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DANIEL FONSECA NUNES E RICARDO GONÇALVES DOS SANTOS

ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS E DIAGNÓSTICO


ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO DE CONCRETO ARMADO

Artigo apresentado ao curso de graduação


em Engenharia Civil da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial
para a obtenção de Título de Bacharel em
Engenharia Civil.

Orientador: Dr Li Chong Lee B. de Castro

Brasília
2016

1
Artigo de autoria de DANIEL FONSECA NUNES E RICARDO GONÇALVES DOS SANTOS,
intitulado “ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS E DIAGNÓSTICO
ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO DE CONCRETO ARMADO ”, apresentado como requisito
parcial para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil da Universidade Católica
de Brasília, em (16/06/2016), defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo
assinada:

__________________________________________________

Prof. Dr. Li Chong Lee B. de Castro


Orientador
Curso de Engenharia Civil – UCB

__________________________________________________

Prof. MSc. Carlos Henrique de Moura Cunha


Examinador
Curso de Engenharia Civil – UCB

Brasília
2016

2
DEDICATÒRIA

Dedicamos esse trabalho à Deus, à nossas


famílias e amigos por todo o suporte
prestado nessa jornada acadêmica e aos
professores que tornaram possível a
realização desse sonho.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus, que sempre nos manteve firmes durante essa longa
caminhada.

Ao Professor Li Chong Lee pela orientação, dedicação, paciência, incentivo e,


principalmente, pelas valiosas sugestões e ensinamentos transmitidos.

Aos professores da Universidade Católica de Brasília, pela oportunidade em compartilhar


seus conhecimentos, auxiliando no desenvolvimento das atividades no decorrer do curso.

Não podemos deixar de agradecer aos nossos queridos pais e irmãos, que presenciaram
diariamente nossos esforços e estudos nos incentivando, e por todas as demonstrações de
amor, que de certa forma contribuíram para nossa conclusão acadêmica.

As nossas namoradas, pela paciência, carinho e apoio.

Aos colegas do Curso, foi muito bom ter compartilhado experiências esses anos.

A todos os que não foram citados, mas contribuíram de alguma forma neste trabalho.

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ESTUDO DE CASO: ANÁLISE DE PATOLOGIAS E DIAGNOSTICO
ESTRUTURAL EM EDIFICAÇÃO DE CONCRETO ARMADO

DANIEL FONSECA NUNES E RICARDO GONÇALVES DOS SANTOS

RESUMO

O presente estudo foi realizado em um edifício com estruturas em concreto armado


que se encontra inacabado e abandonado por aproximadamente dez anos localizado na
cidade do Riacho Fundo I, Distrito Federal. Em seu projeto, o prédio apresenta subsolo de
garagem, um primeiro pavimento de lojas comerciais e, nos andares superiores,
apartamentos domiciliares. Entretanto, por falta de investimento, somente as três primeiras
lajes foram executadas. O trabalho tem por objetivo constatar, analisar e buscar uma
solução para as patologias existentes, verificar se a execução das peças estruturais está de
acordo com os projetos e sua aptidão para receber os esforços para o qual foi projetado. No
decorrer do projeto, após observações iniciais, notaram-se algumas patologias já esperadas,
então se tornou objeto desse estudo as suas causas e consequências. A maior parte das
patologias foi causada por infiltração de água que ocorria frequentemente no prédio,
ocasionando danos graves a edificação. Ao final, chegou-se ao entendimento de condutas
para a recuperação estrutural, que foi apresentada levando em consideração estudos dos
geradores das patologias, com o objetivo de reparar, cessar ou reduzir as causas detectadas.
A conclusão da analise estrutural do edifício foi que o mesmo apresenta sérios problemas
de instabilidade no eixo x, quando analisado somente as lajes existentes, e com a projeção
dos demais pavimentos, de acordo com o projeto, essa instabilidade fica ainda mais
acentuada, inviabilizando a estrutura de imediato com alto risco de colapso.

Palavras-chave: Concreto armado, patologias, diagnóstico estrutural.

