1981; Faust, viamente adquiridos, de tipos específicos de
1986; Faust & Nurcombe, 1989; Fischhoff, 1982; informação adequados à tarefa de avaliação
Gambrill, 1990; Garb, 1989; Nisbet & Ross, psicológica e aos problemas apresentados pelos
1980; Overholser & Fine, 1990; Rock & cols, clientes e, ainda, do contexto de avaliação.
1987 e 1988; Thrk & Salovey, 1985 e 1986; Mas, o nivel de experiência profissional, habi-
Wiggins, 1981). tualmente medido em anos de experiência, cons-
Antes de mais é necessário reconhecer a inevi- titui uma medida imprecisa, uma vez que não
tabilidade dos erros e a impossibilidade de os tem em conta os conhecimentos específicos.
eliminar completamente (p. ex., a aleatoriedade Assim entendida a experiência, por si só, não
no prognóstico é inevitável, há muito poucas oferece uma orientação ou uma representação
situações preditivas que justificam uma confian- mais adequada do problema e não conduz, ine-
ça extrema). Podemos apenas minimizá-Ios. vitavelmente, a um melhor desempenho. Por
Consideremos então algumas das linhas de isso, o rigor da avaliação psicológica não
comportamento habitualmente sugeridas e que depende necessariamente da experiência, a não
podem constituir um programa no trabalho de ser que esta seja conceptualizada ao nível dos
avaliação psicológica. conhecimentos especializados em relação a uma
tarefa específica: por exemplo, anos de prática
1. Se o psicólogo não tiver conhecimento e intensiva com determinado teste, não apenas
consciência da acção das heurísticas, enviesa- com o Rorschach mas, também mesmo, com
mentos e erros ele será menos capaz de contra- instrumentos mais simples como é o caso do
riar ou corrigir essas influências. Supõe-se que teste gestáltico visuo-motor de L. Bender.
a informação e o treino acerca dos factores que
influenciam o julgamento poderá aumentar a 3. Por isso o treino ideal deverá envolver ma-
consciência e o controlo desses factores e, por teriais, tarefas e estratégias de processamento
isso, melhorar a exactidão do julgamento. Mas da informação, que sejam representativas dos
a consciência, apenas, não altera os «enviesa- tipos de problemas que os psicólogos poderão
mentos», nem elimina os erros. encontrar na sua prática profissional.
A simples explicação do que é um «enviesa- Para saber o que há para aprender é útil ter
mento» ou uma heurística, e o pedido para não oportunidades para observar, pormenorizada-
ser influenciado na avaliação por estes tipos de mente, os supervisores a trabalhar com clientes,
tendências, constitui uma técnica ineficaz. Por a «pensar em voz alta» (<<thinkingaloud») acer-
outras palavras: a familiaridade com as fontes ca dos casos individuais específicos, a explicar
de erro (que comprometem a qualidade das de- os seus conhecimentos, as suas formulações e
cisões) não é suficiente. prognósticos. Encorajá-los a tornar explícitas
as suas suposições e a descrever o seu pensa-
2. A experiência profISsional é uma outra va- mento, o seu processo de raciocínio e a partilhar
riável importante. O treino ou formação e a a informação acerca do modo como chegaram
experiência profissional parecem estar positiva- às decisões (<<raciocínioclínico em acção») pode
mente relacionados com a capacidade para es- alertar para «enviesamentos» e erros nas formu-
truturar os problemas. Mas isto não é inteira- lações e conclusões tornando possível a determi-
mente claro. Contrariando um pouco aquela nação da sua plausibilidade. Principal problema:
ideia, Wills (citado por Gambrill, 1990) refere os supervisores reconstroem frequentemente o

