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Introdução
Apesar de a maioria dos países possuir leis e normas que definem o direito à acessibilidade em
áreas públicas a portadores de deficiência, sua implementação é ainda incipiente. Esta situação
se deve, tanto a fatores socioculturais - relativos à inclusão dos portadores de deficiência na
vida urbana - quanto à ausência de conhecimento específico por parte dos profissionais que são
I Veja John Gi11:Priorities for Technical Research and Development for Visually Disabíed Persons
Também, através dela, é possível conhecer as posições relativas no espaço ocupadas pelo
indivíduo em movimento. Para o processo de orientação - saber onde estarnos, e poder
escolher rotas possíveis para atingir metas - a visão fornece informação instantânea, através de
um processo de scanning, selecionando, enfocando e identificando elementos chave, ou seja,
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40: • •
rererenciais •••
espaciais taiS como tan martes, umrtes e hcoroas
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, rugares, acessos, carrunnos e
eventos.
Para os portadores de deficiência visual a informação obtida pela audição e sentido háptico
ganham importância a medida que a visão se faz ausente. A informação auditiva é uma das
principais fontes de informação sobre eventos e situações distantes, permitindo a extensão dos
limites físicos de percepção mais centrados no corpo do indivíduo, como o são o movimento
próprio, o tato e o olfato. Por exemplo, o ruído de trânsito informa sobre a presença de um
cruzamento antes de se atingir efetivamente o mesmo. Também a técnica de uso pendular da
bengala é mais dirigida à audição - através de reflexão sonora que informa sobre a qualidade
dos diferentes materiais e a presença de paredes e aberturas - do que à identificação de
obstáculos através do tato em áreas próximas.
Este artigo é uma reflexão sobre aspectos teóricos e metodológicos desenvolvidos em estudo
de caso referente à acessibilidade em áreas públicas centrais da cidade de Florianópolis. Tal
estudo tem como base consultaria realizada junto ao Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis, IPLlF, e faz parte da tese de doutorado do primeiro autor, a ser defendida na
Chalmers University ofTechnology, Suécia,
2, Desenho universal deveria ser entendido como o desenho que visa criar espaços que podem transformar-se
em lugares para todas pessoas e para cada uma, com suas diferenças biológicas, culturais, sociais e
econômicas
3, Acessibilidade para portadores de deficiência significa poder realizar ações desejadas, maximizando
competências e habilidades, diminuindo as dificuldades e barrreiras encontradas, permitindo participação,
igualdade e mais independência para uma vida normal,
I
Para resumir, podemos dizer que nossos sentidos trabalham como sistemas perceptivos
integrados, onde é difícil isolar as parcelas de informação recebidas, apesar de sermos
geralmente mais conscientes sobre informações visuais e sonoras. Se quisermos atenuar os
problemas- encontrados na percepção espacial de lugares na ausência ou redução da visão,
remos de compreender, em primeiro lugar, quais os principais problemas na obtenção de
informações sobre organização do espaço, eventos e qualidade de um lugar.
Consequentemente, estudos visando a' melhoria das condições de percepção espacial deveriam
centrar-se na análise e identificação dos elementos que informam sobre a organização dos
lugares, sua estrutura e conteúdo permitindo sua identificação. Assim, tanto podemos concluir
pela necessidade de acrescentar referenciais válidos como pela eliminação de obstáculos à
percepção de referenciais já existentes. Aumentar a percepção espacial para portadores de
deficiência visual não se trata então de 'traduzir' informação visual existente, mas de criar
.condições para que estes possam perceber a qualidade dos lugares, participar e atuar. É muito
importante observar que informações espaciais não se encontram apenas nas estruturas físicas,
e de que muitas vezes o que acontece no espaço - seus eventos dinâmicos- é mais importante e
afeta nossa percepção de forma marcante. Considerando o tipo de informação que é obtido
pelos canais de percepção na ausência da visão, são muitas vezes exatamente estes referenciais
dinâmicos que podem informar sobre o caráter, identidade e função de um lugar. 6
Para buscar soluções de desenho que permitam a melhoria da percepção de espaços públicos
para portadores de deficiência visual, é necessário então proceder à análise espacial dos
mesmos, identificando suas funções básicas, lugares e atividades e seus referenciais espaciais.
Para poder valorizar os elementos espaciais positivos já existentes, eliminando fatores de
perturbação e obstáculos, assim como para criar novas fontes de informação (através da
construção de novos referenciais, ou da utilização de mapas táteis e diagramas) primeiro temos
de saber o que valorizar, eliminar e/ou informar.
Para o 'jogo de palavras' é organizada uma lista bastante extensa, e não ordenada, de
elementos que podem ser encontrados em espaços públicos. Desta lista fazem parte: elementos
tradicionalmente
•...•......
-.... ,,- reconhecidos
..............•. .•..... como
....•.... referenciais válidos
.....,.... . ~- n<=lr::> orientacão
y-"'''''' ......,(paredes
y ...•. .t-'- _ nomes
,...... ...- de
ma, esquinas, meio-fio, etc.); palavras referentes à possíveis barreiras (postes, buracos,
tapumes); ........., e também outras "-+-............ de valorarão 'descon -_ <=I' (ônibus
_ _..........,........,
hpl'ir-! loias
'J
-e » restaurantes vento
v , ,
v •.•..•.•...•..•.•..•..•.••..•..••
Conclusões
As conclusões aqui apresentadas foram obtidas através de análises espaciais realizadas na área
central da cidade de Florianópolis, e da aplicação dos instrumentos acima descritos.