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CASE STUDY: ANALYSIS OF PATHOLOGY AND DIAGNOSTICS IN
STRUCTURAL BUILDING OF CONCRETE

DANIEL FONSECA NUNES E RICARDO GONÇALVES DOS SANTOS

Abstract:

This study was conducted in a building with structures in reinforced concrete that
is unfinished and abandoned for about ten years located in the city of Riacho Fundo I,
Federal District. In his design, the building has garage basement, a first floor shops, and on
the upper floors, residential apartments. However, due to lack of investment, only the first
three slabs were executed. The study aims to observe, analyze and solve existing
conditions, verify that the implementation of structural parts is according to the projects and
their ability to receive the efforts for which it was designed. During the project, after initial
comments were noted some pathologies have expected, then it became the object of this
study its causes and consequences. Most diseases were caused by water seepage which
often occurred in the building, causing serious damage to the building. In the end, we came
to the understanding of behavior for structural recovery, which was presented taking into
account studies of the generators of diseases, in order to repair, terminate or reduce the
causes identified. The completion of structural building analysis was that it presents serious
instability problems on the x axis, when only analyzed the existing slabs, and the projection
of the other floors, according to the project, this instability is even more pronounced,
making it impossible to immediately structure with a high risk of collapse.

Keywords: reinforced concrete, disease, structural diagnosis.

6
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO………………………………………………...…………………..9
1.1.OBJETIVOS GERAIS……………………………………………………………10
1.2.OBJETIVOS ESPECÍFICOS………………………………………………........10
1.3.JUSTIFICATIVA…………………………………………………………………11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………..……………………………….11
2.1.CONCRETO ARMADO……………………..…………………………………..11
2.1.1. DURABILIDADE………………….…………………………………………12
2.2.DIAGNOSTICO…………………………………………………………………..12
2.3.PATOLOGIA……………………………………………………………………..14
2.3.1. FORMAS PATOLÓGICAS ABORDADAS……………………….………..15
3. METODOLOGIA…………………………………………………...……………17
4. ESTUDO DE CASO………………………………………………………………18
4.1.LOCAL E HISTORICO DO ESTUDO DE CASO…………………….….........18
4.2.DIAGNOSTICO DE PATOLOGÍAS…………………………………...……….18
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES……………………………...………..27
6. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………………...………30

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – DESEMPENHO DE UMA ESTRUTURA EM FUNÇÃO DE


FENÔMENOS PATOLÓGICOS..........................................................................15
FIGURA 2 – PLANTA ESTRUTURAL...............................................................19
FIGURA 3 – PLANTA COMPLETA BERICK...................................................20
FIGURA 4 – RESULTADS EBERICK DA ESTRUTURA ATUAL.................21
FIGURA 5 – PILAR COM ARMADURA EXPOSTA E CORROSÃO............22
FIGURA 6 – PILAR COM POSSIVEL CARBONATAÇÃO E CORROSÃO.22
FIGURA 7 – PILAR EFLORESCÊNCIA............................................................23
FIGURA 8 – VIGA COM EFLORESCÊNCIA E CORROSÃO........................23
FIGURA 9 – VIGA COM FALTA DE COBRIMENTO, ESPAÇAMENTO DA
FERRAGEM E CORROSÃO................................................................................24
FIGURA 10 – VIGA COM FALTA DE COBRIMENTO E CORROSÃO.......24
FIGURA 11 – LJE COM CONCRETAGEM INCOMPLETA..........................25
FIGURA 12 – LAJE DANIFICADA POR FOGO...............................................26

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1. INTRODUÇÃO

O estudo de caso apresentado neste projeto é uma exemplificação aprofundada de


algumas das diversas patologias existentes nas estruturas de concreto armado. Segundo
Lima (1998) as estruturas de concreto não são eternas, pois se deterioram com o passar do
tempo e não alcançam sua vida útil se não são bem projetadas, executadas com esmero,
utilizadas com critério e, finalmente, submetidas a uma manutenção preventiva.

O avanço contínuo do crescimento populacional, as descobertas de novas


tecnologias e a fixação dos pilares sociais em vertentes mais capitalistas têm feito da
construção civil um mercado em expansão, com obras maiores realizadas em tempos
sempre menores. Se por um lado isso traz resultados concretos e um avanço significativo
para a população, por outro os riscos agregados à essa prática seguem uma crescente
paralela e de igual intensidade.