260
u ___

seu processo de pensamento, não o descrevendo útil discutir razões ou argumentos a favor e
tal como ele ocorreu. A reconstituição do contra as várias hipóteses diagnósticas ou cursos
processo de pensamento é difícil uma vez que de acção possíveis; prestar atenção à informação
ele é frequentemente interno e automático. negativa, sem a omitir ou desvalorizar e testar
Apesar de tuso, esta estratégia poderá permitir explicações de forma sistemática evitando o
tomar consciência do próprio pensamento e fechamento prematuro relativamente à procura
«desautomatizar» os processos de decisão. de informação. Ou seja: uma consideração equi-
A exposição directa e prática a situações librada das várias perspectivas pode reduzir o
concretas, as oportunidades para praticar, em impacto das formulações teóricas subjacéntes
detrimento da simples apresentação de informa- às hipóteses iniciais.
ção abstracta, servem para <<vacinar»o técnico Muitos destes enviesamentos resultam do
contra algumas fontes de erro mais persistentes. facto de se pensar muito pouco acerca do signi-
Segundo Thrk e Salovey (1986) a «inoculação de ficado dos comportamentos e do encerramento
enviesamentos» (<<bias inoculation») corres- prematuro da pesquisa. Ainda no sentido da
ponde à situação na qual o clínico é «injectado» monitorização da prática considera-se necessário
com uma quantidade reduzida de um «vírus» o desenvolvimento de aptidões para a avaliação
com o objectivo de construir a «imunidade»: de problemas, através da colocação de questões,
através da introdução de doses reduzidas de o que corresponde à produção e avaliação de
informação e da exposição directa a situações outros cenários plausíveis: (1) «O que é que eu
que constituem oportunidades para cometer preciso de saber aqui?»; (2) «qual a exactidão
erros e com a subsequente possibilidade de dos relatos dos clientes?»; (3) «é isto verdade?»;
análise de casos e do feedback que é proporcio- «há alguma evidência de que isto é verdadeiro?»;
nado. (4) «quais são as minhas hipóteses acerca das
A possibilidade de obter um feedback imedia- causas do problema deste cliente?»; (5) «o que
to e pormenorizado relativo à exactidão dos jul- é que falta?»; (6) «que hipóteses alternativas
gamentos, sobre os próprios sucessos e fracassos podem explicar os dados?», «em que medida os
na utilização da informação, é uma outra solu- dados não podem ser explicados de outro mo-
ção. No entanto, o feedback nem sempre está do?», «o que poderia ter sido», «existe informa-
disponível, e não é uma medida necessariamente ção discrepante?» «E se...»; (7) «que dados
correctiva, pode ser enganadora, uma vez que seriam necessários para falsificar as minhas
pode estar ele próprio enviesado. Nestes casos, hipóteses iniciais?»; (8) «que informação não
os psicólogos devem confiar mais no seu treino está presente e que seria de esperar em função
(a informação empírica encontrada na literatura) da veracidade da minha hipótese?»; (9) «Como
ou num auxiliar de tomada de decisão (p. ex., é que posso dividir o problema em partes redu-
um programa de computador). zidas?» (decomposição do problema - juízos
Por outro lado, facultar certos tipos de analíticos não são menos clínicos e são geral-
informação aos técnicos (ou alunos) não é mente melhores do que juízos globais e difusos
suficiente para garantir o seu uso. (Rolt, 1970); (10) «qual a técnica de intervenção
mais eficaz?»; (11) «quanto tempo se deve man-
4. Uma outra solução passa por pensar a ter o apoio psicoterapêutico de modo a mantêr
actividade de diagnóstico em termos mais pro- os ganhos?». Estas questões, reconhece-se,
babilisticos e menos deterministas através da constituem uma demonstração evidente da natu-
monitorização da prática duma forma sistemáti- reza probabilista da prática psicológica, quer
ca. nas fases de avaliação, quer nas fases de
Sabe-se que apenas um número limitado de intervenção.
hipóteses pode ser considerado de cada vez. E
que são as hipóteses mais gerais aquelas que 5. O juízo clínico também não deve depender
tendem a ser retidas. Convém não esquecer que apenas da intuição. Esta não implica, necessa-
uma importância exagerada pode ser atribuida riamente, uma mudança do comportamento
a algumas conclusões ou resultados para justifi- (Bandura, 1977). Thrk e,Salovey (1986) conside-
car a retenção da hipótese favorita. É por isso ram que para mudar o comportamento (os erros