A primeira conclusão, mais genérica, refere-se à relação existente entre valorasses e o modo
de obtenção dos referenciais. Estes podem ser de três tipos:
As valorações não são exclusivas, e elementos espaciais podem pertencer a mais de uma
categoria simultaneamente. Por exemplo, postes de luz nas calçadas são ao mesmo tempo
barreiras como também podem atuar como referenciais menores (contar postes). Outra
informação muito importante é que a identificação de elementos espaciais e sua conseqüente
valoração depende, não só das condições de visão individuais, mas também do treino e
experiência espacial. Isto é verdade não só para pessoas com problemas de visão: o
conhecimento espacial é sempre um processo onde a experiência cumpre um papel
fundamental.
Em relação aos referenciais dinâmicos (objetos e eventos que mudam no tempo e no espaço)
estes são de dois tipos. Num primeiro grupo situam-se elementos da natureza (vento, sol) que
atuam para referendar e confirmar posições no espaço. O vento, ou 'ar', por exemplo, 'muda'
marcando esquinas. A presença de solou sombra auxilia na identificação de direções. No
entanto, dias muito ventosos prejudicam a obtenção de referenciais sonoros, tornando distantes
sons próximos. Os referenciais 'sonoros' mantém sua importância como identificadores de
eventos próximos ou 'distantes'. Assim, ruído de trânsito sinaliza esquinas, 'sonorizadores' nas
pistas para os veículos avisam sobre sua presença, e atividades diversas podem ser identificadas
pelo som emitido. Os referenciais olfativos parecem ocupar importância menor, atuando como
landmarks locais (por exemplo farmácias, padarias, etc.).
Valorados como extremamente negativos são todos aqueles elementos dinâmicos que, de
alguma forma, impedem o seguimento de rotas planejadas e alteram a direção do movimento.
Na ausência da visão, a importância que ocupa a memória espacial/temporal (planejamento da
rota), e o sentido de orientação do indivíduo durante o deslocamento (percebendo direção,
distância percorrida, ritmo, velocidade) são fundamentais para o sucesso do percurso. É fácil
perceber que qualquer alteração na disposição dos elementos espaciais memorizados (quanto à
sua posição ou seqüência) prejudicam a orientação por não coincidir com o trajeto planejado.
Alterações de direção, ou mesmo de velocidade, causados por obstáculos dinâmicos também
prejudicam a orientação, pois interrompem uma seqüência temporal de movimentos
memorizados. Dentre os elementos' dinâmicos apontados como negativos podemos citar,
principalmente, aqueles que trazem risco à segurança física (tapumes, buracos, expositores
,
co:n abas pontiagudas, camelôs) pois, além de constituírem barreiras físicas, mudam
co ....s..anternente de lugar, impedindo a sua memorização como obstáculos.
Tambérn negativos são os equipamentos e mobiliários urbanos mal posicionados (em excesso,
sem ritmo e ordenação) que reduzem as 'faixas' de percursos livres de obstáculos impedindo
seguir linhas (paredes e meio-fio) ou direções. Espaços e lugares de grande complexidade
espacial, como lojas de departamento e terminais urbanos, foram apontados como negativos,
principalmente por não possibilitarem a identificação de referenciais de forma independente.
Nos terminais urbanos: é impossível localizar os pontos de parada de ônibus e as informações
sobre percursos não são acessíveis (informação sonora, em braille, e mapas táteis). Nestes
locais a dependência de outros usuários se acentua assim como a falta de segurança.
Paradoxalmente, algumas lojas de departamentos foram consideradas positivas devido ao
atendimento especial que recebem por parte dos funcionários.
Podemos, então, concluir que estudos para avaliação da acessibilidade espacial para portadores
de deficiência visual deveriam incluir, além dos atributos já tradicionais de análise - número,
qualidade e localização de atividades fins; identificação de percursos e qualidade dos mesmos
(estrutura viária, qualidade da pavimentação); segurança e sinalização de cruzamentos;
identificação de landmarks; fornecimento de informação secundária e sua qualidade (nome de
ruas, mapas informativos, serviços de informações urbanas); disposição dos equipamentos e
mobiliários urbanos - o estudo de referenciais permanentes (landmarks compartilhados, limites
e bordas, lugares, acessos, ruas e caminhos) e dinâITÜcos (eventos, elementos naturais,
atividades de ma) em relação as suas possibilidades de identificação, exploração e tomada de
decisões de forma independente.
É interessante ainda notar que muitos dos elementos apontados como referenciais por
deficientes visuais também são utilizamos por pessoas de visão normal, influenciando a
percepção e uso do espaços urbanos, mesmo que de forma não <consciente' e objetiva. Estas
qualidades, problemas e atributos dos espaços urbanos vivenciados, deveriam ser consideradas
não só ao propor espaços mais acessíveis ao portadores de deficiência visual, mas na busca de
melhor qualidade espacial para todos cidadãos.
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