A falta de qualificação profissional, de matéria prima de qualidade e a ausência de


tempo hábil para realização das etapas necessárias são fatores de risco para a realização de
uma construção com sucesso. Além da negligência, responsável por parte das falhas nas
construções das edificações, há ainda, o fator tempo que causa a deteorização das
construções e precisa ser avaliado em todas elas.

Souza e Ripper (1998) tratam do estudo das patologias na construção civil como
uma nova vertente: “Designa-se genericamente por Patologias das Estruturas” esse novo
campo da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de
manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de
degradação das estruturas.” Ou seja, ainda que antes houvesse o conhecimento acerca da
deterioração atuante das construções, não se estudava suas causas e consequências e, por
conseguinte, nem suas soluções.

Cerca de vinte anos após a popularização e o reconhecimento da necessidade de


instruir-se acerca dessa temática, os acadêmicos da área de construção civil veem a
importância de se aprofundar nesse assunto, e de conhecer a fundo o universo das
patologias nas edificações. Em virtude disso aplica-se nesse trabalho as causas,
consequências e soluções existentes nas manifestações patológicas encontradas no edifício
escolhido como seu objeto.
9
É importante ressaltar, ainda, que foram agregados conhecimentos acerca da
significação e conceituação das manifestações patológicas, explicando em termos leigos e
com exemplos cognoscíveis cada um dos problemas encontrados, a fim de melhor informar
e conscientizar o leitor da necessidade de atenção ao tema.

Por fim, explana-se acerca das etapas necessárias para a construção desse estudo.
A ideia original do projeto foi eleita após visita ao local escolhido juntamente com o
professor orientador e a constatação da riqueza de conteúdo bruto presente no local, além
da oportunidade de aprofundamento na temática. Nas primeiras inspeções ao local foi
possível atestar algumas dos problemas patológicos abordadas por já terem sido vistas no
decorrer do curso.

Entretanto, algumas outras ainda que notórias, exigiram estudos para


compreensão, domínio do tema e elaborações de possíveis reparos. Para que fosse possível
e concreto os aprendizados obtidos e que se diligencia por meio deste, buscou-se auxílio em
outros estudos de caso, livros e artigos, resultando nessa abordagem completa nos quesitos
causa, consequência e reparação das estruturas.

1.1 OBJETIVO GERAL

Este trabalho tem por finalidade estudar as manifestações patológicas de um


edifício no Riacho Fundo I e tornar viável a utilização do mesmo por meio de diagnósticos
propostos para recuperação da estrutura.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Realizar vistoria da obra, com levantamento do problema e do histórico do prédio.


Descrever a atual situação estrutural do edifício de concreto armado projetado para cinco
pavimentos. Identificar a origem e a natureza dos problemas patológicos encontradas.
Realizar um diagnóstico das manifestações patológicas constatadas. Estabelecer a melhor
conduta de intervenção para as inconformidades do caso em estudo.

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1.3 JUSTIFICATIVA

Baseado em dados da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, encomendada


pelo CAU-BR, a maioria das construções no Brasil são feitas sem o auxílio de profissionais
devidamente habilitados ou registrados nos conselhos regionais. Segundo a pesquisa, 85%
dos entrevistados dispensam a contratação de engenheiro ou arquiteto (CAU-BR, 2015).
Isso resulta em custos iniciais mais baixos, mas a médio e longo prazo esses custos se
elevam consideravelmente, devido a várias falhas na execução, falta de manutenção nas
estruturas, dimensionamento de estruturas, falta de projeto, mão de obra não qualificada,
entre outros. Segundo presidente do CAU-BR, Haroldo Pinheiro (2015) “É um engano o
cidadão imaginar que deixando de contratar o projeto vai economizar na reforma ou na
construção. O custo do projeto é um pequeno percentual da obra. ”

Este trabalho apresenta significativa importância, pois foi elaborado para auxiliar
profissionais da área de construção civil, em um estudo de recuperação de estruturas de
concreto armado e identificação de manifestações patologias, corrigindo erros de execução
e projeto de construções amadoras.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CONCRETO ARMADO

Chamamos de concreto armado a estrutura de concreto que possui em seu interior,


armaduras de aço, de acordo com a NBR 6118, elementos de concreto armado são aqueles
cujo comportamento estrutural depende da aderência entre concreto e armadura, e nos quais
não se aplicam alongamentos iniciais das armaduras antes da materialização dessa
aderência.