261

-
e os enviesamentos, neste caso) é necessário ter diagnóstica tendem a não ser recordados como
uma comprensão/conhecimento, quer dos prob- estando presentes.
lemas, quer das estratégias alternativas, bem Por isso propõe-se uma outra sugestão que
como, confiança na capacidade para fazer uso vai no sentido de diminuir a confiança na me-
de várias aptidões/competências. Convém aqui mória. A capacidade da memória é limitada. A
distinguir entre capacidade e performance: pos- informação armazenada não é permanente mas
suir capacidade não assegura um desempenho modificada à medida que nova info.rmação é
competente (Jensen, 1979). Nas palavras de introduzida. A memória é falível nos seus
Jonhson-Laird (1983) o simples conhecimento processos de evocação: os sintomas relevantes
e a posse das regras de inferência não significa em termos diagnósticos são mais susceptíveis
que elas sejam utilizadas. de serem recordados, informações isoladas são
Para afectar o comportamento, o conhecimen- mais susceptíveis de distorção. Confiar menos
to declarativo (relativo aos conteúdos, aos factos na memória, devido à sua sobrecarga (quando
relacionados com um método de avaliação, com há excesso de informação) e porque se trata de
um domínio ou tipo de problema, «saber o um processo cognitivo tão falível como qualquer
quê») deve ser transformado em conhecimento outro (recorde-se o seu carácter reconstrutivo)
procedimental (Le. «saber como» implementar poderá aumentar a exactidão das avaliações.
os conhecimentos apropriados em" função do
problema apresentado) (Anderson, 1983). Trata- 7. Uma das melhores maneiras para compre-
-se de favorecer uma aprendizagem activa: ender um caso e contrariar os erros devidos a
aprender não apenas o quê mas, também, como. lapsos de memória supõe o registo e a consulta
O conhecimento declarativo é insuficiente. É das linhas-de-base, passa por tentar comunicar
necessátio possuir um conhecimento procedi- a sua compreensão através da escrita (p. ex.,
mental. No entanto, e por melhor que seja a mantêr uma caderneta ou um diário com regis-
formação a estes níveis, é provável que ela seja tos, regularmente revistos, dos progressos e as
sempre insuficiente. consequências de decisões específicas). Escrever
exige uma descrição dos acontecimentos, a apre-
sentação de posições e a formulação e justifica-
6. Arkes (1981) adverte: devido aos enviesa- ção de inferências.
mentos confirmatórios os psicólogos tendem a Outras recomendações passam: pelo desenvol-
recordar-se dos dados que suportam as suas vimento de algoritmos para apoiar a tomada
hipóteses. Um caso pode fazer recordar um de decisões, ou pela divisão de uma folha de
outro caso e isso influenciar as expectativas do papel (folha de balanço) em duas colunas, com
psicólogo. Uma das razões porque não se razões a favor e contra uma hipótese ou uma de-
,i';i aprende com a experiência é precisamente por- terminada decisão e com a estimação dos res-
que as memórias são imperfeitas e os aconteci- pectivos pesos. Os diagramas e gráficos são ou-
mentos não são recordados com exactidão. Por tros instrumentos úteis na compreensão dos
outro lado, a formulação de um diagnóstico problemas: desenhar um gráfico das relações
influencia o nosso reconhecimento posterior dos supostas entre dois acontecimentos (ou formular
sintomas. Os técnicos podem recordar-se de um uma tabela de contingência) pode ajudar a iden-
paciente manifestar um sintoma específico - tificar possibilidades alternativas. As árvores de
apesar dele não estar presente - porque esse estruturas (<<treestructures») também podem
sintoma ocorre habitualmente com pacientes ser utilizadas para descrever relações entre
com aquele diagnóstico. Do mesmo modo, pode diferentes variáveis.
haver esquecimento de um sintoma específico
- apesar de estar presente - porque ele habi- 8. Uma outra recomendação vai no sentido
tualmente não ocorre com pacientes com esse de prestar atenção a causas de natureza ambien-
diagnóstico. Ou seja: sintomas não presentes tal. A influência das variáveis ambientais é
mas consistentes com o diagnóstico tendem a frequentemente desvalorizada, daí resultando
ser recordados como estando presentes e sinto- uma selecçãoinadequada dos métodos de inter-
mas presentes mas inconsistentes com a hipótese venção/modificação dos comportamentos. De-