O Concreto Armado alia as qualidades do concreto (baixo custo, durabilidade, boa


resistência à compressão, ao fogo e à água) com as do aço (ductilidade e excelente
resistência à tração e à compressão), o que permite construir elementos com as mais
variadas formas e volumes, com relativa rapidez e facilidade, para os mais variados tipos de
obra (BASTOS, 2014)

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2.1.1 DURABILIDADE

Apesar de o concreto ser o material de construção mais consumido no planeta, o


conhecimento e divulgação das práticas construtivas adequadas não acompanharam o
crescimento da atividade de construção, ocasionando seguidos descuidos nas obras, e
reduzindo a capacidade do concreto em proteger as armaduras contra a corrosão. Com o
tempo, a tecnologia de fabricação do concreto foi avançando, com a melhoria das
propriedades dos aditivos, adições e ligantes, possibilitando uma redução significativa nas
seções das peças de concreto armado em função do aumento das resistências mecânicas
(FERREIRA, 2000).

Vasconcelos (2005), completa, afirmando que, a execução das obras não


acompanhou o avanço tecnológico. Para facilitar o lançamento do concreto em peças cada
vez mais estreitas e mais armadas, utilizou- se concretos mais fluidos e compostos com
materiais mais finos, resultando em um produto final de qualidade inferior.

Segundo a NBR6118, as estruturas de concreto armado devem ser projetadas e


construídas de modo que, sob as condições ambientais previstas e quando utilizadas
conforme preconizado em projeto, conservem sua segurança, sua estabilidade e sua aptidão
em serviço durante o período correspondente à sua vida útil, estabelecida pelo contratante.

Assim, observa-se a grande preocupação da qualidade do concreto, do projeto e de


técnicas, para que se obtenha uma durabilidade necessária, fator importante para diminuir o
risco de possíveis danos nos elementos.

As manifestações patológicas em edificações são os principais problemas que


comprometem a vida útil das construções. Dentre os tipos de patologias, destacam-se as
estruturais, sendo que as mesmas são objetos de estudo da presente pesquisa
(ARIVABENE, 2015).

2.2 DIAGNOSTICOS

O diagnóstico é, com certeza, a fase mais importante do processo. É ele que


definirá o sucesso ou fracasso da recuperação a ser adotada. Um diagnóstico equivocado

12
implicará em intervenções que não conseguirão curar a enfermidade, e ainda dificultarão
análises e estudos futuros, além do inútil gasto de dinheiro LAPA (2008).

Em alguns casos, é possível se fazer um diagnóstico das falhas das construções


apenas através da visualização. Entretanto, em outros casos o problema é mais complexo,
sendo necessário verificar o projeto, investigar as cargas a que foi submetida à estrutura;
analisar detalhadamente a forma como foi executada a obra e, inclusive, como esta
manifestação patológica reage diante de determinados estímulos. Dessa forma, é possível
identificar a causa destes problemas, corrigindo-os para não se manifestarem novamente
(ARIVABENE, 2015).

Segundo Lapa (2008), quanto mais cedo a enfermidade for detectada, menor terá
sido a perda de desempenho, e mais simples e barato será o tratamento. Sitter (1983)
completa dizendo que, adiar um tratamento significa aumentar os custos numa progressão
geométrica de razão igual a cinco (regra dos cincos).

Um método disponível e conhecido para se diagnosticar falhas nas construções é o


método de Lichtenstein (1985) que compreende três partes: i) o levantamento de subsídios;
ii) o diagnóstico da situação e iii) a definição de conduta.

O levantamento de subsídios é a etapa onde as informações essenciais e suficientes


para o entendimento completo das manifestações patológicas são organizadas. Estas
informações são obtidas através de três formas: vistoria do local, levantamento do histórico
do problema e do edifício e o resultado das análises (LICHTENSTEIN, 1985).

Lichtenstein (1985) afirma que o processo de diagnóstico da situação constitui na


contínua redução da incerteza inicial pelo progressivo levantamento de dados. Lapa (2008)
salienta que os dados devem ser colhidos ordenadamente, até que seja possível fazer- se o
diagnóstico e que a coleta desordenada e excessiva de dados pode criar dificuldades e, até
mesmo, desviar o patologista do caminho certo.

A definição de conduta, segundo Lichtenstein (1985), é a etapa que tem como


objetivo prescrever o trabalho a ser executado para resolver o problema, incluindo a
definição sobre os meios e a previsão das consequências em termos do desempenho final.

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As intervenções que visam erradicar uma enfermidade consistem em: corrigir
pequenos danos (Reparo), devolver à estrutura o desempenho original perdido
(Recuperação), ou aumentar tal desempenho (Reforço) (LAPA 2008).

É importante salientar que a intervenção adotada deve ser feita com base em
alguns parâmetros, que segundo Lapa são: Grau de incerteza sobre os efeitos que
produzirão; Relação custo / benefício; Disponibilidade de tecnologia para a execução dos
serviços.

2.3 PATOLOGIAS
Patologia na construção civil, o instrumento de pesquisa deste trabalho, significa
literalmente estudo das doenças que acometem as construções civis. Essa correspondência
de termos da Engenharia com a Medicina é devido à similaridade do conteúdo estudado,
sendo uma construção análoga ao corpo humano. Dentro dessa temática são abordados
causas, sintomas, consequências e tratamentos para recuperação das edificações.

Ao iniciarmos um processo para a construção de uma edificação efetuamos as


seguintes etapas: projeto, execução e utilização. Quando ocorre alguma falha ou problema
em quaisquer dessas etapas que possa comprometer ou ameaçar a saúde da estrutura a
caracterizamos como alguma doença ou enfermidade. Essas enfermidades podem acontecer
de três formas: nascer junto com a estrutura - chamada de congênita; adquirir ao longo do
tempo, devido à ação direta de agentes externos ou ser consequência de fenômenos físicos
(recalques, explosões, terremotos, choques, etc.).

Segundo Souza e Ripper (1998) os problemas patológicos podem ser classificados


em simples ou complexos, de acordo com análise do diagnóstico e profilaxia. Para que essa
análise seja feita corretamente precisa-se compreender a estrutura para posteriormente
diagnostica-la, conhecer as formas as quais são apresentados os sintomas, os processos de
surgimento, os agentes causadores e em que etapa de vida da estrutura tiveram origem.

A Figura 1 na página 15 mostra diferentes desempenhos de uma estrutura, com o


tempo em função de diferentes fenômenos patológicos.

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Figura 1 - Desempenho de uma estrutura em função de fenômenos patológicos. Fonte:
Souza e Ripper (1998)

2.3.1 FORMAS PATOLÓGICAS ABORDADAS


● Fissuras e Trincas.

De acordo com Helene (2013) fissuras são, na verdade, sintomas e não


manifestações patológicas e nenhuma obra, por melhor construída que seja, está livre de, ao
longo de sua vida útil apresentar fissuras. As fissuras, na maioria das vezes são como
consequência de um problema estrutural, e por isso, antes de receberem reparos deve ser
investigada sua causa.

De acordo com a NBR 9575:2003 fissuras têm abertura entre 0,05mm e 0,5mm e
trincas entre 0,5 mm e 1 mm, porém Grandiski (2010) argumenta que essa nomenclatura
pode ser aplicada às trincas passivas, que não variam ao longo do tempo, em função da
variação da temperatura tópica e, para as trincas ativas, que variam conforme a respectiva
variação higrotérmica, essa nomenclatura é inaplicável, pois a classificação mudaria
conforme o instante da medição. Em virtude dessa diferença os termos têm sido cada vez
mais usados como sinônimos.

15
● Infiltração

Infiltração é um processo de vazamento da água proveniente de meios externos ou


encanamentos para a superfície revestida através de fissuras, má impermeabilização ou a
própria capacidade de absorção do material.

● Desagregação

A desagregação do material é uma falha na construção muito comum nas


estruturas de concreto, em virtude das suas variadas causas. O processo de desagregação é
definido pela eliminação de fragmentos ou placas de concreto com a perda de monolitismo
e da fixação do cimento, deixando os agregados soltos. Souza e Ripper (1998) afirmam que
a consequência da desagregação é uma peça com perda da capacidade de resistir aos
esforços que a solicitam.