262
senvolver o domínio da análise contingencial ções são frequentemente omitidas, tanto mais
supõe a identificação das relações entre aconte- que sentimentos subjectivos de controlo são for-
cimentos ambientais ou características do meio talecidos pela crença de que as outras pessoas
que influenciam o comportamento dos outros e são consistentes nos seus traços de personali-
o comportamento do sujeito; implica estar aten- dade e no seu comportamento e, deste modo,
to aos factores situacionais, aos contextos em mais previsíveis.
que os comportamentos ocorrem, antes de che-
gar a conclusões relativas às características da 9. Convém prestar atenção às fontes de incer-
personalidade ou às disposições psicológicas dos teza: do seu reconhecimento e das iniciativas
clientes, mesmo que estas últimas se baseiem desenvolvidas no sentido de as reduzir poderão
em comportamentos manifestos; presume que se advir consequências que possibilitem avaliações
evite ficar apenas pela avaliação da personali- mais exactas e decisões mais eficazes. Neste
dade e pelo uso exclusivo de técnicas projectivas sentido, deve-se procurar obter tanta informação
ou de inventários de auto-resposta (que encora- quanto possível, através do recurso a amostras
jam o «enviesamento» que se traduz pela acen- representativas dos comportamentos, do recurso
tuação daquilo que é relativo às características a vários métodos de avaliação e a vários infor-
do sujeito). madores, e sugere-se a necessidade. de pesquisar
Para a compreensão destes problemas deve- o que é comum aos vários casos (e não apenas
mos reconhecer que as expectativas de consis- sobrestimar o que é único ou singular em cada
. tência do comportamento estimulam o desen- caso).
volvimento de alguns destes efeitos. Por
exemplo, no caso das «correlações ilusórias», 10. Podemos acresentar uma última linha de
está subjacente a tendência para assumir que comportamento que sob a forma de movimento
as pessoas se comportam de modo consistente compensatório sublinha a necessidade de uma
e de acordo com os seus traços de personali- maior prudência na formulação de juízos
dade, quando de facto as correlações entre definitivos acerca do sujeito e do problema. É
traços de personalidade e o comportamento são necessário lentificar mais o processo de
relativamente reduzidas (cf. Mischell, 1968). Os avaliação: resistir à pressa, à ligeireza e ao
psicólogos inferem com facilidade disposições voluntarismo mais ou menos precipitado que
pessoais e esperam consistência do comporta- impede o entendimento da tarefa de avaliação
mento em situações e contextos muito diversifi- como duração. Neste sentido, digamos que é
cados. E pressupõem que o comportamento é preciso tempo para observar melhor e pensar
mais consistente e estável do que aquilo que mais o conjunto potencialmente interminável
na realidade é. As razões deste erro possível, dos vários aspectos ou variáveis presentes no
de suposição de consistência do comportamen- comportamento e no(s) problema(s) do sujeito
to, residem no facto de observar-se os clientes, e a sua complexidade.
não a partir duma amostra representativa do
seu reportório comportamental mas, a partir.
de um número limitado de papéis e de situações IV. CONCWSÃO
(o de pacientes numa situação de consulta e
através de uma entrevista). A informação obtida Antes de se proceder a uma conclusão pro-
não é necessariamente representativa do seu priamente dita, é interessante considerar tam-
comportamento noutras situações. A especifici- bém as atribuições dos técnicos em relação aos
dade situacional (e a variabilidade temporal) dos resultados da sua prática, quando falham na
comportamentos são esquecidas. Além disso, a interpretação dos comportamentos e na avalia-
informação de natureza situacional proporcio- ção dos casos. Nos casos em que há sucesso
nada pelo cliente é, não raras vezes, desvalori- consideram que o êxito é resultado do seu
zada. Thdo isto encoraja o desenvolvimento de próprio esforço, capacidade e competência.
uma perspectiva patológica para os problemas Quanto aos insucessos, eles são atribuídos: à
do cliente. pressão do tempo para agir rapidamente (as
Por outro lado, as discrepâncias e as contradi- decisões são formuladas no breve espaço de