● Eflorescência

A eflorescência é tida como uma consequência do processo de infiltração, sendo


ocasionada após o mesmo. Durante o vazamento da água para a superfície (concreto,
tijolos, pedras ou outros materiais porosos) os sais presentes no cimento e na cal são
trazidos juntamente com a água. Após o processo natural de evaporação do fluído, resta na
extensão da infiltração um depósito branco formado por esses sais.

● Calcinação

A calcinação é resultante da ação do fogo no concreto ocasionando fraturas no


concreto em virtude da expansão dos agregados internos. A temperatura de degradação do
concreto não pode ser definida como única, uma vez que seus materiais componentes
possuem diferentes coeficientes de dilatação térmica, entretanto a temperatura média é em
torno de 600°C. Essa manifestação patológica pode ser observada já que há alteração de cor
durante o processo podendo ser verificada a perda de resistência.

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● Carbonatação

Souza e Ripper (1998) definem como a ação do anidrido carbônico (C02) presente
na atmosfera manifestando-se pelo transporte deste para dentro dos poros do concreto, e
com a sua subsequente reação com o hidróxido de cálcio -existente na água do concreto -,
forma-se, então, o carbonato de cálcio, o que implica na carbonatação do concreto (redução
do pH para valores inferiores a 9). Isso gera uma diminuição da resistência do concreto.

● Corrosão

A corrosão é uma manifestação patológica bastante comum que ocorre nas


estruturas de concreto armado e consiste quando o aço entra em contato com a umidade ou
algum tipo de gás nocivo que altera as suas propriedades, fazendo com que ele perca sua
resistência e suas características a qual ele deveria ser submetido, necessitando de uma
recuperação imediata para a utilização do mesmo.

3. METODOLOGIA

Conforme Yin (2001) o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa detalhada na


qual se fundamenta em fontes de evidências para que seja desenvolvido suposições teóricas
conduzindo-as para a coleta e análise de dados.

Baseando-se no método para levantamento e diagnóstico de manifestações


patológicas proposto por Lichtenstein realizou-se o levantamento de subsídios onde todas
as informações essenciais foram organizadas, através de vistorias no local da pesquisa,
informações orais e exames complementares visuais.

Em seguida, com todas as informações coletadas é possível realizar o diagnóstico


de situação, onde ocorre a compreensão dos fenômenos e identificando as relações que
caracterizam a patologia.

Por fim, definimos a conduta a ser adotada para possíveis soluções dos problemas
patológicos constatados.

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4. ESTUDO DE CASO

4.1 LOCAL E HISTORICO DO ESTUDO DE CASO

A pesquisa foi realizada em edifício a dezoito quilômetros do centro da capital


brasileira, localizado na cidade do Riacho Fundo I no Distrito Federal.

O edifício de estudo de caso foi planejado para cinco pavimentos sendo eles, um
subsolo, um térreo comercial e três pavimentos tipos residenciais. Sua construção começou,
aproximadamente, em Janeiro de 2006 e devido a problemas financeiros o prédio teve suas
construções interrompidas até os dias de hoje, totalizando dez anos de abandono total da
obra, tal abandono acarretou diversas manifestações patológicas na estrutura.

Através de informações orais, foi constatado que a construção da edificação não


teve um acompanhamento de profissionais capacitados para coordenar e assegurar a correta
execução da construção, também não foram encontradas plantas estruturas e arquitetônicas
do período de planejamento da obra.

4.2 DIAGNOSTICO DE PATOLOGÍAS

Com base na metodologia de Lichtenstein, a primeira etapa para a verificação


estrutural teve início com a produção das plantas arquitetônicas e estruturais, através de
medições feitas no local, conforme mostra a Figura 2.

18
Figura 2 - Planta Estrutural.

Em seguida executou-se as plantas no software Eberik, onde foi possível fazer


uma análise estrutural completa, conforme ilustra Figura 3, identificando se a estrutura
executada na obra está em condições adequadas para receber os carregamentos solicitados
pelo projeto.

19
Figura 3 - Planta completa no Eberik.

Porém observou-se que a estrutura simulada apresentava uma grande instabilidade


nos eixos x e y, além de ter vários elementos, principalmente vigas, com dimensionamentos
muito abaixo do dimensionamento mínimo exigido pela estrutura. Tais constatações
inviabilizam a projeção de continuar a executar o restante dos pavimentos, devido ao seu
alto risco de colapso estrutural.