263

... lO

6
--. - - .u .._ ....

alguns minutos, com «pouco tempo para...»), tivo - com uma lógica, dinâmica interna e
tempo reduzido limita a quantidade da informa- mecanismospróprios - que corresponde a um
ção obtida (<<nãohá tempo suficiente disponível funcionamento automático, maquinal.
para conhecer tudo», mesmo que tudo pudesse Dito de outro modo. Há várias preocupações
ser conhecido), à impossibilidade de acesso a que é necessário reter. Já não apenas as relativas
toda a informação necessária/relevante, a um ao funcionamento do cliente que é necessário
caso inabitualmente difícil (<<qualquer um compreender, ou as relativas à qualidade psico-
fracassaria...») e à ausência de experiência e/ou métrica dos instrumentos utilizados que é
formação para trabalhar com um tipo específico importante salvaguardar. Já não apenas as preo-
de casos (Faust & Nurcomb, 1989; Gambrill, cupações associadas à influência das teorias
1990). (que determinam potencialmente a realidade ou
Ou então trata-se de um fenómeno de resis- o objecto que investigamos e a escolha dos
tência do cliente à mudança psicológica. Resis- métodos com que avaliamos) ou as preocupa-
tência por vezes considerada como regra ou ções concernentes àquilo que o sujeito não
comportamento inevitável. Neste contexto, a comunica, esconde ou omite mesmo involunta-
«resistência do cliente» pode apenas traduzir, riamente (por definição nunca se conta tudo,
no limite, a recusa em deixar-se estabilizar na nunca se sabe tudo). O essencial não está apenas
imagem de uma formulação de certos juízos nestas questões mas, também, na atenção quan-
acerca do problema ou daquilo que é necessário to à economia de processos de um funciona-
fazer, ou a rejeição das interpretações e das mento cognitivo, automático e não pensado dos
respostas prontas. psicólogos, pelo que se passa ~a sua cabeça
Função deste tipo de atribuições mais ou me- quando eles fazem avaliação psicológica. Neste
nos racionalizadoras que acompanham as situa- sentido, os vários tipos de heurísticas, enviesa-
ções de fracasso: no limite elas acentuam a mentos e erros de inferência, anteriormente
patologia e a falta de cooperação do cliente e explicitados, constituem variáveis importantes
desresponsabilizam os técnicos ajudando-os a a considerar. Eles permitem traçar um retrato
viver com as suas limitações e a preservar a sua das razões e motivações que determinam o
auto-estima. Mas não conduzem ao questiona- comportamento dos psicólogos na tarefa de
mento dos limites das técnícas, dos modelos e avaliação psicológica.
dos conhecimentos ou das rotinas psicológicas
utilizadas nas situações de avaliação que
favorecem, como tentámos mostrar, a ocorrência BIBLIOGRAFIA
de erros inferenciais. E, mais concretamente,
não incitam a interrogarem-se em relação à sua Achenbach, T.M. (1985). Assessment and taxonomy
«performance» quanto ao modo como se pro- of child and adolescent psychopathology.
cessa o seu conhecimento do outro. É evidente, California: Sage Publícations.
Anderson, J.R. (1983). The architecture of cognition.
no entanto, que este conhecimento não se faz
Cambridge, MA: Harvard University Press.
sem esforço ou sem dificuldades. Arkes, H.R. (1981). Impediments to accurate clínical
Digamos então que há uma relativa invisibili- judgment and possible ways to minimize their
dade, talvez mesmo uma razoável incapacidade impacto Journal of Consulting and Clinical
de entendimento dos psicólogos em relação às Psychology, 49: 323-330.
tarefas de avaliação psicológica. Há uma Bandura, A. (1977). Social learning theory.
enorme pressa em compreender. E não há cons- Englewood CHfs, New Jersey: Prentice-Hall.
ciência de que existe um «tempo de não com- Brusset, B. (1979). De la pratique clínique à la
preensão» que não poderá nunca ser eliminado. pratique statistique. Psychiatrie de l'Enfant, 22:
519-530.
E há uma lógica dos erros que é possível (e
Chapman, L. & Chapman, J. (1982). Thsts results are
necessário) compreender através da ideia de what you think they are. In Judgment under
«mecânica» da avaliação psicológica, no sentido uncertainty: Heuristics and biases (D. Kahneman,
em que esta se transforma, muitas vezes, numa P. Slovic & A. 'IVersky, Eds.). Cambridge: Cam-
actividade de rotina cujo movimento ou fio bridge University Press.
condutor remete para um funcionamento cogni- Faust, D. (1986). Learning and maintaining rules for