Então, optou-se por analisar se a estrutura existente teria condições de aguentar as


cargas atuantes e se os níveis de instabilidade seriam satisfatórios. Contudo, o resultado
obtido ilustrado na Figura 4, foi novamente de instabilidade, agora apenas em uma direção,
acrescido de problemas de dimensionamento da estrutura de vigas, que apresentaram uma
área de aço insuficiente para suportar as flexões da estrutura.

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Figura 4 – Resultados Eberick da estrutura atual.

Ainda na etapa do levantamento de subsídios, foi realizado diversas vistorias no


local da obra, assim foi possível ter um contato direto com as anomalias. Utilizando uma
máquina fotográfica foi possível registrar as inconformidades estruturais presentes no
edifício, e por meio das imagens realizadas, verificaram-se todas as manifestações
patológicas encontradas correlacionando os sintomas e fenômenos com outros estudos.

Os indícios de carbonatação existentes no prédio não pode ser comprovada por


completa, devido à falta de alguns testes, porém percebemos claramente os seus sintomas
sendo manifestados como fissuração do concreto, perda de aderência, redução da seção da
armadura e desplacamento manifestados no concreto armado. E algumas das condições
ideais necessárias para que elas aconteçam como umidade do ambiente, concreto mal
curado, falta de adensamento.

Observamos na Figuras 5, 6, 7 e 8, manifestações patológicas causadas pelas


intempéries, como a eflorescência que ocorreu devido ao grande volume de água que eram
submetidas as estruturas de concreto armado do edifício, o tempo de contato e a porosidade
contribuíram bastante para o agravamento do problema patológico. E a corrosão das
ferragens da estrutura que ficaram expostas, a humidade e gás carbônico, durante anos,
alternado as propriedades do aço, incluindo a perca de resistência.

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Figura 5 - Pilar com armadura exposta e corrosão.

Figura 6 - Pilar com má execução na concretagem e possível carbonatação e


corrosão.
22
Figura 7 - Pilar com cobrimento e armaduras não respeitados e eflorescência.

Figura 8 - Viga com concreto mal vibrado, eflorescência e corrosão.

As fissuras e trincas encontradas tiveram origem devido as variações de umidade,


visto que o prédio está totalmente exposto a intempéries, deformações das estruturas de

23
concreto armado, não recebeu impermeabilização e nem proteção adequada agravando mais
a situação e posteriormente devido aos ataques químicos resultantes das diversas reações
que ocorriam constantemente na estrutura.

Notou-se também nas Figuras 9 e 10, além dos danos de carbonatação, corrosão,
eflorescência e trincas, falhas causadas por erros de execução, como falta de cobrimento
mínimo da viga e falta de espaçamento entre das ferragens, dificultando a passagem do
concreto pela armadura.

Figura 9 - Viga com falta de cobrimento, espaçamento da ferragem e corrosão.

Figura 10 - Viga com falta de cobrimento e corrosão.

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A infiltração nesse estudo de caso teve papel fundamental para originar as demais
danos nos elementos, pois ocorre abundantemente na estrutura, visto que o edifício não
possui cobertura, recebendo todo os volumes de água da chuva diretamente na laje que por
sinal encontra-se inacabada, como mostra a Figura 11, isso com o tempo vão gerando danos
irreparáveis a estrutura.

Figura 11 -Laje com concretagem incompleta.

Moradores de rua que habitavam o prédio, ateavam fogo frequentemente para


aquecer o ambiente, sem possuir qualquer preocupação com estrutura de concreto que
havia, ilustrada na Figura 12. Mediante esses acontecimentos algumas partes dos elementos
estruturais foi diagnosticada como uma possível calcinação, podendo ter alterado as
características do concreto como resistência, elasticidade, aderência, componentes
existentes.
25
Figura 12 - Laje danificada por fogo.

A desagregação do concreto está presente em diversas partes da estrutura,


resultante da combinação de todas as manifestações patológicas existentes na edificação.

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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Toda a análise foi baseada nos métodos estudados e não pode ser mais
aprofundada devido ao curto prazo existente para execução da pesquisa e por falta de
equipamentos e ferramentas necessárias para realizar testes no local ou em laboratórios.