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265

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Vasco, A.B. & Garcia-Marques, L. (1992). Thdo aqui- l'itinéraire du raisonnement du psychologue et à
lo que você sempre quis saber sobre a acuidade déceler les lignes (implicites) qui structurent sa
de algumas das «profecias» de Kurt Lewin, mas démarche d'evaluation.
tinha medo de perguntar. Psicologia, 8: 279-293. On présente quelques exemples de ces distortions:
Wiggins, 1.S. (1981).Clinical and statistical prediction: la «corrélation illusoire», le «bias de la representati-
Where are we and where do we go from here? vité», le «bias de la disponibilité», le «bias confirma-
C/inical Psychology Review, 1: 3-18. toire» et «l'erreur de l'attribution fondamentale».
Finalment, on expose quelques unes des solutions
proposées qui sont orientées vers le perfectionnement
RESUMO du raisonnement lors de l'évaluation psychologique.

Os psicólogos ocupam uma parte importante do


seu tempo em tarefas de avaliação psicológica.
Este trabalho procura caracterizar algumas das ABSTRACT
questões colocadas pela existência de heurísticas,
enviesamentos e erros inferenciais na prática clínica,
Psychologists occupy an important part of their
em situações de avaliação psicológica. São referidas
work ín psychological assessment tasks. Psychologists
as variáveis que influenciam o funcionamento cogni-
are frequently asked to assess, diagnose and predict
tivo dos psicólogos no processo de aquisição e human behavior; and they are subject to a number
integração de dados e na formação e avaliação das
of biases that negatively influence the accuracy of
hipóteses. Neste contexto, são apresentados alguns
their clinical judgments.
exemplos de «heurísticas» e de «enviesamentos» que
conduzem a erros que intervêm no raciocínio clínico: This paper seeks to characterize cognitive heuristics
a «correlação ilusória», a «heurística da representati- and biases that may -lead to errors on psychological
assessment tasks.
vidade» e a «heurística da disponibilidade», o «envie-
samento confirmatório» e o «erro de atribuição lmpediments to accurate clinical judgment include:
fundamental». the «representativeness heuristic», the «availability
Fínalmente, são índicadas algumas medidas propos- heuristic», the «illusory correlation» and the «funda-
tas no sentido de minimizar o efeito dos erros e, por mental attribution error».
isso, orientadas para o aperfeiçoamento dos compor- Solutions or corrective measures that are likely to
tamentos de avaliação psicológica. improve judgment accuracy are discussed.

266

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