Apenas com as vistorias, foram identificadas diversas manifestações patológicas


indicadas anteriormente, onde apresentaram sintomas bastante evoluídos não necessitando
de grandes testes para constatação das inconformidades. Com o software adequado foi
possível realizar uma simulação da estrutura com todos os pavimentos concluídos e outra
com apenas 3 pavimentos atualmente já executados. Sendo assim, a pesquisa teve um
resultado positivo quanto à identificação das manifestações patológicas, diagnósticos e
analise estrutural.

Os resultados das análises estruturais feitas indicaram que o estado do edifício é


bem preocupante, visto que ele apresenta elevado grau de instabilidade no eixo x, deixando
a estrutura inviável para utilização. Uma solução que poderia ser aplicar na estrutura já
construída, seria o acréscimo de mais pilares com o objetivo de criar novos pórticos,
gerando um maior enrijecimento da estrutura, elevando assim a estabilidade do edifício.

Porém, somente esse enrijecimento não garante que o prédio não entre em colapso,
pois várias vigas foram executadas com área de aço insuficientes para suportar a flexão
máxima exigida pela viga. Uma análise completa deve ser feita para avaliar qual a melhor
opção de reforço deve ser aplicada a essas estruturas, avaliando sempre o custo, prazos e
benefícios de cada opção de reforço.

Para analisar se a recuperação da estrutura é aceitável, além dos reforços


estruturais necessários para viabilizar a utilização da edificação deve-se tratar todas as
falhas de construção corretamente.

Tivemos como conclusão que a maioria das manifestações patológicas encontradas


tem como causa a infiltração de água que cai sobre a laje do primeiro pavimento tipo, assim
toda água da chuva de dez anos, tempo em que a obra foi abandonada, entra no edifício
causando enormes danos a estrutura.

27
A primeira e mais urgente orientação é terminar a concretagem da laje do primeiro
pavimento tipo e em seguida realizar uma cobertura provisória que impeça que a água da
chuva infiltre na estrutura, cessando assim, a infiltração que ocorre no prédio. Em seguida é
preciso se atentar em recuperar todas as estruturas que foram danificadas.

Diante dessa situação, para solucionar as trincas e fissuras é preciso executar a


cobertura no prédio, como dito anteriormente, para evitar que as intempéries continuem
atuando na estrutura e tratar o concreto doente devolvendo a eles as suas características
originais.

A recuperação dos elementos que forem confirmados a ocorrência de


carbonatação, consiste em retirar a umidade do concreto, realizar o cobrimento mínimo
para evitar a reação com o gás carbônico, impedindo assim a recorrência dessas reações e
que o concreto retorne aos valores de Ph que possuía antes.

A melhor solução para a calcinação, no caso de a estrutura ter perdido muita


resistência, é a demolição dessa estrutura, visto que atuam diversos problemas em conjunto
comprometendo a segurança e resistência da estrutura por completo.

Já para a eflorescência, que foi encontrada em grande volume no edifício, torna-se


muito complicado dimensionar seu grau de agressividade, diante da quantidade de tempo
que a edificação está submetida a esse problema, uma solução é remover o que for possível
com água e em seguida, utilizar alguns produtos que são indicados como o teste com ácido
sulfônico ou ácido amido sulfônico.

Nos locais que tiveram desagregação de concreto deve-se realizar um revestimento


com graute, que confere uma alta resistência e recuperação de algumas propriedades
ligantes de volta à estrutura e ser feito o cobrimento mínimo da estrutura.

Por fim, a solução para as barras que apresentaram corrosão é a retirada desse
ferro afetado, seguido de uma limpeza feito no concreto para eliminar a parte contaminada,
e posteriormente, a inserção de uma nova barra e a proteção dessa barra, para evitar
novamente esse problema.

Ao fim, chegou-se ao entendimento que a estrutura apresenta muitas


manifestações patológicas que agem em conjunto com as inconformidades estruturais
apresentadas, essa união de fatores agrava consideravelmente a instabilidade da estrutura
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que apresenta grandes possibilidades de vir a colapso, se a recuperação total da estrutura
não for economicamente viável, deve-se demolir o edifício.

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REFERÊNCIAS

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estruturas de concreto: procedimentos. Rio de Janeiro 2003.

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